Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
22 e 23 de setembro de 2015
VALIDADE CONVERGENTE DOS SUBTESTES DE INTELIGÊNCIA DA
BATERIA DE AVALIAÇÃO DAS ALTAS HABILIDADES /
SUPERDOTAÇÃO COM O TNVRI
Daniel Campos Caporossi
Profa. Dra. Tatiana de Cássia Nakano
Faculdade de Psicologia
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Avaliação Psicológica de Potencial Humano
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Resumo: Considerando a importância dos estudos
de busca por evidências de validade durante o processo de construção de instrumentos psicológicos, o
presente estudo teve como objetivo a verificação da
validade convergente de subtestes de raciocínio,
parte de uma bateria para avaliação das altas habilidades / superdotação (BAAH/S). Uma amostra composta por 125 estudantes, sendo 77 do sexo masculino e 48 do sexo feminino, do 6º ano (n=30), 7° ano
o
(n=32), 8° ano (n=32) e 9 ano (n=31) do ensino fundamental de uma escola pública do interior do Estado de São Paulo, com idades entre 12 e 17 anos
(M=13,05 anos; DP=1,17) fez parte da pesquisa. Os
participantes responderam ao Teste Não Verbal de
Raciocínio Infantil (TNVRI) e aos Subtestes de Raciocínio da Bateria de Altas Habilidades / Superdotação (BAAH/S) (em processo de validação). Os resultados, a partir da correlação de Pearson, indicaram
convergência entre as medidas visto que todos os
subtestes da BAAH/S, assim como sua pontuação
total, apresentaram correlações positivas e significativas com a pontuação total do TNVRI, bem como
com o Fator 1 do referido instrumento. As correlações oscilaram entre r=0,358 e r=0,667 (p≤0,01).
Tais resultados tornam possível afirmar, na presente
amostra, a existência de relação moderada entre os
instrumentos em questão, de modo a confirmar as
evidências de validade convergente do subteste em
desenvolvimento.
Palavras-chave: Evidências de validade, Altas Habilidades/Superdotação, Inteligência.
Área do Conhecimento: Avaliação Psicológica –
Altas Habilidades
1. INTRODUÇÃO
O alto desempenho em testes de inteligência sempre
foi relacionado à superdotação, revelando a importância desse aspecto do fenômeno para seu estudo
[1][2][3],
notadamente como os estudos com WISC –
[4]
Wechsler Intelligence Scales for Children . O fenômeno das altas habilidades, contudo, pode ocorrer
junto a certas condições geradoras de vulnerabilida[5]
[6]
[7][8]
de. Para Hollingworth , Gross e Alencar
as crianças com QI extremamente elevados (igual ou superior a 180) seriam as mais propensas a problemas
sócio emocionais. Segundo Robinson e Clinkenbe[9]
ard a criança talentosa possui essas dificuldades
quando suas necessidades não são percebidas ou
reconhecidas, dessa forma o problema não seria
inerente ao sujeito talentoso, mas ao contrário, a vulnerabilidade estaria justamente no não reconhecimento de suas necessidades.
[10]
Conforme a lei N° 9394/1996 , os alunos com altas
habilidades devem ser tratados de modo inclusivo,
principalmente a partir das especificações da Reso[11]
lução N° 2 de 2001 do CNE/CEB . É dever ético do
psicólogo a avaliação deste público potencialmente
vulnerável – tanto por suas características internas
quanto por fatores situacionais –, sendo de suma
importância que esta avaliação seja realizada de
forma precisa. . Conforme a Associação Americana
de Pesquisa Educacional (AERA), a Associação Americana de Psicologia (APA) e o Conselho Nacional
de Medição Educacional (NCME), citados por Rueda
[12]
e Castro , a busca por evidências de validade em
seus diversos tipos possuem extrema importância no
processo de desenvolvimento dos testes psicológicos, principalmente se utilizados para fins diagnósticos, como é o caso da Bateria de Avaliação das Altas Habilidades/Superdotação (BAAH/S).
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Por exemplo, em correlações positivas entre os escores e outras medidas que objetivam avaliar construtos semelhantes existe evidência de validade con[13]
vergente. Conforme Nunes e Primi , a obtenção de
resultados compatíveis com os esperados, ou seja,
forte correlação positiva entre os escores de ambos
os testes, indica que o teste estudado possui grau de
especificidade adequado. Para tal análise foi escolhido o Teste Não Verbal de Raciocínio Infantil
(TNVRI), que avalia a inteligência geral (ou inteligência fluída) na medida em que foi construído com base nas Matrizes Progressivas de Raven. O estudo da
validade e precisão deste teste foi realizado com 994
crianças brasileiras, apresentando-se como medida
bastante adequada para medir o raciocínio analógico, em forma concreta ou abstrata. O índice de consistência interna para o presente estudo foi de
[14]
0,91 .
2. OBJETIVO
O estudo objetiva buscar evidências de validade do
tipo convergente para a Bateria de Avaliação das
Altas Habilidades / Superdotação (BAAH/S), verificando a relação entre os resultados nos subtestes
de raciocínio desta e os resultados no Teste Não
Verbal de Raciocínio infantil (TNVRI).
3.. MÉTODO
3.1 Participantes
Participaram deste estudo 125 adolescentes com
idade entre 12 e 17 anos (M= 13,05; DP= 1,17), dos
quais, 48 (38,4%) eram do sexo feminino e 77
(61,6%) do sexo masculino. Em relação à escolaridade, 30 adolescentes (24%) frequentavam o sexto
ano, 32 (25,6%) estudavam o sétimo e o oitavo ano
cada e 31 (24,8%) cursavam o nono ano do ensino
fundamental.
3.2 Instrumentos
3.2.1. Bateria de Avaliação das Altas Habilidades /
Superdotação
O instrumento elaborado por Nakano e Primi (2012)
é composto por subtestes que envolvem a avaliação
dos construtos inteligência e criatividade (nas formas
figurativa e verbal) na parte a ser respondida pelos
alunos e uma escala de avaliação do professor. No
estudo atual, somente os subtestes relativos à
avaliação do raciocínio foram utilizados.
Os itens relativos à avaliação da inteligência incluem
vários tipos de raciocínio (verbal, abstrato, numérico
e lógico). As questões incluem a seleção de uma
alternativa correta dentre as cinco oferecidas, no
caso dos dois primeiros subtestes e a escrita da sua
resposta (nos subtestes posteriores). A construção
dos itens foi baseada no formato e tipo de itens já
existentes em um instrumento em uso e aprovado
pelo CFP (Bateria de Provas de Raciocínio – BPR-5,
Almeida & Primi, 2000), bem como sua versão infantil (Bateria de Provas de Raciocínio Infantil – BPRi,
Primi & Almeida, não publicada), já validada para uso
no Brasil.
Diversos estudos já foram conduzidos com a bateria,
visando a busca por evidências de validade. Como
exemplo pode-se citar a investigação da sua estrutura fatorial (Ribeiro, Nakano & Primi, 2014) e adequação de seus itens (Nakano et al., no prelo)
Teste Não Verbal de Raciocínio Infantil (TNVRI) –
(Pasquali, 2005)
Avalia a inteligência geral (ou inteligência fluída) na
medida em que foi construído com base nas Matrizes
Progressivas de Raven. Possui 58 itens divididos em
cinco séries com níveis de dificuldade crescentes. A
tarefa do examinando consiste em encontrar o
pedaço que está faltando em cada um dos desenhos
apresentados (representando silhuetas de objetos ou
desenhos abstratos).
O estudo da validade e precisão deste teste foi realizado com 994 crianças brasileiras, apresentando-se
como adequado para medir o raciocínio analógico,
em forma concreta ou abstrata. O índice de consistência interna para o presente estudo foi de 0,91.
3.3 Procedimentos
Este projeto encontra-se aprovado para execução
sob número 630/11 pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Campinas. Assim, foi feito contato
com a escola de Ensino Fundamental e Médio a fim
de que um cronograma de aplicação do instrumento
pudesse ser organizado junto à direção e professores, sem que atrapalhasse o andamento das
atividades acadêmicas regulares.
As salas de aula foram escolhidas por conveniência,
por meio da indicação do diretor, sendo enviado aos
pais dos alunos o termo de consentimento livre e
esclarecido. Aqueles que concordaram em participar,
responderam aos instrumentos de forma coletiva em
sala de aula, em uma única sessão de aplicação,
com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos,
iniciando-se pelo TNVRI e posteriormente respondendo à BAAH/S.
Após a aplicação, os testes foram corrigidos e digitados em um banco de dados, o qual foi utilizado para
a condução das análises com o objetivo de verificar a
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relação entre a pontuação nos dois instrumentos.
Considerando o objetivo proposto, para este estudo
foram realizadas analises através da estatística descritiva e análise multivariada da variância, com o
objetivo de analisar possíveis influencias das
variáveis sexo, idade e escolaridade e a interação
entre elas no desempenho dos testes. A correlação
de Pearson também foi empregada visando-se a
busca por evidências de validade convergente entre
os subtestes que avaliam inteligência na BAAH/S e o
TNVRI.
4. RESULTADOS
Inicialmente a estatística descritiva foi estimada para
cada uma das medidas (Fator 1 e Fator 2, assim
como pontuação total no TNVRI e pontuações nos
subtestes de racicínio, assim como o total na
BAAH/S), divididos por sexo e série do participante.
Os resultados estão disponibilizados na Tabela 1.
A partir da Tabela pode-se observar, em relação ao
TNVRI, que o sexo feminino apresentou media mais
alta que o masculino somente no fator 2. Alunos do
o
8 ano destacaram-se nas pontuações do fator 1 e
o
os do 9 ano no fator 2 e pontuação total. Nota-se,
de um modo geral, aumento das pontuações conforme o crescimento das séries, com algumas exceções.
Em relação à BAAH/S, o sexo feminino destacou-se
nas medidas de raciocínio verbal e lógico, ao passo
que o masculino nas demais (raciocínio abstrato,
numérico e pontuação total). Considerando-se os
o
anos escolares, o 8 ano obtém destaque em todas
as medidas (com exceção do RN, melhor pontuado
o
pelos alunos do 6 ano). Do mesmo modo que no
outro instrumento, nota-se, de modo geral, desempenho que aumenta de acordo com o ano escolar.
Considerando as aparentes diferenças de medias, a
análise multivariada da variância foi utilizada
visando-se identificar a influência das variáveis sexo,
série e idade e suas interações no desempenho dos
participantes. Os resultados mostraram que que não
foi encontrada influência significativa das variáveis
sexo, série e idade, assim como suas interações, em
nenhuma das pontuações do TNVRI, considerandose tanto os fatores avaliados quanto sua pontuação
total.
O mesmo tipo de análise foi realizada para as medidas da BAAH/S, cujos resultados são fornecidos na
Tabela 3. Os dados mostram que, assim como ocorreu em relação ao teste TNVRI, novamente não
houve influência significativa das variáveis investigadas e nem de suas interações nas medidas da
bateria. A única exceção ocorreu no subteste de raciocínio lógico, o qual mostrou-se influenciado pela
variável série (F=3,766; p≤0,013).
Por fim, a Tabela 2 traz os dados de correlação das
medidas do BAAH/S e TNVRI, com o objetivo de
confirmar a validade convergente do instrumento em
desenvolvimento com outro que possui evidências
de validade para avaliação da inteligência.
De acordo com a análise realizada foi possível verificar correlações significativas oscilando entre 0,358 e
0,667. Tomando-se o resultado total em ambos os
instrumentos, o valor da correlação entre as medidas
mostrou-se de acordo com o esperado para esse tipo
de estudo, de busca por evidências de validade convergente (r=0,646; p≤0,01).
Os resultados também apontaram para correlações
significativas entre todos os subtestes da BAAH/S,
inclusive seu total, com o Fator 1 e total do TNVRI.
Em situação oposta, nenhuma das medidas do teste
em processo de construção correlacionou-se signifi-
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cativamente com o Fator 2 do teste tomado como
critério.
5. DISCUSSÃO
A partir das informações extraídas nesta análise,
verificou-se que o presente estudo, o qual investigou
evidências de validade convergente das medidas de
inteligência, apresentou correlações estatisticamente
significativas e compatíveis outro instrumento que
avalia o mesmo construto, confirmando que possui
convergência e grau de especificidade adequado,
podendo-se afirmar a validade dos subtestes de ra[15]
ciocínio da bateria em estudo .
Importante destacar que, correlações positivas e significativas entre os instrumentos eram esperadas
visto que ambos encontram-se embasados em uma
teoria que considera uma capacidade intelectual ge[16]
ral, chamada de fator "g" , mas também a existência de tipos diferentes de inteligência: fluida e cristalizada. O primeiro tipo seria compreendido como a
capacidade do individuo de realizar operações mentais frente a uma tarefa nova e que não podem ser
executadas automaticamente, associada a componentes pouco dependentes de conhecimento prévio
e influência cultural, dependendo muito mais de fato[17]
res biológicos e genéticos
. Por outro lado, o
segundo seria desenvolvido a partir de experiências
culturais e educacionais, presente na maioria das
[17]
atividades escolares .
Outra discussão importante refere-se à ausência de
influência das variáveis sexo, série e idade no desempenho cognitivo. Diferentemente do que usualmente é encontrado na literatura científica, a ausência de diferenças devido à série (com exceção da
prova de raciocínio lógico), merecem ser melhor investigadas, visto que, Almeida, Lemos, Guisande e
[17]
Primi , por exemplo, afirmaram que vários autores
referem um impacto diferencial da escolarização nas
diferentes aptidões cognitivas. Do mesmo modo di[21][22][23][24]
versos outros estudos
verificaram impacto
da série educacional no desenvolvimento das habilidades intelectuais.
Em relação à também ausência da influência da variável sexo no desempenho cognitivo, salienta-se
que a diferença de desempenho nesse construto, de
acordo com o sexo, ainda tem se mostrado uma
questão bastante polêmica. Enquanto autores defendem a ideia de que diferenças entre homens e
mulheres são esperadas em algumas das habilidades intelectuais, mas não nos resultados totais em
[23]
inteligência
, outros estudos apontam para a ine[21]
xistência dessa diferença
. Do mesmo modo, re-
sultados opostos também são relatados, com melhor
desempenho do sexo masculino em tarefas de voca[26]
bulário e inteligência cristalizada . De acordo com
os resultados encontrados, nenhuma diferença foi
constatada.
6. CONCLUSÃO
Os resultados provenientes do estudo aqui apresentado apontam para a existência de evidências de
validade favorável ao instrumento em processo de
investigação de suas qualidades psicométricas. Sua
importância ampara-se na constatação da inexistência de instrumentos adequados e especificos a população de superdotados para a população brasileira,
uma vez que a utilização criteriosa de ferramentas
psicométricas, no âmbito de um procedimento exploratório abrangente, “pode trazer contribuições relevantes não somente para o avanço da discussão
acerca da organização cognitiva das altas habilidades em crianças, mas também para o refinamento
do uso de tais ferramentas” (Hazin et al.,2009,
p.255).
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao CNPq pelo apoio recebido., à
minha orientadora Tatiana de Cássia Nakano, tanto
pela oportunidade quanto pelos ensinamentos e paciência. e à Carolina Campos, pela ajuda na análise
dos dados.
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