Monografia apresentada ao Programa de Residência Médica em Pediatria Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)/SES/DF Ana Márcia Vilela Brostel Orientadora: Dra. Denize Bomfim Souza www.paulomargotto.com.br Brasília, 29 de outubro de 2010 o Fazer uma revisão da literatura na faixa etária pediátrica o Conhecer a história natural e aspectos fisiopatológicos o Pesquisa em banco de dados MEDLINE, LILACS-BIREME e COCHRANE o Selecionados artigos publicados nos últimos 10 anos o Palavras-chaves e descritores: encefalomielite disseminada aguda (ADEM); criança; doenças desmielinizantes o Waksman e Adams (1955) - primeira experiência que correlacionou a neuropatia desmielinizante como um evento auto-imune o Os primeiros casos estudados ocorreram após complicação pela vacina contra varíola o Rivers e Schwentker relataram semelhanças histológicas com as encefalomielites virais após a vacina anti-rábica o o o o o Doença desmielinizante imunomediada Monofásica Acomete principalmente o SNC (substância branca) Pode envolver o sistema nervoso periférico Pode ser multifásica ou periódica (recaídas) o o o o o o Processo inflamatório agudo multifocal, acompanhado por encefalopatia, como condição essencial Pós-infecciosa ou pós-vacinal (2 a 30 dias após) Incidência- 0.4 e 0.8 a cada 100000 crianças Idade média de início- 4.5 a 7.5 anos Discreta predominância no sexo masculino Pico sazonal- no inverno e na primavera NOORBAKHSH, F. et al As recaídas (5 a 25%) foram subdivididas em duas categorias: o Periódico (80%) - pelo menos 2 meses depois de seu começo e as lesões afetam o mesmo distrito o Multifásico (20%) - as lesões apresentam uma disseminação em espaço e tempo MARCHIONI et al. o Forma clássica - doença desmielinizante monofásica o Outras formas de acometimento: encefalite pura, mielite, cerebelite e neurite óptica o As diferentes formas de ADEM são classificadas em função do território envolvido e curso da doença MARCHIONI, E. et al Sinais o o o e sintomas sistêmicos Febre (43%–52%) Cefaléia (45%–58%) Mialgias, náuseas e vômitos Manifestações o o o o o o neurológicas Obnubilação e rebaixamento de consciência (85%) Hemiparesia aguda (76%) Ataxia (59%) Meningismo (26%–31%) Déficits sensoriais são mais frequentes nos adultos Crises epilépticas (70%) NOORBAKHSH, F. et al Estudo realizado com 18 pacientes com diagnóstico confirmado de ADEM. Sinais e sintomas sistêmicos Sinais e sintomas neurológicos Febre 7 (38,5%) Déficit motor 14 (77%) Náuseas e vômitos 5 (27,5%) Alteração de consciência 8 (44,5%) Cefaléia 4 (22,5%) Alteração do sensório 5 (27,5%) Dor no pescoço 1 (5,5%) Sintomas urinários 5 (27,5%) Neuropatia 4 (22,5%) Convulsões 3 (16,5%) Nistagmo 2 (11%) Oftalmoplegia internuclear 2 (11%) Afasia 1 (5,5%) MURTHY, K. et al. o o o o o o Mielite transversa aguda (ATM) apresentação clínica comum de ADEM Inflamação focal da espinha dorsal com dano neurológico subsequente -disfunção motora, sensória e autonômica Dor na distribuição dos segmentos envolvidos da espinha dorsal (33%) Paraplegia (50%) Podem ter parestesia ou paraplegia (80 - 94%) Quase todos os pacientes sofrem de deficiência orgânica de bexiga NOORBAKHSH, F. et al o o o o o Sistema Nervoso Periférico (SNP)- 5% a 43% Poliradiculoneurite - 43%, porém clinicamente evidente em 26% (MARCHIONI et al.) Recaídas -5% e 25% de casos Recaídas - 6 a 18 meses após o início e podem ser mais severas que o primeiro episódio (MARCHIONI et al.) Leucoencefalopatia hemorrágica aguda (AHLE) é considerada uma forma hiperaguda de ADEM- 2% dos casos pediátricos(NOORBAKHSH, F. et al) Coorte realizado com 83 casos (31 crianças, 18 F e 13 M) o Idade - 2 a 16 anos (média de 5,9 anos) 2 crianças - crises generalizadas tônico-clônicas Sinais prodrômicos de doenças - 22 casos (71%) Trato respiratório ou quadros febris 6% - vacina da hepatite B (3-6 semanas antes) 23% - não tinham doença identificável prodrômica Duas crianças - pródromos muitas semanas antes da evolução neurológica Sintomas neurológicos desenvolveram-se após 1-42 dias (média 4,2 dias) o o o o o o o HYSON, J. L. et al o Inflamação peri-venular ao redor dos pequenos vasos, tanto em substâncias branca quanto em cinzenta do SNC o As áreas de doença não são necessariamente limitadas às zonas periventriculares o Infiltradas por linfócitos, macrófagos e neutrófilos em um menor grau o Edema perivascular, edema e infiltrações endoteliais (não lembram vasculite) o Danos leves aos axônios o Citocinas pró-inflamatórias, (TNF)-α, (IL)-1β, mas não IL-6, estão expressos in situ em lesões de um paciente adulto com ADEM o Em contraste, IL-6 e TNF-α, mas não os níveis de IL-1β, foram encontrados elevados no líquido cefalorraquidiano (LCR) de 18 crianças com ADEM o Produção de interferon (IFN)-γ, mediador pró-inflamatório do tipo T helper 1 (Th1) e citocinas- nível elevado em quatro casos de ADEM comparados com os controles, mas não IL-4, CD3 e células T no sangue periférico MENGE, T. et. al o Predominância de IL-4, mas não de secreção de IFN-γ, foi detectada em células de mielina reativas em pacientes com ADEM comparados com os controles o LCR- predomínio de citocinas Th1, com diminuição dos níveis da IL-17 (uma citocina recentemente associado com a patogênese da EM), em 14 pacientes com ADEM comparados com os controles o Em dois outros grupos não se conseguiu detectar qualquer Th1 ou Th2, perfil de citocinas no LCR ou níveis elevados de IFN-γ, IL-10 ou IL-12, em um total de 17 casos ADEM MENGE, T. et. al o o o o o o Reatividade de anticorpos anti-MOG (glicoproteína ativa da mielina), 56 casos pediátricos de ADEM Anticorpos anti-MOG poderiam ser detectados em 18% dos casos de ADEM, mas em menos de 1% dos casos de EM Após infecção ou após a vacinação- ativar clones de mielina reativas de células T através de mimetismo molecular humoral As células migratórias atacam a proteína básica de mielina Doenças sistêmicas, vasculites e doenças reumáticaspatogênese da ADEM As duas hipóteses mais amplamente aceitas são mimetismo molecular e sensibilização auto-secundária à infecção do SNC MENGE, T. et. al Virais Não- virais Pós-vacinal Varicela zoster Estreptococos beta-hemolítico Vacina antirábica Rubéola Legionella pneumophila Vacina Sarampo Sarampo Salmonella typhi Poliomielite oral Influenza A e B Leptospirose Vacina antitetânica Hepatite A, B, C Plasmodium falciparum Vacina antiinfluenza Caxumba Mycoplasma pneumoniae Vacina recombinante anti-hepatite B EBV Rickettsia rickettsii Vacina anti-encefalite viral japonesa HIV Borrelia burgdorferi Herpes simples Vírus da dengue Cosackie B Coronavírus Inespecíficos do Trato respiratório ADEM TÍPICA Recidivas de desmielinização Idade de início Crianças (6,5a) Adolescentes (14,25a) Apresentação clínica polissintomática, infecção ou vacinação prévia; Monosintomática, cefaléia; óptica mononuclear, mielite transversa. febre, letargia, alteração de sinais piramidais, neurite comportamento, rebaixamento de consciência, ataxia, sintomas piramidais. LCR Bandas oligoclonais em 12,5%; geralmente transitórias. RNM Lesão extensa Imunoglobulinas intratecal; bandas oligoclonais permanentes na maioria dos casos. e lesões confluentes, bem Lesões mal definidas; lesões perpendiculares definidas, em eixo axial e corpo caloso; lesões Lesão bilateral profunda em substância cinzenta periventriculares, lesões hipointensas em T1. (tálamo,gânglios basais); Edema perifocal e efeito de massa. Seguimento RNM Lesões estáveis ou em resolução, novas lesões Disseminação em tempo e espaço, evolução não são compatíveis com ADEM. clínica silenciosa, possibilidade de novas lesões. MENGE, T. et. al Achados iniciais de T2/flair (RNM) de 15 pacientes com ADEM o Lobo frontal (100%) o Lobo parietal (93%) o Lobo temporal (53%) o Lobo occipital (40%) o Massa cinzenta cortical (80%) o Massa branca subcortical (93%) o Massa branca periventricular(60%) Podem também ser encontradas lesões em corpo caloso, tálamo, cápsula interna, gânglio basal e cerebelo MURTHY, K. et al MURTHY, K. et al Evento patológico Possível diagnóstico diferencial infeccioso Meningoencefalite viral, bacteriana ou outros parasitas; Encefalopatia associada ao HIV: encefalopatia subaguda relacionada ao HIV ou leucoencefalopatia multifocal progressiva. Lesão auto-imune inflamação do SNC causando Esclerose múltipla; neurosarcoidose; Doença de Behcet Desordem vascular do SNC Síndrome do anticorpo antifosfolípide; angeíte primária do SNC; vasculites secundárias à doenças reumatológicas, incluindo lúpus eritematoso sistêmico Lesões de massa Neoplasia do SNC, metástases de neoplasia maligna sistêmica para o SNC Encefalomielopatias Encefalopatias mitocondriais, adrenoleucodistrofia. MENGE, T. et. al. KETELSLEGERS, I. A. et al. Diferenças clínicas e de investigações entre ADEM/MDEM e apresentações de esclerose múltipla. Achados ADEM/MDEM (%) Esclerose Mútlipla (%) P Desmielinização 74 38 <0.05 Apresentação polissintomática 91 38 <0.002 Encefalopatia 69 15 <0.002 Piramidal 71 23 <0.01 Neurite Óptica Unilateral 0 23 <0.01 Neurite Óptica Bilateral 23 8 NS Apreensão 17 0 NS Sangue pleocitose 64 22 <0.05 LCR linfocitose 64 42 NS LCR Proteína elevada 60 33 NS Síntese intratecal OCB 29 64 NS Lesões periventriculares MRI 44 92 <0.01 NS = Sem Significado; OCB = Bandas Oligoclonais DALE R. C. et al. o O hormônio adrenocorticotrófico e a prednisona não são utilizados o Metilprednisolona (10-30 mg/kg/dia) IV ou dexametasona (1mg/kg) por 3-5 dias o A corticoterapia IV deve ser reduzida com a administração oral de esteróides por 4 a 6 semanas o Metilprednisolona + aciclovir, se suspeita de encefalite viral aguda o A imunoglobulina IV- isoladamente ou em combinação com glicocorticóides, dose única de 1 a 2 g/kg ou dividido em 3 a 5 dias o O mecanismo de ação da intravenosa não é conhecido imunoglobulina o Acredita-se que possa ter efeitos imunomoduladores através da ligação a anticorpos patogênicos ou pela inibição de antígenos de proteína básica da mielina, inibindo a geração ou a ativação de células T reativas de mielina o A troca de plasma tem sido relatado para melhorar o estado clínico em alguns pacientes que não respondem a altas doses de corticóides por via venosa o Variável com a etiologia o Recuperação total em 50% a 75% dos pacientes, em um período de 1-6 meses após o aparecimento dos sintomas e sinais o Déficits focais motores - leve defict motor, ataxia ou hemiparesia o Acredita-se que a duração e gravidade da inflamação cerebral se correlaciona com a extensão do dano neuronal e axonal, que são determinantes na evolução clínica NOORBAKHSH, F. et al o Início súbito, sintomas neurológicos graves e ausência de resposta aos glicocorticóides têm sido considerados fatores de mau prognóstico o Recuperação gradual - 50% a 70% dos pacientes, que se recuperam completamente sem seqüelas neurológicas o Pós-varicela e pós-rubéola, mostraram 54% e 43% de recuperação completa, 70% dos casos de ADEM inespecíficos, se tornam totalmente recuperados NOORBAKHSH, F. et al o É difícil diferenciar ADEM da Esclerose Múltipla, quando apresenta um único episódio, devido à semelhança entre a apresentação clínica, análise do líquido cefalorraquidiano, histopatológico e alterações de neuroimagem o Não existe algum marcador clínico, que possa diferenciar ADEM, a partir da apresentação inicial o Os especialistas acreditam agora, que ADEM e esclerose múltipla, são partes do mesmo espectro de condições inflamatórias desmielinizantes o Os aspectos fisiopatológicos ainda elucidados para facilitar o diagnóstico necessitam ser