UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
MESTRADO EM AGROECOSSISTEMAS
PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO: PROCESSAMENTO,
TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
COMO
ALTERNATIVA PARA
AGRICULTURA FAMILIAR DE PEQUENO PORTE
Valmir Dartora
Florianópolis, SC – BRASIL
2002
2
PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO: PROCESSAMENTO,
TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
COMO
ALTERNATIVA PARA
AGRICULTURA FAMILIAR DE PEQUENO PORTE
Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em
Agroecossistemas, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de
Santa Catarina
Autor: Valmir Dartora ∗
Orientador: Prof. Mário Luiz Vincenzi
Co-orientador: Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho
Florianópolis (fevereiro/2002)
∗ Engenheiro Agrônomo
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS – MESTRADO
FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL
DISSERTAÇÃO
submetida por Valmir Dartora
como um dos requisitos para a obtenção do Grau de
7. MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado (UFSC)
Presidente
_______________________________
Prof. Dr. José A. Ribas Ribeiro (UFSC)
Membro
_______________________________
Prof. Dr. Luiz C. P. Machado Fº (UFSC)
Membro
____________________________________________
Engº Agrº Dr. Francisco Roberto Caporal (EMATER/RS)
Membro
Aprovada em (21/02/2002)
____________________
Prof. Mário Luiz Vincenzi
Orientador
__________________________
Prof. Dr. Luiz Renato D’Agostini
Coordenador
4
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas e entidades de uma forma ou de outra contribuíram para a
realização deste trabalho. A elas expresso meu agradecimento, embora correndo o
risco de esquecimento, quero registrar aquelas que foram fundamentais à
consecução da dissertação:
a EMATER/RS, pela oportunidade de realizar este curso e pelo apoio
institucional e financeiro;
o Prof. Mário Luiz Vincenzi pela orientação competente, apoio, amizade e
confiança;
os colegas, professores e servidores do curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas, em especial aos Professores, Maria Ignez Silveira Paulilo, Wilson
Schmidt, Luiz Carlos Pinheiro Machado, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, Ademir
Antônio Cazella, Paul Richard Miller e Maria José Hotzel, pelas sugestões e
colaborações;
os colegas da EMATER/RS dos Escritórios Regionais de Erechim e Passo
Fundo, Escritórios Municipais de Erechim e Gaurama pela colaboração e
companheirismo, em especial ao colega e amigo Gilmar Antônio Meneguetti, pelas
sugestões;
os departamentos técnicos das cooperativas COTREL e COPERAL, da
empresa CEDRENSE e da Secretaria Municipal de Agricultura de Erechim, pelas
informações;
aos servidores da biblioteca da EPAGRI e do Instituto CEPA/SC, pelo
atendimento e colaboração;
aos técnicos do Instituto CEPA/SC, especialmente ao Francisco Carlos Heiden
e ao Tabajara Marcondes, pelas informações;
ao acadêmico de Agronomia da UFSC Marcos Alberto Lana pela colaboração;
à todos os agricultores, os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais e
os consumidores que colaboraram com o trabalho, concedendo as entrevista, em
especial à família de Olintho Ficcagana;
aos meus familiares, em especial a minha esposa Rosa Maria e meus filhos
Rafael e Letícia pela compreensão, apoio, carinho e amor dedicados em todos os
momentos.
iii
5
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS...................................................................................................vii
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................xi
LISTA DE ANEXOS....................................................................................................xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS...............................................................xiii
RESUMO....................................................................................................................xv
ABSTRACT................................................................................................................xvi
INTRODUÇÃO............................................................................................01
CAPÍTULO I
1.
REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................04
1.1 Produção mundial e comércio internacional de leite.................................04
1.2 Importações e o setor leiteiro nacional............................................................06
1.3 Produção leiteira nacional e sua importância..................................................09
1.4 Pecuária leiteira nas regiões brasileiras..........................................................12
1.5 Pecuária leiteira nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul...........14
1.6 Produção de leite e o debate sobre suas tendências......................................20
1.7 Agricultura e o ambiente..................................................................................27
1.8 Possibilidades para as pequenas unidades de produção leiteira....................33
1.8.1 Produção de leite à base de pasto.........................................................33
1.8.1.1 Área de pastagem e escolha da forrageira.................................42
1.8.1.2 Animais para a produção de leite à base de pasto.....................49
1.8.1.3 Manejo das pastagens................................................................50
1.8.2 Beneficiamento/transformação e comercialização de leite e derivados 53
1.9 Área de estudo.................................................................................................55
1.9.1 Evolução histórica da agricultura nas microrregiões de Erechim no RS
e Chapecó em SC...................................................................................55
1.9.2 Microrregião de Erechim.........................................................................59
1.9.3 Microrregião de Chapecó.......................................................................64
iv
6
CAPÍTULO II
2. METODOLOGIA....................................................................................................69
2.1 Descrição da proposta de produção de leite do DZDR........................................69
2.2 Delimitação do estudo..........................................................................................69
2.3 Viagens de estudo e visitas técnicas....................................................................71
2.4 Entrevista semi-estruturada..................................................................................72
2.5 Avaliação subjetiva de fatores de produção e sociais..........................................74
CAPÍTULO III
3. PROPOSTA DE PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO........75
3.1 Histórico da família...........................................................................................77
3.2 Estrutura de produção......................................................................................79
3.3 Alimentação.....................................................................................................80
3.3.1 Campo naturalizado................................................................................80
3.3.2 Pastagens...............................................................................................81
3.3.2.1 Perenes de verão........................................................................81
3.3.2.2 Perenes de inverno.....................................................................83
3.3.2.3 Anuais de inverno........................................................................85
3.3.3 Outros alimentos.....................................................................................86
3.4 Manejo das pastagens e dos animais..............................................................86
3.5 Criação das terneiras.......................................................................................87
3.6 Raça e seleção................................................................................................89
3.7 Sanidade..........................................................................................................90
3.7.1 Tuberculose e brucelose........................................................................90
3.7.2 Mamite....................................................................................................90
3.7.3 Verminoses.............................................................................................91
3.7.4 Ectoparasitas..........................................................................................92
3.8 Processamento, transformação e comercialização de leite e queijo...............92
3.9 Administração..................................................................................................94
v
7
CAPÍTULO IV
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................95
4.1 Classificação dos sistemas de produção de leite............................................95
4.2 Métodos de pastoreio.....................................................................................102
4.3 Indicadores produtivos dos sistemas de produção de leite...........................104
4.4 Resultados econômicos dos sistemas de produção de leite.........................106
4.5 Atividades desenvolvidas pelos produtores nas propriedade rurais
estudadas......................................................................................................122
4.6 Aspectos ambientais......................................................................................124
4.7 Percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira e avaliação subjetiva 131
4.8 Participação dos agricultores em cooperativas, sindicatos, associações
e/ou grupos comunitários...............................................................................140
4.9 Produtos lácteos, produzidos e comercializados por agricultores em pequenas unidades de produção............................................................................143
4.10 Análise comparativa das Microrregiões de estudo..................................... 153
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES.......................................................155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................160
ANEXOS..................................................................................................................169
Vi
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Produção total de leite de alguns países/blocos selecionados 1997 a
1999 (1.000 toneladas métricas).............................................................04
Tabela 2 – Leite e derivados – Quantidades das importações brasileiras por bloco,
1992 a 2000, em toneladas.....................................................................08
Tabela 3 – Produção brasileira total, taxa de crescimento e consumo per capita de
leite, no período de 1980 a 1998.............................................................10
Tabela 4 – Produção brasileira total de leite, produção inspecionada e informal, e
crescimento do leite informal no período de 1980 a 1999......................12
Tabela 5 – Evolução e participação das Regiões brasileiras na produção de leite, no
período de 1985 a 1996..........................................................................13
Tabela 6 – Participação da produção de leite no Brasil pelos 10 maiores estados
produtores, ano de 1985 e 1996.............................................................14
Tabela 7 – Evolução e participação das mesorregiões do Estado de Santa Catarina
na produção de leite, no período de 1985 a 1996...................................15
Tabela 8 – Evolução e participação relativa das meso e microrregiões do Estado do
Rio Grande do Sul na produção de leite, no período de 1985 a 1996....19
Tabela 9 – Fusões e aquisições de empresas de laticínios no Brasil, nos últimos
anos.........................................................................................................21
Tabela 10 – Número de produtores e quantidade média diária de leite recebida por
produtor nas 12 maiores empresas de laticínios do País.......................22
Tabela 11 – Cenários para que o RS tenha a produção de 1996 de 1,88 bilhões de
litros de leite por ano...............................................................................23
Tabela 12 – Impacto da granelização da coleta do leite na Cooperativa Central
Agropecuária do Sudoeste Ltda..............................................................26
Tabela 13 – Idade da pastagem e a influência do sistema radicular sobre as
características físicas do solo...............................................................34
Tabela 14 – Massa de raízes de uma pastagem permanente em função da
utilização...............................................................................................35
Tabela 15 – Produção total de forragem do campo nativo (CN), do azevém
espontâneo (AZ) e das leguminosas trevo branco e cornichão (TB e C),
média de três repetições.......................................................................37
vii
9
Tabela 16 – Disponibilidade total de forragem kg de MS/ha em pastagem nativa
submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo
vermelho (TV), trevo branco (TB) e testemunha (T), média de quatro
repetições..............................................................................................38
Tabela 17 – Disponibilidade PB kg/ha em pastagem nativa submetida a introdução
de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco
(TB) e testemunha (T), média de quatro repetições.............................39
Tabela 18 – Valores médios em percentagem da PB, da digestibilidade “in vitro” da
matéria orgânica (DIVMO) e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) de
pastagens de campo nativo e campo nativo melhorado com
leguminosas, nas estações do ano.......................................................40
Tabela 19 – Quantidade de nitrogênio fixado por diferentes espécies de
leguminosas..........................................................................................41
Tabela 20 – Custos relativos de algumas pastagens usadas no sistema de produção
de leite da EPAGRI / Lages..................................................................42
Tabela 21 – Rendimento de milho e soja kg / ha, após área pastoreada(PAST.) e
não pastoreada (NÃO PAST.) de aveia + ervilhaca (AV + ER), aveia
(AV) e aveia + azevém (AV + AZ)........................................................ 47
Tabela 22 – Modificações nas características físicas e químicas do solo sob
pastoreio durante 15 anos....................................................................53
Tabela 23 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área da microrregião de Erechim................................61
Tabela 24 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área do município de Gaurama...................................62
Tabela 25 – Número de produtores, quantidade de leite recebida e percentuais
correspondentes a cada estrato de recepção.......................................63
Tabela 26 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área da microrregião de Chapecó...............................66
Tabela 27 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área do município de Serra Alta..................................67
Tabela 28 – Classificação dos sistemas de produção de leite obtidos nos
levantamentos de campo em abril e maio de 2001..............................95
Tabela 29 – Quantidades diárias estimadas, em kg de MS dos alimentos volumosos
e dos alimentos concentrados fornecidos por UA, em cada sistema de
produção...............................................................................................97
viii
10
Tabela 30 – Quantidades diárias dos alimentos volumosos e dos alimentos
concentrados disponíveis e/ou fornecidos para cada UA estimadas em quilos de
MS.........................................................................................99
Tabela 31 – Áreas dos potreiros e das pastagens perenes e anuais de verão e de
inverno utilizadas nos sistemas de produção de leite.......................101
Tabela 32 – Áreas de pastagens e métodos de pastoreio utilizados em cada sistema
de produção........................................................................................103
Tabela 33 – Indicadores produtivos dos sistemas de produção..............................105
Tabela 34 – Valores monetários mensais dos custos de produção do leite, queijo e
pasteurização de cada sistema de produção......................................107
Tabela 35 – Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos totais, custo
total, por litro de leite e a renda líquida de cada sistema de
produção.............................................................................................109
Tabela 36 – Valores monetários mensais da mão-de-obra e administração das fases
realizadas pelos produtores, relacionadas aos sistemas de produção
desenvolvidos nas propriedades.........................................................110
Tabela 37 – Valores monetários mensais da receita líquida, mão-de-obra e
administração, e remuneração do capital fixo das fases que os
produtores realizam, relacionadas aos sistemas de produção
desenvolvidos nas propriedades.........................................................111
Tabela 38 – Valores monetários mensais da renda líquida mais a mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo, das fases que os
agricultores realizam, a quantidade de leite produzida por mês e os
resultados econômicos obtidos, por litro de leite, relacionado aos
sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades....................114
Tabela 39 – Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos de produção
de leite e a renda líquida de cada sistema de produção.....................116
Tabela 40 – Valores monetários mensais da receita líquida da atividade leiteira, total
mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo do sistema
produtivo, a quantidade de leite produzida por mês e os resultados
econômicos obtidos, por litro de leite, relacionados aos sistemas de
produção desenvolvidos nas propriedades.........................................117
Tabela 41 – Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos
componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital
fixo e o valor agregado, por litro de leite, resultante das fases que os
agricultores realizam fora do processo produtivo, relacionados aos
sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades....................118
ix
11
Tabela 42 – Dos custos totais quanto, em percentagem corresponde a alimentação,
a mão-de-obra, os custos variáveis e os custos fixos, em cada sistema
e produção..........................................................................................121
Tabela 43 – Fontes de renda dos produtores, valor da receita bruta anual de cada
uma e percentagem correspondente à atividade leiteira....................123
Tabela 44 – Uso atual das propriedades e cobertura vegetal existente..................129
Tabela 45 – Avaliação subjetiva de fatores de produção e sociais das famílias
pesquisadas........................................................................................139
x
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa da Região Sul do Brasil, com destaque para as microrregiões de
Erechim no RS e Chapecó em SC..........................................................68
Figura 2 – Família de Olintho Ficcagana (direita para esquerda: Eliane, Lourdes,
Rodrigo, Ana e Olintho) e Valmir Dartora. Serra Alta/SC........................79
Figura 3 – Área de pastagem naturalizada (potreiro) manejada através do PRV, na
propriedade da família de Olintho Ficcagana..........................................81
Figura 4 – Área de capim elefante com ervilhaca, na propriedade da família de
Olintho Ficcagana...................................................................................82
Figura 5 – Área de pastagem consorciação de azevém x trevo branco x trevo
vermelho, com animais em pastoreio, na propriedade da família de Olintho
Ficcagana..................................................................................................84
Figura 6 – Bebedouro móvel utilizado na propriedade da família de Liseu Meier
localizada no município de Dionísio Cerqueira/SC...................................87
Figura 7 – Vaca-ama amamentando a(o) terneira(o) na propriedade da família de
Olintho Ficcagana......................................................................................89
Figura 8 – Sala de envase e pasteurização do leite na propriedade da família de
Olintho Ficcagana......................................................................................93
Figura 9 – Queijaria da família de Alcides Mariga localizada no município de
Erechim/RS.............................................................................................146
Figura 10 – Pequena queijaria da família Piovesan – Saltinho/SC..........................151
xi
13
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Roteiro entrevista agricultor
Anexo 2 – Roteiro entrevista consumidores
Anexo 3 – Roteiro entrevista pequenos mercados
Anexo 4 – Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite cru refrigerado e
regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a
granel
Obs: Acompanha a dissertação memória de cálculo anexo nº 5
xii
14
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS, SÍMBOLOS E VALORES
ABPLB
Associação Brasileira dos Produtores de Leite B
ACARESC
Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina
AGRECO
Associação de Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra
Geral
APACO
Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense
CCGL
Cooperativa Central Gaúcha de Leite
CCL
Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo
CCS
Contagem de células somáticas
CEDRENSE
Trentino Alimentos S/A
CENTROLEITE
Cooperativa Central de Laticínios de Goiás
CEPA/SC
Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina
CEPAGRO
Centro de Extensão e Pesquisa Agronômica da Universidade de
Passo Fundo
CEPAGRO
Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo
CIMMYT
Centro Internacional de Melhoramento de milho e Trigo
CNA
Confederação Nacional da Agricultura
CNPGL
Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite
CO2
Gás carbônico
COCEL
Cooperativa Central Alto Uruguai Ltda
COPERAL
Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda
COTREL
Cooperativa Tritícola Erechim Ltda
COTRIJUI
Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda
CTC
Capacidade de troca de cátions
DEIP
Dairy Export Incentive Program
DIVMO
Digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica
DZDR
Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural - UFSC
EMATER/RS
Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência
Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
xiii
15
EPAGRI
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina
EUA
Estados Unidos da América
FAO
Food and Agriculture Organization of the United Nations
ha
Hectare
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IRRI
International Rice Research Institute
kg
Quilograma
kg/ha
Quilograma / hectare
MS
Massa seca
MS/ha
Massa seca / hectare
NAFTA
North American Free Trade Agreement
NDT
Nutrientes digestíveis totais
ONG
Organização Não Governamental
PB
Proteína bruta
PIB
Produto Interno Bruto
PNQL
Programa Nacional de Qualidade do Leite
PRONAF
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRV
Pastoreio Racional Voisin
SIM
Serviço de Inspeção Municipal
SUDCOOP
Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda
UA
Unidade animal
UE
União Européia
UFRGS
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina
UPF
Universidade de Passo Fundo
Obs: R$ 1,00 = U$S 0,40 (data das pesquisas)
xiv
16
RESUMO
A análise dominante em relação à produção de leite é que para se ter qualidade e
competitividade, há necessidade imperativa de produção especializada e aumento
de escala. Essa estratégia de produção traz consigo a drástica redução no número
de produtores e sérios problemas sociais, econômicos e ambientais. Nesse contexto,
o presente trabalho buscou descrever e analisar sistemas de produção de leite à
base de pasto, processamento, transformação e comercialização, resultante da ação
de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo
Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de
Santa Catarina, no Estado de Santa Catarina e compará-los com três sistemas de
produção de leite – intensivo de uso de alimentos no cocho, semi-intensivo e pastoril
– desenvolvidos em 14 propriedades na microrregião de Erechim – RS e as formas e
as estratégias usadas pelos agricultores na comercialização do leite e dos produtos
derivados. O trabalho busca verificar a possibilidade de adaptação dessas
experiências para a microrregião de Erechim e como os agricultores se relacionam
como o mercado. As variáveis estudadas foram: a) produtividade: produção de leite /
vaca; b) econômicas: custo / litro de leite e receita do leite e/ou derivados; c)
alimentação: espécies forrageiras, manejo pastagens, uso de silagem e alimentos
concentrados; d) ambientais: sistemas de implantação de pastagem, uso de
agrotóxicos e manejo dos dejetos; e) percepção dos agricultores sobre a atividade
leiteira: expectativa da atividade, motivação para o associativismo e assistência
técnica; e, f) comercialização: mercado e aceitação dos produtos das unidades de
pequeno porte. Quanto aos resultados, a produção/vaca/dia ano, em média, nos
sistemas pastoris foi de 10,8 litros, nos semi-intensivos de 7,6 litros e nos intensivos
de 7,2 litros. O custo de produção R$/litro, em média, nos sistemas pastoris foi de
0,24, nos semi-intensivos de 0,33 e nos intensivos de 0,45. As fases desenvolvidas
após o sistema produtivo foram decisivas nos resultados econômicos. A atividade
leiteira é desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal. A
aceitação dos produtos coloniais é muito boa e existem espaços no mercado. As
experiências desenvolvidas em Santa Catarina mostraram-se plenamente viáveis em
termos sociais, econômicos e de sustentabilidade, servindo como referência para
outros agricultores. A construção de um desenvolvimento que reduza o processo de
exclusão exige unidade, organização e muita luta no sentido de conquistar e
executar projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os
pequenos e médios empreendimentos lácteos no País.
xv
17
ABSTRACT
Currently, the dominant thought is that quality in milk production can only be
achieved through specialization and increases in production. This strategy has lead
to a reduction in the number of producers and serious social, economical and
environmental problems. Within this context, the present study described and
analyzed the existing pasture based systems for milk production, processing,
transformation and commercialization, resulting from the organization of farmers and
extension programs carried out by the Department of Animal Science at the Federal
University of Santa Catarina. It also compared the three systems - intensive use of
feed at the through, semi/intensive and on pasture - used by 14 farms in the microregion of Erechim - RS, and the alternatives and strategies used by farmers in the
commercialization of milk and milk products. This work verified whether such
experience could be adapted to the micro-region as a whole and how farmers relate
to the market. The variables studied were: a) productivity: milk production per cow, b)
economics: cost/l of milk and income from milk and products, c) feeding: plant
species, pasture management, use of silage and concentrates, d) environmental:
pasture implantation systems, use of pesticides and waste management, e)
perception of farmers of the milking activity, motivation for association and
technical support, f) marketing: market and consumer opinion on products from small
farms. The average yearly production/cow/day, for on pasture, semi-intensive and
intensive was 10.8 liters, 7.6 liters and 7.2 liters, respectively. The cost of production
for each of above systems was R$ 0.24/l, R$0.33/l and R$ 0.45/l respectively. The
steps that followed the productive system were decisive for the economical results.
Milk production is carried out as a strategy to achieve a monthly income. The
acceptation of these products is good. The experiences developed on Santa Catarina
State were viable in social, economical and sustainability terms, and are a reference
for other farmers. To achieve development with a reduction of the exclusion process
demands union, organization and hard work to conquer and carry out projects that
consolidate the small production units and the small and medium sized milk
enterprises in Brazil.
xvi
18
INTRODUÇÃO
O pensamento dominante em relação à produção de leite no Rio Grande do
Sul, e válido para todo o Brasil, é que para se ter qualidade e competitividade, há
necessidade imperativa de produção especializada e aumento de escala, o que traz
consigo a drástica redução no número de produtores. Neste contexto, a maioria dos
estudiosos do assunto afirma que a produção de leite nas pequenas unidades de
produção diversificadas está com seus dias contados. Esta afirmação tem por base
“a racionalização das linhas de coleta, a busca da qualidade da matéria-prima, a
redução dos custos de transação, a granelização e o frio, as economias de escala e
a regularidade de oferta” (JANK, et alli., 1999).
A busca de desenvolvimento sustentável do Rio Grande do Sul, gera
inquietude em relação aos inúmeros efeitos que esta política trará sobre a economia
de muitas regiões, tendo em vista que a maioria dos municípios gaúchos possui
economia apoiada em agropecuária onde predominam as pequenas unidades de
produção, sendo a atividade leiteira um dos seus componentes-chave.
No sentido de buscar alternativas para as pequenas unidades de produção de
leite, muitas experiências têm procurado outros caminhos para a produção,
processamento, transformação e comercialização do leite. Essas alternativas
buscam otimizar a produção de leite com pastagens, através do uso de sistemas à
base de pasto; da maximização do uso dos insumos disponíveis na propriedade; da
criação de formas associativas de produção, processamento, transformação e
comercialização, visando agregar valor aos produtos. Tudo isso, para consolidar a
atividade leiteira de forma diversificada e promover um desenvolvimento que
contemple não somente os aspectos econômicos, mas também os sociais, culturais,
políticos e ambientais.
Algumas destas interessantes experiências acontecem na região Oeste de
Santa Catarina. Trata-se da proposta de produção de leite à base de pasto,
processamento,
transformação
e
comercialização,
resultante
da
ação
de
organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo
Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
19
Esse trabalho tem por objetivo contribuir para viabilizar econômica, ecológica e
socialmente a produção leiteira da microrregião de Erechim - RS (classificação
IBGE, 1998), através da descrição e análise de sistemas de produção, das formas e
das estratégias usadas pelos agricultores na comercialização do leite e produtos
derivados.
Tendo os seguintes objetivos específicos:
• Verificar a possibilidade de adaptação, para a microrregião de Erechim, da
proposta de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e
comercialização, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos
de extensão, realizados pelo DZDR da UFSC, no Estado de Santa Catarina, tendo
como referência o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho
Ficcagna, localizada no município de Serra Alta – SC, microrregião de Chapecó
(classificação IBGE, 1998).
• Analisar o sistema de produção de leite à base de pasto, processamento,
transformação e comercialização, realizado pela família de Olintho Ficcagana e
compará-lo com três sistema de produção de leite – intensivo de uso de alimentos
no cocho, semi-intensivo e pastoril - localizados em propriedades na microrregião
de Erechim.
A hipótese de trabalho da qual se partiu é:
A produção de leite à base de pasto, juntamente com o processamento,
transformação e comercialização em pequenas estruturas são capazes de manter a
atividade leiteira com rentabilidade nas pequenas unidades familiares de produção,
nas atuais condições do mercado.
A presente dissertação está estruturada com uma introdução, quatro capítulos
de desenvolvimento e conclusão. No capítulo I, apresenta-se uma revisão
bibliográfica que procura apontar os principais argumentos presentes no debate
sobre as tendências da cadeia produtiva do leite no Brasil. Nesse sentido, fez-se um
breve panorama da produção mundial, posição do Brasil nesta produção, alguns
20
aspectos sobre o comércio internacional e a interferência dos subsídios no mercado
lácteo brasileiro. A importância da produção nacional, com ênfase para os estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e como a política de especialização e
concentração tem provocado a exclusão de muitos agricultores da atividade leiteira.
Também descreve-se alguns aspectos sobre a relação homem-natureza na
produção agrícola e a produção de leite à base de pasto, beneficiamento,
transformação e comercialização, como possibilidades para as pequenas unidades
de produção. Depois fez-se um resgate histórico da agricultura nas microrregiões de
Erechim e Chapecó e descreve-se alguns aspectos sobre as características
edafoclimáticas, o êxodo rural, a estrutura fundiária e a produção leiteira dessas
microrregiões.
No capítulo II, mostra-se a metodologia usada para desenvolver o trabalho.
No capítulo III, descreve-se a proposta de produção de leite à base de pasto
resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão
realizados pelo DZDR da UFSC, tendo-se por base o projeto piloto implantado na
propriedade da família de Olintho Ficcagna.
No capítulo IV, estão os resultados obtidos com a pesquisa e as discussões.
Finalmente, fez-se, de forma sintetizada, considerações finais e conclusões do
estudo.
21
CAPÍTULO I
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 PRODUÇÃO MUNDIAL E COMÉRCIO INTERNACIONAL DE LEITE
A produção mundial de leite, em 1999, foi de aproximadamente 570 milhões de
toneladas, segundo dados da FAO (2000). Conforme observa-se na tabela 1, as
maiores participações relativas na produção mundial são da União Européia, com
22%, e dos Estados Unidos, com 12% do total. A produção brasileira foi equivalente
a 3,8% do total e alguns países tradicionais exportadores de leite, como Austrália,
Nova Zelândia e Argentina, apresentaram uma participação relativa em torno de 2%.
Um fato que chama a atenção é a estagnação da produção européia, que chegou a
produzir, em média, 135 milhões de toneladas na década de 80 e atualmente está
na faixa de 125 milhões de toneladas.
Tabela 1 – Produção total de leite de alguns países/blocos selecionados 1997 a
1999 (1.000 toneladas métricas)
País/Bloco
Anos
1997
1998
1999
%
União Européia
125.598
125.867
126.989
22,24
EUA
70.801
71.414
73.804
12,93
Brasil
19.385
19.414
21.841
3,82
Nova Zelândia
11.058
11.380
10.881
1,90
Austrália
9.304
9.371
10.490
1,83
Argentina
9.371
9.832
10.631
1,86
México
8.211
8.701
9.301
1,62
Uruguai
1.339
1.467
1.479
0,25
552.415
561.984
570.795
100
Total Mundial
Fonte: FAO(2000).
22
Na análise do comércio internacional de produtos lácteos, duas questões são
fundamentais. A primeira refere-se ao protecionismo dado ao leite, na grande
maioria dos países desenvolvidos, e a segunda trata da importância dos países
europeus no comércio internacional.
O leite é um dos produtos mais protegidos e subsidiados no mundo
desenvolvido, através de todo tipo de restrição ao comércio, políticas de garantia de
preços, intervenções governamentais no mercado interno e pesados subsídios à
exportação. Na União Européia (UE), a política de segurança alimentar, adotada no
pós-guerra, dá prioridade à preservação da renda dos produtores. Tal política gera
contínuos excedentes de leite em pó e outros derivados, que são colocados no
mercado mundial a preços de “dumping1” pelos “tesouros” desses países. Em menor
proporção, situação similar ocorre no Nafta.
Por exemplo, segundo JANK (1995), a UE, gasta cerca de US$ 5 bilhões/ano
entre intervenções no mercado interno (estocagem, prêmios, uso na alimentação de
bezerros, ajuda escolar...) e restituições às exportações, um subsídio concedido na
forma de pagamentos que cobrem a diferença entre os altos preços internos
garantidos pelo governo e o preço internacional na exportação. A UE exporta cerca
de 350 mil toneladas de leite em pó com subsídios que vão de US$ 750/tonelada
(desnatado) a US$ 1.300/tonelada (integral). Nos Estados Unidos (EUA) a lei
agrícola de 1990 estabelece a garantia de um preço mínimo ao produtor equivalente
a US$ 0,22 por litro, o “Agricultural Adjustment Act” define um rígido sistema de
cotas de importação e o governo, através do “Dairy Export Incentive Program
(DEIP)”, concede subsídio à exportação, gastando cerca de US$ 135 milhões/ano.
Em razão da política de auto-suficiência utilizada na maioria dos países, do
total de 570 bilhões de litros de leite de vaca produzidos no mundo, de acordo com
BERNARDES (2000), pouco mais de 5%, o equivalente a 28 ou 30 bilhões de litros,
são comercializados internacionalmente. Desse total, as exportações da UE e dos
EUA representam cerca de 50%, sendo respectivamente 38% e 5%. Outros países
exportadores: Nova Zelândia participa com 31% e Austrália com 12%, (dados de
1998). Todavia, tal comércio representa 11% da produção de manteiga, 7% da
produção de queijos, 26% da produção de leite em pó desnatado e 47% da
produção de leite em pó integral.
1
Colocação de produtos no mercado internacional a preços inferiores ao custo de produção interno.
23
Nos demais países que participam do mercado mundial de lácteos, a política
leiteira é muito variada. Alguns possuem alguma forma de compensação e outros
não utilizam nenhum tipo de subsídio para impulsionar as exportações, onde os
preços são basicamente reflexo da estrutura de custos. É o caso da Nova Zelândia,
Argentina e Uruguai em menor escala, assim como o Brasil, dentre outros. Em
relação ao Brasil, nunca se adotou uma política leiteira que buscasse desenvolver e
fortalecer o setor lácteo. Alegava-se que sairia mais barato importar leite do que
produzir. No período em que a atividade leiteira esteve sob a intervenção do
governo, as importações tinham a conotação de regular a disponibilidade interna do
produto e contribuir no combate à inflação. Após, à liberalização comercial as
importações passaram a ser feitas tendo-se presente somente os lucros
proporcionados pelo mercado. Essa política e o descaso dado ao setor, por ser uma
atividade típica de mercado interno, criaram, principalmente para os produtores a
pior das situações: baixa rentabilidade e alto risco.
O que se destaca nesta breve análise é a importância das políticas leiteiras no
mercado mundial de lácteos e, a partir disso, constata-se que é impossível realizar
avaliações sobre o setor leiteiro independente dessas políticas. Sua influência afeta
o perfil da produção e do comércio mundial e, com isso, tanto a geografia mundial da
produção quanto a estrutura de preços encontram-se distorcidas.
1.2 IMPORTAÇÕES E O SETOR LEITEIRO NACIONAL
Os maiores participantes do comércio mundial de produtos lácteos são os
países membros da UE. Alguns países pertencentes à UE são ao mesmo tempo,
grandes importadores e grandes exportadores desses produtos (BRANDÃO, 2001).
Para ilustrar destaca-se: a Alemanha é o maior exportador e maior importador; a
França é o segundo maior exportador e o quinto maior importador; e a Holanda é o
terceiro maior exportador e o quarto maior importador.
A existência de grandes volumes de importações e exportações não é,
entretanto, motivo para surpresas. Grande parte do comércio mundial nos dias
atuais ocorre dessa forma, é o chamado comércio intra-indústria. Não obstante,
países como a Austrália e a Nova Zelândia fogem a esta regra.
24
Dos países membros do Mercosul, a Argentina e o Uruguai são os que têm
maior expressão como exportadores. Em 1997, a participação da Argentina nas
exportações mundiais foi de aproximadamente 1% e a participação do Uruguai foi de
0,5% (BRANDÃO, 2001). As importações destes dois países são insignificantes, o
que os coloca em posição de destaque são às exportações líquidas2. A argentina é o
8º maior exportador líquido de leite e derivados do mundo e o Uruguai o 13º. O
Brasil não tem nenhuma expressão como exportador de produtos deste setor. As
importações líquidas em 1997 foram na ordem de 474 milhões de dólares, colocando
o País como o 9º maior importador líquido do mundo
Em relação à quantidade importada, de 1980 a 94, as importações brasileiras
representavam, em média, 4,3% da produção nacional, variando de 0,5 a 9%,
exceto o ano de 1986, que foi 18%. Já, no período de 1995 a 98, passaram para um
percentual médio de 13%, variando de 9 a 18% (GOMES, 2001).
Devido a distorção do mercado mundial dos produtos lácteos, as transações
mercantis, na grande maioria das vezes, ocorrem através de práticas desleais e
predatórias de comércio – subsídios, “dumping”, triangulação comercial, aquisições
de produtos impróprio para consumo humano, com prazo de validade vencida e com
composição físico-química alterada.
Em relação à triangulação comercial, as denúncias feitas são de que ela é
realizada por empresas localizadas, principalmente, na Argentina. Essas empresas
comprariam
produtos
a
preços
subsidiados
no
mercado
internacional
e
internalizariam no Brasil, valendo-se da condição das alíquotas de importação dentro
do bloco, que são bem menores que as aplicadas nas importações originadas de
países extra bloco. No entanto, observa-se na tabela 2, que triangulando ou não, a
partir de 1995 com a formação da União Aduaneira no Mercosul, isto é, a eliminação
dos impostos de importação entre os países membros e a criação de Tarifa Externa
Comum para terceiros mercados, nunca o Mercosul exportou tanto para o Brasil.
A tabela 2, mostra que no período de 1992 a 1994, em média, 40% das
importações brasileiras eram realizadas via Mercosul. Porém, após entrar em vigor a
União Aduaneira, no período de 1995 a 2000, em média, o Mercosul passou a
responder por 71% das importações brasileiras.
2
Exportações líquidas é o valor das exportações menos o valor das importações.
25
Tabela 2 – Leite e derivados – Quantidades das importações brasileiras por bloco,
1992 a 2000, em toneladas
Ano
Mercosul
União
Européia
Oceania
Nafta
Outros
Total
1992
7.957
17.483
5.247
3.270
8.556
42.513
1993
29.403
23.407
10.017
1.047
23.844
87.718
1994
77.731
31.761
12.927
4.567
25.097
152.083
1995
158.465
134.334
18.778
21.195
22.845
335.617
-
-
-
-
-
330.227
1997
228.063
36.694
40.915
6.392
6.682
318.746
1998
278.062
44.631
40.770
13.138
7.523
384.123
1999
332.399
23.733
11.431
13.848
2.262
383.673
2000
246.624
30.800
9.764
14.458
5.416
307.062
1996(1)
Fonte: Instituto CEPA/SC - Síntese anual da agricultura de Santa Catariana 2000-2001.
(1) Disponível somente o total.
Em relação às importações de lácteos, vale destacar a mudança do perfil dos
importadores. Antes, as importações eram feitas apenas pelo governo, com vistas
em regularizar o abastecimento interno e atender aos programas sociais. Depois,
elas também poderiam ser feitas por indústrias lácteas, porém, a preocupação era
completar o abastecimento do mercado. Agora, as importações são realizadas pelas
indústrias lácteas e por empresários que não têm nada a ver com a atividade leiteira,
chamados de “sem fábricas”. Segundo BERNARDES(2000), “as aquisições externas
de leite em pó realizadas pelos “sem fábricas”, que apenas fracionam e embalam o
produto para comercializá-lo, respondem por mais de 20% do mercado doméstico do
produto”. No nosso entendimento, tanto as importações feitas via intra-indústria,
quanto as realizadas pelos “sem fábricas”, tumultuam o mercado doméstico e
provocam sérias dificuldades para o setor produtivo, caracterizando-se portanto,
como operações mercantis meramente especulativas e descomprometidas com os
problemas da sociedade.
As importações dos produtos lácteos a preços artificialmente baixos causaram,
e ainda causam, danos ao setor leiteiro brasileiro, entre os quais, citamos alguns
comentados por BERNARDES (2000):
a) Reduz o preço ao produtor, impedindo a adequada remuneração da atividade.
Como as importações constituem uma alternativa à compra do leite in natura dos
26
produtores, acabam aumentando o poder de barganha das empresas,
pressionando para baixo os preços pagos aos produtores;
b) Sem qualquer relação com vantagens comparativas, baliza os preços no mercado
doméstico, impedindo aos produtores brasileiros a plena conquista do mercado
interno;
c) Eleva o nível de desemprego na pecuária de leite, atividade intensiva em mão-deobra, contribuindo para que o fluxo de mão-de-obra ocupada na agricultura se
desloque para os centros urbanos, aumentando a massa de desempregados e o
processo de favelização das cidades;
d) Causa falências e sérias dificuldades nas cooperativas e empresas lácteas.
Nestes casos, o dano recaí novamente sobre o produtor, que não tem onde
vender o seu produto.
1.3 PRODUÇÃO LEITEIRA NACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA
No Brasil, segundo estudo realizado por GUANZIROLLI, et alli. (s.d.), baseado
em dados censitário de 1995/96, a agricultura familiar3 produz 52% do leite do País.
De acordo com o Censo Agropecuário 1995/1996, foram 1.810.041 produtores que
informaram produzir leite, com rebanho médio de 7,58 vacas por produtor e
produção média de 3,57 litros por vaca dia. Os dados do Censo também mostram
que as propriedades com área de até 50 ha, possuem 38% do rebanho, respondem
por 39% da produção e envolvem 1.253.836 produtores. Em relação ao número de
vacas ordenhadas por estabelecimento, tem-se que as propriedades com até 10
vacas possuem 38% do rebanho, produzem 34% da produção e envolvem
1.502.048 produtores. Boa parte destes produtores (712.423) possuem um número
pequeno de vacas (uma a duas), sendo esta produção basicamente utilizada para a
subsistência da família. Quanto à venda de leite, do número total de produtores,
818.103 informaram que comercializavam o produto. Esses dados mostram a
importância da atividade leiteira para as pequenas unidades de produção.
3
No estudo, a agricultura familiar foi definida a partir de três características centrais: a) a gestão da unidade
produtiva e os investimentos nela realizados é feita por indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de
casamento; b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família; c) a propriedade dos
meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interior que se realiza sua
transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva.
27
Nas últimas duas décadas a produção nacional de leite vem crescendo a taxas
superiores às do crescimento da população. Isso faz prever a possibilidade de o
País alcançar, em breve, sua auto-suficiência. A partir disso, surgem duas questões:
a) o Brasil deixará de importar derivados lácteos? e b) o País exportará os
excedentes? Quanto à primeira, a resposta é não. Mesmo com auto-suficiência, com
certeza, o País participará do mercado internacional, ora importando, ou talvez, ora
exportando, dependendo dos preços doméstico e internacional. Quanto à segunda
pergunta, a resposta está diretamente ligada à qualidade dos produtos. Atualmente,
mesmo que existissem excedentes, as exportações não ocorreriam, em razão das
barreiras referentes as exigências de qualidade.
A tabela 3, apresenta a evolução e o consumo per capita da produção
brasileira de leite no período de 1980 a 1998.
Tabela 3 – Produção brasileira total, taxa de crescimento e consumo per capita de
leite, no período de 1980 a 1998
Ano
Produção
(milhões litros)
1980
11.162
81
11.324
82
11.461
83
11.463
84
11.933
85
12.078
86
12.492
87
12.996
88
13.522
89
14.095
90
14.484
91
15.079
92
15.784
93
15.591
94
15.784
95
17.189
96
19.027
97
19.503
98
20.088
Fonte: GOMES,2001.
Taxa crescimento
(%)
1,45
1,20
0,01
4,10
1,21
3,42
4,03
4,04
4,23
2,75
4,10
4,67
- 1,22
1,23
8,90
10,69
2,50
2,99
Consumo per capita
(litros/ano)
100,67
93,89
93,15
92,09
93,91
94,02
110
100,60
98,24
108,58
106,34
111,45
107,53
107,03
110,81
130,85
135,98
133,87
138,00
28
A tabela 3, mostra que nesse período, a taxa anual de crescimento foi, em
média, de 3,4%; sendo 2,6%, de 1980 a 89; e 4,2% de 1990 a 98. Esses dados
mostram que a produção brasileira vem crescendo a taxas significativas e os
resultados são expressivos, apesar das adversidades enfrentadas pelos produtores.
De 1994 a 97, a produção de leite aumentou, em média, 1,2 bilhão de litros/ano.
Outro destaque é o consumo per capita, que pulou de 90 a 100 litros/ano, da década
de 80, para 138 litros/ano, em 1998. Considerando-se o tamanho da população
brasileira, esse aumento não é nada desprezível. No entanto, não se pode esquecer
que a demanda por lácteos é elástica à massa salarial. Se esta se reduz, a demanda
cai mais do que proporcionalmente. E que o aumento de consumo per capita, deveuse basicamente ao esboço de distribuição de renda proporcionada, nos dois
primeiros anos após a implantação do Plano Real, em julho de 1994.
A atividade leiteira, no País, caracteriza-se como de singular importância, sob
as óticas social e econômica. A atividade está presente em todo o território nacional
e desenvolve-se em cerca de 1,8 milhão de propriedades agrícolas, gerando mais de
3,0 milhões de postos de trabalho diretos, somente na atividade primária (MARTINS,
2001). A importância econômica da atividade é destacada no estudo feito pela
Associação Brasileira dos Produtores de Leite B (ABPLB), (apud Cenário futuro...,
1995), em que procurou identificar o tamanho do negócio do leite no País. A
entidade chegou a um PIB lácteo de US$ 5,5 bilhões, resultado da produção anual
de 15 bilhões de litros de leite. Desse valor, US$ 1,4 bilhão é movimentado pela
economia informal do leite, representando 26% do PIB lácteo do País. O estudo
ressalta, ainda que o valor do PIB lácteo representava 15% do PIB agropecuário e
1,3% do PIB brasileiro.
Em relação ao leite informal4, conforme matéria no RURAL BUSINESS (2000),
do total dos 20,6 bilhões de litros de leite produzidos por ano no Brasil, 46,9% são
de origem informal. Dos 8,5 bilhões de litros de leite/ano consumido no País, entre
leite tipo longa vida, pasteurizado, em pó e do próprio informal, 1,9 bilhões de
litros/ano são de leite informal. Outro aspecto a se destacar é o crescimento que o
leite informal teve, principalmente na última década, conforme tabela 4.
4
O mercado entende como leite informal, o leite, o queijo e outros derivados, consumido diretamente
nas propriedades rurais e/ou vendidos aos consumidores, sem inspeção e sem nota fiscal.
29
Tabela 4 – Produção brasileira total de leite, produção inspecionada e informal, e
crescimento do leite informal no período de 1980 a 1999
Ano
Produção
Produção
inspecionada
Produção
informal
(milhões
(milhões
informal
informal
litros)
litros)
litros)
(%)
(%)
1980
11.162
7.728
3.424
30,7%
-
1990
14.484
10.747
3.737
25,8%
9
1999
20.591
Fonte: FILHO, 2001.
10.932
9.659
46,9%
159
total
(milhões
Participação Crescimento
leite
leite
Na tabela 4, verifica-se que nas últimas duas décadas a quantidade de leite
informal aumentou 2,8 vezes. É verdade que existe discussão quanto ao montante
do leite informal, mas é inquestionável que a quantidade é altamente significativa
dentro do mercado brasileiro e, principalmente, que na última década o crescimento
do mercado informal foi expressivo. A quantidade de leite informal comercializada
mostra a importância que este segmento tem tanto para o produtor como para a
população. E que ou invés de combatê-lo, deve-se construir ações no sentido de
incluí-lo na economia formal.
1.4 PECUÁRIA LEITEIRA NAS REGIÕES BRASILEIRAS
O setor agrícola brasileiro é bastante heterogêneo. Esta heterogeneidade está
relacionada à dimensão territorial e à conseqüente diversidade da base de recursos
naturais e do clima. Porém, mais importante que estes, estão os aspectos culturais,
as diferentes condições sociais, educacionais, acesso a informações, mercados, etc.
O setor leiteiro não foge a esses aspectos e em função das características do
processo produtivo e do mercado, esta diversidade talvez seja ainda mais elevada
no setor.
A produção de leite nacional está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. As
duas Regiões juntas, conforme observa-se na tabela 5, respondem por 68% da
produção brasileira. Em relação à participação das Regiões na produção do País, as
modificações mais expressivas ocorreram no Sudeste, que caiu de 48% para 45%,
30
no Nordeste que também caiu de 15% para 12%, no Norte que aumentou de 2%
para 4% e no Centro-Oeste, que também aumentou de 11% para 14%. A região Sul
continuou participando com 22% da produção nacional.
No período de 1985 a 96, a produção brasileira cresceu, 39%. Sendo, 178% na
região Norte; 14% no Nordeste; 28% no Sudeste; 46% no Sul; e, 78% no CentroOeste. Os dados mostram que a região Norte foi a que mais cresceu, porém sua
produção ainda é pouco representativa em termos nacionais. No entanto, nesse
período, destaca-se também o crescimento de 78% na região Centro-Oeste.
Tabela 5 – Evolução e participação das regiões brasileiras na produção de leite, no
período de 1985 a 1996
País /
A no 1985
Part.
Ano 1996
Part.
Taxa
Regiões
Produção
(%)
Produção
(%)
Cresc.
(milhões litros)
(%)
(milhões litros)
Brasil
12.846
-
17.931
-
39,58
Norte
304
2,36
846
4,71
178,28
Nordeste
1.987
15,46
2.273
12,67
14,39
Sudeste
6.288
48,94
8.089
45,11
28,80
Sul
2.804
21,82
4.110
22,92
46,57
Centro-Oeste
1.461
11,37
2.610
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 e 1995/96.
14,55
78,64
Em relação aos estados, dentre os dez maiores produtores, três encontram-se
na região Sudeste, três no Sul, dois no Centro-Oeste e dois no Nordeste. Quanto à
posição no ranking brasileiro, Minas Gerais ocupa o primeiro lugar, com participação
três vezes superior ao segundo colocado. Conforme observa-se na tabela 6, Minas
Gerais mantém sua participação na casa dos 30%, do total da produção. Rio Grande
do Sul é o segundo, mantendo sua produção em torno de 10%, São Paulo caiu para
terceiro, reduzindo sua participação de 14% para 10%, e Goiás, que aparece em
quarto lugar, aumentou sua participação de 8% para 10%. Não obstante, nota-se
que a produção de leite nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás, são
equivalentes. Os outros seis estados, praticamente mantiveram suas participações,
exceto a Bahia que reduziu sua participação de 5% para 3,5%, cedendo sua posição
para Santa Catarina.
31
Tabela 6 – Participação da produção de leite no Brasil pelos 10 maiores Estados
produtores, ano de 1985 e 1996
País / Estados
A no 1985
Part.
Ano 1996
Part.
Taxa
Produção
(%)
Produção
(%)
Cresc.
(milhões litros)
(%)
(milhões litros)
Brasil
12.846
-
17.931
-
39,58
Minas Gerais
3.772
29,36
5.499
30,66
45,78
São Paulo
1.810
14,08
1.847
10,30
2,04
Rio G. do Sul
1.280
9,96
1.885
10,51
47,26
Goiás
1.055
8,17
1.830
10,20
73,45
Paraná
919
7,15
1.355
7,55
47,44
Bahia
648
5,04
633
3,53
- 2,31
Santa Catarina
603
4,69
869
4,84
44,11
Rio de Janeiro
424
3,30
434
2,42
2,35
Pernambuco
308
2,39
406
2,26
31,81
Mato G. do Sul
268
2,08
385
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 e 1995/96.
2,14
43,65
Em relação a evolução da produção, observa-se que dos 10 estados, seis
tiveram taxa de crescimento superior à do País. Desses estados, destaca-se o
crescimento da produção do Estado de Goiás, que no período cresceu 73%. Não
obstante, nota-se que a produção ficou estagnada nos Estados do Rio de Janeiro e
São Paulo e caiu na Bahia.
1.5 PECUÁRIA LEITEIRA NOS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO GRANDE
DO SUL
Em Santa Catarina, os dados do Censo 1995/96 mostram que foram 145.668
os produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,45 vacas por
produtor e produção média de 4,72 litros por vaca dia. Os dados também mostram
que as propriedades com área de até 20 ha, possuem 48% do rebanho, respondem
por 47% da produção e envolvem 90.310 produtores. Em relação ao número de
vacas ordenhadas por estabelecimento tem-se que as propriedades com até 10
32
vacas possuem 83% do rebanho, produzem 79% da produção e envolvem 140.981
produtores, ou seja 96,78% do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está
presente em 71% dos estabelecimentos rurais do Estado. Em relação à venda de
leite, do número total de produtores, 42% (61.394) informaram que comercializavam
o produto, vendendo em média 9.073 litros/produtor/ano. Estes dados demonstram a
efetiva participação das pequenas unidades na produção de leite no estado de
Santa Catarina.
Em relação à produção de leite nas mesorregiões (classificação IBGE, 1998)
em Santa Catarina, observa-se na tabela 7, que houve expressivo deslocamento da
produção, principalmente da mesorregião do Vale do Itajaí, que durante muito anos
foi a principal bacia leiteira do Estado, para a do Oeste Catarinense.
Tabela 7 – Evolução e participação das Mesorregiões do estado de Santa Catarina
na produção de leite, no período de 1985 a 1996
Estado /
A no 1985
Part.
Ano 1996
Part.
Taxa
Mesorregião
Produção
(%)
Produção
(%)
Cresc.
(1000 litros)
(%)
(1000 litros)
Santa Catarina
603.704
-
869.419
-
44,01
Grande Florianóp.
25.495
4,22
28.143
3,23
10,38
Norte Catarinense
58.669
9,71
74.224
8,53
26,51
Oeste
Catarinense
270.493
44,80
485.151
55,80
79,35
Serrana
47.153
7,81
51.276
5,89
8,74
Sul Catarinense
62.173
10,29
81.026
9,31
30,32
Vale do Itajaí
139.721
23,14
149.598
17,20
7,06
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985; Censo Agropecuário 1995/1996 e MELLO, 1998.
Na tabela 7, verifica-se que a produção de leite catarinense encontra-se
concentrada nas mesorregiões Oeste Catarinense e Vale do Itajaí. Essas
mesorregiões juntas respondem por 73% da produção do Estado. No entanto,
destaca-se a produção da mesorregião Oeste Catarinense que é 3,2 vezes superior
a do Vale do Itajaí. Em relação à participação das mesorregiões na produção do
Estado, as modificações mais expressivas no período ocorreram na Oeste
Catarinense, que aumento de 44% para 55% e na do Vale do Itajaí que caiu de 23%
33
para 17%. As demais Mesorregiões tiveram suas participações reduzidas, porém
com menores índices percentuais do que a do Vale do Itajaí.
Quanto a evolução da produção, nota-se que as taxas de crescimento foram
pequenas nas mesorregiões da Grande Florianópolis, Serrana e Vale do Itajaí. As
mesorregiões
Norte
e
Sul
Catarinense
tiveram
taxas
de
crescimento,
respectivamente de 26% e 30%, enquanto que a taxa de crescimento do Estado foi
de 44%. No entanto, ressalta-se o expressivo crescimento da mesorregião Oeste
Catarinense que, no período, cresceu 79%. Esses dados mostram a importância que
essa mesorregião tem na produção leiteira do Estado Catarinense.
No Rio Grande do Sul, conforme observa-se na tabela 8, as principais
mesorregiões (classificação IBGE, 1998) produtoras de leite são: a Centro Oriental
Rio-Grandense, a Metropolitana de Porto Alegre, a Nordeste Rio-Grandense e a
Noroeste Rio-Grandense, com destaque para essa última que em 1996, produziu
54% da produção do Estado. Em relação à participação das mesorregiões na
produção do Estado, as modificações mais expressivas no período ocorreram na
Noroeste Rio-Grandense, que aumentou sua participação de 39% para 54% e na
Metropolitana de Porto Alegre, que caiu de 13% para 7%. As demais mesorregiões
tiveram suas participações reduzidas, porém com menores índices percentuais do
que a Metropolitana de Porto Alegre.
A tabela 8, também mostra que, no mesmo período, houve forte deslocamento
da produção, principalmente da região da bacia leiteira tradicional do Estado, que
coincide aproximadamente com as microrregiões (classificação IBGE 1996) de
Lajeado-Estrela, Santa Cruz do Sul, Gramado-Canela, Montenegro, Porto Alegre,
Caxias do Sul e Guaporé, para a mesorregião Noroeste Rio-Grandense. Quanto a
evolução da produção, nota-se que as mesorregiões Centro Ocidental, Centro
Oriental, Nordeste e Sudeste Rio-Grandense, tiveram taxas de crescimento
inferiores a taxa do Estado e as mesorregiões Metropolitana de Porto Alegre e
Sudoeste Rio-Grandense apresentaram taxas negativas.
Não obstante, no período, a mesorregião Noroeste Rio-Grandense apresentou
taxa de crescimento de 103%, enquanto que a taxa de crescimento do Estado foi de
47%. Os dados indicam que está havendo uma mudança na geografia do leite no
Estado do Rio Grande do Sul, da região leiteira tradicional para a região produtora
de grãos. Neste sentido, destaca-se a redução da produção de leite nas
microrregiões leiteiras tradicionais, principalmente na de Gramado-Canela, Porto
34
Alegre e Montenegro, e o expressivo aumento da produção de leite nas
microrregiões de Não-Me-Toque, Cruz Alta, Passo Fundo, Cerro Largo, Ijuí, Santa
Rosa e Carazinho.
No Rio Grande do Sul, de acordo com Censo Agropecuário 1995/96, foram
285.061 produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,49
vacas por produtor e produção média de 5,18 litros por vaca dia. Os dados mostram
que 47% do rebanho encontram-se em propriedades com área de até 20 ha,
respondem por 45% da produção do Estado e envolvem 171.147 produtores. Em
relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento tem-se que as
propriedades com até 10 vacas possuem 83% do rebanho, produzem 78% da
produção e envolvem 275.918 produtores, ou seja 96,79% do total. Quanto à
abrangência, a atividade leiteira está presente em 66% dos estabelecimentos rurais
do Estado. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 45%
(127.439) informaram que comercializavam o produto, vendendo em média 10.496
litros/produtor/ano. Esses dados mostram que no Rio Grande do Sul a atividade
leiteira também é, predominantemente, realizada pelas pequenas unidades na
produção.
Sobre a importância da atividade leiteira, TESTA, et alli, (1996), ressaltam os
seguintes aspectos: alta absorção de mão-de-obra, alto valor agregado na
propriedade, fácil descentralização das unidades industriais, grande alcance social,
uso de terras “não nobres” e atividade limpa. A alta absorção de mão-de-obra, gera
condições para manter o homem no campo; a possibilidade de agregar valor ao leite
e produtos derivados, é imprescindível para as pequenas unidades de produção e
para as regiões cuja economia está apoiada na agricultura onde predominam as
pequenas propriedades; e em relação aos aspectos ambientais, a atividade
proporciona boas condições de manejo da terra, visando a proteção e recuperação
dos recursos naturais. Ainda, sobre a importância do leite para as pequenas
unidades de produção comentam ESCOSTEGUY et al. (1993), “O leite passou a ser,
compulsoriamente, uma alternativa para os pequenos produtores. ‘É o salário dos
pequenos’, como se costuma falar na colônia. (...)
Em relação a postos de trabalho, segundo FERNANDEZ (1995), no Rio Grande
do Sul as pessoas envolvidas no setor chegam ao número de 733.980. Cerca de
85.000 produtores integrados às indústrias e suas famílias somam 320.000 pessoas,
que dependem total ou parcialmente do leite. Os fornecedores de insumos e infra-
35
estrutura são estimados em 80.000, que com suas famílias alcançam 320.000
pessoas. As famílias de 900 transportadores, 4.095 empregados de indústrias e
postos de recepção de leite, 18.500 ligados à comercialização, totalizam mais
93.980 pessoas, atingindo a soma de 733.980 pessoas. Este número é muito maior
se considerarmos as pessoas envolvidas com a economia do leite informal.
No País, na década de 90, a quantidade de leite informal passou de 26% da
produção total, para 47%. Já, no Rio Grande do Sul, nesse mesmo período,
conforme BITENCOURT, (2000), o leite informal reduziu sua participação de 55%
para 33% da produção. Esse percentual, em 1999, representava cerca de 670
milhões de litros de leite/ano. Se considerarmos que 50% dessa quantidade é
consumida nas propriedades, têm-se ainda 335 milhões de litros/ano, que são
comercializados como leite fluido ou produtos derivados. Esta comercialização é
feita diretamente aos consumidores, nas feiras e em pequenos estabelecimentos
comerciais. Tendo isso presente, no nosso entendimento, é fundamental construir
ações no sentido de melhorar a qualidade destes produtos, visando reduzir os riscos
que eles possam trazer à saúde dos consumidores. Estas ações indiscutivelmente
passam pela implantação e fortalecimento dos serviços estaduais e municipais de
inspeção, além do apoio dos serviços de extensão rural. Estes aspectos, irão
potencializar o desenvolvimentos dos mercados regionais e locais e como
consequências ter-se-á o fortalecimento das pequenas unidades de produção e dos
pequenos e médios laticínios. Esse é um dos
assuntos do nosso trabalho e
alternativas nesse sentido serão analisadas e discutidas no capítulo resultados e
discussões.
36
Tabela 8 – Evolução e participação relativa das meso e microrregiões do Estado do
Rio Grande do Sul na produção de leite, no período de 1985 a 1996
Mesorregião /
Microrregiões
A no 1985
Produção
(1000 litros)
Centro Ocidental Rio-Grandense
Restinga Seca
13.526
Santa Maria
26.336
Santiago
14.296
Subtotal
54.158
Centro Oriental Rio-Grandense
Cachoeira do Sul
17.853
Lajeado-Estrela
116.526
Santa Cruz do Sul
51.899
Subtotal
186.278
Metropolitana de Porto Alegre
Camaquã
12.793
Gramado-Canela
39.382
Montenegro
45.540
Osório
26.457
Porto Alegre
38.266
São Jerônimo
15.076
Subtotal
177.514
Nordeste Rio-Grandense
Caxias do Sul
80.793
Guaporé
47.726
Vacaria
38.554
Subtotal
167.073
Noroeste Rio-Grandense
Carazinho
26.274
Cerro largo
27.585
Cruz Alta
31.129
Erechim
63.501
Frederico Wesphalen
55.339
Ijuí
48.206
Não-Me-Toque
13.636
Passo Fundo
48.539
Sananduva
19.682
Santa Rosa
57.308
Santo Ângelo
40.539
Soledade
10.707
Três Passos
60.778
Subtotal
503.223
Sudeste Rio-Grandense
Jaguarão
7.472
Litoral Lagunar
12.195
Pelotas
72.266
Serras de Sudeste
19.181
Subtotal
111.114
Sudoeste Rio-Grandense
Campanha Central
18.079
Campanha Meridional
31.360
Campanha Ocidental
31.878
Subtotal
81.317
Total
1.280.677
Fonte: BRESSAN, et alli., 2001.
Part.
(%)
Ano 1996
Produção
(1000 litros)
Part.
(%)
Taxa
Cresc.
(%)
1,05
2,05
1,11
4,22
16.063
32.330
26.326
74.719
0,85
1,71
1,39
3,96
18,75
22,75
84,14
37,96
1,39
9,09
4,05
14,54
13.563
152.007
53.957
219.527
0,71
8,06
2,86
11,64
- 24,02
30,44
3,96
17,84
0,99
3,07
3,55
2,06
2,98
1,17
13,86
8.821
33.256
41.450
14.005
37.773
10.609
145.914
0,46
1,76
2,19
0,74
2,00
0,56
7,73
- 31,04
- 15,55
- 8,98
- 47,06
- 12,88
- 19,62
- 17,80
6,30
3,72
3,01
13,04
85.524
82.980
41.223
209.727
4,53
4,40
2,18
11,12
5,85
73,86
6,92
25,53
2,05
2,15
2,43
4,95
4,32
3,76
1,06
3,79
1,53
4,47
3,16
0,83
4,74
39,29
52.012
64.696
87.708
97.213
81.951
107.922
46.525
115.016
36.040
123.615
75.758
16.532
117.523
1.022.512
2,75
3,43
4,65
5,15
4,34
5,72
2,46
6,09
1,91
6,55
4,01
0,87
6,23
54,22
97,95
134,53
181,75
53,08
48,08
123,87
241,19
136,95
83,11
115,70
86,87
54,40
93,36
103,19
0,58
0,95
5,64
1,49
8,67
6.312
16.205
94.027
17.257
133.801
0,33
0,85
4,98
0,91
7,09
- 15,52
32,88
30,11
- 10,03
20,41
1,41
2,44
2,48
6,34
100
15.741
34.893
28.805
79.440
1.885.640
0,83
1,85
1,52
4,21
100
- 12,93
11,26
- 9,63
- 2,30
47,23
37
1.6 PRODUÇÃO DE LEITE E O DEBATE SOBRE SUAS TENDÊNCIAS
O atual quadro do setor leiteiro no Brasil foi moldado por importantes
mudanças na economia nacional e mundial nos anos 90, entre estas: a excessiva
abertura comercial com redução de tarifas, expondo o setor às práticas desleais de
comércio, características do mercado internacional de produtos lácteos; a
desregulamentação do setor, após 45 anos de controle do estado brasileiro; a
liberação dos preços dos produtos lácteos; a consolidação de uma união aduaneira
no Mercosul, possibilitando aos demais estados membros (especialmente Argentina
e Uruguai) a alcançarem a posição de parceiros comerciais do Brasil no segmento
de lácteos; e a incorporação da agricultura nas regras do comércio mundial
estabelecidas pela Rodada Uruguaia do Gatt.
Esses aspectos, principalmente a excessiva abertura comercial brasileira e a
liberação dos preços dos produtos lácteos, abalaram a economia das cooperativas e
empresas nacionais e têm submetido todos os elos da cadeia produtiva do setor a
uma intensa transformação. Em relação às cooperativas, segundo BERNARDES
(2000), no início dos anos 90, mais de 50% do leite produzido no País era captado e
beneficiado pelas
cooperativas.
Nessa
época,
existiam
nove
centrais
de
cooperativas, hoje reduzidas a apenas quatro.
Durante a última década, sem dúvida, o movimento mais expressivo no
mercado de leite e derivados foi as aquisições e fusões havidas tanto entre as
indústrias particulares quanto em relação às cooperativas. A tabela 9, ilustra a
movimentação de algumas transações ocorridas no período.
Na tabela 9, observa-se que as empresas transnacionais dominam os
processos de fusões e aquisições. Esta política das empresas multinacionais e
também de algumas empresas nacionais e/ou cooperativas tem provocado a
formação de um mercado oligopsônio no setor leiteiro. Do total de mais de 20
bilhões de litros de leite/ano produzidos no Brasil, estima-se que 12 bilhões de litros
são inspecionados. Da produção inspecionada, metade é controlada pelas 12
principais companhias lácteas. Dessa quantidade, 68% são controladas por apenas
quatro companhias.
38
Tabela 9 – Fusões e aquisições de empresas de laticínios no Brasil, nos últimos
anos
Compradora
Parmalat (Itália)
Período
1990
Alimba (BA) e Lia Láctea (SP)
1991
Supremo (MG) Alpha (RJ) e Santa Helena
(GO)
1992
Nestlé (Suiça)
Empresa adquirida
Go-gó (Unidade da Mococa em Santa Helena)
Planalto (RJ) e Lacesa (RS)
1994
Clipe (PE), Ouro Preto (RO) e Leite Forte
(GO)
1996
Bethânia
1998
Batavo (PR)
1991
CCPL (Unidade de Teófilo Otoni em MG)
SPAM em Nova Venécia (ES), MEDEIROS
Neto (BA), Nanuque (MG) e Rialma (GO)
Dairy Board (Neozelandesa)
2000
Vigor Leco (SP)
(Kraft / Philip Morris) EUA
1995
Avaré / Glória (SP) e Gums (SP)
La Serenisima (Argentina)
1996
Leite Sol (SP)
Mikaut (Argentina)
1998
Ivoti (RS)
Royal Numico (Holanda)
1996
Support (MG)
1999
Mococa (SP)
Perez Companc (Argentina)
1999
Queijos Minas (MG)
Danone (França)
2001
Paulista (SP)
Avipal (RS/Brasil)
1996
CCGL (RS)
Fleischmann Royal / Nabisco
Fonte: COCEL, 2000.
O processo de concentração industrial, também se evidencia no Rio Grande do
Sul, segundo BITENCOURT et alli. (2000), do volume de leite cru, produzido no
Estado, em 1999, e inspecionado pelo Ministério da Agricultura, 54% foram
recebidos pela empresa Elegê Alimentos S/A e 20% pela Parmalat do Brasil S/A, o
que soma 74% do total. As consequências desta concentração são diversas, mas de
modo geral, os elos da cadeia mais prejudicados, são as pequenas e médias
empresas, cooperativas e os produtores rurais.
No caso dos produtores, a política de especialização e concentração da
produção, de diminuição do custo do transporte (através da coleta de leite a granel),
do pagamento do leite (considerando-se um preço-base, acrescido de bonificações
39
pelo volume e pela qualidade), entre outras, adotadas pelas empresas têm-se
mostrado perniciosas para as pequenas unidades de produção, tendo provocado a
exclusão de muitos produtores da atividade leiteira.
Essa tendência pode ser observada, analisando os dados da tabela 10, que
mostra o número de produtores e a quantidade média diária de leite recebida por
produtor, nos anos de 1997 e 2000, nas 12 maiores empresas de laticínios do País.
Tabela 10 – Número de produtores e quantidade média diária de leite recebida por
produtor nas 12 maiores empresas de laticínios do País
Empresas / Marcas
Número de
Diferença
Recepção /
Diferença
produtores
(%)
produtor / dia (litros)
(%)
1997
2000
1997
2000
Nestlé
35.089
14.142
- 60
110
270
145
Parmalat
21.040
15.550
- 26
112
162
44
Itambé
18.250
8.400
- 54
110
252
129
Elegê
38.537
32.188
- 16
43
65
51
CCL / SP (1)
24.481
8.925
- 63
75
157
109
Batavia
11.125
7.505
- 32
67
100
49
Grupo Vigor
8.142
3.693
- 54
99
170
71
Leite Líder
5.880
8.795
49
66
64
-3
Centroleite (2)
3.180
4.205
32
114
114
0
Laticínios Morrinhos
4.300
7.292
69
67
55
- 17
Fleischmann Royal
4.000
2.335
- 41
114
164
43
Danone
1.426
1.420
- 0,4
321
251
- 21
Total
175.450
114.450
- 34
87
135
55
Fonte: LEITE BRASIL, CNA/DECON e Embrapa/CNPGL, 2001.
(1) Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo e (2) Cooperativa Central de
Laticínios de Goiás.
Os dados da tabela 10, mostram que, de modo geral, nos quatro anos, apesar
de ser um período curto, houve em média a exclusão de 34% dos produtores
integrados. Estes dados são extremamente graves porque se fizermos uma projeção
para os próximos 4 anos, mantendo-se este percentual de exclusão, seriam apenas
75.537 os produtores que permaneceriam integrados. Se compararmos este número
de produtores 75.537, com o número de produtores integrados no ano de 1997,
175.450 produtores, constatamos que em oito anos seriam cerca de 100.000
40
produtores integrados excluídos da atividade leiteira. Outro aspecto é a
concentração da produção, mesmo havendo uma redução de 61.000 produtores
integrados, no período de 1997 a 2000, a quantidade de leite recebida pelas 12
principais empresas de laticínios aumentou de 5,5 para 5,6 bilhões de litros.
A mesma tendência também pode ser observada, analisando os dados da
Associação Gaúcha de Laticínios, citado por SMIDT (1999). Os produtores que
entregam até 50 litros de leite / dia representam 69% do total de produtores
integrados (estima-se em 71.000 os produtores integrados no RS) e respondem por
31% da quantidade total recebida pelos laticínios. O número de produtores
integrados corresponde aproximadamente a 56% do número total de produtores,
que em 1996 informaram que comercializavam leite no Estado. Devido à política das
empresas de receber leite somente de produtores que entregam mais de 50 litros /
dia, o número de produtores integrados à indústria leiteira gaúcha, poderá reduzir-se
a cerca de 22.000 produtores.
Para ilustrar estes aspectos, mostra-se na tabela 11, o que ocorreria com o
número
de
produtores
em
quatro
cenários,
se
a
produção
média
por
estabelecimento fosse crescente, de modo a obter a produção do RS em 1996 de
1,88 bilhões de litros de leite.
Tabela 11 – Cenários para que o RS tenha a produção de 1996 de 1,88 bilhões de
litros de leite por ano
Cenários
Produtores
Produção (litros / dia)
Número
atual
18
285.061
1
50
103.322
2
100
51.661
3
200
25.830
300
17.220
4
Fonte: VILELA, et alli. 1998.
Analisando o cenário onde o aumento da produção média de leite passa de 18
para 50 litros / dia, o que em termos de escala, segundo MELLO (1998), é
41
considerada como sendo uma escala média5, provocaria uma redução de 64% no
número de produtores.
Além disso, outro aspecto que atualmente está preocupando e mobilizando
parte do setor, principalmente as pequenas e médias cooperativas, laticínios e
agricultores é a regulamentação do leite, através da portaria nº 56, que está no
Ministério da Agricultura para ser assinada, e tem prazo previsto para vigorar a partir
de 01/07/2002, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e a partir de 01/07/2004,
nas regiões Nordeste e Norte. A portaria originou-se do Programa Nacional de
Qualidade do Leite (PNQL), elaborado pela Embrapa, Institutos de Pesquisas e
Universidades, por demanda do Ministério da Agricultura, visando a adoção de
novos preceitos normativos para o leite. A nova legislação prevê a substituição do
leite cru tipo C por matéria-prima resfriada na propriedade e transportada a granel à
indústria. Os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de leite cru
refrigerado e da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel, encontramse no anexo 4.
O eixo básico da portaria são os novos critérios de qualidade para leite. Não há
dúvida de que a busca da qualidade deve ser uma das premissas para um plano de
ação visando organizar a produção, a industrialização e a comercialização de leite.
Mas, a questão de “qualidade” referida na portaria, passa basicamente pelos
aspectos sanitários. A noção de “qualidade” não considera as questões ambientais e
de saúde humana. Como fica a questão dos resíduos de hormônios (aditivos)
aplicados aos animais nos sistemas especializados? Como fica a questão do resíduo
de alumínio e outros metais pesados que são jogados no ambiente junto com as
embalagens descartadas de leite longa vida? Neste sentido, é preciso observar que
cresce cada vez mais a pressão de consumidores pela produção de bens cujos
processos produtivos respeitem o ambiente e cujos produtos sejam saudáveis. A
adoção de sistemas de produção que respeitem as formas de organização
econômica e social e o ambiente passa pela aposta em sistemas de menores
escalas, que as pequenas unidades de produção estão acostumadas a fazer. Por
isso, a regulamentação do resfriamento, da coleta e do transporte do leite cru deve
5
Conforme MELLO, para o oeste catarinense a produção de leite especializada e em grande escala é
aquela em cuja propriedade existem mais de 40 vacas e que a atividade leiteira contribua com mais
de 70% da renda total. Enquanto produção diversificada em escala média considera-se aquela
propriedade que possui entre seis e 10 vacas e cuja renda da atividade leiteira não supere 50% da
renda total.
42
também se preocupar em viabilizar a produção da agricultura familiar de pequeno
porte e os pequenos e médio laticínios.
A exigência de tanques de expansão individual na propriedade é incompatível
com a realidade das pequenas unidades de produção. Neste sentido é necessário
questionar a necessidade de haver um resfriador por propriedade, exigido pela
maioria das empresas, impedindo a ação associativa dos produtores. A continuidade
da possibilidade da associação entre produtores é fundamental para que se
equacione a questão do resfriamento, tendo em vista seu custo. Por exemplo, um
produtor que entrega 30 litros de leite / dia (10.950 litros / ano), vai adquirir um
tanque de expansão de 300 litros (menor disponível no mercado) no valor de R$
2.250,00, considerando o resultado econômico, neste trabalho, média de R$ 0,05 /
litro de leite, este produtor despendendo toda a renda da atividade, sem considerar
os juros, necessita de mais de quatro anos para pagar o investimento. Também,
conforme dados da COCEL (2000), a realização de testes de Contagem de Células
Somáticas (CCS) semanalmente em todas as vacas terá um custo de 16% sobre a
renda do leite de uma propriedade com uma média de cinco animais e produção de
30 litros dia.
A exigência de caminhões com tanque isotérmico para transporte do leite,
também é incompatível com a realidade dos pequenos e médios laticínios. Por
exemplo, só no Rio Grande do Sul, são cercas de 100 pequenos laticínios que
processam o leite de oito mil famílias que terão dificuldades em adquirir estes
caminhões.
A face dura da granelização do leite (tanque de expansão e caminhões com
tanque isotérmico) é a inevitável seleção de produtores e a exclusão dos pequenos
e médios laticínios implícita no processo. Refrigeração e granel representam, a
médio prazo, um forte impacto sobre o produtor de leite. Isso por que a granelização
força a homogeneização de leite na linha de coleta, sendo que os produtores que
não se adaptarem à nova regra deverão obrigatoriamente deixar de entregar o
produto, sob pena de prejudicar os demais. A exigência de caminhões com tanque
isotérmico para o transporte do leite, sem um projeto adequado para os pequenos e
médios laticínios, vai acentuar ainda mais a concentração do setor. Isso trará como
consequência uma expressiva redução no número de postos de trabalho no setor e
provocará inúmeros efeitos sobre o desenvolvimento de muitos municípios e regiões,
que possuem economia apoiada em agropecuária, onde a atividade leiteira é um dos
43
seus componentes-chave.
Para ilustrar, a tabela 12 mostra o impacto que a coleta a granel de leite
refrigerado teve sobre o número de produtores e sobre a concentração da produção
na Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda (SUDCOOP), que atua no
oeste do Estado do Paraná.
Tabela 12 – Impacto da granelização da coleta do leite na Cooperativa Central
Agropecuária do Sudoeste Ltda
Antes (dez. / 92) Depois (jun. / 97)
Diferença em
%
Recepção mensal leite (1.000 l)
8.691
9.362
8
Número de produtores
7.396
3.941
- 47
Produção média (l / dia)
38
79
109
Linhas de leite
135
71
- 47
9
5
- 44
Caminhões
142
50
- 65
Pessoas no transporte
203
78
- 62
1.974
6.241
216
Postos de resfriamento
Volume por caminhão (litros)
Fonte: JANK et alli., 1999.
Analisando a tabela 12, observa-se que mesmo sendo um período curto,
menos de cinco anos, houve uma redução muito grande no número de produtores
integrados, nas linhas de leite, nos postos de resfriamento, no número de caminhões
e na quantidade de pessoas envolvidas com o transporte. Neste sentido, há uma
espécie de consenso, de pensamento único, de que para se ter qualidade e
competitividade há uma necessidade imperativa de uma produção especializada e
do aumento de escala, o que traz como consequência, uma drástica redução do
número de produtores.
A construção de um desenvolvimento que reduza o processo de exclusão e
dinamize as economias locais e regionais, exige de parte dos integrantes da cadeia,
das entidades comprometidas com a agricultura de pequeno porte (sindicatos,
entidades de classe, cooperativas, laticínios, ensino, pesquisa, extensão...),
produtores e sociedade como um todo, um grande esforço no sentido de executar
44
projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os pequenos
e médios empreendimentos lácteos no País.
Estes projetos devem viabilizar alternativas desde a fase de produção do leite,
transporte, processamento, transformação, até a comercialização, tendo por objetivo
consolidar a atividade leiteira nas pequenas unidades de produção de forma
heterogênea e desconcentrada. Estes aspectos vão determinar o sistema de
produção a ser utilizado (tipo de animal, forma de alimentação, manejo do plantel,
instalações...), diversidade da produção, uso da mão-de-obra, dentro de uma
perspectiva de geração de trabalho e renda, proteção ambiental e qualidade de vida.
1.7 AGRICULTURA E O AMBIENTE
A sobrevivência do homem ao longo de sua história é marcada pela luta na
busca de alimentos. Por muito tempo suas necessidades alimentares foram supridas
através da coleta, caça e pesca. A agricultura e a domesticação dos animais,
comparativamente ao aparecimento do homem na face da terra, são fatos
relativamente recentes. A observação, repetição de algumas experiência muitas
vezes casuais, tentativas e erros, proporcionaram ao homem conhecimento que lhe
permitiram melhor utilizar os recursos naturais, desencadeando dessa forma o
cultivo de culturas e a domesticação de animais. No entanto, resultados mais
expressivos da agricultura e da domesticação dos animais começam ser obtidos
após a última era glacial. O clima ficou estável e o homem encontrou melhores
condições para cultivar os vegetais e iniciou a utilizar os animais para serviços.
Esse processo teve início por volta de 8.000 a.c. e foi denominado por CHILDE
(1975), de Revolução Neolítica. Ao contrário do nome, o processo foi evolucionário e
não revolucionário demorando milhares de anos, e ocorrendo em muitos lugares do
mundo. Segundo (MILLER, 2000), “na Ásia e Europa, a intensificação se deu por
complexos sistemas que integravam animais e plantas, e o arado e a tração animal
se tornaram parte importante do sistema. Nas Américas, na ausência de tração
animal e do arado, complexas policulturas de plantas evoluíram nas mãos dos
agricultores, que também concentraram os esforços de melhoramento das plantas
domésticas. Em todos os cantos, árvores de grande utilidade foram domesticadas: a
bananeira em Nova Guiné, a jaqueira na Índia e o dendezeiro na África são
45
exemplos deste processo. O manejo da água e dos nutrientes se intensificou em
muitos lugares, exemplificado por sistemas de arroz e compostagem na Ásia e
chinampas na América Central. A combinação de evolução de germoplasma, bom
gerenciamento de recursos naturais e o acúmulo de conhecimento ecológico local,
resultou em níveis altíssimos de produtividade em várias regiões do mundo”.
Mesmo havendo uma enorme heterogeneidade nos sistemas agrícolas, devido
a diversidade da base dos recursos naturais, clima, culturas..., por muito tempo a
agricultura predominante foi a “itinerante”, que consistia em cultivar-se a terra e
quando a produção caia, abandonava-se a área e começava-se um novo ciclo em
outro lugar. A área abandonada ficava em “descanso” por um período de 20 a 30
anos, para depois ser novamente utilizada. Com o crescimento populacional e a
ocupação territorial dos continentes, os períodos de “descanso” da terra foram
reduzidos, acentuando-se ainda mais as produções alternadas, as catástrofes...,
caracterizando-se por longo período de escassez crônica de alimentos.
Todavia, a maior riqueza resultante da relação homem-natureza foi o material
genético vegetal e animal produzido ao longo dos tempos. As trocas, principalmente
de germoplasma vegetal realizadas da América para a Europa, pelos povos,
proporcionaram
expressivo
aumento
na
produção
de
alimentos
e
como
consequência altíssimas taxas de crescimento populacional. Essas condições deram
sustentação à revolução industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII. Nesse
período, as grandes mudanças havidas nas práticas agrícolas e na sociedade rural
levaram a uma intensificação da produção para alimentar as novas e crescentes
populações urbanas. Segundo BOSERUP (1965), enquanto muitos autores atribuem
as mudanças à intensificação de práticas agrícolas existentes ou a novas
tecnologias criadas por pressão do crescimento populacional, WEATHERFORD
(1988), identifica a troca Colombiana de germoplasma, e principalmente a introdução
da batata inglesa, como sendo a grande responsável pelo salto em produtividade e
no crescimento populacional. O primeiro ponto de vista enfatiza a capacidade
humana de criar inovações tecnológicas para continuamente intensificar a
agricultura. O segundo ponto de vista eleva o valor da transferência de germoplasma
e do conhecimento ecológico da Revolução Neolítica, e o efeito desta transferência
sobre a produtividade da agricultura em muitas partes do mundo. Essa agricultura
caracterizava-se pela existência das atividades agrícolas e pecuária e pela adoção
de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras. As forrageiras, além de
46
fonte alimentar para os animais desempenham importante papel na estruturação do
solo e melhoria de sua fertilidade, principalmente as leguminosas, capazes de
adicionar nitrogênio ao solo, através da fixação simbiótica.
No entanto, mudanças no âmbito científico e tecnológico promovidas desde
meados do século XIX, a partir das teorias do químico Justus von Liebig,
provocaram grandes transformações desse padrão produtivo. Neste sentido
destaca-se a introdução da adubação mineral na agricultura. No início do século XX,
outros componentes da produção agrícola começaram a ser desenvolvidos pelo
setor industrial, como, por exemplo, a introdução da motomecanização em
substituição aos implementos movidos pela tração humana ou animal. No mesmo
período, segundo (MILLER, 2000), “a genética moderna, a vitória sobre o Japão, e
um pouco de sorte (a perda de sensibilidade a fotoperíodo durante o processo de
melhoramento) permitiu transformar variedades tradicionais com alta produtividade
mas com adaptação geográfica estreita, em variedades novas com ampla
adaptabilidade e alta produtividade. O adubo mineral e posteriormente os
agrotóxicos que acompanham estas variedades garantiram a ampla adaptabilidade
das novas variedades, sem o conhecimento ecológico local que sustentava os
sistemas tradicionais. Os métodos tradicionais de manejo de fertilidade e controle de
pragas, como adubação verde, rotações, compostagem e rizipiscicultura que eram
sistemas complexos e localmente adaptados, tornaram-se imprestáveis para
acompanhar a ampla adaptabilidade dos pacotes modernos”.
A partir dessas mudanças configuram-se condições para a substituição de
sistemas rotacionais, consorciados e diversificados por sistemas que permitiam a
cisão entre a produção vegetal e animal. Os animais que eram fundamentais aos
sistemas agrícolas, porque produziam adubo orgânico e serviam de tração,
passaram a ser substituídos pelos tratores e adubos minerais. As pastagens,
principalmente aquelas que serviam de alimentos para os animais de tração,
passaram a ser lavradas e as áreas utilizadas na produção de grãos. As rotações de
culturas foram sendo abandonadas e a diversidade de espécies vegetais
(gramíneas, leguminosas, pastagens...) foi substituída pela monocultura. Essas
condições marcaram o declínio da estrutura de produção baseada no conhecimento
ecológico local e sistemas rotacionais complexos e o início de uma nova etapa da
história da agricultura conhecida como a “modernização” da agricultura.
Esse modelo de agricultura consiste, basicamente no emprego de insumos
47
químicos industriais, motomecanização e variedades vegetais geneticamente
melhoradas e padronizadas. Desta forma, componentes de produção que eram de
domínio dos agricultores foram apropriados pelo setor industrial. A agricultura
passou a ter um papel importante, não somente como produtora de matérias-primas
e alimentos, mas também como mercado para a indústria de máquinas e insumos
agrícolas. A motomecanização das práticas de preparo do solo, plantio e colheita, os
adubos minerais e a disponibilidade de recursos financeiros para os agricultores,
geraram condições ideais para a expansão de uma agricultura, onde procura-se
produzir apenas o produto mais rentável, principalmente os cereais.
Para disseminar esse modelo de agricultura, a partir da década de 40, foram
montados centros de pesquisas por produtos, como por exemplo o Centro
Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), localizado no México e o
“International Rice Research Institute” (IRRI), localizado nas Filipinas. Esses centros,
segundo MARTINE (1987), foram montados e financiados pelo grupo Rockfeller e
outras grandes empresas, que visavam difundir uma tecnologia baseada em intensa
demanda de insumos biológicos, químicos e mecânicos, a maioria dos quais sob
controle dessas mesmas empresas. Os centros produziam variedades vegetais
padronizadas de “ampla adaptabilidade” e alta produtividade, condicionadas ao uso
integrado de insumos industriais. A adaptação do meio físico de diversos locais do
mundo às variedades, se fez através de centros de pesquisas, estações
experimentais e faculdades de agronomia. Para a difusão da tecnologia, organizouse programas de assistência técnica (extensão rural) em vários países. A difusão
desse modelo de agricultura foi realizada através de um pacote tecnológico, que
ficou conhecido como “Revolução Verde”. Em essência, o pacote prometia a
elevação da produtividade média através do uso de variedades de alta
produtividade, calcário e adubos minerais e, resolver os problemas de fome no
mundo.
Os sistemas produtivos baseados no pacote tecnológico propiciaram aumentos
de produtividade. Porém, com alto custo ambiental e demandas crescente de
agrotóxicos e energia externa proveniente de recursos não-renováveis como os
combustíveis fósseis. A expansão desse modelo de agricultura trouxe drásticas
consequências ambientais e sociais. Algumas das consequências mais severas de
degradação dos recursos naturais ligados a esse modelo de agricultura são: a
erosão, a acidificação, a salinização, a compactação, a contaminação dos solos e a
48
lixiviação e extração de seus nutrientes, a sedimentação dos rios e represas, a
contaminação da água por produtos agroquímicos, a perda de massa de floresta, a
erosão genética de cultivos e a perda de biodiversidade, a destruição dos
predadores naturais e dos microorganismos do solo, a emissão de dióxido de
carbono devido à queima de madeira, resíduos das culturas..., a intoxicação de
agricultores, operários e consumidores por agrotóxicos e a resistência crescente das
pragas e doenças aos agrotóxicos.
A destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão do solo e a
contaminação dos recursos naturais e dos alimentos tornaram-se consequências
inerentes à produção agrícola. Esse processo repetiu-se também no Brasil, e se por
um lado, a “modernização conservadora” da agricultura aumentou a produtividade
das culturas “dinâmicas” de exportação, por outro, além dos impactos ambientais,
ampliou a concentração de terras e de riquezas e provocou intenso êxodo rural.
Conforme MARTINE (1987), no Brasil, durante as décadas de 60 e 70, cerca de 28,5
milhões de pessoas deixaram o campo, por não terem mais oportunidade de
trabalho.
No entanto, desde as décadas de 20 e 30 surgem movimentos contrários e
vertentes alternativas a esse modelo de produção, também denominado de
convencional. Esses movimentos e vertentes representados por uma minoria de
pesquisadores e grupos isolados de produtores, apontavam as fragilidades e as
sérias consequências resultante dessa agricultura, ao mesmo tempo construíam e
difundiam experiências alternativas, baseadas no conhecimento ecológico local.
Durante décadas esses movimentos foram hostilizados tanto pela comunidade
científica como pelo setor produtivo, e se mantiveram à margem do cenário agrícola
mundial. Porém, a partir dos anos 60, com a publicação do livro Primavera
Silenciosa de Rachel Carson, denunciando os perigos e os riscos dos agrotóxicos e
em 1974 e 75, o estudo feito pela equipe de LOCKERETZ apud EHLERS (1999),
onde comparou o rendimento energético de 16 fazendas convencionais com o de 16
fazendas alternativas, concluindo que os sistemas convencionais necessitavam de
0,9 kcal para produzir 1 kg de produto final, enquanto os sistemas alternativos obtêm
o mesmo produto com apenas 0,38 kcal, as idéias dos movimentos chamados
“rebeldes” e as vertentes da agricultura alternativa são fortalecidas. No Brasil,
segundo MACHADO (2000), a partir de 1979, a Federação das Associações de
Engenheiros Agrônomos do Brasil iniciou uma campanha nacional contra o pacote
49
preconizado pela “Revolução Verde” e por postulados muito mais amplos na
produção agrícola.
Nesse contexto, no final da década de 80, segundo ALMEIDA (1997), na
literatura sobre a agricultura mundial, o qualitativo sustentável passa a atrair a
atenção de um número crescente de profissionais, pesquisadores e agricultores. E
por influência do debate americano, a agricultura sustentável ganhou uma série de
definições, incorporando os seguintes itens: manutenção a longo prazo dos recursos
naturais e da produtividade agrícola; mínimo de impactos adversos ao ambiente;
retornos financeiro-econômico adequados aos agricultores; otimização da produção
das culturas com o mínimo de insumos químicos; satisfação das necessidades
alimentares e renda; e atendimento das necessidades sociais das famílias e das
comunidades rurais. Já, em 1993, conforme EHLERS (1999), um grupo de
organizações não-governamentais agroambientalistas realizou em Copenhague um
fórum global do qual resultou o “Alternative Treaty on Sustainable Agriculture”, onde
se define a agricultura sustentável como: um modelo de organização social e
econômico baseado em um desenvolvimento eqüitativo e participativo (...) A
agricultura é sustentável quando é ecologicamente equilibrada, economicamente
viável, socialmente justa, culturalmente apropriada e fundamentada em um
conhecimento científico holístico. Pelas definições citadas percebe-se o caráter
polêmico em torno do termo. No entanto, segundo o autor, o que há de comum a
todas as escolas, propostas e vertentes alternativas é o objetivo de desenvolver uma
agricultura ecologicamente equilibrada, socialmente justa e economicamente viável.
Isso nos remete de volta pelo menos aos sistemas pré-modernos. Desta forma,
precisamos conhecer melhor a grande diversidade destes sistemas, porque são a
base da nossa produtividade moderna, e precisamos aprender a recriar o
conhecimento
ecológico
local
nas
localidades
geográficas
onde
foram
transplantadas as variedades tradicionais de alta produtividade.
Tendo isso presente, o desafio atual da agricultura contemporânea é produzir
alimentos saudáveis e com qualidade nutritiva, e matérias-primas, capazes de
atender a necessidade da sociedade, com mínimo de impactos e desequilíbrios no
ecossistema, propiciando condições sócio-econômicas às famílias e às comunidades
rurais. Se sabe que esse é um enorme desafio, porém, algumas experiências
interessante, nesse sentido acontecem na região Oeste de Santa Catarina. Trata-se
da produção de leite à base de pasto em pequenas unidades de produção,
50
resultante da ação de organizações dos agricultores e de projetos de extensão
realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da
UFSC, que será apresentado no capítulo III e faz parte do nosso trabalho.
1.8 POSSIBILIDADES PARA AS PEQUENAS UNIDADES DE PRODUÇÃO
LEITEIRA
1.8.1 PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO
No planejamento da propriedade, tendo em vista a produção de leite à base de
pasto é fundamental preservar (ou recompor) as matas ciliares e em declives
acentuados, pequenos bosques e manter as áreas de pastagens nativas e/ou
naturalizadas existentes, tendo em vista a importância ecológica, ambiental e
produtiva para o ecossistema. As pastagens nativas e/ou naturalizadas são muito
importantes pela diversidade de espécies vegetais que apresentam, e expressam as
adaptações e as interações do clima-solo-planta-animal-homem de um longo tempo.
Além disso, elas, também desempenham um importante papel na proteção contra à
erosão, na agregação do solo, na aeração e na atividade da biomassa microbiana.
Quanto a importância das pastagens na melhoria das caraterísticas físicas,
químicas e biológicas do solo, destaca-se a contribuição do sistema radicular.
Segundo RUSSEL et ali. (1968), “as raízes contribuem para a produção de húmus e
funcionam como agentes granuladores das partículas minerais do solo. Os pêlos
radiculares, apresentam uma superfície mucilaginosa à qual se aderem as partículas
finas do solo, sendo constantemente renovados”. Desta forma, além de contribuírem
na reestruturação física do solo, os pêlos e as raízes que periodicamente se
renovam, também servem de alimentos aos organismos do solo. Outro aspecto
importante dessa interação (solo-raízes) é que, com a morte das raízes o solo fica
dotado de uma verdadeira malha de canais, aumentando a porosidade e a
capacidade de infiltração de água. Na tabela 13, mostra-se os efeitos do sistema
radicular de uma pastagem, com o passar dos anos sobre as características físicas
do solo.
51
Na tabela 13, observa-se que, com o tempo, ocorre uma interação benéfica
entre o sistema radicular e as características físicas do solo, aumentando de forma
expressiva a porosidade e a capacidade de aeração e infiltração de água, fatores
esses muito importantes para o desenvolvimento do sistema radicular, produção das
pastagens e redução da erosão do solo.
Tabela 13 – Idade da pastagem e a influência do sistema radicular sobre as
características físicas do solo
Idade pastagem
Volume de poros (%)
Teor de ar (%)
Pastagem com 3 anos
50,2
20,8
Pastagem com 8 anos
58,2
32,8
Pastagem com - 40 anos
63,7
37,7
Pastagem com + 40 anos
Fonte: KLAPP,1971.
74,9
50,7
Conforme, KLAPP (1971), a massa de raízes de uma pastagem perene, nos 30
cm superficiais, pesa em média, de 4.000 a 8.000 kg MS / ha, podendo em
condições favoráveis chegar a 45.000 kg de MS/ha. No trabalho de VINCENZI et alli
(1996), sobre a determinação da distribuição da biomassa de raízes em pastagem
de campo naturalizado melhorado sob Pastoreio Racional Voisin, realizado na área
experimental da UFSC, fazenda Ressacada em Florianópolis, obtiveram de massa
de raízes, nos 20 cm superficiais, a quantidade de 26.077 kg de MS/ha. A renovação
completa da massa de raízes de pastagens perenes temperadas leva de 3 a 4 anos,
eqüivalendo a uma estrumação de 62,5 a 105 t/ha (KLAPP,1971). Ainda, de acordo
com LOVATO (2000), “o solo pastoril é um solo rizosférico, apresentando maior teor
de matéria orgânica e maior atividade microbiana do que o solo de floresta ou de
lavoura”.
É importante ressaltar que os efeitos do sistema radicular sobre o solo são
cumulativos e com o tempo melhoram todas as caraterísticas do mesmo, desde que
as pastagens sejam bem manejadas. Portanto, fica evidente a importância das
pastagens perenes e, por outro lado, o inconveniente de lavrar-se uma pastagem
perene, existente há anos, para a introdução de outras espécies, pois, a lavração
destrói todas as características agregadas ao solo, com o passar do tempo pela,
interação solo-raízes. Desta forma, percebe-se a importância que as áreas de
52
pastagens nativas e naturalizadas tem para o ecossistema e como são ricas para
desenvolver sistemas produtivos.
No entanto, a massa de raízes é dependente das substâncias elaboradas pela
parte aérea da planta. Assim, os fatores que afetam o crescimento da parte aérea
também afetam o crescimento do sistema radicular. Entre esses fatores estão a
radiação solar, o clima, as condições físicas, químicas e biológicas do solo e a
maneira com que a pastagem é manejada. Quanto ao manejo, ressalta-se que a
cada corte ou pastoreio da parte aérea da pastagem cessa imediatamente o
crescimento das raízes. Assim, quanto mais freqüente for a utilização da pastagem
menor será a massa de raízes. Na tabela 14, mostra-se os efeitos do manejo sobre
a massa radicular de uma pastagem permanente.
Tabela 14 – Massa de raízes de uma pastagem permanente em função da utilização
Utilização
Massa de raízes (kg de MS/ha)
4 cortes por estação
7.710
5 cortes por estação
5.050
Pastoreio a cada 3 semanas
3.900
Pastoreio a cada 2 semanas
3.180
Pastoreio a cada 1 semana
Fonte: KLAPP, 1971.
3.100
Observa-se, na tabela 14, que para as condições e local onde o trabalho foi
desenvolvido, o maior acúmulo de massa radicular se deu quando fez-se quatro
cortes por estação, ou seja quando os cortes foram menos freqüentes.
Porém, existe um aparente antagonismo entre o rebrote da parte aérea e o
crescimento radicular. De acordo com VOISIN (1981), a curva de rebrote do pasto se
manifesta da seguinte forma: “no início, o rebrote se dá as expensas das
substâncias de reserva acumuladas no sistema radicular e na base dos caules.
Depois, o pasto consegue criar suficiente área foliar que permite grande crescimento
vegetativo, é a labareda de crescimento. No final deste período de crescimento
rápido, o pasto renova as substâncias de reserva retiradas das raízes e da base dos
caules, após diminui as sínteses para consagrar seus esforços na fabricação de
flores e sementes”.
53
Do exposto observa-se que até a labareda de crescimento do pasto as
substâncias elaboradas são canalizadas para a produção da parte aérea, o
crescimento radicular cessa e as raízes desgastam-se em benefício do rebrote.
Atingido o pico de crescimento o pasto repõem as reservas e recupera o sistema
radicular. Assim, as raízes estarão aptas a suportar novo rebrote. Esse, portanto, é o
ponto ótimo para iniciar-se a utilização da pastagem. Destaca-se aqui a importância
de se adotar no manejo da pastagem o tempo ótimo de repouso, caso contrário
tanto o sistema radicular como o pasto serão debilitados.
Nas áreas de campo nativo e/ou naturalizado para aumentar a produção, o
período de utilização e melhorar a qualidade da forragem, deve-se introduzir nas
pastagens,
espécies
de
inverno,
gramíneas:
azevém,
aveia,
centeio...
e
leguminosas: trevo branco, trevo vermelho, cornichão... As leguminosas são muito
importantes para o sistema de produção, porque, além de melhorarem a qualidade
da forragem, incorporam nitrogênio ao solo, através da fixação simbiótica.
Em relação ao aumento de produção das pastagens nativas e/ou naturalizadas,
devido a introdução de espécies temperadas, cita-se o trabalho de MACEDO et alli
(1980), realizado na Estação Experimental da Embrapa Pecuária Sul, Bagé-RS. No
trabalho foi avaliada a produção de forragem do campo nativo, do azevém (Lolium
multiforum) espontâneo e das leguminosas introduzidas, trevo branco (Trifolium
repens) e cornichão (Lotus corniculatus), submetidas a diferentes doses e métodos
de aplicação de calcário, em cobertura e incorporado. Como o nosso objetivo é
analisar a produção de forragem, tomamos como referência os dados do tratamento
de 2,25 t/ha de calcário. A tabela 15, mostra os resultados da produção anual de
forragem, nos anos de 1970 a 1973.
Na tabela 15, observa-se que o incremento de produção de forragem
proporcionado pela introdução de trevo branco e cornichão, em média nos quatro
anos, foi 1,16 vezes maior do que a produção do campo nativo. Isso mostra a
importância dessas espécies no aumento da produção de forragem das pastagens
nativas e/ou naturalizadas. Em relação ao campo nativo observa-se que, do ano 1
para o ano 4, a produção de forragem aumentou em torno de 50%, provavelmente
devido ao trabalho de melhoramento.
Desse trabalho, outros dois resultados podem ser destacados: primeiro, que os
métodos de aplicação de calcário, em cobertura e incorporado, na média dos quatro
anos, não proporcionaram diferenças significativas na produção de forragem da
54
pastagem de campo nativo, azevém, trevo branco e cornichão; e, segundo, como a
adubação de correção e manutenção seguiram os mesmos métodos de aplicação de
calcário, também fica demonstrado a viabilidade da prática de fazer-se a adubação
de fósforo na superfície do solo.
Tabela 15 – Produção total de forragem do campo nativo (CN), do azevém
espontâneo (AZ) e das leguminosas trevo branco e cornichão (TB e C), média de
três repetições
Produção kg de MS / ha / ano
Forrageiras
Ano 1
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Média
CN
2.081
2.061
3.880
3.044
2.756
AZ
1.150
627
461
1.115
838
TB e C
4.743
5.616
1.371
1.092
3.205
Total
7.974
8.304
Fonte: MACEDO et alli (1980).
5.712
5.251
6.810
Outro aspecto importante em relação à introdução de espécies temperadas nas
pastagens nativas e/ou naturalizadas é quanto ao sistema de implantação. Nesse
sentido cita-se o trabalho desenvolvido por BRASIL et alli (1972). O trabalho
comparou a semeadura em cobertura com a renovadora de pastagens (Grasslands);
a semeadura em cobertura, com a semeadora (Brillion); e, a semeadura em
cobertura à lanço (manual); com a semeadura feita com a semeadora (Brillion) em
solo lavrado e gradeado (semeadura convencional). Os resultados obtidos, média de
quatro anos, foram que os métodos de implantação em cobertura proporcionaram
maior produção de forragem que a semeadura em solo preparado. Esses trabalhos,
entre muitos outros mostram que para corrigir a acidez do solo, fazer adubações
com fósforo e introduzir espécies de inverno nas pastagens nativas e/ou
naturalizadas, não há necessidade de nenhum tipo de mobilização do solo. Isso
demonstra a viabilidade da aplicação de calcário e de adubos fosfatados na
superfície do solo, bem como a introdução de espécies de inverno através do
método de sobressemeadura. Essas práticas são extremamente importante pela
possibilidade de melhoramento das pastagens em áreas de solos ácidos, pobres em
fósforo e não mecanizáveis. Nesse sentido, um dos trabalhos de maior expressão foi
o melhoramento das pastagens naturalizas nas áreas montanhosas da Nova
55
Zelândia, onde a aplicação de calcário, de adubos fosfatados e a distribuição das
sementes foram realizadas de avião (WHITE, 1981).
Quanto ao aumento de qualidade, do período de utilização e de produção das
pastagens nativas e/ou naturalizadas devido a introdução de espécies temperadas
cita-se o trabalho de FONTANELI et ali. (1991), realizado na Estação Experimental
Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), localizada no
município de Eldorado do Sul – RS. No trabalho foi avaliada a disponibilidade de MS
e proteína bruta (PB) da pastagem após a introdução de azevém (Lolium
multiforum), aveia-preta (Avena strigosa), trevo vermelho (Trifolium pratense), trevo
branco (Trifolium repens) e a pastagem nativa como testemunha. Na tabela 16,
mostram-se os resultados obtidos quanto a disponibilidade de forragem nas
avaliações realizadas a cada oito semanas, no período de 04/84 a 04/85.
Tabela 16 – Disponibilidade total de forragem - kg de MS/ha - em pastagem nativa
submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo
branco (TB) e testemunha (T), média de quatro repetições
Avaliações
Total
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
28/08/84
22/10/84
19/12/84
12/02/85
09/04/85
AZ
754
3.368
610
832
1.493
7.057
AP
1.123
4.965
1.000
1.351
1.602
10.041
TV
399
1.308
1.459
1.357
1.429
5.952
TB
306
1.536
1.445
1.187
1.403
5.877
T
915
1.112
Fonte: FONTANELI et ali. (1991).
1.140
1.611
1.441
6.219
Na tabela 16, observa-se que no período as introduções de azevém e aveiapreta na pastagem nativa proporcionaram um incremento de produção de 838 e
3.822 kg de MS/ha, respectivamente. Já, as introduções de trevo vermelho e trevo
branco não proporcionaram incremento de produção. Porém, na segunda e terceira
avaliação as pastagens com trevos produziram mais forragem que a testemunha. O
que se observa também é que a introdução de espécies temperadas melhorou a
distribuição da produção anual de forragem.
56
Em relação à disponibilidade de PB devido a introdução de espécies
temperadas na pastagem nativa, os resultados estão na tabela 17.
Tabela 17 – Disponibilidade PB kg/ha em pastagem nativa submetida a introdução
de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco (TB) e
testemunha (T), média de quatro repetições.
Avaliações
Tratamento
Total
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
28/08/84
22/10/84
19/12/84
12/02/85
09/04/85
AZ
90,33
193,73
37,93
60,42
120,47
502,88
AP
74,38
299,11
61,78
93,76
134,60
663,63
TV
28,20
159,80
152,44
106,84
102,03
549,31
TB
27,89
181,06
133,79
90,44
137,98
571,16
T
66,79
82,31
Fonte: FONTANELI et ali. (1991).
73,17
103,57
104,21
430,05
Na tabela 17, observa-se que as introduções de azevém, aveia-preta, trevo
vermelho e trevo branco na pastagem nativa proporcionaram um incremento de
produção de PB de 72,83, 233,58, 119,26 e 141,11 kg/ha, respectivamente. Se
compararmos esses incrementos com uma ração comercial com 18% de PB, tem-se
que para a produção de 72,83 kg de PB de azevém/ha, um equivalente a 404 kg de
ração comercial, para a aveia-preta 1.297 kg, trevo vermelho 662 kg e trevo branco
783 kg. Os dados mostram que os trevos mesmo não apresentando incremento na
disponibilidade de MS (tabela 16), em relação a testemunha (campo nativo), são
muito importantes porque melhoram em muito a qualidade da pastagem. Ainda,
sobre a qualidade das pastagens nativas melhoradas com a introdução de espécies
temperadas, cita-se o trabalho realizado por FREITAS, et alli (1994), na elaboração
da tabela de composição químico-bromatológica e energética dos alimentos para
animais ruminantes em Santa Catarina. A tabela 18, mostra os resultados de alguns
dos componentes analisados das amostras recebidas de pastagens de campo nativo
e campo nativo melhorado com leguminosas.
57
Tabela 18 – Valores médios em percentagem da PB, da digestibilidade “in vitro” da
matéria orgânica (DIVMO) e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) de pastagens de
campo nativo e campo nativo melhorado com leguminosas, nas estações do ano
Nº
Estação
amostra
Outono
Campo nativo
PB
DIVMO
NDT
203
7,60
37,45
34,53
Inverno
164
7,79
34,88
Primavera
145
9,27
Nº
Campo nativo melhorado
amostra
com leguminosas
PB
DIVMO
NDT
129
11,05
46,13
43,01
31,81
65
12,39
46,00
42,31
46,69
42,85
67
14,36
59,58
54,61
Verão
162
8,11 45,45
Fonte: FREITAS, et alli (1994).
42,20
76
11,50
54,52
50,94
Para determinar a DIVMO do campo nativo, foi utilizado o método de TILLEY &
TERRY (1963), com modificação proposta por ALEXANDRE (1967) e descrito por
PIRES et al. (1979), apud FREITAS (1994). Porém, de acordo com FREITAS (1991),
esse método mostra-se inadequado para determinar a DIVMO das espécies
forrageiras tropicais, porque os resultados obtidos apresentam uma fraca correlação
entre a digestibilidade “in vivo” e a “in vitro”. Segundo o autor observa-se uma
subestimativa do valor real “in vivo” para a digestibilidade das forrageiras tropicais ao
utilizar-se o método de TILLEY & TERRY, “in vitro”. Tendo isso em vista, o
pesquisador realizou um trabalho comparando vários métodos na determinação da
DIVMO de algumas espécies tropicais. Como resultado aponta o método prolongado
como o mais indicado na determinação da DIVMO das forrageiras tropicais. Para as
forrageiras testadas, o método prolongado apresentou uma DIVMO em torno de 10%
maior do que a DIVMO determinada pelo método de TILLEY & TERRY. Assim, na
análise dos dados de DIVMO e NDT da tabela 18, deve-se ter presente que eles são
aproximadamente 10% maiores. De acordo com VINCENZI (2000), para ter-se uma
produção eficiente de leite à base de pasto é necessário que a pastagem tenha pelo
menos 12% de PB e 60% de DIVMO. Analisando os dados do campo nativo
melhorado observa-se que no outono e no inverno a DIVMO, mesmo acrescentandose mais 10%, fica abaixo do nível limite de 60% para uma produção eficiente de leite
à base de pasto, necessitando uma complementação alimentar. Nesse sentido, uma
boa alternativa para complementar a dieta dos animais é a utilização de rolão de
milho, alimento de baixo custo com alto teor de energia.
58
Na tabela 18, também observa-se que todos os componentes tiveram aumento
de qualidade, independente da estação do ano. Desta forma percebe-se a
importância da introdução de espécies temperadas tendo em vista o aumento da
produção, o período de utilização e a melhoria da qualidade das pastagens nativas
e/ou naturalizadas. Porém, a maioria das variedades disponíveis atualmente são
exigentes em fertilidade do solo e não toleram a acidez e níveis elevados de
alumínio trocável. Nesse sentido três aspectos são fundamentais: primeiro, a
necessidade de intensificar-se trabalhos com as espécies nativas, tendo em vista
sua adaptação às condições do meio, porque a maioria dos campos nativos e boa
parte das pastagens naturalizadas se encontram em solos ácidos e pobres em
fósforo; segundo, enquanto não se dispõem dessas espécies, há necessidade de
utilização de adubos, principalmente fosfatados e calcário em doses racionais na
introdução e manutenção das leguminosas nessas áreas, visando otimizar e não
maximizar o sistema produtivo; e, terceiro, manejar a pastagem de forma que sejam
atendidas as condições do solo, do pasto, do animal e de administração da
propriedade.
Quanto à quantidade de nitrogênio adicionado ao solo pelas leguminosas,
através da fixação simbiótica, cita-se na tabela 19 algumas espécies e as variações
das quantidades fixadas, segundo MONEGAT (1991) e Manual de interpretação...
(1998), baseados em vários autores.
Tabela 19 – Quantidade de nitrogênio fixado por diferentes espécies de leguminosas
Espécies
Variação nitrogênio fixado (kg/ha/ano)
Ervilhaca comum (Vicia sativa)
54 - 190
Ervilhaca peluda (Vicia vilosa)
50 - 193
Trevo vermelho (Trifolium pratense)
17 - 220
Trevo branco (Trifolium repens)
117 - 268
Trevo encarnado (Trifolium incarnatum)
80 - 220
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum)
21 - 220
Desmódio (Desmodium sp)
70
Fonte: MONEGAT (1991) & Manual de interpretação de análise do solo do Paraná (1998).
A quantidade de nitrogênio fixada pela associação rizóbio/leguminosas varia
com a bactéria, a planta, as condições climáticas, a ação humana, etc., e no caso
59
das forrageiras, depende também da duração do ciclo da planta e do manejo da
pastagem. Portanto, para ter-se bons resultados quanto à fixação de nitrogênio
pelas leguminosas é fundamental fazer-se a inoculação com cepas específicas e
peletização das sementes, usando-se para isso métodos adequados.
1.8.1.1 ÁREA DE PASTAGEM E ESCOLHA DA FORRAGEIRA
Nas pequenas unidades de produção, quando necessita-se ampliar as áreas
de pastagens, para atender a necessidade de produção de forragem para os
animais, deve-se utilizar as áreas não exploradas com as culturas anuais (sobra de
lavouras e/ou capoeiras), observando-se o uso permitido pela legislação e aspectos
ambientais. Em relação às espécies deve-se utilizar as forrageiras perenes de verão,
porque elas apresentam menor custo de produção (se bem manejadas, são muito
persistentes), de modo geral são menos exigentes em fertilidade do solo e muito
adaptadas ao pastoreio, devido aos hábitos de crescimento e a forma de
propagação vegetativa.
Em relação ao custo de produção das forrageiras, a tabela 20, mostra os
custos relativos de algumas pastagens obtidos no sistema de produção de leite da
EPAGRI / Estação Experimental de Lages, no período de 84/85 a 88/89.
Tabela 20 – Custos relativos de algumas pastagens usadas no sistema de produção
de leite da EPAGRI / Lages
Pastagem
Área (ha)
% do custo total
% custo / ha
Perene inverno (1)
10,20
3,00
0,29
Anual de inverno (1)
8,04
5,84
0,72
Quicuio
(Pennisetum
clandestinum) (1)
7,18
1,79
0,24
Hemartria (Hemarthria
altissima) (2)
5,60
0,56
0,10
Milheto (2)
4,20
2,40
0,57
Sorgo (2)
3,00
1,54
0,51
Fonte: VINCENZI, 2000. (1) Dados médios de 5 anos, (2) dados de 1 ano.
60
Na tabela 20, observa-se que as pastagens perenes de inverno tiveram custo
de produção 2,48 vezes menor do que as pastagens anuais de inverno. A pastagem
perene de verão (quicuio), também teve custo de produção 2,25 vezes menor do
que a média do custo das pastagens anuais de verão de milheto e sorgo. Quanto ao
resultado da hemartria não se fez referência porque é uma espécie perene e os
dados são de um ano. Pelos dados constata-se que as pastagens perenes
independente da estação do ano possuem menor custo de produção.
Em nosso trabalho, fez-se o custo de produção de cada forrageira utilizada nas
propriedades estudadas, baseado nas informações dos produtores, conforme
memória de cálculo, anexo 5. Os resultados, desprezando-se os valores extremos
foram: as pastagens perenes de verão tiveram um custo médio de R$ 170,82 / ha;
as pastagens anuais de verão de R$ 221,63 / ha; e as pastagens anuais de inverno
de R$ 122,98 / ha. Entre as pastagens perenes e anuais de verão, apesar da
diferença ser menor e os dados serem obtidos da realidade de cada propriedade, os
resultados mostraram a mesma tendência do trabalho feito em Lages. Além dessa
vantagem, as pastagens perenes apresentam maior período de pastoreio, suportam
mais as adversidades climáticas, expõem menos o solo ao processo erosivo e
principalmente as de verão produzem muito mais forragem do que as anuais. Por
isso, quando necessita-se ampliar as áreas de pastagens, deve-se utilizar as
forrageiras perenes de verão. Quanto as espécies, em geral, as melhores são as
que já estão sendo utilizadas na região, por exemplo estrela roxa, quicuio, hemartria
e capim elefante, porque essas espécies já estão adaptadas às condições
edafoclimáticas. A seguir descrevem-se algumas características das espécies: capim
elefante (Pennisetum purpureum), grama missioneira gigante (híbrido), hemartria
(Hemarthria altissima) e estrela roxa (Cynodon nlemfluensis), destas as três
primeiras são utilizadas no sistema de produção desenvolvido na propriedade da
família de Olintho Ficcagna, localizada no município de Serra Alta, em Santa
Catarina.
a) Capim elefante: muito importante principalmente para as regiões com inverno
ameno (clima Cfa ). É a pastagem mais produtiva na época quente do ano. Com
manejo adequado é persistente e produz forragem de boa qualidade em relação à
época. Exigente em fertilidade do solo. Não tolera solos úmidos. Deve ser
implantada em locais planos pois onde o declive for acentuado poderá não fazer
61
cobertura adequada do solo. Existem grande número de variedades. As variedades
utilizadas há anos, nas regiões são as mais indicadas por serem mais adaptadas. É
muito exigente em manejo e só persiste em pastoreio direto quando esse for bem
conduzido. Nesse sentido destaca-se o método de Pastoreio Racional Voisin (PRV).
Em relação à produção e à qualidade do capim elefante cita-se o trabalho
realizado pela COTRIJUI, apud (VINCENZI, 2000), de 08/85 a 03/86, com 19
variedades. A produção de forragem das variedades, no período, em média foi de
18.076 kg de MS/ha, com variação de 6.123 a 36.450 kg de MS/ha e a PB, com 46
dias de crescimento, em média foi de 9,17%, com variação de 6,68 a 12,43%.
Quanto à DIVMO, cita-se os resultados obtidos por FREITAS, et alli (1994), na
elaboração da tabela de composição químico-bromatológica e energética dos
alimentos para animais ruminantes em Santa Catarina. Nesse trabalho a DIVMO
média do capim elefante nas estações primavera, verão e outono foi de 57,73%,
variando de 55,21 a 60,49%.
b) Grama missioneira gigante: segundo VINCENZI (2000), é um híbrido natural entre
o capim Venezuela (Axonopus scoparius) e grama missioneira (Axonopus jesuiticus),
foi descoberta por um agricultor do município de Presidente Getúlio, no Alto Vale do
Itajaí por volta de 1985/86. Daí passou a ser estudada pelo DZDR-UFSC e pela
Estação Experimental de Itajaí – EPAGRI. Tem mostrado ampla adaptação no
Estado de Santa Catarina, desde os solos arenosos e pobres das várzeas
litorâneas, aos solos férteis de origem basáltica do Oeste. Muito tolerante ao frio,
tendo mostrado bom desenvolvimento mesmo em Lages. Tem ótima qualidade para
uma espécie estival, particularmente no que se refere à digestibilidade, mantendo-a
mesmo no inverno. Outra característica importante é o bom crescimento outonal. O
estabelecimento é por mudas, é lento, mas após estabelecida a pastagem é muito
persistente e agressiva, reduzindo acentuadamente o surgimento de ervas
denominadas “invasoras”.
Em relação à produção e à qualidade da grama missioneira gigante cita-se o
trabalho de VIEIRA, et alli (1999), desenvolvido na EPAGRI/Estação Experimental
de Urussanga, nos anos de 1996 e 97. A produção média de forragem foi de 15.320
kg de MS/ha, a de PB de 12,26% e a DIVMO de 55,54%. No trabalho de ROSA
(s.d.), desenvolvido na EPAGRI de Lages, no período de 1997/98 e 98/99. A
produção média de forragem da grama missioneira gigante foi de 10.839 kg de
62
MS/ha, de PB de 12,9% e a DIVMO de 72,6%, determinada pelo método
prolongado.
c) Hemartria: Existem muitas variedades de Hemarthria altíssima, porém elas podem
ser divididas em dois grupos fundamentais: de folha estreita e de folha larga. A
variedade Flórida, do grupo de folha larga, tem sido mais difundida entre os
agricultores, por ser muito rústica e agressiva e pouco exigente em fertilidade do
solo. As variedades de folha estreita são mais exigentes em fertilidade, mais lentas
no estabelecimento, porém são mais resistentes ao frio e apresentam
melhor
qualidade. As hemartrias são muito tolerantes a solos úmidos e apresentam bom
crescimento primaveril. Segundo SALERNO, et alli (1990), a hemartria não produz
sementes nas condições de Santa Catarina, apesar de formar intenso número de
inflorescências. Assim, o estabelecimento é feito através de mudas.
Em relação à produção e à qualidade da hemartria, variedade Flórida, cita-se o
trabalho de POSTIGLIONI (1995), que é uma síntese das informações obtidas
através de pesquisas realizadas na região dos Campos Gerais do Paraná. Nesse
trabalho a produção média de forragem da variedade flórida foi de 9.300 kg de
MS/ha, de PB de 7,55% e a DIVMO de 72,62%. No trabalho de ROSA (s.d.), a
produção média de forragem da variedade EMPASC 302 foi de 7.425 kg de MS/ha,
de PB de 12 % e a DIVMO de 66% %.
d) Estrela roxa (Cynodon nlemfluensis): é uma espécie muito comum no Oeste
Catarinense, onde é conhecida como “espanta vizinho” ou “encrenca de vizinho”,
em função de sua agressividade, seus estolões chegam a atingir 8 metros de
comprimento. É mais competitiva e mais palatável que a estrela africana (Cynodon
plectostachyus). É exigente em fertilidade em relação à outras espécies perenes
estivais. Tem tolerância média ao frio. Muito tolerante ao pastoreio intensivo e
multiplica-se vegetativamente por estolões (VINCENZI, 2000). Diferencia-se das
demais “estrelas” por apresentar os talos arroxeados e ser estolonífero e não
rizomatoso (SALERNO, et alli, 1990). Em relação à produção da estrela roxa cita-se
o trabalho de ROCHA, et alli (1994), desenvolvido na Granja do Colégio Agrícola 25
de Julho de São Carlos/SC, nos anos de 1991/92 e 1992/93. No período a produção
média de forragem foi de 15.100 kg de MS/ha.
63
Na proposta de produção de leite à base de pasto do Departamento de
Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC, uma das espécies recomendada é o
capim elefante. De acordo com VINCENZI (2000), da área total de pastagens anuais
e perenes, no mínimo 10 e no máximo 20% deve ser de capim elefante, tendo em
vista sua capacidade de produção de biomassa por área e qualidade. O limite de
20% da área total das pastagens, objetiva equacionar a questão da oferta x
qualidade no período de maior produção da forrageira.
Sabemos que existe uma grande quantidade de espécies forrageiras perenes
de verão sendo utilizadas pelos produtores na região onde desenvolvemos o
trabalho. Porém, nosso objetivo aqui não é indicar as espécies mais produtivas, e
sim mostrar a importância dessas espécies dentro de um plano forrageiro, que visa a
produção de leite à base de pasto. Nos trabalhos assessorados pelo DZDR na
região Oeste de Santa Catarina têm sido observados resultados muito favoráveis
com capim elefante, hemartria e missioneira gigante. Não obstante, é importante ter
presente que as forrageiras mais produtiva extraem mais nutrientes do solo e para
ter-se sustentabilidade é necessário adequar o nível de produção com a capacidade
produtiva dos ecossistemas. Isso, para a agricultura de pequeno porte, nos remete a
duas questões. Primeira, a produção é realizada em pequenas áreas e isso limita as
condições dos agricultores desenvolverem sistemas no sentido da sustentabilidade;
e, segunda, da necessidade de utilização de sistemas onde as atividades realizadas
apresentam características de complementariedade, por exemplo, os dejetos
produzidos pelas aves e suínos servem como fertilizante nas áreas de pastagens
e/ou lavouras, tendo por objetivo otimizar os sistemas produtivos e não maximizar a
produção. Porém, deve-se tomar cuidado com dejetos contaminados na utilização
como fertilizantes.
Outras áreas importantes para produção de forragem e muito utilizadas pelos
produtores, são as áreas de lavouras. Nessas áreas as pastagens anuais de inverno
são implantadas em sucessão com as culturas de verão. Todavia, de modo geral
essa prática tem sido usada sem um planejamento, que contemple aspectos do solo,
das culturas e oferta de forragem no outono, período esse conhecido como vazio
outonal, porque as pastagens da estação quente estão no final do ciclo e as
pastagem anuais de inverno, quando não implantadas cedo (em março), ainda não
estão em condições de serem pastoreadas. Nesse sentido, ressalta-se a
necessidade de adotar-se um sistema de cultivo que concilie a época adequada
64
para implantação das pastagens anuais de inverno, tendo em vista seu
estabelecimento e produção de forragem no período de maior escassez. Outro
aspecto importante em termos de solo e desenvolvimento das culturas é adoção de
um sistema de rotação de culturas que pelo menos intercale gramíneas como
leguminosas, a cada dois ciclo produtivos. Por exemplo, em 50% da área de lavoura
cultiva-se (milho x aveia e azevém x soja ou feijão) e nos outro 50% (soja x ervilhaca
x milho). Desse exemplo, destacam-se dois aspectos muito importantes. Primeiro, a
cultura do milho e a do feijão são as mais indicadas para anteceder a pastagem,
porque permitem que a pastagem anual de inverno seja implantada na época
adequada; e, segundo, o cultivo de gramíneas (milho depois aveia e azevém) e
leguminosas (soja depois ervilhaca) são interrompidos a cada dois ciclos produtivos,
trazendo grandes benefícios tanto para o solo como para as culturas.
Quanto aos benefícios da integração lavoura-pecuária cita-se o trabalho
realizado pela FUNDACEP, em Cruz Alta – RS, apud RUEDELL (1995). O trabalho
avaliou o rendimento da cultura do milho, após a pastagem anual de inverno de
aveia + ervilhaca, e da cultura da soja após as pastagens anuais de inverno de aveia
e aveia + azevém, em áreas onde as pastagens foram pastoreadas pelos animais e
não pastoreadas, nos anos de 1993 e 1994. A tabela 21, mostra o rendimento obtido
nas culturas de milho e soja nas safras 93/94 e 94/95.
Tabela 21 – Rendimento de milho e soja kg / ha, após área pastoreada(PAST.) e
não pastoreada (NÃO PAST.) de aveia + ervilhaca (AV + ER), aveia (AV) e aveia +
azevém (AV + AZ)
Culturas
Safra 93/94
Safra 94/95
PAST.
NÃO PAST.
PAST.
NÃO PAST.
Milho x AV + ER
6.903
6.314
8.254
7.376
Soja x AV
2.699
2.180
3.541
3.326
Soja x AV + AZ
2.945
Fonte: RUEDELL, 1995.
2.373
3.412
3.138
Na tabela 21, observa-se que na área de aveia + ervilhaca pastoreada, média
das duas safras, a cultura do milho produziu 733 kg / ha a mais do que na área não
pastoreada. A cultura de soja nas áreas de aveia e de aveia + azevém pastoreadas,
média das duas safras, produziu 367 kg / ha e 423 kg / ha, respectivamente, a mais
65
do que nas áreas não pastoreada. Além desse aspecto o trabalho também avaliou o
desempenho dos animais, obtendo os seguintes resultados: no ano de 1993, as
pastagens foram utilizadas por um período de 74 dias, com ganho de peso / ha de
181 kg e ganho de peso / animal de 1,05 kg / dia. Em 1994, as pastagens foram
utilizadas por um período de 62 dias, com ganho de peso / ha de 147 kg e ganho de
peso / animal de 1,01 kg / dia. Esse trabalho mostra que houve uma interação
positiva entre o rendimento das lavouras de verão e o uso das pastagens de inverno
pelos animais.
Ainda, em relação à integração lavoura-pecuária cita-se o trabalho de
FONTANELI et alli. (2000), realizado no CEPAGRO-Centro de Extensão e Pesquisa
Agronômica, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de
Passo Fundo (UPF), em Passo Fundo, no período de abril de 1990 a maio de 1996.
No trabalho foram avaliados sistemas de produção de grãos com pastagens anuais
de inverno, sob plantio direto. Os tratamentos consistiram em quatro sistemas,
sendo três mistos (produção de grãos envolvendo pastagens anuais de inverno para
engorda de novilhos): sistema I (trigo/soja, pastagem de aveia preta/soja e pastagem
de aveia preta/soja), sistema II (trigo/soja e pastagem de aveia preta +
ervilhaca/milho), sistema III (trigo/soja, pastagem de avia preta + ervilhaca/soja e
pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho) e sistema IV (trigo/soja, aveia
branca/soja e aveia branca/soja). Algumas das conclusões do trabalho foram: os
sistemas com pastagens (I, II e III) e sistema IV, somente para produção de grãos,
não mostraram diferenças entre as médias para densidade de solo, tamanho de
partícula de classe de agregado > 4,76 e diâmetro médio de partícula. Os sistemas II
e III são os mais eficientes energeticamente. O sistema II mostra-se a melhor
alternativa de produção, visto ter rentabilidade econômica semelhante à dos demais
sistemas estudados e com menor risco. A integração lavoura-pecuária sob sistema
plantio direto é viável tanto para as culturas de inverno e de verão como para
engorda de bovinos em pastagem de inverno. Um dos resultados a se destacar é
que o pastoreio das pastagens de inverno implantadas nas áreas de lavoura não
provocou compactação do solo. Isso mostra que não se justificam as preocupações
dos agricultores que deixaram de utilizar as culturas de cobertura do solo de inverno
como pastagens com receio de que o pisoteio dos bovinos viessem provocar uma
compactação do solo que prejudicassem o desenvolvimento de outras culturas.
66
1.8.1.2 ANIMAIS PARA PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO
Para produzir-se leite à base de pasto é necessário ter-se animais adaptados a
estas condições e/ou trabalhar com cruzas de raças, no sentido de obter-se animais
que tenham rusticidade, grande capacidade de ingerir pasto e que sejam produtivos.
Desta forma, o melhoramento do plantel deve começar pela seleção dos melhores
animais pastadores existentes na propriedade. Na aquisição de animais deve-se dar
preferência aos animais da região, com bom potencial produtivo e oriundos de
sistemas de produção à base de pasto. Isso por que, segundo VINCENZI (2000), “a
adaptação não pode ser comprada e como é obra da natureza leva alguns anos
para ser concluída”. Os riscos decorrentes da compra de animais de outras regiões e
principalmente de outros países estão relacionados, principalmente com as doenças
e o tempo de adaptação.
Em relação aos cruzamentos a sugestão do DZDR é a utilização das raças
Holandês, Jersey e Gir leiteiro. Segundo RIBEIRO (2001), os animais que melhor
apresentam as características desejáveis para a produção de leite à base de pasto,
são principalmente aqueles que resultam de cruzamento de raças distintas
geneticamente, pois aumentam a variabilidade genética e assim a possibilidade de
seleção. Outro aspecto a se destacar é a contribuição que as raças zebuínas dão
para a produção de leite à base de pasto. Os animais de sangue zebuíno são mais
rústicos, aproveitam melhor os pastos fibrosos e apresentam maior nível de
sanidade.
Quanto aos touros também deve-se dar preferência aos animais oriundos de
criações da região. Quando a reprodução é feita através da inseminação artificial
deve-se utilizar semens dos programas regionais e/ou estaduais, desenvolvidos
pelas Secretarias de Agricultura dos Estados. Pelas informações que temos, esses
programas são realizados nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Nesses programas são utilizados os melhores animais dos rebanhos, selecionados
há anos nas propriedades de uma ou de várias regiões do Estado. Portanto, sob o
ponto de vista de adaptação e produção de leite à base de pasto, o sêmen desses
animais são os mais indicados para serem utilizados nas inseminações do plantel.
Porém, quando não se dispõem de semens desses programas, deve-se utilizar
semens originários de outros Estados e/ou Países, onde os sistemas de produção
predominantes sejam à base de pasto. Por exemplo, dar preferência aos semens
67
produzidos no estado de Minas Gerais para a raça Gir leiteiro, no Uruguai, na
Argentina e na Nova Zelândia para as raças Holandês e Jersey ao invés de semens
Canadense ou Americano, que utilizam predominantemente sistemas de produção
confinados. Nesses países, no último século, de modo geral, a seleção e o
melhoramento das raças leiteiras, principalmente a Holandês e a Jersey pautaramse para obtenção de animais altamente especializados e de grandes produtividades,
tendo por base o material genético de animais criados em sistema de produção
confinado. Como resultado obtiveram animais extremamente produtivos, porém
dependentes de grandes quantidades de alimentos concentrados. Como o objetivo é
produzir leite à base de pasto esses semens não são os mais recomendados para
serem utilizados nas inseminações dos animais do plantel.
1.8.1.3 MANEJO DAS PASTAGENS
Para produzir-se forragem em quantidade e com qualidade é necessário
também utilizar-se de um método de pastoreio que atenda às condições do solo, da
pastagem, do animal e do ambiente e este método é o Pastoreio Racional Voisin
(PRV). Este sistema de manejo foi desenvolvido na França por André Voisin, e
aperfeiçoado em Cuba, Nova Zelândia, Brasil e outros poucos países. O PRV é um
método de manejo das pastagens que se baseia na integração solo-pasto-animal
com a participação do homem, cujo fundamento é atender às necessidades
fisiológicas da planta, para que ela possa produzir os máximos rendimentos de
matéria verde, no momento de sua melhor qualidade biológica.
Para alcançar esses resultados deve-se manejar o pasto observando-se as
quatro “leis universais do pastoreio racional” preconizadas por VOISIN (1981), como
segue:
Primeira lei: Para que o pasto, cortado pelo dente do animal, forneça a máxima
produtividade, é necessário que entre dois cortes sucessivos se passe um tempo
suficiente que lhe permita: a) acumular em suas raízes as reservas necessárias para
um início vigoroso de rebrote, b) realizar sua “labareda de crescimento”;
Segunda lei: O tempo global de ocupação de uma parcela deve ser suficientemente
curto, para que uma planta cortada no primeiro dia (ou no início) do tempo de
68
ocupação não seja cortada novamente pelo dente dos animais, antes que estes
deixem a parcela;
Terceira lei: É preciso auxiliar os animais que possuam exigências alimentares mais
elevadas a colher mais quantidade de pasto, e da melhor qualidade possível;
Quarta lei: Para que a vaca produza rendimentos regulares, ela não deve
permanecer mais que 3 dias sobre uma mesma parcela. Os rendimentos serão
máximos, se a vaca não permanecer mais que 1 dia na mesma parcela.
Em relação a primeira lei, destacam-se três aspectos que são muito
importantes: primeiro, da necessidade de adotar-se o tempo ótimo de repouso no
manejo do pasto, tendo em vista sua persistência e produção; segundo, que tempos
curtos de repouso provocam a “aceleração fora de tempo” (VOISIN, 1981), e terá
como consequência a degradação da pastagem; e, terceiro, que o tempo ótimo de
repouso entre dois pastoreios varia com a estação, as condições climáticas, as
características do solo, as espécies forrageiras e suas interações. Portanto, na
condução do PRV não dá para utilizar-se tempos fixos de repouso. A segunda lei
refere-se ao tempo de ocupação. Ela chama a atenção para evitar-se tempos de
ocupação longos, pois os mesmos permitem que os animais comam os rebrotes das
plantas consumidas no primeiro dia de ocupação, debilitando-as para um novo
rebrote. Além disso, quanto menor o tempo de ocupação maior será o consumo
diário de pasto pelos animais. A terceira e a quarta leis, referem-se aos animais e às
condições para atender suas exigências nutricionais e obter-se rendimentos
regulares. Para isso, deve-se dividir os animais em lotes, com menor tempo de
ocupação possível do piquete. Segundo VINCENZI (2000), para gado de leite, o
tempo de ocupação do piquete deve ser igual ao intervalo entre duas ordenhas, o
que dá aproximadamente 12 horas. Quanto aos lotes, os animais mais produtivos e
os que estão no primeiro terço de lactação, devem compor o lote de “desnate”,
deixando para o outro lote fazer o repasse do pasto.
Segundo MACHADO (1997), a exploração leiteira à base de pasto é, hoje,
reconhecida internacionalmente como a forma mais econômica, mais saudável,
menos impactante ambientalmente, que melhor contempla o bem estar animal e que
traz maior grau de satisfação ao produtor. Apesar destas vantagens, poucos
profissionais e produtores percebem o potencial das pastagens manejadas intensiva
e racionalmente como forma de viabilizar a atividade leiteira, tendo presente as
questões ambientais, a qualidade dos alimentos produzidos, os custos de produção,
69
entre outros. Para ilustrar as vantagens e desvantagens deste sistema, cita-se o
estudo de WILLIAM C. LIEHARDT (1993), apud SCHMITT et al (1999), envolvendo
32 produtores que mudaram do sistema de confinamento convencional para o
pastoreio
racional,
em
cinco
estados
norte-americanos.
Os
produtores
caracterizaram as vantagens do pastoreio racional como sendo: (1) custos com
alimentação decresceram 36%; (2) ganhos de US$ 18 / cabeça por mês de estação
de pastoreio; (3) ganhos de até US$ 270 / cabeça / ano; (4) custos com energia
caíram 75%; (5) redução da mão-de-obra com alimentação e distribuição de esterco;
(6) menos erosão e contaminação das águas com fertilizantes e agrotóxicos; (7)
aumento nas lactações em 15%; (8) menor custo com veterinário; (9) menor
incidência de mastite e problemas de casco; (10) menor taxa de reposição; (11) leite
de melhor qualidade, com menos células somáticas; e, (12) menor utilização de
medicamentos, e consequentemente animais e (produtos) mais saudáveis. E as
principais desvantagens comentadas foram: (1) necessidade de mudar os animais
de potreiros freqüentemente; (2) necessidade de mudar cercas temporárias; e (3)
custos com água e cercas.
Além desses aspectos o PRV contribui para a melhoria da fertilidade do solo.
Nesse sentido cita-se os trabalhos desenvolvidos nas fazendas Alegria e Santa
Maria. No projeto da fazenda Alegria, em Taquara/RS, de 1967 a 1993, o teor de
matéria orgânica (M.O.) do solo passou de 0,2 para 1,6%, solo franco-arenoso; o
fósforo disponível de 0,96 para 16 ppm; e o potássio de 2,15 para 71 ppm. No
projeto da fazenda Santa Maria, em Santa Maria/RS, com 5 anos de PRV, o teor de
M.O. do solo passou de 6,08 para 6,13%; o fósforo disponível de 17 para 38 ppm; o
potássio de 0,42 para 1,15%; e o nitrogênio total de 4,6 para 6,3% (MACHADO,
2000). Os dados mostram que na fazenda Alegria houve incrementos expressivos no
teor de M.O., fósforo e potássio, e no projeto da fazenda Santa Maria destacam-se
os aumentos nos níveis de fósforo, potássio e nitrogênio.
Ainda, sobre as vantagens proporcionadas pelo manejo adequado das
pastagens, cita-se o trabalho de TONY (1978), apud VINCENZI (1987), realizado na
Austrália. A tabela 22, mostra a evolução dos níveis de fertilidade e a densidade
aparente do solo, no período de 15 anos.
Nesse trabalho destaca-se a expressiva redução da densidade aparente do
solo e como consequência o aumento da porosidade. Em relação a evolução dos
70
níveis de fertilidade do solo houve a mesma tendência apresentada nos projetos das
fazendas Alegria e Santa Maria.
Tabela 22 – Modificações nas características físicas e químicas do solo sob
pastoreio durante 15 anos.
Propriedades solo
No início
Depois de 11 anos Depois de 15 anos
0 – 10 cm
de pastoreio
de pastoreio
PH
5,2
-
5,0
Carbono orgânico (%)
0,84
2,6
1,56
Nitrogênio (%)
0,04
0,15
0,10
Enxofre (ppm)
70
207
205
Fósforo total (ppm)
18
150
160
Fósforo disponível (ppm)
4
35
40
Potássio total (ppm)
31
90
202
Cálcio total (ppm)
30
550
320
Magnésio total (ppm)
29
29
-
Umidade (%)
16
-
41
-
1,0
Densidade
aparente
1,55
(Bulk)
Fonte: TONY (1978), apud VINCENZI (1987).
1.8.2 BENEFICIAMENTO/TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE LEITE
E DERIVADOS
Diante da crise do modelo de desenvolvimento agrícola adotado no País e a
busca da valorização da agricultura familiar de pequeno porte, cresceu o debate
sobre a visão do meio rural como espaço além daquele destinado exclusivamente à
produção
agrícola.
Nesse
contexto,
o
beneficiamento/transformação
e
comercialização de produtos e subprodutos da agricultura familiar de pequeno porte
é colocado como uma das mais importantes alternativas de promoção de
desenvolvimento rural sustentável. Muito utilizada para conservação dos produtos,
auto-aprovisionamento
das
famílias
e
comercialização
dos
excedentes,
a
transformação artesanal de alimentos passa a ser encarada como uma atividade
71
determinante para a própria viabilização de inúmeras pequenas unidades de
produção.
No entanto, a legislação que regula a produção e comercialização de produtos
de origem animal transformados, apesar dos avanços obtidos, principalmente na
última década, em relação à legislação dos anos cinqüenta, ainda pelo nível e tipo
de exigências, restringe os mercados para as pequenas agroindústrias que se vêm
limitadas a diminutos mercados locais. Para ilustrar essa questão cita-se o trabalho
realizado por OLIVEIRA et alli (2000), sobre a avaliação do potencial da indústria
rural de pequeno porte em Santa Catarina. Dos 1.116 estabelecimentos
pesquisados,
454
(41%)
das
respostas
apontaram
as
exigências
legais,
principalmente as relacionadas as plantas industriais e abrangência dos mercados,
como um problema importante no quesito “dificuldades”. Isso mostra que ainda é
preciso avançar muito para ter-se uma legislação mais adequada, tendo em vista o
fortalecimento e desenvolvimento das agroindústrias de pequeno porte.
Quanto às características gerais das unidades, a pesquisa constatou que os
empreendimentos são diversificados, com predominância das iniciativas de tipo
individual, não formalizadas. Porém, as experiências associativas estudadas,
embora apresentando muitos dos problemas das individuais, mostraram-se mais
funcionais. Segundo os autores, as iniciativas coletivas, formadas na sua maioria por
grupos familiares, permitem uma distribuição do trabalho nas diferente etapas do
processo, aumentam a capacidade de auto-suficiência em matéria-prima, o que lhes
confere maior liberdade e garantia no que se refere à qualidade e à constância do
fornecimento.
Tendo isso presente, entre outros fatores, para realizar-se o beneficiamento, a
transformação e a comercialização do leite e seus derivados, é importante que os
agricultores se organizem em associações. Estas formas de organização devem ser
construídas e implementadas gradativamente e apoiadas técnica e financeiramente,
constituindo-se, assim, em instrumentos viabilizadores das pequenas unidades de
produção. A pesquisa feita por OLIVEIRA, et alii (2000), indica que há um enorme
potencial de desenvolvimento da pequena agroindústria associada à agricultura
familiar e o “mercado” não se constitui na principal barreira à sua viabilização, como
é geralmente mencionado pelos críticos deste tipo de empreendimento. A atividade
possibilita agregar valor aos produtos agropecuários, aumentando a renda das
72
famílias, criando postos de trabalho no meio rural, contribuindo para dinamizar o
mercado local e a permanência das pessoas nesse espaço, com qualidade de vida.
Desta forma, uma das opções para os produtores de leite serem melhor
remunerados é a formação de grupos e a venda direta ao consumidor. Para isso, no
entanto, é necessário garantir a qualidade do produto. Nesse sentido, ressalta-se o
estudo desenvolvido por AMABILE et al (2000), onde comparam a qualidade
higiênico-sanitária do leite embalado em sacos plásticos e pasteurizado pelo
processo lento, realizado num condomínio leiteiro rural de Santa Catarina (leite
produzido à base de pasto), com o tipo C, obtido por pasteurização rápida numa
usina de beneficiamento de uma grande indústria. Os resultados demonstraram que
as amostras de leite cru, coletadas no condomínio, eram de melhor qualidade
microbiológica e que a qualidade higiênico-sanitária do leite, obtida pelo processo
lento, é semelhante à obtida pelo processo rápido da indústria. Este trabalho
demonstra que é possível produzir e processar leite com qualidade, utilizando-se
pequenos equipamentos em agroindústrias de pequeno porte, onde o trabalho é
feito pelos próprios agricultores.
1.9 ÁREA DE ESTUDO
1.9.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA NAS MICRORREGIÕES DE
ERECHIM NO RS E DE CHAPECÓ EM SC
A microrregião de Erechim, está inserida na região do Alto Uruguai gaúcho,
que situa-se no norte do Estado do Rio Grande do Sul, fazendo divisa com o Estado
de Santa Catarina através do Rio Uruguai. A oeste, o limite natural é constituído pelo
Rio Passo Fundo, e a leste estende-se, aproximadamente, até o Rio Inhandava (Rio
dos Ìndios). No sul, o limite é mais impreciso, embora possa ser identificado como
sendo a passagem da área de relevo mais acidentado para formações onduladas,
ou ainda: o limiar entre a já destruída floresta subtropical com araucária e as áreas
de campo (PIRAN, 1995). Segundo o mesmo autor essa região foi uma das últimas
a serem ocupadas no Estado do Rio Grande do Sul.
73
Em 1910, iniciou-se o povoamento, com a vinda dos colonizadores
descendentes de imigrantes das colônias velhas do Estado. Índios e caboclos foram
desterritorializados e, em seu lugar, instalaram-se os colonizadores.
Na região do Oeste de Santa Catariana, onde está inserida a microrregião de
Chapecó, a colonização teve início em 1908, juntamente com a construção do trecho
catarinense da ferrovia São Paulo-Rio Grande (CAMPOS, 1987). Para construir a
estrada, a empresa americana “Brazil Railway Co.” recebeu como pagamento a
concessão de 15 km de terras de cada lado do leito da ferrovia, onde poderia
explorar e colonizar (SANTOS, 1977). A empresa construtora da estrada, logo
começou expulsar todos os moradores que estavam em sua faixa de domínio. A
expulsão dos moradores de suas terras sem qualquer indenização e a presença de
grande quantidade de operários da estrada de ferro, que em diversas ocasiões
foram despedidos em massa, reuniu elementos que resultaram na guerra do
Contestado, com início em 1912 e término em 1915.
Para dar andamento à colonização, as companhias colonizadoras obtiveram
dos governos enormes concessões de terras. No Oeste Catarinense a década de 20
marcou o início da migração de colonos oriundos quase que exclusivamente do Rio
Grande do Sul. As terras, de modo geral eram vendidas para os agricultores com
reserva de madeira. Assim, as companhias garantiram a exploração da principal
riqueza natural dessas regiões. A exploração desenfreada e irracional feita pelas
companhias colonizadoras e madeireiras não cessou até a extração das últimas
árvores de valor comercial. A madeira, por um longo período, se constituiu no
principal produto comercializado. Nesse período, a grande maioria dos agricultores
que se instalaram nessas regiões, para obter algum recurso financeiro, prestavam
serviços às empresas madeireiras.
Os colonos que migraram para estas regiões já haviam tido contato com
atividades comercias nas antigas colônias. Por isso, geravam excedentes que
poderiam ser comercializados se houvessem condições. Os processos produtivos
eram organizados em torno das unidades familiares, com produção diversificada e
destinava-se, inicialmente, à subsistência das famílias, não por serem essas suas
características, mas por estarem distantes do mercado. Com o tempo, o mercado
regional evolui e também as oportunidades de comercialização da produção
excedente.
74
Segundo WERLANG (1992), o tabaco foi o primeiro produto que conseguiu
um mercado estável. Paralelamente ao comércio de tabaco, foi surgindo mercado
para a banha e, posteriormente, para o suíno. Pode-se dizer que em todas as
propriedades havia a presença de animais domésticos, principalmente a vaca de
leite, os bois de trabalho, os suínos para a produção de carne e banha e as galinhas
para a produção de carne e ovos. Para a maioria dos agricultores dessas regiões, a
suinocultura firmou-se como a principal atividade mercantil, dentro da lógica da
produção diversificada. A avicultura, mesmo tendo menor abrangência, também
tornou-se uma atividade muito importante para os agricultores de pequeno porte. Os
agricultores praticavam um sistema de policultura baseada no cultivo de uma
variedade relativamente grande de produtos vegetais e na criação de suínos,
bovinos e aves com uso exclusivo de mão-de-obra familiar. Essa agricultura gerava,
para a maioria dos agricultores, condições financeiras para sustentar suas famílias e
realizar alguns investimentos.
No entanto, a redução do potencial produtivo das terras e as profundas
transformações ocorridas na base técnica do processo produtivo vegetal e suinícola
e na relação entre as agroindústrias e as pequenas unidades de produção, vem
provocando a descapitalização dos pequenos agricultores, a exclusão e o êxodo
rural. Na agricultura a “modernização conservadora”, tendo por base o pacote da
revolução verde e na suinocultura a “modernização seletiva6”, trouxeram sérias
dificuldades
para
os
pequenos
agricultores.
Nesses
processos
o
Estado
desempenhou um papel fundamental, principalmente através do crédito a juros
subsidiados. Na área econômica, destaca-se a perda de competitividade na
produção de grãos para as grandes áreas mecanizadas e a transferência de
praticamente toda a renda agrícola, para os setores a montante e a jusante da
propriedade.
Na suinocultura, como consequência das transformações, houve aumento na
escala de produção, especialização da atividade e grande número de produtores
excluídos. Para exemplificar, no Rio Grande do Sul, de acordo com o Censo
Agropecuário, em 1970, 315.236 produtores informaram que comercializavam suíno,
em 1996, este número baixou para 80.291 produtores. Em Santa Catarina, baseado
6
Diz-se que a modernização foi seletiva porque, devido às diferenças de ordem técnica e econômica
existentes entre as diversas propriedades, a modernização não atingiu igualmente a todos os
agricultores (Mello, 1998).
75
na mesma fonte, em 1970, comercializavam suíno, 139.082 produtores, em 1996,
haviam apenas 45.714 produtores. Isso mostra que em 25 anos, no RS e em SC a
suinocultura deixou de ser fonte de renda para 234.945 e 93.368 produtores,
respectivamente. Ainda, em relação a esse aspecto, conforme ALTMANN (1997),
em 1979 registravam-se em Santa Catarina cerca de 50 mil produtores rurais que
tinham na suinocultura a principal fonte de renda, número que, segundo estimativas
da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, em 1997, estava reduzido a 25
mil, dos quais cerca de 15.800 são vinculados à indústria.
Devido a isso, a atividade leiteira adquire grande importância como alternativa
econômica para as pequenas unidades de produção familiar, vindo, de certa forma,
substituir a lacuna deixada pela suinocultura, dentro da lógica da produção
diversificada. Desta forma, grande parte das pequenas unidades produtivas
transformaram a atividade leiteira, que era basicamente de subsistência, para uma
atividade comercial, representando importante fonte de renda.
A evolução da atividade leiteira nas microrregiões pode ser analisada através
dos dados do Censo Agropecuário de 1975 e 1995/96. Na microrregião de Erechim,
considerando somente os dados dos municípios que coincidem com a área de
abrangência da atual microrregião, tem-se que, em 1975, a produção total de leite foi
de 42,47 milhões de litros/ano e a quantidade comercializada de 12,92 milhões de
litros/ano, representando 30% do total produzido. Já, em 1996, a produção total de
leite foi de 97,21 milhões de litros/ano e a quantidade comercializada de 68,31
milhões de litros/ano, representando 70% do total produzido. Quanto ao
crescimento, constata-se que, no período, a quantidade de leite vendida cresceu 5,2
vezes. Na microrregião de Chapecó, também considerando somente os dados dos
municípios que coincidem com a área de abrangência da atual microrregião, tem-se
no ano de 1975, uma produção total de leite de 44,15 milhões de litros/ano e uma
quantidade comercializada de 6,07 milhões de litros/ano, representando 13% do
total produzido. Já, em 1996, a produção total de leite foi de 145,24 milhões de
litros/ano e a quantidade comercializada de 98,79 milhões de litros/ano,
representando 68% do total produzido. Quanto ao crescimento, constata-se que, no
período, a quantidade de leite vendida cresceu 16,2 vezes. Esses dados mostram
que, efetivamente, a atividade leiteira adquire grande importância como alternativa
econômica para os agricultores dessas microrregiões.
76
9.1.2 MICRORREGIÃO DE ERECHIM
O
clima dessa microrregião, de maneira
geral, de acordo com
o
Levantamento... (1973), pode ser classificado como Cfa. Segundo Köeppen, Cfa é
clima subtropical constantemente úmido, sem estação seca, com verão quente
(temperaturas
média
do
mês
mais
quente
>
22,0ºC).
Conforme
o
Macrozoneamento... (1994), a temperatura média anual, das sub-regiões 5B e 7B,
onde a microrregião de Erechim está inserida, varia de 17 a 19ºC. A temperatura
média das máximas varia de 22 a 28ºC, e das mínimas de 11 a 14,0ºC. A
precipitação pluviométrica anual, pode variar de 1.600 a 1.800mm, com o total de
dias de chuva entre 90 e 120 dias.
Os solos estão situados dentro da Formação Serra Geral geológica,
pertencente ao grupo denominado São Bento, constituída basicamente por rochas
vulcânicas oriundas do vulcanismo basáltico que alcançou a superfície através de
fendas existentes na crosta durante o Juro-Cretáceo. Os derrames de lavas da
formação Serra Geral atingiu o sul do Brasil, norte do Uruguai, leste da Argentina e
Paraguai, ocupando uma área em torno de 1.200.000 km², com espessura média de
650m (Zoneamento..., 1999). No RS, conforme o Levantamento... (1973), mais de
60% da área do Estado foi coberta por esse evento vulcânico. Devido ao
intemperismo e pelas fases dos derrames ocorridos, a cobertura pedológica na
microrregião, segundo UBERTI (2001), é formada pelos solos: Latossolo Vermelho
Distroférrico
(classificação
anterior
Latossolo
Roxo),
Nitossolo
Vermelho
Eutroférrico/Distroférrico (Terra Roxa) e Neossolo Litólico Eutroférrico/Distroférrico
(Solos Litólicos).
Os Latossolos são solos argilosos e muito profundos. Situam-se em relevo
ondulado e não apresentam pedregosidade. Possuem baixa capacidade de troca de
cátions (CTC), teor de matéria orgânica médio, alto teor de potássio e muito baixo de
fósforo. São solos ácidos e apresentam médio teor de alumínio trocável. Os
Nitossolos são solos argilosos de boa profundidade. Quando eutróficos ocorrem em
relevo acidentado e não apresentam problema de acidez e alumínio trocável.
Possuem teor de matéria orgânica médio, alto teor de potássio e baixo de fósforo.
Os Neossolos são solos pouco desenvolvidos, rasos, com seqüência incompleta de
horizontes e muito pedregosos. Apresentam altos valores de CTC e potássio; teores
baixos a médios de fósforo e nulos de alumínio trocável. Situam-se em relevo
77
predominante forte ondulado e montanhoso e ocorrem na paisagem associados aos
Nitossolos.
Pelo Censo Agropecuário 1995/96, a microrregião de Erechim (figura 1) é
composta por 25 municípios, com uma área de 5.922 km², representando 2% do
território gaúcho. De acordo com a Sinopse Preliminar Censo (2000), a população da
microrregião é de 216.788 habitantes, sendo a população rural de 76.478 (35%) e
urbana de 140.310 (65%), representando 2,1% da população do Estado. Em relação
à população urbana x rural, se analisarmos os dados não contabilizando as
populações dos municípios de Erechim, Estação e Getúlio Vargas, tem-se 38%
(39.380) da população residindo na área urbana e 62% (64.399) na área rural. Isso
porque Erechim é o município pólo da microrregião, com uma população total de
90.332 habitantes, sendo 90% urbana e 10% rural. Os municípios de Getúlio Vargas
e Estação, mesmo com menor número total de habitantes de 16.509 e 6.228,
respectivamente, apresentam a mesma tendência quanto ao local de moradia da
população.
Na análise do êxodo rural no Estado do Rio Grande do Sul, utilizaram-se os
dados da população total, urbana e rural referente ao ano de 1980 e 2000, conforme
o Censo Demográfico de 1980 e a Sinopse Preliminar do Censo de 2000. Em 1980,
a população total do Estado foi de 7.773.837 habitantes, a urbana de 5.250.940
(68%) e a rural de 2.522.897 (32%), e em 2000, a população total foi de 10.181.749,
a urbana de 8.312.899 (82%) e a rural de 1.868.850 (18%). No período, observa-se
que a população total cresceu 30,97%, a urbana 58,31% e a rural decresceu
25,92%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total
(30,97%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de
3.304.238 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de
1.868.850 pessoas, isso mostra que no RS, nos últimos 20 anos, 1.435.388 pessoas
ou 358.847 famílias constituídas com quatro pessoas que poderiam estar residindo
na área rural estão no perímetro urbano das cidades.
Para analisar o êxodo rural da microrregião Erechim utilizou-se a mesma fonte
de dados. Em 1980, a população total da microrregião foi de 164.274 habitantes, a
urbana de 78.029 (48%) e a rural de 86.245 (52%), e em 2000, a população total foi
de 216.788, a urbana de 140.310 (65%) e a rural de 76.478 (35%). Nesse período,
observa-se que a população total cresceu 31,96%, a urbana 79,81% e a rural
decresceu 11,32%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população
78
total da microrregião (31,96%) para a população rural, em 2000, teríamos uma
população rural de 113.808 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma
população rural de 76.478 pessoas, isso mostra que nessa microrregião, nas últimas
duas década, 37.330 pessoas que poderiam estar residindo na área rural estão nas
cidades. Esse êxodo, se comparado com a população rural média dos 25 municípios
da microrregião (3.059 habitantes, em 2000), eqüivale a população rural de 12
municípios. Outro aspecto a se ressaltar é o crescimento da população urbana do
município de Erechim. Em 1980, a população urbana foi de 47.822 habitantes, e em
2000, foi de 82.018, representando um crescimento de 71,50%. Se considerarmos a
mesma taxa de crescimento da população total da microrregião (31,96%), para a
população urbana de Erechim, em 2000, teríamos uma população urbana de 63.105
habitantes. Como os dados de 2000, registraram uma população urbana de 82.018
pessoas, pode-se dizer que, nos últimos 20 anos, 18.913 pessoas ou 4.700 famílias
constituídas com quatro pessoas foram morar na área urbana de Erechim.
Em relação à estrutura fundiária a microrregião de Erechim se caracteriza pela
existência de pequenos estabelecimentos rurais. O número de estabelecimentos
agropecuários,
por
estrato
de
área,
e
o
percentual
correspondente
de
estabelecimentos e área, estão na tabela 23.
Tabela 23 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área da microrregião de Erechim
Estrato de área
Estabele-
Estabele-
Área
Área
(ha)
cimentos
cimentos
(nº)
(%)
(ha)
(%)
Menos de 10
5.017
24,35
26.571
5,55
10 a menos de 20
7.479
36,31
103.614
21,63
20 a menos de 50
6.629
32,18
191.959
40,07
50 a menos de 100
1.130
5,48
72.588
15,15
100 a menos de 200
215
1,04
27.710
5,78
200 a menos de 500
92
0,45
27.847
5,81
500 a menos de 1000
30
0,14
19.346
4,04
Mais de 1000
7
0,03
9.364
1,95
478.999
99,98
Total
20.599
99,98
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96.
79
Na tabela 23, observa-se que 60,66% dos estabelecimentos possuem menos
de 20 hectares e 92,84% possuem menos que 50 hectares. Isso evidencia a
pequena disponibilidade de área para a grande maioria dos agricultores dessa
microrregião.
Observa-se
também,
que
mesmo
sendo
uma
microrregião
caracterizada por pequenas propriedades rurais, os estratos acima de 50 ha
representam 7,14% dos estabelecimentos, com 32,73% da área total. De modo
geral, a pequena disponibilidade de terra leva o agricultor adotar uma conduta de
diversificação de atividades tendo em vista a redução dos riscos climáticos e
econômicos e a melhor utilização da terra. Por isso, esses agricultores realizam uma
agricultura diversificada. A característica de produção diversificada é ressaltada por
WANDERLEY (1995), nos estudos realizados sobre agricultura familiar na região do
Cariri, na Paraíba, no município de Leme, em São Paulo e Ijui, no Rio Grande do
Sul, onde constatou que a diversificação das atividades se constitui numa das
principais características utilizada pelos agricultores e que a diversificação se
destina, não só a ampliar o leque de produtos a serem comercializados, mas
também para garantir o autoconsumo.
Ainda, em relação a estrutura fundiária, na tabela 24, estão os dados
referente ao município de Gaurama. Isso porque o nosso trabalho no Estado do Rio
Grande do Sul foi desenvolvido nos municípios de Gaurama e Erechim e esses
municípios apresentam uma estrutura fundiária semelhante.
Tabela 24 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área do município de Gaurama
Estrato de área
Estabele-
Estabele-
Área
Área
(ha)
cimentos
cimentos
(nº)
(%)
(ha)
(%)
Menos de 10
214
24,48
1.091
6,43
10 a menos de 20
333
38,10
4.572
26,96
20 a menos de 50
276
31,58
7.673
45,24
50 a menos de 100
45
5,15
2.783
16,41
100 a menos de 200
5
0,57
589
3,47
200 a menos de 500
1
0,11
250
1,47
16.959
99,98
Total
874
99,99
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96.
80
Na tabela 24, observa-se que 62,58% dos estabelecimentos possuem menos
de 20 hectares e 94,16% possuem menos que 50 hectares. Os dados mostram que
o município de Gaurama tem uma estrutura fundiária muito semelhante a da
microrregião de Erechim.
Em relação à atividade leiteira, conforme o Censo Agropecuário 1995/96, na
microrregião de Erechim, foram 15.756 produtores que informaram produzir leite,
com rebanho médio de 3,44 vacas por produtor e produção média de 4,90 litros por
vaca dia. Os dados mostram que 43% do rebanho encontra-se em propriedades
com área de até 20 ha, responde por 41% da produção e envolve 8.820 produtores.
Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento, tem-se que as
propriedades com até 10 vacas possuem 92% do rebanho, produzem 90% da
produção e envolvem 15.467 produtores, ou seja 98% do total. Quanto à
abrangência, a atividade leiteira está presente em 76% dos estabelecimentos rurais
da microrregião. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 9.185
(59%) informaram que comercializavam o produto. Isso mostra a importância que a
atividade leiteira tem para as pequenas unidades de produção dessa microrregião.
Para analisar a estratificação da produção leiteira da microrregião de Erechim,
citam-se os dados do número de produtores e quantidade de leite que cada produtor
entrega na Cooperativa Tritícola Erechim Ltda (COTREL) e na Cooperativa dos
Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda (COPERAL), conforme tabela 25.
Tabela 25 – Número de produtores, quantidade de leite recebida e percentuais
correspondentes a cada estrato de recepção
Estrato de recepção
Produtores
Produtores
Recepção
Recepção
(litros)
(nº)
(%)
(litros / mês)
(%)
1- 500
1.534
39,80
456.333
12,39
501 – 1000
1.287
33,39
918.484
24,95
1001 – 1500
481
12,48
582.054
15,81
1501 – 2000
219
5,68
377.859
10,26
+ 2001
333
8,64
1.346.977
36,58
3.854
99,99
3.681.707
99,99
Total
Obs: Os dados da COTREL referem-se ao mês de março/2001 e os da COPERAL, ao mês
de fevereiro/2001. Dos 25 municípios que compõem a microrregião de Erechim, a COTREL,
atua em 20 municípios e a COPERAL em 19.
81
Na tabela 25, observa-se que os produtores que entregam até 1.500 litros de
leite/mês (50 litros/dia) representam 85% do total dos produtores e respondem por
53% da quantidade total recebida pelas duas cooperativas.
9.1.3 MICRORREGIÃO DE CHAPECÓ
O clima dessa Microrregião, de maneira geral, de acordo com o Zoneamento...
(1999), pode ser classificado como Cfa. A temperatura média anual varia de 17,9 a
19,8ºC. A temperatura média das máximas varia de 25,8 a 27,5ºC, e das mínimas de
12,9 a 14,0ºC. A precipitação pluviométrica total anual, pode variar de 1.430 a
2.020mm, com o total anual de dias de chuva entre 118 e 146 dias. Podem ocorrer,
em termos normais, de 5,0 a 12,0 geadas por ano.
Os solos, conforme a mesma fonte, estão situados dentro da Formação Serra
Geral geológica, pertencente ao grupo denominado São Bento. Em SC, esse evento
vulcânico cobriu em torno de 52% da área do Estado. A cobertura pedológica desta
Microrregião, por estar na mesma área dos derrames de lavas basálticas e ter
condições climáticas semelhantes, é formada pelos mesmos tipos de solos da
microrregião de Erechim.
De acordo com o Censo Agropecuário 1995/96, a microrregião de Chapecó
(figura 1) é constituída por 30 municípios, com uma área de 5.282 km²,
representando 5,5% do território catarinense. A população da microrregião é de
341.048 habitantes, sendo a população rural de 111.829 (33%) e urbana de 229.219
(67%), representando 6,3% da população do Estado (Sinopse Preliminar Censo,
2000). Em relação à população urbana x rural, se analisarmos os dados sem
contabilizar as populações dos municípios de Chapecó, Maravilha, Pinhalzinho e
São Lourenço do Oeste, tem-se 40% (57.892) da população residindo na área
urbana e 60% (85.884) na área rural. Isso ocorre porque Chapecó é o município pólo
da Microrregião, com uma população total de 146.805 habitantes, sendo 92%
urbana e 8% rural. Os municípios de Maravilha, Pinhalzinho e São Lourenço do
Oeste, mesmo com menor número total de habitantes de 18.524, 12.300 e 19.643,
respectivamente, apresentam a mesma tendência quanto ao local de moradia da
população.
82
Na análise do êxodo rural no Estado de Santa Catarina, utilizaram-se os dados
da população total, urbana e rural referente ao ano de 1980 e 2000, conforme o
Censo Demográfico de 1980 e a Sinopse Preliminar do Censo de 2000. Em 1980, a
população total do Estado foi de 3.627.933 habitantes, a urbana de 2.154.238 (59%)
e a rural de 1.473.695 (41%), e em 2000, a população total foi de 5.349.580, a
urbana de 4.211.979 (79%) e a rural de 1.137.601 (21%). No período, observa-se
que a população total cresceu 47,45%, a urbana 95,52% e a rural decresceu
22,80%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total
(47,45%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de
2.172.963 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de
1.137.601 pessoas, isso mostra que em SC, nos últimos 20 anos, 1.035.362
pessoas ou 258.840 famílias constituídas com quatro pessoas que poderiam estar
residindo na área rural estão no perímetro urbano das cidades.
Para analisar o êxodo rural da microrregião de Chapecó utilizou-se a mesma
fonte de dados. Em 1980, a população total da Microrregião foi de 250.716
habitantes, a urbana de 103.411 (41%) e a rural de 147.305 (59%), e em 2000, a
população total foi de 341.048, a urbana de 229.219 (68%) e a rural de 111.219
(32%). No período, observa-se que a população total cresceu 36,02%, a urbana
121,65% e a rural decresceu 24,08%. Se considerarmos a mesma taxa de
crescimento da população total da microrregião (36,02%) para a população rural, em
2000, teríamos uma população rural de 200.364 habitantes. Como a pesquisa
registrou, em 2000, uma população rural de 111.829 pessoas, isso mostra que,
nessa microrregião, nas últimas duas década, 88.535 pessoas que poderiam estar
residindo na área rural estão nas cidades. Esse êxodo, se comparado com a
população rural média dos 30 municípios da microrregião (3.727 habitantes, em
2000), eqüivale a população rural de 23 municípios. Outro aspecto a se ressaltar é o
crescimento da população urbana do município de Chapecó. Em 1980, a população
urbana desse município era de 53.181 habitantes, e em 2000, era de 134.434,
representando um crescimento de 152,78%. Se considerarmos a mesma taxa de
crescimento da população total da microrregião (36,02%), para a população urbana
de Chapecó, em 2000, teríamos uma população urbana de 72.336 habitantes. Como
os dados de 2000, registraram uma população urbana de 134.434 pessoas, pode-se
dizer que, nos últimos 20 anos, 62.098 pessoas ou 15.524 famílias constituídas com
quatro pessoas foram morar na área urbana de Chapecó.
83
Em relação à estrutura fundiária a microrregião de Chapecó se caracteriza pela
existência de pequenos estabelecimentos rurais. O número de estabelecimentos
agropecuários
por
estrato
de
área
e
o
percentual
correspondente
de
estabelecimentos e área estão na tabela 26.
Tabela 26 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área da microrregião de Chapecó
Estrato de área
(ha)
EstabeleEstabelecimentos
Cimentos
(nº)
(%)
Menos de 10
12.173
39,51
10 a menos de 20
11.617
37,71
20 a menos de 50
5.999
19,47
50 a menos de 100
753
2,44
100 a menos de 200
177
0,57
200 a menos de 500
67
0,22
500 a menos de 1000
18
0,06
Mais de 1000
5
0,02
Total
30.809
100
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96.
Área
Área
(ha)
68.711
159.969
170.380
49.299
23.558
20.061
11.500
7.915
511.393
(%)
13,43
31,28
33,32
9,64
4,61
3,92
2,25
1,55
100
Na tabela 26, observa-se que 77,21% dos estabelecimentos possuem menos
de 20 hectares e 96,68% possuem menos que 50 hectares. Isso evidencia a
pequena disponibilidade de área para a grande maioria dos agricultores desta
microrregião. Outro aspecto mostrado pelos dados é que, mesmo sendo uma
microrregião caracterizada pela existência de pequenas propriedades rurais, 3,32%
dos estabelecimentos possuem 21,96% da área total.
Ainda, em relação a estrutura fundiária, na tabela 27, estão os dados referente
ao município de Serra Alta. Isso porque o nosso trabalho no estado de Santa
Catarina foi desenvolvido nos municípios de Serra Alta e Modelo e esses municípios
apresentam uma estrutura fundiária semelhante.
Na tabela 27, observa-se que 76% dos estabelecimentos possuem menos de
20 hectares e 97,68% possuem menos que 50 hectares. Os dados mostram que o
município de Serra Alta tem uma estrutura fundiária muito semelhante a da
microrregião de Chapecó.
84
Tabela 27 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a
cada estrato de área do município de Serra Alta
Estrato de área
Estabele-
Estabele-
Área
Área
(ha)
cimentos
cimentos
(nº)
(%)
(ha)
(%)
Menos de 10
160
33,68
942
12,99
10 a menos de 20
201
42,31
2.743
37,83
20 a menos de 50
103
21,68
2.814
38,81
50 a menos de 100
9
1,89
519
7,16
100 a menos de 200
2
0,42
232
3,20
200 a menos de 500
-
-
Total
475
99,98
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96.
7.251
99,99
Em relação à atividade leiteira, na microrregião de Chapecó, de acordo com
Censo Agropecuário 1995/96, foram 24.519 produtores que informaram produzir
leite, com rebanho médio de 3,27 vacas por produtor e produção média de 4,95 litros
por vaca dia. Os dados mostram que 62% do rebanho encontram-se em
propriedades com área de até 20 ha, respondem por 59% da produção e envolvem
18.251
produtores.
Em
relação
ao
número
de
vacas
ordenhadas
por
estabelecimento tem-se que as propriedades com até 10 vacas possuem 90% do
rebanho, produzem 86% da produção e envolvem 24.020 produtores, ou seja 98%
do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está presente em 79% dos
estabelecimentos rurais da microrregião. Em relação à venda de leite, do número
total de produtores, 12.782 (52%) informaram que comercializavam o produto.
85
Figura 1 – Mapa da Região Sul do Brasil, com destaque para as microrregiões de
Erechim no RS e Chapecó em SC
Microrregião de Chapecó
Microrregião de Erechim
86
CAPÍTULO II
2. METODOLOGIA
2.1 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE LEITE DO DZDR
O estudo e a descrição da proposta de produção de leite à base de pasto
resultante da ação de organizações de agricultores7 e de projetos de extensão
realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da
UFSC, foi realizado tendo-se por base a propriedade da família de Olintho Ficcagna,
localizada no município de Serra Alta – SC (microrregião de Chapecó) e outros
projetos assessorados pelo DZDR no Estado de Santa Catarina.
2.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
O estudo da proposta de produção de leite à base de pasto nessa microrregião
do estado catarinense se deve às semelhanças que essa microrregião tem com a
microrregião de Erechim, quanto às condições edafoclimáticas, a estrutura fundiária
e aos aspectos sócioeconômicos, culturais e étnicos da população. Em relação à
amostragem geográfica na microrregião de Erechim, optou-se pelos municípios de
Erechim e Gaurama, porque pelos dados já citados, os agricultores típicos médios
(quanto à produção de leite, faixa etária do casal, número de pessoas na família e
renda) desses municípios, representam os agricultores típicos médios da
microrregião.
Para realizar os estudos nas propriedades dos municípios de Erechim e
Gaurama, os sistemas de produção de leite foram estratificados em três tipos: a)
sistema intensivo de uso de alimentos no cocho, quando os animais recebem mais
7
Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO), Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural (EPAGRI), Centro Vianei de Educação popular de Lages e prefeituras
de Chapecó, Dionísio Cerqueira, Urupema e São Bonifácio.
87
que cinqüenta porcento (50%) dos alimentos no cocho; b) semi-intensivo, quando os
animais recebem de vinte a cinqüenta porcento (20 - 50%); e c) pastoril, quando os
animais recebem menos de vinte porcento (20%).
Os dados foram coletados nos agricultores típicos médios vinculados à
indústria e dos agricultores não vinculados à indústria. De acordo com PAULILO
(2001), definiu-se que seriam sorteados três agricultores de cada sistema de
produção. Sendo, nove agricultores vinculados à indústria e nove não vinculados à
indústria. Como o sistema pastoril não foi indicado com segurança entre os
agricultores não vinculados à indústria, fez-se somente o sorteio de seis agricultores,
três para cada sistema (intensivo e semi-intensivo).
A escolha dos agricultores vinculados à indústria baseou-se na listagem de
produtores de leite da Cooperativa Tritícola Erechim Ltda (COTREL), da Cooperativa
dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda (COPERAL) e da indústria de laticínio
Trentino Alimentos S/A (CEDRENSE), que atuam nos municípios de Erechim e
Gaurama; na indicação dos agricultores típicos médios em cada sistema de
produção, feita pelos Departamentos Técnicos destas entidades; e, sorteio.
A escolha dos agricultores não vinculados à indústria, baseou-se na listagem
fornecida pelos Escritórios Municipais da EMATER/RS e pelas Secretarias
Municipais da Agricultura dos município de Erechim e Gaurama; na indicação dos
agricultores típicos médios em cada sistema de produção, feita pelos técnicos
dessas instituições; e, sorteio. Das 14 entrevistas realizadas no RS, nove foram
feitas com agricultores vinculados e cinco com agricultores não vinculados à
indústria. Em Santa Catarina foi feita uma entrevista, no município de Serra Alta,
com a família de Olintho Ficcagna.
Para verificar como os agricultores não vinculados à indústria se relacionam
com o mercado, fez-se entrevista com os responsáveis dos estabelecimentos
comerciais e consumidores, que adquiriam produtos destes agricultores. A escolha
dos estabelecimentos comerciais e consumidores baseou-se na listagem fornecida
pelos agricultores que comercializavam leite e/ou queijo e sorteio. Sendo seis
entrevistas realizadas nos municípios de Serra Alta e Modelo, em Santa Catarina e
dez nos municípios de Erechim e Gaurama, no Rio Grande do Sul.
88
2.3 VIAGENS DE ESTUDO E VISITAS TÉCNICAS
Para conhecer e analisar os projetos assessorados pelo DZDR realizamos as
seguintes viagens e visitas técnicas como segue:
a) De 17 a 20 de maio de 2000, visitamos a propriedade da família de Liseu Meier e
o assentamento Conquista na Fronteira, no município de Dionísio Cerqueira e, a
propriedade da família de Olintho Ficcagna, no município de Serra Alta. As visitas
tiveram por objetivo analisar os projetos de produção de leite à base de pasto
desenvolvidos nas propriedades.
b) De 5 a 10 de junho de 2000, fiquei na propriedade da família de Olintho Ficcagna,
tendo por objetivo realizar levantamento de dados e conhecer com maior
profundidade o sistema de produção de leite à base de pasto, processamento,
transformação e comercialização desenvolvido na propriedade.
c) De 29 de agosto a 01 de setembro de 2000, visitamos dois grupos de agricultores
assentados no município de Abelardo Luz, com objetivo de analisar os projetos de
produção de leite à base de pasto desenvolvidos pelas famílias. Na mesma viagem,
visitamos novamente o assentamento Conquista na Fronteira e as propriedades das
famílias de Liseu Meier e de Olintho Ficcagana.
d) Nos dias 11 e 12 de setembro de 2000, visitamos a propriedade da família de
Davi Manfrói, no município de Campos Novos, com objetivo de analisar o sistema de
integração lavoura-pecuária implantado na propriedade. Também, visitamos as
propriedades da família de Antônio Delfis e da família de Deodatto Delfis, no
município de Frei Rogério, tendo por objetivo analisar os projetos de produção de
leite à base de pasto desenvolvidos pelas famílias.
e) No dia 27 de novembro de 2000, visitamos as propriedades da família de João
Herd e da família de José Herd, localizadas no município de Santa Rosa de Lima,
tendo por objetivo analisar os projetos de produção de leite à base de pasto
desenvolvidos nas propriedades.
89
f) Nos dias, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2000, visitamos a propriedade da
família de José Andrade Arruda, localizada no município de Urupema, tendo por
objetivo analisar o melhoramento de campo nativo realizado na propriedade. Na
mesma viagem visitamos a Estação Experimental da EPAGRI de Lages, com
objetivo de analisar trabalhos sobre espécies forrageiras de inverno e de verão
desenvolvidos pela EPAGRI. Também, visitamos as propriedades das famílias de
José Salvador Deliz, Giovani Camargo e José Assis Andrade Branco, localizadas no
município de Lages. As visitas tiveram por objetivo analisar o melhoramento de
campo nativo e/ou naturalizado realizado nas propriedades.
Obs: As visitas técnicas eram agendadas previamente e na sua maioria contavam
com a participação dos técnicos locais das prefeituras municipais, Organizações não
Governamentais (ONGS), dos assentamentos e da EPAGRI.
2.4 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
De acordo com TRIVIÑOS (1992), podemos, em geral, entender por entrevista
semi-estruturada aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo
campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante. Desta forma, o informante, seguindo
espontaneamente sua linha de pensamento, suas experiências dentro do foco
principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo
da pesquisa. Segundo o mesmo autor, para alguns tipos de pesquisa qualitativa a
entrevista semi-estruturada é um dos principais meios que o investigador tem para
realizar a coleta de dados. O autor, privilegia a entrevista semi-estruturada porque
esta, ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as
perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a
espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.
O roteiro de entrevista aos agricultores (anexo 1) foi feito utilizando-se de
questões formuladas no questionário da tese de mestrado de PEREIRA (1999), e
sugestões do professor orientador. Para a elaboração definitiva do roteiro
realizaram-se duas entrevistas preliminares para avaliação das perguntas. Estas,
90
depois foram analisadas e transcritas com os ajustes necessários para a ida
definitiva a campo. Antes de realizar as entrevistas visitaram-se todos os agricultores
sorteados. Essa visita prévia teve por objetivo, colocar ao agricultor o procedimento
de escolha de seu nome, a finalidade do trabalho, o tempo previsto para realizar a
entrevista e o caminhamento na propriedade (em torno de quatro horas), verificar se
o agricultor aceitava ser entrevistado e agendar a data da entrevista. Quando o
agricultor não aceitava ser entrevistado realizava-se novo sorteio. A aplicação dos
questionários e as entrevistas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2001.
Após cada entrevista, no dia posterior, a mesma era transcrita e analisada em seu
conteúdo, com o objetivo de preservar as informações coletadas. Quando
necessário, para dirimir dúvidas, entrava-se em contato com o entrevistado ou
retornava-se à propriedade. As entrevistas em parte foram gravadas, com prévia
autorização dos entrevistados, ao todo foram feitas 12 horas de gravações.
Os roteiros de entrevista aos consumidores (anexo 2) e aos responsáveis
pelos pequenos mercados (anexo 3) foram feitos utilizando-se de questões
formuladas no questionário da tese de mestrado de MENEGUETTI (2000), e
sugestões do professor orientador. Para a elaboração definitiva dos roteiros
realizaram-se duas entrevistas preliminares. Estas, depois de realizadas e
analisadas, foram transcritas com os ajustes necessários para a ida definitiva à
campo. A aplicação dos questionários e entrevistas foram realizadas no mês de
maio de 2001.
Variáveis estudadas:
a) Produtividade: produção de leite / vaca;
b) Econômicas: custo / litro de leite e receita do leite e/ou derivados;
c) Alimentação: espécies forrageiras, manejo das pastagens, uso de silagem e
alimentos concentrados;
d) Ambientais: sistemas de implantação das pastagens, uso de agrotóxicos e manejo
dos dejetos;
e) Percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira: expectativa da atividade,
motivação para o associativismo e assistência técnica;
f ) Comercialização: mercado e aceitação dos produtos das unidades de pequeno
porte.
91
2.5 AVALIAÇÃO SUBJETIVA DE FATORES DE PRODUÇÃO E SOCIAIS
Pelos dados levantados na pesquisa e a experiência prática do pesquisador
que, como engenheiro agrônomo, exerceu a função de extensionista rural pela
ACARESC (Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina), no
município de Maravilha – SC, no período de 1986 a 1989 e pela EMATER/RS
(Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão
Rural), nos municípios de Gaurama – RS, no período de 1990 a 1996 e Erechim –
RS, no período de 1998 e 1999, no ano de 1997, esteve na Embrapa Suínos e Aves,
onde articulou ações de intercâmbio e integração entre a pesquisa e a extensão no
desenvolvimento e transferência de tecnologias de interesse dos produtores do
Estado do Rio Grande do Sul, fez-se uma avaliação subjetiva de fatores de
produção e sociais das famílias entrevistadas para o desenvolvimento do trabalho.
A avaliação subjetiva dos fatores produtivos e sociais foi feita através de notas
numa escala de 1 a 10, representadas por conceitos. A letra D, eqüivale a nota
inferior a 4,0; a letra C, a nota de 4,1 a 6,0; a letra B, a nota 6,1 a 8,0 e a letra A, a
nota acima de 8,1.
92
CAPÍTULO III
3. PROPOSTA DE PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO
Neste capítulo descreve-se a proposta de produção intensiva de leite à base
de pasto, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de
extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da
UFSC, tendo-se por base o projeto piloto implantado na propriedade da família de
Olintho Ficcagna.
A proposta resultante deste trabalho tem por base otimizar as interações e os
processos que ocorrem entre os componentes bióticos e abióticos de determinado
ecossistema. De acordo com GLIESSMAN (2000), “ecossistema é entendido como
um sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos e seu
ambiente, delimitado por fronteiras escolhidas arbitrariamente, as quais, no espaço e
no tempo, parecem manter um equilíbrio dinâmico, porém, estável. Assim, um
ecossistema tem partes físicas com suas relações particulares - a estrutura do
sistema -, que juntas participam de processos dinâmicos - a função do sistema”.
Tendo isso presente, a proposta visa proteger e/ou recompor as matas ciliares
e em declives acentuados, pequenos bosques e manter as áreas de pastagens
nativas e/ou naturalizadas existentes (potreiros), tendo em vista a importância
ecológica, ambiental e produtiva que isso representa para o homem e o
ecossistema.
Segundo diversos autores, “a vegetação campestre foi a primeira cobertura
vegetal que se formou na região sul do Brasil, após os derrames basálticos, há mais
ou menos 30 milhões de anos, sendo portanto, de formação mais antiga do que a
selva pluvial” (RAMBO, 1953; ALONSO, 1997 e LEITE & KLEIN, 1990). A
vegetação, hoje existente, é o clímax do resultado das interações e processos que
ocorreram entre os componentes bióticos e abióticos deste ecossistema. Já as
pastagens naturalizadas, começaram a ser formadas pelos colonizadores há mais
de 125 anos, através de introduções e/ou aparecimento espontâneo de espécies
forrageiras nas área destinadas aos animais. Portanto, as pastagens nativas e/ou
naturalizadas são muito importantes pela diversidade de espécies vegetais que
93
apresentam, e expressam as adaptações e as interações do clima-solo-plantaanimal-homem de um longo tempo. São ecossistemas muito ricos de espécies
vegetais, animais e de vida do solo.
Conforme MIELNICZUK (2001), o solo manejado corretamente pode tornar-se,
ao invés de emissor, um receptor de C02 atmosférico, e desta forma contribuir para
a redução do efeito estufa. As pastagens, tanto perenes como anuais,
desempenham um papel fundamental, pela sua grande eficiência em manter e
aumentar a matéria orgânica do solo. De acordo com o mesmo autor, os melhores
resultados são obtidos com pastagens perenes de gramíneas e leguminosas. No
entanto, pastagens anuais intercaladas com culturas anuais também são eficientes,
quando implantadas em sistema de plantio direto. Para ilustrar, o autor cita dados
experimentais obtidos por LOVATO (1999), em experimento de manejo de solo
conduzido por 13 anos na Estação Experimental da UFRGS, em Eldorado do Sul. O
campo nativo, que em 1970 continha em torno de 79,0 t/ha de matéria orgânica até
a profundidade de 17,5cm, após cultivado com culturas anuais e intenso preparo de
solo, inclusive enxada rotativa até 1985, continha neste ano (1985) em torno de 56,0
t/ha de matéria orgânica. Em 1985 foi iniciado um experimento de manejo de solo
nesse local, envolvendo sistema de preparo de solo e de culturas, incluindo
pastagens anuais. Em 1998, portanto após 13 anos, o sistema aveia + ervilhaca /
milho + feijão miúdo, implantadas em semeadura direta, aumentou a matéria
orgânica do solo em aproximadamente 11,0 t/ha. Isso mostra a importância que as
pastagens têm, quando adequadamente manejadas, no seqüestro do CO2
atmosférico. Segundo MACHADO (2000), 1 g de matéria orgânica fixa 3,6 g de
carbono.
Em relação à vida do solo, a matéria orgânica é um dos componentes
fundamentais da capacidade produtiva, devido aos efeitos sobre a disponibilidade de
nutrientes, a capacidade de troca de cátions do solo, a complexação de elementos
tóxicos e micronutrientes, a agregação do solo, a infiltração e a retenção de água, a
aeração, e a atividade e biomassa microbiana. Por isso, o campo nativo e
naturalizado deve servir de base quando se quer melhorar os atuais sistemas de
produção. Para tanto, é importante manter os bosques naturais e matas ciliares
existentes, e não lavrar as pastagens para implantar outras espécies forrageiras.
Além, das pastagens existentes serem mais adaptadas às condições de solo, clima
e fertilidade, quando lavra-se a terra, rompe-se a estrutura física do solo e expõe-se
94
o mesmo à compactação e ao processo erosivo. O revolvimento do solo acelera o
processo de oxidação da matéria orgânica, altera a atividade microbiana, diminui a
biomassa, rompe com os agregados, modifica a estrutura, reduz a porosidade,
intensifica o processo erosivo e inibe o ciclo do etileno. Desta forma, as pastagens
nativas e/ou naturalizadas constituem-se em ecossistemas importantíssimos para o
homem na produção de alimentos e matérias-primas, porém, devem ser utilizadas
dentro de seus potenciais produtivos.
O objetivo é otimizar os potenciais produtivos e não maximizar a produção com
grande dependência de insumos de síntese química, que exige altos investimentos e
provoca desequilíbrio no ecossistema. Nesse contexto, deve-se maximizar o uso do
principal insumo disponível no ecossistema, a energia solar.
A proposta tem como base a divisão das áreas dos potreiros; manejo
adequado das pastagens; redução do uso de insumos nas áreas de pastagens, de
agrotóxicos, de medicamentos e de outros contaminantes; introduções nas
pastagens
de
espécies
leguminosas
e/ou
gramíneas;
quando
necessário,
implantação de pastagens perenes; uso de animais adaptados à produção de leite à
base de pasto e processamento, transformação e comercialização, principalmente
de leite e queijo no mercado local.
3.1 HISTÓRICO DA FAMÍLIA
A propriedade onde reside a família de Olintho Ficcagna (figura 2) pertence à
mãe de Olintho, que no ano de 1950, junto com seu esposo e um filho, migraram do
Estado do Rio Grande do Sul para a região Oeste de Santa Catarina. Primeiro
fixaram-se onde hoje situa-se a cidade de Modelo e posteriormente estabeleceramse na atual propriedade, localizada no município de Serra Alta. Na fase inicial, a
produção foi organizada visando atender a subsistência da família e comercialização
dos excedentes de feijão e de suínos. Por um período de 25 anos a suinocultura foi
a principal fonte de renda da família. Mas, devido as profundas transformações
ocorridas na base técnica do processo produtivo, na relação entre as agroindústrias
e os produtores e aos problemas relacionados com a peste suína africana, a família
teve sérias dificuldade e abandonou a atividade. Com o passar dos anos,
gradativamente, seis dos oito filhos do casal deixaram a agricultura em busca de
95
alternativas que pudessem sustentar as suas respectivas famílias. Principalmente,
porque as atividades desenvolvidas na propriedade de 39 ha, não absorviam toda a
mão-de-obra disponível e não geravam renda suficiente para aquisição de mais
terra. Devido ao abandono da suinocultura, os componentes da família que
permaneceram na propriedade, decidiram ampliar e melhorar a atividade leiteira
existente.
A partir dos anos 90, a abertura da economia brasileira e a integração
regional do Mercosul, diminuíram ainda mais a capacidade competitiva das
pequenas unidades de produção. Na tentativa de superar estas dificuldades, por
incentivo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e do professor Jaci Polli, a família
participou de um grupo de produção composto por sete famílias, onde coletivizaramse algumas atividades agrícolas. Após dois anos o grupo fragmentou-se, passando a
ser integrado por três famílias, socializando-se todas as atividades produtivas. A
organização do grupo previa que cada família realizasse uma atividade produtiva em
sua respectiva propriedade, sendo que à família de Olintho coube a atividade
leiteira.
A partir do ano de 1993, com apoio da Associação dos Pequenos Agricultores
do
Oeste
Catarinense
(APACO)
e
do
Departamento
de
Zootecnia
e
Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a
coordenação do professor Mário Luiz Vincenzi, implantou-se na propriedade da
família de Olintho, o projeto piloto de produção de leite à base de pasto,
processamento, transformação e comercialização do leite e queijo, diretamente aos
consumidores, no mercado local, dos municípios de Serra Alta e Modelo. Todavia,
no ano de 1998 as atividades deixaram de ser integradas, extinguindo-se o grupo de
produção e voltando cada família à produção individualizada em seu respectivo
grupo familiar. O projeto teve continuidade e hoje a atividade leiteira é a única fonte
de renda agrícola da família Ficcagna.
96
Figura 2 – Esquerda para direita: Valmir Dartora e a Família de Olintho Ficcagana
(Olintho, Ana, Rodrigo, Lourdes e Eliane). Serra Alta/SC. 31/08/00.
Cristine Lopes de Abreu
3.2 ESTRUTURA DE PRODUÇÃO
A propriedade atualmente possui uma área total de 31,0 ha, dos quais, 17,0
ha são de pastagens e 5,0 ha são destinados ao cultivo de milho para produção de
complemento alimentar para o gado. O milho é usado como alimento complementar
para as vacas em produção e terneiras, e serve como reserva de alimento para os
animais em período de escassez de pasto. Em relação as instalações a propriedade
possui centro de ordenha, sala para pasteurização do leite, fabricação de queijo e os
equipamento necessários para operacionalizar estes serviços.
97
3.3 ALIMENTAÇÃO
Esta é a preocupação básica da proposta. A produção de leite à base de
pasto exige dos agricultores a adoção de um plano forrageiro, com espécies perenes
e anuais de inverno e de verão que se complementam, no sentido de produzir
quantidade e qualidade de forragem o ano todo. Mas, o âmago da questão, o
fundamental, é o manejo do pasto. Este deve ser conduzido de forma criteriosa
seguindo os princípios enunciados por André Voisin, em suas quatro Leis Universais
do Pastoreio Racional. Porém, o comandante deste processo deve ser o agricultor, e
este, antes de tudo, precisa ser um agricultor-pastor. Esta deve ser a principal
função, a maior dedicação e a grande habilidade dos agricultores na produção de
leite à base de pasto.
3.3.1 CAMPO NATURALIZADO
Na propriedade da família Ficcagana, os 8,15 ha de campo naturalizado
(potreiros), foram melhorados mantendo-se os bosques, as árvores e a pastagem
existente. Além da importância ecológica, os bosques e as árvores servem como
locais de sombra e abrigo para os animais. As áreas dos potreiros, foram divididas
em 41 piquetes e a pastagem passou a ser manejada pelo método de Pastoreio
Racional Voisin. No primeiro ano, em dois piquetes, com área total de 0,65 ha, foi
introduzido trevo branco. Antes da semeadura do trevo branco, na área foi aplicado
calcário e na semeadura cama de aviário. A adubação de manutenção é feita com
adubo mineral (9-33-12), na dose de 50 kg por hectare/ano. Após, em mais cinco
piquetes, com área total de 0,52 ha, foi introduzido trevo branco, utilizando-se as
mesmas práticas de correção e adubação do solo. O calcário e o adubo foram
aplicados na superfície e a introdução da leguminosa foi feita, através de
sobressemeadura, com objetivo de preservar a vegetação existente e as condições
do solo. As leguminosas são muito importantes para o sistema de produção, porque,
além de melhorarem a quantidade e a qualidade da forragem, adicionam nitrogênio
ao sistema, através da fixação simbiótica. Após oito anos da implantação do projeto
o agricultor destaca a evolução das pastagens naturalizadas, citando a ocorrência
de outras espécies na área, principalmente o capim quicuio e azevém e o grande
98
aumento na produção de forragem dos potreiros (figura 3). A ocorrência destas
espécies indica que as práticas e o método de pastoreio adotado proporcionam
condições para que espécies mais exigentes em fertilidade possam estar presentes
na composição florística da pastagem.
Figura 3 – Área de pastagem naturalizada (potreiro) manejada através do PRV, na
propriedade da família de Olintho Ficcagana. 01/09/00.
Valmir Dartora
3.3.2 PASTAGENS
3.3.2.1 PERENES DE VERÃO
As pastagens perenes são o pilar da proposta difundida pelo DZDR, porque
apresentam menor custo de produção e, se bem manejadas, são persistentes. Além
disso, apresentam maior período de pastoreio, suportam mais as adversidades
climáticas e expõe menos o solo à erosão. De modo geral, são menos exigentes em
fertilidade do solo e muito adaptadas ao pastoreio, devido aos hábitos de
crescimento e a forma de propagação vegetativa. No projeto, as espécies forrageiras
99
perenes de verão implantadas foram: capim elefante, grama missioneira gigante e
hemartria. O capim quicuio já existente em alguns piquetes de pastagem
naturalizada foi valorizado e está sendo disseminado via bosta para as outras áreas
de pastagem.
a) O capim elefante foi implantado há seis anos na propriedade e ocupa uma área
de 2,02 ha. Na implantação não foi aplicado calcário nem adubo. A área de capim
elefante é dividida em 14 piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional
Voisin. Devido a alta produção de forragem desta espécie e como consequência
grande demanda na quantidade de nutrientes, no período de inverno, na área é
introduzida ervilhaca. A introdução de ervilhaca é feita por sobressemeadura e
tem por objetivo incorporar nitrogênio ao solo, através da fixação biológica e
proporcionar forragem de alta qualidade na primavera. A figura 4, mostra uma
área de capim elefante com ervilhaca. Além desta prática, quando possível a área
é adubada com cama de aviário, na dose de 3,0 toneladas por hectare / ano. Até
o momento, nesta área não foi aplicado calcário.
Figura 4 – Área de capim elefante com ervilhaca, na propriedade da família de
Olintho Ficcagana. 01/09/00.
Valmir Dartora
100
b) A grama missioneira gigante foi implantada na propriedade há cinco anos e ocupa
uma área de 0,80 ha. Parte desta área está localizada na meia encosta adjacente
à capoeira, onde a declividade é mais acentuada e a outra parte em revelo
praticamente plano. A área com esta forrageira é dividida em quatro piquetes e
utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Na implantação e até o momento,
não foi aplicado, nesta área, calcário, nem adubo.
c) A grama hemartria, variedade Flórida, foi implantada na propriedade há cinco
anos, está localizada na meia encosta, onde a declividade é mais acentuada e
ocupa uma área de 0,64 ha. A área com esta forrageiras é dividida em quatro
piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Na implantação e até o
momento, não foi aplicado, nesta área, calcário, nem adubo.
3.3.2.2 PERENES DE INVERNO
As pastagens perenes de inverno são fundamentais dentro de um plano
forrageiro que busca produzir quantidade e qualidade de pasto o ano todo. Primeiro,
por produzirem em época de escassez de pasto, segundo, por produzirem forragem
de alta qualidade e, terceiro, porque principalmente as leguminosas proporcionam
um aumento no consumo de forragem mais fibrosa pelos animais. Além disso, as
leguminosas contribuem, decisivamente, no melhoramento das pastagens, ativam a
biocenose do solo, entre outros aspectos, como por exemplo, a atividade micorrizica.
No projeto a pastagem perene de inverno implantada foi a consorciação de azevém
x trevo branco x trevo vermelho (figura 5). Embora, a consorciação tenha espécie
anual (azevém) e bianual (trevo vermelho), Bromus catharticus, trevo vesiculoso
(anual), ervilhaca e espécies de Paspalum perenes, na composição, a pastagem
torna-se perene, através de ressemeadura natural.
a) Trevo branco: Apresenta hábito de crescimento prostrado e estolonífero. Esta
característica é muito importante para a planta quando utilizada em áreas de
pastoreio intensivo. Quanto à duração, as plantas são perenes. Porém, em
condições de verões quentes e secos comporta-se como anual, de ressemeadura
natural.
101
Figura 5 – Área de pastagem consorciação de azevém x trevo branco x trevo
vermelho, com animais em pastoreio, na propriedade da família de Olintho
Ficcagana. 09/06/00.
Valmir Dartora
b) Trevo vermelho: Apresenta hábito de crescimento ereto a decumbente e sistema
radicular caracterizado por uma raiz principal pivotante. É uma espécie bienal e se
o ambiente é favorável, a planta persiste por alguns anos. Nos climas mais
quentes, o ciclo da planta reduz de maneira a se comportar como anual. Porém,
pode perenizar por ressemeadura natural.
Na propriedade, a consorciação de azevém x trevo branco x trevo vermelho, foi
implantada há cinco anos e ocupa uma área de 2,97 ha. Na implantação foi
aplicado calcário e cama de aviário. A adubação de manutenção da área é feita
com cama de aviário, na dose de 1,5 toneladas por hectare / ano. O uso de cama
de aviário nas áreas de pastagem com trevos não é recomendação do DZDR.
Nessas áreas o DZDR tem recomendado o uso de adubos à base de fosfato
natural. A área com estas forrageiras é dividida em 20 piquetes e utilizada através
do Pastoreio Racional Voisin. Nos piquetes onde o azevém apresenta pequeno
desenvolvimento
inicial
e/ou
baixa
densidade
de
plantas
é
feito
a
102
sobressemeadura de aveia preta e/ou triticale. No ano de 2000 esta prática não
foi utilizada.
3.3.2.3 ANUAIS DE INVERNO
As pastagens anuais de inverno têm grande importância na sucessão das
lavouras anuais de verão. Pois, além de exercerem efeito de cobertura do solo no
inverno beneficiando a produção de grãos, produzem forragem de alta qualidade na
estação fria. As principais possibilidades de sucessão lavoura x pastagem são:
quando a lavoura de verão for uma leguminosa (soja, feijão...), no inverno utiliza-se
aveia preta e/ou azevém, como pastagem; quando a lavoura de verão for uma
gramínea (milho, sorgo...) no inverno utiliza-se ervilhaca ou trevo vesiculoso
consorciado com aveia preta e azevém, como pastagem. O azevém é a espécie
forrageira anual de inverno utilizada no projeto.
a) Azevém: existem duas espécies, anual e perene. A espécie espontânea que
ocorre na região sul do Brasil é anual e se pereniza, através de ressemeadura
natural. O azevém é uma forrageira de alta qualidade, boa produção e
palatabilidade. Na propriedade a sucessão lavoura x pastagem é feita em 2,13 ha.
Nessa área o azevém é mantido, através de ressemeadura natural, em sucessão
com a cultura de milho. Para otimizar o sistema produtivo com reduzido uso de
insumos externos, nessa área o DZDR tem recomendado introduzir ervilhaca
junto com o azevém. A área de azevém é dividida em 13 piquetes e utilizada
através do Pastoreio Racional Voisin. Nesta área a cada seis anos é aplicado
calcário e a adubação do azevém é feita com adubo mineral, na dose de 50 kg
por hectare / ano.
No total a propriedade possui uma área de 16,71 ha com pastagem, dividida
em 96 piquetes. O rebanho, atualmente, é composto por 57 animais, dos quais 22
são vacas e destas 19 estão em lactação. Considerando a estimativa de 36,12
unidades animais (UA) para o rebanho e área de pastagem de 16,71 ha, tem-se com
resultado uma lotação de 2,16 UA por hectare.
103
3.3.3 OUTROS ALIMENTOS
As terneiras até os 90 dias de idade recebem em média 0,55 kg / animal / dia
de ração comercial granulada, totalizando 50 kg / cabeça. Dos 90 dias até os seis
meses de idade recebem em média 1,6 kg / animal / dia de ração feita na
propriedade, composta por farelo de soja (20 kg), milho desintegrado palha e sabugo
(rolão de milho, 79 kg) e sal mineral (1 kg).
Além das pastagens, as vacas em lactação recebem como complemento
alimentar farelo de trigo e/ou rolão de milho misturado com farelo de soja e sal
mineral. No total as vacas recebem em média 3,6 kg / animal /dia de alimentos
concentrados, sendo 0,60 kg de farelo de trigo e 3,0 kg de ração composta por farelo
de soja (21 kg), rolão de milho (77 kg) e sal mineral (2 kg).
3.4 MANEJO DAS PASTAGENS E DOS ANIMAIS
Os animais são divididos em três lotes: o lote de vacas em lactação; o lote de
vacas secas, novilhas com peso ou idade de cobertura e o touro; e, o lote de
terneiras com mais de seis meses e de novilhas que não têm peso nem idade para
cobertura. O lote das vacas em lactação, preferencialmente utiliza as pastagens de
capim elefante e as pastagens perenes e anuais de inverno e, eventualmente, as
pastagens de missioneira gigante e hemartria. As pastagens perenes e anuais de
inverno são pastoreadas pela parte da manhã, porque os piquetes não possuem
água nem sombra. À tarde e/ou à noite as vacas em lactação ficam na área de
pastagem do campo naturalizado, onde a maioria dos piquetes possuem sombra e
água. O capim elefante é utilizado para pastoreio à noite, porque só tem um ponto
de água e nos piquetes não tem sombra. Quanto a água, na figura 6, mostra-se um
tipo de bebedouro móvel, prático e de baixo custo. O lote de vacas secas, novilhas
com peso ou idade de cobertura e o touro, e o lote de terneiras com mais de seis
meses
e
de
novilhas
que
não
têm
peso
nem
idade
para
cobertura,
preferencialmente, utilizam as pastagens do campo naturalizado e quando
necessário as pastagens de missioneira gigante e hemartria. Na área das pastagens
de missioneira gigante e hemartria, os piquetes não têm água, nem sombra. Na
propriedade as áreas das pastagens foram divididas com critério e são utilizadas
104
pelo método de Pastoreio Racional Voisin, com observância de tempos de ocupação
e de repouso adequados. A falta de água na maioria dos piquetes é uma dificuldade
para manejar adequadamente os animais, por isso o DZDR tem recomendado à
família priorizar este investimento.
Figura 6 – Bebedouro móvel utilizado na propriedade da família de Liseu Meier
localizada no município de Dionísio Cerqueira/SC. 18/05/00.
Valmir Dartora
3.5 CRIAÇÃO DAS TERNEIRAS
O aleitamento das terneiras através da vaca-ama orientado pelo DZDR,
preconiza que a terneira seja enxertada em uma vaca com prenhez confirmada e no
terço final da lactação. Dependendo da produção de leite a vaca poderá amamentar
uma, duas ou até três terneiras. Após o processo de “enxertia” a vaca e as terneiras
adotivas são colocadas num potreiro específico. Esse método foi orientado em todos
os projetos assessorados pelo DZDR, mas de modo geral, os agricultores
encontraram dificuldades de realizar a “enxertia” das terneiras nas vacas. Porém,
perceberam as vantagens do método e desenvolveram um manejo alternativo que
105
consiste em deixar as vacas-ama no mesmo lote das vacas em lactação e as
terneiras em um potreiro específico. No momento da ordenha as vacas-ama são as
últimas a entrarem na sala e ou invés de serem ordenhadas são colocadas as
terneiras para mamar. Nesse manejo raramente a vaca “refuga” a terneira.
Na propriedade de Olintho Ficcagna, as terneiras são criadas em gaiolas
móveis, numa área de pastagem naturalizada próxima a residência da família.
Nascimento da(o) terneira(o): o parto é acompanhado e as intervenções são feitas
somente quando necessário. Logo após o parto deixa-se a vaca lamber a cria,
quando necessário auxilia-se na limpeza e secagem. Imediatamente após orienta-se
a(o) terneira(o) a mamar o colostro. No primeiro dia a(o) terneira(o) fica junto com a
vaca. A partir do segundo dia a(o) terneira(o) vai para a gaiola móvel, onde continua
o aleitamento até os 60 dias, através do sistema vaca-ama (figura 7). Este sistema
consiste em levar uma vaca ou mais, até as gaiolas móveis para a(o) terneira(o) ou
as(os) terneiras(os) mamarem. Nos primeiros cinco a sete dias a vaca-mãe é levada,
três vez ao dia, até a gaiola móvel para a(o) terneira(o) continuar mamando o
colostro. Depois deste período o terneiro (macho) é vendido ou doado. Para
continuar o aleitamento da(s) terneira(s), seleciona-se uma vaca ou mais,
dependendo da necessidade, que estejam no terço final da lactação e tenham
prenhez confirmada e, leva-se, duas vez ao dia, até a(s) gaiola(s) móvel(eis) para
a(s) terneira(s) mamar(em). A partir do décimo, até os 90 dias, as terneiras recebem
como complemento alimentar ração comercial granulada. Dos 60 dias, até os seis
meses as terneiras são manejas em área de pastagem específica, dividida em
piquetes e recebem como complemento alimentar rolão de milho misturado com
farelo de soja. Após os seis meses elas passam a participar do lote de novilhas que
não têm peso nem idade para cobertura.
106
Figura 7 – Vaca-ama amamentando a(o) terneira(o) na propriedade da família de
Olintho Ficcagana. 09/06/00.
Valmir Dartora
3.6 RAÇA E SELEÇÃO
Para produzir-se leite à base de pasto é necessário ter-se animais adaptados a
estas condições e/ou trabalhar com cruzas de raças, no sentido de obter-se animais
que tenham rusticidade, grande capacidade de ingerir pasto e que sejam produtivos.
Tendo isso presente, o agricultor está utilizando cruzamento entre as raças
Holandês, Jersey e Gir leiteiro. As novilhas sempre são cobertas com touro ou
sêmen da raça Jersey. Nas coberturas subsequentes, dependendo do genótipo do
animal, para os mais azebuados são utilizados touro ou sêmen da raça Holandês,
para os animais com sangue mais europeu são utilizados touro ou sêmen da raça
Gir leiteiro. Atualmente a raça que predomina no plantel é a Holandês cruzada.
Porém, fruto destes novos cruzamentos, já existem novilhas cobertas na
propriedade.
107
3.7 SANIDADE
O manejo adequado dos animais e das pastagens são itens que contribuem
muito na sanidade do rebanho. Outro aspecto importante é trabalhar com animais
adaptados às condições de cada projeto ou propriedade especificamente. A falta de
adaptação pode desencadear sérios, crônicos e insolúveis problemas de sanidade.
Portanto, adotando técnicas de manejo adequadas para as pastagens, para os
animais em todas as fases da criação e trabalhando com animais adaptados, é
possível ter-se animais sadios, com uso mínimo de produtos veterinários.
No entanto, deve-se ter atenção às doenças infectocontagiosas como
tuberculose, brucelose
e
mamite;
aos
endoparasitas
(verminoses) e
aos
ectoparasitas como berne e carrapato, mosca do chifre e miíases (“ bicheiras”).
3.7.1 TUBERCULOSE E BRUCELOSE
No rebanho leiteiro não deve existir animal portador de tuberculose e de
brucelose. No mínimo uma vez por ano, devem ser feitos os testes específicos em
todos os animais e eliminação sumária dos portadores. Para brucelose é
recomendado vacinar as terneiras entre quatro a oito meses de idade. Na
propriedade os testes de tuberculose e brucelose são feitos todos os anos, de
acordo com a recomendação. Outras doenças mais recentes, como a leucose e a
IBR, devem receber os mesmos cuidados. Estas preocupações devem se estender
também aos animais adquiridos, inclusive antes de entraram na propriedade.
3.7.2 MAMITE
A mamite é controlada com alimentação correta, animais adaptados,
instalações e equipamentos de ordenha adequados e principalmente muita higiene e
manejo correto na ordenha. O sistema de aleitamento da terneira também pode ser
importante na prevenção da mamite. Para diagnosticar a mamite deve-se realizar
antes de cada ordenha o teste do caneco de fundo preto e a cada semana o teste da
raquete (CMT -California Mastite Teste). Outra prática que tem contribuído muito na
108
redução de mamite e recomendada pelos professores MACHADO, L.C.P & DA
ROSA, A.C.M. do DZDR, é a imersão dos tetos após cada ordenha numa emulsão
feita com chá de carqueja e sabão caseiro. Além de ser eficiente, não contamina o
leite. Na propriedade o diagnóstico de mamite é feito semanalmente, através do
caneco de fundo preto e em caso de dúvida utiliza o teste da raquete. A ocorrência
de mamite, em média nos últimos anos, é de dois casos por ano e o tratamento é
feito com produtos convencionais. Como produto de proteção dos tetos, após cada
ordenha, utiliza-se chá de malva.
3.7.3 VERMINOSES
As verminoses ocorrem com alta freqüência e causam muitos danos em
animais jovens. Por isto, até os dois anos de idade os animais necessitam ser
desverminados com maior freqüência, esta freqüência aumenta, quanto menor a
idade. Na propriedade, os animais com até seis meses de idade são desverminados
uma vez por mês. Após esta idade e nos demais animais, as desverminações são
realizadas a cada seis meses. Exceto as vacas em lactação, estas são
desverminadas no período que estão secas. Os produtos utilizados são
convencionais. O prof. A.C.M. DA ROSA (2001), da UFSC, não recomenda
desverminar animais até os 3 meses de idade para que eles possam desenvolver
resistência. Os animais adultos poderão dispensar a aplicação de vermífugos.
Quando necessário, no máximo duas aplicações por ano, no outono e na primavera.
Outro aspecto importante é variar, a cada aplicação, o princípio ativo do vermífugo,
para que não surjam cepas de vermes resistentes. O mesmo professor alerta para
os riscos do uso abusivo das ivermectinas ou produtos similares, por vários motivos,
inclusive ecológicos, pois reduzem a decomposição da bosta, fator fundamental na
ativação da vida do solo. Em relação ao uso de ivermectinas ou similares é
necessário alertar os agricultores, pois a grande maioria não sabe, que em vacas em
lactação não se deve aplicar estes produtos, a recomendação é feita pelos próprios
fabricantes e está transcrita nas bulas destes produtos. Outro alerta é a rigorosa
observação do período de carência no caso de aplicação de vermífugos para vacas
em lactação.
109
3.7.4 ECTOPARASITAS
As infestações por ectoparasitas podem ser atenuadas através do manejo
adequado dos pastos e animais adaptados. Neste caso destaca-se a contribuição e
a importância dos cruzamentos com a raça Gir leiteira. Os animais de pelagem clara
estão naturalmente mais protegidos contra o ataque dos parasitas. Na propriedade o
controle de berne, carrapato, mosca do chifre e bicheiras é feito de acordo com a
incidência,
através
de
pulverizações
e/ou
aplicação
tópicas
de
produtos
convencionais. Novamente alerta-se para os riscos da contaminação do leite, do
ambiente e da pessoa que irá aplicar o produto. Todo o cuidado ainda será pouco.
Alguns agricultores estão utilizando, com resultados positivos, produtos naturais e
ou, que não contaminam o ambiente. É o caso de Deodato Delfis, da comunidade
Lote 14, município de Frei Rogério/SC. Este agricultor há mais de seis anos, usa
alho misturado à cinza de palha de feijão e ao sal mineral como única forma de
controlar endo e ectoparasitas do seu rebanho. Outro agricultor que também está
usando essa mistura (alho + cinza de palha de feijão + sal mineral) para os animais
é o Sr. Liseu Meier do município de Dionísio Cerqueira. Os resultados positivos
dessa mistura foram constatados no trabalho realizado por SILVEIRA et al. (2000) e
publicado na revista Agroecologia e Agricultura Familiar, publicação da rede Ecovida
de Agroecologia.
3.8 PROCESSAMENTO, TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE LEITE E
QUEIJO
Um dos objetivos do projeto, no sentido de agregar valor ao produto leite, era
que os agricultores, também desenvolvessem na propriedade as fases de
processamento, transformação e comercialização de leite “in natura” e queijo no
mercado local. Tendo isto em vista, na propriedade foi construído um centro de
ordenha e adjacente ao centro, uma sala para pasteurização de leite, e uma sala
para fabricação de queijo. Um aspecto importante a ser ressaltado é que tanto as
instalações como os equipamentos são funcionais, higiênicas e duradouras, porém
de custo compatível com a realidade das pequenas unidades de produção. Na
propriedade o leite é envasado em embalagens plásticas, pasteurizado através de
110
processo de pasteurização lenta e comercializado nos municípios de Serra Alta e
Modelo, com a marca FIBO, desde de 1993. A figura 8, mostra a sala e os
equipamentos usados para envasar e pasteurizar o leite.
No início, em face dos produtos serem desconhecidos, eram vendidos 50 litros
de leite por semana e alguns quilos de queijo, quantidade muito pequena diante da
produção diária de 160 litros de leite. Com o passar do tempo e trabalho de
divulgação, através de panfletagem e anúncios na rádio local, houve uma boa
evolução na demanda pelos produtos. Atualmente a família Ficcagna vende em
média 120 litros de leite por dia e 40 kg de queijo por semana, da produção média
diária de 190 litros de leite. Parte do leite, em torno de 60% e do queijo (80%) são
comercializados
com
estabelecimentos
comerciais
(mercados,
padarias,
açougues...) e a outra parte é comercializa diretamente aos consumidores, com
entrega nas residências. O preço médio de venda do leite é de R$ 0,55 por litro e do
queijo de R$ 3,50 por kg, em maio de 2001.
Figura 8 – Sala de envase e pasteurização do leite na propriedade da família de
Olintho Ficcagana. 09/06/00.
Valmir Dartora
111
3.9 ADMINISTRAÇÃO
A utilização de técnicas de administração e gerenciamento da propriedade rural
além de auxiliar na tomada de decisão dos agricultores é fundamental para
diagnosticar os problemas existentes, obter indicadores técnicos e econômicos das
atividades, que possibilitam a proposição de planos de melhorias a serem
implantados e avaliar os resultados obtidos com a adoção das mesmas.
A produção de leite à base de pasto exige do agricultor um diálogo com a
natureza. Isto é, primeiro o agricultor deve compreender, para depois manejar os
recursos disponíveis, de forma a otimizar as interações entre os componentes
bióticos e abióticos do ecossistema. O desafio dessa produção é administrar
tecnologias de processos e não tecnologias de produtos. Daí porque o produtor
precisar ser um agricultor-pastor. Na propriedade, o manejo adotado no sistema de
produção de leite busca otimizar os recursos disponíveis, tendo presente os
aspectos ambientais.
Além dos aspectos de produção, é muito importante quando se desenvolvem
outras fases, usar tecnologias que mantenham a qualidade dos produtos e possam
atender as exigências da legislação e dos consumidores. Nesse sentido, a família
Ficcagna pasteuriza leite integral e produz um tipo de queijo intermediário entre o
prato e o minas frescal, que tem boa aceitação no mercado. Outro aspecto a se
destacar, proporcionada pela comercialização e a abrangência do mercado, é a
aproximação do agricultor ao consumidor. Esta relação traz satisfação para a família
que produz, por conhecer os consumidores e os consumidores, por conhecerem a
origem dos produtos e muitos conhecerem, inclusive, o sistema de produção.
Em relação à administração dos recursos financeiros a propriedade adota um
sistema de acompanhamento, orientado pela APACO, que permite obter
informações sistematizadas sobre compras (insumos e fatores) e vendas (produtos
e animais) e avaliar os resultados obtidos, auxiliando no gerenciamento e na tomada
de decisão da família sobre a administração da propriedade.
Apesar das dificuldades a família sente-se vitoriosa por fazer parte do conjunto
dos agricultores que ainda permanecem e resistem nesta valiosa profissão, que
maneja os recursos naturais para produzir alimentos e matérias-primas, para
sustento de suas famílias e parte das populações urbanas.
112
CAPÍTULO IV
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE
Os resultados obtidos nos levantamentos realizados em 15 propriedades, uma
na microrregião de Chapecó no estado de Santa Catarina e 14 na microrregião de
Erechim no estado do Rio Grande do Sul, são apresentados na tabela 28.
Tabela 28 - Classificação dos sistemas de produção de leite obtidos nos
levantamentos de campo em abril e maio de 2001
Agricultor
% alimentos
pastoreio
% alimentos
cocho
Classificação
sistema produção (¹)
7
91
9
Pastoril
8
85
15
Pastoril
15∗
79
21
Pastoril
2
66
34
Semi-intensivo
3
64
36
Semi-intensivo
4
60
40
Semi-intensivo
11
58
42
Semi-intensivo
12∗
51
49
Semi-intensivo
14
64
35
Semi-intensivo
1∗
48
52
Intensivo cocho
5∗
40
60
Intensivo cocho
6
44
56
Intensivo cocho
9
38
62
Intensivo cocho
10∗
44
56
Intensivo cocho
13∗
38
62
Intensivo cocho
∗ produtores não vinculados à indústria. (¹) sistema intensivo, quando os animais recebem
mais que 50% dos alimentos no cocho; semi-intensivo, de 20 - 50%; e, pastoril, menos de
20%.
Obs: Na classificação do produtor número 15, pela proximidade do índice em relação ao tipo
pastoril, optou-se pelo enquadramento nesse sistema.
113
Na tabela 28, observa-se que dos nove agricultores vinculados à industria,
cinco desenvolvem sistemas semi-intensivos, dois sistemas intensivos de uso de
alimentos no cocho e dois sistemas pastoris. Dos cinco agricultores não vinculados à
indústria, no RS, quatro desenvolvem sistemas intensivos de uso de alimentos no
cocho e um, semi-intensivo. Os dados mostram que houve diferença entre a
indicação feita pelos técnicos e os resultados obtidos na classificação. Porém, essa
diferença não interfere na análise do estudo. Em Santa Catarina, os dados são
referentes ao projeto piloto desenvolvido pela família de Olintho Ficcagana.
A classificação dos sistemas de produção de leite foi realizada através dos
dados fornecidos pelos agricultores; análise técnica feita nas áreas de pastagem, na
oportunidade das visitas nas propriedades; formas de utilização dos pastos; e, nível
de fertilizantes utilizados nas áreas das forrageiras.
Baseado nesses dados, estimou-se a quantidade diária de matéria seca (MS)
dos alimentos volumosos como: forragem disponível nas áreas de pastoreio;
forragem cortada e fornecida aos animais: milho pé inteiro, cana-de-açúcar, milheto,
teosinto, capim elefante, sorgo forrageiro, papuã, aveia e azevém; milho
desintegrado com palha e sabugo (rolão de milho); milho em espiga não
desintegrado; raiz de mandioca; resíduos de milho, trigo e cevada, oriundos de
unidades de beneficiamento de grãos; e, silagem; e dos alimentos concentrados
como: grãos de milho, cevada, triguilho, triticale e soja; farelos de trigo e de soja;
casquinha de soja; e, concentrado comercial.
A tabela 29, mostra as quantidades diárias estimadas de MS dos alimentos
volumosos e dos alimentos concentrados fornecidos por unidade animal (UA), de
peso vivo equivalente a 450 kg, em cada sistema de produção.
Analisando a tabela 29, observa-se que em média nos sistemas pastoris, a
quantidade de forragem em MS, que cada UA tem disponível para pastoreio por dia,
é 3,91 kg a mais do que nos sistemas semi-intensivos e 5,72 kg a mais do que nos
sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho. Tendo presente que, as
quantidades diárias estimadas em quilos de MS, disponíveis e/ou fornecidos, dos
alimentos volumosos e dos alimentos concentrados para cada UA, nos três
sistemas, conforme tabela 30, são em média de 11,89 kg, as diferenças das
quantidades de MS que cada UA tem disponível para pastoreio por dia, representa
mais mão-de-obra para cortar o pasto e fornecer aos animais e/ou a substituição do
pasto destinado ao pastoreio por outros alimentos volumosos e/ou alimentos
114
Tabela 29 – Quantidades diárias estimadas, em kg de MS dos alimentos volumosos
e dos alimentos concentrados fornecidos por UA, em cada sistema de produção
Sist
e-
Pasto- Pasto
reio
Cana
Raiz
corte açúcar
Sila-
Resí-
Milho
gem
duos
rolão
Grãos Farelo Casca
soja
ma kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/
Concentrad
o
kg MS /
UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia
P
13,83
-
-
-
-
-
-
0,94
0,36
-
-
P
10,99
-
-
-
-
-
-
1,87
-
-
-
P
7,39
-
-
-
-
-
1,31
-
0,68
-
-
M
10,73
-
-
-
-
-
0,43
0,93
0,34
-
-
S
6,92
2,01
-
0,88
-
-
0,70
-
-
-
-
S
6,82
1,63
0,24
-
-
-
-
1,93
-
-
-
S
8,35
-
-
-
3,07
1,90
-
0,48
-
-
-
S
6,80
-
-
-
-
0,61
3,41
-
0,53
0,43
-
S
6,64
1,61
-
-
-
-
-
3,95
-
-
0,72
S
5,44
0,92
-
-
-
-
-
2,13
-
-
-
M
6,82
1,02
0,04
0,14
0,51
0,41
0,68
1,41
0,08
0,07
0,12
C
5,97
-
-
-
1,86
-
3,71
0,78
-
-
-
C
4,34
2,78
-
0,28
-
-
-
3,19
-
-
0,20
C
6,69
-
-
-
4,62
-
0,26
3,54
-
-
-
C
4,33
1,64
-
-
-
-
4,09
1,39
-
-
-
C
4,11
1,24
-
-
-
-
-
2,58
1,35
-
-
C
4,63
-
-
-
3,16
1,46
-
2,29
0,78
-
-
M
5,01
0,94
-
0,04
1,60
0,24
1,34
2,29
0,35
-
0,03
Legenda: M = média, P = pastoril, S = semi-intensivo e C = intensivo no cocho
concentrados,
tendo
como
consequência
maior
penosidade
do
trabalho
desenvolvido pelo produtor e maior custo de produção.
Dos seis sistemas semi-intensivos, quatro fornecem pasto cortado aos animais,
porém em um sistema todo o pasto das pastagens de verão é cortado e fornecido
aos animais no cocho e/ou no potreiro. Nesses sistemas, além do pasto cortado, um
sistema fornece cana-de-açúcar e outro raiz de mandioca. Só um dos sistemas
semi-intensivos usa silagem.
115
Nos sistemas intensivos, dos seis agricultores, três cortam todo o pasto das
pastagens de verão e fornecem aos animais no cocho e/ou no potreiro. Nesses
sistemas, além, do pasto cortado, um sistema fornece raiz de mandioca para os
animais. A prática de cortar pasto e fornecer aos animais não é utilizada nos
sistemas pastoris. Três, dos seis sistemas intensivos usam silagem. Os sistemas
pastoris de produção não utilizam silagem, no entanto, o número de sistemas que
utiliza silagem representa 27% dos estudados.
Os resíduos de milho, trigo e cevada, oriundos de unidades de beneficiamento
de grãos, são utilizados em três sistemas. Em relação aos alimentos concentrados,
seis sistemas utilizam rolão de milho; 12 sistemas usam grãos de milho, cevada,
triguilho, triticale e soja; cinco sistemas utilizam farelos de trigo e soja; um sistema
usa casquinha de soja e dois utilizam concentrado comercial.
Na tabela 30 estão as quantidades diárias estimadas de MS dos alimentos
volumosos (disponíveis e fornecidos) e dos alimentos concentrados fornecidos para
cada UA, de acordo com os sistemas de produção utilizados nas propriedades.
Na tabela 30, verifica-se que, em média, nos sistemas pastoris, as quantidades
de alimentos volumosos disponíveis e/ou fornecidas aos animais são 1,76 kg de
MS/UA/dia a mais do que nos sistemas semi-intensivos e 2,88 kg a mais do que nos
sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho. Esta diferença, para os sistemas
semi-intensivos, representa 642,40 kg de MS/UA/ano e, para os sistemas intensivos,
1.051,20 kg.
Em relação aos alimentos concentrados, nos sistemas semi-intensivos e
intensivos, as quantidades fornecidas aos animais, em média são 0,66 kg de
MS/UA/dia e 2,30 kg, respectivamente, a mais do que nos sistemas pastoris. Esta
diferença, nos sistemas semi-intensivos, representa uma quantidade de 240,90 kg
de MS/UA/ano e nos sistemas intensivos uma quantidade de 839,50 kg.
Embora, hajam boas diferenças nominais nas quantidades disponíveis e/ou
fornecidas aos animais de alimentos volumosos e concentrados, entre os sistemas
de produção, as quantidades totais médias que cada UA tem disponível e/ou recebe
de alimentos (volumosos e concentrados) por dia, apresentam diferenças muito
pequenas.
A tabela 31, mostra as áreas dos potreiros e das pastagens perenes e anuais
de verão e inverno utilizadas nos sistemas de produção desenvolvidos nas
propriedades.
116
Tabela 30 – Quantidades diárias dos alimentos volumosos e dos alimentos
concentrados disponíveis e/ou fornecidos para cada UA estimadas em quilos de MS
Sistema
Alimentos volumosos
produção
kg MS / UA / dia
Alimentos
concentrados
kg MS / UA / dia
Total alimentos
kg MS / UA / dia
Pastoril
13,83
1,30
15,13
Pastoril
10,99
1,87
12,86
Pastoril
7,39
1,99
9,38
Média
10,73
1,72
12,45
Semi
9,81
0,70
10,51
Semi
8,69
1,93
10,62
Semi
13,32
0,48
13,80
Semi
7,41
4,37
11,78
Semi
8,25
4,67
12,92
Semi
6,36
2,13
8,49
Média
8,97
2,38
11,35
Cocho
7,83
4,49
12,32
Cocho
7,40
3,39
10,79
Cocho
11,31
3,80
15,11
Cocho
5,97
5,48
11,45
Cocho
5,35
3,93
9,28
Cocho
9,25
3,07
12,32
Média
7,85
4,02
11,87
Média geral
8,87
2,90
11,78
Analisando a tabela 31, observa-se que os sistemas pastoris de produção
possuem, em média, 6,21 ha com áreas de potreiros, enquanto os sistemas semiintensivos têm, em média, 1,79 ha e, os sistemas intensivos de uso de alimentos no
cocho possuem, em média, 2,36 ha. Dos três sistemas pastoris, dois têm áreas de
potreiros melhorados (divisão de área, introdução de leguminosas e uso de
fertilizantes), sendo que, em um sistema, o melhoramento feito nos 3,0 ha foi
iniciado no ano de 2001. Nos sistemas semi-intensivos e intensivos, as áreas dos
potreiros são utilizadas sem nenhum melhoramento, exceto um sistema intensivo,
que utiliza adubação orgânica (dejetos de suínos) em 2,0 ha. Em relação às áreas
117
de potreiro, das três propriedades, onde os sistemas pastoris são desenvolvidos,
duas usam as áreas como local de produção de forragem e todas as outras
propriedades, independente de sistema, utilizam as áreas mais como local de
permanência dos animais.
Os sistemas pastoris de produção em média têm 3,22 ha de áreas de
pastagens perenes de verão e não possuem áreas de pastagens anuais de verão.
Os sistemas semi-intensivos têm, em média, 1,76 ha de áreas de pastagens perenes
de verão e possuem em média 1,38 ha de áreas de pastagens anuais de verão. Dos
seis sistemas semi-intensivos, três possuem áreas de pastagens perenes de verão e
apenas um não possui áreas de pastagens anuais de verão.
Nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho, as áreas de pastagens
perenes de verão, em média são de 0,38 ha e somente um sistema não a possui.
Apesar de praticamente todos os sistemas intensivos terem pastagens perenes de
verão, as áreas são muito pequenas e, em geral, as pastagens são implantadas nas
curvas de nível das áreas de lavouras. Ainda, nesses sistemas as áreas das
pastagens anuais de verão, em média, são de 1,72 ha e somente um sistema não a
possui.
Analisando os dados em relação as áreas das pastagens perenes e anuais de
verão,
observa-se
que,
principalmente
onde
os
sistemas
intensivos
são
desenvolvidos, há muito mais áreas de pastagens anuais, do que áreas de
pastagens perenes. Isso traz consequências, como por exemplo: deixa os sistemas
mais vulneráveis no momento da implantação e estabelecimento das pastagens e
eleva o custo de produção, porque, de modo geral, as pastagens anuais possuem
maior custo de produção.
Em relação às pastagens perenes e anuais de inverno observa-se que
somente um sistema de produção tem pastagem perene, composta por trevo branco
x trevo vermelho x azevém e outras espécies. Embora a consorciação tenha espécie
anual e bianual na composição, a pastagem pereniza-se, através de ressemeadura
natural. Nos três sistemas de produção, as médias das áreas com pastagens de
inverno são muito semelhantes. Dos três sistemas pastoris, um utiliza leguminosas
em consorciação com gramíneas. Esta prática é muito importante para o sistema de
produção porque, além de melhorar a qualidade da forragem, incorpora nitrogênio
ao solo. Nas 15 propriedades as pastagens anuais de inverno são cultivadas nas
áreas de lavouras de verão.
118
119
Embora, a sucessão lavoura x pastagem seja uma alternativa muito importante
na produção de forragem para os animais no período de inverno e início da
primavera, é muito importante ter-se uma área de pastagem perene de inverno. Esta
área reduz os problemas de disponibilidade de pasto no momento da implantação e
estabelecimento das pastagens anuais de inverno, da implantação das lavouras de
verão e muitas vezes nos períodos prolongados de estiagem. Desta forma, os
sistemas que não possuem pastagens perenes de inverno, ficam mais vulneráveis
às condições climáticas e à disponibilidade de forragem aos animais.
4.2 MÉTODOS DE PASTOREIO
Nos sistemas estudados o pastejo ou os métodos de pastoreio8 encontrados
foram contínuo, rotativo e Pastoreio Racional Voisin (PRV). Neste trabalho, o pastejo
contínuo é entendido como a utilização de uma pastagem numa área não dividida e
o pasto usado sem observância da taxa de crescimento da pastagem (oferta de
pasto) e da taxa de lotação (carga animal). O método de pastoreio rotativo é a
utilização de uma pastagem numa área dividida em determinado número de
piquetes e o pastoreio conduzido sem observância de tempos de ocupação e de
repouso adequados. O método de Pastoreio Racional Voisin é a utilização de uma
pastagem numa área dividida em piquetes, o número que for necessário, para
conduzir-se o pastoreio com observância de tempos de ocupação e de repouso
adequados. A diferença básica é que no método de pastoreio rotativo as áreas de
pastagens são divididas em menor número de piquetes do que no PRV. Este
aspecto, dificulta ou até impede ao condutor do pastoreio a observância de tempos
de ocupação e de repouso adequados. A divisão das áreas das pastagens em
menor número de piquetes se deve, basicamente aos custos e a maior
complexidade no manejo.
Na tabela 32, são especificados os métodos de pastoreio utilizados nas áreas
das pastagens em cada sistema de produção.
8
Pastoreio implica a presença do pastor; pastejo é o uso (consumo) do pasto pelos animais, sem a
condução humana. Uso contínuo (extensivo), é pastejo; no PRV, pastoreio (MACHADO, 2000).
120
Tabela 32 – Áreas de pastagens e métodos de pastoreio utilizados em cada sistema
de produção
Sistemas
Métodos
Produção
pastoreio
Potreiros
Contínuo
2
-
-
Rotativo
-
2
2
Voisin
1
1
1
Semi -
Contínuo
6
-
-
Intensivo
Rotativo
-
6
6
Voisin
-
-
-
Intensivo no
Contínuo
6
-
-
Cocho
Rotativo
-
6
6
Voisin
-
-
-
Pastoril
Número de sistemas
Perenes e
Perenes e anuais
de inverno
anuais de verão
Obs: Os algarismos indicam a quantidade de sistemas em cada método de pastoreio de
acordo com a pastagem utilizada.
Analisando a tabela 32, observa-se que dos quinze sistemas, em somente um,
todas as pastagens são utilizadas através do método de Pastoreio Racional Voisin.
Neste sistema as áreas foram divididas com critério e as pastagens são utilizadas
com observância dos tempos de ocupação e de repouso adequados. Este é o
sistema desenvolvido pela família de Olintho Ficcagna. Quatorze, dos 15 sistemas
utilizam as áreas de potreiro através do pastejo contínuo. Estes sistemas, também
utilizam as áreas das pastagens perenes e anuais de verão e de inverno, através do
método de pastoreio rotativo. De modo geral estas áreas são divididas sem critério e
as pastagens utilizadas sem observância dos tempos de ocupação e de repouso
adequados.
As áreas de potreiros são utilizadas mais como local de permanência dos
animais do que como local de produção de forragem. As pastagens dos potreiros, de
modo geral, por causa da alta lotação estão sempre rapadas, devido a este visual
“pastagens sempre rapadas” tem-se como entendimento que as pastagens dos
potreiros são de baixa produção. A primeira prática de melhoramento é substituir
essas pastagens por outras espécies supostamente de melhor qualidade e
produtividade. Este procedimento, evidencia o baixo valor potencial dado às
pastagens naturalizadas e/ou nativas dos potreiros.
121
Já para as pastagens implantadas, independente da espécie e da estação do
ano, todos os sistemas de produção adotam certo critério quanto à divisão das áreas
e certa observância quanto aos tempos de ocupação e de repouso. Isso demonstra
o valor potencial dado às pastagens implantadas em relação às pastagens dos
potreiros. No entanto, de modo geral, os maiores problemas das áreas de potreiro
não estão na produção das pastagens, e sim na lotação (carga animal) usada
nessas áreas, na forma como os pastos são manejados e, na falta de espécies
leguminosas e de adubação.
4.3 INDICADORES PRODUTIVOS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE
Os indicadores produtivos expressam os resultados das interações dos fatores
que compõem os sistemas de produção. Na tabela 33, estão os resultados obtidos
nos sistemas de produção estudados.
Na tabela 33, verifica-se que, em média, nos sistemas pastoris a produtividade
é 3,24 e 3,66 litros / vaca / dia maior do que nos sistemas semi-intensivos e
intensivos,
respectivamente.
Esta
diferença,
nos
sistemas
semi-intensivos,
representa uma quantidade de 1.182 litros/vaca/ano e nos sistemas intensivos uma
quantidade de 1.335 litros.
Em relação aos indicadores produtivos, um dos resultados esperados era que,
os sistemas de uso intensivo de alimentos no cocho tivessem maior produtividade.
Tendo em vista que, conforme tabela 30, estes sistemas fornecem 1,69 e 2,34 vezes
mais alimentos concentrados aos animais que os sistemas semi-intensivos e
pastoris, respectivamente. Também, porque são os sistemas que usam mais
silagem, reduzindo os problemas de disponibilidade de forragem nos períodos de
estabelecimento das forrageiras, estiagens e nas flutuações estacionais de produção
das pastagens.
122
Tabela 33 – Indicadores produtivos dos sistema de produção
Sistema
produção
Produção / vaca / dia ano (1)
(litros)
Produção / vaca / dia (2)
Pastoril
14,26
17,35
Pastoril
9,84
11,96
Pastoril
8,51
10,35
Média
10,87
13,22
Semi
7,62
9,27
Semi
6,44
7,84
Semi
10,48
12,75
Semi
5,70
6,92
Semi
8,75
10,64
Semi
6,79
8,26
Média
7,63
9,28
Cocho
7,25
8,82
Cocho
3,74
4,54
Cocho
6,72
8,17
Cocho
6,69
8,13
Cocho
6,39
7,77
Cocho
12,52
15,22
Média
7,21
8,77
lactação (litros)
(1) Esse indicador produtivo foi obtido, dividindo-se a produção total de leite do ano, pelo
número de vacas e por 365 dias.
(2) Esse indicador produtivo foi obtido, dividindo-se a produção total de leite do ano, pelo
número de vacas e por 300 dias, período de lactação.
Porém, nesse estudo, os sistemas intensivos foram, em média, os
menos
produtivos. Talvez alguns dos fatores que podem ajudar a responder o porquê são:
primeiro, nesses sistemas as forragens cortadas e/ou conservadas e/ou o manejo
das pastagens façam com que os animais ingiram alimentos volumosos de baixa
qualidade comparado com os outros sistemas. Segundo, os animais utilizados nos
sistemas não respondem a quantidades maiores de alimentos concentrados e,
terceiro, a forma como é administrada a atividade tem influência decisiva sobre os
resultados obtidos.
123
4.4 RESULTADOS ECONÔMICOS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE
Quando se desenvolve uma atividade, é básico conhecer seu resultado
econômico. Por isso, nesta seção analisaremos os resultados econômicos dos
sistemas de produção estudados, tendo-se por base os custos de produção,
calculados através da planilha de custos da atividade leiteira do Instituto CEPA-SC.
O custo de produção dessa planilha é formado pelos custos variáveis e fixos. Os
custos variáveis são alimentação, sanidade e outras despesas (energia elétrica,
inseminador, dose sêmen, mão-de-obra, comercialização, Funrural...). Os custos
fixos são: manutenção e depreciação das instalações, cercas e equipamentos,
impostos e taxas da terra, administração e remuneração do capital fixo (instalações,
cercas, equipamentos, rebanho e terra).
A análise será iniciada pelos valores monetários mensais dos custos de
produção de leite, queijo e pasteurização, de cada sistema de produção. Os valores
monetários mensais dos custos, nas diferentes fases (produção, processamento e
transformação) estão na tabela 34.
Na tabela 34, observa-se que nos sistemas pastoris, um sistema, o
desenvolvido pelo agricultor 7, apresenta o custo/vaca, 83% e 47% maior do que
dos agricultores 8 e 15, respectivamente. Isso porque o sistema desenvolvido pelo
agricultor 7, possui custo variável 76% e 37% e, custo fixo de 97% e 72% maior do
que dos agricultores 8 e 15, respectivamente. Dentre os sistemas semi-intensivos, o
desenvolvido pelo agricultor 12, apresenta o custo/vaca, 54% maior do que a média
dos outros cinco sistemas. Isso porque o sistema desenvolvido pelo agricultor 12,
possui custo variável 52% e custo fixo 58% maior do que a média dos outros cinco
sistemas.
Nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho, o desenvolvido pelo
agricultor 6, apresenta o custo/vaca, 35% maior do que a média dos outros cinco
sistemas. Isso porque o sistema desenvolvido pelo agricultor 6, possui custo variável
34% e custo fixo 39% maior do que a média dos outros cinco sistemas.
124
Tabela 34 – Valores monetários mensais dos custos de produção do leite, queijo e
pasteurização de cada sistema de produção
Sistema
produção
Agri-
Valor custo Valor custo Valor custo Valor custo Valor total
por vaca
produção
pasteucultor produção
custos
queijo
leite
rização
R$ / mês
R$ / mês
R$
/
mês
R$
/
mês
R$
/
mês
(nº)
7
838,53
119,79
-
-
838,53
8
978,94
65,26
-
-
978,94
15
1.783,49
81,06
63,14
366,94
2.213,57
-
1.200,32
88,70
-
-
1.343,68
2
881,50
73,45
-
-
881,50
3
342,51
68,50
-
-
342,51
Semi-
4
1.299,76
99,98
-
-
1.299,76
Intensivo
11
1.517,98
89,29
-
-
1.517,98
12
608,63
121,72
76,27
-
684,90
14
693,78
63,07
-
-
693,78
-
890,69
86,00
-
-
903,40
1
1.291,37
86,09
189,43
-
1.480,80
5
637,41
79,67
61,32
-
698,73
6
1.004,01
125,50
-
-
1.004,01
9
434,87
86,97
-
-
434,87
10
1.423,96
109,53
128,45
-
1.552,41
13
2.776,18
99,14
656,91
-
3.433,09
-
1.261,30
97,81
-
-
1.433,98
Pastoril
Média
Média
Cocho
Média
Obs: Esses valores são originados dos custos de produção, memória de cálculo (anexo 5).
Incluiu-se o custo por vaca para visualizar melhor a diferença dos custos entre os
sistemas.
Os resultados mostram que nos três sistemas de produção, o custo fixo teve
maior influência no diferencial entre os custos. Por isso, quando se faz o
planejamento de um sistema de produção deve-se ter presente o custo dos
equipamentos, das instalações e das cercas e, quanto esses custos representam do
custo total do empreendimento. Por exemplo, quanto a compra de um resfriador de
expansão, feita por um agricultor que vende 30 litros de leite/dia, representa do
custo total do leite?
125
Ainda, se analisarmos o custo/vaca, não contabilizando o maior custo de cada
sistema, tem-se para o sistema pastoril um custo médio/vaca de R$ 73,16 / mês,
para o semi-intensivo de R$ 78,85 / mês e para o intensivo de R$ 92,28 / mês.
Assim, observa-se que o custo/vaca aumenta do sistema pastoril para o semiintensivo e desse para o intensivo de uso de alimentos no cocho.
Na tabela 35, são apresentados os valores monetários mensais da receita
bruta da atividade leiteira, dos custos totais, custo total, por litro de leite e a renda
líquida de cada sistema de produção. A renda líquida foi obtida, deduzindo-se da
receita bruta os custos totais.
Analisando a tabela 35, observa-se que das 15 propriedades estudadas,
apenas
quatro
possuem
renda
líquida
positiva,
representando
26%
das
propriedades. Todas as propriedades com sistemas pastoris de produção
apresentam renda líquida positiva. As propriedades com sistemas semi-intensivos
apresentam renda líquida negativa. Somente uma das propriedades, onde os
sistemas intensivos são desenvolvidos, possui renda líquida positiva. Porém, na
análise desses resultados deve-se ter presente que, além dos sistemas de produção
utilizados nas propriedades, existem outros fatores que têm influência sobre o
retorno econômico da atividade. Esses fatores são representados, principalmente
pelas fases realizadas pelos produtores após à produção, como processamento,
transformação e comercialização do leite e/ou produtos derivados.
Em relação ao custo total, por litro de leite, nos sistemas semi-intensivos e
intensivos, os custos totais, em média, são respectivamente, de R$ 0,09 e R$ 0,21 /
litro maior do que nos sistemas pastoris. Esses resultados mostram que os custos se
elevam na medida em que os sistemas de produção vão passando de pastoril para
semi-intensivo e intensivo.
Sobre os resultados da renda líquida, é importante realizar uma outra análise,
na qual os componentes de custos de produção como mão-de-obra, administração e
remuneração do capital fixo (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra),
não sejam incluídos como custos, e sim como oportunidade de remunerar estes
componentes, em cada fase que os agricultores desenvolvem, desde o sistema
produtivo, processamento, transformação e comercialização.
126
Tabela 35 - Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos totais, custo
total, por litro de leite e a renda líquida de cada sistema de produção
Sistema
produção
Valor receita
bruta
Valor custos
totais
Valor custo
total
Valor renda
líquida
(nº)
R$ / mês
R$ / mês
R$ / litro
R$ / mês
7
1.070,66
838,53
0,25
232,13
8
1.280,00
978,94
0,18
301,06
15
2.859,67
2.213,57
0,29
646,10
-
1.736,77
1.343,68
0,24
393,09
2
791,67
881,50
0,27
- 89,83
3
267,33
342,51
0,32
- 75,18
Semi-
4
1.147,33
1.299,76
0,28
- 152,43
Intensivo
11
931,66
1.517,98
0,44
- 586,32
12
533,33
684,90
0,43
- 151,57
14
654,34
693,78
0,26
- 39,44
-
720,94
903,40
0,33
- 182,46
1
1.275,33
1.480,80
0,36
- 205,47
5
344,17
698,73
0,63
- 354,56
6
456,67
1.004,01
0,57
- 547,34
9
275,33
434,87
0,39
- 159,54
10
1.087,67
1.552,41
0,52
- 464,74
13
4.258,33
3.433,09
0,24
825,24
-
1.282,91
1.433,98
0,45
- 151,06
Pastoril
Média
Média
Cocho
Média
Agricultor
Obs: A receita bruta é composta pela venda de leite para à indústria, venda de leite e queijo
em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores, e venda de animais
de descarte e/ou novilhas excedentes do plantel. Incluiu-se o custo total, por litro de
leite, para visualizar melhor a diferença dos custos entre os sistemas.
Os valores monetários dos componentes de custos de produção (mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo) e os resultados desta nova análise
estão nas tabelas 36 e 37. Na tabela 36, estão os valores monetários mensais da
mão-de-obra e administração das fases que os produtores realizam, relacionadas
aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades.
127
Tabela 36 – Valores monetários mensais da mão-de-obra e administração das fases
realizadas pelos produtores, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos
nas propriedades
Sistema
produçã
o
Valor
Valor
Valor
Valor
Valor
Valor
Valor
total
mão-de- mão-de- mão-de- mão-de- adminis- adminisobra
obra
obra
obra
tração
tração mão-deobra e
(M1)
(M2)
(M3)
(M4)
(A1)
(A2)
adminis.
R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês
R$ / mês
84,38
-
16,88
-
43,66
-
144,72
185,63
-
-
-
52,71
-
238,34
253,13
27,00
50,63
50,63
99,57
27,26
508,22
174,38
-
-
-
65,31
-
297,09
270,00
-
-
-
48,96
-
318,96
101,25
-
-
-
20,62
-
121,87
Semi-
135,00
-
-
-
75,10
-
210,10
intensivo
270,00
-
-
-
78,90
-
348,90
101,25
33,75
20,25
-
44,67
4,87
204,79
168,75
-
-
-
38,86
-
207,61
174,37
-
-
-
51,18
-
235,37
236,25
67,50
20,25
-
78,57
10,66
413,23
135,00
33,75
-
-
37,82
3,81
210,38
202,50
-
-
-
61,99
-
264,49
101,25
-
-
-
27,44
-
128,69
303,75
67,50
20,25
-
89,51
8,68
489,69
405,00
236,25
40,50
-
178,60
39,50
899,85
230,62
-
-
-
78,98
Pastoril
Média
Média
Cocho
Média
401,05
Legenda: (M1) = Valor da mão-de-obra na produção de leite, (M2) = Valor da mão-de-obra
na fabricação de queijo, (M3) = Valor da mão-de-obra na comercialização de queijo e/ou
leite (M4) = Valor da mão-de-obra na pasteurização do leite, (A1) = Valor administração na
produção de leite e (A2) = Valor administração na fabricação de queijo e pasteurização do
leite.
Na tabela 37 estão os valores monetários mensais da receita líquida da
atividade leiteira, mão-de-obra e administração, e remuneração do capital fixo
(instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra).
128
Tabela 37 – Valores monetários mensais da receita líquida, mão-de-obra e
administração, e remuneração do capital fixo das fases que os produtores realizam,
relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades
Sistema
produção
Valor
renda
líquida
Valor total
mão-deobra e
adminis.
Resultado
econômico
(A)
Valor
remuneração
Valor
remunenação
(R1)
(R2)
R$ / mês
R$ / mês
Resultados
econômicos
(B)
R$ / mês
R$ / mês
232,13
144,72
376,85
161,28
-
538,13
301,06
238,34
539,40
137,54
-
676,94
646,10
508,22
1.154,32
312,06
20,39
1.486,77
393,09
297,09
690,19
203,62
-
900,61
- 89,83
318,96
229,13
181,69
-
410,82
- 75,18
121,87
46,69
44,47
-
91,16
Semi-
- 152,43
210,10
57,67
194,58
-
252,25
intensivo
- 586,32
348,90
- 237,42
351,59
-
114,17
- 151,57
204,79
53,22
79,80
3,82
136,84
- 39,44
207,61
168,17
130,37
-
298,54
- 182,46
235,37
52,91
163,75
-
217,29
- 205,47
413,23
207,76
179,93
15,70
403,39
- 354,56
210,38
- 144,18
99,98
3,34
- 40,86
- 547,34
264,49
- 282,85
98,40
-
- 184,45
- 159,54
128,69
- 30,85
43,81
-
12,96
- 464,74
489,69
24,95
169,52
3,89
198,36
825,24
899,85
1.725,09
267,42
42,29
2.034,80
Pastoril
Média
Média
Cocho
R$ / mês
R$ / mês
- 151,06
401,05
249,98
143,17
404,03
Média
Legenda: (A) = Valor renda líquida mais a mão-de-obra e administração, (R1) = Valor
remuneração do capital fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e
terra), (R2) = Valor remuneração do capital fixo da fábrica de queijo e da sala de
pasteurização (instalações e equipamentos) e (B) = (A) mais (R1) e (R2).
Pela tabela 37, vê-se que somente duas propriedades apresentam resultados
econômicos negativos. Na análise anterior, havia onze propriedades nessas
condições. Todas as propriedades com sistemas semi-intensivos apresentam
resultados econômicos positivos, na análise anterior elas apresentaram resultados
negativos. Das seis propriedades, onde os sistemas intensivos são desenvolvidos,
quatro apresentam resultados econômicos positivos; na análise anterior, somente
129
uma propriedade apresentou resultado positivo. Nesta análise as duas propriedades
que apresentam resultados econômicos negativos desenvolvem sistema de
produção intensivo.
O que se busca com esta nova análise, é demonstrar os resultados
econômicos obtidos pelos produtores, quando os componentes de custos de
produção como mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo,
resultante das fases que os produtores desenvolvem, sejam analisados como
oportunidade de remuneração, tendo-se por base a renda líquida da atividade. E,
também, entender porque o agricultor, mesmo tendo renda líquida negativa,
continua desenvolvendo a atividade. Para isso, deve-se ter presente que o
agricultor, organiza suas estratégias e toma suas decisões baseado num projeto de
vida dele e de sua família. Assim, o trabalho familiar e o capital fixo envolvidos em
determinada atividade não podem ser analisados só como custos. Pois normalmente
o agricultor avalia a propriedade como um todo e a importância de cada atividade,
para então decidir na continuidade ou substituição de determinada atividade. A
decisão depende de muitos fatores como mão-de-obra disponível e/ou demandada,
necessidade de investimentos, penosidade do trabalho, periodicidade de ingresso de
renda, efeito de complementariedade da atividade, resultado econômico, falta de
outras oportunidades, entre outros. Devido a isso, muitas vezes o agricultor continua
desenvolvendo uma determinada atividade, mesmo que esta apresente renda
líquida negativa.
Uma das perguntas que se fez aos agricultores foi se eles pretendiam continuar
com a atividade leiteira. Dos 15 agricultores pesquisados, 14 responderam que sim.
Os principais motivos citados foram “é um dinheiro que entra fora de safra, o queijo
dá o rancho da casa, é um ramo que entra dinheiro todos os dias (vende queijo),
ganha uma renda mensal pelo mínimo, é o que sei fazer, todo o fim de mês tem
dinheiro”. Essas respostas nos remetem a pelo menos duas questões. Primeira, o
agricultor desenvolve a atividade porque ela é importantíssima na estratégia de
sustento da família e, segunda, porque ele não tem outra(s) oportunidade(s). Talvez
essas duas questões ajudem melhor entender porque mesmo tendo renda líquida
negativa os agricultores continuam produzindo leite.
Porém, nesse contexto um aspecto que preocupa é que muitos agricultores,
técnicos e empresas consideram para avaliar os resultados econômicos de uma
determinada atividade, somente as despesas realmente efetivadas com a atividade,
130
não computando as despesas de manutenção das instalações e equipamentos e
nem os custos de depreciação. No nosso entendimento as análises econômicas
feitas através da margem bruta e/ou outros métodos que não consideram as
despesas de manutenção das instalações e equipamentos e os custos de
depreciação, tem acentuado ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos
agricultores, porque elas não mostram a realidade econômica de uma determinada
atividade. Isso, associado à importância que muitas atividades têm para os
agricultores, por exemplo, a atividade leiteira, a falta de oportunidades para o setor
primário,
entre
outros
fatores,
tem
provocado
a
descapitalização
e
o
empobrecimento, principalmente dos pequenos agricultores.
Nessa
última
análise
consideramos
os
componentes
(mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo), não como custos e sim como
oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, envolvido com a
atividade. No cálculo foram considerados os custos variáveis e os custos fixos de
manutenção, imposto e taxas da terra e depreciação das instalações, cercas e
equipamentos, conforme a planilha de custo do leite do Instituto CEPA – SC.
Na tabela 38, estão os resultados econômicos obtidos por litro de leite, gerados
por esses componentes de custos de produção, resultante das fases que os
agricultores realizam, desde a produção, processamento, transformação e
comercialização.
Na tabela 38, observa-se que das 15 propriedades, as três onde os sistemas
pastoris de produção são desenvolvidos, em média possuem os melhores resultados
econômicos, ficando nesta mesma faixa de resultados, somente mais duas
propriedades. Uma, com sistema semi-intensivo e, outra com sistema intensivo.
Todavia, estes resultados são devido aos sistemas de produção utilizados nas
propriedades e as fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao
produto leite. Portanto, o resultado positivo não é devido somente ao sistema de
produção de leite, mas também a agregação de valor fora desse processo.
131
Tabela 38 – Valores monetários mensais da renda líquida mais a mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo, das fases que os agricultores realizam,
a quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por
litro de leite, relacionado aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades
Sistema
produção
Total
produção
Valor renda
líquida
leite
Pastoril
Média
Semiintensivo
Média
Cocho
Média
Resultados
econômicos
(C)
Resultados
econômicos
(B)
R$ / mês
Resultados
econômicos
(D)
litros / mês
R$ / mês
R$ / litro
R$ / litro
3.037
232,13
0,08
538,13
0,18
4.478
301,06
0,07
676,94
0,15
5.694
646,10
0,11
1.486,77
0,26
4.403
393,09
0,09
900,61
0,20
2.782
- 89,83
- 0,03
410,82
0,15
980
- 75,18
- 0,08
91,16
0,09
4.144
- 152,43
- 0,04
252,25
0,06
2.945
- 586,32
- 0,20
114,17
0,04
1.130
- 151,57
- 0,13
136,84
0,12
2.272
- 39,44
- 0,02
298,54
0,13
2.375
- 182,46
- 0,08
217,29
0,10
3.308
- 205,47
- 0,06
403,39
0,12
909
- 354,56
- 0,39
- 40,86
- 0,04
1.635
- 547,34
- 0,33
- 184,45
- 0,11
1.147
- 159,54
- 0,14
12,96
0,01
2.526
- 464,74
- 0,18
198,36
0,08
10.660
825,24
0,08
2.034,80
0,19
3.364
- 151,06
- 0,17
404,03
0,04
Legenda: (B) = Renda líquida mais a mão-de-obra e administração, remuneração do capital
fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra), e remuneração do
capital fixo da fábrica de queijo e sala de pasteurização (instalações e equipamentos); (C) =
Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos com a aplicação da planilha do Instituto
CEPA; e (D) = Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos quando os componentes
(mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo), não foram considerados como
custos e sim como oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo.
Em relação aos resultados econômicos obtidos com a aplicação da planilha do
Instituto CEPA e aos obtidos quando os componentes (mão-de-obra, administração
e remuneração do capital fixo), não foram considerados como custos e sim como
132
oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, observa-se que nos
sistemas pastoris esses componentes (mão-de-obra, administração e remuneração
do capital fixo), em média, representam um valor de R$ 0,11 / litro de leite, nos
sistemas semi-intensivo R$ 0,18 e nos intensivos R$ 0,21 (essas são as diferenças
das médias, entre a quarta e a sexta coluna, da tabela 38). Isso mostra que nos
sistemas semi-intensivos e intensivos os componentes (mão-de-obra, administração
e remuneração do capital fixo) têm maior participação na composição dos custos do
que nos sistemas pastoris.
Para verificar a participação de cada elemento (sistemas de produção e as
fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao produto leite), nos
resultados econômicos da atividade, vai-se realizar uma simulação, onde o valor da
receita bruta será determinada, como se todos os produtores comercializassem o
leite com a indústria e a oportunidade de remunerar os componentes de custos de
produção como: mão de obra, administração e remuneração do capital fixo, somente
da produção, cujos resultados estão na tabela 39.
Analisando a tabela 39, observa-se que, das 15 propriedades estudadas,
apenas duas, nessa simulação, possuem renda líquida positiva, representando 13%
das propriedades: uma, com sistema pastoril de produção e, outra com sistema
intensivo. Essas propriedades apresentam renda líquida positiva porque possuem os
menores custos de produção, como se vê na tabela 35. Alguns dos fatores que
podem explicar porquê esses agricultores possuem os menores custos de produção
são: para o agricultor 8, a alimentação dos animais apresenta-se como um aspecto
importante, onde 85% da dieta é de alimentos volumosos obtidos através de
pastoreio e 15% de alimentos concentrados. Outros aspectos estão relacionados
com a adequação dos investimentos fixos e a administração geral da atividade. Para
o agricultor 13, as atividades de avicultura e de suinocultura desenvolvidas na
propriedade contribuem na redução dos custos das pastagens, da silagem e dos
grãos utilizados na dieta dos bovinos porque a cama de aviário e o esterco dos
suínos são utilizados nas adubações das pastagens e das lavouras. Outro aspecto
importante está relacionado com a administração geral da atividade.
133
Tabela 39 - Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos de produção de
leite e a renda líquida de cada sistema de produção
Sistema Produção Agricultor
Pastoril
Média
Semi-intensivo
Média
Cocho
Média
(nº)
Valor receita
bruta
Valor custos
produção leite
Valor renda
líquida
R$ / mês
R$ / mês
R$ / mês
7
825,87
838,53
- 12,66
8
1.280,00
978,94
301,06
15
1.672,01
1.783,49
- 111,48
-
1.259,29
1.200,32
58,97
2
791,67
881,50
- 89,83
3
267,33
342,51
- 75,18
4
1.147,33
1.299,76
- 152,43
11
931,66
1.517,98
- 586,32
12
358,33
608,63
- 250,30
14
654,34
693,78
- 39,44
-
691,77
890,69
- 198,91
1
947,73
1.291,37
- 343,64
5
261,67
637,41
- 375,74
6
456,67
1.004,01
- 547,34
9
275,33
434,87
- 159,54
10
742,27
1.423,96
- 681,68
13
3.010,33
2.776,18
234,15
-
949,00
1.261,30
- 312,29
Obs: A receita bruta foi calculada, como se todos os produtores comercializassem o leite
com a indústria, no valor de R$ 0,26 / litro, mais a venda de animais de descarte e/ou
novilhas excedentes do plantel.
Dando continuidade à simulação de venda de leite à indústria, na tabela 40 são
apresentados os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, gerados pelos
componentes de custos de produção do sistema produtivo.
Na tabela 40, observa-se que, das 15 propriedades, as três propriedades com
sistemas pastoris, em média, possuem os melhores resultados econômicos, ficando
nesta mesma faixa de resultados, somente mais quatro propriedades. Três, com
sistemas semi-intensivos e, outra com sistema intensivo. Isso, na simulação onde os
agricultores vendessem o leite para a indústria. Portanto, constata-se que mesmo
igualando a forma de comercialização e o preço, as propriedades pastoris
134
Tabela 40 – Valores monetários mensais da receita líquida da atividade leiteira, total
mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo do sistema produtivo, a
quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por litro
de leite, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades
Sistema
Produção
Valor renda
líquida
Valor total
mão-de-obra
administração
R$ / mês
remuneração
R$ / mês
Total
(A)
Total
produção
Resultados
econômicos
R$ / mês
litros/ mês
R$ / litro
leite
- 12,66
289,32
276,66
3.037
0,09
301,06
375,88
676,94
4.478
0,15
- 111,48
664,76
553,28
5.694
0,10
61,97
443,32
502,29
4.403
0,11
- 89,83
500,65
410,82
2.782
0,15
- 75,18
166,34
91,16
980
0,09
Semi-
- 152,43
404,68
252,25
4.144
0,06
Intensivo
- 586,32
700,49
114,17
2.945
0,04
- 250,30
225,72
- 24,58
1.130
- 0,02
- 39,44
337,92
298,48
2.272
0,13
- 198,91
389,30
190,38
2.375
0,07
- 343,64
494,75
151,11
3.308
0,05
- 375,74
272,80
- 102,94
909
- 0,11
- 547,34
362,89
- 184,45
1.635
- 0,11
- 159,54
172,50
12,96
1.147
0,01
- 681,68
562,78
- 118,90
2.526
- 0,05
234,15
851,02
1.085,17
10.660
0,10
- 312,29
452,79
140,49
3.364
- 0,02
Pastoril
Média
Média
Cocho
Média
Legenda: (A) = Renda líquida mais a mão-de-obra, administração e remuneração do capital
fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra).
continuam apresentando os melhores resultados econômicos.
A tabela 41 apresenta a participação de cada elemento (sistemas de
produção e as fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao produto
leite) nos resultados econômicos da atividade leiteira.
135
Tabela 41 – Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos
componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo e o valor
agregado, por litro de leite, resultante das fases que os agricultores realizam fora do
processo produtivo, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas
propriedades
Sistema
Agricultor
Resultados
Resultados
Valor
econômicos
produção (A)
econômicos
agregado
(nº)
R$ / litro
R$ / litro
R$ / litro
7
0,09
0,18
0,09 (¹)
8
0,15
0,15
-
15
0,10
0,26
0,16 (²)
-
0,11
0,20
-
2
0,15
0,15
-
3
0,09
0,09
-
4
0,06
0,06
-
11
0,04
0,04
-
12
- 0,02
0,12
0,14 (³)
14
0,13
0,13
-
-
0,07
0,10
-
1
0,05
0,12
0,07 (³)
5
- 0,11
- 0,04
0,07 (³)
6
- 0,11
- 0,11
-
9
0,01
0,01
-
10
- 0,05
0,08
0,13 (³)
13
0,10
0,19
0,09 (³)
Média
-
- 0,02
0,04
-
Média geral
-
-
-
0,11
Produção
Pastoril
Média
Semi-intensivo
Média
Cocho
total (B)
Legenda: (A) = resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos componentes
mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, somente da produção e (B) = os
resultados econômicos obtidos, por litro de leite, da renda líquida e dos componentes mão de obra,
administração e remuneração do capital fixo, resultante das fases que os produtores realizam, desde
a produção, processamento, transformação e comercialização. (¹) 35% da quantidade de leite
comercializada são vendidas diretamente aos consumidores, sem inspeção. (²) toda a produção de
leite e/ou queijo é comercializada em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores,
sendo 63% desta produção vendida na forma de leite pasteurizado e 37% na forma de queijo. Essa
propriedade atualmente também não possui serviço de inspeção. (³) são produtores que transformam
toda a produção de leite em queijo. Possuem sistema de inspeção municipal e comercializam a
produção em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores no mercado local.
Na tabela 41, observa-se que nos sistemas pastoris, as fases que os
agricultores desenvolvem depois do processo produtivo, para os agricultores 7 e 15,
representam 50% e 62% do resultado econômico, respectivamente. Nos sistemas
136
semi-intensivos, o agricultor 12, com a produção e venda de queijo agregou R$ 0,14
/ litro de leite, passando de resultado econômico negativo para positivo. Nos
sistemas intensivos, as fases que os agricultores desenvolvem depois do processo
produtivo, para os agricultores 1 e 13, representam 58% e 47% do resultado
econômico, respectivamente e, para os agricultores 5 e 10, a produção e venda de
queijo agregou, respectivamente R$ 0,07 e R$ 0,13 / litro de leite. Esses resultados
mostram que, em média, as fases que os agricultores desenvolvem depois do
processo produtivo, agregaram R$ 0,11/ litro de leite. Considerando somente a
produção e venda de queijo a agregação é de R$ 0,10 / litro de leite. No entanto,
deve-se ter presente que, nesses resultados, os componentes mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo, estão sendo considerados não como
custos e sim como oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo.
Desta forma, o agricultor 5, mesmo produzindo e vendendo queijo não conseguiu
remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, tendo ainda um prejuízo de R$ 0,04 /
litro de leite produzido. Os dados mostram, ainda, que os sistemas de produção
utilizados nas propriedades contribuíram nos resultados econômicos. Mas, tiveram
influência decisiva sobre o retorno econômico da atividade, se assim pode-se dizer,
as fases realizadas pelos produtores após à produção, como processamento,
transformação e comercialização do leite e/ou produtos derivados.
Outro aspecto a ser ressaltado é que o agricultor 7 e, atualmente, o agricultor
15, estão no mercado informal do leite e dos produtos derivados. Não por opção,
mas porque a legislação atual pelo nível e tipo de exigências, restringe a
possibilidade de regulamentação dessas pequenas unidades. Os principais entraves
da legislação estão relacionados às plantas industrias, à restrição aos mercados
locais e, atualmente, à portaria 56, que veta o uso da pasteurização lenta, como
processo de pasteurização para o leite. Como já citado, no trabalho realizado por
AMABILE, et al. (2000), a qualidade higiênico-sanitária do leite obtida pelo processo
de pasteurização lenta, é semelhante à obtida pelo processo rápido de uma grande
indústria. Isso mostra a viabilidade da pasteurização lenta, como processo de
pasteurização para o leite. No entanto, a legislação ao invés de avançar no sentido
de possibilitar a regulamentação das agroindústrias de pequeno porte, tem gerado
mais dificuldades, principalmente em relação ao leite fluido. Isso, entre outro fatores,
provocou o aumento na quantidade de leite informal no mercado. No Brasil, na
137
última década, o leite informal cresceu numa taxa média de 15,9% ao ano e o leite
formal 3,8%.
Esses dados mostram que é preciso editar uma legislação mais adequada,
tendo em vista atender a necessidade das indústrias de pequeno porte e reduzir os
riscos que esses produtos possam trazer à saúde dos consumidores. Essas ações,
irão potencializar o desenvolvimento dos mercados locais e regionais e como
consequência o fortalecimento das pequenas unidades de produção.
Um dos elementos que proporcionam as diferenças nos custos são as
produtividades, como podem ser visualizadas na tabela 33. Porém, outros elementos
como alimentação dos animais e mão-de-obra são componentes muito importantes,
pois sempre representam um percentual significativo dos custos.
Na tabela 42, estão, em termos percentuais, quanto a alimentação, a mão-deobra, os custos variáveis e os custos fixos representam nos custos totais, em cada
sistema de produção.
Na tabela 42 observa-se que, em média, os custos com alimentação nos
sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho são 8,78 pontos percentuais
maior do que nos sistemas pastoris. Esta diferença mostra que a alimentação é um
componente que contribui no diferencial dos custos, entre esses dois sistemas. No
entanto, os custos com alimentação nos sistemas pastoris, em média são 2,73
pontos percentuais maiores do que nos semi-intensivos. Neste caso, o resultado
mostra que a alimentação é um componente que reduz o diferencial dos custos,
entre os dois sistemas. Este resultado se deve, em parte, porque dos seis sistemas
semi-intensivos, dois utilizam resíduos de unidades de beneficiamento de grãos,
produto de baixo custo, e ao menor custo das pastagens. O menor custo das
pastagens é devido, principalmente, ao uso de pequenas quantidades ou não uso de
adubos nas pastagens.
Em média, os custos de mão-de-obra nos sistemas semi-intensivos são 7,15
pontos percentuais maior do que nos sistemas pastoris. O maior uso de mão-deobra nos sistemas semi-intensivos se deve, basicamente, à forma como parte dos
alimentos é fornecida e a maneira como as vacas são ordenhadas.
138
Tabela 42 – Dos custos totais quanto, em percentagem corresponde a alimentação,
a mão-de-obra, os custos variáveis e os custos fixos, em cada sistema e produção
Sistema
produção
%
alimentação
% mão-
% total
% custos
% custos
de-obra
alimentação
variáveis
fixos
e mão-de-obra
36,38
10,06
46,44
64,78
35,22
39,61
18,96
58,57
67,31
32,69
34,67
14,23
48,90
69,73
30,27
36,88
14,41
51,30
67,27
32,72
28,85
30,63
59,48
69,42
30,58
Semi-
37,46
29,56
67,02
75,24
24,76
Intensivos
41,69
10,39
52,08
72,23
27,77
35,30
17,82
53,11
64,92
35,08
35,19
16,64
51,82
69,42
30,58
26,43
24,32
50,76
70,01
29,99
34,15
21,56
55,71
70,20
29,79
43,53
18,33
61,86
76,02
23,98
47,53
21,18
68,71
74,16
25,84
43,20
20,17
63,36
77,17
22,83
43,38
23,28
66,67
78,87
21,13
43,71
21,33
65,05
78,57
21,43
52,66
14,59
67,24
80,41
19,59
45,66
19,81
65,48
77,53
22,46
Pastoril
Média
Média
Cocho
Média
Nos sistemas intensivos, em média, os custos de mão-de-obra, são 5,40
pontos percentuais maior do que nos sistemas de produção pastoris. O maior uso de
mão-de-obra nos sistemas intensivos se deve, basicamente, à forma como parte dos
alimentos é fornecida e a maneira como as vacas são ordenhadas.
Estas diferenças médias percentuais de maior uso de mão-de-obra, entre os
sistemas pastoris e os sistemas semi-intensivos e intensivos, respectivamente de
7,15 e 5,40 pontos, mostram que a mão-de-obra também é um componente que
contribui no diferencial dos custos de produção, entre os sistemas estudados.
139
4.5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS PRODUTORES NAS PROPRIEDADE
RURAIS ESTUDADAS
Das nove propriedades vinculadas à indústria, além do leite, uma propriedade
comercializava queijo e outra leite diretamente aos consumidores e, das seis
propriedades não vinculadas à indústria, cinco comercializavam queijo e uma
comercializava leite e queijo em estabelecimentos comerciais e diretamente aos
consumidores no mercado local.
Nas propriedades estudadas, quanto as atividades na área de criações, exceto
a atividade leiteira, são realizadas em oito propriedades. Sendo, avicultura de corte
em três, suinocultura em seis e gado de corte em uma. Isso mostra que além da
atividade leiteira, 20% trabalham com avicultura, 40% com suinocultura e 6,6% com
gado de corte. Embora esses resultados mostrem uma freqüência alta de produtores
desenvolvendo as atividades de avicultura e suinocultura, sabe-se que essas
atividades são desenvolvidas por um pequeno número de produtores nos estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em relação às lavouras, o milho é cultivado nas quinze propriedades, a soja em
dez, o trigo em seis, a cevada em três e o feijão em uma. Três das propriedades não
comercializam grãos, utilizando toda a produção com as atividades de pecuária
desenvolvidas nas propriedades. Uma das propriedades produz e comercializa uva e
vinho.
Oito propriedades possuem fontes de renda não agrícolas. As rendas não
agrícolas são oriundas de aposentadorias e aluguéis de imóveis residenciais na
cidade. Dois proprietários têm imóveis para alugar na cidade de Erechim e oito
possuem pessoas aposentadas nas famílias.
Na tabela 43, estão as principais fontes de renda dos agricultores nas
propriedades rurais, valor da receita bruta de cada uma e a percentagem
correspondente à atividade leiteira.
140
Tabela 43 – Fontes de renda dos produtores, valor da receita bruta anual de cada
uma e percentagem correspondente à atividade leiteira
Sistema
produção
Pastoril
Atividade
leiteira
Suínos,
aves e
gado corte
Culturas
Rendas
e
fruticultura
não
agrícolas
Total
receita
Atividade
bruta
(%)
Leiteira
12.848,00
15.750,00
-
-
28.598,00
44,93
8.730,00
2.800,00
10.192,50
-
21.722,50
40,19
34.316,00
-
-
2.340,00
36.656,00
93,62
Média
59,58
9.500,00
11.700,00
19.800,00
2.340,00
43.340,00
21,92
3.208,00
10.800,00
-
2.340,00
16.348,00
19,62
Semi-
13.768,00
7.200,00
4.254,00
7.800,00
33.022,00
41,69
Intensivo
11.179,98
-
3.750,00
4.680,00
19.609,98
57,01
6.400,00
12.000,0
2.016,00
-
20.416,00
31,35
7.851,99
-
29.408,50
4.680,00
41.940,49
18,72
Média
Cocho
Média
31,71
15.304,00
-
6.050,00
-
21.354,00
71,67
4.130,00
-
25.820,00
-
29.950,00
13,79
5.480,00
-
5.574,00
-
11.054,00
49,57
3.304,00
-
7.500,00
-
10.804,00
30,58
13.052,00
42.000,00
39.040,00
14.340,00
108.432,00
12,04
51.100,00
63.000,00
116.880,00
4.680,00
235.660,00
21,68
33,22
Na tabela 43, observa-se que das três propriedades onde o sistema de
produção pastoril é desenvolvido, uma propriedade possui quase toda a receita
bruta oriunda da atividade leiteira. Nas outras duas propriedades a atividade leiteira
responde a 40% e 45% da receita bruta total. Das seis propriedades onde os
sistemas de produção semi-intensivos são desenvolvidos, em duas propriedades a
atividade leiteira responde a 42% e 57% da receita bruta total. No entanto, nas
propriedades destes sistemas a atividade leiteira responde, em média, por 38% da
receita bruta total. Das seis propriedades onde os sistemas de produção intensivos
de uso de alimentos no cocho são desenvolvidos, em duas propriedades a atividade
leiteira responde a 50% e 72% da receita bruta total. No entanto, nas propriedades
141
destes sistemas a atividade leiteira responde, em média, por 33% da receita bruta
total. As seis propriedades, onde são desenvolvidos os sistemas intensivos,
produzem e comercializam grãos, porém só duas, além da atividade leiteira, têm
outras atividades na área de criações.
Esses resultados mostram a importância que a atividade leiteira tem para a
agricultura familiar de pequeno porte, representando para sete, das 15 propriedades
dos sistemas estudados, uma das principais fontes de renda.
4.6 ASPECTOS AMBIENTAIS
Em relação aos aspectos ambientais os principais itens levantados na pesquisa
foram os sistemas de implantação das forrageiras; a rotação de culturas nas áreas
das pastagens; adubação das pastagens; o uso de agrotóxicos nas áreas das
pastagem e/ou lavouras; o uso atual da propriedade, a cobertura vegetal, a mata
ciliar, a proteção das vertentes d’água e o destino das embalagens dos agrotóxicos;
e o manejo dos dejetos, que serão analisados a seguir:
a) Sistemas de implantação das forrageiras: o sistema convencional foi usado por 13
agricultores, para implantar algumas ou todas as forrageiras utilizadas nas
propriedades. O sistema plantio direto por sete, sendo que um agricultor, utiliza
somente para implantar a cultura de milho para silagem. Porém, nenhum agricultor
utiliza só esse sistema para implantar todas as forrageiras. A sobressemeadura por
quatro. O sistema de sobressemeadura foi utilizado por dois agricultores para
introduzir espécies forrageiras perenes ou anuais nas pastagens naturalizadas dos
potreiros. Desses dois agricultores, um, também usou a sobressemeadura para
implantar forrageiras anuais de inverno na área de pastagem perene de inverno de
trevo branco x trevo vermelho x azevém. Os outros dois, utilizaram a
sobressemeadura para implantar forrageiras anuais de inverno nas áreas em
sucessão com as lavouras de verão. Desses dois agricultores, um, utiliza o sistema
há 12 anos e a outro há cinco anos.
Quanto ao sistema de implantação das forrageiras nas áreas de pastagens
nativas e/ou naturalizadas deve-se utilizar o sistema de sobressemeadura, tendo em
vista a manutenção da cobertura vegetal existente e a importância que essa
142
representa para o homem e o ecossistema. Para implantar as forrageiras em outras
áreas, também deve-se usar o sistema de sobressemeadura e/ou o sistema de
plantio direto, tendo por objetivo não se fazer nenhum revolvimento no solo ou o
menor possível. Como já citado, o revolvimento do solo acelera o processo de
oxidação da matéria orgânica, rompe com os agregados, modifica a estrutura, reduz
a porosidade... Isso expõe o solo à compactação e ao processo erosivo. Esses
aspectos também são evidenciados pelos agricultores nas respostas à pergunta:
porque mudou de sistema convencional para sistema plantio direto e/ou
sobressemeadura? Em síntese as respostas foram: “é mais fácil, dá menos trabalho,
é mais econômico, a terra fica menos socada e, a grade estraga muito a terra”.
No entanto, os resultados mostram que o sistema convencional é o mais
utilizado pelos agricultores. No nosso entendimento alguns aspectos podem explicar
por que a maioria dos agricultores usa o sistema convencional em relação ao plantio
direto e a sobressemeadura. Em relação ao plantio direto, devido ao uso do sistema
nas lavouras, os agricultores também passaram a usá-lo na implantação das
pastagens. Atualmente os maiores entraves existentes para adoção da semeadura
direta estão relacionados às dificuldades econômicas dos agricultores, por exemplo,
para aquisição de máquinas, mesmo à tração animal e aos aspectos culturais.
Quanto ao sistema de sobressemeadura os maiores entraves estão relacionados à
assessoria técnica e aos aspectos culturais. Este é mais um aspecto que evidencia a
necessidade de difusão da proposta de produção de leite à base de pasto resultante
da organização dos agricultores e do DZDR.
b) Rotação de culturas nas áreas de pastagens: dos 15 agricultores, oito fazem
rotação de culturas em algumas áreas de pastagens. O procedimento usado foi a
mudança da área de cultivo de algumas pastagens, sem no entanto um
planejamento para intercalar culturas de gramíneas e leguminosas. Nas áreas de
milho para silagem todos fazem a mudança da área de cultivo. Porém, dos quatro
agricultores que fizeram silagem, dois, plantaram e colheram o milho duas vezes na
mesma área e ano, para depois mudar a área de cultivo. Os resultados mostram que
há necessidade de realizar-se um grande esforço no sentido de melhorar os
sistemas utilizados e de sensibilizar os agricultores que não estão realizando rotação
de culturas, para que venham utilizar sistemas que contemplem aspectos do solo e
das culturas.
143
c) Adubação das pastagens: dos 15 agricultores, 14 fazem adubações das
pastagem. As adubações de base, de manutenção e de cobertura são muito
variadas nas doses e tipos de adubos. Onze agricultores utilizam adubação mineral
e orgânica e três, somente adubação mineral. A adubação orgânica é feita com
esterco de vaca, em duas propriedades, com esterco de suínos em seis e, com
cama de aviário em cinco propriedades. Das cinco propriedades que utilizam cama
de aviário, três possuem aviário de frango de corte e duas compram o adubo de
terceiros.
Em relação à diversificação das atividades ressalta-se que as propriedades que
possuem suínos e aves apresentam uma dinâmica de complementariedade muito
importante, principalmente por dois aspectos. Primeiro, porque a cama de aviário e o
esterco dos suínos são utilizados nas adubações das lavouras e das pastagens. Isso
representa um menor dispêndio de recursos financeiros com as adubações e como
consequência menor custo de produção. Segundo, porque a diversificação de
atividades é importantíssima para diluir os riscos da agricultura. Para exemplificar
esses aspectos cita-se o custo de produção de leite do agricultor de número 13, que
desenvolve sistema de produção intensivo e mesmo assim, devido aos aspectos da
complementariedade e da diversificação das atividades, possui um custo de R$ 0,24
/ litro, que é igual ao custo médio dos sistemas pastoris.
A adubação do milho foi feita pelos quatro agricultores que fizeram silagem, da
mesma forma e doses utilizadas para o milho destinado à colheita de grãos. Quanto
a reposição de nutrientes nas áreas onde foi cultivado o milho para silagem, todos
agricultores fazem a mudança de área de cultivo e dois realizam adubações mais
específicas para manter o nível de fertilidade do solo.
Um aspecto a se destacar é que a prática de usar leguminosas nas áreas de
pastagens perenes e/ou anuais de inverno e verão, recomendada pelo DZDR e
utilizada na propriedade da família de Olintho Ficcagana, não é utilizada pelos outros
produtores estudados.
d) Uso de agrotóxicos nas áreas das pastagens e/ou lavouras: todos os agricultores
utilizam e/ou utilizaram agrotóxicos nas áreas das pastagens e/ou lavouras. Nas
áreas das pastagens perenes, na implantação. Nas áreas das pastagens anuais de
verão e inverno, quando não utilizam na implantação, como essas áreas também
são áreas de lavoura, usam na implantação ou na condução das lavouras. Em
144
relação ao tempo de uso tem-se a seguinte estratificação: mais de 15 anos, três
agricultores, sendo 23 anos o de maior tempo; de 10 a 15 anos, sete; de 5 a 10,
dois; e, menos de 5 anos, três agricultores. Os dados mostram que 66% dos
agricultores estão usando agrotóxicos há mais de 10 anos. Isso mostra que as
práticas preconizadas pelo pacote da revolução verde estão muito presentes nos
sistemas de produção desenvolvidos pelos agricultores. Nesse contexto, necessitase construir sistemas de produção que respeitem as formas de organização
econômica e social e o ambiente, tendo-se por objetivo produzir alimentos saudáveis
e com qualidade nutritiva, capazes de atender a sociedade, com mínimo de impacto
e desequilíbrio nos ecossistemas.
Quanto aos motivos de uso, as respostas dos agricultores foram: “não tem
outro jeito de fazer, carpi não se carpe. No plantio direto, se não bota veneno, não
tem como fazer as lavouras. Mudou a tecnologia, nós também mudamos; foi
ampliada as lavouras. Quando começamos com o plantio direto, começamos usar
veneno; facilita, não precisa carpi; pouca mão-de-obra, se obriga passar veneno
para controlar as ervas; acomodação, sei que não é a melhor prática; precisa fazer
mais roça. Uma vez se colhia 100sc e se vivia. Hoje, cada ano precisa produzir mais
150, 200, 300sc e tá difícil; comecei o plantio direto, comecei usar veneno; não dá
tanto trabalho como a capina; precisa, não tem outra solução”. As repostas mostram
que os agricultores possuem poucas alternativas, principalmente para controlar as
ervas nas áreas de lavouras. O retorno a capina manual é muito difícil, devido a
pouca mão-de-obra disponível nas propriedades, a facilidade de uso dos venenos, a
penosidade do tabalho...
Em relação ao questionamento, os agrotóxicos causam problemas? Dos 15
agricultores , 12 responderam que sim e três não. Quanto ao tipo de problemas, as
respostas dos agricultores que responderam sim, foram: “bem não faz, é veneno;
prejudica a saúde; tem que ter cuidado, com fontes de água; já teve pessoas
intoxicadas; faz mal para a saúde; já para a natureza, tá prejudicando tudo: água, ar;
acho que devagar tem que pensar em parar; se fosse deixar seria melhor; prejudica
a terra, em si, veneno não é bom pra nada; são perigosos. Problemas tem, mas a
questão é controlar as ervas; o aplicador tem problema”. As respostas dos
agricultores que responderam não, foram: “até agora não. Saúde, nunca deu nada;
aqui na volta não se ouviu falar de pessoas intoxicadas com veneno; se usar a
quantidade certa não tem problema. Quem sabe manejar não tem problema
145
nenhum”. Os dados mostram que os agricultores sabem que os agrotóxicos causam
problemas, porém alegam que não possuem outra alternativa para controlar as
ervas. Essas respostas reforçam a necessidade de pesquisas e experiências no
sentido de desenvolver métodos alternativos de controle das ervas, insetos e
doenças, que sejam de uso compatíveis com as pequenas unidades de produção e
que não contaminem o homem, os alimentos e o ambiente.
e) Uso atual das propriedades e a cobertura vegetal: a tabela 44 mostra, da área
total das propriedades, quanto, em média, está sendo utilizada com as lavouras, os
potreiros, as pastagens perenes, a cultura de erva-mate, o reflorestamento e as
hortas, os pomares e as benfeitorias e, coberta com capoeiras e matas.
Na tabela 44, observa-se que, em média, as lavouras ocupam 64% da área
total das propriedades, os potreiros e as pastagens perenes 14,6%, o
reflorestamento 1,6% e, as capoeiras e as matas 10,7%. Em relação a área de
reflorestamento, 8,2 ha são de eucalipto e 2,0 ha de araucária. Quanto à distribuição
da cobertura vegetal, das 15 propriedades, tem-se que, 10 têm área com mata. O
agricultor 13, possui uma área de 27,0 ha coberta com mata e o agricultor 8, uma de
15 ha. Cinco, possuem área coberta com capoeira. Cinco, têm área reflorestada
com eucalipto, o agricultor 13, possui uma área de 4,0 ha. Uma, possui área
reflorestada com araucária. Sete, têm área com a cultura de erva-mate. Doze,
possuem área com pastagens perenes. Dessas propriedades, somente quatro têm
área de pastagem perenes que possa atender razoavelmente a necessidade de
forragem dos animais, tendo em vista a produção de leite à base de pasto, onde as
pastagens perenes são a base do sistema. Quinze, têm área coberta com pastagens
naturalizadas (potreiros). O agricultor 8, possui uma área de 19,5 ha e o agricultor 2,
uma de 17,0 ha. No entanto, somente dois agricultores melhoraram essas pastagens
através de introdução, principalmente de leguminosas.
Parte das áreas de lavouras são utilizadas em sucessão e/ou em rotação com
as pastagens anuais de verão e inverno. Todavia, como já citado, essas práticas
(sucessão e rotação de culturas) têm sido usadas sem um planejamento que
contemple aspectos de solo, das culturas e oferta de forragem adequada para os
animais, principalmente no outono.
146
Tabela 44 – Uso atual das propriedades e cobertura vegetal existente
Itens
Área (ha)
%
Lavouras
407,0
64,02
Potreiros
69,6
10,95
Pastagens perenes
23,5
3,70
Erva-mate
11,0
1,73
Reflorestamento
10,2
1,60
Hortas, pomares e benfeitorias
46,1
7,25
Capoeiras
12,0
1,89
Matas
56,3
8,86
Total
635,7
100
De modo geral, as áreas onde são cultivadas as lavouras e as pastagens
anuais de verão, essas ocupando uma área de 16,7 ha, no inverno são utilizadas
para o cultivo das culturas de trigo e cevada, pastagens e/ou culturas de cobertura
do solo. Na safra 2000, a cultura de trigo ocupou uma área de 73,0 ha e a da cevada
23 ha. Dos 15 agricultores, seis plantaram trigo e, desses, três também plantaram
cevada. Na área restante (311 ha), na maioria das propriedades, em praticamente
toda área, onde o azevém não surge espontaneamente, é feita a semeadura de
aveia preta ou aveia preta mais azevém. Essas espécies são cultivadas como
pastagens para os animais ou como culturas de cobertura do solo. Essa prática,
mesmo sendo muito utilizada pelos agricultores não evita problemas de erosão,
como se observou em algumas propriedades, isso porque a implantação das
culturas e/ou das pastagens são feitas pela maioria dos agricultores, através do
sistema convencional.
Outros aspectos observados foram: a mata ciliar, a proteção das vertentes
d’água e o destino das embalagens dos agrotóxicos. Quanto à mata ciliar, observouse que na maioria das propriedade não existe mata ciliar nos córregos e/ou rios que
passam pelas propriedades ou daqueles que passam pelas divisas das mesmas.
Também, percebeu-se que, de modo geral, os agricultores não estão sensibilizados
da importância que essa mata tem para o ecossistema.
Em relação ao destino das embalagens dos agrotóxicos, observou-se que, de
modo geral, essas são colocadas em diversos locais nas propriedades. Em algumas
delas, esses locais apresentavam sérios problemas, principalmente relacionados aos
147
mananciais hídricos. Porém, uma preocupação freqüentemente levantada pelos
agricultores foi sobre qual seria o destino adequado para as embalagens dos
agrotóxicos? Nesse sentido colocou-se que, a legislação sobre os agrotóxicos, prevê
a obrigatoriedade de destino das embalagens vazias aos fabricantes dos produtos.
No entanto, a solução desta questão passa pela adoção de sistemas alternativos de
produção que não fazem uso de agrotóxicos.
Quanto à proteção das vertentes, observou-se que, de maneira geral,
principalmente as vertentes em que a água é utilizada para o consumo das pessoas
e dos animais, elas estão protegidas por certa área de mata ou de capoeira ou mata
e capoeira. Essa prática busca proteger as áreas das vertentes do processo erosivo,
a água da deriva dos agrotóxicos e manter a disponibilidade de água em períodos
prolongados de estiagens, devido aos efeitos da vegetação sobre a estrutura do solo
e essa no fluxo d’água para as vertentes.
f) Manejo dos dejetos dos animais: antes de analisar os dados referente ao manejo
dos dejetos, analisaremos as respostas obtidas da pergunta: se à noite os animais
ficavam estabulados? Dos 15 agricultores, dois responderam que estabulavam os
animais à noite. Desses, um agricultor, respondeu que os animais sempre ficam
estabulados e o outro na maioria da vezes. Os motivos citados pelos agricultores
foram: “ costume. Para aproveitar o esterco para a horta e plantar pasto; por causa
do frio e da chuva”. Dos 13 agricultores que não estabulam os animais, em relação
ao tempo de uso dessa prática tem-se a seguinte estratificação: nunca estabularam
os animais, dois agricultores, mais de 10 anos, um, com 12 anos; de 5 a 10 anos,
sete; e, menos de 5 anos, três agricultores. Os dados mostram que 86% dos
agricultores atualmente não estabulam os animais à noite. Porém, há 10 anos atrás,
dos 11 agricultores que não estabulam mais, 10, estabulavam os animais. A prática
de estabular os animais veio com os imigrantes europeus há mais de 100 anos. Isso
evidencia que os aspectos culturais são muito importantes e devem ser
considerados quando se busca sensibilizar os agricultores para a adoção de
determinada tecnologia.
Em relação ao manejo do esterco dos animais tem-se que, dos 15 agricultores,
cinco manejam o esterco em esterqueiras; dois, através de trincheira no solo e oito
amontoam o esterco ao lado da sala de ordenha ou estábulo. O manejo do esterco
através da amontoa, de modo geral, sem uma caixa de contenção, para evitar
148
escorrimento do material e, em local não cercado, para evitar o acesso de outros
animais,
mostrou-se
inadequado,
principalmente
em
relação
às
questões
ambientais. O esterco manejado através de trincheira sem revestimento, também
apresentou problemas quanto as questões ambientais. Das formas utilizadas pelos
agricultores, o manejo através de esterqueiras mostrou-se mais adequado. Porém,
as outras formas, fazendo-se algumas melhorias como: construir caixa de contenção
e cercar os locais onde o esterco vai ser amontoado e, revestir as trincheiras, são
práticas que podem ser usadas no manejo do esterco. Outra prática que pode ser
usada é levar e distribuir o esterco diretamente nas áreas de lavouras e/ou de
pastagens. Quanto ao aproveitamento todos os agricultores utilizam o esterco como
adubo na horta e/ou nas áreas das pastagens e/ou lavouras. Na suinocultura as
práticas de manejo do esterco não foram avaliadas.
4.7 PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES SOBRE A ATIVIDADE LEITEIRA E
AVALIAÇÃO SUBJETIVA
Nosso objetivo nessa seção é analisar a percepção dos agricultores em relação
à atividade leiteira e realizar uma avaliação subjetiva de alguns fatores de produção
e sociais baseado nos dados levantados a campo e na experiência do pesquisador
como extensionista rural. O que se pretende com essa avaliação não é dar uma nota
para os agricultores para medir seu grau de eficiência, e sim tentar expressar,
através de um conceito, como algumas práticas são realizadas, como as
propriedades são administradas e o grau de satisfação dos agricultores em relação à
atividade leiteira. Não encontramos uma metodologia específica que oriente esse
tipo de avaliação.
Antes de realizar a análise e a avaliação subjetiva, analisaremos as respostas
obtidas às seguintes perguntas:
1) Se a opção pela agricultura foi própria, ou por influência da família ou por outros
motivos? Dos 15 agricultores, 11 responderam que estão na agricultura por opção,
dois por influência da família e dois por não terem outras oportunidades. Os dados
mostram que 73% dos agricultores estão na agricultura por opção.
149
2) Se ele, a esposa e os filhos gostam de ser agricultores? Dos 15 agricultores, 13
responderam que gostam, um, mais ou menos e, o outro, não. Das 15 agricultoras,
13 responderam que gostam e, duas, um pouco. Os motivos citados pelos(as)
agricultores(as) que gostam de ser agricultores(as) foram: “já se nasceu assim na
colônia. Na colônia a gente tem mais liberdade; sempre trabalhei na agricultura,
meus pais foram agricultores e eu não vi outra opção; fui criada na roça, eu gosto de
tratar os animais ir na lavoura; é a profissão que a gente tem. A esposa prefere ir na
roça que ficar em casa; é melhor na colônia que na cidade; o agricultor é mais livre;
hoje tenho orgulho de ser agricultor, anos atrás, achava uma coisa ridícula, meia
ruim; na colônia a gente se sente mais à vontade, mais tranqüilidade. Na cidade é
mais difícil. Na colônia a gente é patrão da gente mesmo; meu pai era agricultor, fui
trabalhar na cidade, não gostei, voltei para a colônia; não troco de profissão, não sei
fazer outra coisa”. Já, os motivos citados pelos(as) agricultores(as) que gostam
pouco ou mais ou menos ou não gostam foram: “tem que gostar, porque outra coisa
é mais difícil. Gostar tem que gostar, já que tá no serviço; a esposa sempre tá
dizendo vamos morar na cidade, por causa da filha; agricultura, não é meu chão.
Quando casei a minha esposa tinha que ficar junto com os pais dela, então fiquei”.
Em relação à faixa etária dos casais entrevistados tem-se a seguinte
estratificação: menos de 30 anos de idade, nenhuma pessoa; de 31 a 40 anos, 4
homens e 7 mulheres; de 41 a 50 anos, 7 homens e 6 mulheres; de 51 a 60 anos, 3
homens e 2 mulheres; e, mais de 60 anos, 1 homem, com 61 anos de idade. Os
dados mostram que das 30 pessoas entrevistadas, 24 (80%), estão na faixa etária
entre 31 e 50 anos. Isso evidencia que ainda está ocorrendo o processo de
renovação da força de trabalho.
Além dos casais e os filhos (as), nas propriedades residem outras pessoas: das
15 propriedades, em oito, residem na mesma casa ou em outra, os pais já
aposentados. Sendo que em seis, são os casais (os pais e as mães) e, em duas
somente as mães. Ainda, na propriedade do agricultor número 13, além dos pais, já
aposentados, residem e trabalham na forma de condomínio familiar, mais dois
casais (irmãos) e seus filhos; na propriedade do agricultor número 3, além da mãe,
já aposentada, também residem e trabalham na forma de condomínio familiar, mais
um casal (irmão) e seus filhos; e, na propriedade do agricultor número 6, residem e
trabalham na forma de condomínio, mais dois casais (irmãs) e seus filhos. Esses
dados mostram que os agricultores além de produzirem alimentos e matérias-primas
150
para sustento de suas famílias e para a população, estão desempenhando um
importante papel social junto aos seus familiares, que estão na terceira idade.
No total, as famílias entrevistadas têm 30 filhos, em média, dois filhos por
família. Dos 30 filhos, 23, residem com os pais ou na propriedade e sete já saíram
do meio rural. Quanto à faixa etária dos filhos que residem com os pais tem-se a
seguinte estratificação: menos de 5 anos de idade, nenhum filho; de 5 a 10 anos, 11;
de 11 a 15 anos, 6; de 16 a 20 anos, 2; e, mais de 20 anos, 4, sendo um, com 21
anos, outro com 22, e duas filhas, já casadas com mais de 30 anos. Os dados
mostram que 74% dos filhos que residem com os pais têm até 15 anos de idade.
Outro aspecto observado é que só 4 filhos com mais de 20 anos de idade estão no
meio rural, os outros 7 filhos já saíram em busca de outras oportunidades. Em
termos percentuais, dos filhos com mais de 20 anos tem-se que, 36% estão nas
propriedades e 64% já saíram do meio rural. Os dados indicam que, mantida essa
tendência, o processo de sucessão e a reprodução da agricultura desenvolvida nas
pequenas unidades estão visivelmente comprometidos. Isso mostra a necessidade
urgentíssima de se construir e executar ações que fortaleçam a agricultura de
pequeno porte e que essas possam gerar oportunidades para os filhos dos
agricultores optarem pela agricultura. Atualmente, para a maioria dos filhos dos
agricultores essa opção não existe. Quanto aos filhos gostarem ou não de serem
agricultores, as respostas ficaram prejudicadas, porque na maioria das vezes os
mesmos não estavam presentes.
3) Quais foram as últimas melhorias ou investimentos feitos na propriedade nos
últimos três anos? Dos 15 agricultores, 14 fizeram algum tipo de melhoria e/ou
investimentos
como
segue:
quatro
agricultores
compraram
terra,
sendo
respectivamente 2,0; 3,4; 9,0; e 75 ha. Dois agricultores trocaram os tratores, um, a
semeadora, um, a colheitadeira e, um, o caminhão. Três, compraram vacas, sendo
respectivamente 1, 2 e 3 cabeças. Um, comprou um carro. Um, construiu galpão
para as máquinas e equipamentos, um, aviário para frango de corte (200 cabeças),
um, aviário para aves de postura (1.000 cabeças), um, instalações para suínos e,
um, queijaria de pequeno porte. Três, compraram ordenhadeira, dois, resfriadores,
um, roçadeira, um motor elétrico e, um, telefone. Um, reformou o estábulo e, um, o
galpão para produtos. Dois, fizeram melhoria nas cercas e pastagens naturalizadas
dos potreiros e, quatro, implantaram e/ou aumentaram as áreas de pastagens
151
perenes de verão. Os dados mostram que praticamente todos os agricultores
fizeram algum tipo de investimento no sentido de ampliar, melhorar e/ou iniciar
outras atividades agrícolas. Isso indica que os agricultores acreditam na agricultura
como meio para melhorar suas condições de vida.
4) Se tem previsão de novos investimento? Dos 15 agricultores, 14 responderam
que pretendiam realizar novos investimentos. O agricultor que respondeu não, no
último ano fez a troca do trator e do caminhão. Os 14 agricultores que responderam
sim, disseram que fariam os investimentos como segue: dois, no melhoramento
genético das vacas e criação das terneiras. Dois, na ampliação das pastagens
perenes de verão e divisão das áreas das pastagens. Dois, na construção da sala de
ordenha. Dois na construção, um, na reforma e, um, na ampliação do estábulo. Dois,
na compra da ordenhadeira, um, do resfriador e, dois, de vacas. Dois, na construção
das instalações para suínos; um, da casa; um, do silo, do secador e término da
instalação de suínos; um, na reforma do galpão para máquinas e equipamentos; e,
um, na de estufa para plantio de flores. Os dados mostram que a maioria dos
agricultores tem previsão para investir na atividade leiteira. Isso demonstra a
importância que essa atividade tem para os produtores e no nosso entendimento a
atividade leiteira é das últimas atividades que ainda restam para o conjunto dos
pequenos agricultores.
5) Acha que na sua propriedade já tem tudo o que queria? Dos 15 agricultores, 14
responderam que não. O agricultor que respondeu sim, disse que “no momento está
bom”. As respostas dos agricultores que responderam não, foram:” falta muita coisa,
trocar a colheitadeira, o pulverizador e cercar o pátio da casa; reformar o estábulo,
comprar um carro de passeio, trocar a kombi por uma camioneta furgão para
transportar o queijo; ampliar o chiqueiro, construir uma sala de ordenha, comprar um
caminhão; melhorar o estábulo; tá faltando um monte, quando compra uma coisa tá
na hora de comprar outra. Tem que ir melhorando, se não tá atrasado sempre pra
trás; tá faltando dinheiro barato, mais assistência técnica; falta trator, mais vacas de
leite e de melhor qualidade; falta boa casa, sala de ordenha e plantadeira plantio
direto; reformar a casa, o estábulo, comprar resfriador, vacas e falta calcário na
terra; falta dinheiro, preço dos produtos muito baixo, mais vacas; ampliar área de
uva, figo e erva-mate; reformar chiqueiro, fazer piquetes potreiro e trocar a grama;
152
falta coisas para dentro de casa, melhorar instalação gado de leite, comprar
ordenhadeira; aumentar o plantel para 30 vacas, melhorar a criação das terneiras e
novilhas”. Os dados mostram novamente que a maioria dos agricultores apontam os
investimentos para atividade leiteira.
Quanto à percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira vai-se analisar
as perguntas como segue:
1) Se eles pretendiam continuar com a atividade leiteira? Dos 15 agricultores
pesquisados, 14 responderam que sim, e os principais motivos já foram citados
anteriormente.
2) Se pretende ampliar a atividade? Dos 15 agricultores, 13 responderam que sim,
representando 86%. Quanto ao número de vacas, atualmente os agricultores, em
média, possuem 12,26 cabeças, variando de 5 a 28. Na ampliação, a média passa
para 17,92 cabeças, com variação de 8 a 40, representando um crescimento de
46%.
3) Como vê o futuro da atividade leiteira? As respostas citadas foram: “o pequeno vai
se acabando, vai ficar quem se estruturar, o grande; pelas políticas agrícolas o
pequeno está com os dias contados; acho que vai melhorar um pouquinho mais; do
leite não é tanto, do queijo sim. O queijo tem futuro bom. Tem aumentado a procura
do queijo, precisa melhorar o preço. Não sei, por enquanto vamos produzindo; acho
que vai melhorar o preço. O que tem que diminuir é a diferença do preço entre o
produtor e o consumidor; sempre tem altos e baixos, o importante é que tem uma
renda no final do mês; ainda tem espaço; melhorar o preço; se o preço continuar
assim não sei se dá para continuar; não sei, acho boa pela previsão; o leite sempre
ajuda; preto, ruim, não vejo nada. O governo quer comida barata para o brasileiro; é
o rendimento que mais dá, comparado com agricultura”. Alguns comentários feitos
identificaram a política de especialização e de concentração como um entrave para
se manter na atividade. Outros, apontaram a importância que a atividade tem para
os agricultores e as dificuldades quanto ao preço recebido pelo produto. Nesse
sentido destaca-se o comentário feito sobre a necessidade de diminuir a diferença
de preço entre o que o agricultor recebe e o consumidor paga. Em maio de 2001, o
agricultor recebia, em média, R$ 0,26 / litro de leite e o consumidor pagava, nos
153
estabelecimento pesquisados em Erechim, em média, R$ 1,18 / litro de leite longa
vida. A embalagem do leite longa vida, conforme informação do departamento
técnico da COCEL, em maio de 2001, custava R$ 0,25 / embalagem, representando
praticamente o mesmo valor que o agricultor recebia pelo produto.
4) Está satisfeito com a atividade? Dos 15 agricultores, cinco responderam que sim,
sete, não muito e, três, não. Os 10 agricultores que responderam, não muito e não,
comentaram que o principal problema da atividade é o preço baixo pago ao produtor.
Um aspecto a se ressaltar é que dos seis produtores não vinculados à indústria,
quatro disseram que estavam satisfeitos com a atividade, um, não muito e, um, não.
Portanto, dos cinco produtores que responderam sim, quatro, são produtores que
não estão vinculados à indústria. Dos nove produtores vinculados à indústria, oito,
não estão satisfeitos com a atividade, devido ao preço que recebem pelo seu
produto. No nosso entendimento os preços baixos, também têm levado os
agricultores a aumentarem a escala de produção. Isso fica evidenciado nas
respostas da pergunta, se pretende ampliar a atividade? Onde 86% dos agricultores
disseram que sim, e apontam para um crescimento médio do plantel de 5 vacas /
propriedade.
5) Gostaria que seus filhos ficassem na agricultura? Dos 15 agricultores, seis
responderam que sim, três, não, três, disseram que a decisão será deles, um, a
resposta foi depende, “se tiver emprego bom, a agricultura não é muito fácil. Se o
salário for baixo (menos de 2 salários) a agricultura ainda é boa”, um, não tem mais
filhos em casa e o outro não tem filho. Os motivos citados pelos agricultores que
disseram sim, foram: “porque já tem terra; faço força para que fiquem; para dar
continuidade ao trabalho da gente; penso que a agricultura vai ser uma atividade de
valor; o filho sim; ajudam, mão-de-obra”. Os motivos citados pelos agricultores que
disseram não, foram: “sofre, como nós sofremos. Se eles tiverem um futuro melhor
que seguem; na roça é muito difícil; a filha tem problema de saúde”. Dos agricultores
que disseram que a decisão será deles, os comentários foram: “eles que sabem;
talvez, vai depender deles. Se encontrar outro ramo que gostam não sou contra, na
agricultura tá feio; eles tem liberdade para decidir”. Essas posições refletem as
dificuldades enfrentadas pelo setor agrícola.
154
A tabela 45, mostra os conceitos da avaliação subjetiva de alguns fatores de
produção e sociais das famílias pesquisadas no desenvolvimento do trabalho.
Analisando a tabela 45, tendo-se presente os resultados econômicos da
atividade leiteira obtidos nesse trabalho, pode-se dizer que o grau de satisfação dos
agricultores em relação à atividade tem certa correlação com as questões
econômicas. No entanto, existem outros fatores que influenciam no grau de
satisfação dos agricultores e na decisão de desenvolver determinada atividade.
Alguns destes fatores já foram citados como: mão-de-obra disponível e/ou
demandada, necessidade de investimentos, penosidade do trabalho, periodicidade
de ingresso de renda, efeito de complementariedade das atividades, falta de outras
oportunidades, entre outras.
Nesse contexto, analisaremos alguns elementos de três, das avaliações
realizadas, como segue: na avaliação do agricultor 5, observa-se que a atividade
leiteira está sendo desenvolvida de forma razoável e com resultado econômico
negativo. No obstante, tanto o agricultor como a família estão satisfeitos com a
atividade, conceito B. Essa família transforma todo o leite que produz em queijo e
vende diretamente aos consumidores e/ou pequenos estabelecimentos comerciais.
A quantidade, média, comercializada / semana é de 18 kg, representando uma
receita bruta mensal de R$ 278,00 e um resultado econômico negativo de R$ 41,00 /
mês. Isso que no cálculo desse resultado a remuneração dos componentes mão-deobra, administração e capital fixo foi contabilizada como oportunidade e não como
custo. Em relação ao grau de satisfação dessa família, talvez alguns comentários
feitos por eles nos ajudem a entender o porquê: a agricultora comentou que “o dia
que ela sai para vender queijo na cidade é como se fosse um dia de lazer. O
dinheiro do queijo é dela. Ela que administra. Serve para fazer o rancho, pagar a luz
e também para fazer algumas comprinhas para ela e os filhos”.
Na avaliação do agricultor 3, observa-se que a atividade leiteira também está
sendo desenvolvida de forma razoável e com resultado econômico positivo. O
agricultor e a família demonstraram que estavam satisfeitos com a atividade e foram
avaliados com conceito B. Essa família vende, em média, 900 litro de leite / mês,
representando uma receita bruta mensal de R$ 234,00 e um resultado econômico
positivo de R$ 91,00 / mês. Isso considerando os componentes mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo como oportunidade e não como custo.
Porém, a receita líquida da atividade leiteira desse agricultor é negativa, no valor de
155
R$ 75,00, se considerarmos os custos do leite de acordo com a planilha de cálculo
do Instituto CEPA/SC. Em relação ao grau de satisfação dessa família, os
comentários feitos foram: “não dá para parar com as vacas. É o nosso salário do
mês”.
Na avaliação do agricultor 4, observa-se que a atividade leiteira ficou com
conceito entre razoável e bom e com resultado econômico positivo. O agricultor e a
família demonstraram que não estavam muito satisfeitos com a atividade e foram
avaliados com conceito C. Essa família vende, em média, 3.900 litro de leite / mês,
representando uma receita bruta mensal de R$ 1.014,00 e um resultado econômico
positivo de R$ 252,00 / mês. Isso considerando os componentes mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo como oportunidade e não como custo.
Porém, a receita líquida da atividade leiteira desse agricultor é negativa, no valor de
R$ 152,00, se considerarmos os custos do leite de acordo com a planilha de cálculo
do Instituto CEPA/SC. Em relação ao grau de satisfação dessa família, os
comentários feitos foram: “não estou muito satisfeito. O leite é muito barato. Mas
sem o leite seria pior, com o leite a gente ganha uma renda mensal”.
Os dados mostram que são muitas as interações e os fatores que influenciam
no grau de satisfação dos agricultores e na forma como é administrada e
desenvolvida a atividade leiteira. Para a maioria dos agricultores pesquisados a
rentabilidade não é o fator que determina sua continuidade ou não. A atividade é
desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal, sendo
portanto fundamental para a subsistência da família e a manutenção das pequenas
unidades de produção. Assim, a atividade leiteira se apresenta como elemento
chave para o desenvolvimento agrícola, devido ao ingresso de renda mensal, alta
absorção de mão-de-obra, permite uso de solos exauridos pela agricultura,
apresenta fácil integração com outras atividades e por estar presente na maioria das
propriedades.
Quanto à administração geral das propriedades observa-se que a maioria dos
agricultores ficaram com conceito razoável, porque a avaliação feita foi baseada em
alguns questionamentos e na percepção do pesquisador. No entanto, esses
conceitos podem não estar expressando as reais condições que os recursos
naturais, financeiros e humanos são administrados. Essa observação também serve
para os outros itens avaliados.
156
157
4.8 PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES EM COOPERATIVAS, SINDICATOS,
ASSOCIAÇÕES E/OU GRUPOS COMUNITÁRIOS
Em relação as cooperativas de produção todos os agricultores disseram que
eram sócios, sendo 12 em uma e, três, em duas. Nas cooperativas de crédito, dos
15 agricultores, 12, disseram que eram associados a uma cooperativa. Quanto à
participação nas assembléias das cooperativas de produção, dos 15 agricultores,
sete disseram que participavam regularmente, sendo que desses, quatro, são lideres
de comunidade, quatro, disseram às vezes e, quatro, não. Em relação as
contribuições que as cooperativas de produção trouxeram para a agricultura, os
comentários citados foram: “garantia de comercialização, integração; orientação
técnica, depósito dos produtos; garantia de preço, confiança na hora de vender a
produção; facilita a compra e a venda; tem onde vender; pouco, quase nada; sem as
cooperativas é pior. Não pode ficar cego, mas tem que ser sócio; convênio com a
saúde; sem a cooperativa não dá, fica sem rumo. É mais seguro; só lidar com
particular é ruim”. Pelos comentários observa-se que o sistema cooperativo é muito
importante para os agricultores, desde o processo produtivo até a comercialização.
Porém, a participação dos agricultores nas assembléias é pequena, considerando
que as mesmas são instrumentos de decisões.
Quando perguntados se eram sócios de sindicatos? Dos 15 agricultores, nove
responderam sim, sendo que desses, oito, estão associados ao Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e, um, ao Sindicato Rural e, seis, não. Desses, três, já foram
sócios. Em relação à participação nas assembléias, dos nove agricultores, quatro
disseram que participam regularmente, sendo que desses, um, faz parte da diretoria
e, o outro é líder de comunidade, quatro, às vezes e, um, não. Quanto as
contribuições que os sindicatos trouxeram para a agricultura os comentários citados
foram: “na organização dos agricultores, reivindicações de políticas agrícolas; trocatroca semente de milho, convênio dentista; reivindicação PRONAF; reivindicação de
preços, talão produtor, produtos veterinários; consultas médicas, documentos; faz a
folha dos empregados, enquadramento financiamentos”. Pelos comentários observase que o sindicato clientelista está muito presente nos agricultores.
Quanto a participação dos agricultores em outras entidades associativas temse que: dos 15 agricultores, nove participam de associações e/ou grupos
comunitários e, seis, não. A participação dos agricultores nas associações e/ou
158
grupos é a seguinte: três, disseram que participavam da associação de telefonia,
um, da associação municipal de criadores de suínos, dois, da associação de
moradores da comunidade, um, da associação de poço artesiano, três, do grupo de
ensiladeira, três, do grupo do distribuidor de esterco, três do grupo de semeadora,
um, do grupo de secador de leito fixo, um, do grupo de roçadeira e, um, do grupo do
distribuidor de calcário. A associação dos moradores, segundo os agricultores, foi
criada para a compra de máquinas, equipamentos e insumos e venda de produtos
em conjunto pelos agricultores da comunidade.
Outras perguntas relacionadas ao desenvolvimento de atividades associativas
feitas aos agricultores foram:
1) Se já pensou vender leite em conjunto com os vizinhos para aumentar a
quantidade e receber melhor preço? Dos nove agricultores que vendem leite à
indústria, dois responderam sim e, sete, não. Os comentários feitos pelos
agricultores que disseram sim, foram: “pensa se pensou, mas acho que não dá
certo, é difícil; foi comentado fazer um grupo, mas uns acharam que não, outros
acharam meio difícil”. Os comentários feitos pelos agricultores que disseram não,
foram: “não pensei, mas é uma alternativa para ganhar melhor preço; a minha
propriedade fica longe, é difícil pela distância; vender junto só com o filho; não tenho
interesse. Não dá certo, um capricha o outro não. Vender junto não; a empresa não
aceita, não paga mais; é difícil formar grupos; nunca pensei, mas não sei se dá
certo”. Pelos comentários percebe-se que, apesar dos agricultores usarem
equipamentos, máquinas e/ou comprarem insumos em conjunto, como já citado,
ainda existe um forte grau de individualismo no desenvolvimento de suas atividades.
2) Já ouviu falar em condomínio? Todos responderam que sim. A pergunta, para o
Senhor o que é um condomínio? De maneira geral todos responderam que é uma
sociedade organizada por um grupo de pessoas para desenvolver determinada
atividade.
3) O Senhor se associaria a um condomínio? Dos 15 agricultores, oito, responderam
depende, dois, dificilmente e, cinco, não. Os motivos citados pelos agricultores que
responderam depende, foram: “tem coisa que dá para se associar, outras não dá.
Grupo de telefone, ensiladeira, distribuidor de esterco; se fosse condomínio de
159
porco; depende da coisa, poderia até me associar; se for um grupo sem vínculos
políticos; depende se todos estão de acordo, se não é difícil; tem que pensar. Já, os
grupos de PRONAF é difícil; tinha que ver o que seria; depende se tiver condições
econômicas”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram dificilmente, foram:
“não funciona, quebra logo. Geralmente tem um espertinho no meio; se for
necessário, bom, até arriscaria”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram
não, foram: “é muito difícil trabalhar em grupo; só com irmão. Porque não tem jeito,
tem muita gente ligeira; não, porque acho que não funciona; vi muita gente fracassar
com isso; minha propriedade fica longe das outras. O problema é o dinheiro”. Pelas
respostas observa-se que os agricultores demonstram resistência para desenvolver
atividades coletivas. Essas posições refletem o modelo de sociedade na qual
estamos inseridos que estimula o individualismo e a competição.
4) Quando perguntados, se participaria de grupo para construir um laticínio de
pequeno porte? Dos 15 agricultores, três, responderam que sim, sete, depende,
dois, dificilmente e, três, não. Os motivos citados pelos agricultores que disseram
sim, foram: “se fosse para melhorar o preço, outros produtos dão mais lucro que o
leite; o produto já sairia industrializado da propriedade e com melhor preço”. Os
motivos dos agricultores que responderam depende, foram: “se fossem produtores
de mesmo nível econômico; depende, tem muita concorrência o pequeno não tem
vez; até que poderia me associar; se fossem honestos; tinha que estudar o caso; se
for um grupo de grande laticínio, poderia ser uma alternativa, só que precisa ser
gente que não dá calote; participaria se tivesse condições econômicas”. Os motivos
citados pelos agricultores que disseram dificilmente, foram: “não funciona; idéia
complicada é difícil” e, dos agricultores que responderam não, foram: “cada um deve
fazer a parte dele; não dá certo; é meio difícil organizar, falta confiança, um pouco de
tudo”. As respostas mostram que somente com muito esforço e trabalho é que vai-se
fortalecer as ações coletivas já desenvolvidas pelos agricultores e/ou iniciar novas
que possam dar consistência ao desenvolvimento agrícola.
Outro questionamento feito aos agricultores foi sobre se recebe orientação
técnica? Dos 15 agricultores, 12 responderam que sim, representando 80%. Desses
produtores, nove, informaram que recebem orientação técnica só de uma empresa
e/ou entidade, dois, de duas e, um, de três. Quando questionados sobre a
freqüência? Dos 12 agricultores que recebem orientação técnica, oito, disseram que
160
o atendimento é por chamado, três, em torno de 40 dias e, um, muito variável,
porque recebe orientação de empresas agropecuárias. Quanto as contribuições da
orientação técnica os comentários foram: “muitas contribuições, no manejo dos
animais, pastagens e solo; ajuda na orientação da produção; a orientação técnica
sempre ajuda; trouxe bastante contribuições, ajuda o produtor; a assistência técnica
foi ótima; ajuda, passa informação; mais sobre mamite, desverminar, problemas das
vacas; ajuda, melhora, explicam, orientam como fazer, manejo, o que plantar;
ajudam mais nas vacas doentes; o que pede explicam, ajudam, tá boa. Pelos
comentários percebe-se que os agricultores valorizam a orientação técnica recebida
das empresas e/ou entidades.
4.9
PRODUTOS
LÁCTEOS:
PRODUZIDOS
E
COMERCIALIZADOS
POR
AGRICULTORES EM PEQUENAS UNIDADES DE PRODUÇÃO
Para verificar a aceitação de produtos lácteos produzidos e comercializados
pelos agricultores em pequenas unidades de produção, foram feitas entrevistas com
os responsáveis de estabelecimentos comerciais e consumidores que adquiriam
produtos dessas unidades. Antes de analisar os resultados serão apresentados
dados sobre o fluxo de venda de alguns dos produtos lácteos comercializados pelos
estabelecimentos comerciais pesquisados. A quantidade média comercializada /
estabelecimento / semana, de leite tipo C foi de 218 litros, variando de 27 a 900
litros, de leite longa vida, de 158 litros, variando de 3 a 1.000 litros; e, de queijo, de
37 kg, variando de 2 a 190 kg. Os dados mostram que 58% do leite vendido foi de
leite tipo C (pasteurizado e embalado em saco plástico) e 42%, de leite longa vida
(esterilizado e embalado em caixa de papel aluminizado). Nos municípios de Modelo
e Serra Alta, os estabelecimentos comerciais pesquisados, onde a
família de
Olintho Ficcagna comercializava o leite, 52% das vendas foi de leite tipo C e 48% de
leite longa vida. Todo o leite tipo C comercializado nesses estabelecimentos foi
fornecido pela família de Olintho, porque nesses municípios as indústrias lácteas não
fornecem leite tipo C, somente leite longa vida. Nesse sentido, principalmente nos
municípios pequenos visualizamos como oportunidade a implantação de unidades
como à da família de Olintho Ficcagna, tendo em vista melhorar a qualidade dos
produtos lácteos comercializados e como consequência reduzir os riscos que os
161
mesmos possam trazer à saúde da população. Em relação aos consumidores
pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos
agricultores, 62% informaram que consomem leite tipo C e 38% leite longa vida.
Em relação ao queijo, do total comercializado nos estabelecimentos
pesquisados, 9% é de queijo colonial, sem inspeção, 55% de queijo oriundo de
pequenas queijarias, com inspeção municipal e, 36% de queijo de indústria de médio
e grande porte, com inspeção estadual e/ou federal. No município de Erechim, do
total comercializado, 61% é de queijo oriundo de pequenas queijarias, com inspeção
municipal e, 39% de queijo de indústria com inspeção estadual e/ou federal. Nos
municípios de Modelo e Serra Alta, do total comercializado, 63% é de queijo colonial
sem inspeção, 22% de pequenas queijarias sem inspeção e, 15% de indústrias de
médio e grande porte. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam
leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, 22% informaram que
consomem queijo colonial sem inspeção, 70% de pequenas queijarias e 8% de
indústria de médio e grande porte. Os dados mostram que há mercado para os
produtos fabricados em pequenas unidades de produção e coloniais. Porém, há
necessidade de fortalecer e implantar os serviços de inspeção municipais e
estaduais, como já comentado.
Esse aspecto é evidenciado pelos agricultores que comercializavam leite e/ou
produtos derivados em estabelecimentos comerciais e/ou diretamente aos
consumidores, nas respostas dadas a pergunta, a inspeção é valorizada pelo
consumidor e/ou mercadistas? Dos sete agricultores que vendiam produtos lácteos
todos disseram que os consumidores valorizavam os produtos inspecionados. Os
comentários foram: “sem inspeção vende para conhecidos, quem compra é porque
conhece o produtor; sem inspeção os mercados não compram; o consumidor que
tem dinheiro, valoriza, se tem pouco dinheiro não, compra pelo preço; os
consumidores compram se conhecem o produtor, se não conhecem não compram”.
Em relação aos mercadistas, dos sete agricultores, um, disse que os mercadistas
valorizavam os produtos inspecionados e, seis, mais ou menos. Os comentários
foram: “os mercadistas por segurança, podem deixar os produtos no balcão; os
mercadistas estão mais preocupados com a fiscalização; sem inspeção não
compram porque são fiscalizados, mas tem mercado que não compra produtos com
inspeção para comprar produtos não inspecionados, a questão é o preço; os
mercadistas estão preocupados com o fiscal”.
162
Em relação ao mercado, para exemplificar, cita-se dados fornecidos pela
Secretaria de Agricultura do Município de Erechim, quanto a comercialização de leite
e produtos derivados produzidos em pequenas unidades registradas no serviço de
inspeção municipal (SIM). A figura 9, mostra uma queijaria registrada no SIM de
Erechim. A quantidade total comercializada / mês foi de 9.698 kg de queijo, de
30.580 litros de leite tipo C, de 525 litros de bebida láctea, de 62 kg de ricota, de 34
kg de requeijão e, de 6 kg de manteiga, dados referente ao ano de 2000. Das 16
unidades, todas comercializam queijo, variando de 53 a 3.154 kg / mês. Dessas
unidades, uma, também vende leite e bebida láctea, duas, ricota, uma, requeijão e,
uma, manteiga. Os dados mostram que em torno de 100.000 litros de leite / mês são
transformados em queijo e comercializados por pequenas queijarias sob orientação
dos serviços de inspeção municipal. Os dados mostram que nos municípios maiores
o queijo apresenta maiores possibilidades de comercialização do que o leite fluido.
Quanto a comercialização de leite e produtos derivados serão analisadas as
perguntas como segue:
1) Se nos últimos dois anos a venda de leite e dos produtos derivados, de um modo
geral: aumentou, diminuiu ou continua a mesma? Dos 11 entrevistados, seis,
disseram que aumentou, quatro, continua a mesma e, um, não soube informar.
Quanto aos produtos cujo a venda aumentou: o leite longa vida, a bebida láctea, o
iogurte e o queijo foram citados seis vezes, o leite tipo C, três, o requeijão, duas, e, o
creme de leite, duas.
2) Se a maior procura é por leite longa vida ou leite de saquinho (tipo C)? Dos 11
entrevistados, 54% indicaram que a maior procura é por leite de saquinho, 18% por
leite longa vida e 18% meio a meio. O motivo da procura pelo leite de saquinho no
entendimento dos entrevistados deve-se ao preço mais baixo. Para exemplificar, o
leite da marca FIBO, de saquinho, produzido pela família de Olintho Ficcagna, era
vendido nos estabelecimentos comerciais de Modelo e Serra Alta, em média, por R$
0,60 / litro e o leite longa vida por R$ 1,30 / litro, preços de maio de 2001. No
município de Erechim, o leite de saquinho era vendido, em média, por R$ 0,72 / litro
e o longa vida por R$ 1,18 / litro, também preços de maio de 2001. Os motivos
citados pelos entrevistados que disseram que a maior procura era pelo leite longa
163
Figura 9 – Queijaria da família de Alcides Mariga localizada no município de
Erechim/RS. 15/02/01.
Valmir Dartora
vida, foram: “vida útil do leite; o leite demora mais para estragar, por causa da
embalagem; praticidade; facilidade”. Em relação aos consumidores pesquisados que
adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas
da pergunta, quando compra leite no mercado procura adquirir, leite longa vida ou
saquinho? Dos cinco consumidores entrevistados, quatro responderam que
compram leite longa vida e, um, de saquinho. Os motivos citados pelos entrevistados
foram: “qualidade, tempo de validade. O leite de caixinha pode deixar fora da
geladeira, menos cuidado que o de saquinho; compro leite de caixinha desnatado,
problema de saúde; por opção, porque onde compro não tem leite de saquinho;
compro leite de saquinho porque não tem conservantes”.
3) Se é possível distinguir diferença de consumo de leite e produtos derivados entre
as diferentes categorias de renda da população? Dos 11 entrevistados, oito,
responderam que sim, dois, não e, um não soube responder. Os comentários feitos
pelos entrevistados que disseram sim, foram: “menor poder aquisitivo consome mais
164
leite, o queijo não tem relação econômica; consumidor de maior renda compra leite
de caixinha”. Os comentários dos entrevistados que disseram não, foram: “as
pessoas compram mais ou menos igual, independente de sua renda; as pessoas
compram por necessidade”.
Em relação a pergunta, o consumo de leite e derivados se dá mais entre a
população: de baixa renda, de renda média e assalariados, de renda alta ou, todos
consomem igualmente? Dos 11 entrevistados, três disseram que a população de
menor renda compra mais leite tipo C e que a população de melhor renda compra
mais leite longa vida, três, que o maior consumo se dá na população de renda média
e assalariados, dois, que o consumo é igual independente da renda, um, que o
maior consumo de leite se dá na população de baixa renda e que o queijo não tem
relação econômica e, dois, não souberam responder.
4) Se há clientes que pedem produtos pela marca? Dos 11 entrevistados, nove,
disseram que sim, um, não e, um não respondeu. O entrevistado que respondeu
não, disse que a definição da compra se dá pelo preço. Em relação a pergunta, do
total dos clientes quanto, em percentagem pedem produtos pela marca? Dos nove
que disseram sim, quatro, responderam que a percentagem era maior que 50% e,
cinco, menor que 20%. Isso mostra que a maioria dos consumidores dos
estabelecimentos pesquisados não são orientados pela marca na compra de leite e
de produtos derivados.
Em continuidade a pergunta, dos que pedem produtos pela marca, a renda da
maior parte deles pode ser considerada: média a alta, média e, média-baixa? Dos 11
entrevistados, seis, responderam que a renda é média, um, renda média a alta, um,
renda média-baixa, um, não tem relação com a renda e, dois, não responderam.
5) Os clientes perguntam sobre a origem do leite e dos produtos derivados? Das
opções apresentadas (todos, a maior parte deles, alguns e ninguém) as respostas
foram: alguns, foi citado cinco vezes, a maior parte deles, quatro vezes, e, ninguém,
duas vezes. Os dados indicam que a maioria dos consumidores não demonstram
preocupação como a origem do produto que irão consumir.
6) Se há uma preocupação dos clientes em relação à qualidade dos produtos? Dos
11 entrevistados, nove disseram sim, um, que ninguém fala nada e, um, não
165
respondeu. Sobre a pergunta, o que os clientes entendem por qualidade do leite e
dos produtos derivados? Das opções apresentadas as respostas foram: aspecto
visual (aparência), foi citado sete vezes, condições de higiene na ordenha, coleta,
processamento..., cinco vezes, produtos frescos, sete vezes, muita gordura, uma
vez, tempo que o produto fica sem estragar, seis vezes e, outras, validade do
produto, uma vez. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite
e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, sobre a pergunta, como você
avalia a qualidade do leite e dos produtos derivados? Das opções apresentadas as
respostas foram: aspecto visual (aparência), foi citado quatro vezes, condições de
higiene na ordenha, coleta, processamento..., três vezes, produtos frescos, quatro
vezes, muita gordura, uma vez, tempo que o produto fica sem estragar, duas vezes
e, outras, experimento o produto, uma vez. Os dados mostram que a maioria dos
consumidores relacionam a qualidade dos produtos com a aparência, o frescor, as
condições de higiene na ordenha, coleta, processamento... e o tempo que fica sem
estragar. Em relação ao último item, no caso do leite fluido, o período de validade do
produto está diretamente relacionado ao processo industrial que for submetido. Por
exemplo, o leite longa vida passa por um processo industrial que provoca sua
esterilização. Por isso esse leite tem um período de validade de até quatro meses.
Já, o leite tipo C passa por um processo industrial que preserva sua qualidade
microbiológica. Portanto, por ser um produto que possui vida microbiológica tem um
período de validade de três a quatro dias.
Em continuidade a pergunta, no seu entendimento, qual a percentagem de
consumidores que tem preocupação com a qualidade de produto? Das opções
apresentadas as respostas foram: menos de 10% do total, foi citado duas vezes, de
10 – 30% dos consumidores, uma vez, de 30 – 50%, duas vezes, mais de 50% do
total dos consumidores, cinco vezes e, um, não respondeu. Os resultados indicam
que a maioria dos consumidores mostram-se preocupados com a qualidade do leite
e dos produtos derivados.
7) No seu entendimento, qual a percentagem de clientes que sabem a diferença
entre o leite de caixinha (longa vida) e o leite de saquinho (tipo C)? Dos 11
entrevistados, dois responderam que mais de 50% dos clientes, um, entre 80 – 90%,
um, em torno de 30%, um, entre 15 – 20%, um, menos que 10%, um, que os clientes
não sabem, três, fizeram comentários e, um, não respondeu. Os comentários citados
166
em relação a essa questão foram: “o leite de caixinha não precisa ferver; a diferença
é o preço; a maioria acha que o leite de caixinha é melhor, por causa do preço; o
leite de caixinha é melhor. É mais limpo; o leite de caixinha é de melhor qualidade;
vida útil do produto”. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite
e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta,
você sabe a diferença entre o leite de caixinha e o leite de saquinho? Os
comentários foram: “a diferença é o preço; o filho prefere mais o de caixinha; o leite
de caixinha é aguado, o de saquinho é mais grosso; gosto mais do leite de caixinha,
mas o leite de saquinho é mais saudável, por isso compro o leite de saquinho; o leite
de caixinha tem mais conservante, produtos químicos que prejudicam a saúde”.
Pelos comentários, percebe-se que os responsáveis pelos estabelecimentos
comerciais e os consumidores não conhecem a diferença do processo industrial ao
qual são submetidos o leite longa vida e o tipo C. Isso evidencia a necessidade de
se fortalecer o trabalho de divulgação realizado pela Associação Brasileira das
Industrias de Leite Pasteurizado (ABILP) sobre a diferença de qualidade do leite
submetido a esses processos.
8) Há facilidade de se conseguir produtos de pequenos laticínios e queijarias? Dos
11 entrevistados, 10 responderam que sim, e, um, que não tem oferta. Em relação
aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados
diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta, há facilidade de se comprar
leite e produtos derivados diretamente dos agricultores? Dos cinco entrevistados
todos responderam, sim e, os comentários foram: “proximidade com o meio rural,
produtos naturais; há bastante oferta na cidade; boa produção e oferta, valorização
do produto local; produto oferecido no local do trabalho e em casa; proximidade com
o meio rural, tudo gira em torno da agricultura”.
9) Se há algum problema em relação a pequenos laticínios e queijarias, no que diz
respeito ao abastecimento e qualidade dos produtos? Dos 11 entrevistados, cinco
disseram que não, dois, há pouca oferta, dois, falta produtos, um, falta uma estrutura
comercial e, um, que o leite tem problema. Os comentários em relação a essa
questão foram: “quanto ao leite há reclamação de qualidade, muito fraco e tem água
(pesquisa feita em Erechim); a qualidade é ótima; pouca oferta; nem sempre tem
quantidade suficiente de produto; a qualidade é ótima, boa. O problema é o
167
abastecimento pouca quantidade; falta uma estrutura comercial para organizar a
comercialização dos produtos”. Pelas respostas percebe-se que o mercado não é
problema para os produtos das indústrias de pequeno porte.
10) Na opinião dos comerciantes como é a aceitação dos produtos coloniais pelos
consumidores? Dos 11 entrevistados, nove, responderam boa, um, muito boa e, um,
ótima. Os comentários feitos foram: “os produtos coloniais sempre são os mais
procurados, porque não tem agrotóxicos, conservantes; tem boa aceitação, a origem
dos consumidores é rural; é boa, porque é colonial, porque não vai veneno, não tem
conservantes, são produtos naturais; muitos querem o queijo colonial; preferem os
produtos coloniais aos industrializados. Produto mais natural; é boa, porque não tem
conservantes; ótima, os clientes aceitam muito bem”. Em relação aos consumidores
pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos
agricultores, as respostas da pergunta, na sua opinião como é a aceitação dos
produtos coloniais? Dos cinco entrevistados, três, responderam boa e, dois, muito
boa. Os comentários feitos foram: ”se acha que é mais puro, não tem veneno e nem
conservante; tem menos produto químico. É mais natural”. Essa pergunta também
foi feita aos agricultores que comercializavam leite e/ou produtos derivados em
estabelecimentos comerciais e/ou diretamente aos consumidores, as respostas
foram: dos sete agricultores que vendiam produtos lácteos, cinco responderam que a
aceitação pelos produtos coloniais é boa, um, muito boa e, um, não muito. Os
comentários feitos foram: “não muito (referindo-se aos produtos em geral), preferem
comprar nos mercados. O leite sim, tem mais oito que entregam de casa em casa.
As pessoas que compram acham e alegam que o de saquinho não é bom, as
crianças não gostam; aceitação é boa, tenho fregueses há seis anos; os produtos
coloniais são mais naturais, por isso tem melhor aceitação; há sete anos vendia 8
litros de leite / dia, hoje vendo em torno de 120 litros”. Pelos comentários fica
evidenciado mais uma vez que o mercado não é problema para os produtos das
indústrias de pequeno porte e os agricultores que comercializam seus produtos
diretamente aos consumidores. A figura 10, mostra uma visão parcial de uma
pequena queijaria da família do agricultor Piovesan, localizada no município de
Saltinho/SC.
168
Figura 10 – Pequena queijaria da família Piovesan – Saltinho/SC. 06/06/00.
Cristine Lopes Abreu
Além disso, no nosso entendimento existem outros locais de comercialização
para o leite e os produtos derivados que podem ser explorados. Por exemplo, na
merenda escolar, nas creches, nos asilos, nos hospitais, nos presídios, entre outros.
Para exemplificar, faremos uma projeção da quantidade de leite utilizada na
merenda escolar nas microrregiões de Erechim e Chapecó, tendo-se por base os
dados fornecidos pelas Secretarias Municipais de Educação dos municípios de Serra
Alta, Gaurama e Erechim. Em Serra Alta, 570 alunos, recebem / mês 250 litros de
leite, 35 kg de queijo e 45 kg de nata. Em Gaurama para 1.060 alunos são
fornecidos 170 kg de leite em pó diluído em água / mês e, em Erechim, 15.800
alunos, recebem / mês 2.550 kg de leite em pó diluído em água, dados referentes ao
ano de 2001. Transformando o leite em pó e o queijo em leite fluido, tem-se para
cada aluno, em média, 1,6 litro de leite / mês. Considerando que o número de alunos
que recebem merenda escolar representam, em média, 17% do total da população,
tem-se para a microrregião de Erechim uma estimativa de 36.853 alunos e um
consumo de 58.964 litros de leite / mês e, para a microrregião de Chapecó uma
estimativa de 57.978 alunos e um consumo de 92.764 litros de leite / mês. Os dados
169
mostram que a merenda escolar também é um mercado potencial para o leite e os
produtos derivados. Porém, há o problema da estacionalidade, nos períodos de
férias dos alunos e professores.
Outro aspecto a se destacar é a importância que o leite informal tem para o
produtor e o consumidor. Nesse sentido cita-se estudo da empresa Tetra Pak,
fabricante de embalagens tipo longa vida. A empresa encomendou um estudo para
saber porque o consumidor brasileiro ainda compra leite informal. Segundo a
pesquisa, o motivo da preferência pelo leite informal “sustenta-se no binômio
qualidade e preço, sendo a qualidade apontada em primeiro lugar, relatada pelo
consumidor através das seguintes citações: o leite é mais forte, o leite é mais gordo,
o leite é natural, o leite é mais saudável, entre outras. Ainda de acordo com os
entrevistados, o preço pago pelo leite cru é o mais baixo entre todos os tipos de leite
avaliados o que, aliado à facilidade de pagamento, torna este tipo de leite mais
acessível aos consumidores de mais baixa renda. O estudo conclui que, somente
com uma forte campanha de marketing o leite informal poderá ser combatido no
País, principalmente no interior” (ALOÍSIO, 2000).
Sobre a conclusão do estudo é necessário questionar porque terminar com o
leite informal? Se o determinante da compra e a preferência pelo produto é porque o
consumidor acha que o leite é mais puro, mais nutritivo, mais saudável, com bom
aspecto geral e de qualidade. Além disso, outro aspecto muito importante nesse
mercado é a relação existente entre os consumidores e os produtores,
principalmente nos pequenos e médios municípios, a qual transcende as questões
comerciais, entre estes estão os aspectos culturais, de confiança, de honestidade,
de proximidade, laços familiares... que reforçam a preferência dos consumidores
pelos produtos coloniais. Isso fica demostrado pelos consumidores pesquisados que
adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, nas respostas
a pergunta, qual(ais) o(s) motivo(s) que levou(aram) você comprar leite e/ou
produtos derivados desse agricultor? Das opções apresentadas as respostas foram:
de amizade e confiança, foi citada três vezes e, qualidade dos produtos, três vezes.
Os comentários feitos foram: “porque vendia queijo na cidade e os comentários eram
bons; porque os colegas compraram e gostaram”.
Então, a pergunta que se faz é, ao invés de acabar com o leite informal, porque
não fazer uma campanha no sentido de construir ações para melhorar a qualidade
destes produtos?
170
Essas ações passam indiscutivelmente, pela implantação e fortalecimento dos
serviços de inspeção municipais e estaduais adequadas à realidade das pequenas
agroindústrias. Esses aspectos irão potencializar o desenvolvimento dos mercados
locais e reduzir os riscos que estes produtos possam trazer à saúde dos
consumidores. Como consequência dessas ações ter-se-á o fortalecimento das
pequenas unidades de produção. No entanto, a adoção de um outro “modelo”
dependerá muito mais da unidade, da organização e da luta dos segmentos
envolvidos e da sociedade, do que das “vantagens e/ou desvantagens” encontradas
entre os “modelos”. Aliás, muitas pesquisas já demonstraram que, em muitos casos,
as alternativas encontradas para a produção ou mesmo para processos tecnológicos
não são adotadas por suas “vantagens e/ou desvantagens”
frente às demais
opções, mas sim pela capacidade de seus propositores em articular os interesses
dos segmentos envolvidos.
4.10 ANÁLISE COMPARATIVA DAS MICRORREGIÕES DE ESTUDO
Como um dos objetivos desse trabalho é verificar a possibilidade de adaptação,
para a microrregião de Erechim, de sistemas de produção de leite à base de pasto
resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão
realizados pelo DZDR, no Estado de Santa Catarina, tendo como referência o
projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, localizada
no município de Serra Alta, pertencente a microrregião de Chapecó, vai-se fazer
uma análise comparativa de algumas características dessas microrregiões.
Em relação aos solos, estas microrregiões por estarem situadas na mesma
área dos derrames de lavas basálticas da Formação Serra Geral geológica e terem
condições climáticas semelhantes, possuem cobertura pedológica formada pelos
mesmos tipos de solos. Quanto ao clima as duas microrregiões possuem de maneira
geral, clima classificado como Cfa. Isto é, clima subtropical constantemente úmido,
sem estação seca, com verão quente (temperatura média do mês mais quente >
22,0ºC). Desta forma, as práticas que a família de Olintho Ficcagna utiliza para
conduzir o sistema de produção de leite à base de pasto, podem servir como
171
referência para os agricultores da microrregião de Erechim que pretendem
desenvolver sistemas similares.
A estrutura fundiária das microrregiões também são semelhantes, formada na
grande maioria pela existência de pequenos estabelecimentos rurais. Esse aspecto
leva os agricultores a utilizarem sistemas agrícolas dentro da lógica da produção
diversificada, tendo por objetivo reduzir os riscos climáticos e econômicos, utilizar os
recursos naturais e mão-de-obra disponíveis, de forma que possam garantir o
sustento de suas famílias. Porém, na contra mão dessa lógica existe a pressão de
mercado para a produção especializada e o aumento de escala, provocando sérios
problemas de exclusão dos produtores e acentuando ainda mais o êxodo rural.
Na microrregião de Erechim a atividade leiteira está presente em 76% dos
estabelecimentos rurais e as propriedades com até 10 vacas possuem 92% do
rebanho, produzem 90% da produção e envolvem 98% dos produtores. Na
microrregião de Chapecó a atividade leiteira está presente em 79% dos
estabelecimentos rurais e as propriedades com até 10 vacas possuem 90% do
rebanho, produzem 86% da produção e envolvem 98% dos produtores. Isso mostra
a semelhança que essas microrregiões tem quanto a abrangência da atividade e a
estrutura produtiva.
Além das características edafoclimáticas, estrutura fundiária e produtiva é
fundamental também considerar os aspectos culturais, étnicos e sócioeconômicos
dos agricultores, quando se busca sensibilizar os mesmos no sentido de adotarem
determinadas tecnologias. De modo geral, nessas microrregiões, esses aspectos se
apresentam com grandes similaridades. Isso se deve, em boa parte, à origem e etnia
dos colonizadores e a estrutura social e econômica presente nas comunidades
dessas microrregiões. Como já citado, os colonizadores dessas microrregiões eram
descendentes de imigrantes das colônias velhas do Estado do Rio Grande do Sul.
Diante do exposto, vê-se que a proposta de produção de leite à base de pasto
desenvolvida no Estado de Santa Catarina, tendo por base o projeto piloto
implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, é plenamente viável e
pode servir como referência aos agricultores da microrregião de Erechim.
172
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
Um dos resultados esperados era que os sistemas intensivos de uso de
alimentos no cocho tivessem maior produtividade, porque nesses sistemas, em
média, os animais recebem mais alimentos concentrados e conservados. Porém,
nesse estudo, os sistemas intensivos foram, em média, os menos produtivos. Outro
aspecto a se ressaltar é que esse resultado difere dos resultados de outras
pesquisas e do senso comum, onde os animais que recebem mais alimentos no
cocho (forragens cortadas e/ou conservadas) e mais alimentos concentrados são os
mais produtivos. Isso mostra que os resultados obtidos em outras pesquisas não têm
conseguido expressar a realidade dos sistemas de produção desenvolvidos nas
propriedades rurais. No entanto, fica evidenciada a necessidade de realizar-se
pesquisas tendo como unidades experimentais os sistemas de produção
desenvolvidos nas propriedades rurais, pois refletem não apenas os fatores
estudados, mas agregam informações sobre as interações do homem e o ambiente.
Quanto aos resultados econômicos destaca-se que nas três situações
analisadas: primeira, quando os resultados econômicos foram obtidos considerandose todas as fases realizadas pelos agricultores desde a produção até a
comercialização; segunda, quando a remuneração dos componentes de custos de
produção como mão-de-obra, administração e capital fixo, resultantes das fases
desenvolvidas pelos agricultores, foi contabilizada como oportunidade e não como
custo; e, terceira, na simulação, como se todos os agricultores comercializassem o
leite com a indústria, em todas as situações os sistemas pastoris apresentaram os
melhores resultados econômicos. Isso demonstra a viabilidade econômica dos
sistemas pastoris comparados aos outros sistemas estudados e os equívocos das
recomendações que buscam a competitividade através de sistemas intensivos de
uso de alimentos no cocho.
Em relação às avaliações econômicas da atividade leiteira realizadas por
muitos agricultores, técnicos e empresas, que consideram somente as despesas
realmente efetivadas com a atividade, não contabilizando as despesas de
manutenção das instalações e equipamentos e nem os custos de depreciação, no
nosso entendimento são insuficientes, porque elas não mostram os reais resultados
173
econômicos
da
atividade
e
têm
contribuído
para
a
descapitalização
e
empobrecimento dos agricultores.
Outro aspecto a se ressaltar é que os sistemas de produção utilizados nas
propriedades contribuíram com os resultados econômicos da atividade leiteira, mas
tiveram influência decisiva sobre esses resultados, as fases realizadas pelos
agricultores após à produção primária, como o processamento, a transformação e a
comercialização do leite e/ou dos produtos derivados. Isso mostra a importância que
as fases desenvolvidas após o sistema produtivo têm na agregação de valor aos
produtos primários.
Quanto aos aspectos ambientais os resultados mostraram que o sistema
convencional é o mais utilizado na implantação das pastagens. A rotação de culturas
é usada sem um planejamento no sentido de intercalar culturas de gramíneas e
leguminosas. A prática de usar leguminosas nas áreas de pastagens perenes de
verão, no período de inverno, não é utilizada. As pastagens de verão e de inverno
não são consorciadas com espécies leguminosas. De modo geral as pastagens são
manejadas de forma inadequada, principalmente as naturalizadas (potreiros). Nos
projetos assessorados pelo DZDR a introdução de espécies forrageiras nas áreas de
potreiros e/ou de outras pastagens perenes de verão e/ou de inverno é feita através
do método de sobressemeadura. Nas áreas de lavouras a implantação das
forrageiras anuais de verão e/ou de inverno é realizada através de sistema que
provoca o menor revolvimento possível no solo e/ou sobressemeadura. As
forrageiras introduzidas e/ou implantadas nas áreas de potreiros e nas pastagens
perenes
de
verão
e/ou
inverno
e/ou
usadas
nas
consorciações
são
preferencialmente espécies leguminosas, tendo por objetivo melhorar a qualidade
das pastagens e através da fixação simbiótica adicionar nitrogênio no solo. Nesses
projetos, solo-pasto-animal são manejados através do método PRV. Outro manejo a
se destacar é que o aleitamento das terneiras é feito através do sistema vaca-ama.
Esses aspectos, entre outros, evidenciam que a proposta de produção de leite à
base de pasto resultante da organização dos agricultores e do DZDR, pode servir
como referência para os agricultores da microrregião de Erechim.
174
Outro aspecto importante na direção da sustentabilidade é o desenvolvimento
de atividades que apresentam características de complementariedade, tendo como
objetivos reduzir a dependência de insumos externos e otimizar os sistemas
produtivos e não maximizar a produção.
Em relação aos agrotóxicos os resultados demonstraram que todos os
agricultores utilizam e/ou utilizaram nas áreas de pastagens e/ou lavouras e nos
animais. Quanto aos motivos, as respostas mostraram que os agricultores possuem
poucas alternativas, principalmente para controlar as ervas nas áreas de lavoura e
os endo e ectoparasitas nos animais. Isso evidencia a necessidade de se intensificar
esforços no sentido de desenvolver alternativas que sejam de uso compatível com
as pequenas unidades de produção e que não contaminem o homem, os animais, os
alimentos e o ambiente. Para isso precisamos conhecer melhor a grande diversidade
dos sistemas e recriar o conhecimento ecológico local nas regiões geográficas onde
os sistemas estão sendo desenvolvidos.
Com referência à percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira alguns
comentários feitos identificaram a política de especialização e de concentração como
um entrave para se manterem na atividade. Outros, apontaram a importância que a
atividade tem para os agricultores e as dificuldades quanto ao preço recebido pelo
produto. A alternativa apontada pela maioria dos agricultores foi para o aumento da
escala de produção.
Com respeito à avaliação subjetiva são muitas as interações e os fatores que
influenciam no grau de satisfação dos agricultores e na forma como é administrada
e desenvolvida a atividade leiteira. Para a maioria dos agricultores a atividade leiteira
é desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal, portanto a
rentabilidade não é o fator que determina sua continuidade ou não. Isso mostra que
a atividade leiteira é elemento chave para a manutenção das pequenas unidades de
produção. Na nossa percepção a atividade leiteira é uma das últimas atividades que
ainda restam para o conjunto dos pequenos agricultores.
Outro aspecto a se destacar é que em 53% das propriedades também residem
com os agricultores os seus pais já aposentados. Isso demonstra que os agricultores
175
além de produzirem alimentos e matérias-primas para sustento de suas famílias e
para a população, estão desempenhando um importante papel social junto aos seus
familiares.
Em relação ao êxodo rural constatou-se que 64% dos filhos com mais de 20
anos de idade não estão mais no meio rural. Isso mostra que o processo de
sucessão e reprodução da agricultura desenvolvida nas pequenas unidades estão
visivelmente comprometidos. Apontando para a necessidade urgente de se construir
e executar ações que fortaleçam a agricultura de pequeno porte e que essas
possam gerar oportunidades para os filhos dos agricultores optarem pela agricultura
ou não.
Com respeito à participação dos agricultores em atividades associativas suas
posições refletem o modelo de sociedade na qual estamos inseridos. Nesse sentido
somente com muito esforço e trabalho poderemos fortalecer as ações coletivas já
desenvolvidas e/ou iniciar novas que possam dar consistência ao desenvolvimento
agrícola.
Quanto ao mercado os resultados mostraram que existem espaços para os
produtos produzidos e processados em pequenas unidades de produção e coloniais.
Na nossa percepção nos municípios pequenos há maior potencial para o leite fluido
e nos municípios maiores, principalmente para o queijo. A aceitação dos produtos é
muito boa e está relacionada com sua qualidade e preço, entre outros aspectos
como confiança, honestidade, proximidade... A manutenção da atividade leiteira em
pequenas unidades de produção passa pela execução de pequenas unidades
processadoras, voltadas para os mercados locais e regionais, organizadas em rede
para comercializar seus produtos nos mercados mais distantes, utilizando-se de
mão-de-obra majoritariamente familiar e sistemas de produção que possam viabilizar
os custos da matéria-prima.
Outros aspectos importantes são a elaboração de uma legislação sanitária
adequada às pequenas unidades e políticas de apoio específicas que permitam às
pequenas concorrerem com seus produtos nesses mercados.
176
Quanto à produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e
comercialização, desenvolvida no Estado de Santa Catarina, tendo por base o
projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, mostrou-se
plenamente viável em termos sociais, econômicos e de sustentabilidade, e pode
servir como referência para aos agricultores da microrregião de Erechim que
pretendem desenvolver sistemas similares. Isso se deve porque as microrregiões
possuem
características
edafoclimáticas,
estrutura
fundiária,
produtiva
e
sócioeconômica semelhantes e também aos aspectos culturais e étnicos, devido a
origem dos colonizadores.
Por fim, constata-se que a pesquisa veio confirmar a hipótese. Porém, a
construção de um desenvolvimento que reduza o processo de exclusão e dinamize
as economias locais e regionais, exige de parte dos integrantes da cadeia, das
entidades comprometidas com a agricultura de pequeno porte, produtores e
sociedade como um todo, unidade, organização e muita luta no sentido de executar
projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os pequenos
e médios empreendimentos lácteos no País. Caso contrário estaremos assistindo o
mesmo processo de exclusão ocorrido na suinocultura e que está em pleno
andamento na atividade leiteira, com as conhecidas consequências sociais,
econômicas e ambientais.
177
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