Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 ESTRUTURA DE COMPLEXIDADE DOS ITENS DA BATERIA DE AVALIAÇÃO DA SUPERDOTAÇÃO Marcela Zeferino Gozzoli Tatiana de Cássia Nakano Primi Faculdade de Psicologia Centro de Ciências da Vida [email protected] Programa de Pós-Graduação em Psicologia Centro de Ciências da Vida [email protected] Resumo: A partir da análise dos resultados de 211 participantes do ensino médio, nos subtestes de raciocínio contemplados na Bateria de Avaliação das Altas Habilidades, a Teoria de Resposta ao Item, mais especificamente o Modelo de Rasch, foi usado com o objetivo de quantificar os níveis de habilidades dos sujeitos e sua relação com dada item, verificando quais itens seriam mais relevantes em diferenciar sujeitos de acordo com seu nível de habilidade, em termos de sua dificuldade (parâmetro b), com a meta de compreender / apontar quais itens ou atividades melhor diferenciam indivíduos com alto nível de habilidade tal como reveladas pelo teste. Foi possível notar que somente em níveis elevados de inteligência, isto é, naqueles estudantes com theta acima de +2 é que se passa a observar acerto nos itens com maior dificuldade (RV10, RV11, RV12, e RN11). Sendo assim, a partir dos resultados é possível de acordo com o nível de inteligência de o sujeito estabelecer uma hierarquia dos itens. Em estudos futuros pode-se utilizar de tais informações para a busca por evidências de validade, buscando-se, por exemplo, verificar se tais itens teriam maior capacidade de discriminar grupos critérios, bem como podem ser utilizadas na construção de um modelo de correção simplificado, ou ainda para no desenvolvimento de uma versão reduzida do instrumento. Palavras-chave: Altas habilidades, superdotação, mapa de itens. Área do Conhecimento: Psicologia – Sub-Área Instrumentos e Medidas em Avaliação Psicológica – CNPq. 1. INTRODUÇÃO A superdotação/ altas habilidades é discutida desde muitos anos, porém as diversidades na nomenclatura e na conceituação favorecem a falta de consenso da temática. Isso ainda faz com que surjam mitos e ideias que muitas vezes não condizem com essa população [1]. Segundo o Ministério da Educação (MEC) a definição brasileira de altas habilidades são as pessoas que conseguem ter domínio dos conceitos rapidamente através da facilidade de aprendizagem [2]. Enquanto isso, outros autores ainda definem superdotação através da ideia proposta por Renzulli, que é a união de três itens básicos, sendo o primeiro deles a capacidade geral ou específica acima da média, elevados níveis de criatividade e elevados níveis de comprometimento da tarefa, como também é relevante para este autor às condições ambientais, não se prendendo somente nos aspectos intelectuais do indivíduo [3]. Nessa perspectiva, alguns autores afirmam que a superdotação pode está ligada a diferentes áreas do conhecimento humano, entre elas o intelectual, social, artístico, na qual pode ter indivíduos com níveis distintos de talentos como também na motivação e no conhecimento [4]. Devido ao fato da superdotação estar relacionada com diversas faces, pode-se identificar como um ponto comum entre diferentes autores que existem muitos tipos de talentos além dos domínios intelectuais, como criatividade, liderança, habilidades artísticas, capacidades psicomotoras [5]. Outros aspectos também estão envolvidos no desenvolvimento do talento como os aspectos psicológicos, emocionais, sociais e históricos [6]. Há uma problemática em relação à temática uma vez que esta foi construída socialmente e pode variar de acordo com a concepção que cada país adota, o que para um local é considerado superdotados para outro pode não ser. Assim, há uma tentativa de diversos especialistas de demonstrar a limitação dos testes de inteligência para a identificação das altas habilidades, pois estes muitas vezes passam a excluir diversos talentos [7,8].Portanto, há uma preocupação do Ministério da Educação (MEC) na qual estabeleceu em 2008 que os superdotados passaram a fazer parte da Educação Especial, para isso a importância Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 da identificação correta desses indivíduos [9]. 2.1 Participantes O processo da identificação é de suma importância, podendo ser dividido pela superdotação escolar, a qual o aluno é submetido a testes de QI como outros testes que avaliem a cognição e o outro tipo é a superdotação criativa-produtiva, as quais são de certa forma mais complexas de avaliar, uma vez que são as elaborações originais que o individuo consegue se destacar, as quais podem ser observadas e identificadas pela família [10]. A identificação de familiares é muito importante, uma vez que estes podem encaminhar para uma identificação minuciosa por profissionais qualificados e posteriormente encaminhados para programas que de um acompanhamento individualizado para que este talento seja desenvolvido em seu potencial [6]. Utilizou-se uma amostra de conveniência, composta por 211 alunos do ensino médio. Esse grupo de alunos foi composto por salas do ensino regular das escolas das cidades de Amparo (SP) e Valinhos (SP). Outro fator importante para a identificação esta dentro da sala de aula, o professor tem dificuldades de identificar esses alunos com altas habilidades, então esses indivíduos que passam despercebidos pela escola, pode passar a deixar de ter motivação para a realização das tarefas escolares. Neste sentido, é fundamental essa observação da escola para que eles tenham oportunidade de desenvolver essas habilidades [11]. Assim, a partir da identificação das altas habilidades é importante que seja feito um currículo especifico para que esses alunos sintam motivação na realização das tarefas a partir do estágio normal escolar como também a preocupação para que as relações interpessoais não sejam atingidas de forma negativa na vida deste individuo [10]. Buscando responder à essa problemática, esforços para identificar alunos superdotados e talentosos têm sido ampliados, a presente pesquisa teve como objetivos: (1) estimar o parâmetro referente à dificuldade dos itens, para o construto da inteligência envolvido na bateria; (2) compreender o sentido da escala formada pelos itens, em relação à diferenciação entre sujeitos com maior nível de habilidade e aqueles com menor nível e (3) estabelecer pontos de corte, a partir dos quais se poderia discriminar sujeitos que apresentam indicativos de altas habilidades. 2. MÉTODO 2.2 Instrumento O instrumento é composto por itens que envolvem a avaliação dos construtos inteligência e criatividade (nas formas figurativa e verbal). Os itens relativos à avaliação da inteligência incluem vários tipos de raciocínio (verbal, abstrato, numérico e lógico). As questões incluem a seleção de uma alternativa correta dentre as cinco oferecidas, no caso dos dois primeiros subtestes e a escrita da sua resposta (nos subtestes posteriores). As atividades relativas à avaliação da criatividade, por sua vez, envolvem atividades de criatividade figurativa (por meio do fornecimento de respostas sob a forma de desenhos a estímulos incompletos) e sua posterior avaliação por meio de características descritoras das pessoas criativas (fluência, flexibilidade, elaboração, originalidade, expressão de emoção, fantasia, movimento, perspectiva incomum, perspectiva interna, uso de contexto, extensão de limites e títulos expressivos). Já a criatividade verbal é avaliada por atividade que envolve a formação de metáforas. A metáfora é entendida como a capacidade de gerar transposições do significado de uma palavra para outra, ou seja, quando se estabelecer uma relação de semelhança entre dois conceitos a princípio distantes. A construção das frases para elaboração de metáforas permite a posterior avaliação da criatividade verbal do indivíduo. 2.3 Procedimentos Inicialmente, após construção do instrumento e autorização da pesquisa pelo comitê de ética, uma escola de Ensino Médio foi contactada visando autorização para aplicação da pesquisa. As salas de aula foram escolhidas por conveniência, por meio da indicação do diretor, sendo enviado aos pais dos alunos o termo de consentimen- Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 to livre e esclarecido. Aqueles que concordaram em participar, responderam ao instrumento de forma coletiva em sala de aula, em uma única sessão de aplicação, com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos. Finalmente foi feita a análise dos resultados que permitem estabelecer a relação entre diferentes níveis de habilidade (theta) e a pontuação aos itens, de forma a obter padrões de respostas esperadas para cada valor de theta por meio da análise do “mapa do construto” ou “mapa de itens” [12,13] que tem sido considerado uma maneira de se estudar validade de construto do teste, isto é, o que a escala formada pelos itens significa. 3. RESULTADOS O mapa de itens apresenta a dificuldade de se pontuar / acertar cada um dos itens analisados. No caso específico, dada a unidimensionalidade do construto inteligência (com as quatro medidas de raciocínio convergindo para uma medida única de inteligência geral), a análise foi realizada conjuntamente, de modo que 48 itens (12 de cada tipo de raciocínio: verbal, numérico, abstrato e lógico) foram considerados. A estimativa do valor de theta necessário para pontuar em cada uma das características criativas avaliadas pelo instrumento foi calculada, de forma a identificar, dentro de cada fator, através da análise do mapa dos itens, aquelas que melhor discriminariam sujeitos com alto nível de habilidade dos demais. Os resultados encontram-se apresentados na Figura 1. Dado o fato de que o mapa de itens ordena os mesmos em termos de dificuldade, a figura deve ser analisada na vertical, de modo que as características com menor dificuldade de acerto encontram-se na base (parte de baixo) e as mais difíceis no topo da figura (parte mais alta). Do lado direito do mapa situam-se os itens, nesse caso específico os itens dos quatro subtestes de raciocínio, organizados por ordem de dificuldade, estando os itens difíceis localizados na parte superior do mapa e os mais fáceis na parte inferior. Ao longo da linha de vertical, do lado esquerdo, situam-se os valores de thetas (quantidade de habilidade criativa necessária para pontuar naquela característica), de forma que, ao analisarmos cada característica poderemos ver a quantidade de habilidade necessária para começar a se pontuar em cada característica (local onde os valores de theta associam-se aos valores esperados 1). Assim, quanto mais para o alto se localiza uma característica e suas pontuações, mais difícil ela é. Deste modo pode-se verificar, na análise realizada, que a tentativa de organizar os itens, dentro de cada subteste, em ordem de dificuldade parece ter funcionado. Isso porque, conforme demonstrado na Figura 1, os itens mais fáceis são aqueles que iniciam os subtestes, destacando-se, notadamente os itens RN1, RA1, RA2, RN2, RV1. A exceção ocorre com o item RA7, o qual teoricamente, foi considerado pelos Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 autores da bateria, como um item de dificuldade média, sendo que, o mesmo mostrou-se fácil na amostra. No outro extremo, os itens mais difíceis de serem pontuados, ou seja, que exigem maior habilidade por parte do sujeito, é o RL12, seguido do RN12, RL11 e RL10. Desse modo verifica-se que, de um modo geral, itens que envolvem habilidades verbais e abstratas foram considerados mais fáceis na amostra estudada, sendo, por outro lado, também os de raciocínio numérico, juntamente com o lógico, considerados os mais difíceis, ou com maior exigência de habilidade por parte do sujeito, para ser acertado. Considerando-se que a média de theta dos sujeitos (habilidade) encontra-se no ponto zero (na coluna da esquerda), pode-se verificar que indivíduos com baixa habilidade em raciocínio (theta entre -4 e -2) tenderão a acertar os itens RN1, RA1, RA2, RN2, RV1,RA7, RL2, RN3, RV2 e RV3, provavelmente errando os demais itens. Diferentemente, os indivíduos com maior theta (entre +2 e +3) tenderão a acertar todos os itens, dada sua alta habilidade em tarefas que envolvem raciocínio. A análise da informação contida no mapa de itens permite verificar ainda os itens que mais diferenciam sujeitos com alta habilidade visto que somente estes tenderão a acertar os itens com maior dificuldade (RL12, RN12, RL11 E RL10). distribuição), com o uso do modelo adotado faz-se uma relação direta da medida com o desempenho dos sujeitos nos itens do teste. Ao lado disso, a análise da organização hierárquica dos itens relacionada com a escala permite formular interpretações mais substanciais do construto, trazendo ainda informações mais ricas sobre a escala e permitindo-se investigar a validade de construto da mesma. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim, esse estudo aponta para uma definição de importância relativa dos critérios de pontuação adotado na bateria avaliada, ao indicar como esses se organizam hierarquicamente (em termos de dificuldade ou intensidade do construto). Tais informações podem ser usadas, em estudos futuros de busca por evidências de validade, buscando-se, por exemplo, verificar se tais itens teriam maior capacidade de discriminar grupos critérios, bem como podem ser utilizadas na construção de um modelo de correção simplificado, ou ainda para no desenvolvimento de uma versão reduzida do instrumento. AGRADECIMENTOS As autoras agradecem à PUC-Campinas e ao CNPq pela concessão de bolsa de iniciação científica à aluna. REFERÊNCIAS 4. DISCUSSÃO O emprego do Modelo de Rasch permitiu estabelecer interpretações dos padrões de pontuação aos itens que se associam aos vários níveis da escala latente do fator inteligência. Com isso contribui-se para compreender o sentido dos vários níveis da variável global obtida pela soma das pontuações em cada subteste / tipo de raciocínio. Foi possível notar que somente em níveis elevados de inteligência, isto é, naqueles estudantes com theta acima de +2 é que se passa a observar acerto nos itens com maior dificuldade (RL12, RN12, RL11 e RL10). Desse modo, os dados mostraram que é possível formar uma hierarquia dos itens, de acordo com o nível de inteligência do sujeito. Ao invés de simplesmente interpretarmos medidas padronizadas referenciadas à norma (de forma a ancorar a interpretação da escala baseada em informações estatísticas de posição relativa em uma [1] Rangini, R.A.; Costa, M.P.R.(2011) Altas habilidades/superdotação: entre termose linguagens. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 41, p.467-482. [2] Virgolim, A.M.R.(2007) Altas Habiliadades/Superdotação encorajando potenciais. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Brasilia. [3] Brandão, S. H. A & Mori, N. N. R. (2009). O atendimento em salas de recursos para alunos com altas habilidades/superdotação: o caso do Paraná. 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[9] Brasil (2010) Secretaria de Educação Especial MEC. Políticas Públicas para AltaHabilidade/ Superdotação.Disponível em: http://www.senado.gov.br/web/comisoes/CE/AP/AP2 0080626_superdotados_Cl%C3%A1udiaGriboski.pd f. Acesso em: 22 fev. 2010. [10] Mettrau e Reis (2007)Políticas públicas: altas habilidades/superdotação e a literatura especializada no contexto da educação especial/inclusiva. Ensaio: avaliação e políticas publicas em Educação, vol.15, no.57, p.489-509. [11] Pinto, R.R.M.; Fleith, D.S. (2004).Avaliação das práticas educacionais de um programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Psicolo- gia Escolar e Educacional, Campinas, v.8,n.1, p. 5566. [12] Primi, R., Carvalho, L.F., Miguel, F.K., Muniz, M. & Nunes, C.H.S. (2009). Normatização da BFP por meio da teoria de resposta ao item: interpretação referenciada nos itens. In: C.H.S. Nunes, C.S. Hutz & M.F.O. Nunes. Bateria Fatorial de Personalidade: manual técnico (pp. 153-170). São Paulo: Casa do Psicólogo. [13] Van der Linden & Hambleton (1996) Handbook of modern item response theory. New York: Springer-Verlag.