UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS MESTRADO EM AGROECOSSISTEMAS PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO: PROCESSAMENTO, TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA AGRICULTURA FAMILIAR DE PEQUENO PORTE Valmir Dartora Florianópolis, SC – BRASIL 2002 2 PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO: PROCESSAMENTO, TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA AGRICULTURA FAMILIAR DE PEQUENO PORTE Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Agroecossistemas, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina Autor: Valmir Dartora ∗ Orientador: Prof. Mário Luiz Vincenzi Co-orientador: Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho Florianópolis (fevereiro/2002) ∗ Engenheiro Agrônomo 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS – MESTRADO FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL DISSERTAÇÃO submetida por Valmir Dartora como um dos requisitos para a obtenção do Grau de 7. MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS BANCA EXAMINADORA: _____________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado (UFSC) Presidente _______________________________ Prof. Dr. José A. Ribas Ribeiro (UFSC) Membro _______________________________ Prof. Dr. Luiz C. P. Machado Fº (UFSC) Membro ____________________________________________ Engº Agrº Dr. Francisco Roberto Caporal (EMATER/RS) Membro Aprovada em (21/02/2002) ____________________ Prof. Mário Luiz Vincenzi Orientador __________________________ Prof. Dr. Luiz Renato D’Agostini Coordenador 4 AGRADECIMENTOS Muitas pessoas e entidades de uma forma ou de outra contribuíram para a realização deste trabalho. A elas expresso meu agradecimento, embora correndo o risco de esquecimento, quero registrar aquelas que foram fundamentais à consecução da dissertação: a EMATER/RS, pela oportunidade de realizar este curso e pelo apoio institucional e financeiro; o Prof. Mário Luiz Vincenzi pela orientação competente, apoio, amizade e confiança; os colegas, professores e servidores do curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, em especial aos Professores, Maria Ignez Silveira Paulilo, Wilson Schmidt, Luiz Carlos Pinheiro Machado, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, Ademir Antônio Cazella, Paul Richard Miller e Maria José Hotzel, pelas sugestões e colaborações; os colegas da EMATER/RS dos Escritórios Regionais de Erechim e Passo Fundo, Escritórios Municipais de Erechim e Gaurama pela colaboração e companheirismo, em especial ao colega e amigo Gilmar Antônio Meneguetti, pelas sugestões; os departamentos técnicos das cooperativas COTREL e COPERAL, da empresa CEDRENSE e da Secretaria Municipal de Agricultura de Erechim, pelas informações; aos servidores da biblioteca da EPAGRI e do Instituto CEPA/SC, pelo atendimento e colaboração; aos técnicos do Instituto CEPA/SC, especialmente ao Francisco Carlos Heiden e ao Tabajara Marcondes, pelas informações; ao acadêmico de Agronomia da UFSC Marcos Alberto Lana pela colaboração; à todos os agricultores, os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais e os consumidores que colaboraram com o trabalho, concedendo as entrevista, em especial à família de Olintho Ficcagana; aos meus familiares, em especial a minha esposa Rosa Maria e meus filhos Rafael e Letícia pela compreensão, apoio, carinho e amor dedicados em todos os momentos. iii 5 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS...................................................................................................vii LISTA DE FIGURAS....................................................................................................xi LISTA DE ANEXOS....................................................................................................xii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS...............................................................xiii RESUMO....................................................................................................................xv ABSTRACT................................................................................................................xvi INTRODUÇÃO............................................................................................01 CAPÍTULO I 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................04 1.1 Produção mundial e comércio internacional de leite.................................04 1.2 Importações e o setor leiteiro nacional............................................................06 1.3 Produção leiteira nacional e sua importância..................................................09 1.4 Pecuária leiteira nas regiões brasileiras..........................................................12 1.5 Pecuária leiteira nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul...........14 1.6 Produção de leite e o debate sobre suas tendências......................................20 1.7 Agricultura e o ambiente..................................................................................27 1.8 Possibilidades para as pequenas unidades de produção leiteira....................33 1.8.1 Produção de leite à base de pasto.........................................................33 1.8.1.1 Área de pastagem e escolha da forrageira.................................42 1.8.1.2 Animais para a produção de leite à base de pasto.....................49 1.8.1.3 Manejo das pastagens................................................................50 1.8.2 Beneficiamento/transformação e comercialização de leite e derivados 53 1.9 Área de estudo.................................................................................................55 1.9.1 Evolução histórica da agricultura nas microrregiões de Erechim no RS e Chapecó em SC...................................................................................55 1.9.2 Microrregião de Erechim.........................................................................59 1.9.3 Microrregião de Chapecó.......................................................................64 iv 6 CAPÍTULO II 2. METODOLOGIA....................................................................................................69 2.1 Descrição da proposta de produção de leite do DZDR........................................69 2.2 Delimitação do estudo..........................................................................................69 2.3 Viagens de estudo e visitas técnicas....................................................................71 2.4 Entrevista semi-estruturada..................................................................................72 2.5 Avaliação subjetiva de fatores de produção e sociais..........................................74 CAPÍTULO III 3. PROPOSTA DE PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO........75 3.1 Histórico da família...........................................................................................77 3.2 Estrutura de produção......................................................................................79 3.3 Alimentação.....................................................................................................80 3.3.1 Campo naturalizado................................................................................80 3.3.2 Pastagens...............................................................................................81 3.3.2.1 Perenes de verão........................................................................81 3.3.2.2 Perenes de inverno.....................................................................83 3.3.2.3 Anuais de inverno........................................................................85 3.3.3 Outros alimentos.....................................................................................86 3.4 Manejo das pastagens e dos animais..............................................................86 3.5 Criação das terneiras.......................................................................................87 3.6 Raça e seleção................................................................................................89 3.7 Sanidade..........................................................................................................90 3.7.1 Tuberculose e brucelose........................................................................90 3.7.2 Mamite....................................................................................................90 3.7.3 Verminoses.............................................................................................91 3.7.4 Ectoparasitas..........................................................................................92 3.8 Processamento, transformação e comercialização de leite e queijo...............92 3.9 Administração..................................................................................................94 v 7 CAPÍTULO IV 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................95 4.1 Classificação dos sistemas de produção de leite............................................95 4.2 Métodos de pastoreio.....................................................................................102 4.3 Indicadores produtivos dos sistemas de produção de leite...........................104 4.4 Resultados econômicos dos sistemas de produção de leite.........................106 4.5 Atividades desenvolvidas pelos produtores nas propriedade rurais estudadas......................................................................................................122 4.6 Aspectos ambientais......................................................................................124 4.7 Percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira e avaliação subjetiva 131 4.8 Participação dos agricultores em cooperativas, sindicatos, associações e/ou grupos comunitários...............................................................................140 4.9 Produtos lácteos, produzidos e comercializados por agricultores em pequenas unidades de produção............................................................................143 4.10 Análise comparativa das Microrregiões de estudo..................................... 153 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES.......................................................155 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................160 ANEXOS..................................................................................................................169 Vi 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Produção total de leite de alguns países/blocos selecionados 1997 a 1999 (1.000 toneladas métricas).............................................................04 Tabela 2 – Leite e derivados – Quantidades das importações brasileiras por bloco, 1992 a 2000, em toneladas.....................................................................08 Tabela 3 – Produção brasileira total, taxa de crescimento e consumo per capita de leite, no período de 1980 a 1998.............................................................10 Tabela 4 – Produção brasileira total de leite, produção inspecionada e informal, e crescimento do leite informal no período de 1980 a 1999......................12 Tabela 5 – Evolução e participação das Regiões brasileiras na produção de leite, no período de 1985 a 1996..........................................................................13 Tabela 6 – Participação da produção de leite no Brasil pelos 10 maiores estados produtores, ano de 1985 e 1996.............................................................14 Tabela 7 – Evolução e participação das mesorregiões do Estado de Santa Catarina na produção de leite, no período de 1985 a 1996...................................15 Tabela 8 – Evolução e participação relativa das meso e microrregiões do Estado do Rio Grande do Sul na produção de leite, no período de 1985 a 1996....19 Tabela 9 – Fusões e aquisições de empresas de laticínios no Brasil, nos últimos anos.........................................................................................................21 Tabela 10 – Número de produtores e quantidade média diária de leite recebida por produtor nas 12 maiores empresas de laticínios do País.......................22 Tabela 11 – Cenários para que o RS tenha a produção de 1996 de 1,88 bilhões de litros de leite por ano...............................................................................23 Tabela 12 – Impacto da granelização da coleta do leite na Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda..............................................................26 Tabela 13 – Idade da pastagem e a influência do sistema radicular sobre as características físicas do solo...............................................................34 Tabela 14 – Massa de raízes de uma pastagem permanente em função da utilização...............................................................................................35 Tabela 15 – Produção total de forragem do campo nativo (CN), do azevém espontâneo (AZ) e das leguminosas trevo branco e cornichão (TB e C), média de três repetições.......................................................................37 vii 9 Tabela 16 – Disponibilidade total de forragem kg de MS/ha em pastagem nativa submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco (TB) e testemunha (T), média de quatro repetições..............................................................................................38 Tabela 17 – Disponibilidade PB kg/ha em pastagem nativa submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco (TB) e testemunha (T), média de quatro repetições.............................39 Tabela 18 – Valores médios em percentagem da PB, da digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica (DIVMO) e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) de pastagens de campo nativo e campo nativo melhorado com leguminosas, nas estações do ano.......................................................40 Tabela 19 – Quantidade de nitrogênio fixado por diferentes espécies de leguminosas..........................................................................................41 Tabela 20 – Custos relativos de algumas pastagens usadas no sistema de produção de leite da EPAGRI / Lages..................................................................42 Tabela 21 – Rendimento de milho e soja kg / ha, após área pastoreada(PAST.) e não pastoreada (NÃO PAST.) de aveia + ervilhaca (AV + ER), aveia (AV) e aveia + azevém (AV + AZ)........................................................ 47 Tabela 22 – Modificações nas características físicas e químicas do solo sob pastoreio durante 15 anos....................................................................53 Tabela 23 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área da microrregião de Erechim................................61 Tabela 24 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área do município de Gaurama...................................62 Tabela 25 – Número de produtores, quantidade de leite recebida e percentuais correspondentes a cada estrato de recepção.......................................63 Tabela 26 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área da microrregião de Chapecó...............................66 Tabela 27 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área do município de Serra Alta..................................67 Tabela 28 – Classificação dos sistemas de produção de leite obtidos nos levantamentos de campo em abril e maio de 2001..............................95 Tabela 29 – Quantidades diárias estimadas, em kg de MS dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados fornecidos por UA, em cada sistema de produção...............................................................................................97 viii 10 Tabela 30 – Quantidades diárias dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados disponíveis e/ou fornecidos para cada UA estimadas em quilos de MS.........................................................................................99 Tabela 31 – Áreas dos potreiros e das pastagens perenes e anuais de verão e de inverno utilizadas nos sistemas de produção de leite.......................101 Tabela 32 – Áreas de pastagens e métodos de pastoreio utilizados em cada sistema de produção........................................................................................103 Tabela 33 – Indicadores produtivos dos sistemas de produção..............................105 Tabela 34 – Valores monetários mensais dos custos de produção do leite, queijo e pasteurização de cada sistema de produção......................................107 Tabela 35 – Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos totais, custo total, por litro de leite e a renda líquida de cada sistema de produção.............................................................................................109 Tabela 36 – Valores monetários mensais da mão-de-obra e administração das fases realizadas pelos produtores, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades.........................................................110 Tabela 37 – Valores monetários mensais da receita líquida, mão-de-obra e administração, e remuneração do capital fixo das fases que os produtores realizam, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades.........................................................111 Tabela 38 – Valores monetários mensais da renda líquida mais a mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, das fases que os agricultores realizam, a quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, relacionado aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades....................114 Tabela 39 – Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos de produção de leite e a renda líquida de cada sistema de produção.....................116 Tabela 40 – Valores monetários mensais da receita líquida da atividade leiteira, total mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo do sistema produtivo, a quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades.........................................117 Tabela 41 – Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo e o valor agregado, por litro de leite, resultante das fases que os agricultores realizam fora do processo produtivo, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades....................118 ix 11 Tabela 42 – Dos custos totais quanto, em percentagem corresponde a alimentação, a mão-de-obra, os custos variáveis e os custos fixos, em cada sistema e produção..........................................................................................121 Tabela 43 – Fontes de renda dos produtores, valor da receita bruta anual de cada uma e percentagem correspondente à atividade leiteira....................123 Tabela 44 – Uso atual das propriedades e cobertura vegetal existente..................129 Tabela 45 – Avaliação subjetiva de fatores de produção e sociais das famílias pesquisadas........................................................................................139 x 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa da Região Sul do Brasil, com destaque para as microrregiões de Erechim no RS e Chapecó em SC..........................................................68 Figura 2 – Família de Olintho Ficcagana (direita para esquerda: Eliane, Lourdes, Rodrigo, Ana e Olintho) e Valmir Dartora. Serra Alta/SC........................79 Figura 3 – Área de pastagem naturalizada (potreiro) manejada através do PRV, na propriedade da família de Olintho Ficcagana..........................................81 Figura 4 – Área de capim elefante com ervilhaca, na propriedade da família de Olintho Ficcagana...................................................................................82 Figura 5 – Área de pastagem consorciação de azevém x trevo branco x trevo vermelho, com animais em pastoreio, na propriedade da família de Olintho Ficcagana..................................................................................................84 Figura 6 – Bebedouro móvel utilizado na propriedade da família de Liseu Meier localizada no município de Dionísio Cerqueira/SC...................................87 Figura 7 – Vaca-ama amamentando a(o) terneira(o) na propriedade da família de Olintho Ficcagana......................................................................................89 Figura 8 – Sala de envase e pasteurização do leite na propriedade da família de Olintho Ficcagana......................................................................................93 Figura 9 – Queijaria da família de Alcides Mariga localizada no município de Erechim/RS.............................................................................................146 Figura 10 – Pequena queijaria da família Piovesan – Saltinho/SC..........................151 xi 13 LISTA DE ANEXOS Anexo 1 – Roteiro entrevista agricultor Anexo 2 – Roteiro entrevista consumidores Anexo 3 – Roteiro entrevista pequenos mercados Anexo 4 – Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite cru refrigerado e regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel Obs: Acompanha a dissertação memória de cálculo anexo nº 5 xii 14 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS, SÍMBOLOS E VALORES ABPLB Associação Brasileira dos Produtores de Leite B ACARESC Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina AGRECO Associação de Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral APACO Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense CCGL Cooperativa Central Gaúcha de Leite CCL Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo CCS Contagem de células somáticas CEDRENSE Trentino Alimentos S/A CENTROLEITE Cooperativa Central de Laticínios de Goiás CEPA/SC Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina CEPAGRO Centro de Extensão e Pesquisa Agronômica da Universidade de Passo Fundo CEPAGRO Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo CIMMYT Centro Internacional de Melhoramento de milho e Trigo CNA Confederação Nacional da Agricultura CNPGL Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite CO2 Gás carbônico COCEL Cooperativa Central Alto Uruguai Ltda COPERAL Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda COTREL Cooperativa Tritícola Erechim Ltda COTRIJUI Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda CTC Capacidade de troca de cátions DEIP Dairy Export Incentive Program DIVMO Digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica DZDR Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural - UFSC EMATER/RS Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária xiii 15 EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina EUA Estados Unidos da América FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations ha Hectare IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IRRI International Rice Research Institute kg Quilograma kg/ha Quilograma / hectare MS Massa seca MS/ha Massa seca / hectare NAFTA North American Free Trade Agreement NDT Nutrientes digestíveis totais ONG Organização Não Governamental PB Proteína bruta PIB Produto Interno Bruto PNQL Programa Nacional de Qualidade do Leite PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRV Pastoreio Racional Voisin SIM Serviço de Inspeção Municipal SUDCOOP Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda UA Unidade animal UE União Européia UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UPF Universidade de Passo Fundo Obs: R$ 1,00 = U$S 0,40 (data das pesquisas) xiv 16 RESUMO A análise dominante em relação à produção de leite é que para se ter qualidade e competitividade, há necessidade imperativa de produção especializada e aumento de escala. Essa estratégia de produção traz consigo a drástica redução no número de produtores e sérios problemas sociais, econômicos e ambientais. Nesse contexto, o presente trabalho buscou descrever e analisar sistemas de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Santa Catarina, no Estado de Santa Catarina e compará-los com três sistemas de produção de leite – intensivo de uso de alimentos no cocho, semi-intensivo e pastoril – desenvolvidos em 14 propriedades na microrregião de Erechim – RS e as formas e as estratégias usadas pelos agricultores na comercialização do leite e dos produtos derivados. O trabalho busca verificar a possibilidade de adaptação dessas experiências para a microrregião de Erechim e como os agricultores se relacionam como o mercado. As variáveis estudadas foram: a) produtividade: produção de leite / vaca; b) econômicas: custo / litro de leite e receita do leite e/ou derivados; c) alimentação: espécies forrageiras, manejo pastagens, uso de silagem e alimentos concentrados; d) ambientais: sistemas de implantação de pastagem, uso de agrotóxicos e manejo dos dejetos; e) percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira: expectativa da atividade, motivação para o associativismo e assistência técnica; e, f) comercialização: mercado e aceitação dos produtos das unidades de pequeno porte. Quanto aos resultados, a produção/vaca/dia ano, em média, nos sistemas pastoris foi de 10,8 litros, nos semi-intensivos de 7,6 litros e nos intensivos de 7,2 litros. O custo de produção R$/litro, em média, nos sistemas pastoris foi de 0,24, nos semi-intensivos de 0,33 e nos intensivos de 0,45. As fases desenvolvidas após o sistema produtivo foram decisivas nos resultados econômicos. A atividade leiteira é desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal. A aceitação dos produtos coloniais é muito boa e existem espaços no mercado. As experiências desenvolvidas em Santa Catarina mostraram-se plenamente viáveis em termos sociais, econômicos e de sustentabilidade, servindo como referência para outros agricultores. A construção de um desenvolvimento que reduza o processo de exclusão exige unidade, organização e muita luta no sentido de conquistar e executar projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os pequenos e médios empreendimentos lácteos no País. xv 17 ABSTRACT Currently, the dominant thought is that quality in milk production can only be achieved through specialization and increases in production. This strategy has lead to a reduction in the number of producers and serious social, economical and environmental problems. Within this context, the present study described and analyzed the existing pasture based systems for milk production, processing, transformation and commercialization, resulting from the organization of farmers and extension programs carried out by the Department of Animal Science at the Federal University of Santa Catarina. It also compared the three systems - intensive use of feed at the through, semi/intensive and on pasture - used by 14 farms in the microregion of Erechim - RS, and the alternatives and strategies used by farmers in the commercialization of milk and milk products. This work verified whether such experience could be adapted to the micro-region as a whole and how farmers relate to the market. The variables studied were: a) productivity: milk production per cow, b) economics: cost/l of milk and income from milk and products, c) feeding: plant species, pasture management, use of silage and concentrates, d) environmental: pasture implantation systems, use of pesticides and waste management, e) perception of farmers of the milking activity, motivation for association and technical support, f) marketing: market and consumer opinion on products from small farms. The average yearly production/cow/day, for on pasture, semi-intensive and intensive was 10.8 liters, 7.6 liters and 7.2 liters, respectively. The cost of production for each of above systems was R$ 0.24/l, R$0.33/l and R$ 0.45/l respectively. The steps that followed the productive system were decisive for the economical results. Milk production is carried out as a strategy to achieve a monthly income. The acceptation of these products is good. The experiences developed on Santa Catarina State were viable in social, economical and sustainability terms, and are a reference for other farmers. To achieve development with a reduction of the exclusion process demands union, organization and hard work to conquer and carry out projects that consolidate the small production units and the small and medium sized milk enterprises in Brazil. xvi 18 INTRODUÇÃO O pensamento dominante em relação à produção de leite no Rio Grande do Sul, e válido para todo o Brasil, é que para se ter qualidade e competitividade, há necessidade imperativa de produção especializada e aumento de escala, o que traz consigo a drástica redução no número de produtores. Neste contexto, a maioria dos estudiosos do assunto afirma que a produção de leite nas pequenas unidades de produção diversificadas está com seus dias contados. Esta afirmação tem por base “a racionalização das linhas de coleta, a busca da qualidade da matéria-prima, a redução dos custos de transação, a granelização e o frio, as economias de escala e a regularidade de oferta” (JANK, et alli., 1999). A busca de desenvolvimento sustentável do Rio Grande do Sul, gera inquietude em relação aos inúmeros efeitos que esta política trará sobre a economia de muitas regiões, tendo em vista que a maioria dos municípios gaúchos possui economia apoiada em agropecuária onde predominam as pequenas unidades de produção, sendo a atividade leiteira um dos seus componentes-chave. No sentido de buscar alternativas para as pequenas unidades de produção de leite, muitas experiências têm procurado outros caminhos para a produção, processamento, transformação e comercialização do leite. Essas alternativas buscam otimizar a produção de leite com pastagens, através do uso de sistemas à base de pasto; da maximização do uso dos insumos disponíveis na propriedade; da criação de formas associativas de produção, processamento, transformação e comercialização, visando agregar valor aos produtos. Tudo isso, para consolidar a atividade leiteira de forma diversificada e promover um desenvolvimento que contemple não somente os aspectos econômicos, mas também os sociais, culturais, políticos e ambientais. Algumas destas interessantes experiências acontecem na região Oeste de Santa Catarina. Trata-se da proposta de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 19 Esse trabalho tem por objetivo contribuir para viabilizar econômica, ecológica e socialmente a produção leiteira da microrregião de Erechim - RS (classificação IBGE, 1998), através da descrição e análise de sistemas de produção, das formas e das estratégias usadas pelos agricultores na comercialização do leite e produtos derivados. Tendo os seguintes objetivos específicos: • Verificar a possibilidade de adaptação, para a microrregião de Erechim, da proposta de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão, realizados pelo DZDR da UFSC, no Estado de Santa Catarina, tendo como referência o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, localizada no município de Serra Alta – SC, microrregião de Chapecó (classificação IBGE, 1998). • Analisar o sistema de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização, realizado pela família de Olintho Ficcagana e compará-lo com três sistema de produção de leite – intensivo de uso de alimentos no cocho, semi-intensivo e pastoril - localizados em propriedades na microrregião de Erechim. A hipótese de trabalho da qual se partiu é: A produção de leite à base de pasto, juntamente com o processamento, transformação e comercialização em pequenas estruturas são capazes de manter a atividade leiteira com rentabilidade nas pequenas unidades familiares de produção, nas atuais condições do mercado. A presente dissertação está estruturada com uma introdução, quatro capítulos de desenvolvimento e conclusão. No capítulo I, apresenta-se uma revisão bibliográfica que procura apontar os principais argumentos presentes no debate sobre as tendências da cadeia produtiva do leite no Brasil. Nesse sentido, fez-se um breve panorama da produção mundial, posição do Brasil nesta produção, alguns 20 aspectos sobre o comércio internacional e a interferência dos subsídios no mercado lácteo brasileiro. A importância da produção nacional, com ênfase para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e como a política de especialização e concentração tem provocado a exclusão de muitos agricultores da atividade leiteira. Também descreve-se alguns aspectos sobre a relação homem-natureza na produção agrícola e a produção de leite à base de pasto, beneficiamento, transformação e comercialização, como possibilidades para as pequenas unidades de produção. Depois fez-se um resgate histórico da agricultura nas microrregiões de Erechim e Chapecó e descreve-se alguns aspectos sobre as características edafoclimáticas, o êxodo rural, a estrutura fundiária e a produção leiteira dessas microrregiões. No capítulo II, mostra-se a metodologia usada para desenvolver o trabalho. No capítulo III, descreve-se a proposta de produção de leite à base de pasto resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo DZDR da UFSC, tendo-se por base o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna. No capítulo IV, estão os resultados obtidos com a pesquisa e as discussões. Finalmente, fez-se, de forma sintetizada, considerações finais e conclusões do estudo. 21 CAPÍTULO I 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 PRODUÇÃO MUNDIAL E COMÉRCIO INTERNACIONAL DE LEITE A produção mundial de leite, em 1999, foi de aproximadamente 570 milhões de toneladas, segundo dados da FAO (2000). Conforme observa-se na tabela 1, as maiores participações relativas na produção mundial são da União Européia, com 22%, e dos Estados Unidos, com 12% do total. A produção brasileira foi equivalente a 3,8% do total e alguns países tradicionais exportadores de leite, como Austrália, Nova Zelândia e Argentina, apresentaram uma participação relativa em torno de 2%. Um fato que chama a atenção é a estagnação da produção européia, que chegou a produzir, em média, 135 milhões de toneladas na década de 80 e atualmente está na faixa de 125 milhões de toneladas. Tabela 1 – Produção total de leite de alguns países/blocos selecionados 1997 a 1999 (1.000 toneladas métricas) País/Bloco Anos 1997 1998 1999 % União Européia 125.598 125.867 126.989 22,24 EUA 70.801 71.414 73.804 12,93 Brasil 19.385 19.414 21.841 3,82 Nova Zelândia 11.058 11.380 10.881 1,90 Austrália 9.304 9.371 10.490 1,83 Argentina 9.371 9.832 10.631 1,86 México 8.211 8.701 9.301 1,62 Uruguai 1.339 1.467 1.479 0,25 552.415 561.984 570.795 100 Total Mundial Fonte: FAO(2000). 22 Na análise do comércio internacional de produtos lácteos, duas questões são fundamentais. A primeira refere-se ao protecionismo dado ao leite, na grande maioria dos países desenvolvidos, e a segunda trata da importância dos países europeus no comércio internacional. O leite é um dos produtos mais protegidos e subsidiados no mundo desenvolvido, através de todo tipo de restrição ao comércio, políticas de garantia de preços, intervenções governamentais no mercado interno e pesados subsídios à exportação. Na União Européia (UE), a política de segurança alimentar, adotada no pós-guerra, dá prioridade à preservação da renda dos produtores. Tal política gera contínuos excedentes de leite em pó e outros derivados, que são colocados no mercado mundial a preços de “dumping1” pelos “tesouros” desses países. Em menor proporção, situação similar ocorre no Nafta. Por exemplo, segundo JANK (1995), a UE, gasta cerca de US$ 5 bilhões/ano entre intervenções no mercado interno (estocagem, prêmios, uso na alimentação de bezerros, ajuda escolar...) e restituições às exportações, um subsídio concedido na forma de pagamentos que cobrem a diferença entre os altos preços internos garantidos pelo governo e o preço internacional na exportação. A UE exporta cerca de 350 mil toneladas de leite em pó com subsídios que vão de US$ 750/tonelada (desnatado) a US$ 1.300/tonelada (integral). Nos Estados Unidos (EUA) a lei agrícola de 1990 estabelece a garantia de um preço mínimo ao produtor equivalente a US$ 0,22 por litro, o “Agricultural Adjustment Act” define um rígido sistema de cotas de importação e o governo, através do “Dairy Export Incentive Program (DEIP)”, concede subsídio à exportação, gastando cerca de US$ 135 milhões/ano. Em razão da política de auto-suficiência utilizada na maioria dos países, do total de 570 bilhões de litros de leite de vaca produzidos no mundo, de acordo com BERNARDES (2000), pouco mais de 5%, o equivalente a 28 ou 30 bilhões de litros, são comercializados internacionalmente. Desse total, as exportações da UE e dos EUA representam cerca de 50%, sendo respectivamente 38% e 5%. Outros países exportadores: Nova Zelândia participa com 31% e Austrália com 12%, (dados de 1998). Todavia, tal comércio representa 11% da produção de manteiga, 7% da produção de queijos, 26% da produção de leite em pó desnatado e 47% da produção de leite em pó integral. 1 Colocação de produtos no mercado internacional a preços inferiores ao custo de produção interno. 23 Nos demais países que participam do mercado mundial de lácteos, a política leiteira é muito variada. Alguns possuem alguma forma de compensação e outros não utilizam nenhum tipo de subsídio para impulsionar as exportações, onde os preços são basicamente reflexo da estrutura de custos. É o caso da Nova Zelândia, Argentina e Uruguai em menor escala, assim como o Brasil, dentre outros. Em relação ao Brasil, nunca se adotou uma política leiteira que buscasse desenvolver e fortalecer o setor lácteo. Alegava-se que sairia mais barato importar leite do que produzir. No período em que a atividade leiteira esteve sob a intervenção do governo, as importações tinham a conotação de regular a disponibilidade interna do produto e contribuir no combate à inflação. Após, à liberalização comercial as importações passaram a ser feitas tendo-se presente somente os lucros proporcionados pelo mercado. Essa política e o descaso dado ao setor, por ser uma atividade típica de mercado interno, criaram, principalmente para os produtores a pior das situações: baixa rentabilidade e alto risco. O que se destaca nesta breve análise é a importância das políticas leiteiras no mercado mundial de lácteos e, a partir disso, constata-se que é impossível realizar avaliações sobre o setor leiteiro independente dessas políticas. Sua influência afeta o perfil da produção e do comércio mundial e, com isso, tanto a geografia mundial da produção quanto a estrutura de preços encontram-se distorcidas. 1.2 IMPORTAÇÕES E O SETOR LEITEIRO NACIONAL Os maiores participantes do comércio mundial de produtos lácteos são os países membros da UE. Alguns países pertencentes à UE são ao mesmo tempo, grandes importadores e grandes exportadores desses produtos (BRANDÃO, 2001). Para ilustrar destaca-se: a Alemanha é o maior exportador e maior importador; a França é o segundo maior exportador e o quinto maior importador; e a Holanda é o terceiro maior exportador e o quarto maior importador. A existência de grandes volumes de importações e exportações não é, entretanto, motivo para surpresas. Grande parte do comércio mundial nos dias atuais ocorre dessa forma, é o chamado comércio intra-indústria. Não obstante, países como a Austrália e a Nova Zelândia fogem a esta regra. 24 Dos países membros do Mercosul, a Argentina e o Uruguai são os que têm maior expressão como exportadores. Em 1997, a participação da Argentina nas exportações mundiais foi de aproximadamente 1% e a participação do Uruguai foi de 0,5% (BRANDÃO, 2001). As importações destes dois países são insignificantes, o que os coloca em posição de destaque são às exportações líquidas2. A argentina é o 8º maior exportador líquido de leite e derivados do mundo e o Uruguai o 13º. O Brasil não tem nenhuma expressão como exportador de produtos deste setor. As importações líquidas em 1997 foram na ordem de 474 milhões de dólares, colocando o País como o 9º maior importador líquido do mundo Em relação à quantidade importada, de 1980 a 94, as importações brasileiras representavam, em média, 4,3% da produção nacional, variando de 0,5 a 9%, exceto o ano de 1986, que foi 18%. Já, no período de 1995 a 98, passaram para um percentual médio de 13%, variando de 9 a 18% (GOMES, 2001). Devido a distorção do mercado mundial dos produtos lácteos, as transações mercantis, na grande maioria das vezes, ocorrem através de práticas desleais e predatórias de comércio – subsídios, “dumping”, triangulação comercial, aquisições de produtos impróprio para consumo humano, com prazo de validade vencida e com composição físico-química alterada. Em relação à triangulação comercial, as denúncias feitas são de que ela é realizada por empresas localizadas, principalmente, na Argentina. Essas empresas comprariam produtos a preços subsidiados no mercado internacional e internalizariam no Brasil, valendo-se da condição das alíquotas de importação dentro do bloco, que são bem menores que as aplicadas nas importações originadas de países extra bloco. No entanto, observa-se na tabela 2, que triangulando ou não, a partir de 1995 com a formação da União Aduaneira no Mercosul, isto é, a eliminação dos impostos de importação entre os países membros e a criação de Tarifa Externa Comum para terceiros mercados, nunca o Mercosul exportou tanto para o Brasil. A tabela 2, mostra que no período de 1992 a 1994, em média, 40% das importações brasileiras eram realizadas via Mercosul. Porém, após entrar em vigor a União Aduaneira, no período de 1995 a 2000, em média, o Mercosul passou a responder por 71% das importações brasileiras. 2 Exportações líquidas é o valor das exportações menos o valor das importações. 25 Tabela 2 – Leite e derivados – Quantidades das importações brasileiras por bloco, 1992 a 2000, em toneladas Ano Mercosul União Européia Oceania Nafta Outros Total 1992 7.957 17.483 5.247 3.270 8.556 42.513 1993 29.403 23.407 10.017 1.047 23.844 87.718 1994 77.731 31.761 12.927 4.567 25.097 152.083 1995 158.465 134.334 18.778 21.195 22.845 335.617 - - - - - 330.227 1997 228.063 36.694 40.915 6.392 6.682 318.746 1998 278.062 44.631 40.770 13.138 7.523 384.123 1999 332.399 23.733 11.431 13.848 2.262 383.673 2000 246.624 30.800 9.764 14.458 5.416 307.062 1996(1) Fonte: Instituto CEPA/SC - Síntese anual da agricultura de Santa Catariana 2000-2001. (1) Disponível somente o total. Em relação às importações de lácteos, vale destacar a mudança do perfil dos importadores. Antes, as importações eram feitas apenas pelo governo, com vistas em regularizar o abastecimento interno e atender aos programas sociais. Depois, elas também poderiam ser feitas por indústrias lácteas, porém, a preocupação era completar o abastecimento do mercado. Agora, as importações são realizadas pelas indústrias lácteas e por empresários que não têm nada a ver com a atividade leiteira, chamados de “sem fábricas”. Segundo BERNARDES(2000), “as aquisições externas de leite em pó realizadas pelos “sem fábricas”, que apenas fracionam e embalam o produto para comercializá-lo, respondem por mais de 20% do mercado doméstico do produto”. No nosso entendimento, tanto as importações feitas via intra-indústria, quanto as realizadas pelos “sem fábricas”, tumultuam o mercado doméstico e provocam sérias dificuldades para o setor produtivo, caracterizando-se portanto, como operações mercantis meramente especulativas e descomprometidas com os problemas da sociedade. As importações dos produtos lácteos a preços artificialmente baixos causaram, e ainda causam, danos ao setor leiteiro brasileiro, entre os quais, citamos alguns comentados por BERNARDES (2000): a) Reduz o preço ao produtor, impedindo a adequada remuneração da atividade. Como as importações constituem uma alternativa à compra do leite in natura dos 26 produtores, acabam aumentando o poder de barganha das empresas, pressionando para baixo os preços pagos aos produtores; b) Sem qualquer relação com vantagens comparativas, baliza os preços no mercado doméstico, impedindo aos produtores brasileiros a plena conquista do mercado interno; c) Eleva o nível de desemprego na pecuária de leite, atividade intensiva em mão-deobra, contribuindo para que o fluxo de mão-de-obra ocupada na agricultura se desloque para os centros urbanos, aumentando a massa de desempregados e o processo de favelização das cidades; d) Causa falências e sérias dificuldades nas cooperativas e empresas lácteas. Nestes casos, o dano recaí novamente sobre o produtor, que não tem onde vender o seu produto. 1.3 PRODUÇÃO LEITEIRA NACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA No Brasil, segundo estudo realizado por GUANZIROLLI, et alli. (s.d.), baseado em dados censitário de 1995/96, a agricultura familiar3 produz 52% do leite do País. De acordo com o Censo Agropecuário 1995/1996, foram 1.810.041 produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 7,58 vacas por produtor e produção média de 3,57 litros por vaca dia. Os dados do Censo também mostram que as propriedades com área de até 50 ha, possuem 38% do rebanho, respondem por 39% da produção e envolvem 1.253.836 produtores. Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento, tem-se que as propriedades com até 10 vacas possuem 38% do rebanho, produzem 34% da produção e envolvem 1.502.048 produtores. Boa parte destes produtores (712.423) possuem um número pequeno de vacas (uma a duas), sendo esta produção basicamente utilizada para a subsistência da família. Quanto à venda de leite, do número total de produtores, 818.103 informaram que comercializavam o produto. Esses dados mostram a importância da atividade leiteira para as pequenas unidades de produção. 3 No estudo, a agricultura familiar foi definida a partir de três características centrais: a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados é feita por indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento; b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família; c) a propriedade dos meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interior que se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva. 27 Nas últimas duas décadas a produção nacional de leite vem crescendo a taxas superiores às do crescimento da população. Isso faz prever a possibilidade de o País alcançar, em breve, sua auto-suficiência. A partir disso, surgem duas questões: a) o Brasil deixará de importar derivados lácteos? e b) o País exportará os excedentes? Quanto à primeira, a resposta é não. Mesmo com auto-suficiência, com certeza, o País participará do mercado internacional, ora importando, ou talvez, ora exportando, dependendo dos preços doméstico e internacional. Quanto à segunda pergunta, a resposta está diretamente ligada à qualidade dos produtos. Atualmente, mesmo que existissem excedentes, as exportações não ocorreriam, em razão das barreiras referentes as exigências de qualidade. A tabela 3, apresenta a evolução e o consumo per capita da produção brasileira de leite no período de 1980 a 1998. Tabela 3 – Produção brasileira total, taxa de crescimento e consumo per capita de leite, no período de 1980 a 1998 Ano Produção (milhões litros) 1980 11.162 81 11.324 82 11.461 83 11.463 84 11.933 85 12.078 86 12.492 87 12.996 88 13.522 89 14.095 90 14.484 91 15.079 92 15.784 93 15.591 94 15.784 95 17.189 96 19.027 97 19.503 98 20.088 Fonte: GOMES,2001. Taxa crescimento (%) 1,45 1,20 0,01 4,10 1,21 3,42 4,03 4,04 4,23 2,75 4,10 4,67 - 1,22 1,23 8,90 10,69 2,50 2,99 Consumo per capita (litros/ano) 100,67 93,89 93,15 92,09 93,91 94,02 110 100,60 98,24 108,58 106,34 111,45 107,53 107,03 110,81 130,85 135,98 133,87 138,00 28 A tabela 3, mostra que nesse período, a taxa anual de crescimento foi, em média, de 3,4%; sendo 2,6%, de 1980 a 89; e 4,2% de 1990 a 98. Esses dados mostram que a produção brasileira vem crescendo a taxas significativas e os resultados são expressivos, apesar das adversidades enfrentadas pelos produtores. De 1994 a 97, a produção de leite aumentou, em média, 1,2 bilhão de litros/ano. Outro destaque é o consumo per capita, que pulou de 90 a 100 litros/ano, da década de 80, para 138 litros/ano, em 1998. Considerando-se o tamanho da população brasileira, esse aumento não é nada desprezível. No entanto, não se pode esquecer que a demanda por lácteos é elástica à massa salarial. Se esta se reduz, a demanda cai mais do que proporcionalmente. E que o aumento de consumo per capita, deveuse basicamente ao esboço de distribuição de renda proporcionada, nos dois primeiros anos após a implantação do Plano Real, em julho de 1994. A atividade leiteira, no País, caracteriza-se como de singular importância, sob as óticas social e econômica. A atividade está presente em todo o território nacional e desenvolve-se em cerca de 1,8 milhão de propriedades agrícolas, gerando mais de 3,0 milhões de postos de trabalho diretos, somente na atividade primária (MARTINS, 2001). A importância econômica da atividade é destacada no estudo feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite B (ABPLB), (apud Cenário futuro..., 1995), em que procurou identificar o tamanho do negócio do leite no País. A entidade chegou a um PIB lácteo de US$ 5,5 bilhões, resultado da produção anual de 15 bilhões de litros de leite. Desse valor, US$ 1,4 bilhão é movimentado pela economia informal do leite, representando 26% do PIB lácteo do País. O estudo ressalta, ainda que o valor do PIB lácteo representava 15% do PIB agropecuário e 1,3% do PIB brasileiro. Em relação ao leite informal4, conforme matéria no RURAL BUSINESS (2000), do total dos 20,6 bilhões de litros de leite produzidos por ano no Brasil, 46,9% são de origem informal. Dos 8,5 bilhões de litros de leite/ano consumido no País, entre leite tipo longa vida, pasteurizado, em pó e do próprio informal, 1,9 bilhões de litros/ano são de leite informal. Outro aspecto a se destacar é o crescimento que o leite informal teve, principalmente na última década, conforme tabela 4. 4 O mercado entende como leite informal, o leite, o queijo e outros derivados, consumido diretamente nas propriedades rurais e/ou vendidos aos consumidores, sem inspeção e sem nota fiscal. 29 Tabela 4 – Produção brasileira total de leite, produção inspecionada e informal, e crescimento do leite informal no período de 1980 a 1999 Ano Produção Produção inspecionada Produção informal (milhões (milhões informal informal litros) litros) litros) (%) (%) 1980 11.162 7.728 3.424 30,7% - 1990 14.484 10.747 3.737 25,8% 9 1999 20.591 Fonte: FILHO, 2001. 10.932 9.659 46,9% 159 total (milhões Participação Crescimento leite leite Na tabela 4, verifica-se que nas últimas duas décadas a quantidade de leite informal aumentou 2,8 vezes. É verdade que existe discussão quanto ao montante do leite informal, mas é inquestionável que a quantidade é altamente significativa dentro do mercado brasileiro e, principalmente, que na última década o crescimento do mercado informal foi expressivo. A quantidade de leite informal comercializada mostra a importância que este segmento tem tanto para o produtor como para a população. E que ou invés de combatê-lo, deve-se construir ações no sentido de incluí-lo na economia formal. 1.4 PECUÁRIA LEITEIRA NAS REGIÕES BRASILEIRAS O setor agrícola brasileiro é bastante heterogêneo. Esta heterogeneidade está relacionada à dimensão territorial e à conseqüente diversidade da base de recursos naturais e do clima. Porém, mais importante que estes, estão os aspectos culturais, as diferentes condições sociais, educacionais, acesso a informações, mercados, etc. O setor leiteiro não foge a esses aspectos e em função das características do processo produtivo e do mercado, esta diversidade talvez seja ainda mais elevada no setor. A produção de leite nacional está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. As duas Regiões juntas, conforme observa-se na tabela 5, respondem por 68% da produção brasileira. Em relação à participação das Regiões na produção do País, as modificações mais expressivas ocorreram no Sudeste, que caiu de 48% para 45%, 30 no Nordeste que também caiu de 15% para 12%, no Norte que aumentou de 2% para 4% e no Centro-Oeste, que também aumentou de 11% para 14%. A região Sul continuou participando com 22% da produção nacional. No período de 1985 a 96, a produção brasileira cresceu, 39%. Sendo, 178% na região Norte; 14% no Nordeste; 28% no Sudeste; 46% no Sul; e, 78% no CentroOeste. Os dados mostram que a região Norte foi a que mais cresceu, porém sua produção ainda é pouco representativa em termos nacionais. No entanto, nesse período, destaca-se também o crescimento de 78% na região Centro-Oeste. Tabela 5 – Evolução e participação das regiões brasileiras na produção de leite, no período de 1985 a 1996 País / A no 1985 Part. Ano 1996 Part. Taxa Regiões Produção (%) Produção (%) Cresc. (milhões litros) (%) (milhões litros) Brasil 12.846 - 17.931 - 39,58 Norte 304 2,36 846 4,71 178,28 Nordeste 1.987 15,46 2.273 12,67 14,39 Sudeste 6.288 48,94 8.089 45,11 28,80 Sul 2.804 21,82 4.110 22,92 46,57 Centro-Oeste 1.461 11,37 2.610 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 e 1995/96. 14,55 78,64 Em relação aos estados, dentre os dez maiores produtores, três encontram-se na região Sudeste, três no Sul, dois no Centro-Oeste e dois no Nordeste. Quanto à posição no ranking brasileiro, Minas Gerais ocupa o primeiro lugar, com participação três vezes superior ao segundo colocado. Conforme observa-se na tabela 6, Minas Gerais mantém sua participação na casa dos 30%, do total da produção. Rio Grande do Sul é o segundo, mantendo sua produção em torno de 10%, São Paulo caiu para terceiro, reduzindo sua participação de 14% para 10%, e Goiás, que aparece em quarto lugar, aumentou sua participação de 8% para 10%. Não obstante, nota-se que a produção de leite nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás, são equivalentes. Os outros seis estados, praticamente mantiveram suas participações, exceto a Bahia que reduziu sua participação de 5% para 3,5%, cedendo sua posição para Santa Catarina. 31 Tabela 6 – Participação da produção de leite no Brasil pelos 10 maiores Estados produtores, ano de 1985 e 1996 País / Estados A no 1985 Part. Ano 1996 Part. Taxa Produção (%) Produção (%) Cresc. (milhões litros) (%) (milhões litros) Brasil 12.846 - 17.931 - 39,58 Minas Gerais 3.772 29,36 5.499 30,66 45,78 São Paulo 1.810 14,08 1.847 10,30 2,04 Rio G. do Sul 1.280 9,96 1.885 10,51 47,26 Goiás 1.055 8,17 1.830 10,20 73,45 Paraná 919 7,15 1.355 7,55 47,44 Bahia 648 5,04 633 3,53 - 2,31 Santa Catarina 603 4,69 869 4,84 44,11 Rio de Janeiro 424 3,30 434 2,42 2,35 Pernambuco 308 2,39 406 2,26 31,81 Mato G. do Sul 268 2,08 385 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 e 1995/96. 2,14 43,65 Em relação a evolução da produção, observa-se que dos 10 estados, seis tiveram taxa de crescimento superior à do País. Desses estados, destaca-se o crescimento da produção do Estado de Goiás, que no período cresceu 73%. Não obstante, nota-se que a produção ficou estagnada nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo e caiu na Bahia. 1.5 PECUÁRIA LEITEIRA NOS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO GRANDE DO SUL Em Santa Catarina, os dados do Censo 1995/96 mostram que foram 145.668 os produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,45 vacas por produtor e produção média de 4,72 litros por vaca dia. Os dados também mostram que as propriedades com área de até 20 ha, possuem 48% do rebanho, respondem por 47% da produção e envolvem 90.310 produtores. Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento tem-se que as propriedades com até 10 32 vacas possuem 83% do rebanho, produzem 79% da produção e envolvem 140.981 produtores, ou seja 96,78% do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está presente em 71% dos estabelecimentos rurais do Estado. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 42% (61.394) informaram que comercializavam o produto, vendendo em média 9.073 litros/produtor/ano. Estes dados demonstram a efetiva participação das pequenas unidades na produção de leite no estado de Santa Catarina. Em relação à produção de leite nas mesorregiões (classificação IBGE, 1998) em Santa Catarina, observa-se na tabela 7, que houve expressivo deslocamento da produção, principalmente da mesorregião do Vale do Itajaí, que durante muito anos foi a principal bacia leiteira do Estado, para a do Oeste Catarinense. Tabela 7 – Evolução e participação das Mesorregiões do estado de Santa Catarina na produção de leite, no período de 1985 a 1996 Estado / A no 1985 Part. Ano 1996 Part. Taxa Mesorregião Produção (%) Produção (%) Cresc. (1000 litros) (%) (1000 litros) Santa Catarina 603.704 - 869.419 - 44,01 Grande Florianóp. 25.495 4,22 28.143 3,23 10,38 Norte Catarinense 58.669 9,71 74.224 8,53 26,51 Oeste Catarinense 270.493 44,80 485.151 55,80 79,35 Serrana 47.153 7,81 51.276 5,89 8,74 Sul Catarinense 62.173 10,29 81.026 9,31 30,32 Vale do Itajaí 139.721 23,14 149.598 17,20 7,06 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985; Censo Agropecuário 1995/1996 e MELLO, 1998. Na tabela 7, verifica-se que a produção de leite catarinense encontra-se concentrada nas mesorregiões Oeste Catarinense e Vale do Itajaí. Essas mesorregiões juntas respondem por 73% da produção do Estado. No entanto, destaca-se a produção da mesorregião Oeste Catarinense que é 3,2 vezes superior a do Vale do Itajaí. Em relação à participação das mesorregiões na produção do Estado, as modificações mais expressivas no período ocorreram na Oeste Catarinense, que aumento de 44% para 55% e na do Vale do Itajaí que caiu de 23% 33 para 17%. As demais Mesorregiões tiveram suas participações reduzidas, porém com menores índices percentuais do que a do Vale do Itajaí. Quanto a evolução da produção, nota-se que as taxas de crescimento foram pequenas nas mesorregiões da Grande Florianópolis, Serrana e Vale do Itajaí. As mesorregiões Norte e Sul Catarinense tiveram taxas de crescimento, respectivamente de 26% e 30%, enquanto que a taxa de crescimento do Estado foi de 44%. No entanto, ressalta-se o expressivo crescimento da mesorregião Oeste Catarinense que, no período, cresceu 79%. Esses dados mostram a importância que essa mesorregião tem na produção leiteira do Estado Catarinense. No Rio Grande do Sul, conforme observa-se na tabela 8, as principais mesorregiões (classificação IBGE, 1998) produtoras de leite são: a Centro Oriental Rio-Grandense, a Metropolitana de Porto Alegre, a Nordeste Rio-Grandense e a Noroeste Rio-Grandense, com destaque para essa última que em 1996, produziu 54% da produção do Estado. Em relação à participação das mesorregiões na produção do Estado, as modificações mais expressivas no período ocorreram na Noroeste Rio-Grandense, que aumentou sua participação de 39% para 54% e na Metropolitana de Porto Alegre, que caiu de 13% para 7%. As demais mesorregiões tiveram suas participações reduzidas, porém com menores índices percentuais do que a Metropolitana de Porto Alegre. A tabela 8, também mostra que, no mesmo período, houve forte deslocamento da produção, principalmente da região da bacia leiteira tradicional do Estado, que coincide aproximadamente com as microrregiões (classificação IBGE 1996) de Lajeado-Estrela, Santa Cruz do Sul, Gramado-Canela, Montenegro, Porto Alegre, Caxias do Sul e Guaporé, para a mesorregião Noroeste Rio-Grandense. Quanto a evolução da produção, nota-se que as mesorregiões Centro Ocidental, Centro Oriental, Nordeste e Sudeste Rio-Grandense, tiveram taxas de crescimento inferiores a taxa do Estado e as mesorregiões Metropolitana de Porto Alegre e Sudoeste Rio-Grandense apresentaram taxas negativas. Não obstante, no período, a mesorregião Noroeste Rio-Grandense apresentou taxa de crescimento de 103%, enquanto que a taxa de crescimento do Estado foi de 47%. Os dados indicam que está havendo uma mudança na geografia do leite no Estado do Rio Grande do Sul, da região leiteira tradicional para a região produtora de grãos. Neste sentido, destaca-se a redução da produção de leite nas microrregiões leiteiras tradicionais, principalmente na de Gramado-Canela, Porto 34 Alegre e Montenegro, e o expressivo aumento da produção de leite nas microrregiões de Não-Me-Toque, Cruz Alta, Passo Fundo, Cerro Largo, Ijuí, Santa Rosa e Carazinho. No Rio Grande do Sul, de acordo com Censo Agropecuário 1995/96, foram 285.061 produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,49 vacas por produtor e produção média de 5,18 litros por vaca dia. Os dados mostram que 47% do rebanho encontram-se em propriedades com área de até 20 ha, respondem por 45% da produção do Estado e envolvem 171.147 produtores. Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento tem-se que as propriedades com até 10 vacas possuem 83% do rebanho, produzem 78% da produção e envolvem 275.918 produtores, ou seja 96,79% do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está presente em 66% dos estabelecimentos rurais do Estado. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 45% (127.439) informaram que comercializavam o produto, vendendo em média 10.496 litros/produtor/ano. Esses dados mostram que no Rio Grande do Sul a atividade leiteira também é, predominantemente, realizada pelas pequenas unidades na produção. Sobre a importância da atividade leiteira, TESTA, et alli, (1996), ressaltam os seguintes aspectos: alta absorção de mão-de-obra, alto valor agregado na propriedade, fácil descentralização das unidades industriais, grande alcance social, uso de terras “não nobres” e atividade limpa. A alta absorção de mão-de-obra, gera condições para manter o homem no campo; a possibilidade de agregar valor ao leite e produtos derivados, é imprescindível para as pequenas unidades de produção e para as regiões cuja economia está apoiada na agricultura onde predominam as pequenas propriedades; e em relação aos aspectos ambientais, a atividade proporciona boas condições de manejo da terra, visando a proteção e recuperação dos recursos naturais. Ainda, sobre a importância do leite para as pequenas unidades de produção comentam ESCOSTEGUY et al. (1993), “O leite passou a ser, compulsoriamente, uma alternativa para os pequenos produtores. ‘É o salário dos pequenos’, como se costuma falar na colônia. (...) Em relação a postos de trabalho, segundo FERNANDEZ (1995), no Rio Grande do Sul as pessoas envolvidas no setor chegam ao número de 733.980. Cerca de 85.000 produtores integrados às indústrias e suas famílias somam 320.000 pessoas, que dependem total ou parcialmente do leite. Os fornecedores de insumos e infra- 35 estrutura são estimados em 80.000, que com suas famílias alcançam 320.000 pessoas. As famílias de 900 transportadores, 4.095 empregados de indústrias e postos de recepção de leite, 18.500 ligados à comercialização, totalizam mais 93.980 pessoas, atingindo a soma de 733.980 pessoas. Este número é muito maior se considerarmos as pessoas envolvidas com a economia do leite informal. No País, na década de 90, a quantidade de leite informal passou de 26% da produção total, para 47%. Já, no Rio Grande do Sul, nesse mesmo período, conforme BITENCOURT, (2000), o leite informal reduziu sua participação de 55% para 33% da produção. Esse percentual, em 1999, representava cerca de 670 milhões de litros de leite/ano. Se considerarmos que 50% dessa quantidade é consumida nas propriedades, têm-se ainda 335 milhões de litros/ano, que são comercializados como leite fluido ou produtos derivados. Esta comercialização é feita diretamente aos consumidores, nas feiras e em pequenos estabelecimentos comerciais. Tendo isso presente, no nosso entendimento, é fundamental construir ações no sentido de melhorar a qualidade destes produtos, visando reduzir os riscos que eles possam trazer à saúde dos consumidores. Estas ações indiscutivelmente passam pela implantação e fortalecimento dos serviços estaduais e municipais de inspeção, além do apoio dos serviços de extensão rural. Estes aspectos, irão potencializar o desenvolvimentos dos mercados regionais e locais e como consequências ter-se-á o fortalecimento das pequenas unidades de produção e dos pequenos e médios laticínios. Esse é um dos assuntos do nosso trabalho e alternativas nesse sentido serão analisadas e discutidas no capítulo resultados e discussões. 36 Tabela 8 – Evolução e participação relativa das meso e microrregiões do Estado do Rio Grande do Sul na produção de leite, no período de 1985 a 1996 Mesorregião / Microrregiões A no 1985 Produção (1000 litros) Centro Ocidental Rio-Grandense Restinga Seca 13.526 Santa Maria 26.336 Santiago 14.296 Subtotal 54.158 Centro Oriental Rio-Grandense Cachoeira do Sul 17.853 Lajeado-Estrela 116.526 Santa Cruz do Sul 51.899 Subtotal 186.278 Metropolitana de Porto Alegre Camaquã 12.793 Gramado-Canela 39.382 Montenegro 45.540 Osório 26.457 Porto Alegre 38.266 São Jerônimo 15.076 Subtotal 177.514 Nordeste Rio-Grandense Caxias do Sul 80.793 Guaporé 47.726 Vacaria 38.554 Subtotal 167.073 Noroeste Rio-Grandense Carazinho 26.274 Cerro largo 27.585 Cruz Alta 31.129 Erechim 63.501 Frederico Wesphalen 55.339 Ijuí 48.206 Não-Me-Toque 13.636 Passo Fundo 48.539 Sananduva 19.682 Santa Rosa 57.308 Santo Ângelo 40.539 Soledade 10.707 Três Passos 60.778 Subtotal 503.223 Sudeste Rio-Grandense Jaguarão 7.472 Litoral Lagunar 12.195 Pelotas 72.266 Serras de Sudeste 19.181 Subtotal 111.114 Sudoeste Rio-Grandense Campanha Central 18.079 Campanha Meridional 31.360 Campanha Ocidental 31.878 Subtotal 81.317 Total 1.280.677 Fonte: BRESSAN, et alli., 2001. Part. (%) Ano 1996 Produção (1000 litros) Part. (%) Taxa Cresc. (%) 1,05 2,05 1,11 4,22 16.063 32.330 26.326 74.719 0,85 1,71 1,39 3,96 18,75 22,75 84,14 37,96 1,39 9,09 4,05 14,54 13.563 152.007 53.957 219.527 0,71 8,06 2,86 11,64 - 24,02 30,44 3,96 17,84 0,99 3,07 3,55 2,06 2,98 1,17 13,86 8.821 33.256 41.450 14.005 37.773 10.609 145.914 0,46 1,76 2,19 0,74 2,00 0,56 7,73 - 31,04 - 15,55 - 8,98 - 47,06 - 12,88 - 19,62 - 17,80 6,30 3,72 3,01 13,04 85.524 82.980 41.223 209.727 4,53 4,40 2,18 11,12 5,85 73,86 6,92 25,53 2,05 2,15 2,43 4,95 4,32 3,76 1,06 3,79 1,53 4,47 3,16 0,83 4,74 39,29 52.012 64.696 87.708 97.213 81.951 107.922 46.525 115.016 36.040 123.615 75.758 16.532 117.523 1.022.512 2,75 3,43 4,65 5,15 4,34 5,72 2,46 6,09 1,91 6,55 4,01 0,87 6,23 54,22 97,95 134,53 181,75 53,08 48,08 123,87 241,19 136,95 83,11 115,70 86,87 54,40 93,36 103,19 0,58 0,95 5,64 1,49 8,67 6.312 16.205 94.027 17.257 133.801 0,33 0,85 4,98 0,91 7,09 - 15,52 32,88 30,11 - 10,03 20,41 1,41 2,44 2,48 6,34 100 15.741 34.893 28.805 79.440 1.885.640 0,83 1,85 1,52 4,21 100 - 12,93 11,26 - 9,63 - 2,30 47,23 37 1.6 PRODUÇÃO DE LEITE E O DEBATE SOBRE SUAS TENDÊNCIAS O atual quadro do setor leiteiro no Brasil foi moldado por importantes mudanças na economia nacional e mundial nos anos 90, entre estas: a excessiva abertura comercial com redução de tarifas, expondo o setor às práticas desleais de comércio, características do mercado internacional de produtos lácteos; a desregulamentação do setor, após 45 anos de controle do estado brasileiro; a liberação dos preços dos produtos lácteos; a consolidação de uma união aduaneira no Mercosul, possibilitando aos demais estados membros (especialmente Argentina e Uruguai) a alcançarem a posição de parceiros comerciais do Brasil no segmento de lácteos; e a incorporação da agricultura nas regras do comércio mundial estabelecidas pela Rodada Uruguaia do Gatt. Esses aspectos, principalmente a excessiva abertura comercial brasileira e a liberação dos preços dos produtos lácteos, abalaram a economia das cooperativas e empresas nacionais e têm submetido todos os elos da cadeia produtiva do setor a uma intensa transformação. Em relação às cooperativas, segundo BERNARDES (2000), no início dos anos 90, mais de 50% do leite produzido no País era captado e beneficiado pelas cooperativas. Nessa época, existiam nove centrais de cooperativas, hoje reduzidas a apenas quatro. Durante a última década, sem dúvida, o movimento mais expressivo no mercado de leite e derivados foi as aquisições e fusões havidas tanto entre as indústrias particulares quanto em relação às cooperativas. A tabela 9, ilustra a movimentação de algumas transações ocorridas no período. Na tabela 9, observa-se que as empresas transnacionais dominam os processos de fusões e aquisições. Esta política das empresas multinacionais e também de algumas empresas nacionais e/ou cooperativas tem provocado a formação de um mercado oligopsônio no setor leiteiro. Do total de mais de 20 bilhões de litros de leite/ano produzidos no Brasil, estima-se que 12 bilhões de litros são inspecionados. Da produção inspecionada, metade é controlada pelas 12 principais companhias lácteas. Dessa quantidade, 68% são controladas por apenas quatro companhias. 38 Tabela 9 – Fusões e aquisições de empresas de laticínios no Brasil, nos últimos anos Compradora Parmalat (Itália) Período 1990 Alimba (BA) e Lia Láctea (SP) 1991 Supremo (MG) Alpha (RJ) e Santa Helena (GO) 1992 Nestlé (Suiça) Empresa adquirida Go-gó (Unidade da Mococa em Santa Helena) Planalto (RJ) e Lacesa (RS) 1994 Clipe (PE), Ouro Preto (RO) e Leite Forte (GO) 1996 Bethânia 1998 Batavo (PR) 1991 CCPL (Unidade de Teófilo Otoni em MG) SPAM em Nova Venécia (ES), MEDEIROS Neto (BA), Nanuque (MG) e Rialma (GO) Dairy Board (Neozelandesa) 2000 Vigor Leco (SP) (Kraft / Philip Morris) EUA 1995 Avaré / Glória (SP) e Gums (SP) La Serenisima (Argentina) 1996 Leite Sol (SP) Mikaut (Argentina) 1998 Ivoti (RS) Royal Numico (Holanda) 1996 Support (MG) 1999 Mococa (SP) Perez Companc (Argentina) 1999 Queijos Minas (MG) Danone (França) 2001 Paulista (SP) Avipal (RS/Brasil) 1996 CCGL (RS) Fleischmann Royal / Nabisco Fonte: COCEL, 2000. O processo de concentração industrial, também se evidencia no Rio Grande do Sul, segundo BITENCOURT et alli. (2000), do volume de leite cru, produzido no Estado, em 1999, e inspecionado pelo Ministério da Agricultura, 54% foram recebidos pela empresa Elegê Alimentos S/A e 20% pela Parmalat do Brasil S/A, o que soma 74% do total. As consequências desta concentração são diversas, mas de modo geral, os elos da cadeia mais prejudicados, são as pequenas e médias empresas, cooperativas e os produtores rurais. No caso dos produtores, a política de especialização e concentração da produção, de diminuição do custo do transporte (através da coleta de leite a granel), do pagamento do leite (considerando-se um preço-base, acrescido de bonificações 39 pelo volume e pela qualidade), entre outras, adotadas pelas empresas têm-se mostrado perniciosas para as pequenas unidades de produção, tendo provocado a exclusão de muitos produtores da atividade leiteira. Essa tendência pode ser observada, analisando os dados da tabela 10, que mostra o número de produtores e a quantidade média diária de leite recebida por produtor, nos anos de 1997 e 2000, nas 12 maiores empresas de laticínios do País. Tabela 10 – Número de produtores e quantidade média diária de leite recebida por produtor nas 12 maiores empresas de laticínios do País Empresas / Marcas Número de Diferença Recepção / Diferença produtores (%) produtor / dia (litros) (%) 1997 2000 1997 2000 Nestlé 35.089 14.142 - 60 110 270 145 Parmalat 21.040 15.550 - 26 112 162 44 Itambé 18.250 8.400 - 54 110 252 129 Elegê 38.537 32.188 - 16 43 65 51 CCL / SP (1) 24.481 8.925 - 63 75 157 109 Batavia 11.125 7.505 - 32 67 100 49 Grupo Vigor 8.142 3.693 - 54 99 170 71 Leite Líder 5.880 8.795 49 66 64 -3 Centroleite (2) 3.180 4.205 32 114 114 0 Laticínios Morrinhos 4.300 7.292 69 67 55 - 17 Fleischmann Royal 4.000 2.335 - 41 114 164 43 Danone 1.426 1.420 - 0,4 321 251 - 21 Total 175.450 114.450 - 34 87 135 55 Fonte: LEITE BRASIL, CNA/DECON e Embrapa/CNPGL, 2001. (1) Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo e (2) Cooperativa Central de Laticínios de Goiás. Os dados da tabela 10, mostram que, de modo geral, nos quatro anos, apesar de ser um período curto, houve em média a exclusão de 34% dos produtores integrados. Estes dados são extremamente graves porque se fizermos uma projeção para os próximos 4 anos, mantendo-se este percentual de exclusão, seriam apenas 75.537 os produtores que permaneceriam integrados. Se compararmos este número de produtores 75.537, com o número de produtores integrados no ano de 1997, 175.450 produtores, constatamos que em oito anos seriam cerca de 100.000 40 produtores integrados excluídos da atividade leiteira. Outro aspecto é a concentração da produção, mesmo havendo uma redução de 61.000 produtores integrados, no período de 1997 a 2000, a quantidade de leite recebida pelas 12 principais empresas de laticínios aumentou de 5,5 para 5,6 bilhões de litros. A mesma tendência também pode ser observada, analisando os dados da Associação Gaúcha de Laticínios, citado por SMIDT (1999). Os produtores que entregam até 50 litros de leite / dia representam 69% do total de produtores integrados (estima-se em 71.000 os produtores integrados no RS) e respondem por 31% da quantidade total recebida pelos laticínios. O número de produtores integrados corresponde aproximadamente a 56% do número total de produtores, que em 1996 informaram que comercializavam leite no Estado. Devido à política das empresas de receber leite somente de produtores que entregam mais de 50 litros / dia, o número de produtores integrados à indústria leiteira gaúcha, poderá reduzir-se a cerca de 22.000 produtores. Para ilustrar estes aspectos, mostra-se na tabela 11, o que ocorreria com o número de produtores em quatro cenários, se a produção média por estabelecimento fosse crescente, de modo a obter a produção do RS em 1996 de 1,88 bilhões de litros de leite. Tabela 11 – Cenários para que o RS tenha a produção de 1996 de 1,88 bilhões de litros de leite por ano Cenários Produtores Produção (litros / dia) Número atual 18 285.061 1 50 103.322 2 100 51.661 3 200 25.830 300 17.220 4 Fonte: VILELA, et alli. 1998. Analisando o cenário onde o aumento da produção média de leite passa de 18 para 50 litros / dia, o que em termos de escala, segundo MELLO (1998), é 41 considerada como sendo uma escala média5, provocaria uma redução de 64% no número de produtores. Além disso, outro aspecto que atualmente está preocupando e mobilizando parte do setor, principalmente as pequenas e médias cooperativas, laticínios e agricultores é a regulamentação do leite, através da portaria nº 56, que está no Ministério da Agricultura para ser assinada, e tem prazo previsto para vigorar a partir de 01/07/2002, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e a partir de 01/07/2004, nas regiões Nordeste e Norte. A portaria originou-se do Programa Nacional de Qualidade do Leite (PNQL), elaborado pela Embrapa, Institutos de Pesquisas e Universidades, por demanda do Ministério da Agricultura, visando a adoção de novos preceitos normativos para o leite. A nova legislação prevê a substituição do leite cru tipo C por matéria-prima resfriada na propriedade e transportada a granel à indústria. Os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de leite cru refrigerado e da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel, encontramse no anexo 4. O eixo básico da portaria são os novos critérios de qualidade para leite. Não há dúvida de que a busca da qualidade deve ser uma das premissas para um plano de ação visando organizar a produção, a industrialização e a comercialização de leite. Mas, a questão de “qualidade” referida na portaria, passa basicamente pelos aspectos sanitários. A noção de “qualidade” não considera as questões ambientais e de saúde humana. Como fica a questão dos resíduos de hormônios (aditivos) aplicados aos animais nos sistemas especializados? Como fica a questão do resíduo de alumínio e outros metais pesados que são jogados no ambiente junto com as embalagens descartadas de leite longa vida? Neste sentido, é preciso observar que cresce cada vez mais a pressão de consumidores pela produção de bens cujos processos produtivos respeitem o ambiente e cujos produtos sejam saudáveis. A adoção de sistemas de produção que respeitem as formas de organização econômica e social e o ambiente passa pela aposta em sistemas de menores escalas, que as pequenas unidades de produção estão acostumadas a fazer. Por isso, a regulamentação do resfriamento, da coleta e do transporte do leite cru deve 5 Conforme MELLO, para o oeste catarinense a produção de leite especializada e em grande escala é aquela em cuja propriedade existem mais de 40 vacas e que a atividade leiteira contribua com mais de 70% da renda total. Enquanto produção diversificada em escala média considera-se aquela propriedade que possui entre seis e 10 vacas e cuja renda da atividade leiteira não supere 50% da renda total. 42 também se preocupar em viabilizar a produção da agricultura familiar de pequeno porte e os pequenos e médio laticínios. A exigência de tanques de expansão individual na propriedade é incompatível com a realidade das pequenas unidades de produção. Neste sentido é necessário questionar a necessidade de haver um resfriador por propriedade, exigido pela maioria das empresas, impedindo a ação associativa dos produtores. A continuidade da possibilidade da associação entre produtores é fundamental para que se equacione a questão do resfriamento, tendo em vista seu custo. Por exemplo, um produtor que entrega 30 litros de leite / dia (10.950 litros / ano), vai adquirir um tanque de expansão de 300 litros (menor disponível no mercado) no valor de R$ 2.250,00, considerando o resultado econômico, neste trabalho, média de R$ 0,05 / litro de leite, este produtor despendendo toda a renda da atividade, sem considerar os juros, necessita de mais de quatro anos para pagar o investimento. Também, conforme dados da COCEL (2000), a realização de testes de Contagem de Células Somáticas (CCS) semanalmente em todas as vacas terá um custo de 16% sobre a renda do leite de uma propriedade com uma média de cinco animais e produção de 30 litros dia. A exigência de caminhões com tanque isotérmico para transporte do leite, também é incompatível com a realidade dos pequenos e médios laticínios. Por exemplo, só no Rio Grande do Sul, são cercas de 100 pequenos laticínios que processam o leite de oito mil famílias que terão dificuldades em adquirir estes caminhões. A face dura da granelização do leite (tanque de expansão e caminhões com tanque isotérmico) é a inevitável seleção de produtores e a exclusão dos pequenos e médios laticínios implícita no processo. Refrigeração e granel representam, a médio prazo, um forte impacto sobre o produtor de leite. Isso por que a granelização força a homogeneização de leite na linha de coleta, sendo que os produtores que não se adaptarem à nova regra deverão obrigatoriamente deixar de entregar o produto, sob pena de prejudicar os demais. A exigência de caminhões com tanque isotérmico para o transporte do leite, sem um projeto adequado para os pequenos e médios laticínios, vai acentuar ainda mais a concentração do setor. Isso trará como consequência uma expressiva redução no número de postos de trabalho no setor e provocará inúmeros efeitos sobre o desenvolvimento de muitos municípios e regiões, que possuem economia apoiada em agropecuária, onde a atividade leiteira é um dos 43 seus componentes-chave. Para ilustrar, a tabela 12 mostra o impacto que a coleta a granel de leite refrigerado teve sobre o número de produtores e sobre a concentração da produção na Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda (SUDCOOP), que atua no oeste do Estado do Paraná. Tabela 12 – Impacto da granelização da coleta do leite na Cooperativa Central Agropecuária do Sudoeste Ltda Antes (dez. / 92) Depois (jun. / 97) Diferença em % Recepção mensal leite (1.000 l) 8.691 9.362 8 Número de produtores 7.396 3.941 - 47 Produção média (l / dia) 38 79 109 Linhas de leite 135 71 - 47 9 5 - 44 Caminhões 142 50 - 65 Pessoas no transporte 203 78 - 62 1.974 6.241 216 Postos de resfriamento Volume por caminhão (litros) Fonte: JANK et alli., 1999. Analisando a tabela 12, observa-se que mesmo sendo um período curto, menos de cinco anos, houve uma redução muito grande no número de produtores integrados, nas linhas de leite, nos postos de resfriamento, no número de caminhões e na quantidade de pessoas envolvidas com o transporte. Neste sentido, há uma espécie de consenso, de pensamento único, de que para se ter qualidade e competitividade há uma necessidade imperativa de uma produção especializada e do aumento de escala, o que traz como consequência, uma drástica redução do número de produtores. A construção de um desenvolvimento que reduza o processo de exclusão e dinamize as economias locais e regionais, exige de parte dos integrantes da cadeia, das entidades comprometidas com a agricultura de pequeno porte (sindicatos, entidades de classe, cooperativas, laticínios, ensino, pesquisa, extensão...), produtores e sociedade como um todo, um grande esforço no sentido de executar 44 projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os pequenos e médios empreendimentos lácteos no País. Estes projetos devem viabilizar alternativas desde a fase de produção do leite, transporte, processamento, transformação, até a comercialização, tendo por objetivo consolidar a atividade leiteira nas pequenas unidades de produção de forma heterogênea e desconcentrada. Estes aspectos vão determinar o sistema de produção a ser utilizado (tipo de animal, forma de alimentação, manejo do plantel, instalações...), diversidade da produção, uso da mão-de-obra, dentro de uma perspectiva de geração de trabalho e renda, proteção ambiental e qualidade de vida. 1.7 AGRICULTURA E O AMBIENTE A sobrevivência do homem ao longo de sua história é marcada pela luta na busca de alimentos. Por muito tempo suas necessidades alimentares foram supridas através da coleta, caça e pesca. A agricultura e a domesticação dos animais, comparativamente ao aparecimento do homem na face da terra, são fatos relativamente recentes. A observação, repetição de algumas experiência muitas vezes casuais, tentativas e erros, proporcionaram ao homem conhecimento que lhe permitiram melhor utilizar os recursos naturais, desencadeando dessa forma o cultivo de culturas e a domesticação de animais. No entanto, resultados mais expressivos da agricultura e da domesticação dos animais começam ser obtidos após a última era glacial. O clima ficou estável e o homem encontrou melhores condições para cultivar os vegetais e iniciou a utilizar os animais para serviços. Esse processo teve início por volta de 8.000 a.c. e foi denominado por CHILDE (1975), de Revolução Neolítica. Ao contrário do nome, o processo foi evolucionário e não revolucionário demorando milhares de anos, e ocorrendo em muitos lugares do mundo. Segundo (MILLER, 2000), “na Ásia e Europa, a intensificação se deu por complexos sistemas que integravam animais e plantas, e o arado e a tração animal se tornaram parte importante do sistema. Nas Américas, na ausência de tração animal e do arado, complexas policulturas de plantas evoluíram nas mãos dos agricultores, que também concentraram os esforços de melhoramento das plantas domésticas. Em todos os cantos, árvores de grande utilidade foram domesticadas: a bananeira em Nova Guiné, a jaqueira na Índia e o dendezeiro na África são 45 exemplos deste processo. O manejo da água e dos nutrientes se intensificou em muitos lugares, exemplificado por sistemas de arroz e compostagem na Ásia e chinampas na América Central. A combinação de evolução de germoplasma, bom gerenciamento de recursos naturais e o acúmulo de conhecimento ecológico local, resultou em níveis altíssimos de produtividade em várias regiões do mundo”. Mesmo havendo uma enorme heterogeneidade nos sistemas agrícolas, devido a diversidade da base dos recursos naturais, clima, culturas..., por muito tempo a agricultura predominante foi a “itinerante”, que consistia em cultivar-se a terra e quando a produção caia, abandonava-se a área e começava-se um novo ciclo em outro lugar. A área abandonada ficava em “descanso” por um período de 20 a 30 anos, para depois ser novamente utilizada. Com o crescimento populacional e a ocupação territorial dos continentes, os períodos de “descanso” da terra foram reduzidos, acentuando-se ainda mais as produções alternadas, as catástrofes..., caracterizando-se por longo período de escassez crônica de alimentos. Todavia, a maior riqueza resultante da relação homem-natureza foi o material genético vegetal e animal produzido ao longo dos tempos. As trocas, principalmente de germoplasma vegetal realizadas da América para a Europa, pelos povos, proporcionaram expressivo aumento na produção de alimentos e como consequência altíssimas taxas de crescimento populacional. Essas condições deram sustentação à revolução industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII. Nesse período, as grandes mudanças havidas nas práticas agrícolas e na sociedade rural levaram a uma intensificação da produção para alimentar as novas e crescentes populações urbanas. Segundo BOSERUP (1965), enquanto muitos autores atribuem as mudanças à intensificação de práticas agrícolas existentes ou a novas tecnologias criadas por pressão do crescimento populacional, WEATHERFORD (1988), identifica a troca Colombiana de germoplasma, e principalmente a introdução da batata inglesa, como sendo a grande responsável pelo salto em produtividade e no crescimento populacional. O primeiro ponto de vista enfatiza a capacidade humana de criar inovações tecnológicas para continuamente intensificar a agricultura. O segundo ponto de vista eleva o valor da transferência de germoplasma e do conhecimento ecológico da Revolução Neolítica, e o efeito desta transferência sobre a produtividade da agricultura em muitas partes do mundo. Essa agricultura caracterizava-se pela existência das atividades agrícolas e pecuária e pela adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras. As forrageiras, além de 46 fonte alimentar para os animais desempenham importante papel na estruturação do solo e melhoria de sua fertilidade, principalmente as leguminosas, capazes de adicionar nitrogênio ao solo, através da fixação simbiótica. No entanto, mudanças no âmbito científico e tecnológico promovidas desde meados do século XIX, a partir das teorias do químico Justus von Liebig, provocaram grandes transformações desse padrão produtivo. Neste sentido destaca-se a introdução da adubação mineral na agricultura. No início do século XX, outros componentes da produção agrícola começaram a ser desenvolvidos pelo setor industrial, como, por exemplo, a introdução da motomecanização em substituição aos implementos movidos pela tração humana ou animal. No mesmo período, segundo (MILLER, 2000), “a genética moderna, a vitória sobre o Japão, e um pouco de sorte (a perda de sensibilidade a fotoperíodo durante o processo de melhoramento) permitiu transformar variedades tradicionais com alta produtividade mas com adaptação geográfica estreita, em variedades novas com ampla adaptabilidade e alta produtividade. O adubo mineral e posteriormente os agrotóxicos que acompanham estas variedades garantiram a ampla adaptabilidade das novas variedades, sem o conhecimento ecológico local que sustentava os sistemas tradicionais. Os métodos tradicionais de manejo de fertilidade e controle de pragas, como adubação verde, rotações, compostagem e rizipiscicultura que eram sistemas complexos e localmente adaptados, tornaram-se imprestáveis para acompanhar a ampla adaptabilidade dos pacotes modernos”. A partir dessas mudanças configuram-se condições para a substituição de sistemas rotacionais, consorciados e diversificados por sistemas que permitiam a cisão entre a produção vegetal e animal. Os animais que eram fundamentais aos sistemas agrícolas, porque produziam adubo orgânico e serviam de tração, passaram a ser substituídos pelos tratores e adubos minerais. As pastagens, principalmente aquelas que serviam de alimentos para os animais de tração, passaram a ser lavradas e as áreas utilizadas na produção de grãos. As rotações de culturas foram sendo abandonadas e a diversidade de espécies vegetais (gramíneas, leguminosas, pastagens...) foi substituída pela monocultura. Essas condições marcaram o declínio da estrutura de produção baseada no conhecimento ecológico local e sistemas rotacionais complexos e o início de uma nova etapa da história da agricultura conhecida como a “modernização” da agricultura. Esse modelo de agricultura consiste, basicamente no emprego de insumos 47 químicos industriais, motomecanização e variedades vegetais geneticamente melhoradas e padronizadas. Desta forma, componentes de produção que eram de domínio dos agricultores foram apropriados pelo setor industrial. A agricultura passou a ter um papel importante, não somente como produtora de matérias-primas e alimentos, mas também como mercado para a indústria de máquinas e insumos agrícolas. A motomecanização das práticas de preparo do solo, plantio e colheita, os adubos minerais e a disponibilidade de recursos financeiros para os agricultores, geraram condições ideais para a expansão de uma agricultura, onde procura-se produzir apenas o produto mais rentável, principalmente os cereais. Para disseminar esse modelo de agricultura, a partir da década de 40, foram montados centros de pesquisas por produtos, como por exemplo o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), localizado no México e o “International Rice Research Institute” (IRRI), localizado nas Filipinas. Esses centros, segundo MARTINE (1987), foram montados e financiados pelo grupo Rockfeller e outras grandes empresas, que visavam difundir uma tecnologia baseada em intensa demanda de insumos biológicos, químicos e mecânicos, a maioria dos quais sob controle dessas mesmas empresas. Os centros produziam variedades vegetais padronizadas de “ampla adaptabilidade” e alta produtividade, condicionadas ao uso integrado de insumos industriais. A adaptação do meio físico de diversos locais do mundo às variedades, se fez através de centros de pesquisas, estações experimentais e faculdades de agronomia. Para a difusão da tecnologia, organizouse programas de assistência técnica (extensão rural) em vários países. A difusão desse modelo de agricultura foi realizada através de um pacote tecnológico, que ficou conhecido como “Revolução Verde”. Em essência, o pacote prometia a elevação da produtividade média através do uso de variedades de alta produtividade, calcário e adubos minerais e, resolver os problemas de fome no mundo. Os sistemas produtivos baseados no pacote tecnológico propiciaram aumentos de produtividade. Porém, com alto custo ambiental e demandas crescente de agrotóxicos e energia externa proveniente de recursos não-renováveis como os combustíveis fósseis. A expansão desse modelo de agricultura trouxe drásticas consequências ambientais e sociais. Algumas das consequências mais severas de degradação dos recursos naturais ligados a esse modelo de agricultura são: a erosão, a acidificação, a salinização, a compactação, a contaminação dos solos e a 48 lixiviação e extração de seus nutrientes, a sedimentação dos rios e represas, a contaminação da água por produtos agroquímicos, a perda de massa de floresta, a erosão genética de cultivos e a perda de biodiversidade, a destruição dos predadores naturais e dos microorganismos do solo, a emissão de dióxido de carbono devido à queima de madeira, resíduos das culturas..., a intoxicação de agricultores, operários e consumidores por agrotóxicos e a resistência crescente das pragas e doenças aos agrotóxicos. A destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão do solo e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos tornaram-se consequências inerentes à produção agrícola. Esse processo repetiu-se também no Brasil, e se por um lado, a “modernização conservadora” da agricultura aumentou a produtividade das culturas “dinâmicas” de exportação, por outro, além dos impactos ambientais, ampliou a concentração de terras e de riquezas e provocou intenso êxodo rural. Conforme MARTINE (1987), no Brasil, durante as décadas de 60 e 70, cerca de 28,5 milhões de pessoas deixaram o campo, por não terem mais oportunidade de trabalho. No entanto, desde as décadas de 20 e 30 surgem movimentos contrários e vertentes alternativas a esse modelo de produção, também denominado de convencional. Esses movimentos e vertentes representados por uma minoria de pesquisadores e grupos isolados de produtores, apontavam as fragilidades e as sérias consequências resultante dessa agricultura, ao mesmo tempo construíam e difundiam experiências alternativas, baseadas no conhecimento ecológico local. Durante décadas esses movimentos foram hostilizados tanto pela comunidade científica como pelo setor produtivo, e se mantiveram à margem do cenário agrícola mundial. Porém, a partir dos anos 60, com a publicação do livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson, denunciando os perigos e os riscos dos agrotóxicos e em 1974 e 75, o estudo feito pela equipe de LOCKERETZ apud EHLERS (1999), onde comparou o rendimento energético de 16 fazendas convencionais com o de 16 fazendas alternativas, concluindo que os sistemas convencionais necessitavam de 0,9 kcal para produzir 1 kg de produto final, enquanto os sistemas alternativos obtêm o mesmo produto com apenas 0,38 kcal, as idéias dos movimentos chamados “rebeldes” e as vertentes da agricultura alternativa são fortalecidas. No Brasil, segundo MACHADO (2000), a partir de 1979, a Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil iniciou uma campanha nacional contra o pacote 49 preconizado pela “Revolução Verde” e por postulados muito mais amplos na produção agrícola. Nesse contexto, no final da década de 80, segundo ALMEIDA (1997), na literatura sobre a agricultura mundial, o qualitativo sustentável passa a atrair a atenção de um número crescente de profissionais, pesquisadores e agricultores. E por influência do debate americano, a agricultura sustentável ganhou uma série de definições, incorporando os seguintes itens: manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; mínimo de impactos adversos ao ambiente; retornos financeiro-econômico adequados aos agricultores; otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos; satisfação das necessidades alimentares e renda; e atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais. Já, em 1993, conforme EHLERS (1999), um grupo de organizações não-governamentais agroambientalistas realizou em Copenhague um fórum global do qual resultou o “Alternative Treaty on Sustainable Agriculture”, onde se define a agricultura sustentável como: um modelo de organização social e econômico baseado em um desenvolvimento eqüitativo e participativo (...) A agricultura é sustentável quando é ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente apropriada e fundamentada em um conhecimento científico holístico. Pelas definições citadas percebe-se o caráter polêmico em torno do termo. No entanto, segundo o autor, o que há de comum a todas as escolas, propostas e vertentes alternativas é o objetivo de desenvolver uma agricultura ecologicamente equilibrada, socialmente justa e economicamente viável. Isso nos remete de volta pelo menos aos sistemas pré-modernos. Desta forma, precisamos conhecer melhor a grande diversidade destes sistemas, porque são a base da nossa produtividade moderna, e precisamos aprender a recriar o conhecimento ecológico local nas localidades geográficas onde foram transplantadas as variedades tradicionais de alta produtividade. Tendo isso presente, o desafio atual da agricultura contemporânea é produzir alimentos saudáveis e com qualidade nutritiva, e matérias-primas, capazes de atender a necessidade da sociedade, com mínimo de impactos e desequilíbrios no ecossistema, propiciando condições sócio-econômicas às famílias e às comunidades rurais. Se sabe que esse é um enorme desafio, porém, algumas experiências interessante, nesse sentido acontecem na região Oeste de Santa Catarina. Trata-se da produção de leite à base de pasto em pequenas unidades de produção, 50 resultante da ação de organizações dos agricultores e de projetos de extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da UFSC, que será apresentado no capítulo III e faz parte do nosso trabalho. 1.8 POSSIBILIDADES PARA AS PEQUENAS UNIDADES DE PRODUÇÃO LEITEIRA 1.8.1 PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO No planejamento da propriedade, tendo em vista a produção de leite à base de pasto é fundamental preservar (ou recompor) as matas ciliares e em declives acentuados, pequenos bosques e manter as áreas de pastagens nativas e/ou naturalizadas existentes, tendo em vista a importância ecológica, ambiental e produtiva para o ecossistema. As pastagens nativas e/ou naturalizadas são muito importantes pela diversidade de espécies vegetais que apresentam, e expressam as adaptações e as interações do clima-solo-planta-animal-homem de um longo tempo. Além disso, elas, também desempenham um importante papel na proteção contra à erosão, na agregação do solo, na aeração e na atividade da biomassa microbiana. Quanto a importância das pastagens na melhoria das caraterísticas físicas, químicas e biológicas do solo, destaca-se a contribuição do sistema radicular. Segundo RUSSEL et ali. (1968), “as raízes contribuem para a produção de húmus e funcionam como agentes granuladores das partículas minerais do solo. Os pêlos radiculares, apresentam uma superfície mucilaginosa à qual se aderem as partículas finas do solo, sendo constantemente renovados”. Desta forma, além de contribuírem na reestruturação física do solo, os pêlos e as raízes que periodicamente se renovam, também servem de alimentos aos organismos do solo. Outro aspecto importante dessa interação (solo-raízes) é que, com a morte das raízes o solo fica dotado de uma verdadeira malha de canais, aumentando a porosidade e a capacidade de infiltração de água. Na tabela 13, mostra-se os efeitos do sistema radicular de uma pastagem, com o passar dos anos sobre as características físicas do solo. 51 Na tabela 13, observa-se que, com o tempo, ocorre uma interação benéfica entre o sistema radicular e as características físicas do solo, aumentando de forma expressiva a porosidade e a capacidade de aeração e infiltração de água, fatores esses muito importantes para o desenvolvimento do sistema radicular, produção das pastagens e redução da erosão do solo. Tabela 13 – Idade da pastagem e a influência do sistema radicular sobre as características físicas do solo Idade pastagem Volume de poros (%) Teor de ar (%) Pastagem com 3 anos 50,2 20,8 Pastagem com 8 anos 58,2 32,8 Pastagem com - 40 anos 63,7 37,7 Pastagem com + 40 anos Fonte: KLAPP,1971. 74,9 50,7 Conforme, KLAPP (1971), a massa de raízes de uma pastagem perene, nos 30 cm superficiais, pesa em média, de 4.000 a 8.000 kg MS / ha, podendo em condições favoráveis chegar a 45.000 kg de MS/ha. No trabalho de VINCENZI et alli (1996), sobre a determinação da distribuição da biomassa de raízes em pastagem de campo naturalizado melhorado sob Pastoreio Racional Voisin, realizado na área experimental da UFSC, fazenda Ressacada em Florianópolis, obtiveram de massa de raízes, nos 20 cm superficiais, a quantidade de 26.077 kg de MS/ha. A renovação completa da massa de raízes de pastagens perenes temperadas leva de 3 a 4 anos, eqüivalendo a uma estrumação de 62,5 a 105 t/ha (KLAPP,1971). Ainda, de acordo com LOVATO (2000), “o solo pastoril é um solo rizosférico, apresentando maior teor de matéria orgânica e maior atividade microbiana do que o solo de floresta ou de lavoura”. É importante ressaltar que os efeitos do sistema radicular sobre o solo são cumulativos e com o tempo melhoram todas as caraterísticas do mesmo, desde que as pastagens sejam bem manejadas. Portanto, fica evidente a importância das pastagens perenes e, por outro lado, o inconveniente de lavrar-se uma pastagem perene, existente há anos, para a introdução de outras espécies, pois, a lavração destrói todas as características agregadas ao solo, com o passar do tempo pela, interação solo-raízes. Desta forma, percebe-se a importância que as áreas de 52 pastagens nativas e naturalizadas tem para o ecossistema e como são ricas para desenvolver sistemas produtivos. No entanto, a massa de raízes é dependente das substâncias elaboradas pela parte aérea da planta. Assim, os fatores que afetam o crescimento da parte aérea também afetam o crescimento do sistema radicular. Entre esses fatores estão a radiação solar, o clima, as condições físicas, químicas e biológicas do solo e a maneira com que a pastagem é manejada. Quanto ao manejo, ressalta-se que a cada corte ou pastoreio da parte aérea da pastagem cessa imediatamente o crescimento das raízes. Assim, quanto mais freqüente for a utilização da pastagem menor será a massa de raízes. Na tabela 14, mostra-se os efeitos do manejo sobre a massa radicular de uma pastagem permanente. Tabela 14 – Massa de raízes de uma pastagem permanente em função da utilização Utilização Massa de raízes (kg de MS/ha) 4 cortes por estação 7.710 5 cortes por estação 5.050 Pastoreio a cada 3 semanas 3.900 Pastoreio a cada 2 semanas 3.180 Pastoreio a cada 1 semana Fonte: KLAPP, 1971. 3.100 Observa-se, na tabela 14, que para as condições e local onde o trabalho foi desenvolvido, o maior acúmulo de massa radicular se deu quando fez-se quatro cortes por estação, ou seja quando os cortes foram menos freqüentes. Porém, existe um aparente antagonismo entre o rebrote da parte aérea e o crescimento radicular. De acordo com VOISIN (1981), a curva de rebrote do pasto se manifesta da seguinte forma: “no início, o rebrote se dá as expensas das substâncias de reserva acumuladas no sistema radicular e na base dos caules. Depois, o pasto consegue criar suficiente área foliar que permite grande crescimento vegetativo, é a labareda de crescimento. No final deste período de crescimento rápido, o pasto renova as substâncias de reserva retiradas das raízes e da base dos caules, após diminui as sínteses para consagrar seus esforços na fabricação de flores e sementes”. 53 Do exposto observa-se que até a labareda de crescimento do pasto as substâncias elaboradas são canalizadas para a produção da parte aérea, o crescimento radicular cessa e as raízes desgastam-se em benefício do rebrote. Atingido o pico de crescimento o pasto repõem as reservas e recupera o sistema radicular. Assim, as raízes estarão aptas a suportar novo rebrote. Esse, portanto, é o ponto ótimo para iniciar-se a utilização da pastagem. Destaca-se aqui a importância de se adotar no manejo da pastagem o tempo ótimo de repouso, caso contrário tanto o sistema radicular como o pasto serão debilitados. Nas áreas de campo nativo e/ou naturalizado para aumentar a produção, o período de utilização e melhorar a qualidade da forragem, deve-se introduzir nas pastagens, espécies de inverno, gramíneas: azevém, aveia, centeio... e leguminosas: trevo branco, trevo vermelho, cornichão... As leguminosas são muito importantes para o sistema de produção, porque, além de melhorarem a qualidade da forragem, incorporam nitrogênio ao solo, através da fixação simbiótica. Em relação ao aumento de produção das pastagens nativas e/ou naturalizadas, devido a introdução de espécies temperadas, cita-se o trabalho de MACEDO et alli (1980), realizado na Estação Experimental da Embrapa Pecuária Sul, Bagé-RS. No trabalho foi avaliada a produção de forragem do campo nativo, do azevém (Lolium multiforum) espontâneo e das leguminosas introduzidas, trevo branco (Trifolium repens) e cornichão (Lotus corniculatus), submetidas a diferentes doses e métodos de aplicação de calcário, em cobertura e incorporado. Como o nosso objetivo é analisar a produção de forragem, tomamos como referência os dados do tratamento de 2,25 t/ha de calcário. A tabela 15, mostra os resultados da produção anual de forragem, nos anos de 1970 a 1973. Na tabela 15, observa-se que o incremento de produção de forragem proporcionado pela introdução de trevo branco e cornichão, em média nos quatro anos, foi 1,16 vezes maior do que a produção do campo nativo. Isso mostra a importância dessas espécies no aumento da produção de forragem das pastagens nativas e/ou naturalizadas. Em relação ao campo nativo observa-se que, do ano 1 para o ano 4, a produção de forragem aumentou em torno de 50%, provavelmente devido ao trabalho de melhoramento. Desse trabalho, outros dois resultados podem ser destacados: primeiro, que os métodos de aplicação de calcário, em cobertura e incorporado, na média dos quatro anos, não proporcionaram diferenças significativas na produção de forragem da 54 pastagem de campo nativo, azevém, trevo branco e cornichão; e, segundo, como a adubação de correção e manutenção seguiram os mesmos métodos de aplicação de calcário, também fica demonstrado a viabilidade da prática de fazer-se a adubação de fósforo na superfície do solo. Tabela 15 – Produção total de forragem do campo nativo (CN), do azevém espontâneo (AZ) e das leguminosas trevo branco e cornichão (TB e C), média de três repetições Produção kg de MS / ha / ano Forrageiras Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Média CN 2.081 2.061 3.880 3.044 2.756 AZ 1.150 627 461 1.115 838 TB e C 4.743 5.616 1.371 1.092 3.205 Total 7.974 8.304 Fonte: MACEDO et alli (1980). 5.712 5.251 6.810 Outro aspecto importante em relação à introdução de espécies temperadas nas pastagens nativas e/ou naturalizadas é quanto ao sistema de implantação. Nesse sentido cita-se o trabalho desenvolvido por BRASIL et alli (1972). O trabalho comparou a semeadura em cobertura com a renovadora de pastagens (Grasslands); a semeadura em cobertura, com a semeadora (Brillion); e, a semeadura em cobertura à lanço (manual); com a semeadura feita com a semeadora (Brillion) em solo lavrado e gradeado (semeadura convencional). Os resultados obtidos, média de quatro anos, foram que os métodos de implantação em cobertura proporcionaram maior produção de forragem que a semeadura em solo preparado. Esses trabalhos, entre muitos outros mostram que para corrigir a acidez do solo, fazer adubações com fósforo e introduzir espécies de inverno nas pastagens nativas e/ou naturalizadas, não há necessidade de nenhum tipo de mobilização do solo. Isso demonstra a viabilidade da aplicação de calcário e de adubos fosfatados na superfície do solo, bem como a introdução de espécies de inverno através do método de sobressemeadura. Essas práticas são extremamente importante pela possibilidade de melhoramento das pastagens em áreas de solos ácidos, pobres em fósforo e não mecanizáveis. Nesse sentido, um dos trabalhos de maior expressão foi o melhoramento das pastagens naturalizas nas áreas montanhosas da Nova 55 Zelândia, onde a aplicação de calcário, de adubos fosfatados e a distribuição das sementes foram realizadas de avião (WHITE, 1981). Quanto ao aumento de qualidade, do período de utilização e de produção das pastagens nativas e/ou naturalizadas devido a introdução de espécies temperadas cita-se o trabalho de FONTANELI et ali. (1991), realizado na Estação Experimental Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), localizada no município de Eldorado do Sul – RS. No trabalho foi avaliada a disponibilidade de MS e proteína bruta (PB) da pastagem após a introdução de azevém (Lolium multiforum), aveia-preta (Avena strigosa), trevo vermelho (Trifolium pratense), trevo branco (Trifolium repens) e a pastagem nativa como testemunha. Na tabela 16, mostram-se os resultados obtidos quanto a disponibilidade de forragem nas avaliações realizadas a cada oito semanas, no período de 04/84 a 04/85. Tabela 16 – Disponibilidade total de forragem - kg de MS/ha - em pastagem nativa submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco (TB) e testemunha (T), média de quatro repetições Avaliações Total 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 28/08/84 22/10/84 19/12/84 12/02/85 09/04/85 AZ 754 3.368 610 832 1.493 7.057 AP 1.123 4.965 1.000 1.351 1.602 10.041 TV 399 1.308 1.459 1.357 1.429 5.952 TB 306 1.536 1.445 1.187 1.403 5.877 T 915 1.112 Fonte: FONTANELI et ali. (1991). 1.140 1.611 1.441 6.219 Na tabela 16, observa-se que no período as introduções de azevém e aveiapreta na pastagem nativa proporcionaram um incremento de produção de 838 e 3.822 kg de MS/ha, respectivamente. Já, as introduções de trevo vermelho e trevo branco não proporcionaram incremento de produção. Porém, na segunda e terceira avaliação as pastagens com trevos produziram mais forragem que a testemunha. O que se observa também é que a introdução de espécies temperadas melhorou a distribuição da produção anual de forragem. 56 Em relação à disponibilidade de PB devido a introdução de espécies temperadas na pastagem nativa, os resultados estão na tabela 17. Tabela 17 – Disponibilidade PB kg/ha em pastagem nativa submetida a introdução de azevém (AZ), aveia-preta (AP), trevo vermelho (TV), trevo branco (TB) e testemunha (T), média de quatro repetições. Avaliações Tratamento Total 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 28/08/84 22/10/84 19/12/84 12/02/85 09/04/85 AZ 90,33 193,73 37,93 60,42 120,47 502,88 AP 74,38 299,11 61,78 93,76 134,60 663,63 TV 28,20 159,80 152,44 106,84 102,03 549,31 TB 27,89 181,06 133,79 90,44 137,98 571,16 T 66,79 82,31 Fonte: FONTANELI et ali. (1991). 73,17 103,57 104,21 430,05 Na tabela 17, observa-se que as introduções de azevém, aveia-preta, trevo vermelho e trevo branco na pastagem nativa proporcionaram um incremento de produção de PB de 72,83, 233,58, 119,26 e 141,11 kg/ha, respectivamente. Se compararmos esses incrementos com uma ração comercial com 18% de PB, tem-se que para a produção de 72,83 kg de PB de azevém/ha, um equivalente a 404 kg de ração comercial, para a aveia-preta 1.297 kg, trevo vermelho 662 kg e trevo branco 783 kg. Os dados mostram que os trevos mesmo não apresentando incremento na disponibilidade de MS (tabela 16), em relação a testemunha (campo nativo), são muito importantes porque melhoram em muito a qualidade da pastagem. Ainda, sobre a qualidade das pastagens nativas melhoradas com a introdução de espécies temperadas, cita-se o trabalho realizado por FREITAS, et alli (1994), na elaboração da tabela de composição químico-bromatológica e energética dos alimentos para animais ruminantes em Santa Catarina. A tabela 18, mostra os resultados de alguns dos componentes analisados das amostras recebidas de pastagens de campo nativo e campo nativo melhorado com leguminosas. 57 Tabela 18 – Valores médios em percentagem da PB, da digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica (DIVMO) e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) de pastagens de campo nativo e campo nativo melhorado com leguminosas, nas estações do ano Nº Estação amostra Outono Campo nativo PB DIVMO NDT 203 7,60 37,45 34,53 Inverno 164 7,79 34,88 Primavera 145 9,27 Nº Campo nativo melhorado amostra com leguminosas PB DIVMO NDT 129 11,05 46,13 43,01 31,81 65 12,39 46,00 42,31 46,69 42,85 67 14,36 59,58 54,61 Verão 162 8,11 45,45 Fonte: FREITAS, et alli (1994). 42,20 76 11,50 54,52 50,94 Para determinar a DIVMO do campo nativo, foi utilizado o método de TILLEY & TERRY (1963), com modificação proposta por ALEXANDRE (1967) e descrito por PIRES et al. (1979), apud FREITAS (1994). Porém, de acordo com FREITAS (1991), esse método mostra-se inadequado para determinar a DIVMO das espécies forrageiras tropicais, porque os resultados obtidos apresentam uma fraca correlação entre a digestibilidade “in vivo” e a “in vitro”. Segundo o autor observa-se uma subestimativa do valor real “in vivo” para a digestibilidade das forrageiras tropicais ao utilizar-se o método de TILLEY & TERRY, “in vitro”. Tendo isso em vista, o pesquisador realizou um trabalho comparando vários métodos na determinação da DIVMO de algumas espécies tropicais. Como resultado aponta o método prolongado como o mais indicado na determinação da DIVMO das forrageiras tropicais. Para as forrageiras testadas, o método prolongado apresentou uma DIVMO em torno de 10% maior do que a DIVMO determinada pelo método de TILLEY & TERRY. Assim, na análise dos dados de DIVMO e NDT da tabela 18, deve-se ter presente que eles são aproximadamente 10% maiores. De acordo com VINCENZI (2000), para ter-se uma produção eficiente de leite à base de pasto é necessário que a pastagem tenha pelo menos 12% de PB e 60% de DIVMO. Analisando os dados do campo nativo melhorado observa-se que no outono e no inverno a DIVMO, mesmo acrescentandose mais 10%, fica abaixo do nível limite de 60% para uma produção eficiente de leite à base de pasto, necessitando uma complementação alimentar. Nesse sentido, uma boa alternativa para complementar a dieta dos animais é a utilização de rolão de milho, alimento de baixo custo com alto teor de energia. 58 Na tabela 18, também observa-se que todos os componentes tiveram aumento de qualidade, independente da estação do ano. Desta forma percebe-se a importância da introdução de espécies temperadas tendo em vista o aumento da produção, o período de utilização e a melhoria da qualidade das pastagens nativas e/ou naturalizadas. Porém, a maioria das variedades disponíveis atualmente são exigentes em fertilidade do solo e não toleram a acidez e níveis elevados de alumínio trocável. Nesse sentido três aspectos são fundamentais: primeiro, a necessidade de intensificar-se trabalhos com as espécies nativas, tendo em vista sua adaptação às condições do meio, porque a maioria dos campos nativos e boa parte das pastagens naturalizadas se encontram em solos ácidos e pobres em fósforo; segundo, enquanto não se dispõem dessas espécies, há necessidade de utilização de adubos, principalmente fosfatados e calcário em doses racionais na introdução e manutenção das leguminosas nessas áreas, visando otimizar e não maximizar o sistema produtivo; e, terceiro, manejar a pastagem de forma que sejam atendidas as condições do solo, do pasto, do animal e de administração da propriedade. Quanto à quantidade de nitrogênio adicionado ao solo pelas leguminosas, através da fixação simbiótica, cita-se na tabela 19 algumas espécies e as variações das quantidades fixadas, segundo MONEGAT (1991) e Manual de interpretação... (1998), baseados em vários autores. Tabela 19 – Quantidade de nitrogênio fixado por diferentes espécies de leguminosas Espécies Variação nitrogênio fixado (kg/ha/ano) Ervilhaca comum (Vicia sativa) 54 - 190 Ervilhaca peluda (Vicia vilosa) 50 - 193 Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 220 Trevo branco (Trifolium repens) 117 - 268 Trevo encarnado (Trifolium incarnatum) 80 - 220 Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 220 Desmódio (Desmodium sp) 70 Fonte: MONEGAT (1991) & Manual de interpretação de análise do solo do Paraná (1998). A quantidade de nitrogênio fixada pela associação rizóbio/leguminosas varia com a bactéria, a planta, as condições climáticas, a ação humana, etc., e no caso 59 das forrageiras, depende também da duração do ciclo da planta e do manejo da pastagem. Portanto, para ter-se bons resultados quanto à fixação de nitrogênio pelas leguminosas é fundamental fazer-se a inoculação com cepas específicas e peletização das sementes, usando-se para isso métodos adequados. 1.8.1.1 ÁREA DE PASTAGEM E ESCOLHA DA FORRAGEIRA Nas pequenas unidades de produção, quando necessita-se ampliar as áreas de pastagens, para atender a necessidade de produção de forragem para os animais, deve-se utilizar as áreas não exploradas com as culturas anuais (sobra de lavouras e/ou capoeiras), observando-se o uso permitido pela legislação e aspectos ambientais. Em relação às espécies deve-se utilizar as forrageiras perenes de verão, porque elas apresentam menor custo de produção (se bem manejadas, são muito persistentes), de modo geral são menos exigentes em fertilidade do solo e muito adaptadas ao pastoreio, devido aos hábitos de crescimento e a forma de propagação vegetativa. Em relação ao custo de produção das forrageiras, a tabela 20, mostra os custos relativos de algumas pastagens obtidos no sistema de produção de leite da EPAGRI / Estação Experimental de Lages, no período de 84/85 a 88/89. Tabela 20 – Custos relativos de algumas pastagens usadas no sistema de produção de leite da EPAGRI / Lages Pastagem Área (ha) % do custo total % custo / ha Perene inverno (1) 10,20 3,00 0,29 Anual de inverno (1) 8,04 5,84 0,72 Quicuio (Pennisetum clandestinum) (1) 7,18 1,79 0,24 Hemartria (Hemarthria altissima) (2) 5,60 0,56 0,10 Milheto (2) 4,20 2,40 0,57 Sorgo (2) 3,00 1,54 0,51 Fonte: VINCENZI, 2000. (1) Dados médios de 5 anos, (2) dados de 1 ano. 60 Na tabela 20, observa-se que as pastagens perenes de inverno tiveram custo de produção 2,48 vezes menor do que as pastagens anuais de inverno. A pastagem perene de verão (quicuio), também teve custo de produção 2,25 vezes menor do que a média do custo das pastagens anuais de verão de milheto e sorgo. Quanto ao resultado da hemartria não se fez referência porque é uma espécie perene e os dados são de um ano. Pelos dados constata-se que as pastagens perenes independente da estação do ano possuem menor custo de produção. Em nosso trabalho, fez-se o custo de produção de cada forrageira utilizada nas propriedades estudadas, baseado nas informações dos produtores, conforme memória de cálculo, anexo 5. Os resultados, desprezando-se os valores extremos foram: as pastagens perenes de verão tiveram um custo médio de R$ 170,82 / ha; as pastagens anuais de verão de R$ 221,63 / ha; e as pastagens anuais de inverno de R$ 122,98 / ha. Entre as pastagens perenes e anuais de verão, apesar da diferença ser menor e os dados serem obtidos da realidade de cada propriedade, os resultados mostraram a mesma tendência do trabalho feito em Lages. Além dessa vantagem, as pastagens perenes apresentam maior período de pastoreio, suportam mais as adversidades climáticas, expõem menos o solo ao processo erosivo e principalmente as de verão produzem muito mais forragem do que as anuais. Por isso, quando necessita-se ampliar as áreas de pastagens, deve-se utilizar as forrageiras perenes de verão. Quanto as espécies, em geral, as melhores são as que já estão sendo utilizadas na região, por exemplo estrela roxa, quicuio, hemartria e capim elefante, porque essas espécies já estão adaptadas às condições edafoclimáticas. A seguir descrevem-se algumas características das espécies: capim elefante (Pennisetum purpureum), grama missioneira gigante (híbrido), hemartria (Hemarthria altissima) e estrela roxa (Cynodon nlemfluensis), destas as três primeiras são utilizadas no sistema de produção desenvolvido na propriedade da família de Olintho Ficcagna, localizada no município de Serra Alta, em Santa Catarina. a) Capim elefante: muito importante principalmente para as regiões com inverno ameno (clima Cfa ). É a pastagem mais produtiva na época quente do ano. Com manejo adequado é persistente e produz forragem de boa qualidade em relação à época. Exigente em fertilidade do solo. Não tolera solos úmidos. Deve ser implantada em locais planos pois onde o declive for acentuado poderá não fazer 61 cobertura adequada do solo. Existem grande número de variedades. As variedades utilizadas há anos, nas regiões são as mais indicadas por serem mais adaptadas. É muito exigente em manejo e só persiste em pastoreio direto quando esse for bem conduzido. Nesse sentido destaca-se o método de Pastoreio Racional Voisin (PRV). Em relação à produção e à qualidade do capim elefante cita-se o trabalho realizado pela COTRIJUI, apud (VINCENZI, 2000), de 08/85 a 03/86, com 19 variedades. A produção de forragem das variedades, no período, em média foi de 18.076 kg de MS/ha, com variação de 6.123 a 36.450 kg de MS/ha e a PB, com 46 dias de crescimento, em média foi de 9,17%, com variação de 6,68 a 12,43%. Quanto à DIVMO, cita-se os resultados obtidos por FREITAS, et alli (1994), na elaboração da tabela de composição químico-bromatológica e energética dos alimentos para animais ruminantes em Santa Catarina. Nesse trabalho a DIVMO média do capim elefante nas estações primavera, verão e outono foi de 57,73%, variando de 55,21 a 60,49%. b) Grama missioneira gigante: segundo VINCENZI (2000), é um híbrido natural entre o capim Venezuela (Axonopus scoparius) e grama missioneira (Axonopus jesuiticus), foi descoberta por um agricultor do município de Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí por volta de 1985/86. Daí passou a ser estudada pelo DZDR-UFSC e pela Estação Experimental de Itajaí – EPAGRI. Tem mostrado ampla adaptação no Estado de Santa Catarina, desde os solos arenosos e pobres das várzeas litorâneas, aos solos férteis de origem basáltica do Oeste. Muito tolerante ao frio, tendo mostrado bom desenvolvimento mesmo em Lages. Tem ótima qualidade para uma espécie estival, particularmente no que se refere à digestibilidade, mantendo-a mesmo no inverno. Outra característica importante é o bom crescimento outonal. O estabelecimento é por mudas, é lento, mas após estabelecida a pastagem é muito persistente e agressiva, reduzindo acentuadamente o surgimento de ervas denominadas “invasoras”. Em relação à produção e à qualidade da grama missioneira gigante cita-se o trabalho de VIEIRA, et alli (1999), desenvolvido na EPAGRI/Estação Experimental de Urussanga, nos anos de 1996 e 97. A produção média de forragem foi de 15.320 kg de MS/ha, a de PB de 12,26% e a DIVMO de 55,54%. No trabalho de ROSA (s.d.), desenvolvido na EPAGRI de Lages, no período de 1997/98 e 98/99. A produção média de forragem da grama missioneira gigante foi de 10.839 kg de 62 MS/ha, de PB de 12,9% e a DIVMO de 72,6%, determinada pelo método prolongado. c) Hemartria: Existem muitas variedades de Hemarthria altíssima, porém elas podem ser divididas em dois grupos fundamentais: de folha estreita e de folha larga. A variedade Flórida, do grupo de folha larga, tem sido mais difundida entre os agricultores, por ser muito rústica e agressiva e pouco exigente em fertilidade do solo. As variedades de folha estreita são mais exigentes em fertilidade, mais lentas no estabelecimento, porém são mais resistentes ao frio e apresentam melhor qualidade. As hemartrias são muito tolerantes a solos úmidos e apresentam bom crescimento primaveril. Segundo SALERNO, et alli (1990), a hemartria não produz sementes nas condições de Santa Catarina, apesar de formar intenso número de inflorescências. Assim, o estabelecimento é feito através de mudas. Em relação à produção e à qualidade da hemartria, variedade Flórida, cita-se o trabalho de POSTIGLIONI (1995), que é uma síntese das informações obtidas através de pesquisas realizadas na região dos Campos Gerais do Paraná. Nesse trabalho a produção média de forragem da variedade flórida foi de 9.300 kg de MS/ha, de PB de 7,55% e a DIVMO de 72,62%. No trabalho de ROSA (s.d.), a produção média de forragem da variedade EMPASC 302 foi de 7.425 kg de MS/ha, de PB de 12 % e a DIVMO de 66% %. d) Estrela roxa (Cynodon nlemfluensis): é uma espécie muito comum no Oeste Catarinense, onde é conhecida como “espanta vizinho” ou “encrenca de vizinho”, em função de sua agressividade, seus estolões chegam a atingir 8 metros de comprimento. É mais competitiva e mais palatável que a estrela africana (Cynodon plectostachyus). É exigente em fertilidade em relação à outras espécies perenes estivais. Tem tolerância média ao frio. Muito tolerante ao pastoreio intensivo e multiplica-se vegetativamente por estolões (VINCENZI, 2000). Diferencia-se das demais “estrelas” por apresentar os talos arroxeados e ser estolonífero e não rizomatoso (SALERNO, et alli, 1990). Em relação à produção da estrela roxa cita-se o trabalho de ROCHA, et alli (1994), desenvolvido na Granja do Colégio Agrícola 25 de Julho de São Carlos/SC, nos anos de 1991/92 e 1992/93. No período a produção média de forragem foi de 15.100 kg de MS/ha. 63 Na proposta de produção de leite à base de pasto do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC, uma das espécies recomendada é o capim elefante. De acordo com VINCENZI (2000), da área total de pastagens anuais e perenes, no mínimo 10 e no máximo 20% deve ser de capim elefante, tendo em vista sua capacidade de produção de biomassa por área e qualidade. O limite de 20% da área total das pastagens, objetiva equacionar a questão da oferta x qualidade no período de maior produção da forrageira. Sabemos que existe uma grande quantidade de espécies forrageiras perenes de verão sendo utilizadas pelos produtores na região onde desenvolvemos o trabalho. Porém, nosso objetivo aqui não é indicar as espécies mais produtivas, e sim mostrar a importância dessas espécies dentro de um plano forrageiro, que visa a produção de leite à base de pasto. Nos trabalhos assessorados pelo DZDR na região Oeste de Santa Catarina têm sido observados resultados muito favoráveis com capim elefante, hemartria e missioneira gigante. Não obstante, é importante ter presente que as forrageiras mais produtiva extraem mais nutrientes do solo e para ter-se sustentabilidade é necessário adequar o nível de produção com a capacidade produtiva dos ecossistemas. Isso, para a agricultura de pequeno porte, nos remete a duas questões. Primeira, a produção é realizada em pequenas áreas e isso limita as condições dos agricultores desenvolverem sistemas no sentido da sustentabilidade; e, segunda, da necessidade de utilização de sistemas onde as atividades realizadas apresentam características de complementariedade, por exemplo, os dejetos produzidos pelas aves e suínos servem como fertilizante nas áreas de pastagens e/ou lavouras, tendo por objetivo otimizar os sistemas produtivos e não maximizar a produção. Porém, deve-se tomar cuidado com dejetos contaminados na utilização como fertilizantes. Outras áreas importantes para produção de forragem e muito utilizadas pelos produtores, são as áreas de lavouras. Nessas áreas as pastagens anuais de inverno são implantadas em sucessão com as culturas de verão. Todavia, de modo geral essa prática tem sido usada sem um planejamento, que contemple aspectos do solo, das culturas e oferta de forragem no outono, período esse conhecido como vazio outonal, porque as pastagens da estação quente estão no final do ciclo e as pastagem anuais de inverno, quando não implantadas cedo (em março), ainda não estão em condições de serem pastoreadas. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de adotar-se um sistema de cultivo que concilie a época adequada 64 para implantação das pastagens anuais de inverno, tendo em vista seu estabelecimento e produção de forragem no período de maior escassez. Outro aspecto importante em termos de solo e desenvolvimento das culturas é adoção de um sistema de rotação de culturas que pelo menos intercale gramíneas como leguminosas, a cada dois ciclo produtivos. Por exemplo, em 50% da área de lavoura cultiva-se (milho x aveia e azevém x soja ou feijão) e nos outro 50% (soja x ervilhaca x milho). Desse exemplo, destacam-se dois aspectos muito importantes. Primeiro, a cultura do milho e a do feijão são as mais indicadas para anteceder a pastagem, porque permitem que a pastagem anual de inverno seja implantada na época adequada; e, segundo, o cultivo de gramíneas (milho depois aveia e azevém) e leguminosas (soja depois ervilhaca) são interrompidos a cada dois ciclos produtivos, trazendo grandes benefícios tanto para o solo como para as culturas. Quanto aos benefícios da integração lavoura-pecuária cita-se o trabalho realizado pela FUNDACEP, em Cruz Alta – RS, apud RUEDELL (1995). O trabalho avaliou o rendimento da cultura do milho, após a pastagem anual de inverno de aveia + ervilhaca, e da cultura da soja após as pastagens anuais de inverno de aveia e aveia + azevém, em áreas onde as pastagens foram pastoreadas pelos animais e não pastoreadas, nos anos de 1993 e 1994. A tabela 21, mostra o rendimento obtido nas culturas de milho e soja nas safras 93/94 e 94/95. Tabela 21 – Rendimento de milho e soja kg / ha, após área pastoreada(PAST.) e não pastoreada (NÃO PAST.) de aveia + ervilhaca (AV + ER), aveia (AV) e aveia + azevém (AV + AZ) Culturas Safra 93/94 Safra 94/95 PAST. NÃO PAST. PAST. NÃO PAST. Milho x AV + ER 6.903 6.314 8.254 7.376 Soja x AV 2.699 2.180 3.541 3.326 Soja x AV + AZ 2.945 Fonte: RUEDELL, 1995. 2.373 3.412 3.138 Na tabela 21, observa-se que na área de aveia + ervilhaca pastoreada, média das duas safras, a cultura do milho produziu 733 kg / ha a mais do que na área não pastoreada. A cultura de soja nas áreas de aveia e de aveia + azevém pastoreadas, média das duas safras, produziu 367 kg / ha e 423 kg / ha, respectivamente, a mais 65 do que nas áreas não pastoreada. Além desse aspecto o trabalho também avaliou o desempenho dos animais, obtendo os seguintes resultados: no ano de 1993, as pastagens foram utilizadas por um período de 74 dias, com ganho de peso / ha de 181 kg e ganho de peso / animal de 1,05 kg / dia. Em 1994, as pastagens foram utilizadas por um período de 62 dias, com ganho de peso / ha de 147 kg e ganho de peso / animal de 1,01 kg / dia. Esse trabalho mostra que houve uma interação positiva entre o rendimento das lavouras de verão e o uso das pastagens de inverno pelos animais. Ainda, em relação à integração lavoura-pecuária cita-se o trabalho de FONTANELI et alli. (2000), realizado no CEPAGRO-Centro de Extensão e Pesquisa Agronômica, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), em Passo Fundo, no período de abril de 1990 a maio de 1996. No trabalho foram avaliados sistemas de produção de grãos com pastagens anuais de inverno, sob plantio direto. Os tratamentos consistiram em quatro sistemas, sendo três mistos (produção de grãos envolvendo pastagens anuais de inverno para engorda de novilhos): sistema I (trigo/soja, pastagem de aveia preta/soja e pastagem de aveia preta/soja), sistema II (trigo/soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho), sistema III (trigo/soja, pastagem de avia preta + ervilhaca/soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho) e sistema IV (trigo/soja, aveia branca/soja e aveia branca/soja). Algumas das conclusões do trabalho foram: os sistemas com pastagens (I, II e III) e sistema IV, somente para produção de grãos, não mostraram diferenças entre as médias para densidade de solo, tamanho de partícula de classe de agregado > 4,76 e diâmetro médio de partícula. Os sistemas II e III são os mais eficientes energeticamente. O sistema II mostra-se a melhor alternativa de produção, visto ter rentabilidade econômica semelhante à dos demais sistemas estudados e com menor risco. A integração lavoura-pecuária sob sistema plantio direto é viável tanto para as culturas de inverno e de verão como para engorda de bovinos em pastagem de inverno. Um dos resultados a se destacar é que o pastoreio das pastagens de inverno implantadas nas áreas de lavoura não provocou compactação do solo. Isso mostra que não se justificam as preocupações dos agricultores que deixaram de utilizar as culturas de cobertura do solo de inverno como pastagens com receio de que o pisoteio dos bovinos viessem provocar uma compactação do solo que prejudicassem o desenvolvimento de outras culturas. 66 1.8.1.2 ANIMAIS PARA PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO Para produzir-se leite à base de pasto é necessário ter-se animais adaptados a estas condições e/ou trabalhar com cruzas de raças, no sentido de obter-se animais que tenham rusticidade, grande capacidade de ingerir pasto e que sejam produtivos. Desta forma, o melhoramento do plantel deve começar pela seleção dos melhores animais pastadores existentes na propriedade. Na aquisição de animais deve-se dar preferência aos animais da região, com bom potencial produtivo e oriundos de sistemas de produção à base de pasto. Isso por que, segundo VINCENZI (2000), “a adaptação não pode ser comprada e como é obra da natureza leva alguns anos para ser concluída”. Os riscos decorrentes da compra de animais de outras regiões e principalmente de outros países estão relacionados, principalmente com as doenças e o tempo de adaptação. Em relação aos cruzamentos a sugestão do DZDR é a utilização das raças Holandês, Jersey e Gir leiteiro. Segundo RIBEIRO (2001), os animais que melhor apresentam as características desejáveis para a produção de leite à base de pasto, são principalmente aqueles que resultam de cruzamento de raças distintas geneticamente, pois aumentam a variabilidade genética e assim a possibilidade de seleção. Outro aspecto a se destacar é a contribuição que as raças zebuínas dão para a produção de leite à base de pasto. Os animais de sangue zebuíno são mais rústicos, aproveitam melhor os pastos fibrosos e apresentam maior nível de sanidade. Quanto aos touros também deve-se dar preferência aos animais oriundos de criações da região. Quando a reprodução é feita através da inseminação artificial deve-se utilizar semens dos programas regionais e/ou estaduais, desenvolvidos pelas Secretarias de Agricultura dos Estados. Pelas informações que temos, esses programas são realizados nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nesses programas são utilizados os melhores animais dos rebanhos, selecionados há anos nas propriedades de uma ou de várias regiões do Estado. Portanto, sob o ponto de vista de adaptação e produção de leite à base de pasto, o sêmen desses animais são os mais indicados para serem utilizados nas inseminações do plantel. Porém, quando não se dispõem de semens desses programas, deve-se utilizar semens originários de outros Estados e/ou Países, onde os sistemas de produção predominantes sejam à base de pasto. Por exemplo, dar preferência aos semens 67 produzidos no estado de Minas Gerais para a raça Gir leiteiro, no Uruguai, na Argentina e na Nova Zelândia para as raças Holandês e Jersey ao invés de semens Canadense ou Americano, que utilizam predominantemente sistemas de produção confinados. Nesses países, no último século, de modo geral, a seleção e o melhoramento das raças leiteiras, principalmente a Holandês e a Jersey pautaramse para obtenção de animais altamente especializados e de grandes produtividades, tendo por base o material genético de animais criados em sistema de produção confinado. Como resultado obtiveram animais extremamente produtivos, porém dependentes de grandes quantidades de alimentos concentrados. Como o objetivo é produzir leite à base de pasto esses semens não são os mais recomendados para serem utilizados nas inseminações dos animais do plantel. 1.8.1.3 MANEJO DAS PASTAGENS Para produzir-se forragem em quantidade e com qualidade é necessário também utilizar-se de um método de pastoreio que atenda às condições do solo, da pastagem, do animal e do ambiente e este método é o Pastoreio Racional Voisin (PRV). Este sistema de manejo foi desenvolvido na França por André Voisin, e aperfeiçoado em Cuba, Nova Zelândia, Brasil e outros poucos países. O PRV é um método de manejo das pastagens que se baseia na integração solo-pasto-animal com a participação do homem, cujo fundamento é atender às necessidades fisiológicas da planta, para que ela possa produzir os máximos rendimentos de matéria verde, no momento de sua melhor qualidade biológica. Para alcançar esses resultados deve-se manejar o pasto observando-se as quatro “leis universais do pastoreio racional” preconizadas por VOISIN (1981), como segue: Primeira lei: Para que o pasto, cortado pelo dente do animal, forneça a máxima produtividade, é necessário que entre dois cortes sucessivos se passe um tempo suficiente que lhe permita: a) acumular em suas raízes as reservas necessárias para um início vigoroso de rebrote, b) realizar sua “labareda de crescimento”; Segunda lei: O tempo global de ocupação de uma parcela deve ser suficientemente curto, para que uma planta cortada no primeiro dia (ou no início) do tempo de 68 ocupação não seja cortada novamente pelo dente dos animais, antes que estes deixem a parcela; Terceira lei: É preciso auxiliar os animais que possuam exigências alimentares mais elevadas a colher mais quantidade de pasto, e da melhor qualidade possível; Quarta lei: Para que a vaca produza rendimentos regulares, ela não deve permanecer mais que 3 dias sobre uma mesma parcela. Os rendimentos serão máximos, se a vaca não permanecer mais que 1 dia na mesma parcela. Em relação a primeira lei, destacam-se três aspectos que são muito importantes: primeiro, da necessidade de adotar-se o tempo ótimo de repouso no manejo do pasto, tendo em vista sua persistência e produção; segundo, que tempos curtos de repouso provocam a “aceleração fora de tempo” (VOISIN, 1981), e terá como consequência a degradação da pastagem; e, terceiro, que o tempo ótimo de repouso entre dois pastoreios varia com a estação, as condições climáticas, as características do solo, as espécies forrageiras e suas interações. Portanto, na condução do PRV não dá para utilizar-se tempos fixos de repouso. A segunda lei refere-se ao tempo de ocupação. Ela chama a atenção para evitar-se tempos de ocupação longos, pois os mesmos permitem que os animais comam os rebrotes das plantas consumidas no primeiro dia de ocupação, debilitando-as para um novo rebrote. Além disso, quanto menor o tempo de ocupação maior será o consumo diário de pasto pelos animais. A terceira e a quarta leis, referem-se aos animais e às condições para atender suas exigências nutricionais e obter-se rendimentos regulares. Para isso, deve-se dividir os animais em lotes, com menor tempo de ocupação possível do piquete. Segundo VINCENZI (2000), para gado de leite, o tempo de ocupação do piquete deve ser igual ao intervalo entre duas ordenhas, o que dá aproximadamente 12 horas. Quanto aos lotes, os animais mais produtivos e os que estão no primeiro terço de lactação, devem compor o lote de “desnate”, deixando para o outro lote fazer o repasse do pasto. Segundo MACHADO (1997), a exploração leiteira à base de pasto é, hoje, reconhecida internacionalmente como a forma mais econômica, mais saudável, menos impactante ambientalmente, que melhor contempla o bem estar animal e que traz maior grau de satisfação ao produtor. Apesar destas vantagens, poucos profissionais e produtores percebem o potencial das pastagens manejadas intensiva e racionalmente como forma de viabilizar a atividade leiteira, tendo presente as questões ambientais, a qualidade dos alimentos produzidos, os custos de produção, 69 entre outros. Para ilustrar as vantagens e desvantagens deste sistema, cita-se o estudo de WILLIAM C. LIEHARDT (1993), apud SCHMITT et al (1999), envolvendo 32 produtores que mudaram do sistema de confinamento convencional para o pastoreio racional, em cinco estados norte-americanos. Os produtores caracterizaram as vantagens do pastoreio racional como sendo: (1) custos com alimentação decresceram 36%; (2) ganhos de US$ 18 / cabeça por mês de estação de pastoreio; (3) ganhos de até US$ 270 / cabeça / ano; (4) custos com energia caíram 75%; (5) redução da mão-de-obra com alimentação e distribuição de esterco; (6) menos erosão e contaminação das águas com fertilizantes e agrotóxicos; (7) aumento nas lactações em 15%; (8) menor custo com veterinário; (9) menor incidência de mastite e problemas de casco; (10) menor taxa de reposição; (11) leite de melhor qualidade, com menos células somáticas; e, (12) menor utilização de medicamentos, e consequentemente animais e (produtos) mais saudáveis. E as principais desvantagens comentadas foram: (1) necessidade de mudar os animais de potreiros freqüentemente; (2) necessidade de mudar cercas temporárias; e (3) custos com água e cercas. Além desses aspectos o PRV contribui para a melhoria da fertilidade do solo. Nesse sentido cita-se os trabalhos desenvolvidos nas fazendas Alegria e Santa Maria. No projeto da fazenda Alegria, em Taquara/RS, de 1967 a 1993, o teor de matéria orgânica (M.O.) do solo passou de 0,2 para 1,6%, solo franco-arenoso; o fósforo disponível de 0,96 para 16 ppm; e o potássio de 2,15 para 71 ppm. No projeto da fazenda Santa Maria, em Santa Maria/RS, com 5 anos de PRV, o teor de M.O. do solo passou de 6,08 para 6,13%; o fósforo disponível de 17 para 38 ppm; o potássio de 0,42 para 1,15%; e o nitrogênio total de 4,6 para 6,3% (MACHADO, 2000). Os dados mostram que na fazenda Alegria houve incrementos expressivos no teor de M.O., fósforo e potássio, e no projeto da fazenda Santa Maria destacam-se os aumentos nos níveis de fósforo, potássio e nitrogênio. Ainda, sobre as vantagens proporcionadas pelo manejo adequado das pastagens, cita-se o trabalho de TONY (1978), apud VINCENZI (1987), realizado na Austrália. A tabela 22, mostra a evolução dos níveis de fertilidade e a densidade aparente do solo, no período de 15 anos. Nesse trabalho destaca-se a expressiva redução da densidade aparente do solo e como consequência o aumento da porosidade. Em relação a evolução dos 70 níveis de fertilidade do solo houve a mesma tendência apresentada nos projetos das fazendas Alegria e Santa Maria. Tabela 22 – Modificações nas características físicas e químicas do solo sob pastoreio durante 15 anos. Propriedades solo No início Depois de 11 anos Depois de 15 anos 0 – 10 cm de pastoreio de pastoreio PH 5,2 - 5,0 Carbono orgânico (%) 0,84 2,6 1,56 Nitrogênio (%) 0,04 0,15 0,10 Enxofre (ppm) 70 207 205 Fósforo total (ppm) 18 150 160 Fósforo disponível (ppm) 4 35 40 Potássio total (ppm) 31 90 202 Cálcio total (ppm) 30 550 320 Magnésio total (ppm) 29 29 - Umidade (%) 16 - 41 - 1,0 Densidade aparente 1,55 (Bulk) Fonte: TONY (1978), apud VINCENZI (1987). 1.8.2 BENEFICIAMENTO/TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE LEITE E DERIVADOS Diante da crise do modelo de desenvolvimento agrícola adotado no País e a busca da valorização da agricultura familiar de pequeno porte, cresceu o debate sobre a visão do meio rural como espaço além daquele destinado exclusivamente à produção agrícola. Nesse contexto, o beneficiamento/transformação e comercialização de produtos e subprodutos da agricultura familiar de pequeno porte é colocado como uma das mais importantes alternativas de promoção de desenvolvimento rural sustentável. Muito utilizada para conservação dos produtos, auto-aprovisionamento das famílias e comercialização dos excedentes, a transformação artesanal de alimentos passa a ser encarada como uma atividade 71 determinante para a própria viabilização de inúmeras pequenas unidades de produção. No entanto, a legislação que regula a produção e comercialização de produtos de origem animal transformados, apesar dos avanços obtidos, principalmente na última década, em relação à legislação dos anos cinqüenta, ainda pelo nível e tipo de exigências, restringe os mercados para as pequenas agroindústrias que se vêm limitadas a diminutos mercados locais. Para ilustrar essa questão cita-se o trabalho realizado por OLIVEIRA et alli (2000), sobre a avaliação do potencial da indústria rural de pequeno porte em Santa Catarina. Dos 1.116 estabelecimentos pesquisados, 454 (41%) das respostas apontaram as exigências legais, principalmente as relacionadas as plantas industriais e abrangência dos mercados, como um problema importante no quesito “dificuldades”. Isso mostra que ainda é preciso avançar muito para ter-se uma legislação mais adequada, tendo em vista o fortalecimento e desenvolvimento das agroindústrias de pequeno porte. Quanto às características gerais das unidades, a pesquisa constatou que os empreendimentos são diversificados, com predominância das iniciativas de tipo individual, não formalizadas. Porém, as experiências associativas estudadas, embora apresentando muitos dos problemas das individuais, mostraram-se mais funcionais. Segundo os autores, as iniciativas coletivas, formadas na sua maioria por grupos familiares, permitem uma distribuição do trabalho nas diferente etapas do processo, aumentam a capacidade de auto-suficiência em matéria-prima, o que lhes confere maior liberdade e garantia no que se refere à qualidade e à constância do fornecimento. Tendo isso presente, entre outros fatores, para realizar-se o beneficiamento, a transformação e a comercialização do leite e seus derivados, é importante que os agricultores se organizem em associações. Estas formas de organização devem ser construídas e implementadas gradativamente e apoiadas técnica e financeiramente, constituindo-se, assim, em instrumentos viabilizadores das pequenas unidades de produção. A pesquisa feita por OLIVEIRA, et alii (2000), indica que há um enorme potencial de desenvolvimento da pequena agroindústria associada à agricultura familiar e o “mercado” não se constitui na principal barreira à sua viabilização, como é geralmente mencionado pelos críticos deste tipo de empreendimento. A atividade possibilita agregar valor aos produtos agropecuários, aumentando a renda das 72 famílias, criando postos de trabalho no meio rural, contribuindo para dinamizar o mercado local e a permanência das pessoas nesse espaço, com qualidade de vida. Desta forma, uma das opções para os produtores de leite serem melhor remunerados é a formação de grupos e a venda direta ao consumidor. Para isso, no entanto, é necessário garantir a qualidade do produto. Nesse sentido, ressalta-se o estudo desenvolvido por AMABILE et al (2000), onde comparam a qualidade higiênico-sanitária do leite embalado em sacos plásticos e pasteurizado pelo processo lento, realizado num condomínio leiteiro rural de Santa Catarina (leite produzido à base de pasto), com o tipo C, obtido por pasteurização rápida numa usina de beneficiamento de uma grande indústria. Os resultados demonstraram que as amostras de leite cru, coletadas no condomínio, eram de melhor qualidade microbiológica e que a qualidade higiênico-sanitária do leite, obtida pelo processo lento, é semelhante à obtida pelo processo rápido da indústria. Este trabalho demonstra que é possível produzir e processar leite com qualidade, utilizando-se pequenos equipamentos em agroindústrias de pequeno porte, onde o trabalho é feito pelos próprios agricultores. 1.9 ÁREA DE ESTUDO 1.9.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA NAS MICRORREGIÕES DE ERECHIM NO RS E DE CHAPECÓ EM SC A microrregião de Erechim, está inserida na região do Alto Uruguai gaúcho, que situa-se no norte do Estado do Rio Grande do Sul, fazendo divisa com o Estado de Santa Catarina através do Rio Uruguai. A oeste, o limite natural é constituído pelo Rio Passo Fundo, e a leste estende-se, aproximadamente, até o Rio Inhandava (Rio dos Ìndios). No sul, o limite é mais impreciso, embora possa ser identificado como sendo a passagem da área de relevo mais acidentado para formações onduladas, ou ainda: o limiar entre a já destruída floresta subtropical com araucária e as áreas de campo (PIRAN, 1995). Segundo o mesmo autor essa região foi uma das últimas a serem ocupadas no Estado do Rio Grande do Sul. 73 Em 1910, iniciou-se o povoamento, com a vinda dos colonizadores descendentes de imigrantes das colônias velhas do Estado. Índios e caboclos foram desterritorializados e, em seu lugar, instalaram-se os colonizadores. Na região do Oeste de Santa Catariana, onde está inserida a microrregião de Chapecó, a colonização teve início em 1908, juntamente com a construção do trecho catarinense da ferrovia São Paulo-Rio Grande (CAMPOS, 1987). Para construir a estrada, a empresa americana “Brazil Railway Co.” recebeu como pagamento a concessão de 15 km de terras de cada lado do leito da ferrovia, onde poderia explorar e colonizar (SANTOS, 1977). A empresa construtora da estrada, logo começou expulsar todos os moradores que estavam em sua faixa de domínio. A expulsão dos moradores de suas terras sem qualquer indenização e a presença de grande quantidade de operários da estrada de ferro, que em diversas ocasiões foram despedidos em massa, reuniu elementos que resultaram na guerra do Contestado, com início em 1912 e término em 1915. Para dar andamento à colonização, as companhias colonizadoras obtiveram dos governos enormes concessões de terras. No Oeste Catarinense a década de 20 marcou o início da migração de colonos oriundos quase que exclusivamente do Rio Grande do Sul. As terras, de modo geral eram vendidas para os agricultores com reserva de madeira. Assim, as companhias garantiram a exploração da principal riqueza natural dessas regiões. A exploração desenfreada e irracional feita pelas companhias colonizadoras e madeireiras não cessou até a extração das últimas árvores de valor comercial. A madeira, por um longo período, se constituiu no principal produto comercializado. Nesse período, a grande maioria dos agricultores que se instalaram nessas regiões, para obter algum recurso financeiro, prestavam serviços às empresas madeireiras. Os colonos que migraram para estas regiões já haviam tido contato com atividades comercias nas antigas colônias. Por isso, geravam excedentes que poderiam ser comercializados se houvessem condições. Os processos produtivos eram organizados em torno das unidades familiares, com produção diversificada e destinava-se, inicialmente, à subsistência das famílias, não por serem essas suas características, mas por estarem distantes do mercado. Com o tempo, o mercado regional evolui e também as oportunidades de comercialização da produção excedente. 74 Segundo WERLANG (1992), o tabaco foi o primeiro produto que conseguiu um mercado estável. Paralelamente ao comércio de tabaco, foi surgindo mercado para a banha e, posteriormente, para o suíno. Pode-se dizer que em todas as propriedades havia a presença de animais domésticos, principalmente a vaca de leite, os bois de trabalho, os suínos para a produção de carne e banha e as galinhas para a produção de carne e ovos. Para a maioria dos agricultores dessas regiões, a suinocultura firmou-se como a principal atividade mercantil, dentro da lógica da produção diversificada. A avicultura, mesmo tendo menor abrangência, também tornou-se uma atividade muito importante para os agricultores de pequeno porte. Os agricultores praticavam um sistema de policultura baseada no cultivo de uma variedade relativamente grande de produtos vegetais e na criação de suínos, bovinos e aves com uso exclusivo de mão-de-obra familiar. Essa agricultura gerava, para a maioria dos agricultores, condições financeiras para sustentar suas famílias e realizar alguns investimentos. No entanto, a redução do potencial produtivo das terras e as profundas transformações ocorridas na base técnica do processo produtivo vegetal e suinícola e na relação entre as agroindústrias e as pequenas unidades de produção, vem provocando a descapitalização dos pequenos agricultores, a exclusão e o êxodo rural. Na agricultura a “modernização conservadora”, tendo por base o pacote da revolução verde e na suinocultura a “modernização seletiva6”, trouxeram sérias dificuldades para os pequenos agricultores. Nesses processos o Estado desempenhou um papel fundamental, principalmente através do crédito a juros subsidiados. Na área econômica, destaca-se a perda de competitividade na produção de grãos para as grandes áreas mecanizadas e a transferência de praticamente toda a renda agrícola, para os setores a montante e a jusante da propriedade. Na suinocultura, como consequência das transformações, houve aumento na escala de produção, especialização da atividade e grande número de produtores excluídos. Para exemplificar, no Rio Grande do Sul, de acordo com o Censo Agropecuário, em 1970, 315.236 produtores informaram que comercializavam suíno, em 1996, este número baixou para 80.291 produtores. Em Santa Catarina, baseado 6 Diz-se que a modernização foi seletiva porque, devido às diferenças de ordem técnica e econômica existentes entre as diversas propriedades, a modernização não atingiu igualmente a todos os agricultores (Mello, 1998). 75 na mesma fonte, em 1970, comercializavam suíno, 139.082 produtores, em 1996, haviam apenas 45.714 produtores. Isso mostra que em 25 anos, no RS e em SC a suinocultura deixou de ser fonte de renda para 234.945 e 93.368 produtores, respectivamente. Ainda, em relação a esse aspecto, conforme ALTMANN (1997), em 1979 registravam-se em Santa Catarina cerca de 50 mil produtores rurais que tinham na suinocultura a principal fonte de renda, número que, segundo estimativas da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, em 1997, estava reduzido a 25 mil, dos quais cerca de 15.800 são vinculados à indústria. Devido a isso, a atividade leiteira adquire grande importância como alternativa econômica para as pequenas unidades de produção familiar, vindo, de certa forma, substituir a lacuna deixada pela suinocultura, dentro da lógica da produção diversificada. Desta forma, grande parte das pequenas unidades produtivas transformaram a atividade leiteira, que era basicamente de subsistência, para uma atividade comercial, representando importante fonte de renda. A evolução da atividade leiteira nas microrregiões pode ser analisada através dos dados do Censo Agropecuário de 1975 e 1995/96. Na microrregião de Erechim, considerando somente os dados dos municípios que coincidem com a área de abrangência da atual microrregião, tem-se que, em 1975, a produção total de leite foi de 42,47 milhões de litros/ano e a quantidade comercializada de 12,92 milhões de litros/ano, representando 30% do total produzido. Já, em 1996, a produção total de leite foi de 97,21 milhões de litros/ano e a quantidade comercializada de 68,31 milhões de litros/ano, representando 70% do total produzido. Quanto ao crescimento, constata-se que, no período, a quantidade de leite vendida cresceu 5,2 vezes. Na microrregião de Chapecó, também considerando somente os dados dos municípios que coincidem com a área de abrangência da atual microrregião, tem-se no ano de 1975, uma produção total de leite de 44,15 milhões de litros/ano e uma quantidade comercializada de 6,07 milhões de litros/ano, representando 13% do total produzido. Já, em 1996, a produção total de leite foi de 145,24 milhões de litros/ano e a quantidade comercializada de 98,79 milhões de litros/ano, representando 68% do total produzido. Quanto ao crescimento, constata-se que, no período, a quantidade de leite vendida cresceu 16,2 vezes. Esses dados mostram que, efetivamente, a atividade leiteira adquire grande importância como alternativa econômica para os agricultores dessas microrregiões. 76 9.1.2 MICRORREGIÃO DE ERECHIM O clima dessa microrregião, de maneira geral, de acordo com o Levantamento... (1973), pode ser classificado como Cfa. Segundo Köeppen, Cfa é clima subtropical constantemente úmido, sem estação seca, com verão quente (temperaturas média do mês mais quente > 22,0ºC). Conforme o Macrozoneamento... (1994), a temperatura média anual, das sub-regiões 5B e 7B, onde a microrregião de Erechim está inserida, varia de 17 a 19ºC. A temperatura média das máximas varia de 22 a 28ºC, e das mínimas de 11 a 14,0ºC. A precipitação pluviométrica anual, pode variar de 1.600 a 1.800mm, com o total de dias de chuva entre 90 e 120 dias. Os solos estão situados dentro da Formação Serra Geral geológica, pertencente ao grupo denominado São Bento, constituída basicamente por rochas vulcânicas oriundas do vulcanismo basáltico que alcançou a superfície através de fendas existentes na crosta durante o Juro-Cretáceo. Os derrames de lavas da formação Serra Geral atingiu o sul do Brasil, norte do Uruguai, leste da Argentina e Paraguai, ocupando uma área em torno de 1.200.000 km², com espessura média de 650m (Zoneamento..., 1999). No RS, conforme o Levantamento... (1973), mais de 60% da área do Estado foi coberta por esse evento vulcânico. Devido ao intemperismo e pelas fases dos derrames ocorridos, a cobertura pedológica na microrregião, segundo UBERTI (2001), é formada pelos solos: Latossolo Vermelho Distroférrico (classificação anterior Latossolo Roxo), Nitossolo Vermelho Eutroférrico/Distroférrico (Terra Roxa) e Neossolo Litólico Eutroférrico/Distroférrico (Solos Litólicos). Os Latossolos são solos argilosos e muito profundos. Situam-se em relevo ondulado e não apresentam pedregosidade. Possuem baixa capacidade de troca de cátions (CTC), teor de matéria orgânica médio, alto teor de potássio e muito baixo de fósforo. São solos ácidos e apresentam médio teor de alumínio trocável. Os Nitossolos são solos argilosos de boa profundidade. Quando eutróficos ocorrem em relevo acidentado e não apresentam problema de acidez e alumínio trocável. Possuem teor de matéria orgânica médio, alto teor de potássio e baixo de fósforo. Os Neossolos são solos pouco desenvolvidos, rasos, com seqüência incompleta de horizontes e muito pedregosos. Apresentam altos valores de CTC e potássio; teores baixos a médios de fósforo e nulos de alumínio trocável. Situam-se em relevo 77 predominante forte ondulado e montanhoso e ocorrem na paisagem associados aos Nitossolos. Pelo Censo Agropecuário 1995/96, a microrregião de Erechim (figura 1) é composta por 25 municípios, com uma área de 5.922 km², representando 2% do território gaúcho. De acordo com a Sinopse Preliminar Censo (2000), a população da microrregião é de 216.788 habitantes, sendo a população rural de 76.478 (35%) e urbana de 140.310 (65%), representando 2,1% da população do Estado. Em relação à população urbana x rural, se analisarmos os dados não contabilizando as populações dos municípios de Erechim, Estação e Getúlio Vargas, tem-se 38% (39.380) da população residindo na área urbana e 62% (64.399) na área rural. Isso porque Erechim é o município pólo da microrregião, com uma população total de 90.332 habitantes, sendo 90% urbana e 10% rural. Os municípios de Getúlio Vargas e Estação, mesmo com menor número total de habitantes de 16.509 e 6.228, respectivamente, apresentam a mesma tendência quanto ao local de moradia da população. Na análise do êxodo rural no Estado do Rio Grande do Sul, utilizaram-se os dados da população total, urbana e rural referente ao ano de 1980 e 2000, conforme o Censo Demográfico de 1980 e a Sinopse Preliminar do Censo de 2000. Em 1980, a população total do Estado foi de 7.773.837 habitantes, a urbana de 5.250.940 (68%) e a rural de 2.522.897 (32%), e em 2000, a população total foi de 10.181.749, a urbana de 8.312.899 (82%) e a rural de 1.868.850 (18%). No período, observa-se que a população total cresceu 30,97%, a urbana 58,31% e a rural decresceu 25,92%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total (30,97%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de 3.304.238 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de 1.868.850 pessoas, isso mostra que no RS, nos últimos 20 anos, 1.435.388 pessoas ou 358.847 famílias constituídas com quatro pessoas que poderiam estar residindo na área rural estão no perímetro urbano das cidades. Para analisar o êxodo rural da microrregião Erechim utilizou-se a mesma fonte de dados. Em 1980, a população total da microrregião foi de 164.274 habitantes, a urbana de 78.029 (48%) e a rural de 86.245 (52%), e em 2000, a população total foi de 216.788, a urbana de 140.310 (65%) e a rural de 76.478 (35%). Nesse período, observa-se que a população total cresceu 31,96%, a urbana 79,81% e a rural decresceu 11,32%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população 78 total da microrregião (31,96%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de 113.808 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de 76.478 pessoas, isso mostra que nessa microrregião, nas últimas duas década, 37.330 pessoas que poderiam estar residindo na área rural estão nas cidades. Esse êxodo, se comparado com a população rural média dos 25 municípios da microrregião (3.059 habitantes, em 2000), eqüivale a população rural de 12 municípios. Outro aspecto a se ressaltar é o crescimento da população urbana do município de Erechim. Em 1980, a população urbana foi de 47.822 habitantes, e em 2000, foi de 82.018, representando um crescimento de 71,50%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total da microrregião (31,96%), para a população urbana de Erechim, em 2000, teríamos uma população urbana de 63.105 habitantes. Como os dados de 2000, registraram uma população urbana de 82.018 pessoas, pode-se dizer que, nos últimos 20 anos, 18.913 pessoas ou 4.700 famílias constituídas com quatro pessoas foram morar na área urbana de Erechim. Em relação à estrutura fundiária a microrregião de Erechim se caracteriza pela existência de pequenos estabelecimentos rurais. O número de estabelecimentos agropecuários, por estrato de área, e o percentual correspondente de estabelecimentos e área, estão na tabela 23. Tabela 23 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área da microrregião de Erechim Estrato de área Estabele- Estabele- Área Área (ha) cimentos cimentos (nº) (%) (ha) (%) Menos de 10 5.017 24,35 26.571 5,55 10 a menos de 20 7.479 36,31 103.614 21,63 20 a menos de 50 6.629 32,18 191.959 40,07 50 a menos de 100 1.130 5,48 72.588 15,15 100 a menos de 200 215 1,04 27.710 5,78 200 a menos de 500 92 0,45 27.847 5,81 500 a menos de 1000 30 0,14 19.346 4,04 Mais de 1000 7 0,03 9.364 1,95 478.999 99,98 Total 20.599 99,98 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96. 79 Na tabela 23, observa-se que 60,66% dos estabelecimentos possuem menos de 20 hectares e 92,84% possuem menos que 50 hectares. Isso evidencia a pequena disponibilidade de área para a grande maioria dos agricultores dessa microrregião. Observa-se também, que mesmo sendo uma microrregião caracterizada por pequenas propriedades rurais, os estratos acima de 50 ha representam 7,14% dos estabelecimentos, com 32,73% da área total. De modo geral, a pequena disponibilidade de terra leva o agricultor adotar uma conduta de diversificação de atividades tendo em vista a redução dos riscos climáticos e econômicos e a melhor utilização da terra. Por isso, esses agricultores realizam uma agricultura diversificada. A característica de produção diversificada é ressaltada por WANDERLEY (1995), nos estudos realizados sobre agricultura familiar na região do Cariri, na Paraíba, no município de Leme, em São Paulo e Ijui, no Rio Grande do Sul, onde constatou que a diversificação das atividades se constitui numa das principais características utilizada pelos agricultores e que a diversificação se destina, não só a ampliar o leque de produtos a serem comercializados, mas também para garantir o autoconsumo. Ainda, em relação a estrutura fundiária, na tabela 24, estão os dados referente ao município de Gaurama. Isso porque o nosso trabalho no Estado do Rio Grande do Sul foi desenvolvido nos municípios de Gaurama e Erechim e esses municípios apresentam uma estrutura fundiária semelhante. Tabela 24 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área do município de Gaurama Estrato de área Estabele- Estabele- Área Área (ha) cimentos cimentos (nº) (%) (ha) (%) Menos de 10 214 24,48 1.091 6,43 10 a menos de 20 333 38,10 4.572 26,96 20 a menos de 50 276 31,58 7.673 45,24 50 a menos de 100 45 5,15 2.783 16,41 100 a menos de 200 5 0,57 589 3,47 200 a menos de 500 1 0,11 250 1,47 16.959 99,98 Total 874 99,99 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96. 80 Na tabela 24, observa-se que 62,58% dos estabelecimentos possuem menos de 20 hectares e 94,16% possuem menos que 50 hectares. Os dados mostram que o município de Gaurama tem uma estrutura fundiária muito semelhante a da microrregião de Erechim. Em relação à atividade leiteira, conforme o Censo Agropecuário 1995/96, na microrregião de Erechim, foram 15.756 produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,44 vacas por produtor e produção média de 4,90 litros por vaca dia. Os dados mostram que 43% do rebanho encontra-se em propriedades com área de até 20 ha, responde por 41% da produção e envolve 8.820 produtores. Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento, tem-se que as propriedades com até 10 vacas possuem 92% do rebanho, produzem 90% da produção e envolvem 15.467 produtores, ou seja 98% do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está presente em 76% dos estabelecimentos rurais da microrregião. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 9.185 (59%) informaram que comercializavam o produto. Isso mostra a importância que a atividade leiteira tem para as pequenas unidades de produção dessa microrregião. Para analisar a estratificação da produção leiteira da microrregião de Erechim, citam-se os dados do número de produtores e quantidade de leite que cada produtor entrega na Cooperativa Tritícola Erechim Ltda (COTREL) e na Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda (COPERAL), conforme tabela 25. Tabela 25 – Número de produtores, quantidade de leite recebida e percentuais correspondentes a cada estrato de recepção Estrato de recepção Produtores Produtores Recepção Recepção (litros) (nº) (%) (litros / mês) (%) 1- 500 1.534 39,80 456.333 12,39 501 – 1000 1.287 33,39 918.484 24,95 1001 – 1500 481 12,48 582.054 15,81 1501 – 2000 219 5,68 377.859 10,26 + 2001 333 8,64 1.346.977 36,58 3.854 99,99 3.681.707 99,99 Total Obs: Os dados da COTREL referem-se ao mês de março/2001 e os da COPERAL, ao mês de fevereiro/2001. Dos 25 municípios que compõem a microrregião de Erechim, a COTREL, atua em 20 municípios e a COPERAL em 19. 81 Na tabela 25, observa-se que os produtores que entregam até 1.500 litros de leite/mês (50 litros/dia) representam 85% do total dos produtores e respondem por 53% da quantidade total recebida pelas duas cooperativas. 9.1.3 MICRORREGIÃO DE CHAPECÓ O clima dessa Microrregião, de maneira geral, de acordo com o Zoneamento... (1999), pode ser classificado como Cfa. A temperatura média anual varia de 17,9 a 19,8ºC. A temperatura média das máximas varia de 25,8 a 27,5ºC, e das mínimas de 12,9 a 14,0ºC. A precipitação pluviométrica total anual, pode variar de 1.430 a 2.020mm, com o total anual de dias de chuva entre 118 e 146 dias. Podem ocorrer, em termos normais, de 5,0 a 12,0 geadas por ano. Os solos, conforme a mesma fonte, estão situados dentro da Formação Serra Geral geológica, pertencente ao grupo denominado São Bento. Em SC, esse evento vulcânico cobriu em torno de 52% da área do Estado. A cobertura pedológica desta Microrregião, por estar na mesma área dos derrames de lavas basálticas e ter condições climáticas semelhantes, é formada pelos mesmos tipos de solos da microrregião de Erechim. De acordo com o Censo Agropecuário 1995/96, a microrregião de Chapecó (figura 1) é constituída por 30 municípios, com uma área de 5.282 km², representando 5,5% do território catarinense. A população da microrregião é de 341.048 habitantes, sendo a população rural de 111.829 (33%) e urbana de 229.219 (67%), representando 6,3% da população do Estado (Sinopse Preliminar Censo, 2000). Em relação à população urbana x rural, se analisarmos os dados sem contabilizar as populações dos municípios de Chapecó, Maravilha, Pinhalzinho e São Lourenço do Oeste, tem-se 40% (57.892) da população residindo na área urbana e 60% (85.884) na área rural. Isso ocorre porque Chapecó é o município pólo da Microrregião, com uma população total de 146.805 habitantes, sendo 92% urbana e 8% rural. Os municípios de Maravilha, Pinhalzinho e São Lourenço do Oeste, mesmo com menor número total de habitantes de 18.524, 12.300 e 19.643, respectivamente, apresentam a mesma tendência quanto ao local de moradia da população. 82 Na análise do êxodo rural no Estado de Santa Catarina, utilizaram-se os dados da população total, urbana e rural referente ao ano de 1980 e 2000, conforme o Censo Demográfico de 1980 e a Sinopse Preliminar do Censo de 2000. Em 1980, a população total do Estado foi de 3.627.933 habitantes, a urbana de 2.154.238 (59%) e a rural de 1.473.695 (41%), e em 2000, a população total foi de 5.349.580, a urbana de 4.211.979 (79%) e a rural de 1.137.601 (21%). No período, observa-se que a população total cresceu 47,45%, a urbana 95,52% e a rural decresceu 22,80%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total (47,45%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de 2.172.963 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de 1.137.601 pessoas, isso mostra que em SC, nos últimos 20 anos, 1.035.362 pessoas ou 258.840 famílias constituídas com quatro pessoas que poderiam estar residindo na área rural estão no perímetro urbano das cidades. Para analisar o êxodo rural da microrregião de Chapecó utilizou-se a mesma fonte de dados. Em 1980, a população total da Microrregião foi de 250.716 habitantes, a urbana de 103.411 (41%) e a rural de 147.305 (59%), e em 2000, a população total foi de 341.048, a urbana de 229.219 (68%) e a rural de 111.219 (32%). No período, observa-se que a população total cresceu 36,02%, a urbana 121,65% e a rural decresceu 24,08%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total da microrregião (36,02%) para a população rural, em 2000, teríamos uma população rural de 200.364 habitantes. Como a pesquisa registrou, em 2000, uma população rural de 111.829 pessoas, isso mostra que, nessa microrregião, nas últimas duas década, 88.535 pessoas que poderiam estar residindo na área rural estão nas cidades. Esse êxodo, se comparado com a população rural média dos 30 municípios da microrregião (3.727 habitantes, em 2000), eqüivale a população rural de 23 municípios. Outro aspecto a se ressaltar é o crescimento da população urbana do município de Chapecó. Em 1980, a população urbana desse município era de 53.181 habitantes, e em 2000, era de 134.434, representando um crescimento de 152,78%. Se considerarmos a mesma taxa de crescimento da população total da microrregião (36,02%), para a população urbana de Chapecó, em 2000, teríamos uma população urbana de 72.336 habitantes. Como os dados de 2000, registraram uma população urbana de 134.434 pessoas, pode-se dizer que, nos últimos 20 anos, 62.098 pessoas ou 15.524 famílias constituídas com quatro pessoas foram morar na área urbana de Chapecó. 83 Em relação à estrutura fundiária a microrregião de Chapecó se caracteriza pela existência de pequenos estabelecimentos rurais. O número de estabelecimentos agropecuários por estrato de área e o percentual correspondente de estabelecimentos e área estão na tabela 26. Tabela 26 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área da microrregião de Chapecó Estrato de área (ha) EstabeleEstabelecimentos Cimentos (nº) (%) Menos de 10 12.173 39,51 10 a menos de 20 11.617 37,71 20 a menos de 50 5.999 19,47 50 a menos de 100 753 2,44 100 a menos de 200 177 0,57 200 a menos de 500 67 0,22 500 a menos de 1000 18 0,06 Mais de 1000 5 0,02 Total 30.809 100 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96. Área Área (ha) 68.711 159.969 170.380 49.299 23.558 20.061 11.500 7.915 511.393 (%) 13,43 31,28 33,32 9,64 4,61 3,92 2,25 1,55 100 Na tabela 26, observa-se que 77,21% dos estabelecimentos possuem menos de 20 hectares e 96,68% possuem menos que 50 hectares. Isso evidencia a pequena disponibilidade de área para a grande maioria dos agricultores desta microrregião. Outro aspecto mostrado pelos dados é que, mesmo sendo uma microrregião caracterizada pela existência de pequenas propriedades rurais, 3,32% dos estabelecimentos possuem 21,96% da área total. Ainda, em relação a estrutura fundiária, na tabela 27, estão os dados referente ao município de Serra Alta. Isso porque o nosso trabalho no estado de Santa Catarina foi desenvolvido nos municípios de Serra Alta e Modelo e esses municípios apresentam uma estrutura fundiária semelhante. Na tabela 27, observa-se que 76% dos estabelecimentos possuem menos de 20 hectares e 97,68% possuem menos que 50 hectares. Os dados mostram que o município de Serra Alta tem uma estrutura fundiária muito semelhante a da microrregião de Chapecó. 84 Tabela 27 – Número de estabelecimentos, área e percentuais correspondentes a cada estrato de área do município de Serra Alta Estrato de área Estabele- Estabele- Área Área (ha) cimentos cimentos (nº) (%) (ha) (%) Menos de 10 160 33,68 942 12,99 10 a menos de 20 201 42,31 2.743 37,83 20 a menos de 50 103 21,68 2.814 38,81 50 a menos de 100 9 1,89 519 7,16 100 a menos de 200 2 0,42 232 3,20 200 a menos de 500 - - Total 475 99,98 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995/96. 7.251 99,99 Em relação à atividade leiteira, na microrregião de Chapecó, de acordo com Censo Agropecuário 1995/96, foram 24.519 produtores que informaram produzir leite, com rebanho médio de 3,27 vacas por produtor e produção média de 4,95 litros por vaca dia. Os dados mostram que 62% do rebanho encontram-se em propriedades com área de até 20 ha, respondem por 59% da produção e envolvem 18.251 produtores. Em relação ao número de vacas ordenhadas por estabelecimento tem-se que as propriedades com até 10 vacas possuem 90% do rebanho, produzem 86% da produção e envolvem 24.020 produtores, ou seja 98% do total. Quanto à abrangência, a atividade leiteira está presente em 79% dos estabelecimentos rurais da microrregião. Em relação à venda de leite, do número total de produtores, 12.782 (52%) informaram que comercializavam o produto. 85 Figura 1 – Mapa da Região Sul do Brasil, com destaque para as microrregiões de Erechim no RS e Chapecó em SC Microrregião de Chapecó Microrregião de Erechim 86 CAPÍTULO II 2. METODOLOGIA 2.1 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE LEITE DO DZDR O estudo e a descrição da proposta de produção de leite à base de pasto resultante da ação de organizações de agricultores7 e de projetos de extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) da UFSC, foi realizado tendo-se por base a propriedade da família de Olintho Ficcagna, localizada no município de Serra Alta – SC (microrregião de Chapecó) e outros projetos assessorados pelo DZDR no Estado de Santa Catarina. 2.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O estudo da proposta de produção de leite à base de pasto nessa microrregião do estado catarinense se deve às semelhanças que essa microrregião tem com a microrregião de Erechim, quanto às condições edafoclimáticas, a estrutura fundiária e aos aspectos sócioeconômicos, culturais e étnicos da população. Em relação à amostragem geográfica na microrregião de Erechim, optou-se pelos municípios de Erechim e Gaurama, porque pelos dados já citados, os agricultores típicos médios (quanto à produção de leite, faixa etária do casal, número de pessoas na família e renda) desses municípios, representam os agricultores típicos médios da microrregião. Para realizar os estudos nas propriedades dos municípios de Erechim e Gaurama, os sistemas de produção de leite foram estratificados em três tipos: a) sistema intensivo de uso de alimentos no cocho, quando os animais recebem mais 7 Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (EPAGRI), Centro Vianei de Educação popular de Lages e prefeituras de Chapecó, Dionísio Cerqueira, Urupema e São Bonifácio. 87 que cinqüenta porcento (50%) dos alimentos no cocho; b) semi-intensivo, quando os animais recebem de vinte a cinqüenta porcento (20 - 50%); e c) pastoril, quando os animais recebem menos de vinte porcento (20%). Os dados foram coletados nos agricultores típicos médios vinculados à indústria e dos agricultores não vinculados à indústria. De acordo com PAULILO (2001), definiu-se que seriam sorteados três agricultores de cada sistema de produção. Sendo, nove agricultores vinculados à indústria e nove não vinculados à indústria. Como o sistema pastoril não foi indicado com segurança entre os agricultores não vinculados à indústria, fez-se somente o sorteio de seis agricultores, três para cada sistema (intensivo e semi-intensivo). A escolha dos agricultores vinculados à indústria baseou-se na listagem de produtores de leite da Cooperativa Tritícola Erechim Ltda (COTREL), da Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda (COPERAL) e da indústria de laticínio Trentino Alimentos S/A (CEDRENSE), que atuam nos municípios de Erechim e Gaurama; na indicação dos agricultores típicos médios em cada sistema de produção, feita pelos Departamentos Técnicos destas entidades; e, sorteio. A escolha dos agricultores não vinculados à indústria, baseou-se na listagem fornecida pelos Escritórios Municipais da EMATER/RS e pelas Secretarias Municipais da Agricultura dos município de Erechim e Gaurama; na indicação dos agricultores típicos médios em cada sistema de produção, feita pelos técnicos dessas instituições; e, sorteio. Das 14 entrevistas realizadas no RS, nove foram feitas com agricultores vinculados e cinco com agricultores não vinculados à indústria. Em Santa Catarina foi feita uma entrevista, no município de Serra Alta, com a família de Olintho Ficcagna. Para verificar como os agricultores não vinculados à indústria se relacionam com o mercado, fez-se entrevista com os responsáveis dos estabelecimentos comerciais e consumidores, que adquiriam produtos destes agricultores. A escolha dos estabelecimentos comerciais e consumidores baseou-se na listagem fornecida pelos agricultores que comercializavam leite e/ou queijo e sorteio. Sendo seis entrevistas realizadas nos municípios de Serra Alta e Modelo, em Santa Catarina e dez nos municípios de Erechim e Gaurama, no Rio Grande do Sul. 88 2.3 VIAGENS DE ESTUDO E VISITAS TÉCNICAS Para conhecer e analisar os projetos assessorados pelo DZDR realizamos as seguintes viagens e visitas técnicas como segue: a) De 17 a 20 de maio de 2000, visitamos a propriedade da família de Liseu Meier e o assentamento Conquista na Fronteira, no município de Dionísio Cerqueira e, a propriedade da família de Olintho Ficcagna, no município de Serra Alta. As visitas tiveram por objetivo analisar os projetos de produção de leite à base de pasto desenvolvidos nas propriedades. b) De 5 a 10 de junho de 2000, fiquei na propriedade da família de Olintho Ficcagna, tendo por objetivo realizar levantamento de dados e conhecer com maior profundidade o sistema de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização desenvolvido na propriedade. c) De 29 de agosto a 01 de setembro de 2000, visitamos dois grupos de agricultores assentados no município de Abelardo Luz, com objetivo de analisar os projetos de produção de leite à base de pasto desenvolvidos pelas famílias. Na mesma viagem, visitamos novamente o assentamento Conquista na Fronteira e as propriedades das famílias de Liseu Meier e de Olintho Ficcagana. d) Nos dias 11 e 12 de setembro de 2000, visitamos a propriedade da família de Davi Manfrói, no município de Campos Novos, com objetivo de analisar o sistema de integração lavoura-pecuária implantado na propriedade. Também, visitamos as propriedades da família de Antônio Delfis e da família de Deodatto Delfis, no município de Frei Rogério, tendo por objetivo analisar os projetos de produção de leite à base de pasto desenvolvidos pelas famílias. e) No dia 27 de novembro de 2000, visitamos as propriedades da família de João Herd e da família de José Herd, localizadas no município de Santa Rosa de Lima, tendo por objetivo analisar os projetos de produção de leite à base de pasto desenvolvidos nas propriedades. 89 f) Nos dias, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2000, visitamos a propriedade da família de José Andrade Arruda, localizada no município de Urupema, tendo por objetivo analisar o melhoramento de campo nativo realizado na propriedade. Na mesma viagem visitamos a Estação Experimental da EPAGRI de Lages, com objetivo de analisar trabalhos sobre espécies forrageiras de inverno e de verão desenvolvidos pela EPAGRI. Também, visitamos as propriedades das famílias de José Salvador Deliz, Giovani Camargo e José Assis Andrade Branco, localizadas no município de Lages. As visitas tiveram por objetivo analisar o melhoramento de campo nativo e/ou naturalizado realizado nas propriedades. Obs: As visitas técnicas eram agendadas previamente e na sua maioria contavam com a participação dos técnicos locais das prefeituras municipais, Organizações não Governamentais (ONGS), dos assentamentos e da EPAGRI. 2.4 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA De acordo com TRIVIÑOS (1992), podemos, em geral, entender por entrevista semi-estruturada aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta forma, o informante, seguindo espontaneamente sua linha de pensamento, suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. Segundo o mesmo autor, para alguns tipos de pesquisa qualitativa a entrevista semi-estruturada é um dos principais meios que o investigador tem para realizar a coleta de dados. O autor, privilegia a entrevista semi-estruturada porque esta, ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação. O roteiro de entrevista aos agricultores (anexo 1) foi feito utilizando-se de questões formuladas no questionário da tese de mestrado de PEREIRA (1999), e sugestões do professor orientador. Para a elaboração definitiva do roteiro realizaram-se duas entrevistas preliminares para avaliação das perguntas. Estas, 90 depois foram analisadas e transcritas com os ajustes necessários para a ida definitiva a campo. Antes de realizar as entrevistas visitaram-se todos os agricultores sorteados. Essa visita prévia teve por objetivo, colocar ao agricultor o procedimento de escolha de seu nome, a finalidade do trabalho, o tempo previsto para realizar a entrevista e o caminhamento na propriedade (em torno de quatro horas), verificar se o agricultor aceitava ser entrevistado e agendar a data da entrevista. Quando o agricultor não aceitava ser entrevistado realizava-se novo sorteio. A aplicação dos questionários e as entrevistas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2001. Após cada entrevista, no dia posterior, a mesma era transcrita e analisada em seu conteúdo, com o objetivo de preservar as informações coletadas. Quando necessário, para dirimir dúvidas, entrava-se em contato com o entrevistado ou retornava-se à propriedade. As entrevistas em parte foram gravadas, com prévia autorização dos entrevistados, ao todo foram feitas 12 horas de gravações. Os roteiros de entrevista aos consumidores (anexo 2) e aos responsáveis pelos pequenos mercados (anexo 3) foram feitos utilizando-se de questões formuladas no questionário da tese de mestrado de MENEGUETTI (2000), e sugestões do professor orientador. Para a elaboração definitiva dos roteiros realizaram-se duas entrevistas preliminares. Estas, depois de realizadas e analisadas, foram transcritas com os ajustes necessários para a ida definitiva à campo. A aplicação dos questionários e entrevistas foram realizadas no mês de maio de 2001. Variáveis estudadas: a) Produtividade: produção de leite / vaca; b) Econômicas: custo / litro de leite e receita do leite e/ou derivados; c) Alimentação: espécies forrageiras, manejo das pastagens, uso de silagem e alimentos concentrados; d) Ambientais: sistemas de implantação das pastagens, uso de agrotóxicos e manejo dos dejetos; e) Percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira: expectativa da atividade, motivação para o associativismo e assistência técnica; f ) Comercialização: mercado e aceitação dos produtos das unidades de pequeno porte. 91 2.5 AVALIAÇÃO SUBJETIVA DE FATORES DE PRODUÇÃO E SOCIAIS Pelos dados levantados na pesquisa e a experiência prática do pesquisador que, como engenheiro agrônomo, exerceu a função de extensionista rural pela ACARESC (Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina), no município de Maravilha – SC, no período de 1986 a 1989 e pela EMATER/RS (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural), nos municípios de Gaurama – RS, no período de 1990 a 1996 e Erechim – RS, no período de 1998 e 1999, no ano de 1997, esteve na Embrapa Suínos e Aves, onde articulou ações de intercâmbio e integração entre a pesquisa e a extensão no desenvolvimento e transferência de tecnologias de interesse dos produtores do Estado do Rio Grande do Sul, fez-se uma avaliação subjetiva de fatores de produção e sociais das famílias entrevistadas para o desenvolvimento do trabalho. A avaliação subjetiva dos fatores produtivos e sociais foi feita através de notas numa escala de 1 a 10, representadas por conceitos. A letra D, eqüivale a nota inferior a 4,0; a letra C, a nota de 4,1 a 6,0; a letra B, a nota 6,1 a 8,0 e a letra A, a nota acima de 8,1. 92 CAPÍTULO III 3. PROPOSTA DE PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE À BASE DE PASTO Neste capítulo descreve-se a proposta de produção intensiva de leite à base de pasto, resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC, tendo-se por base o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna. A proposta resultante deste trabalho tem por base otimizar as interações e os processos que ocorrem entre os componentes bióticos e abióticos de determinado ecossistema. De acordo com GLIESSMAN (2000), “ecossistema é entendido como um sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos e seu ambiente, delimitado por fronteiras escolhidas arbitrariamente, as quais, no espaço e no tempo, parecem manter um equilíbrio dinâmico, porém, estável. Assim, um ecossistema tem partes físicas com suas relações particulares - a estrutura do sistema -, que juntas participam de processos dinâmicos - a função do sistema”. Tendo isso presente, a proposta visa proteger e/ou recompor as matas ciliares e em declives acentuados, pequenos bosques e manter as áreas de pastagens nativas e/ou naturalizadas existentes (potreiros), tendo em vista a importância ecológica, ambiental e produtiva que isso representa para o homem e o ecossistema. Segundo diversos autores, “a vegetação campestre foi a primeira cobertura vegetal que se formou na região sul do Brasil, após os derrames basálticos, há mais ou menos 30 milhões de anos, sendo portanto, de formação mais antiga do que a selva pluvial” (RAMBO, 1953; ALONSO, 1997 e LEITE & KLEIN, 1990). A vegetação, hoje existente, é o clímax do resultado das interações e processos que ocorreram entre os componentes bióticos e abióticos deste ecossistema. Já as pastagens naturalizadas, começaram a ser formadas pelos colonizadores há mais de 125 anos, através de introduções e/ou aparecimento espontâneo de espécies forrageiras nas área destinadas aos animais. Portanto, as pastagens nativas e/ou naturalizadas são muito importantes pela diversidade de espécies vegetais que 93 apresentam, e expressam as adaptações e as interações do clima-solo-plantaanimal-homem de um longo tempo. São ecossistemas muito ricos de espécies vegetais, animais e de vida do solo. Conforme MIELNICZUK (2001), o solo manejado corretamente pode tornar-se, ao invés de emissor, um receptor de C02 atmosférico, e desta forma contribuir para a redução do efeito estufa. As pastagens, tanto perenes como anuais, desempenham um papel fundamental, pela sua grande eficiência em manter e aumentar a matéria orgânica do solo. De acordo com o mesmo autor, os melhores resultados são obtidos com pastagens perenes de gramíneas e leguminosas. No entanto, pastagens anuais intercaladas com culturas anuais também são eficientes, quando implantadas em sistema de plantio direto. Para ilustrar, o autor cita dados experimentais obtidos por LOVATO (1999), em experimento de manejo de solo conduzido por 13 anos na Estação Experimental da UFRGS, em Eldorado do Sul. O campo nativo, que em 1970 continha em torno de 79,0 t/ha de matéria orgânica até a profundidade de 17,5cm, após cultivado com culturas anuais e intenso preparo de solo, inclusive enxada rotativa até 1985, continha neste ano (1985) em torno de 56,0 t/ha de matéria orgânica. Em 1985 foi iniciado um experimento de manejo de solo nesse local, envolvendo sistema de preparo de solo e de culturas, incluindo pastagens anuais. Em 1998, portanto após 13 anos, o sistema aveia + ervilhaca / milho + feijão miúdo, implantadas em semeadura direta, aumentou a matéria orgânica do solo em aproximadamente 11,0 t/ha. Isso mostra a importância que as pastagens têm, quando adequadamente manejadas, no seqüestro do CO2 atmosférico. Segundo MACHADO (2000), 1 g de matéria orgânica fixa 3,6 g de carbono. Em relação à vida do solo, a matéria orgânica é um dos componentes fundamentais da capacidade produtiva, devido aos efeitos sobre a disponibilidade de nutrientes, a capacidade de troca de cátions do solo, a complexação de elementos tóxicos e micronutrientes, a agregação do solo, a infiltração e a retenção de água, a aeração, e a atividade e biomassa microbiana. Por isso, o campo nativo e naturalizado deve servir de base quando se quer melhorar os atuais sistemas de produção. Para tanto, é importante manter os bosques naturais e matas ciliares existentes, e não lavrar as pastagens para implantar outras espécies forrageiras. Além, das pastagens existentes serem mais adaptadas às condições de solo, clima e fertilidade, quando lavra-se a terra, rompe-se a estrutura física do solo e expõe-se 94 o mesmo à compactação e ao processo erosivo. O revolvimento do solo acelera o processo de oxidação da matéria orgânica, altera a atividade microbiana, diminui a biomassa, rompe com os agregados, modifica a estrutura, reduz a porosidade, intensifica o processo erosivo e inibe o ciclo do etileno. Desta forma, as pastagens nativas e/ou naturalizadas constituem-se em ecossistemas importantíssimos para o homem na produção de alimentos e matérias-primas, porém, devem ser utilizadas dentro de seus potenciais produtivos. O objetivo é otimizar os potenciais produtivos e não maximizar a produção com grande dependência de insumos de síntese química, que exige altos investimentos e provoca desequilíbrio no ecossistema. Nesse contexto, deve-se maximizar o uso do principal insumo disponível no ecossistema, a energia solar. A proposta tem como base a divisão das áreas dos potreiros; manejo adequado das pastagens; redução do uso de insumos nas áreas de pastagens, de agrotóxicos, de medicamentos e de outros contaminantes; introduções nas pastagens de espécies leguminosas e/ou gramíneas; quando necessário, implantação de pastagens perenes; uso de animais adaptados à produção de leite à base de pasto e processamento, transformação e comercialização, principalmente de leite e queijo no mercado local. 3.1 HISTÓRICO DA FAMÍLIA A propriedade onde reside a família de Olintho Ficcagna (figura 2) pertence à mãe de Olintho, que no ano de 1950, junto com seu esposo e um filho, migraram do Estado do Rio Grande do Sul para a região Oeste de Santa Catarina. Primeiro fixaram-se onde hoje situa-se a cidade de Modelo e posteriormente estabeleceramse na atual propriedade, localizada no município de Serra Alta. Na fase inicial, a produção foi organizada visando atender a subsistência da família e comercialização dos excedentes de feijão e de suínos. Por um período de 25 anos a suinocultura foi a principal fonte de renda da família. Mas, devido as profundas transformações ocorridas na base técnica do processo produtivo, na relação entre as agroindústrias e os produtores e aos problemas relacionados com a peste suína africana, a família teve sérias dificuldade e abandonou a atividade. Com o passar dos anos, gradativamente, seis dos oito filhos do casal deixaram a agricultura em busca de 95 alternativas que pudessem sustentar as suas respectivas famílias. Principalmente, porque as atividades desenvolvidas na propriedade de 39 ha, não absorviam toda a mão-de-obra disponível e não geravam renda suficiente para aquisição de mais terra. Devido ao abandono da suinocultura, os componentes da família que permaneceram na propriedade, decidiram ampliar e melhorar a atividade leiteira existente. A partir dos anos 90, a abertura da economia brasileira e a integração regional do Mercosul, diminuíram ainda mais a capacidade competitiva das pequenas unidades de produção. Na tentativa de superar estas dificuldades, por incentivo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e do professor Jaci Polli, a família participou de um grupo de produção composto por sete famílias, onde coletivizaramse algumas atividades agrícolas. Após dois anos o grupo fragmentou-se, passando a ser integrado por três famílias, socializando-se todas as atividades produtivas. A organização do grupo previa que cada família realizasse uma atividade produtiva em sua respectiva propriedade, sendo que à família de Olintho coube a atividade leiteira. A partir do ano de 1993, com apoio da Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO) e do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a coordenação do professor Mário Luiz Vincenzi, implantou-se na propriedade da família de Olintho, o projeto piloto de produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização do leite e queijo, diretamente aos consumidores, no mercado local, dos municípios de Serra Alta e Modelo. Todavia, no ano de 1998 as atividades deixaram de ser integradas, extinguindo-se o grupo de produção e voltando cada família à produção individualizada em seu respectivo grupo familiar. O projeto teve continuidade e hoje a atividade leiteira é a única fonte de renda agrícola da família Ficcagna. 96 Figura 2 – Esquerda para direita: Valmir Dartora e a Família de Olintho Ficcagana (Olintho, Ana, Rodrigo, Lourdes e Eliane). Serra Alta/SC. 31/08/00. Cristine Lopes de Abreu 3.2 ESTRUTURA DE PRODUÇÃO A propriedade atualmente possui uma área total de 31,0 ha, dos quais, 17,0 ha são de pastagens e 5,0 ha são destinados ao cultivo de milho para produção de complemento alimentar para o gado. O milho é usado como alimento complementar para as vacas em produção e terneiras, e serve como reserva de alimento para os animais em período de escassez de pasto. Em relação as instalações a propriedade possui centro de ordenha, sala para pasteurização do leite, fabricação de queijo e os equipamento necessários para operacionalizar estes serviços. 97 3.3 ALIMENTAÇÃO Esta é a preocupação básica da proposta. A produção de leite à base de pasto exige dos agricultores a adoção de um plano forrageiro, com espécies perenes e anuais de inverno e de verão que se complementam, no sentido de produzir quantidade e qualidade de forragem o ano todo. Mas, o âmago da questão, o fundamental, é o manejo do pasto. Este deve ser conduzido de forma criteriosa seguindo os princípios enunciados por André Voisin, em suas quatro Leis Universais do Pastoreio Racional. Porém, o comandante deste processo deve ser o agricultor, e este, antes de tudo, precisa ser um agricultor-pastor. Esta deve ser a principal função, a maior dedicação e a grande habilidade dos agricultores na produção de leite à base de pasto. 3.3.1 CAMPO NATURALIZADO Na propriedade da família Ficcagana, os 8,15 ha de campo naturalizado (potreiros), foram melhorados mantendo-se os bosques, as árvores e a pastagem existente. Além da importância ecológica, os bosques e as árvores servem como locais de sombra e abrigo para os animais. As áreas dos potreiros, foram divididas em 41 piquetes e a pastagem passou a ser manejada pelo método de Pastoreio Racional Voisin. No primeiro ano, em dois piquetes, com área total de 0,65 ha, foi introduzido trevo branco. Antes da semeadura do trevo branco, na área foi aplicado calcário e na semeadura cama de aviário. A adubação de manutenção é feita com adubo mineral (9-33-12), na dose de 50 kg por hectare/ano. Após, em mais cinco piquetes, com área total de 0,52 ha, foi introduzido trevo branco, utilizando-se as mesmas práticas de correção e adubação do solo. O calcário e o adubo foram aplicados na superfície e a introdução da leguminosa foi feita, através de sobressemeadura, com objetivo de preservar a vegetação existente e as condições do solo. As leguminosas são muito importantes para o sistema de produção, porque, além de melhorarem a quantidade e a qualidade da forragem, adicionam nitrogênio ao sistema, através da fixação simbiótica. Após oito anos da implantação do projeto o agricultor destaca a evolução das pastagens naturalizadas, citando a ocorrência de outras espécies na área, principalmente o capim quicuio e azevém e o grande 98 aumento na produção de forragem dos potreiros (figura 3). A ocorrência destas espécies indica que as práticas e o método de pastoreio adotado proporcionam condições para que espécies mais exigentes em fertilidade possam estar presentes na composição florística da pastagem. Figura 3 – Área de pastagem naturalizada (potreiro) manejada através do PRV, na propriedade da família de Olintho Ficcagana. 01/09/00. Valmir Dartora 3.3.2 PASTAGENS 3.3.2.1 PERENES DE VERÃO As pastagens perenes são o pilar da proposta difundida pelo DZDR, porque apresentam menor custo de produção e, se bem manejadas, são persistentes. Além disso, apresentam maior período de pastoreio, suportam mais as adversidades climáticas e expõe menos o solo à erosão. De modo geral, são menos exigentes em fertilidade do solo e muito adaptadas ao pastoreio, devido aos hábitos de crescimento e a forma de propagação vegetativa. No projeto, as espécies forrageiras 99 perenes de verão implantadas foram: capim elefante, grama missioneira gigante e hemartria. O capim quicuio já existente em alguns piquetes de pastagem naturalizada foi valorizado e está sendo disseminado via bosta para as outras áreas de pastagem. a) O capim elefante foi implantado há seis anos na propriedade e ocupa uma área de 2,02 ha. Na implantação não foi aplicado calcário nem adubo. A área de capim elefante é dividida em 14 piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Devido a alta produção de forragem desta espécie e como consequência grande demanda na quantidade de nutrientes, no período de inverno, na área é introduzida ervilhaca. A introdução de ervilhaca é feita por sobressemeadura e tem por objetivo incorporar nitrogênio ao solo, através da fixação biológica e proporcionar forragem de alta qualidade na primavera. A figura 4, mostra uma área de capim elefante com ervilhaca. Além desta prática, quando possível a área é adubada com cama de aviário, na dose de 3,0 toneladas por hectare / ano. Até o momento, nesta área não foi aplicado calcário. Figura 4 – Área de capim elefante com ervilhaca, na propriedade da família de Olintho Ficcagana. 01/09/00. Valmir Dartora 100 b) A grama missioneira gigante foi implantada na propriedade há cinco anos e ocupa uma área de 0,80 ha. Parte desta área está localizada na meia encosta adjacente à capoeira, onde a declividade é mais acentuada e a outra parte em revelo praticamente plano. A área com esta forrageira é dividida em quatro piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Na implantação e até o momento, não foi aplicado, nesta área, calcário, nem adubo. c) A grama hemartria, variedade Flórida, foi implantada na propriedade há cinco anos, está localizada na meia encosta, onde a declividade é mais acentuada e ocupa uma área de 0,64 ha. A área com esta forrageiras é dividida em quatro piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Na implantação e até o momento, não foi aplicado, nesta área, calcário, nem adubo. 3.3.2.2 PERENES DE INVERNO As pastagens perenes de inverno são fundamentais dentro de um plano forrageiro que busca produzir quantidade e qualidade de pasto o ano todo. Primeiro, por produzirem em época de escassez de pasto, segundo, por produzirem forragem de alta qualidade e, terceiro, porque principalmente as leguminosas proporcionam um aumento no consumo de forragem mais fibrosa pelos animais. Além disso, as leguminosas contribuem, decisivamente, no melhoramento das pastagens, ativam a biocenose do solo, entre outros aspectos, como por exemplo, a atividade micorrizica. No projeto a pastagem perene de inverno implantada foi a consorciação de azevém x trevo branco x trevo vermelho (figura 5). Embora, a consorciação tenha espécie anual (azevém) e bianual (trevo vermelho), Bromus catharticus, trevo vesiculoso (anual), ervilhaca e espécies de Paspalum perenes, na composição, a pastagem torna-se perene, através de ressemeadura natural. a) Trevo branco: Apresenta hábito de crescimento prostrado e estolonífero. Esta característica é muito importante para a planta quando utilizada em áreas de pastoreio intensivo. Quanto à duração, as plantas são perenes. Porém, em condições de verões quentes e secos comporta-se como anual, de ressemeadura natural. 101 Figura 5 – Área de pastagem consorciação de azevém x trevo branco x trevo vermelho, com animais em pastoreio, na propriedade da família de Olintho Ficcagana. 09/06/00. Valmir Dartora b) Trevo vermelho: Apresenta hábito de crescimento ereto a decumbente e sistema radicular caracterizado por uma raiz principal pivotante. É uma espécie bienal e se o ambiente é favorável, a planta persiste por alguns anos. Nos climas mais quentes, o ciclo da planta reduz de maneira a se comportar como anual. Porém, pode perenizar por ressemeadura natural. Na propriedade, a consorciação de azevém x trevo branco x trevo vermelho, foi implantada há cinco anos e ocupa uma área de 2,97 ha. Na implantação foi aplicado calcário e cama de aviário. A adubação de manutenção da área é feita com cama de aviário, na dose de 1,5 toneladas por hectare / ano. O uso de cama de aviário nas áreas de pastagem com trevos não é recomendação do DZDR. Nessas áreas o DZDR tem recomendado o uso de adubos à base de fosfato natural. A área com estas forrageiras é dividida em 20 piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Nos piquetes onde o azevém apresenta pequeno desenvolvimento inicial e/ou baixa densidade de plantas é feito a 102 sobressemeadura de aveia preta e/ou triticale. No ano de 2000 esta prática não foi utilizada. 3.3.2.3 ANUAIS DE INVERNO As pastagens anuais de inverno têm grande importância na sucessão das lavouras anuais de verão. Pois, além de exercerem efeito de cobertura do solo no inverno beneficiando a produção de grãos, produzem forragem de alta qualidade na estação fria. As principais possibilidades de sucessão lavoura x pastagem são: quando a lavoura de verão for uma leguminosa (soja, feijão...), no inverno utiliza-se aveia preta e/ou azevém, como pastagem; quando a lavoura de verão for uma gramínea (milho, sorgo...) no inverno utiliza-se ervilhaca ou trevo vesiculoso consorciado com aveia preta e azevém, como pastagem. O azevém é a espécie forrageira anual de inverno utilizada no projeto. a) Azevém: existem duas espécies, anual e perene. A espécie espontânea que ocorre na região sul do Brasil é anual e se pereniza, através de ressemeadura natural. O azevém é uma forrageira de alta qualidade, boa produção e palatabilidade. Na propriedade a sucessão lavoura x pastagem é feita em 2,13 ha. Nessa área o azevém é mantido, através de ressemeadura natural, em sucessão com a cultura de milho. Para otimizar o sistema produtivo com reduzido uso de insumos externos, nessa área o DZDR tem recomendado introduzir ervilhaca junto com o azevém. A área de azevém é dividida em 13 piquetes e utilizada através do Pastoreio Racional Voisin. Nesta área a cada seis anos é aplicado calcário e a adubação do azevém é feita com adubo mineral, na dose de 50 kg por hectare / ano. No total a propriedade possui uma área de 16,71 ha com pastagem, dividida em 96 piquetes. O rebanho, atualmente, é composto por 57 animais, dos quais 22 são vacas e destas 19 estão em lactação. Considerando a estimativa de 36,12 unidades animais (UA) para o rebanho e área de pastagem de 16,71 ha, tem-se com resultado uma lotação de 2,16 UA por hectare. 103 3.3.3 OUTROS ALIMENTOS As terneiras até os 90 dias de idade recebem em média 0,55 kg / animal / dia de ração comercial granulada, totalizando 50 kg / cabeça. Dos 90 dias até os seis meses de idade recebem em média 1,6 kg / animal / dia de ração feita na propriedade, composta por farelo de soja (20 kg), milho desintegrado palha e sabugo (rolão de milho, 79 kg) e sal mineral (1 kg). Além das pastagens, as vacas em lactação recebem como complemento alimentar farelo de trigo e/ou rolão de milho misturado com farelo de soja e sal mineral. No total as vacas recebem em média 3,6 kg / animal /dia de alimentos concentrados, sendo 0,60 kg de farelo de trigo e 3,0 kg de ração composta por farelo de soja (21 kg), rolão de milho (77 kg) e sal mineral (2 kg). 3.4 MANEJO DAS PASTAGENS E DOS ANIMAIS Os animais são divididos em três lotes: o lote de vacas em lactação; o lote de vacas secas, novilhas com peso ou idade de cobertura e o touro; e, o lote de terneiras com mais de seis meses e de novilhas que não têm peso nem idade para cobertura. O lote das vacas em lactação, preferencialmente utiliza as pastagens de capim elefante e as pastagens perenes e anuais de inverno e, eventualmente, as pastagens de missioneira gigante e hemartria. As pastagens perenes e anuais de inverno são pastoreadas pela parte da manhã, porque os piquetes não possuem água nem sombra. À tarde e/ou à noite as vacas em lactação ficam na área de pastagem do campo naturalizado, onde a maioria dos piquetes possuem sombra e água. O capim elefante é utilizado para pastoreio à noite, porque só tem um ponto de água e nos piquetes não tem sombra. Quanto a água, na figura 6, mostra-se um tipo de bebedouro móvel, prático e de baixo custo. O lote de vacas secas, novilhas com peso ou idade de cobertura e o touro, e o lote de terneiras com mais de seis meses e de novilhas que não têm peso nem idade para cobertura, preferencialmente, utilizam as pastagens do campo naturalizado e quando necessário as pastagens de missioneira gigante e hemartria. Na área das pastagens de missioneira gigante e hemartria, os piquetes não têm água, nem sombra. Na propriedade as áreas das pastagens foram divididas com critério e são utilizadas 104 pelo método de Pastoreio Racional Voisin, com observância de tempos de ocupação e de repouso adequados. A falta de água na maioria dos piquetes é uma dificuldade para manejar adequadamente os animais, por isso o DZDR tem recomendado à família priorizar este investimento. Figura 6 – Bebedouro móvel utilizado na propriedade da família de Liseu Meier localizada no município de Dionísio Cerqueira/SC. 18/05/00. Valmir Dartora 3.5 CRIAÇÃO DAS TERNEIRAS O aleitamento das terneiras através da vaca-ama orientado pelo DZDR, preconiza que a terneira seja enxertada em uma vaca com prenhez confirmada e no terço final da lactação. Dependendo da produção de leite a vaca poderá amamentar uma, duas ou até três terneiras. Após o processo de “enxertia” a vaca e as terneiras adotivas são colocadas num potreiro específico. Esse método foi orientado em todos os projetos assessorados pelo DZDR, mas de modo geral, os agricultores encontraram dificuldades de realizar a “enxertia” das terneiras nas vacas. Porém, perceberam as vantagens do método e desenvolveram um manejo alternativo que 105 consiste em deixar as vacas-ama no mesmo lote das vacas em lactação e as terneiras em um potreiro específico. No momento da ordenha as vacas-ama são as últimas a entrarem na sala e ou invés de serem ordenhadas são colocadas as terneiras para mamar. Nesse manejo raramente a vaca “refuga” a terneira. Na propriedade de Olintho Ficcagna, as terneiras são criadas em gaiolas móveis, numa área de pastagem naturalizada próxima a residência da família. Nascimento da(o) terneira(o): o parto é acompanhado e as intervenções são feitas somente quando necessário. Logo após o parto deixa-se a vaca lamber a cria, quando necessário auxilia-se na limpeza e secagem. Imediatamente após orienta-se a(o) terneira(o) a mamar o colostro. No primeiro dia a(o) terneira(o) fica junto com a vaca. A partir do segundo dia a(o) terneira(o) vai para a gaiola móvel, onde continua o aleitamento até os 60 dias, através do sistema vaca-ama (figura 7). Este sistema consiste em levar uma vaca ou mais, até as gaiolas móveis para a(o) terneira(o) ou as(os) terneiras(os) mamarem. Nos primeiros cinco a sete dias a vaca-mãe é levada, três vez ao dia, até a gaiola móvel para a(o) terneira(o) continuar mamando o colostro. Depois deste período o terneiro (macho) é vendido ou doado. Para continuar o aleitamento da(s) terneira(s), seleciona-se uma vaca ou mais, dependendo da necessidade, que estejam no terço final da lactação e tenham prenhez confirmada e, leva-se, duas vez ao dia, até a(s) gaiola(s) móvel(eis) para a(s) terneira(s) mamar(em). A partir do décimo, até os 90 dias, as terneiras recebem como complemento alimentar ração comercial granulada. Dos 60 dias, até os seis meses as terneiras são manejas em área de pastagem específica, dividida em piquetes e recebem como complemento alimentar rolão de milho misturado com farelo de soja. Após os seis meses elas passam a participar do lote de novilhas que não têm peso nem idade para cobertura. 106 Figura 7 – Vaca-ama amamentando a(o) terneira(o) na propriedade da família de Olintho Ficcagana. 09/06/00. Valmir Dartora 3.6 RAÇA E SELEÇÃO Para produzir-se leite à base de pasto é necessário ter-se animais adaptados a estas condições e/ou trabalhar com cruzas de raças, no sentido de obter-se animais que tenham rusticidade, grande capacidade de ingerir pasto e que sejam produtivos. Tendo isso presente, o agricultor está utilizando cruzamento entre as raças Holandês, Jersey e Gir leiteiro. As novilhas sempre são cobertas com touro ou sêmen da raça Jersey. Nas coberturas subsequentes, dependendo do genótipo do animal, para os mais azebuados são utilizados touro ou sêmen da raça Holandês, para os animais com sangue mais europeu são utilizados touro ou sêmen da raça Gir leiteiro. Atualmente a raça que predomina no plantel é a Holandês cruzada. Porém, fruto destes novos cruzamentos, já existem novilhas cobertas na propriedade. 107 3.7 SANIDADE O manejo adequado dos animais e das pastagens são itens que contribuem muito na sanidade do rebanho. Outro aspecto importante é trabalhar com animais adaptados às condições de cada projeto ou propriedade especificamente. A falta de adaptação pode desencadear sérios, crônicos e insolúveis problemas de sanidade. Portanto, adotando técnicas de manejo adequadas para as pastagens, para os animais em todas as fases da criação e trabalhando com animais adaptados, é possível ter-se animais sadios, com uso mínimo de produtos veterinários. No entanto, deve-se ter atenção às doenças infectocontagiosas como tuberculose, brucelose e mamite; aos endoparasitas (verminoses) e aos ectoparasitas como berne e carrapato, mosca do chifre e miíases (“ bicheiras”). 3.7.1 TUBERCULOSE E BRUCELOSE No rebanho leiteiro não deve existir animal portador de tuberculose e de brucelose. No mínimo uma vez por ano, devem ser feitos os testes específicos em todos os animais e eliminação sumária dos portadores. Para brucelose é recomendado vacinar as terneiras entre quatro a oito meses de idade. Na propriedade os testes de tuberculose e brucelose são feitos todos os anos, de acordo com a recomendação. Outras doenças mais recentes, como a leucose e a IBR, devem receber os mesmos cuidados. Estas preocupações devem se estender também aos animais adquiridos, inclusive antes de entraram na propriedade. 3.7.2 MAMITE A mamite é controlada com alimentação correta, animais adaptados, instalações e equipamentos de ordenha adequados e principalmente muita higiene e manejo correto na ordenha. O sistema de aleitamento da terneira também pode ser importante na prevenção da mamite. Para diagnosticar a mamite deve-se realizar antes de cada ordenha o teste do caneco de fundo preto e a cada semana o teste da raquete (CMT -California Mastite Teste). Outra prática que tem contribuído muito na 108 redução de mamite e recomendada pelos professores MACHADO, L.C.P & DA ROSA, A.C.M. do DZDR, é a imersão dos tetos após cada ordenha numa emulsão feita com chá de carqueja e sabão caseiro. Além de ser eficiente, não contamina o leite. Na propriedade o diagnóstico de mamite é feito semanalmente, através do caneco de fundo preto e em caso de dúvida utiliza o teste da raquete. A ocorrência de mamite, em média nos últimos anos, é de dois casos por ano e o tratamento é feito com produtos convencionais. Como produto de proteção dos tetos, após cada ordenha, utiliza-se chá de malva. 3.7.3 VERMINOSES As verminoses ocorrem com alta freqüência e causam muitos danos em animais jovens. Por isto, até os dois anos de idade os animais necessitam ser desverminados com maior freqüência, esta freqüência aumenta, quanto menor a idade. Na propriedade, os animais com até seis meses de idade são desverminados uma vez por mês. Após esta idade e nos demais animais, as desverminações são realizadas a cada seis meses. Exceto as vacas em lactação, estas são desverminadas no período que estão secas. Os produtos utilizados são convencionais. O prof. A.C.M. DA ROSA (2001), da UFSC, não recomenda desverminar animais até os 3 meses de idade para que eles possam desenvolver resistência. Os animais adultos poderão dispensar a aplicação de vermífugos. Quando necessário, no máximo duas aplicações por ano, no outono e na primavera. Outro aspecto importante é variar, a cada aplicação, o princípio ativo do vermífugo, para que não surjam cepas de vermes resistentes. O mesmo professor alerta para os riscos do uso abusivo das ivermectinas ou produtos similares, por vários motivos, inclusive ecológicos, pois reduzem a decomposição da bosta, fator fundamental na ativação da vida do solo. Em relação ao uso de ivermectinas ou similares é necessário alertar os agricultores, pois a grande maioria não sabe, que em vacas em lactação não se deve aplicar estes produtos, a recomendação é feita pelos próprios fabricantes e está transcrita nas bulas destes produtos. Outro alerta é a rigorosa observação do período de carência no caso de aplicação de vermífugos para vacas em lactação. 109 3.7.4 ECTOPARASITAS As infestações por ectoparasitas podem ser atenuadas através do manejo adequado dos pastos e animais adaptados. Neste caso destaca-se a contribuição e a importância dos cruzamentos com a raça Gir leiteira. Os animais de pelagem clara estão naturalmente mais protegidos contra o ataque dos parasitas. Na propriedade o controle de berne, carrapato, mosca do chifre e bicheiras é feito de acordo com a incidência, através de pulverizações e/ou aplicação tópicas de produtos convencionais. Novamente alerta-se para os riscos da contaminação do leite, do ambiente e da pessoa que irá aplicar o produto. Todo o cuidado ainda será pouco. Alguns agricultores estão utilizando, com resultados positivos, produtos naturais e ou, que não contaminam o ambiente. É o caso de Deodato Delfis, da comunidade Lote 14, município de Frei Rogério/SC. Este agricultor há mais de seis anos, usa alho misturado à cinza de palha de feijão e ao sal mineral como única forma de controlar endo e ectoparasitas do seu rebanho. Outro agricultor que também está usando essa mistura (alho + cinza de palha de feijão + sal mineral) para os animais é o Sr. Liseu Meier do município de Dionísio Cerqueira. Os resultados positivos dessa mistura foram constatados no trabalho realizado por SILVEIRA et al. (2000) e publicado na revista Agroecologia e Agricultura Familiar, publicação da rede Ecovida de Agroecologia. 3.8 PROCESSAMENTO, TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE LEITE E QUEIJO Um dos objetivos do projeto, no sentido de agregar valor ao produto leite, era que os agricultores, também desenvolvessem na propriedade as fases de processamento, transformação e comercialização de leite “in natura” e queijo no mercado local. Tendo isto em vista, na propriedade foi construído um centro de ordenha e adjacente ao centro, uma sala para pasteurização de leite, e uma sala para fabricação de queijo. Um aspecto importante a ser ressaltado é que tanto as instalações como os equipamentos são funcionais, higiênicas e duradouras, porém de custo compatível com a realidade das pequenas unidades de produção. Na propriedade o leite é envasado em embalagens plásticas, pasteurizado através de 110 processo de pasteurização lenta e comercializado nos municípios de Serra Alta e Modelo, com a marca FIBO, desde de 1993. A figura 8, mostra a sala e os equipamentos usados para envasar e pasteurizar o leite. No início, em face dos produtos serem desconhecidos, eram vendidos 50 litros de leite por semana e alguns quilos de queijo, quantidade muito pequena diante da produção diária de 160 litros de leite. Com o passar do tempo e trabalho de divulgação, através de panfletagem e anúncios na rádio local, houve uma boa evolução na demanda pelos produtos. Atualmente a família Ficcagna vende em média 120 litros de leite por dia e 40 kg de queijo por semana, da produção média diária de 190 litros de leite. Parte do leite, em torno de 60% e do queijo (80%) são comercializados com estabelecimentos comerciais (mercados, padarias, açougues...) e a outra parte é comercializa diretamente aos consumidores, com entrega nas residências. O preço médio de venda do leite é de R$ 0,55 por litro e do queijo de R$ 3,50 por kg, em maio de 2001. Figura 8 – Sala de envase e pasteurização do leite na propriedade da família de Olintho Ficcagana. 09/06/00. Valmir Dartora 111 3.9 ADMINISTRAÇÃO A utilização de técnicas de administração e gerenciamento da propriedade rural além de auxiliar na tomada de decisão dos agricultores é fundamental para diagnosticar os problemas existentes, obter indicadores técnicos e econômicos das atividades, que possibilitam a proposição de planos de melhorias a serem implantados e avaliar os resultados obtidos com a adoção das mesmas. A produção de leite à base de pasto exige do agricultor um diálogo com a natureza. Isto é, primeiro o agricultor deve compreender, para depois manejar os recursos disponíveis, de forma a otimizar as interações entre os componentes bióticos e abióticos do ecossistema. O desafio dessa produção é administrar tecnologias de processos e não tecnologias de produtos. Daí porque o produtor precisar ser um agricultor-pastor. Na propriedade, o manejo adotado no sistema de produção de leite busca otimizar os recursos disponíveis, tendo presente os aspectos ambientais. Além dos aspectos de produção, é muito importante quando se desenvolvem outras fases, usar tecnologias que mantenham a qualidade dos produtos e possam atender as exigências da legislação e dos consumidores. Nesse sentido, a família Ficcagna pasteuriza leite integral e produz um tipo de queijo intermediário entre o prato e o minas frescal, que tem boa aceitação no mercado. Outro aspecto a se destacar, proporcionada pela comercialização e a abrangência do mercado, é a aproximação do agricultor ao consumidor. Esta relação traz satisfação para a família que produz, por conhecer os consumidores e os consumidores, por conhecerem a origem dos produtos e muitos conhecerem, inclusive, o sistema de produção. Em relação à administração dos recursos financeiros a propriedade adota um sistema de acompanhamento, orientado pela APACO, que permite obter informações sistematizadas sobre compras (insumos e fatores) e vendas (produtos e animais) e avaliar os resultados obtidos, auxiliando no gerenciamento e na tomada de decisão da família sobre a administração da propriedade. Apesar das dificuldades a família sente-se vitoriosa por fazer parte do conjunto dos agricultores que ainda permanecem e resistem nesta valiosa profissão, que maneja os recursos naturais para produzir alimentos e matérias-primas, para sustento de suas famílias e parte das populações urbanas. 112 CAPÍTULO IV 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE Os resultados obtidos nos levantamentos realizados em 15 propriedades, uma na microrregião de Chapecó no estado de Santa Catarina e 14 na microrregião de Erechim no estado do Rio Grande do Sul, são apresentados na tabela 28. Tabela 28 - Classificação dos sistemas de produção de leite obtidos nos levantamentos de campo em abril e maio de 2001 Agricultor % alimentos pastoreio % alimentos cocho Classificação sistema produção (¹) 7 91 9 Pastoril 8 85 15 Pastoril 15∗ 79 21 Pastoril 2 66 34 Semi-intensivo 3 64 36 Semi-intensivo 4 60 40 Semi-intensivo 11 58 42 Semi-intensivo 12∗ 51 49 Semi-intensivo 14 64 35 Semi-intensivo 1∗ 48 52 Intensivo cocho 5∗ 40 60 Intensivo cocho 6 44 56 Intensivo cocho 9 38 62 Intensivo cocho 10∗ 44 56 Intensivo cocho 13∗ 38 62 Intensivo cocho ∗ produtores não vinculados à indústria. (¹) sistema intensivo, quando os animais recebem mais que 50% dos alimentos no cocho; semi-intensivo, de 20 - 50%; e, pastoril, menos de 20%. Obs: Na classificação do produtor número 15, pela proximidade do índice em relação ao tipo pastoril, optou-se pelo enquadramento nesse sistema. 113 Na tabela 28, observa-se que dos nove agricultores vinculados à industria, cinco desenvolvem sistemas semi-intensivos, dois sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho e dois sistemas pastoris. Dos cinco agricultores não vinculados à indústria, no RS, quatro desenvolvem sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho e um, semi-intensivo. Os dados mostram que houve diferença entre a indicação feita pelos técnicos e os resultados obtidos na classificação. Porém, essa diferença não interfere na análise do estudo. Em Santa Catarina, os dados são referentes ao projeto piloto desenvolvido pela família de Olintho Ficcagana. A classificação dos sistemas de produção de leite foi realizada através dos dados fornecidos pelos agricultores; análise técnica feita nas áreas de pastagem, na oportunidade das visitas nas propriedades; formas de utilização dos pastos; e, nível de fertilizantes utilizados nas áreas das forrageiras. Baseado nesses dados, estimou-se a quantidade diária de matéria seca (MS) dos alimentos volumosos como: forragem disponível nas áreas de pastoreio; forragem cortada e fornecida aos animais: milho pé inteiro, cana-de-açúcar, milheto, teosinto, capim elefante, sorgo forrageiro, papuã, aveia e azevém; milho desintegrado com palha e sabugo (rolão de milho); milho em espiga não desintegrado; raiz de mandioca; resíduos de milho, trigo e cevada, oriundos de unidades de beneficiamento de grãos; e, silagem; e dos alimentos concentrados como: grãos de milho, cevada, triguilho, triticale e soja; farelos de trigo e de soja; casquinha de soja; e, concentrado comercial. A tabela 29, mostra as quantidades diárias estimadas de MS dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados fornecidos por unidade animal (UA), de peso vivo equivalente a 450 kg, em cada sistema de produção. Analisando a tabela 29, observa-se que em média nos sistemas pastoris, a quantidade de forragem em MS, que cada UA tem disponível para pastoreio por dia, é 3,91 kg a mais do que nos sistemas semi-intensivos e 5,72 kg a mais do que nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho. Tendo presente que, as quantidades diárias estimadas em quilos de MS, disponíveis e/ou fornecidos, dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados para cada UA, nos três sistemas, conforme tabela 30, são em média de 11,89 kg, as diferenças das quantidades de MS que cada UA tem disponível para pastoreio por dia, representa mais mão-de-obra para cortar o pasto e fornecer aos animais e/ou a substituição do pasto destinado ao pastoreio por outros alimentos volumosos e/ou alimentos 114 Tabela 29 – Quantidades diárias estimadas, em kg de MS dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados fornecidos por UA, em cada sistema de produção Sist e- Pasto- Pasto reio Cana Raiz corte açúcar Sila- Resí- Milho gem duos rolão Grãos Farelo Casca soja ma kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS kg MS / / / / / / / / / / Concentrad o kg MS / UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia UA/dia P 13,83 - - - - - - 0,94 0,36 - - P 10,99 - - - - - - 1,87 - - - P 7,39 - - - - - 1,31 - 0,68 - - M 10,73 - - - - - 0,43 0,93 0,34 - - S 6,92 2,01 - 0,88 - - 0,70 - - - - S 6,82 1,63 0,24 - - - - 1,93 - - - S 8,35 - - - 3,07 1,90 - 0,48 - - - S 6,80 - - - - 0,61 3,41 - 0,53 0,43 - S 6,64 1,61 - - - - - 3,95 - - 0,72 S 5,44 0,92 - - - - - 2,13 - - - M 6,82 1,02 0,04 0,14 0,51 0,41 0,68 1,41 0,08 0,07 0,12 C 5,97 - - - 1,86 - 3,71 0,78 - - - C 4,34 2,78 - 0,28 - - - 3,19 - - 0,20 C 6,69 - - - 4,62 - 0,26 3,54 - - - C 4,33 1,64 - - - - 4,09 1,39 - - - C 4,11 1,24 - - - - - 2,58 1,35 - - C 4,63 - - - 3,16 1,46 - 2,29 0,78 - - M 5,01 0,94 - 0,04 1,60 0,24 1,34 2,29 0,35 - 0,03 Legenda: M = média, P = pastoril, S = semi-intensivo e C = intensivo no cocho concentrados, tendo como consequência maior penosidade do trabalho desenvolvido pelo produtor e maior custo de produção. Dos seis sistemas semi-intensivos, quatro fornecem pasto cortado aos animais, porém em um sistema todo o pasto das pastagens de verão é cortado e fornecido aos animais no cocho e/ou no potreiro. Nesses sistemas, além do pasto cortado, um sistema fornece cana-de-açúcar e outro raiz de mandioca. Só um dos sistemas semi-intensivos usa silagem. 115 Nos sistemas intensivos, dos seis agricultores, três cortam todo o pasto das pastagens de verão e fornecem aos animais no cocho e/ou no potreiro. Nesses sistemas, além, do pasto cortado, um sistema fornece raiz de mandioca para os animais. A prática de cortar pasto e fornecer aos animais não é utilizada nos sistemas pastoris. Três, dos seis sistemas intensivos usam silagem. Os sistemas pastoris de produção não utilizam silagem, no entanto, o número de sistemas que utiliza silagem representa 27% dos estudados. Os resíduos de milho, trigo e cevada, oriundos de unidades de beneficiamento de grãos, são utilizados em três sistemas. Em relação aos alimentos concentrados, seis sistemas utilizam rolão de milho; 12 sistemas usam grãos de milho, cevada, triguilho, triticale e soja; cinco sistemas utilizam farelos de trigo e soja; um sistema usa casquinha de soja e dois utilizam concentrado comercial. Na tabela 30 estão as quantidades diárias estimadas de MS dos alimentos volumosos (disponíveis e fornecidos) e dos alimentos concentrados fornecidos para cada UA, de acordo com os sistemas de produção utilizados nas propriedades. Na tabela 30, verifica-se que, em média, nos sistemas pastoris, as quantidades de alimentos volumosos disponíveis e/ou fornecidas aos animais são 1,76 kg de MS/UA/dia a mais do que nos sistemas semi-intensivos e 2,88 kg a mais do que nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho. Esta diferença, para os sistemas semi-intensivos, representa 642,40 kg de MS/UA/ano e, para os sistemas intensivos, 1.051,20 kg. Em relação aos alimentos concentrados, nos sistemas semi-intensivos e intensivos, as quantidades fornecidas aos animais, em média são 0,66 kg de MS/UA/dia e 2,30 kg, respectivamente, a mais do que nos sistemas pastoris. Esta diferença, nos sistemas semi-intensivos, representa uma quantidade de 240,90 kg de MS/UA/ano e nos sistemas intensivos uma quantidade de 839,50 kg. Embora, hajam boas diferenças nominais nas quantidades disponíveis e/ou fornecidas aos animais de alimentos volumosos e concentrados, entre os sistemas de produção, as quantidades totais médias que cada UA tem disponível e/ou recebe de alimentos (volumosos e concentrados) por dia, apresentam diferenças muito pequenas. A tabela 31, mostra as áreas dos potreiros e das pastagens perenes e anuais de verão e inverno utilizadas nos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades. 116 Tabela 30 – Quantidades diárias dos alimentos volumosos e dos alimentos concentrados disponíveis e/ou fornecidos para cada UA estimadas em quilos de MS Sistema Alimentos volumosos produção kg MS / UA / dia Alimentos concentrados kg MS / UA / dia Total alimentos kg MS / UA / dia Pastoril 13,83 1,30 15,13 Pastoril 10,99 1,87 12,86 Pastoril 7,39 1,99 9,38 Média 10,73 1,72 12,45 Semi 9,81 0,70 10,51 Semi 8,69 1,93 10,62 Semi 13,32 0,48 13,80 Semi 7,41 4,37 11,78 Semi 8,25 4,67 12,92 Semi 6,36 2,13 8,49 Média 8,97 2,38 11,35 Cocho 7,83 4,49 12,32 Cocho 7,40 3,39 10,79 Cocho 11,31 3,80 15,11 Cocho 5,97 5,48 11,45 Cocho 5,35 3,93 9,28 Cocho 9,25 3,07 12,32 Média 7,85 4,02 11,87 Média geral 8,87 2,90 11,78 Analisando a tabela 31, observa-se que os sistemas pastoris de produção possuem, em média, 6,21 ha com áreas de potreiros, enquanto os sistemas semiintensivos têm, em média, 1,79 ha e, os sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho possuem, em média, 2,36 ha. Dos três sistemas pastoris, dois têm áreas de potreiros melhorados (divisão de área, introdução de leguminosas e uso de fertilizantes), sendo que, em um sistema, o melhoramento feito nos 3,0 ha foi iniciado no ano de 2001. Nos sistemas semi-intensivos e intensivos, as áreas dos potreiros são utilizadas sem nenhum melhoramento, exceto um sistema intensivo, que utiliza adubação orgânica (dejetos de suínos) em 2,0 ha. Em relação às áreas 117 de potreiro, das três propriedades, onde os sistemas pastoris são desenvolvidos, duas usam as áreas como local de produção de forragem e todas as outras propriedades, independente de sistema, utilizam as áreas mais como local de permanência dos animais. Os sistemas pastoris de produção em média têm 3,22 ha de áreas de pastagens perenes de verão e não possuem áreas de pastagens anuais de verão. Os sistemas semi-intensivos têm, em média, 1,76 ha de áreas de pastagens perenes de verão e possuem em média 1,38 ha de áreas de pastagens anuais de verão. Dos seis sistemas semi-intensivos, três possuem áreas de pastagens perenes de verão e apenas um não possui áreas de pastagens anuais de verão. Nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho, as áreas de pastagens perenes de verão, em média são de 0,38 ha e somente um sistema não a possui. Apesar de praticamente todos os sistemas intensivos terem pastagens perenes de verão, as áreas são muito pequenas e, em geral, as pastagens são implantadas nas curvas de nível das áreas de lavouras. Ainda, nesses sistemas as áreas das pastagens anuais de verão, em média, são de 1,72 ha e somente um sistema não a possui. Analisando os dados em relação as áreas das pastagens perenes e anuais de verão, observa-se que, principalmente onde os sistemas intensivos são desenvolvidos, há muito mais áreas de pastagens anuais, do que áreas de pastagens perenes. Isso traz consequências, como por exemplo: deixa os sistemas mais vulneráveis no momento da implantação e estabelecimento das pastagens e eleva o custo de produção, porque, de modo geral, as pastagens anuais possuem maior custo de produção. Em relação às pastagens perenes e anuais de inverno observa-se que somente um sistema de produção tem pastagem perene, composta por trevo branco x trevo vermelho x azevém e outras espécies. Embora a consorciação tenha espécie anual e bianual na composição, a pastagem pereniza-se, através de ressemeadura natural. Nos três sistemas de produção, as médias das áreas com pastagens de inverno são muito semelhantes. Dos três sistemas pastoris, um utiliza leguminosas em consorciação com gramíneas. Esta prática é muito importante para o sistema de produção porque, além de melhorar a qualidade da forragem, incorpora nitrogênio ao solo. Nas 15 propriedades as pastagens anuais de inverno são cultivadas nas áreas de lavouras de verão. 118 119 Embora, a sucessão lavoura x pastagem seja uma alternativa muito importante na produção de forragem para os animais no período de inverno e início da primavera, é muito importante ter-se uma área de pastagem perene de inverno. Esta área reduz os problemas de disponibilidade de pasto no momento da implantação e estabelecimento das pastagens anuais de inverno, da implantação das lavouras de verão e muitas vezes nos períodos prolongados de estiagem. Desta forma, os sistemas que não possuem pastagens perenes de inverno, ficam mais vulneráveis às condições climáticas e à disponibilidade de forragem aos animais. 4.2 MÉTODOS DE PASTOREIO Nos sistemas estudados o pastejo ou os métodos de pastoreio8 encontrados foram contínuo, rotativo e Pastoreio Racional Voisin (PRV). Neste trabalho, o pastejo contínuo é entendido como a utilização de uma pastagem numa área não dividida e o pasto usado sem observância da taxa de crescimento da pastagem (oferta de pasto) e da taxa de lotação (carga animal). O método de pastoreio rotativo é a utilização de uma pastagem numa área dividida em determinado número de piquetes e o pastoreio conduzido sem observância de tempos de ocupação e de repouso adequados. O método de Pastoreio Racional Voisin é a utilização de uma pastagem numa área dividida em piquetes, o número que for necessário, para conduzir-se o pastoreio com observância de tempos de ocupação e de repouso adequados. A diferença básica é que no método de pastoreio rotativo as áreas de pastagens são divididas em menor número de piquetes do que no PRV. Este aspecto, dificulta ou até impede ao condutor do pastoreio a observância de tempos de ocupação e de repouso adequados. A divisão das áreas das pastagens em menor número de piquetes se deve, basicamente aos custos e a maior complexidade no manejo. Na tabela 32, são especificados os métodos de pastoreio utilizados nas áreas das pastagens em cada sistema de produção. 8 Pastoreio implica a presença do pastor; pastejo é o uso (consumo) do pasto pelos animais, sem a condução humana. Uso contínuo (extensivo), é pastejo; no PRV, pastoreio (MACHADO, 2000). 120 Tabela 32 – Áreas de pastagens e métodos de pastoreio utilizados em cada sistema de produção Sistemas Métodos Produção pastoreio Potreiros Contínuo 2 - - Rotativo - 2 2 Voisin 1 1 1 Semi - Contínuo 6 - - Intensivo Rotativo - 6 6 Voisin - - - Intensivo no Contínuo 6 - - Cocho Rotativo - 6 6 Voisin - - - Pastoril Número de sistemas Perenes e Perenes e anuais de inverno anuais de verão Obs: Os algarismos indicam a quantidade de sistemas em cada método de pastoreio de acordo com a pastagem utilizada. Analisando a tabela 32, observa-se que dos quinze sistemas, em somente um, todas as pastagens são utilizadas através do método de Pastoreio Racional Voisin. Neste sistema as áreas foram divididas com critério e as pastagens são utilizadas com observância dos tempos de ocupação e de repouso adequados. Este é o sistema desenvolvido pela família de Olintho Ficcagna. Quatorze, dos 15 sistemas utilizam as áreas de potreiro através do pastejo contínuo. Estes sistemas, também utilizam as áreas das pastagens perenes e anuais de verão e de inverno, através do método de pastoreio rotativo. De modo geral estas áreas são divididas sem critério e as pastagens utilizadas sem observância dos tempos de ocupação e de repouso adequados. As áreas de potreiros são utilizadas mais como local de permanência dos animais do que como local de produção de forragem. As pastagens dos potreiros, de modo geral, por causa da alta lotação estão sempre rapadas, devido a este visual “pastagens sempre rapadas” tem-se como entendimento que as pastagens dos potreiros são de baixa produção. A primeira prática de melhoramento é substituir essas pastagens por outras espécies supostamente de melhor qualidade e produtividade. Este procedimento, evidencia o baixo valor potencial dado às pastagens naturalizadas e/ou nativas dos potreiros. 121 Já para as pastagens implantadas, independente da espécie e da estação do ano, todos os sistemas de produção adotam certo critério quanto à divisão das áreas e certa observância quanto aos tempos de ocupação e de repouso. Isso demonstra o valor potencial dado às pastagens implantadas em relação às pastagens dos potreiros. No entanto, de modo geral, os maiores problemas das áreas de potreiro não estão na produção das pastagens, e sim na lotação (carga animal) usada nessas áreas, na forma como os pastos são manejados e, na falta de espécies leguminosas e de adubação. 4.3 INDICADORES PRODUTIVOS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE Os indicadores produtivos expressam os resultados das interações dos fatores que compõem os sistemas de produção. Na tabela 33, estão os resultados obtidos nos sistemas de produção estudados. Na tabela 33, verifica-se que, em média, nos sistemas pastoris a produtividade é 3,24 e 3,66 litros / vaca / dia maior do que nos sistemas semi-intensivos e intensivos, respectivamente. Esta diferença, nos sistemas semi-intensivos, representa uma quantidade de 1.182 litros/vaca/ano e nos sistemas intensivos uma quantidade de 1.335 litros. Em relação aos indicadores produtivos, um dos resultados esperados era que, os sistemas de uso intensivo de alimentos no cocho tivessem maior produtividade. Tendo em vista que, conforme tabela 30, estes sistemas fornecem 1,69 e 2,34 vezes mais alimentos concentrados aos animais que os sistemas semi-intensivos e pastoris, respectivamente. Também, porque são os sistemas que usam mais silagem, reduzindo os problemas de disponibilidade de forragem nos períodos de estabelecimento das forrageiras, estiagens e nas flutuações estacionais de produção das pastagens. 122 Tabela 33 – Indicadores produtivos dos sistema de produção Sistema produção Produção / vaca / dia ano (1) (litros) Produção / vaca / dia (2) Pastoril 14,26 17,35 Pastoril 9,84 11,96 Pastoril 8,51 10,35 Média 10,87 13,22 Semi 7,62 9,27 Semi 6,44 7,84 Semi 10,48 12,75 Semi 5,70 6,92 Semi 8,75 10,64 Semi 6,79 8,26 Média 7,63 9,28 Cocho 7,25 8,82 Cocho 3,74 4,54 Cocho 6,72 8,17 Cocho 6,69 8,13 Cocho 6,39 7,77 Cocho 12,52 15,22 Média 7,21 8,77 lactação (litros) (1) Esse indicador produtivo foi obtido, dividindo-se a produção total de leite do ano, pelo número de vacas e por 365 dias. (2) Esse indicador produtivo foi obtido, dividindo-se a produção total de leite do ano, pelo número de vacas e por 300 dias, período de lactação. Porém, nesse estudo, os sistemas intensivos foram, em média, os menos produtivos. Talvez alguns dos fatores que podem ajudar a responder o porquê são: primeiro, nesses sistemas as forragens cortadas e/ou conservadas e/ou o manejo das pastagens façam com que os animais ingiram alimentos volumosos de baixa qualidade comparado com os outros sistemas. Segundo, os animais utilizados nos sistemas não respondem a quantidades maiores de alimentos concentrados e, terceiro, a forma como é administrada a atividade tem influência decisiva sobre os resultados obtidos. 123 4.4 RESULTADOS ECONÔMICOS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE Quando se desenvolve uma atividade, é básico conhecer seu resultado econômico. Por isso, nesta seção analisaremos os resultados econômicos dos sistemas de produção estudados, tendo-se por base os custos de produção, calculados através da planilha de custos da atividade leiteira do Instituto CEPA-SC. O custo de produção dessa planilha é formado pelos custos variáveis e fixos. Os custos variáveis são alimentação, sanidade e outras despesas (energia elétrica, inseminador, dose sêmen, mão-de-obra, comercialização, Funrural...). Os custos fixos são: manutenção e depreciação das instalações, cercas e equipamentos, impostos e taxas da terra, administração e remuneração do capital fixo (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra). A análise será iniciada pelos valores monetários mensais dos custos de produção de leite, queijo e pasteurização, de cada sistema de produção. Os valores monetários mensais dos custos, nas diferentes fases (produção, processamento e transformação) estão na tabela 34. Na tabela 34, observa-se que nos sistemas pastoris, um sistema, o desenvolvido pelo agricultor 7, apresenta o custo/vaca, 83% e 47% maior do que dos agricultores 8 e 15, respectivamente. Isso porque o sistema desenvolvido pelo agricultor 7, possui custo variável 76% e 37% e, custo fixo de 97% e 72% maior do que dos agricultores 8 e 15, respectivamente. Dentre os sistemas semi-intensivos, o desenvolvido pelo agricultor 12, apresenta o custo/vaca, 54% maior do que a média dos outros cinco sistemas. Isso porque o sistema desenvolvido pelo agricultor 12, possui custo variável 52% e custo fixo 58% maior do que a média dos outros cinco sistemas. Nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho, o desenvolvido pelo agricultor 6, apresenta o custo/vaca, 35% maior do que a média dos outros cinco sistemas. Isso porque o sistema desenvolvido pelo agricultor 6, possui custo variável 34% e custo fixo 39% maior do que a média dos outros cinco sistemas. 124 Tabela 34 – Valores monetários mensais dos custos de produção do leite, queijo e pasteurização de cada sistema de produção Sistema produção Agri- Valor custo Valor custo Valor custo Valor custo Valor total por vaca produção pasteucultor produção custos queijo leite rização R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês (nº) 7 838,53 119,79 - - 838,53 8 978,94 65,26 - - 978,94 15 1.783,49 81,06 63,14 366,94 2.213,57 - 1.200,32 88,70 - - 1.343,68 2 881,50 73,45 - - 881,50 3 342,51 68,50 - - 342,51 Semi- 4 1.299,76 99,98 - - 1.299,76 Intensivo 11 1.517,98 89,29 - - 1.517,98 12 608,63 121,72 76,27 - 684,90 14 693,78 63,07 - - 693,78 - 890,69 86,00 - - 903,40 1 1.291,37 86,09 189,43 - 1.480,80 5 637,41 79,67 61,32 - 698,73 6 1.004,01 125,50 - - 1.004,01 9 434,87 86,97 - - 434,87 10 1.423,96 109,53 128,45 - 1.552,41 13 2.776,18 99,14 656,91 - 3.433,09 - 1.261,30 97,81 - - 1.433,98 Pastoril Média Média Cocho Média Obs: Esses valores são originados dos custos de produção, memória de cálculo (anexo 5). Incluiu-se o custo por vaca para visualizar melhor a diferença dos custos entre os sistemas. Os resultados mostram que nos três sistemas de produção, o custo fixo teve maior influência no diferencial entre os custos. Por isso, quando se faz o planejamento de um sistema de produção deve-se ter presente o custo dos equipamentos, das instalações e das cercas e, quanto esses custos representam do custo total do empreendimento. Por exemplo, quanto a compra de um resfriador de expansão, feita por um agricultor que vende 30 litros de leite/dia, representa do custo total do leite? 125 Ainda, se analisarmos o custo/vaca, não contabilizando o maior custo de cada sistema, tem-se para o sistema pastoril um custo médio/vaca de R$ 73,16 / mês, para o semi-intensivo de R$ 78,85 / mês e para o intensivo de R$ 92,28 / mês. Assim, observa-se que o custo/vaca aumenta do sistema pastoril para o semiintensivo e desse para o intensivo de uso de alimentos no cocho. Na tabela 35, são apresentados os valores monetários mensais da receita bruta da atividade leiteira, dos custos totais, custo total, por litro de leite e a renda líquida de cada sistema de produção. A renda líquida foi obtida, deduzindo-se da receita bruta os custos totais. Analisando a tabela 35, observa-se que das 15 propriedades estudadas, apenas quatro possuem renda líquida positiva, representando 26% das propriedades. Todas as propriedades com sistemas pastoris de produção apresentam renda líquida positiva. As propriedades com sistemas semi-intensivos apresentam renda líquida negativa. Somente uma das propriedades, onde os sistemas intensivos são desenvolvidos, possui renda líquida positiva. Porém, na análise desses resultados deve-se ter presente que, além dos sistemas de produção utilizados nas propriedades, existem outros fatores que têm influência sobre o retorno econômico da atividade. Esses fatores são representados, principalmente pelas fases realizadas pelos produtores após à produção, como processamento, transformação e comercialização do leite e/ou produtos derivados. Em relação ao custo total, por litro de leite, nos sistemas semi-intensivos e intensivos, os custos totais, em média, são respectivamente, de R$ 0,09 e R$ 0,21 / litro maior do que nos sistemas pastoris. Esses resultados mostram que os custos se elevam na medida em que os sistemas de produção vão passando de pastoril para semi-intensivo e intensivo. Sobre os resultados da renda líquida, é importante realizar uma outra análise, na qual os componentes de custos de produção como mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra), não sejam incluídos como custos, e sim como oportunidade de remunerar estes componentes, em cada fase que os agricultores desenvolvem, desde o sistema produtivo, processamento, transformação e comercialização. 126 Tabela 35 - Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos totais, custo total, por litro de leite e a renda líquida de cada sistema de produção Sistema produção Valor receita bruta Valor custos totais Valor custo total Valor renda líquida (nº) R$ / mês R$ / mês R$ / litro R$ / mês 7 1.070,66 838,53 0,25 232,13 8 1.280,00 978,94 0,18 301,06 15 2.859,67 2.213,57 0,29 646,10 - 1.736,77 1.343,68 0,24 393,09 2 791,67 881,50 0,27 - 89,83 3 267,33 342,51 0,32 - 75,18 Semi- 4 1.147,33 1.299,76 0,28 - 152,43 Intensivo 11 931,66 1.517,98 0,44 - 586,32 12 533,33 684,90 0,43 - 151,57 14 654,34 693,78 0,26 - 39,44 - 720,94 903,40 0,33 - 182,46 1 1.275,33 1.480,80 0,36 - 205,47 5 344,17 698,73 0,63 - 354,56 6 456,67 1.004,01 0,57 - 547,34 9 275,33 434,87 0,39 - 159,54 10 1.087,67 1.552,41 0,52 - 464,74 13 4.258,33 3.433,09 0,24 825,24 - 1.282,91 1.433,98 0,45 - 151,06 Pastoril Média Média Cocho Média Agricultor Obs: A receita bruta é composta pela venda de leite para à indústria, venda de leite e queijo em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores, e venda de animais de descarte e/ou novilhas excedentes do plantel. Incluiu-se o custo total, por litro de leite, para visualizar melhor a diferença dos custos entre os sistemas. Os valores monetários dos componentes de custos de produção (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo) e os resultados desta nova análise estão nas tabelas 36 e 37. Na tabela 36, estão os valores monetários mensais da mão-de-obra e administração das fases que os produtores realizam, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades. 127 Tabela 36 – Valores monetários mensais da mão-de-obra e administração das fases realizadas pelos produtores, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades Sistema produçã o Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor total mão-de- mão-de- mão-de- mão-de- adminis- adminisobra obra obra obra tração tração mão-deobra e (M1) (M2) (M3) (M4) (A1) (A2) adminis. R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês R$ / mês 84,38 - 16,88 - 43,66 - 144,72 185,63 - - - 52,71 - 238,34 253,13 27,00 50,63 50,63 99,57 27,26 508,22 174,38 - - - 65,31 - 297,09 270,00 - - - 48,96 - 318,96 101,25 - - - 20,62 - 121,87 Semi- 135,00 - - - 75,10 - 210,10 intensivo 270,00 - - - 78,90 - 348,90 101,25 33,75 20,25 - 44,67 4,87 204,79 168,75 - - - 38,86 - 207,61 174,37 - - - 51,18 - 235,37 236,25 67,50 20,25 - 78,57 10,66 413,23 135,00 33,75 - - 37,82 3,81 210,38 202,50 - - - 61,99 - 264,49 101,25 - - - 27,44 - 128,69 303,75 67,50 20,25 - 89,51 8,68 489,69 405,00 236,25 40,50 - 178,60 39,50 899,85 230,62 - - - 78,98 Pastoril Média Média Cocho Média 401,05 Legenda: (M1) = Valor da mão-de-obra na produção de leite, (M2) = Valor da mão-de-obra na fabricação de queijo, (M3) = Valor da mão-de-obra na comercialização de queijo e/ou leite (M4) = Valor da mão-de-obra na pasteurização do leite, (A1) = Valor administração na produção de leite e (A2) = Valor administração na fabricação de queijo e pasteurização do leite. Na tabela 37 estão os valores monetários mensais da receita líquida da atividade leiteira, mão-de-obra e administração, e remuneração do capital fixo (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra). 128 Tabela 37 – Valores monetários mensais da receita líquida, mão-de-obra e administração, e remuneração do capital fixo das fases que os produtores realizam, relacionadas aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades Sistema produção Valor renda líquida Valor total mão-deobra e adminis. Resultado econômico (A) Valor remuneração Valor remunenação (R1) (R2) R$ / mês R$ / mês Resultados econômicos (B) R$ / mês R$ / mês 232,13 144,72 376,85 161,28 - 538,13 301,06 238,34 539,40 137,54 - 676,94 646,10 508,22 1.154,32 312,06 20,39 1.486,77 393,09 297,09 690,19 203,62 - 900,61 - 89,83 318,96 229,13 181,69 - 410,82 - 75,18 121,87 46,69 44,47 - 91,16 Semi- - 152,43 210,10 57,67 194,58 - 252,25 intensivo - 586,32 348,90 - 237,42 351,59 - 114,17 - 151,57 204,79 53,22 79,80 3,82 136,84 - 39,44 207,61 168,17 130,37 - 298,54 - 182,46 235,37 52,91 163,75 - 217,29 - 205,47 413,23 207,76 179,93 15,70 403,39 - 354,56 210,38 - 144,18 99,98 3,34 - 40,86 - 547,34 264,49 - 282,85 98,40 - - 184,45 - 159,54 128,69 - 30,85 43,81 - 12,96 - 464,74 489,69 24,95 169,52 3,89 198,36 825,24 899,85 1.725,09 267,42 42,29 2.034,80 Pastoril Média Média Cocho R$ / mês R$ / mês - 151,06 401,05 249,98 143,17 404,03 Média Legenda: (A) = Valor renda líquida mais a mão-de-obra e administração, (R1) = Valor remuneração do capital fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra), (R2) = Valor remuneração do capital fixo da fábrica de queijo e da sala de pasteurização (instalações e equipamentos) e (B) = (A) mais (R1) e (R2). Pela tabela 37, vê-se que somente duas propriedades apresentam resultados econômicos negativos. Na análise anterior, havia onze propriedades nessas condições. Todas as propriedades com sistemas semi-intensivos apresentam resultados econômicos positivos, na análise anterior elas apresentaram resultados negativos. Das seis propriedades, onde os sistemas intensivos são desenvolvidos, quatro apresentam resultados econômicos positivos; na análise anterior, somente 129 uma propriedade apresentou resultado positivo. Nesta análise as duas propriedades que apresentam resultados econômicos negativos desenvolvem sistema de produção intensivo. O que se busca com esta nova análise, é demonstrar os resultados econômicos obtidos pelos produtores, quando os componentes de custos de produção como mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, resultante das fases que os produtores desenvolvem, sejam analisados como oportunidade de remuneração, tendo-se por base a renda líquida da atividade. E, também, entender porque o agricultor, mesmo tendo renda líquida negativa, continua desenvolvendo a atividade. Para isso, deve-se ter presente que o agricultor, organiza suas estratégias e toma suas decisões baseado num projeto de vida dele e de sua família. Assim, o trabalho familiar e o capital fixo envolvidos em determinada atividade não podem ser analisados só como custos. Pois normalmente o agricultor avalia a propriedade como um todo e a importância de cada atividade, para então decidir na continuidade ou substituição de determinada atividade. A decisão depende de muitos fatores como mão-de-obra disponível e/ou demandada, necessidade de investimentos, penosidade do trabalho, periodicidade de ingresso de renda, efeito de complementariedade da atividade, resultado econômico, falta de outras oportunidades, entre outros. Devido a isso, muitas vezes o agricultor continua desenvolvendo uma determinada atividade, mesmo que esta apresente renda líquida negativa. Uma das perguntas que se fez aos agricultores foi se eles pretendiam continuar com a atividade leiteira. Dos 15 agricultores pesquisados, 14 responderam que sim. Os principais motivos citados foram “é um dinheiro que entra fora de safra, o queijo dá o rancho da casa, é um ramo que entra dinheiro todos os dias (vende queijo), ganha uma renda mensal pelo mínimo, é o que sei fazer, todo o fim de mês tem dinheiro”. Essas respostas nos remetem a pelo menos duas questões. Primeira, o agricultor desenvolve a atividade porque ela é importantíssima na estratégia de sustento da família e, segunda, porque ele não tem outra(s) oportunidade(s). Talvez essas duas questões ajudem melhor entender porque mesmo tendo renda líquida negativa os agricultores continuam produzindo leite. Porém, nesse contexto um aspecto que preocupa é que muitos agricultores, técnicos e empresas consideram para avaliar os resultados econômicos de uma determinada atividade, somente as despesas realmente efetivadas com a atividade, 130 não computando as despesas de manutenção das instalações e equipamentos e nem os custos de depreciação. No nosso entendimento as análises econômicas feitas através da margem bruta e/ou outros métodos que não consideram as despesas de manutenção das instalações e equipamentos e os custos de depreciação, tem acentuado ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, porque elas não mostram a realidade econômica de uma determinada atividade. Isso, associado à importância que muitas atividades têm para os agricultores, por exemplo, a atividade leiteira, a falta de oportunidades para o setor primário, entre outros fatores, tem provocado a descapitalização e o empobrecimento, principalmente dos pequenos agricultores. Nessa última análise consideramos os componentes (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo), não como custos e sim como oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, envolvido com a atividade. No cálculo foram considerados os custos variáveis e os custos fixos de manutenção, imposto e taxas da terra e depreciação das instalações, cercas e equipamentos, conforme a planilha de custo do leite do Instituto CEPA – SC. Na tabela 38, estão os resultados econômicos obtidos por litro de leite, gerados por esses componentes de custos de produção, resultante das fases que os agricultores realizam, desde a produção, processamento, transformação e comercialização. Na tabela 38, observa-se que das 15 propriedades, as três onde os sistemas pastoris de produção são desenvolvidos, em média possuem os melhores resultados econômicos, ficando nesta mesma faixa de resultados, somente mais duas propriedades. Uma, com sistema semi-intensivo e, outra com sistema intensivo. Todavia, estes resultados são devido aos sistemas de produção utilizados nas propriedades e as fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao produto leite. Portanto, o resultado positivo não é devido somente ao sistema de produção de leite, mas também a agregação de valor fora desse processo. 131 Tabela 38 – Valores monetários mensais da renda líquida mais a mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, das fases que os agricultores realizam, a quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, relacionado aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades Sistema produção Total produção Valor renda líquida leite Pastoril Média Semiintensivo Média Cocho Média Resultados econômicos (C) Resultados econômicos (B) R$ / mês Resultados econômicos (D) litros / mês R$ / mês R$ / litro R$ / litro 3.037 232,13 0,08 538,13 0,18 4.478 301,06 0,07 676,94 0,15 5.694 646,10 0,11 1.486,77 0,26 4.403 393,09 0,09 900,61 0,20 2.782 - 89,83 - 0,03 410,82 0,15 980 - 75,18 - 0,08 91,16 0,09 4.144 - 152,43 - 0,04 252,25 0,06 2.945 - 586,32 - 0,20 114,17 0,04 1.130 - 151,57 - 0,13 136,84 0,12 2.272 - 39,44 - 0,02 298,54 0,13 2.375 - 182,46 - 0,08 217,29 0,10 3.308 - 205,47 - 0,06 403,39 0,12 909 - 354,56 - 0,39 - 40,86 - 0,04 1.635 - 547,34 - 0,33 - 184,45 - 0,11 1.147 - 159,54 - 0,14 12,96 0,01 2.526 - 464,74 - 0,18 198,36 0,08 10.660 825,24 0,08 2.034,80 0,19 3.364 - 151,06 - 0,17 404,03 0,04 Legenda: (B) = Renda líquida mais a mão-de-obra e administração, remuneração do capital fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra), e remuneração do capital fixo da fábrica de queijo e sala de pasteurização (instalações e equipamentos); (C) = Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos com a aplicação da planilha do Instituto CEPA; e (D) = Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos quando os componentes (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo), não foram considerados como custos e sim como oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo. Em relação aos resultados econômicos obtidos com a aplicação da planilha do Instituto CEPA e aos obtidos quando os componentes (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo), não foram considerados como custos e sim como 132 oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, observa-se que nos sistemas pastoris esses componentes (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo), em média, representam um valor de R$ 0,11 / litro de leite, nos sistemas semi-intensivo R$ 0,18 e nos intensivos R$ 0,21 (essas são as diferenças das médias, entre a quarta e a sexta coluna, da tabela 38). Isso mostra que nos sistemas semi-intensivos e intensivos os componentes (mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo) têm maior participação na composição dos custos do que nos sistemas pastoris. Para verificar a participação de cada elemento (sistemas de produção e as fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao produto leite), nos resultados econômicos da atividade, vai-se realizar uma simulação, onde o valor da receita bruta será determinada, como se todos os produtores comercializassem o leite com a indústria e a oportunidade de remunerar os componentes de custos de produção como: mão de obra, administração e remuneração do capital fixo, somente da produção, cujos resultados estão na tabela 39. Analisando a tabela 39, observa-se que, das 15 propriedades estudadas, apenas duas, nessa simulação, possuem renda líquida positiva, representando 13% das propriedades: uma, com sistema pastoril de produção e, outra com sistema intensivo. Essas propriedades apresentam renda líquida positiva porque possuem os menores custos de produção, como se vê na tabela 35. Alguns dos fatores que podem explicar porquê esses agricultores possuem os menores custos de produção são: para o agricultor 8, a alimentação dos animais apresenta-se como um aspecto importante, onde 85% da dieta é de alimentos volumosos obtidos através de pastoreio e 15% de alimentos concentrados. Outros aspectos estão relacionados com a adequação dos investimentos fixos e a administração geral da atividade. Para o agricultor 13, as atividades de avicultura e de suinocultura desenvolvidas na propriedade contribuem na redução dos custos das pastagens, da silagem e dos grãos utilizados na dieta dos bovinos porque a cama de aviário e o esterco dos suínos são utilizados nas adubações das pastagens e das lavouras. Outro aspecto importante está relacionado com a administração geral da atividade. 133 Tabela 39 - Valores monetários mensais da receita bruta, dos custos de produção de leite e a renda líquida de cada sistema de produção Sistema Produção Agricultor Pastoril Média Semi-intensivo Média Cocho Média (nº) Valor receita bruta Valor custos produção leite Valor renda líquida R$ / mês R$ / mês R$ / mês 7 825,87 838,53 - 12,66 8 1.280,00 978,94 301,06 15 1.672,01 1.783,49 - 111,48 - 1.259,29 1.200,32 58,97 2 791,67 881,50 - 89,83 3 267,33 342,51 - 75,18 4 1.147,33 1.299,76 - 152,43 11 931,66 1.517,98 - 586,32 12 358,33 608,63 - 250,30 14 654,34 693,78 - 39,44 - 691,77 890,69 - 198,91 1 947,73 1.291,37 - 343,64 5 261,67 637,41 - 375,74 6 456,67 1.004,01 - 547,34 9 275,33 434,87 - 159,54 10 742,27 1.423,96 - 681,68 13 3.010,33 2.776,18 234,15 - 949,00 1.261,30 - 312,29 Obs: A receita bruta foi calculada, como se todos os produtores comercializassem o leite com a indústria, no valor de R$ 0,26 / litro, mais a venda de animais de descarte e/ou novilhas excedentes do plantel. Dando continuidade à simulação de venda de leite à indústria, na tabela 40 são apresentados os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, gerados pelos componentes de custos de produção do sistema produtivo. Na tabela 40, observa-se que, das 15 propriedades, as três propriedades com sistemas pastoris, em média, possuem os melhores resultados econômicos, ficando nesta mesma faixa de resultados, somente mais quatro propriedades. Três, com sistemas semi-intensivos e, outra com sistema intensivo. Isso, na simulação onde os agricultores vendessem o leite para a indústria. Portanto, constata-se que mesmo igualando a forma de comercialização e o preço, as propriedades pastoris 134 Tabela 40 – Valores monetários mensais da receita líquida da atividade leiteira, total mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo do sistema produtivo, a quantidade de leite produzida por mês e os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades Sistema Produção Valor renda líquida Valor total mão-de-obra administração R$ / mês remuneração R$ / mês Total (A) Total produção Resultados econômicos R$ / mês litros/ mês R$ / litro leite - 12,66 289,32 276,66 3.037 0,09 301,06 375,88 676,94 4.478 0,15 - 111,48 664,76 553,28 5.694 0,10 61,97 443,32 502,29 4.403 0,11 - 89,83 500,65 410,82 2.782 0,15 - 75,18 166,34 91,16 980 0,09 Semi- - 152,43 404,68 252,25 4.144 0,06 Intensivo - 586,32 700,49 114,17 2.945 0,04 - 250,30 225,72 - 24,58 1.130 - 0,02 - 39,44 337,92 298,48 2.272 0,13 - 198,91 389,30 190,38 2.375 0,07 - 343,64 494,75 151,11 3.308 0,05 - 375,74 272,80 - 102,94 909 - 0,11 - 547,34 362,89 - 184,45 1.635 - 0,11 - 159,54 172,50 12,96 1.147 0,01 - 681,68 562,78 - 118,90 2.526 - 0,05 234,15 851,02 1.085,17 10.660 0,10 - 312,29 452,79 140,49 3.364 - 0,02 Pastoril Média Média Cocho Média Legenda: (A) = Renda líquida mais a mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo da produção (instalações, cercas, equipamentos, rebanho e terra). continuam apresentando os melhores resultados econômicos. A tabela 41 apresenta a participação de cada elemento (sistemas de produção e as fases que os produtores desenvolvem para agregar valor ao produto leite) nos resultados econômicos da atividade leiteira. 135 Tabela 41 – Resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo e o valor agregado, por litro de leite, resultante das fases que os agricultores realizam fora do processo produtivo, relacionados aos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades Sistema Agricultor Resultados Resultados Valor econômicos produção (A) econômicos agregado (nº) R$ / litro R$ / litro R$ / litro 7 0,09 0,18 0,09 (¹) 8 0,15 0,15 - 15 0,10 0,26 0,16 (²) - 0,11 0,20 - 2 0,15 0,15 - 3 0,09 0,09 - 4 0,06 0,06 - 11 0,04 0,04 - 12 - 0,02 0,12 0,14 (³) 14 0,13 0,13 - - 0,07 0,10 - 1 0,05 0,12 0,07 (³) 5 - 0,11 - 0,04 0,07 (³) 6 - 0,11 - 0,11 - 9 0,01 0,01 - 10 - 0,05 0,08 0,13 (³) 13 0,10 0,19 0,09 (³) Média - - 0,02 0,04 - Média geral - - - 0,11 Produção Pastoril Média Semi-intensivo Média Cocho total (B) Legenda: (A) = resultados econômicos, por litro de leite, obtidos da renda líquida e dos componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, somente da produção e (B) = os resultados econômicos obtidos, por litro de leite, da renda líquida e dos componentes mão de obra, administração e remuneração do capital fixo, resultante das fases que os produtores realizam, desde a produção, processamento, transformação e comercialização. (¹) 35% da quantidade de leite comercializada são vendidas diretamente aos consumidores, sem inspeção. (²) toda a produção de leite e/ou queijo é comercializada em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores, sendo 63% desta produção vendida na forma de leite pasteurizado e 37% na forma de queijo. Essa propriedade atualmente também não possui serviço de inspeção. (³) são produtores que transformam toda a produção de leite em queijo. Possuem sistema de inspeção municipal e comercializam a produção em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores no mercado local. Na tabela 41, observa-se que nos sistemas pastoris, as fases que os agricultores desenvolvem depois do processo produtivo, para os agricultores 7 e 15, representam 50% e 62% do resultado econômico, respectivamente. Nos sistemas 136 semi-intensivos, o agricultor 12, com a produção e venda de queijo agregou R$ 0,14 / litro de leite, passando de resultado econômico negativo para positivo. Nos sistemas intensivos, as fases que os agricultores desenvolvem depois do processo produtivo, para os agricultores 1 e 13, representam 58% e 47% do resultado econômico, respectivamente e, para os agricultores 5 e 10, a produção e venda de queijo agregou, respectivamente R$ 0,07 e R$ 0,13 / litro de leite. Esses resultados mostram que, em média, as fases que os agricultores desenvolvem depois do processo produtivo, agregaram R$ 0,11/ litro de leite. Considerando somente a produção e venda de queijo a agregação é de R$ 0,10 / litro de leite. No entanto, deve-se ter presente que, nesses resultados, os componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, estão sendo considerados não como custos e sim como oportunidade de remunerar o trabalho familiar e o capital fixo. Desta forma, o agricultor 5, mesmo produzindo e vendendo queijo não conseguiu remunerar o trabalho familiar e o capital fixo, tendo ainda um prejuízo de R$ 0,04 / litro de leite produzido. Os dados mostram, ainda, que os sistemas de produção utilizados nas propriedades contribuíram nos resultados econômicos. Mas, tiveram influência decisiva sobre o retorno econômico da atividade, se assim pode-se dizer, as fases realizadas pelos produtores após à produção, como processamento, transformação e comercialização do leite e/ou produtos derivados. Outro aspecto a ser ressaltado é que o agricultor 7 e, atualmente, o agricultor 15, estão no mercado informal do leite e dos produtos derivados. Não por opção, mas porque a legislação atual pelo nível e tipo de exigências, restringe a possibilidade de regulamentação dessas pequenas unidades. Os principais entraves da legislação estão relacionados às plantas industrias, à restrição aos mercados locais e, atualmente, à portaria 56, que veta o uso da pasteurização lenta, como processo de pasteurização para o leite. Como já citado, no trabalho realizado por AMABILE, et al. (2000), a qualidade higiênico-sanitária do leite obtida pelo processo de pasteurização lenta, é semelhante à obtida pelo processo rápido de uma grande indústria. Isso mostra a viabilidade da pasteurização lenta, como processo de pasteurização para o leite. No entanto, a legislação ao invés de avançar no sentido de possibilitar a regulamentação das agroindústrias de pequeno porte, tem gerado mais dificuldades, principalmente em relação ao leite fluido. Isso, entre outro fatores, provocou o aumento na quantidade de leite informal no mercado. No Brasil, na 137 última década, o leite informal cresceu numa taxa média de 15,9% ao ano e o leite formal 3,8%. Esses dados mostram que é preciso editar uma legislação mais adequada, tendo em vista atender a necessidade das indústrias de pequeno porte e reduzir os riscos que esses produtos possam trazer à saúde dos consumidores. Essas ações, irão potencializar o desenvolvimento dos mercados locais e regionais e como consequência o fortalecimento das pequenas unidades de produção. Um dos elementos que proporcionam as diferenças nos custos são as produtividades, como podem ser visualizadas na tabela 33. Porém, outros elementos como alimentação dos animais e mão-de-obra são componentes muito importantes, pois sempre representam um percentual significativo dos custos. Na tabela 42, estão, em termos percentuais, quanto a alimentação, a mão-deobra, os custos variáveis e os custos fixos representam nos custos totais, em cada sistema de produção. Na tabela 42 observa-se que, em média, os custos com alimentação nos sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho são 8,78 pontos percentuais maior do que nos sistemas pastoris. Esta diferença mostra que a alimentação é um componente que contribui no diferencial dos custos, entre esses dois sistemas. No entanto, os custos com alimentação nos sistemas pastoris, em média são 2,73 pontos percentuais maiores do que nos semi-intensivos. Neste caso, o resultado mostra que a alimentação é um componente que reduz o diferencial dos custos, entre os dois sistemas. Este resultado se deve, em parte, porque dos seis sistemas semi-intensivos, dois utilizam resíduos de unidades de beneficiamento de grãos, produto de baixo custo, e ao menor custo das pastagens. O menor custo das pastagens é devido, principalmente, ao uso de pequenas quantidades ou não uso de adubos nas pastagens. Em média, os custos de mão-de-obra nos sistemas semi-intensivos são 7,15 pontos percentuais maior do que nos sistemas pastoris. O maior uso de mão-deobra nos sistemas semi-intensivos se deve, basicamente, à forma como parte dos alimentos é fornecida e a maneira como as vacas são ordenhadas. 138 Tabela 42 – Dos custos totais quanto, em percentagem corresponde a alimentação, a mão-de-obra, os custos variáveis e os custos fixos, em cada sistema e produção Sistema produção % alimentação % mão- % total % custos % custos de-obra alimentação variáveis fixos e mão-de-obra 36,38 10,06 46,44 64,78 35,22 39,61 18,96 58,57 67,31 32,69 34,67 14,23 48,90 69,73 30,27 36,88 14,41 51,30 67,27 32,72 28,85 30,63 59,48 69,42 30,58 Semi- 37,46 29,56 67,02 75,24 24,76 Intensivos 41,69 10,39 52,08 72,23 27,77 35,30 17,82 53,11 64,92 35,08 35,19 16,64 51,82 69,42 30,58 26,43 24,32 50,76 70,01 29,99 34,15 21,56 55,71 70,20 29,79 43,53 18,33 61,86 76,02 23,98 47,53 21,18 68,71 74,16 25,84 43,20 20,17 63,36 77,17 22,83 43,38 23,28 66,67 78,87 21,13 43,71 21,33 65,05 78,57 21,43 52,66 14,59 67,24 80,41 19,59 45,66 19,81 65,48 77,53 22,46 Pastoril Média Média Cocho Média Nos sistemas intensivos, em média, os custos de mão-de-obra, são 5,40 pontos percentuais maior do que nos sistemas de produção pastoris. O maior uso de mão-de-obra nos sistemas intensivos se deve, basicamente, à forma como parte dos alimentos é fornecida e a maneira como as vacas são ordenhadas. Estas diferenças médias percentuais de maior uso de mão-de-obra, entre os sistemas pastoris e os sistemas semi-intensivos e intensivos, respectivamente de 7,15 e 5,40 pontos, mostram que a mão-de-obra também é um componente que contribui no diferencial dos custos de produção, entre os sistemas estudados. 139 4.5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS PRODUTORES NAS PROPRIEDADE RURAIS ESTUDADAS Das nove propriedades vinculadas à indústria, além do leite, uma propriedade comercializava queijo e outra leite diretamente aos consumidores e, das seis propriedades não vinculadas à indústria, cinco comercializavam queijo e uma comercializava leite e queijo em estabelecimentos comerciais e diretamente aos consumidores no mercado local. Nas propriedades estudadas, quanto as atividades na área de criações, exceto a atividade leiteira, são realizadas em oito propriedades. Sendo, avicultura de corte em três, suinocultura em seis e gado de corte em uma. Isso mostra que além da atividade leiteira, 20% trabalham com avicultura, 40% com suinocultura e 6,6% com gado de corte. Embora esses resultados mostrem uma freqüência alta de produtores desenvolvendo as atividades de avicultura e suinocultura, sabe-se que essas atividades são desenvolvidas por um pequeno número de produtores nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em relação às lavouras, o milho é cultivado nas quinze propriedades, a soja em dez, o trigo em seis, a cevada em três e o feijão em uma. Três das propriedades não comercializam grãos, utilizando toda a produção com as atividades de pecuária desenvolvidas nas propriedades. Uma das propriedades produz e comercializa uva e vinho. Oito propriedades possuem fontes de renda não agrícolas. As rendas não agrícolas são oriundas de aposentadorias e aluguéis de imóveis residenciais na cidade. Dois proprietários têm imóveis para alugar na cidade de Erechim e oito possuem pessoas aposentadas nas famílias. Na tabela 43, estão as principais fontes de renda dos agricultores nas propriedades rurais, valor da receita bruta de cada uma e a percentagem correspondente à atividade leiteira. 140 Tabela 43 – Fontes de renda dos produtores, valor da receita bruta anual de cada uma e percentagem correspondente à atividade leiteira Sistema produção Pastoril Atividade leiteira Suínos, aves e gado corte Culturas Rendas e fruticultura não agrícolas Total receita Atividade bruta (%) Leiteira 12.848,00 15.750,00 - - 28.598,00 44,93 8.730,00 2.800,00 10.192,50 - 21.722,50 40,19 34.316,00 - - 2.340,00 36.656,00 93,62 Média 59,58 9.500,00 11.700,00 19.800,00 2.340,00 43.340,00 21,92 3.208,00 10.800,00 - 2.340,00 16.348,00 19,62 Semi- 13.768,00 7.200,00 4.254,00 7.800,00 33.022,00 41,69 Intensivo 11.179,98 - 3.750,00 4.680,00 19.609,98 57,01 6.400,00 12.000,0 2.016,00 - 20.416,00 31,35 7.851,99 - 29.408,50 4.680,00 41.940,49 18,72 Média Cocho Média 31,71 15.304,00 - 6.050,00 - 21.354,00 71,67 4.130,00 - 25.820,00 - 29.950,00 13,79 5.480,00 - 5.574,00 - 11.054,00 49,57 3.304,00 - 7.500,00 - 10.804,00 30,58 13.052,00 42.000,00 39.040,00 14.340,00 108.432,00 12,04 51.100,00 63.000,00 116.880,00 4.680,00 235.660,00 21,68 33,22 Na tabela 43, observa-se que das três propriedades onde o sistema de produção pastoril é desenvolvido, uma propriedade possui quase toda a receita bruta oriunda da atividade leiteira. Nas outras duas propriedades a atividade leiteira responde a 40% e 45% da receita bruta total. Das seis propriedades onde os sistemas de produção semi-intensivos são desenvolvidos, em duas propriedades a atividade leiteira responde a 42% e 57% da receita bruta total. No entanto, nas propriedades destes sistemas a atividade leiteira responde, em média, por 38% da receita bruta total. Das seis propriedades onde os sistemas de produção intensivos de uso de alimentos no cocho são desenvolvidos, em duas propriedades a atividade leiteira responde a 50% e 72% da receita bruta total. No entanto, nas propriedades 141 destes sistemas a atividade leiteira responde, em média, por 33% da receita bruta total. As seis propriedades, onde são desenvolvidos os sistemas intensivos, produzem e comercializam grãos, porém só duas, além da atividade leiteira, têm outras atividades na área de criações. Esses resultados mostram a importância que a atividade leiteira tem para a agricultura familiar de pequeno porte, representando para sete, das 15 propriedades dos sistemas estudados, uma das principais fontes de renda. 4.6 ASPECTOS AMBIENTAIS Em relação aos aspectos ambientais os principais itens levantados na pesquisa foram os sistemas de implantação das forrageiras; a rotação de culturas nas áreas das pastagens; adubação das pastagens; o uso de agrotóxicos nas áreas das pastagem e/ou lavouras; o uso atual da propriedade, a cobertura vegetal, a mata ciliar, a proteção das vertentes d’água e o destino das embalagens dos agrotóxicos; e o manejo dos dejetos, que serão analisados a seguir: a) Sistemas de implantação das forrageiras: o sistema convencional foi usado por 13 agricultores, para implantar algumas ou todas as forrageiras utilizadas nas propriedades. O sistema plantio direto por sete, sendo que um agricultor, utiliza somente para implantar a cultura de milho para silagem. Porém, nenhum agricultor utiliza só esse sistema para implantar todas as forrageiras. A sobressemeadura por quatro. O sistema de sobressemeadura foi utilizado por dois agricultores para introduzir espécies forrageiras perenes ou anuais nas pastagens naturalizadas dos potreiros. Desses dois agricultores, um, também usou a sobressemeadura para implantar forrageiras anuais de inverno na área de pastagem perene de inverno de trevo branco x trevo vermelho x azevém. Os outros dois, utilizaram a sobressemeadura para implantar forrageiras anuais de inverno nas áreas em sucessão com as lavouras de verão. Desses dois agricultores, um, utiliza o sistema há 12 anos e a outro há cinco anos. Quanto ao sistema de implantação das forrageiras nas áreas de pastagens nativas e/ou naturalizadas deve-se utilizar o sistema de sobressemeadura, tendo em vista a manutenção da cobertura vegetal existente e a importância que essa 142 representa para o homem e o ecossistema. Para implantar as forrageiras em outras áreas, também deve-se usar o sistema de sobressemeadura e/ou o sistema de plantio direto, tendo por objetivo não se fazer nenhum revolvimento no solo ou o menor possível. Como já citado, o revolvimento do solo acelera o processo de oxidação da matéria orgânica, rompe com os agregados, modifica a estrutura, reduz a porosidade... Isso expõe o solo à compactação e ao processo erosivo. Esses aspectos também são evidenciados pelos agricultores nas respostas à pergunta: porque mudou de sistema convencional para sistema plantio direto e/ou sobressemeadura? Em síntese as respostas foram: “é mais fácil, dá menos trabalho, é mais econômico, a terra fica menos socada e, a grade estraga muito a terra”. No entanto, os resultados mostram que o sistema convencional é o mais utilizado pelos agricultores. No nosso entendimento alguns aspectos podem explicar por que a maioria dos agricultores usa o sistema convencional em relação ao plantio direto e a sobressemeadura. Em relação ao plantio direto, devido ao uso do sistema nas lavouras, os agricultores também passaram a usá-lo na implantação das pastagens. Atualmente os maiores entraves existentes para adoção da semeadura direta estão relacionados às dificuldades econômicas dos agricultores, por exemplo, para aquisição de máquinas, mesmo à tração animal e aos aspectos culturais. Quanto ao sistema de sobressemeadura os maiores entraves estão relacionados à assessoria técnica e aos aspectos culturais. Este é mais um aspecto que evidencia a necessidade de difusão da proposta de produção de leite à base de pasto resultante da organização dos agricultores e do DZDR. b) Rotação de culturas nas áreas de pastagens: dos 15 agricultores, oito fazem rotação de culturas em algumas áreas de pastagens. O procedimento usado foi a mudança da área de cultivo de algumas pastagens, sem no entanto um planejamento para intercalar culturas de gramíneas e leguminosas. Nas áreas de milho para silagem todos fazem a mudança da área de cultivo. Porém, dos quatro agricultores que fizeram silagem, dois, plantaram e colheram o milho duas vezes na mesma área e ano, para depois mudar a área de cultivo. Os resultados mostram que há necessidade de realizar-se um grande esforço no sentido de melhorar os sistemas utilizados e de sensibilizar os agricultores que não estão realizando rotação de culturas, para que venham utilizar sistemas que contemplem aspectos do solo e das culturas. 143 c) Adubação das pastagens: dos 15 agricultores, 14 fazem adubações das pastagem. As adubações de base, de manutenção e de cobertura são muito variadas nas doses e tipos de adubos. Onze agricultores utilizam adubação mineral e orgânica e três, somente adubação mineral. A adubação orgânica é feita com esterco de vaca, em duas propriedades, com esterco de suínos em seis e, com cama de aviário em cinco propriedades. Das cinco propriedades que utilizam cama de aviário, três possuem aviário de frango de corte e duas compram o adubo de terceiros. Em relação à diversificação das atividades ressalta-se que as propriedades que possuem suínos e aves apresentam uma dinâmica de complementariedade muito importante, principalmente por dois aspectos. Primeiro, porque a cama de aviário e o esterco dos suínos são utilizados nas adubações das lavouras e das pastagens. Isso representa um menor dispêndio de recursos financeiros com as adubações e como consequência menor custo de produção. Segundo, porque a diversificação de atividades é importantíssima para diluir os riscos da agricultura. Para exemplificar esses aspectos cita-se o custo de produção de leite do agricultor de número 13, que desenvolve sistema de produção intensivo e mesmo assim, devido aos aspectos da complementariedade e da diversificação das atividades, possui um custo de R$ 0,24 / litro, que é igual ao custo médio dos sistemas pastoris. A adubação do milho foi feita pelos quatro agricultores que fizeram silagem, da mesma forma e doses utilizadas para o milho destinado à colheita de grãos. Quanto a reposição de nutrientes nas áreas onde foi cultivado o milho para silagem, todos agricultores fazem a mudança de área de cultivo e dois realizam adubações mais específicas para manter o nível de fertilidade do solo. Um aspecto a se destacar é que a prática de usar leguminosas nas áreas de pastagens perenes e/ou anuais de inverno e verão, recomendada pelo DZDR e utilizada na propriedade da família de Olintho Ficcagana, não é utilizada pelos outros produtores estudados. d) Uso de agrotóxicos nas áreas das pastagens e/ou lavouras: todos os agricultores utilizam e/ou utilizaram agrotóxicos nas áreas das pastagens e/ou lavouras. Nas áreas das pastagens perenes, na implantação. Nas áreas das pastagens anuais de verão e inverno, quando não utilizam na implantação, como essas áreas também são áreas de lavoura, usam na implantação ou na condução das lavouras. Em 144 relação ao tempo de uso tem-se a seguinte estratificação: mais de 15 anos, três agricultores, sendo 23 anos o de maior tempo; de 10 a 15 anos, sete; de 5 a 10, dois; e, menos de 5 anos, três agricultores. Os dados mostram que 66% dos agricultores estão usando agrotóxicos há mais de 10 anos. Isso mostra que as práticas preconizadas pelo pacote da revolução verde estão muito presentes nos sistemas de produção desenvolvidos pelos agricultores. Nesse contexto, necessitase construir sistemas de produção que respeitem as formas de organização econômica e social e o ambiente, tendo-se por objetivo produzir alimentos saudáveis e com qualidade nutritiva, capazes de atender a sociedade, com mínimo de impacto e desequilíbrio nos ecossistemas. Quanto aos motivos de uso, as respostas dos agricultores foram: “não tem outro jeito de fazer, carpi não se carpe. No plantio direto, se não bota veneno, não tem como fazer as lavouras. Mudou a tecnologia, nós também mudamos; foi ampliada as lavouras. Quando começamos com o plantio direto, começamos usar veneno; facilita, não precisa carpi; pouca mão-de-obra, se obriga passar veneno para controlar as ervas; acomodação, sei que não é a melhor prática; precisa fazer mais roça. Uma vez se colhia 100sc e se vivia. Hoje, cada ano precisa produzir mais 150, 200, 300sc e tá difícil; comecei o plantio direto, comecei usar veneno; não dá tanto trabalho como a capina; precisa, não tem outra solução”. As repostas mostram que os agricultores possuem poucas alternativas, principalmente para controlar as ervas nas áreas de lavouras. O retorno a capina manual é muito difícil, devido a pouca mão-de-obra disponível nas propriedades, a facilidade de uso dos venenos, a penosidade do tabalho... Em relação ao questionamento, os agrotóxicos causam problemas? Dos 15 agricultores , 12 responderam que sim e três não. Quanto ao tipo de problemas, as respostas dos agricultores que responderam sim, foram: “bem não faz, é veneno; prejudica a saúde; tem que ter cuidado, com fontes de água; já teve pessoas intoxicadas; faz mal para a saúde; já para a natureza, tá prejudicando tudo: água, ar; acho que devagar tem que pensar em parar; se fosse deixar seria melhor; prejudica a terra, em si, veneno não é bom pra nada; são perigosos. Problemas tem, mas a questão é controlar as ervas; o aplicador tem problema”. As respostas dos agricultores que responderam não, foram: “até agora não. Saúde, nunca deu nada; aqui na volta não se ouviu falar de pessoas intoxicadas com veneno; se usar a quantidade certa não tem problema. Quem sabe manejar não tem problema 145 nenhum”. Os dados mostram que os agricultores sabem que os agrotóxicos causam problemas, porém alegam que não possuem outra alternativa para controlar as ervas. Essas respostas reforçam a necessidade de pesquisas e experiências no sentido de desenvolver métodos alternativos de controle das ervas, insetos e doenças, que sejam de uso compatíveis com as pequenas unidades de produção e que não contaminem o homem, os alimentos e o ambiente. e) Uso atual das propriedades e a cobertura vegetal: a tabela 44 mostra, da área total das propriedades, quanto, em média, está sendo utilizada com as lavouras, os potreiros, as pastagens perenes, a cultura de erva-mate, o reflorestamento e as hortas, os pomares e as benfeitorias e, coberta com capoeiras e matas. Na tabela 44, observa-se que, em média, as lavouras ocupam 64% da área total das propriedades, os potreiros e as pastagens perenes 14,6%, o reflorestamento 1,6% e, as capoeiras e as matas 10,7%. Em relação a área de reflorestamento, 8,2 ha são de eucalipto e 2,0 ha de araucária. Quanto à distribuição da cobertura vegetal, das 15 propriedades, tem-se que, 10 têm área com mata. O agricultor 13, possui uma área de 27,0 ha coberta com mata e o agricultor 8, uma de 15 ha. Cinco, possuem área coberta com capoeira. Cinco, têm área reflorestada com eucalipto, o agricultor 13, possui uma área de 4,0 ha. Uma, possui área reflorestada com araucária. Sete, têm área com a cultura de erva-mate. Doze, possuem área com pastagens perenes. Dessas propriedades, somente quatro têm área de pastagem perenes que possa atender razoavelmente a necessidade de forragem dos animais, tendo em vista a produção de leite à base de pasto, onde as pastagens perenes são a base do sistema. Quinze, têm área coberta com pastagens naturalizadas (potreiros). O agricultor 8, possui uma área de 19,5 ha e o agricultor 2, uma de 17,0 ha. No entanto, somente dois agricultores melhoraram essas pastagens através de introdução, principalmente de leguminosas. Parte das áreas de lavouras são utilizadas em sucessão e/ou em rotação com as pastagens anuais de verão e inverno. Todavia, como já citado, essas práticas (sucessão e rotação de culturas) têm sido usadas sem um planejamento que contemple aspectos de solo, das culturas e oferta de forragem adequada para os animais, principalmente no outono. 146 Tabela 44 – Uso atual das propriedades e cobertura vegetal existente Itens Área (ha) % Lavouras 407,0 64,02 Potreiros 69,6 10,95 Pastagens perenes 23,5 3,70 Erva-mate 11,0 1,73 Reflorestamento 10,2 1,60 Hortas, pomares e benfeitorias 46,1 7,25 Capoeiras 12,0 1,89 Matas 56,3 8,86 Total 635,7 100 De modo geral, as áreas onde são cultivadas as lavouras e as pastagens anuais de verão, essas ocupando uma área de 16,7 ha, no inverno são utilizadas para o cultivo das culturas de trigo e cevada, pastagens e/ou culturas de cobertura do solo. Na safra 2000, a cultura de trigo ocupou uma área de 73,0 ha e a da cevada 23 ha. Dos 15 agricultores, seis plantaram trigo e, desses, três também plantaram cevada. Na área restante (311 ha), na maioria das propriedades, em praticamente toda área, onde o azevém não surge espontaneamente, é feita a semeadura de aveia preta ou aveia preta mais azevém. Essas espécies são cultivadas como pastagens para os animais ou como culturas de cobertura do solo. Essa prática, mesmo sendo muito utilizada pelos agricultores não evita problemas de erosão, como se observou em algumas propriedades, isso porque a implantação das culturas e/ou das pastagens são feitas pela maioria dos agricultores, através do sistema convencional. Outros aspectos observados foram: a mata ciliar, a proteção das vertentes d’água e o destino das embalagens dos agrotóxicos. Quanto à mata ciliar, observouse que na maioria das propriedade não existe mata ciliar nos córregos e/ou rios que passam pelas propriedades ou daqueles que passam pelas divisas das mesmas. Também, percebeu-se que, de modo geral, os agricultores não estão sensibilizados da importância que essa mata tem para o ecossistema. Em relação ao destino das embalagens dos agrotóxicos, observou-se que, de modo geral, essas são colocadas em diversos locais nas propriedades. Em algumas delas, esses locais apresentavam sérios problemas, principalmente relacionados aos 147 mananciais hídricos. Porém, uma preocupação freqüentemente levantada pelos agricultores foi sobre qual seria o destino adequado para as embalagens dos agrotóxicos? Nesse sentido colocou-se que, a legislação sobre os agrotóxicos, prevê a obrigatoriedade de destino das embalagens vazias aos fabricantes dos produtos. No entanto, a solução desta questão passa pela adoção de sistemas alternativos de produção que não fazem uso de agrotóxicos. Quanto à proteção das vertentes, observou-se que, de maneira geral, principalmente as vertentes em que a água é utilizada para o consumo das pessoas e dos animais, elas estão protegidas por certa área de mata ou de capoeira ou mata e capoeira. Essa prática busca proteger as áreas das vertentes do processo erosivo, a água da deriva dos agrotóxicos e manter a disponibilidade de água em períodos prolongados de estiagens, devido aos efeitos da vegetação sobre a estrutura do solo e essa no fluxo d’água para as vertentes. f) Manejo dos dejetos dos animais: antes de analisar os dados referente ao manejo dos dejetos, analisaremos as respostas obtidas da pergunta: se à noite os animais ficavam estabulados? Dos 15 agricultores, dois responderam que estabulavam os animais à noite. Desses, um agricultor, respondeu que os animais sempre ficam estabulados e o outro na maioria da vezes. Os motivos citados pelos agricultores foram: “ costume. Para aproveitar o esterco para a horta e plantar pasto; por causa do frio e da chuva”. Dos 13 agricultores que não estabulam os animais, em relação ao tempo de uso dessa prática tem-se a seguinte estratificação: nunca estabularam os animais, dois agricultores, mais de 10 anos, um, com 12 anos; de 5 a 10 anos, sete; e, menos de 5 anos, três agricultores. Os dados mostram que 86% dos agricultores atualmente não estabulam os animais à noite. Porém, há 10 anos atrás, dos 11 agricultores que não estabulam mais, 10, estabulavam os animais. A prática de estabular os animais veio com os imigrantes europeus há mais de 100 anos. Isso evidencia que os aspectos culturais são muito importantes e devem ser considerados quando se busca sensibilizar os agricultores para a adoção de determinada tecnologia. Em relação ao manejo do esterco dos animais tem-se que, dos 15 agricultores, cinco manejam o esterco em esterqueiras; dois, através de trincheira no solo e oito amontoam o esterco ao lado da sala de ordenha ou estábulo. O manejo do esterco através da amontoa, de modo geral, sem uma caixa de contenção, para evitar 148 escorrimento do material e, em local não cercado, para evitar o acesso de outros animais, mostrou-se inadequado, principalmente em relação às questões ambientais. O esterco manejado através de trincheira sem revestimento, também apresentou problemas quanto as questões ambientais. Das formas utilizadas pelos agricultores, o manejo através de esterqueiras mostrou-se mais adequado. Porém, as outras formas, fazendo-se algumas melhorias como: construir caixa de contenção e cercar os locais onde o esterco vai ser amontoado e, revestir as trincheiras, são práticas que podem ser usadas no manejo do esterco. Outra prática que pode ser usada é levar e distribuir o esterco diretamente nas áreas de lavouras e/ou de pastagens. Quanto ao aproveitamento todos os agricultores utilizam o esterco como adubo na horta e/ou nas áreas das pastagens e/ou lavouras. Na suinocultura as práticas de manejo do esterco não foram avaliadas. 4.7 PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES SOBRE A ATIVIDADE LEITEIRA E AVALIAÇÃO SUBJETIVA Nosso objetivo nessa seção é analisar a percepção dos agricultores em relação à atividade leiteira e realizar uma avaliação subjetiva de alguns fatores de produção e sociais baseado nos dados levantados a campo e na experiência do pesquisador como extensionista rural. O que se pretende com essa avaliação não é dar uma nota para os agricultores para medir seu grau de eficiência, e sim tentar expressar, através de um conceito, como algumas práticas são realizadas, como as propriedades são administradas e o grau de satisfação dos agricultores em relação à atividade leiteira. Não encontramos uma metodologia específica que oriente esse tipo de avaliação. Antes de realizar a análise e a avaliação subjetiva, analisaremos as respostas obtidas às seguintes perguntas: 1) Se a opção pela agricultura foi própria, ou por influência da família ou por outros motivos? Dos 15 agricultores, 11 responderam que estão na agricultura por opção, dois por influência da família e dois por não terem outras oportunidades. Os dados mostram que 73% dos agricultores estão na agricultura por opção. 149 2) Se ele, a esposa e os filhos gostam de ser agricultores? Dos 15 agricultores, 13 responderam que gostam, um, mais ou menos e, o outro, não. Das 15 agricultoras, 13 responderam que gostam e, duas, um pouco. Os motivos citados pelos(as) agricultores(as) que gostam de ser agricultores(as) foram: “já se nasceu assim na colônia. Na colônia a gente tem mais liberdade; sempre trabalhei na agricultura, meus pais foram agricultores e eu não vi outra opção; fui criada na roça, eu gosto de tratar os animais ir na lavoura; é a profissão que a gente tem. A esposa prefere ir na roça que ficar em casa; é melhor na colônia que na cidade; o agricultor é mais livre; hoje tenho orgulho de ser agricultor, anos atrás, achava uma coisa ridícula, meia ruim; na colônia a gente se sente mais à vontade, mais tranqüilidade. Na cidade é mais difícil. Na colônia a gente é patrão da gente mesmo; meu pai era agricultor, fui trabalhar na cidade, não gostei, voltei para a colônia; não troco de profissão, não sei fazer outra coisa”. Já, os motivos citados pelos(as) agricultores(as) que gostam pouco ou mais ou menos ou não gostam foram: “tem que gostar, porque outra coisa é mais difícil. Gostar tem que gostar, já que tá no serviço; a esposa sempre tá dizendo vamos morar na cidade, por causa da filha; agricultura, não é meu chão. Quando casei a minha esposa tinha que ficar junto com os pais dela, então fiquei”. Em relação à faixa etária dos casais entrevistados tem-se a seguinte estratificação: menos de 30 anos de idade, nenhuma pessoa; de 31 a 40 anos, 4 homens e 7 mulheres; de 41 a 50 anos, 7 homens e 6 mulheres; de 51 a 60 anos, 3 homens e 2 mulheres; e, mais de 60 anos, 1 homem, com 61 anos de idade. Os dados mostram que das 30 pessoas entrevistadas, 24 (80%), estão na faixa etária entre 31 e 50 anos. Isso evidencia que ainda está ocorrendo o processo de renovação da força de trabalho. Além dos casais e os filhos (as), nas propriedades residem outras pessoas: das 15 propriedades, em oito, residem na mesma casa ou em outra, os pais já aposentados. Sendo que em seis, são os casais (os pais e as mães) e, em duas somente as mães. Ainda, na propriedade do agricultor número 13, além dos pais, já aposentados, residem e trabalham na forma de condomínio familiar, mais dois casais (irmãos) e seus filhos; na propriedade do agricultor número 3, além da mãe, já aposentada, também residem e trabalham na forma de condomínio familiar, mais um casal (irmão) e seus filhos; e, na propriedade do agricultor número 6, residem e trabalham na forma de condomínio, mais dois casais (irmãs) e seus filhos. Esses dados mostram que os agricultores além de produzirem alimentos e matérias-primas 150 para sustento de suas famílias e para a população, estão desempenhando um importante papel social junto aos seus familiares, que estão na terceira idade. No total, as famílias entrevistadas têm 30 filhos, em média, dois filhos por família. Dos 30 filhos, 23, residem com os pais ou na propriedade e sete já saíram do meio rural. Quanto à faixa etária dos filhos que residem com os pais tem-se a seguinte estratificação: menos de 5 anos de idade, nenhum filho; de 5 a 10 anos, 11; de 11 a 15 anos, 6; de 16 a 20 anos, 2; e, mais de 20 anos, 4, sendo um, com 21 anos, outro com 22, e duas filhas, já casadas com mais de 30 anos. Os dados mostram que 74% dos filhos que residem com os pais têm até 15 anos de idade. Outro aspecto observado é que só 4 filhos com mais de 20 anos de idade estão no meio rural, os outros 7 filhos já saíram em busca de outras oportunidades. Em termos percentuais, dos filhos com mais de 20 anos tem-se que, 36% estão nas propriedades e 64% já saíram do meio rural. Os dados indicam que, mantida essa tendência, o processo de sucessão e a reprodução da agricultura desenvolvida nas pequenas unidades estão visivelmente comprometidos. Isso mostra a necessidade urgentíssima de se construir e executar ações que fortaleçam a agricultura de pequeno porte e que essas possam gerar oportunidades para os filhos dos agricultores optarem pela agricultura. Atualmente, para a maioria dos filhos dos agricultores essa opção não existe. Quanto aos filhos gostarem ou não de serem agricultores, as respostas ficaram prejudicadas, porque na maioria das vezes os mesmos não estavam presentes. 3) Quais foram as últimas melhorias ou investimentos feitos na propriedade nos últimos três anos? Dos 15 agricultores, 14 fizeram algum tipo de melhoria e/ou investimentos como segue: quatro agricultores compraram terra, sendo respectivamente 2,0; 3,4; 9,0; e 75 ha. Dois agricultores trocaram os tratores, um, a semeadora, um, a colheitadeira e, um, o caminhão. Três, compraram vacas, sendo respectivamente 1, 2 e 3 cabeças. Um, comprou um carro. Um, construiu galpão para as máquinas e equipamentos, um, aviário para frango de corte (200 cabeças), um, aviário para aves de postura (1.000 cabeças), um, instalações para suínos e, um, queijaria de pequeno porte. Três, compraram ordenhadeira, dois, resfriadores, um, roçadeira, um motor elétrico e, um, telefone. Um, reformou o estábulo e, um, o galpão para produtos. Dois, fizeram melhoria nas cercas e pastagens naturalizadas dos potreiros e, quatro, implantaram e/ou aumentaram as áreas de pastagens 151 perenes de verão. Os dados mostram que praticamente todos os agricultores fizeram algum tipo de investimento no sentido de ampliar, melhorar e/ou iniciar outras atividades agrícolas. Isso indica que os agricultores acreditam na agricultura como meio para melhorar suas condições de vida. 4) Se tem previsão de novos investimento? Dos 15 agricultores, 14 responderam que pretendiam realizar novos investimentos. O agricultor que respondeu não, no último ano fez a troca do trator e do caminhão. Os 14 agricultores que responderam sim, disseram que fariam os investimentos como segue: dois, no melhoramento genético das vacas e criação das terneiras. Dois, na ampliação das pastagens perenes de verão e divisão das áreas das pastagens. Dois, na construção da sala de ordenha. Dois na construção, um, na reforma e, um, na ampliação do estábulo. Dois, na compra da ordenhadeira, um, do resfriador e, dois, de vacas. Dois, na construção das instalações para suínos; um, da casa; um, do silo, do secador e término da instalação de suínos; um, na reforma do galpão para máquinas e equipamentos; e, um, na de estufa para plantio de flores. Os dados mostram que a maioria dos agricultores tem previsão para investir na atividade leiteira. Isso demonstra a importância que essa atividade tem para os produtores e no nosso entendimento a atividade leiteira é das últimas atividades que ainda restam para o conjunto dos pequenos agricultores. 5) Acha que na sua propriedade já tem tudo o que queria? Dos 15 agricultores, 14 responderam que não. O agricultor que respondeu sim, disse que “no momento está bom”. As respostas dos agricultores que responderam não, foram:” falta muita coisa, trocar a colheitadeira, o pulverizador e cercar o pátio da casa; reformar o estábulo, comprar um carro de passeio, trocar a kombi por uma camioneta furgão para transportar o queijo; ampliar o chiqueiro, construir uma sala de ordenha, comprar um caminhão; melhorar o estábulo; tá faltando um monte, quando compra uma coisa tá na hora de comprar outra. Tem que ir melhorando, se não tá atrasado sempre pra trás; tá faltando dinheiro barato, mais assistência técnica; falta trator, mais vacas de leite e de melhor qualidade; falta boa casa, sala de ordenha e plantadeira plantio direto; reformar a casa, o estábulo, comprar resfriador, vacas e falta calcário na terra; falta dinheiro, preço dos produtos muito baixo, mais vacas; ampliar área de uva, figo e erva-mate; reformar chiqueiro, fazer piquetes potreiro e trocar a grama; 152 falta coisas para dentro de casa, melhorar instalação gado de leite, comprar ordenhadeira; aumentar o plantel para 30 vacas, melhorar a criação das terneiras e novilhas”. Os dados mostram novamente que a maioria dos agricultores apontam os investimentos para atividade leiteira. Quanto à percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira vai-se analisar as perguntas como segue: 1) Se eles pretendiam continuar com a atividade leiteira? Dos 15 agricultores pesquisados, 14 responderam que sim, e os principais motivos já foram citados anteriormente. 2) Se pretende ampliar a atividade? Dos 15 agricultores, 13 responderam que sim, representando 86%. Quanto ao número de vacas, atualmente os agricultores, em média, possuem 12,26 cabeças, variando de 5 a 28. Na ampliação, a média passa para 17,92 cabeças, com variação de 8 a 40, representando um crescimento de 46%. 3) Como vê o futuro da atividade leiteira? As respostas citadas foram: “o pequeno vai se acabando, vai ficar quem se estruturar, o grande; pelas políticas agrícolas o pequeno está com os dias contados; acho que vai melhorar um pouquinho mais; do leite não é tanto, do queijo sim. O queijo tem futuro bom. Tem aumentado a procura do queijo, precisa melhorar o preço. Não sei, por enquanto vamos produzindo; acho que vai melhorar o preço. O que tem que diminuir é a diferença do preço entre o produtor e o consumidor; sempre tem altos e baixos, o importante é que tem uma renda no final do mês; ainda tem espaço; melhorar o preço; se o preço continuar assim não sei se dá para continuar; não sei, acho boa pela previsão; o leite sempre ajuda; preto, ruim, não vejo nada. O governo quer comida barata para o brasileiro; é o rendimento que mais dá, comparado com agricultura”. Alguns comentários feitos identificaram a política de especialização e de concentração como um entrave para se manter na atividade. Outros, apontaram a importância que a atividade tem para os agricultores e as dificuldades quanto ao preço recebido pelo produto. Nesse sentido destaca-se o comentário feito sobre a necessidade de diminuir a diferença de preço entre o que o agricultor recebe e o consumidor paga. Em maio de 2001, o agricultor recebia, em média, R$ 0,26 / litro de leite e o consumidor pagava, nos 153 estabelecimento pesquisados em Erechim, em média, R$ 1,18 / litro de leite longa vida. A embalagem do leite longa vida, conforme informação do departamento técnico da COCEL, em maio de 2001, custava R$ 0,25 / embalagem, representando praticamente o mesmo valor que o agricultor recebia pelo produto. 4) Está satisfeito com a atividade? Dos 15 agricultores, cinco responderam que sim, sete, não muito e, três, não. Os 10 agricultores que responderam, não muito e não, comentaram que o principal problema da atividade é o preço baixo pago ao produtor. Um aspecto a se ressaltar é que dos seis produtores não vinculados à indústria, quatro disseram que estavam satisfeitos com a atividade, um, não muito e, um, não. Portanto, dos cinco produtores que responderam sim, quatro, são produtores que não estão vinculados à indústria. Dos nove produtores vinculados à indústria, oito, não estão satisfeitos com a atividade, devido ao preço que recebem pelo seu produto. No nosso entendimento os preços baixos, também têm levado os agricultores a aumentarem a escala de produção. Isso fica evidenciado nas respostas da pergunta, se pretende ampliar a atividade? Onde 86% dos agricultores disseram que sim, e apontam para um crescimento médio do plantel de 5 vacas / propriedade. 5) Gostaria que seus filhos ficassem na agricultura? Dos 15 agricultores, seis responderam que sim, três, não, três, disseram que a decisão será deles, um, a resposta foi depende, “se tiver emprego bom, a agricultura não é muito fácil. Se o salário for baixo (menos de 2 salários) a agricultura ainda é boa”, um, não tem mais filhos em casa e o outro não tem filho. Os motivos citados pelos agricultores que disseram sim, foram: “porque já tem terra; faço força para que fiquem; para dar continuidade ao trabalho da gente; penso que a agricultura vai ser uma atividade de valor; o filho sim; ajudam, mão-de-obra”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram não, foram: “sofre, como nós sofremos. Se eles tiverem um futuro melhor que seguem; na roça é muito difícil; a filha tem problema de saúde”. Dos agricultores que disseram que a decisão será deles, os comentários foram: “eles que sabem; talvez, vai depender deles. Se encontrar outro ramo que gostam não sou contra, na agricultura tá feio; eles tem liberdade para decidir”. Essas posições refletem as dificuldades enfrentadas pelo setor agrícola. 154 A tabela 45, mostra os conceitos da avaliação subjetiva de alguns fatores de produção e sociais das famílias pesquisadas no desenvolvimento do trabalho. Analisando a tabela 45, tendo-se presente os resultados econômicos da atividade leiteira obtidos nesse trabalho, pode-se dizer que o grau de satisfação dos agricultores em relação à atividade tem certa correlação com as questões econômicas. No entanto, existem outros fatores que influenciam no grau de satisfação dos agricultores e na decisão de desenvolver determinada atividade. Alguns destes fatores já foram citados como: mão-de-obra disponível e/ou demandada, necessidade de investimentos, penosidade do trabalho, periodicidade de ingresso de renda, efeito de complementariedade das atividades, falta de outras oportunidades, entre outras. Nesse contexto, analisaremos alguns elementos de três, das avaliações realizadas, como segue: na avaliação do agricultor 5, observa-se que a atividade leiteira está sendo desenvolvida de forma razoável e com resultado econômico negativo. No obstante, tanto o agricultor como a família estão satisfeitos com a atividade, conceito B. Essa família transforma todo o leite que produz em queijo e vende diretamente aos consumidores e/ou pequenos estabelecimentos comerciais. A quantidade, média, comercializada / semana é de 18 kg, representando uma receita bruta mensal de R$ 278,00 e um resultado econômico negativo de R$ 41,00 / mês. Isso que no cálculo desse resultado a remuneração dos componentes mão-deobra, administração e capital fixo foi contabilizada como oportunidade e não como custo. Em relação ao grau de satisfação dessa família, talvez alguns comentários feitos por eles nos ajudem a entender o porquê: a agricultora comentou que “o dia que ela sai para vender queijo na cidade é como se fosse um dia de lazer. O dinheiro do queijo é dela. Ela que administra. Serve para fazer o rancho, pagar a luz e também para fazer algumas comprinhas para ela e os filhos”. Na avaliação do agricultor 3, observa-se que a atividade leiteira também está sendo desenvolvida de forma razoável e com resultado econômico positivo. O agricultor e a família demonstraram que estavam satisfeitos com a atividade e foram avaliados com conceito B. Essa família vende, em média, 900 litro de leite / mês, representando uma receita bruta mensal de R$ 234,00 e um resultado econômico positivo de R$ 91,00 / mês. Isso considerando os componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo como oportunidade e não como custo. Porém, a receita líquida da atividade leiteira desse agricultor é negativa, no valor de 155 R$ 75,00, se considerarmos os custos do leite de acordo com a planilha de cálculo do Instituto CEPA/SC. Em relação ao grau de satisfação dessa família, os comentários feitos foram: “não dá para parar com as vacas. É o nosso salário do mês”. Na avaliação do agricultor 4, observa-se que a atividade leiteira ficou com conceito entre razoável e bom e com resultado econômico positivo. O agricultor e a família demonstraram que não estavam muito satisfeitos com a atividade e foram avaliados com conceito C. Essa família vende, em média, 3.900 litro de leite / mês, representando uma receita bruta mensal de R$ 1.014,00 e um resultado econômico positivo de R$ 252,00 / mês. Isso considerando os componentes mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo como oportunidade e não como custo. Porém, a receita líquida da atividade leiteira desse agricultor é negativa, no valor de R$ 152,00, se considerarmos os custos do leite de acordo com a planilha de cálculo do Instituto CEPA/SC. Em relação ao grau de satisfação dessa família, os comentários feitos foram: “não estou muito satisfeito. O leite é muito barato. Mas sem o leite seria pior, com o leite a gente ganha uma renda mensal”. Os dados mostram que são muitas as interações e os fatores que influenciam no grau de satisfação dos agricultores e na forma como é administrada e desenvolvida a atividade leiteira. Para a maioria dos agricultores pesquisados a rentabilidade não é o fator que determina sua continuidade ou não. A atividade é desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal, sendo portanto fundamental para a subsistência da família e a manutenção das pequenas unidades de produção. Assim, a atividade leiteira se apresenta como elemento chave para o desenvolvimento agrícola, devido ao ingresso de renda mensal, alta absorção de mão-de-obra, permite uso de solos exauridos pela agricultura, apresenta fácil integração com outras atividades e por estar presente na maioria das propriedades. Quanto à administração geral das propriedades observa-se que a maioria dos agricultores ficaram com conceito razoável, porque a avaliação feita foi baseada em alguns questionamentos e na percepção do pesquisador. No entanto, esses conceitos podem não estar expressando as reais condições que os recursos naturais, financeiros e humanos são administrados. Essa observação também serve para os outros itens avaliados. 156 157 4.8 PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES EM COOPERATIVAS, SINDICATOS, ASSOCIAÇÕES E/OU GRUPOS COMUNITÁRIOS Em relação as cooperativas de produção todos os agricultores disseram que eram sócios, sendo 12 em uma e, três, em duas. Nas cooperativas de crédito, dos 15 agricultores, 12, disseram que eram associados a uma cooperativa. Quanto à participação nas assembléias das cooperativas de produção, dos 15 agricultores, sete disseram que participavam regularmente, sendo que desses, quatro, são lideres de comunidade, quatro, disseram às vezes e, quatro, não. Em relação as contribuições que as cooperativas de produção trouxeram para a agricultura, os comentários citados foram: “garantia de comercialização, integração; orientação técnica, depósito dos produtos; garantia de preço, confiança na hora de vender a produção; facilita a compra e a venda; tem onde vender; pouco, quase nada; sem as cooperativas é pior. Não pode ficar cego, mas tem que ser sócio; convênio com a saúde; sem a cooperativa não dá, fica sem rumo. É mais seguro; só lidar com particular é ruim”. Pelos comentários observa-se que o sistema cooperativo é muito importante para os agricultores, desde o processo produtivo até a comercialização. Porém, a participação dos agricultores nas assembléias é pequena, considerando que as mesmas são instrumentos de decisões. Quando perguntados se eram sócios de sindicatos? Dos 15 agricultores, nove responderam sim, sendo que desses, oito, estão associados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais e, um, ao Sindicato Rural e, seis, não. Desses, três, já foram sócios. Em relação à participação nas assembléias, dos nove agricultores, quatro disseram que participam regularmente, sendo que desses, um, faz parte da diretoria e, o outro é líder de comunidade, quatro, às vezes e, um, não. Quanto as contribuições que os sindicatos trouxeram para a agricultura os comentários citados foram: “na organização dos agricultores, reivindicações de políticas agrícolas; trocatroca semente de milho, convênio dentista; reivindicação PRONAF; reivindicação de preços, talão produtor, produtos veterinários; consultas médicas, documentos; faz a folha dos empregados, enquadramento financiamentos”. Pelos comentários observase que o sindicato clientelista está muito presente nos agricultores. Quanto a participação dos agricultores em outras entidades associativas temse que: dos 15 agricultores, nove participam de associações e/ou grupos comunitários e, seis, não. A participação dos agricultores nas associações e/ou 158 grupos é a seguinte: três, disseram que participavam da associação de telefonia, um, da associação municipal de criadores de suínos, dois, da associação de moradores da comunidade, um, da associação de poço artesiano, três, do grupo de ensiladeira, três, do grupo do distribuidor de esterco, três do grupo de semeadora, um, do grupo de secador de leito fixo, um, do grupo de roçadeira e, um, do grupo do distribuidor de calcário. A associação dos moradores, segundo os agricultores, foi criada para a compra de máquinas, equipamentos e insumos e venda de produtos em conjunto pelos agricultores da comunidade. Outras perguntas relacionadas ao desenvolvimento de atividades associativas feitas aos agricultores foram: 1) Se já pensou vender leite em conjunto com os vizinhos para aumentar a quantidade e receber melhor preço? Dos nove agricultores que vendem leite à indústria, dois responderam sim e, sete, não. Os comentários feitos pelos agricultores que disseram sim, foram: “pensa se pensou, mas acho que não dá certo, é difícil; foi comentado fazer um grupo, mas uns acharam que não, outros acharam meio difícil”. Os comentários feitos pelos agricultores que disseram não, foram: “não pensei, mas é uma alternativa para ganhar melhor preço; a minha propriedade fica longe, é difícil pela distância; vender junto só com o filho; não tenho interesse. Não dá certo, um capricha o outro não. Vender junto não; a empresa não aceita, não paga mais; é difícil formar grupos; nunca pensei, mas não sei se dá certo”. Pelos comentários percebe-se que, apesar dos agricultores usarem equipamentos, máquinas e/ou comprarem insumos em conjunto, como já citado, ainda existe um forte grau de individualismo no desenvolvimento de suas atividades. 2) Já ouviu falar em condomínio? Todos responderam que sim. A pergunta, para o Senhor o que é um condomínio? De maneira geral todos responderam que é uma sociedade organizada por um grupo de pessoas para desenvolver determinada atividade. 3) O Senhor se associaria a um condomínio? Dos 15 agricultores, oito, responderam depende, dois, dificilmente e, cinco, não. Os motivos citados pelos agricultores que responderam depende, foram: “tem coisa que dá para se associar, outras não dá. Grupo de telefone, ensiladeira, distribuidor de esterco; se fosse condomínio de 159 porco; depende da coisa, poderia até me associar; se for um grupo sem vínculos políticos; depende se todos estão de acordo, se não é difícil; tem que pensar. Já, os grupos de PRONAF é difícil; tinha que ver o que seria; depende se tiver condições econômicas”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram dificilmente, foram: “não funciona, quebra logo. Geralmente tem um espertinho no meio; se for necessário, bom, até arriscaria”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram não, foram: “é muito difícil trabalhar em grupo; só com irmão. Porque não tem jeito, tem muita gente ligeira; não, porque acho que não funciona; vi muita gente fracassar com isso; minha propriedade fica longe das outras. O problema é o dinheiro”. Pelas respostas observa-se que os agricultores demonstram resistência para desenvolver atividades coletivas. Essas posições refletem o modelo de sociedade na qual estamos inseridos que estimula o individualismo e a competição. 4) Quando perguntados, se participaria de grupo para construir um laticínio de pequeno porte? Dos 15 agricultores, três, responderam que sim, sete, depende, dois, dificilmente e, três, não. Os motivos citados pelos agricultores que disseram sim, foram: “se fosse para melhorar o preço, outros produtos dão mais lucro que o leite; o produto já sairia industrializado da propriedade e com melhor preço”. Os motivos dos agricultores que responderam depende, foram: “se fossem produtores de mesmo nível econômico; depende, tem muita concorrência o pequeno não tem vez; até que poderia me associar; se fossem honestos; tinha que estudar o caso; se for um grupo de grande laticínio, poderia ser uma alternativa, só que precisa ser gente que não dá calote; participaria se tivesse condições econômicas”. Os motivos citados pelos agricultores que disseram dificilmente, foram: “não funciona; idéia complicada é difícil” e, dos agricultores que responderam não, foram: “cada um deve fazer a parte dele; não dá certo; é meio difícil organizar, falta confiança, um pouco de tudo”. As respostas mostram que somente com muito esforço e trabalho é que vai-se fortalecer as ações coletivas já desenvolvidas pelos agricultores e/ou iniciar novas que possam dar consistência ao desenvolvimento agrícola. Outro questionamento feito aos agricultores foi sobre se recebe orientação técnica? Dos 15 agricultores, 12 responderam que sim, representando 80%. Desses produtores, nove, informaram que recebem orientação técnica só de uma empresa e/ou entidade, dois, de duas e, um, de três. Quando questionados sobre a freqüência? Dos 12 agricultores que recebem orientação técnica, oito, disseram que 160 o atendimento é por chamado, três, em torno de 40 dias e, um, muito variável, porque recebe orientação de empresas agropecuárias. Quanto as contribuições da orientação técnica os comentários foram: “muitas contribuições, no manejo dos animais, pastagens e solo; ajuda na orientação da produção; a orientação técnica sempre ajuda; trouxe bastante contribuições, ajuda o produtor; a assistência técnica foi ótima; ajuda, passa informação; mais sobre mamite, desverminar, problemas das vacas; ajuda, melhora, explicam, orientam como fazer, manejo, o que plantar; ajudam mais nas vacas doentes; o que pede explicam, ajudam, tá boa. Pelos comentários percebe-se que os agricultores valorizam a orientação técnica recebida das empresas e/ou entidades. 4.9 PRODUTOS LÁCTEOS: PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS POR AGRICULTORES EM PEQUENAS UNIDADES DE PRODUÇÃO Para verificar a aceitação de produtos lácteos produzidos e comercializados pelos agricultores em pequenas unidades de produção, foram feitas entrevistas com os responsáveis de estabelecimentos comerciais e consumidores que adquiriam produtos dessas unidades. Antes de analisar os resultados serão apresentados dados sobre o fluxo de venda de alguns dos produtos lácteos comercializados pelos estabelecimentos comerciais pesquisados. A quantidade média comercializada / estabelecimento / semana, de leite tipo C foi de 218 litros, variando de 27 a 900 litros, de leite longa vida, de 158 litros, variando de 3 a 1.000 litros; e, de queijo, de 37 kg, variando de 2 a 190 kg. Os dados mostram que 58% do leite vendido foi de leite tipo C (pasteurizado e embalado em saco plástico) e 42%, de leite longa vida (esterilizado e embalado em caixa de papel aluminizado). Nos municípios de Modelo e Serra Alta, os estabelecimentos comerciais pesquisados, onde a família de Olintho Ficcagna comercializava o leite, 52% das vendas foi de leite tipo C e 48% de leite longa vida. Todo o leite tipo C comercializado nesses estabelecimentos foi fornecido pela família de Olintho, porque nesses municípios as indústrias lácteas não fornecem leite tipo C, somente leite longa vida. Nesse sentido, principalmente nos municípios pequenos visualizamos como oportunidade a implantação de unidades como à da família de Olintho Ficcagna, tendo em vista melhorar a qualidade dos produtos lácteos comercializados e como consequência reduzir os riscos que os 161 mesmos possam trazer à saúde da população. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, 62% informaram que consomem leite tipo C e 38% leite longa vida. Em relação ao queijo, do total comercializado nos estabelecimentos pesquisados, 9% é de queijo colonial, sem inspeção, 55% de queijo oriundo de pequenas queijarias, com inspeção municipal e, 36% de queijo de indústria de médio e grande porte, com inspeção estadual e/ou federal. No município de Erechim, do total comercializado, 61% é de queijo oriundo de pequenas queijarias, com inspeção municipal e, 39% de queijo de indústria com inspeção estadual e/ou federal. Nos municípios de Modelo e Serra Alta, do total comercializado, 63% é de queijo colonial sem inspeção, 22% de pequenas queijarias sem inspeção e, 15% de indústrias de médio e grande porte. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, 22% informaram que consomem queijo colonial sem inspeção, 70% de pequenas queijarias e 8% de indústria de médio e grande porte. Os dados mostram que há mercado para os produtos fabricados em pequenas unidades de produção e coloniais. Porém, há necessidade de fortalecer e implantar os serviços de inspeção municipais e estaduais, como já comentado. Esse aspecto é evidenciado pelos agricultores que comercializavam leite e/ou produtos derivados em estabelecimentos comerciais e/ou diretamente aos consumidores, nas respostas dadas a pergunta, a inspeção é valorizada pelo consumidor e/ou mercadistas? Dos sete agricultores que vendiam produtos lácteos todos disseram que os consumidores valorizavam os produtos inspecionados. Os comentários foram: “sem inspeção vende para conhecidos, quem compra é porque conhece o produtor; sem inspeção os mercados não compram; o consumidor que tem dinheiro, valoriza, se tem pouco dinheiro não, compra pelo preço; os consumidores compram se conhecem o produtor, se não conhecem não compram”. Em relação aos mercadistas, dos sete agricultores, um, disse que os mercadistas valorizavam os produtos inspecionados e, seis, mais ou menos. Os comentários foram: “os mercadistas por segurança, podem deixar os produtos no balcão; os mercadistas estão mais preocupados com a fiscalização; sem inspeção não compram porque são fiscalizados, mas tem mercado que não compra produtos com inspeção para comprar produtos não inspecionados, a questão é o preço; os mercadistas estão preocupados com o fiscal”. 162 Em relação ao mercado, para exemplificar, cita-se dados fornecidos pela Secretaria de Agricultura do Município de Erechim, quanto a comercialização de leite e produtos derivados produzidos em pequenas unidades registradas no serviço de inspeção municipal (SIM). A figura 9, mostra uma queijaria registrada no SIM de Erechim. A quantidade total comercializada / mês foi de 9.698 kg de queijo, de 30.580 litros de leite tipo C, de 525 litros de bebida láctea, de 62 kg de ricota, de 34 kg de requeijão e, de 6 kg de manteiga, dados referente ao ano de 2000. Das 16 unidades, todas comercializam queijo, variando de 53 a 3.154 kg / mês. Dessas unidades, uma, também vende leite e bebida láctea, duas, ricota, uma, requeijão e, uma, manteiga. Os dados mostram que em torno de 100.000 litros de leite / mês são transformados em queijo e comercializados por pequenas queijarias sob orientação dos serviços de inspeção municipal. Os dados mostram que nos municípios maiores o queijo apresenta maiores possibilidades de comercialização do que o leite fluido. Quanto a comercialização de leite e produtos derivados serão analisadas as perguntas como segue: 1) Se nos últimos dois anos a venda de leite e dos produtos derivados, de um modo geral: aumentou, diminuiu ou continua a mesma? Dos 11 entrevistados, seis, disseram que aumentou, quatro, continua a mesma e, um, não soube informar. Quanto aos produtos cujo a venda aumentou: o leite longa vida, a bebida láctea, o iogurte e o queijo foram citados seis vezes, o leite tipo C, três, o requeijão, duas, e, o creme de leite, duas. 2) Se a maior procura é por leite longa vida ou leite de saquinho (tipo C)? Dos 11 entrevistados, 54% indicaram que a maior procura é por leite de saquinho, 18% por leite longa vida e 18% meio a meio. O motivo da procura pelo leite de saquinho no entendimento dos entrevistados deve-se ao preço mais baixo. Para exemplificar, o leite da marca FIBO, de saquinho, produzido pela família de Olintho Ficcagna, era vendido nos estabelecimentos comerciais de Modelo e Serra Alta, em média, por R$ 0,60 / litro e o leite longa vida por R$ 1,30 / litro, preços de maio de 2001. No município de Erechim, o leite de saquinho era vendido, em média, por R$ 0,72 / litro e o longa vida por R$ 1,18 / litro, também preços de maio de 2001. Os motivos citados pelos entrevistados que disseram que a maior procura era pelo leite longa 163 Figura 9 – Queijaria da família de Alcides Mariga localizada no município de Erechim/RS. 15/02/01. Valmir Dartora vida, foram: “vida útil do leite; o leite demora mais para estragar, por causa da embalagem; praticidade; facilidade”. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta, quando compra leite no mercado procura adquirir, leite longa vida ou saquinho? Dos cinco consumidores entrevistados, quatro responderam que compram leite longa vida e, um, de saquinho. Os motivos citados pelos entrevistados foram: “qualidade, tempo de validade. O leite de caixinha pode deixar fora da geladeira, menos cuidado que o de saquinho; compro leite de caixinha desnatado, problema de saúde; por opção, porque onde compro não tem leite de saquinho; compro leite de saquinho porque não tem conservantes”. 3) Se é possível distinguir diferença de consumo de leite e produtos derivados entre as diferentes categorias de renda da população? Dos 11 entrevistados, oito, responderam que sim, dois, não e, um não soube responder. Os comentários feitos pelos entrevistados que disseram sim, foram: “menor poder aquisitivo consome mais 164 leite, o queijo não tem relação econômica; consumidor de maior renda compra leite de caixinha”. Os comentários dos entrevistados que disseram não, foram: “as pessoas compram mais ou menos igual, independente de sua renda; as pessoas compram por necessidade”. Em relação a pergunta, o consumo de leite e derivados se dá mais entre a população: de baixa renda, de renda média e assalariados, de renda alta ou, todos consomem igualmente? Dos 11 entrevistados, três disseram que a população de menor renda compra mais leite tipo C e que a população de melhor renda compra mais leite longa vida, três, que o maior consumo se dá na população de renda média e assalariados, dois, que o consumo é igual independente da renda, um, que o maior consumo de leite se dá na população de baixa renda e que o queijo não tem relação econômica e, dois, não souberam responder. 4) Se há clientes que pedem produtos pela marca? Dos 11 entrevistados, nove, disseram que sim, um, não e, um não respondeu. O entrevistado que respondeu não, disse que a definição da compra se dá pelo preço. Em relação a pergunta, do total dos clientes quanto, em percentagem pedem produtos pela marca? Dos nove que disseram sim, quatro, responderam que a percentagem era maior que 50% e, cinco, menor que 20%. Isso mostra que a maioria dos consumidores dos estabelecimentos pesquisados não são orientados pela marca na compra de leite e de produtos derivados. Em continuidade a pergunta, dos que pedem produtos pela marca, a renda da maior parte deles pode ser considerada: média a alta, média e, média-baixa? Dos 11 entrevistados, seis, responderam que a renda é média, um, renda média a alta, um, renda média-baixa, um, não tem relação com a renda e, dois, não responderam. 5) Os clientes perguntam sobre a origem do leite e dos produtos derivados? Das opções apresentadas (todos, a maior parte deles, alguns e ninguém) as respostas foram: alguns, foi citado cinco vezes, a maior parte deles, quatro vezes, e, ninguém, duas vezes. Os dados indicam que a maioria dos consumidores não demonstram preocupação como a origem do produto que irão consumir. 6) Se há uma preocupação dos clientes em relação à qualidade dos produtos? Dos 11 entrevistados, nove disseram sim, um, que ninguém fala nada e, um, não 165 respondeu. Sobre a pergunta, o que os clientes entendem por qualidade do leite e dos produtos derivados? Das opções apresentadas as respostas foram: aspecto visual (aparência), foi citado sete vezes, condições de higiene na ordenha, coleta, processamento..., cinco vezes, produtos frescos, sete vezes, muita gordura, uma vez, tempo que o produto fica sem estragar, seis vezes e, outras, validade do produto, uma vez. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, sobre a pergunta, como você avalia a qualidade do leite e dos produtos derivados? Das opções apresentadas as respostas foram: aspecto visual (aparência), foi citado quatro vezes, condições de higiene na ordenha, coleta, processamento..., três vezes, produtos frescos, quatro vezes, muita gordura, uma vez, tempo que o produto fica sem estragar, duas vezes e, outras, experimento o produto, uma vez. Os dados mostram que a maioria dos consumidores relacionam a qualidade dos produtos com a aparência, o frescor, as condições de higiene na ordenha, coleta, processamento... e o tempo que fica sem estragar. Em relação ao último item, no caso do leite fluido, o período de validade do produto está diretamente relacionado ao processo industrial que for submetido. Por exemplo, o leite longa vida passa por um processo industrial que provoca sua esterilização. Por isso esse leite tem um período de validade de até quatro meses. Já, o leite tipo C passa por um processo industrial que preserva sua qualidade microbiológica. Portanto, por ser um produto que possui vida microbiológica tem um período de validade de três a quatro dias. Em continuidade a pergunta, no seu entendimento, qual a percentagem de consumidores que tem preocupação com a qualidade de produto? Das opções apresentadas as respostas foram: menos de 10% do total, foi citado duas vezes, de 10 – 30% dos consumidores, uma vez, de 30 – 50%, duas vezes, mais de 50% do total dos consumidores, cinco vezes e, um, não respondeu. Os resultados indicam que a maioria dos consumidores mostram-se preocupados com a qualidade do leite e dos produtos derivados. 7) No seu entendimento, qual a percentagem de clientes que sabem a diferença entre o leite de caixinha (longa vida) e o leite de saquinho (tipo C)? Dos 11 entrevistados, dois responderam que mais de 50% dos clientes, um, entre 80 – 90%, um, em torno de 30%, um, entre 15 – 20%, um, menos que 10%, um, que os clientes não sabem, três, fizeram comentários e, um, não respondeu. Os comentários citados 166 em relação a essa questão foram: “o leite de caixinha não precisa ferver; a diferença é o preço; a maioria acha que o leite de caixinha é melhor, por causa do preço; o leite de caixinha é melhor. É mais limpo; o leite de caixinha é de melhor qualidade; vida útil do produto”. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta, você sabe a diferença entre o leite de caixinha e o leite de saquinho? Os comentários foram: “a diferença é o preço; o filho prefere mais o de caixinha; o leite de caixinha é aguado, o de saquinho é mais grosso; gosto mais do leite de caixinha, mas o leite de saquinho é mais saudável, por isso compro o leite de saquinho; o leite de caixinha tem mais conservante, produtos químicos que prejudicam a saúde”. Pelos comentários, percebe-se que os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais e os consumidores não conhecem a diferença do processo industrial ao qual são submetidos o leite longa vida e o tipo C. Isso evidencia a necessidade de se fortalecer o trabalho de divulgação realizado pela Associação Brasileira das Industrias de Leite Pasteurizado (ABILP) sobre a diferença de qualidade do leite submetido a esses processos. 8) Há facilidade de se conseguir produtos de pequenos laticínios e queijarias? Dos 11 entrevistados, 10 responderam que sim, e, um, que não tem oferta. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta, há facilidade de se comprar leite e produtos derivados diretamente dos agricultores? Dos cinco entrevistados todos responderam, sim e, os comentários foram: “proximidade com o meio rural, produtos naturais; há bastante oferta na cidade; boa produção e oferta, valorização do produto local; produto oferecido no local do trabalho e em casa; proximidade com o meio rural, tudo gira em torno da agricultura”. 9) Se há algum problema em relação a pequenos laticínios e queijarias, no que diz respeito ao abastecimento e qualidade dos produtos? Dos 11 entrevistados, cinco disseram que não, dois, há pouca oferta, dois, falta produtos, um, falta uma estrutura comercial e, um, que o leite tem problema. Os comentários em relação a essa questão foram: “quanto ao leite há reclamação de qualidade, muito fraco e tem água (pesquisa feita em Erechim); a qualidade é ótima; pouca oferta; nem sempre tem quantidade suficiente de produto; a qualidade é ótima, boa. O problema é o 167 abastecimento pouca quantidade; falta uma estrutura comercial para organizar a comercialização dos produtos”. Pelas respostas percebe-se que o mercado não é problema para os produtos das indústrias de pequeno porte. 10) Na opinião dos comerciantes como é a aceitação dos produtos coloniais pelos consumidores? Dos 11 entrevistados, nove, responderam boa, um, muito boa e, um, ótima. Os comentários feitos foram: “os produtos coloniais sempre são os mais procurados, porque não tem agrotóxicos, conservantes; tem boa aceitação, a origem dos consumidores é rural; é boa, porque é colonial, porque não vai veneno, não tem conservantes, são produtos naturais; muitos querem o queijo colonial; preferem os produtos coloniais aos industrializados. Produto mais natural; é boa, porque não tem conservantes; ótima, os clientes aceitam muito bem”. Em relação aos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, as respostas da pergunta, na sua opinião como é a aceitação dos produtos coloniais? Dos cinco entrevistados, três, responderam boa e, dois, muito boa. Os comentários feitos foram: ”se acha que é mais puro, não tem veneno e nem conservante; tem menos produto químico. É mais natural”. Essa pergunta também foi feita aos agricultores que comercializavam leite e/ou produtos derivados em estabelecimentos comerciais e/ou diretamente aos consumidores, as respostas foram: dos sete agricultores que vendiam produtos lácteos, cinco responderam que a aceitação pelos produtos coloniais é boa, um, muito boa e, um, não muito. Os comentários feitos foram: “não muito (referindo-se aos produtos em geral), preferem comprar nos mercados. O leite sim, tem mais oito que entregam de casa em casa. As pessoas que compram acham e alegam que o de saquinho não é bom, as crianças não gostam; aceitação é boa, tenho fregueses há seis anos; os produtos coloniais são mais naturais, por isso tem melhor aceitação; há sete anos vendia 8 litros de leite / dia, hoje vendo em torno de 120 litros”. Pelos comentários fica evidenciado mais uma vez que o mercado não é problema para os produtos das indústrias de pequeno porte e os agricultores que comercializam seus produtos diretamente aos consumidores. A figura 10, mostra uma visão parcial de uma pequena queijaria da família do agricultor Piovesan, localizada no município de Saltinho/SC. 168 Figura 10 – Pequena queijaria da família Piovesan – Saltinho/SC. 06/06/00. Cristine Lopes Abreu Além disso, no nosso entendimento existem outros locais de comercialização para o leite e os produtos derivados que podem ser explorados. Por exemplo, na merenda escolar, nas creches, nos asilos, nos hospitais, nos presídios, entre outros. Para exemplificar, faremos uma projeção da quantidade de leite utilizada na merenda escolar nas microrregiões de Erechim e Chapecó, tendo-se por base os dados fornecidos pelas Secretarias Municipais de Educação dos municípios de Serra Alta, Gaurama e Erechim. Em Serra Alta, 570 alunos, recebem / mês 250 litros de leite, 35 kg de queijo e 45 kg de nata. Em Gaurama para 1.060 alunos são fornecidos 170 kg de leite em pó diluído em água / mês e, em Erechim, 15.800 alunos, recebem / mês 2.550 kg de leite em pó diluído em água, dados referentes ao ano de 2001. Transformando o leite em pó e o queijo em leite fluido, tem-se para cada aluno, em média, 1,6 litro de leite / mês. Considerando que o número de alunos que recebem merenda escolar representam, em média, 17% do total da população, tem-se para a microrregião de Erechim uma estimativa de 36.853 alunos e um consumo de 58.964 litros de leite / mês e, para a microrregião de Chapecó uma estimativa de 57.978 alunos e um consumo de 92.764 litros de leite / mês. Os dados 169 mostram que a merenda escolar também é um mercado potencial para o leite e os produtos derivados. Porém, há o problema da estacionalidade, nos períodos de férias dos alunos e professores. Outro aspecto a se destacar é a importância que o leite informal tem para o produtor e o consumidor. Nesse sentido cita-se estudo da empresa Tetra Pak, fabricante de embalagens tipo longa vida. A empresa encomendou um estudo para saber porque o consumidor brasileiro ainda compra leite informal. Segundo a pesquisa, o motivo da preferência pelo leite informal “sustenta-se no binômio qualidade e preço, sendo a qualidade apontada em primeiro lugar, relatada pelo consumidor através das seguintes citações: o leite é mais forte, o leite é mais gordo, o leite é natural, o leite é mais saudável, entre outras. Ainda de acordo com os entrevistados, o preço pago pelo leite cru é o mais baixo entre todos os tipos de leite avaliados o que, aliado à facilidade de pagamento, torna este tipo de leite mais acessível aos consumidores de mais baixa renda. O estudo conclui que, somente com uma forte campanha de marketing o leite informal poderá ser combatido no País, principalmente no interior” (ALOÍSIO, 2000). Sobre a conclusão do estudo é necessário questionar porque terminar com o leite informal? Se o determinante da compra e a preferência pelo produto é porque o consumidor acha que o leite é mais puro, mais nutritivo, mais saudável, com bom aspecto geral e de qualidade. Além disso, outro aspecto muito importante nesse mercado é a relação existente entre os consumidores e os produtores, principalmente nos pequenos e médios municípios, a qual transcende as questões comerciais, entre estes estão os aspectos culturais, de confiança, de honestidade, de proximidade, laços familiares... que reforçam a preferência dos consumidores pelos produtos coloniais. Isso fica demostrado pelos consumidores pesquisados que adquiriam leite e/ou produtos derivados diretamente dos agricultores, nas respostas a pergunta, qual(ais) o(s) motivo(s) que levou(aram) você comprar leite e/ou produtos derivados desse agricultor? Das opções apresentadas as respostas foram: de amizade e confiança, foi citada três vezes e, qualidade dos produtos, três vezes. Os comentários feitos foram: “porque vendia queijo na cidade e os comentários eram bons; porque os colegas compraram e gostaram”. Então, a pergunta que se faz é, ao invés de acabar com o leite informal, porque não fazer uma campanha no sentido de construir ações para melhorar a qualidade destes produtos? 170 Essas ações passam indiscutivelmente, pela implantação e fortalecimento dos serviços de inspeção municipais e estaduais adequadas à realidade das pequenas agroindústrias. Esses aspectos irão potencializar o desenvolvimento dos mercados locais e reduzir os riscos que estes produtos possam trazer à saúde dos consumidores. Como consequência dessas ações ter-se-á o fortalecimento das pequenas unidades de produção. No entanto, a adoção de um outro “modelo” dependerá muito mais da unidade, da organização e da luta dos segmentos envolvidos e da sociedade, do que das “vantagens e/ou desvantagens” encontradas entre os “modelos”. Aliás, muitas pesquisas já demonstraram que, em muitos casos, as alternativas encontradas para a produção ou mesmo para processos tecnológicos não são adotadas por suas “vantagens e/ou desvantagens” frente às demais opções, mas sim pela capacidade de seus propositores em articular os interesses dos segmentos envolvidos. 4.10 ANÁLISE COMPARATIVA DAS MICRORREGIÕES DE ESTUDO Como um dos objetivos desse trabalho é verificar a possibilidade de adaptação, para a microrregião de Erechim, de sistemas de produção de leite à base de pasto resultante da ação de organizações de agricultores e de projetos de extensão realizados pelo DZDR, no Estado de Santa Catarina, tendo como referência o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, localizada no município de Serra Alta, pertencente a microrregião de Chapecó, vai-se fazer uma análise comparativa de algumas características dessas microrregiões. Em relação aos solos, estas microrregiões por estarem situadas na mesma área dos derrames de lavas basálticas da Formação Serra Geral geológica e terem condições climáticas semelhantes, possuem cobertura pedológica formada pelos mesmos tipos de solos. Quanto ao clima as duas microrregiões possuem de maneira geral, clima classificado como Cfa. Isto é, clima subtropical constantemente úmido, sem estação seca, com verão quente (temperatura média do mês mais quente > 22,0ºC). Desta forma, as práticas que a família de Olintho Ficcagna utiliza para conduzir o sistema de produção de leite à base de pasto, podem servir como 171 referência para os agricultores da microrregião de Erechim que pretendem desenvolver sistemas similares. A estrutura fundiária das microrregiões também são semelhantes, formada na grande maioria pela existência de pequenos estabelecimentos rurais. Esse aspecto leva os agricultores a utilizarem sistemas agrícolas dentro da lógica da produção diversificada, tendo por objetivo reduzir os riscos climáticos e econômicos, utilizar os recursos naturais e mão-de-obra disponíveis, de forma que possam garantir o sustento de suas famílias. Porém, na contra mão dessa lógica existe a pressão de mercado para a produção especializada e o aumento de escala, provocando sérios problemas de exclusão dos produtores e acentuando ainda mais o êxodo rural. Na microrregião de Erechim a atividade leiteira está presente em 76% dos estabelecimentos rurais e as propriedades com até 10 vacas possuem 92% do rebanho, produzem 90% da produção e envolvem 98% dos produtores. Na microrregião de Chapecó a atividade leiteira está presente em 79% dos estabelecimentos rurais e as propriedades com até 10 vacas possuem 90% do rebanho, produzem 86% da produção e envolvem 98% dos produtores. Isso mostra a semelhança que essas microrregiões tem quanto a abrangência da atividade e a estrutura produtiva. Além das características edafoclimáticas, estrutura fundiária e produtiva é fundamental também considerar os aspectos culturais, étnicos e sócioeconômicos dos agricultores, quando se busca sensibilizar os mesmos no sentido de adotarem determinadas tecnologias. De modo geral, nessas microrregiões, esses aspectos se apresentam com grandes similaridades. Isso se deve, em boa parte, à origem e etnia dos colonizadores e a estrutura social e econômica presente nas comunidades dessas microrregiões. Como já citado, os colonizadores dessas microrregiões eram descendentes de imigrantes das colônias velhas do Estado do Rio Grande do Sul. Diante do exposto, vê-se que a proposta de produção de leite à base de pasto desenvolvida no Estado de Santa Catarina, tendo por base o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, é plenamente viável e pode servir como referência aos agricultores da microrregião de Erechim. 172 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES Um dos resultados esperados era que os sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho tivessem maior produtividade, porque nesses sistemas, em média, os animais recebem mais alimentos concentrados e conservados. Porém, nesse estudo, os sistemas intensivos foram, em média, os menos produtivos. Outro aspecto a se ressaltar é que esse resultado difere dos resultados de outras pesquisas e do senso comum, onde os animais que recebem mais alimentos no cocho (forragens cortadas e/ou conservadas) e mais alimentos concentrados são os mais produtivos. Isso mostra que os resultados obtidos em outras pesquisas não têm conseguido expressar a realidade dos sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades rurais. No entanto, fica evidenciada a necessidade de realizar-se pesquisas tendo como unidades experimentais os sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades rurais, pois refletem não apenas os fatores estudados, mas agregam informações sobre as interações do homem e o ambiente. Quanto aos resultados econômicos destaca-se que nas três situações analisadas: primeira, quando os resultados econômicos foram obtidos considerandose todas as fases realizadas pelos agricultores desde a produção até a comercialização; segunda, quando a remuneração dos componentes de custos de produção como mão-de-obra, administração e capital fixo, resultantes das fases desenvolvidas pelos agricultores, foi contabilizada como oportunidade e não como custo; e, terceira, na simulação, como se todos os agricultores comercializassem o leite com a indústria, em todas as situações os sistemas pastoris apresentaram os melhores resultados econômicos. Isso demonstra a viabilidade econômica dos sistemas pastoris comparados aos outros sistemas estudados e os equívocos das recomendações que buscam a competitividade através de sistemas intensivos de uso de alimentos no cocho. Em relação às avaliações econômicas da atividade leiteira realizadas por muitos agricultores, técnicos e empresas, que consideram somente as despesas realmente efetivadas com a atividade, não contabilizando as despesas de manutenção das instalações e equipamentos e nem os custos de depreciação, no nosso entendimento são insuficientes, porque elas não mostram os reais resultados 173 econômicos da atividade e têm contribuído para a descapitalização e empobrecimento dos agricultores. Outro aspecto a se ressaltar é que os sistemas de produção utilizados nas propriedades contribuíram com os resultados econômicos da atividade leiteira, mas tiveram influência decisiva sobre esses resultados, as fases realizadas pelos agricultores após à produção primária, como o processamento, a transformação e a comercialização do leite e/ou dos produtos derivados. Isso mostra a importância que as fases desenvolvidas após o sistema produtivo têm na agregação de valor aos produtos primários. Quanto aos aspectos ambientais os resultados mostraram que o sistema convencional é o mais utilizado na implantação das pastagens. A rotação de culturas é usada sem um planejamento no sentido de intercalar culturas de gramíneas e leguminosas. A prática de usar leguminosas nas áreas de pastagens perenes de verão, no período de inverno, não é utilizada. As pastagens de verão e de inverno não são consorciadas com espécies leguminosas. De modo geral as pastagens são manejadas de forma inadequada, principalmente as naturalizadas (potreiros). Nos projetos assessorados pelo DZDR a introdução de espécies forrageiras nas áreas de potreiros e/ou de outras pastagens perenes de verão e/ou de inverno é feita através do método de sobressemeadura. Nas áreas de lavouras a implantação das forrageiras anuais de verão e/ou de inverno é realizada através de sistema que provoca o menor revolvimento possível no solo e/ou sobressemeadura. As forrageiras introduzidas e/ou implantadas nas áreas de potreiros e nas pastagens perenes de verão e/ou inverno e/ou usadas nas consorciações são preferencialmente espécies leguminosas, tendo por objetivo melhorar a qualidade das pastagens e através da fixação simbiótica adicionar nitrogênio no solo. Nesses projetos, solo-pasto-animal são manejados através do método PRV. Outro manejo a se destacar é que o aleitamento das terneiras é feito através do sistema vaca-ama. Esses aspectos, entre outros, evidenciam que a proposta de produção de leite à base de pasto resultante da organização dos agricultores e do DZDR, pode servir como referência para os agricultores da microrregião de Erechim. 174 Outro aspecto importante na direção da sustentabilidade é o desenvolvimento de atividades que apresentam características de complementariedade, tendo como objetivos reduzir a dependência de insumos externos e otimizar os sistemas produtivos e não maximizar a produção. Em relação aos agrotóxicos os resultados demonstraram que todos os agricultores utilizam e/ou utilizaram nas áreas de pastagens e/ou lavouras e nos animais. Quanto aos motivos, as respostas mostraram que os agricultores possuem poucas alternativas, principalmente para controlar as ervas nas áreas de lavoura e os endo e ectoparasitas nos animais. Isso evidencia a necessidade de se intensificar esforços no sentido de desenvolver alternativas que sejam de uso compatível com as pequenas unidades de produção e que não contaminem o homem, os animais, os alimentos e o ambiente. Para isso precisamos conhecer melhor a grande diversidade dos sistemas e recriar o conhecimento ecológico local nas regiões geográficas onde os sistemas estão sendo desenvolvidos. Com referência à percepção dos agricultores sobre a atividade leiteira alguns comentários feitos identificaram a política de especialização e de concentração como um entrave para se manterem na atividade. Outros, apontaram a importância que a atividade tem para os agricultores e as dificuldades quanto ao preço recebido pelo produto. A alternativa apontada pela maioria dos agricultores foi para o aumento da escala de produção. Com respeito à avaliação subjetiva são muitas as interações e os fatores que influenciam no grau de satisfação dos agricultores e na forma como é administrada e desenvolvida a atividade leiteira. Para a maioria dos agricultores a atividade leiteira é desenvolvida como uma estratégia de ingresso de uma renda mensal, portanto a rentabilidade não é o fator que determina sua continuidade ou não. Isso mostra que a atividade leiteira é elemento chave para a manutenção das pequenas unidades de produção. Na nossa percepção a atividade leiteira é uma das últimas atividades que ainda restam para o conjunto dos pequenos agricultores. Outro aspecto a se destacar é que em 53% das propriedades também residem com os agricultores os seus pais já aposentados. Isso demonstra que os agricultores 175 além de produzirem alimentos e matérias-primas para sustento de suas famílias e para a população, estão desempenhando um importante papel social junto aos seus familiares. Em relação ao êxodo rural constatou-se que 64% dos filhos com mais de 20 anos de idade não estão mais no meio rural. Isso mostra que o processo de sucessão e reprodução da agricultura desenvolvida nas pequenas unidades estão visivelmente comprometidos. Apontando para a necessidade urgente de se construir e executar ações que fortaleçam a agricultura de pequeno porte e que essas possam gerar oportunidades para os filhos dos agricultores optarem pela agricultura ou não. Com respeito à participação dos agricultores em atividades associativas suas posições refletem o modelo de sociedade na qual estamos inseridos. Nesse sentido somente com muito esforço e trabalho poderemos fortalecer as ações coletivas já desenvolvidas e/ou iniciar novas que possam dar consistência ao desenvolvimento agrícola. Quanto ao mercado os resultados mostraram que existem espaços para os produtos produzidos e processados em pequenas unidades de produção e coloniais. Na nossa percepção nos municípios pequenos há maior potencial para o leite fluido e nos municípios maiores, principalmente para o queijo. A aceitação dos produtos é muito boa e está relacionada com sua qualidade e preço, entre outros aspectos como confiança, honestidade, proximidade... A manutenção da atividade leiteira em pequenas unidades de produção passa pela execução de pequenas unidades processadoras, voltadas para os mercados locais e regionais, organizadas em rede para comercializar seus produtos nos mercados mais distantes, utilizando-se de mão-de-obra majoritariamente familiar e sistemas de produção que possam viabilizar os custos da matéria-prima. Outros aspectos importantes são a elaboração de uma legislação sanitária adequada às pequenas unidades e políticas de apoio específicas que permitam às pequenas concorrerem com seus produtos nesses mercados. 176 Quanto à produção de leite à base de pasto, processamento, transformação e comercialização, desenvolvida no Estado de Santa Catarina, tendo por base o projeto piloto implantado na propriedade da família de Olintho Ficcagna, mostrou-se plenamente viável em termos sociais, econômicos e de sustentabilidade, e pode servir como referência para aos agricultores da microrregião de Erechim que pretendem desenvolver sistemas similares. Isso se deve porque as microrregiões possuem características edafoclimáticas, estrutura fundiária, produtiva e sócioeconômica semelhantes e também aos aspectos culturais e étnicos, devido a origem dos colonizadores. Por fim, constata-se que a pesquisa veio confirmar a hipótese. Porém, a construção de um desenvolvimento que reduza o processo de exclusão e dinamize as economias locais e regionais, exige de parte dos integrantes da cadeia, das entidades comprometidas com a agricultura de pequeno porte, produtores e sociedade como um todo, unidade, organização e muita luta no sentido de executar projetos que possam consolidar as pequenas unidades de produção e os pequenos e médios empreendimentos lácteos no País. Caso contrário estaremos assistindo o mesmo processo de exclusão ocorrido na suinocultura e que está em pleno andamento na atividade leiteira, com as conhecidas consequências sociais, econômicas e ambientais. 177 REFERÊNCIAS ALMEIDA, j. Da ideologia do progresso à idéias de desenvolvimento (rural) sustentável. In: Reconstruindo a agricultura. Idéias e ideais na perspectiva do desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade /UFRGS, 1997. p. 33-55. ALOÍSIO, P. Tetra pak fez estudo do problema do leite informal. 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