O BALANCED SCORECARD APLICADO NO MESTRADO ACADÊMICO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE. Ricardo Cesar de Oliveira Borges1, Francisca Aleíza Martins de Almeida2, Maria Luiza Silveira3. RESUMO O objetivo desse trabalho é demonstrar a aplicação da metodologia pelos conceitos que fundamentam o Balanced Scorecard (BSC) como ferramenta estratégica útil para a condução do curso de Mestrado Acadêmico em Administração (CMA) da Universidade Estadual do Ceará -UECE. Para o objeto de aplicação do estudo, o CMA da UECE, foram atribuídos os seguintes indicadores para as perspectivas: os clientes (identificar os objetivos na relação com os clientes), processos internos (identificar os processos mais críticos para realização dos objetivos), aprendizado e crescimento papel dos funcionários e professores), no caso da última perspectiva que seria a financeira foi alterada para perspectiva de desempenho acadêmico, levando em consideração que esse é o principal foco do curso. A conclusão é a de que a aplicação da ferramenta BSC na gestão estratégica do CMA é adequada a sua cadeia de causa e efeito apresentada por Kaplan e Norton (1998), o que poderá resultar num processo de melhoria do curso. PALAVRAS-CHAVE: Balanced Scorecard, Planejamento, Curso de Pós-Graduação. ABSTRACT The aim of this study is to demonstrate how the use of Balanced Scorecard (BSC) could be useful as a strategic tool to evaluate and manage actions developed in the Administrative Master Programe of the Estate University of Ceará. In order to develop this present study, the following indicators were setting up: clients (identify the objectives in the relationship with clients), internal processes (identify the critical processes) and learning and growing (lecture and students’s role). The financial perspective was changed by an academic one. The academic result was underlined by the criteria established by the CAPES, who is in charge to evaluate post graduated programs in Brazil. Results and conclusions show how BSC can be used as a strategic tool in order to result in better results for the focused course. KEY-WORDS: Balanced Scorecard, Strategies, Post Graduated Programs 1 Doutorando em Geografia, Mestre em Administração e Administrador de Empresas. Coordenador do Curso de Bacharelado em Administração da Faculdade Cearense. [email protected]. 2 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Administração da Faculdade Cearense. [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Administração da Faculdade Cearense. [email protected]. SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 HISTÓR ICO DA UECE E DO CMA; 2.1 A Universidade Estadual do Ceará – UECE; 2.2. O curso de Mestrado em Administração da UECE 3 Planejamento estratégico ; 3.1 Definição e contextualização; 3.2 Função e elaboração; 3.3 Gestão estratégica; 4 Balanced Scorecard – uma ferramenta de planejamento estratégico; 5 Proposta de adaptação do BSC; 6 Considerações finais; 7 Referências Bibliográficas 1 INTRODUÇÃO Uma das maiores dificuldades de gestão das empresas, de um modo geral, do mundo inteiro é conseguir que todo o corpo profissional opere de forma alinhada com o pensamento estratégico da diretoria e da presidência da empresa. Torna-se cada vez mais difícil encontrar modelos adequados de gestão e de comunicação que mantenham todo o time agindo de forma alinhada com as metas estratégicas da organização. A proposta do Balanced Scorecard, como ferramenta voltada para operacionalizar o planejamento estratégico, desenvolvido e divulgado pelos professores Robert Kaplan e pelo David Norton (2000, p. 8), é construir um modelo científico para representar a estratégia empresarial de forma clara e objetiva. O BSC, segundo Kaplan e Norton (1997), pode ser definido como um sistema de medição ou um conjunto de indicadores que avalia o desempenho baseado em direcionadores futuros relacionados a ativos intangíveis como aprendizado, inovação e relacionamento com os clientes. Criado em 1992, a sua contribuição, naquele momento, foi tida como a ampliação do conceito de desempenho das empresas, até então restrito aos indicadores financeiros. Para Kaplan e Norton (1992, p. 71), o que se mede é o que se atinge depois, ou seja, o comportamento dos executivos e dos empregados de uma organização é fortemente influenciado pelo sistema de indicadores dessa organização. Daí a importância de um sistema de mensuração que descreva o desempenho da organização, não apenas sob a perspectiva financeira, mas também sob as perspectivas operacionais do cliente, do processo interno e da inovação/aprendizagem. Inclusive, o termo Balanced Scorecard expressa justamente essa idéia; a de um cartão com a pontuação (os scores) da performance da empresa, apresentada de 2 forma balanceada para as suas áreas relevantes; não existindo mais aquele desequilíbrio em prol da área financeira. No modelo do BSC as perspectivas se inter-relacionam, criando um modelo de causa e efeito entre elas. O modelo parte do princípio que há quatro perspectivas de atuação empresarial que influenciam na estratégia da empresa: Financeira; Clientes e Mercado; Processos Internos; Crescimento e Aprendizado. O caso em estudo será a utilização da ferramenta estratégica do BSC no curso de Mestrado Acadêmico em Administração, afim de uma melhor adaptação do curso às mudanças globais e atender a novas necessidades de conhecimentos e habilidades nesta área. Portanto, o objetivo deste trabalho é demonstrar a aplicação da metodologia pelos conceitos que fundamentam o Balanced Scorecard (BSC) como ferramenta estratégica útil para a condução do curso de Mestrado Acadêmico em Administração (CMA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A instituição educacional em estudo, sediada em Fortaleza, na qual possui perante a comunidade acadêmica nacional renomado prestigio como instituição de ensino superior, assumindo o compromisso do desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão sem fins lucrativos. Nesse estudo de caso, utilizou-se dos conceitos do BSC para evidenciar a perspectiva do resultado acadêmico que é composto pelos critérios estabelecidos pela Coordenação de Pessoal de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) com finalidade de mostrar objetivos e indicadores pelo quais o curso poderá avaliar e monitorar o desempenho da missão e visão propostas pela instituição. As perspectivas do Balanced Scorecard que serão medidos são: Resultado Acadêmico; Clientes e Mercado; Processos Internos; Crescimento e Aprendizado. 3 2 HISTÓRICO DA UECE E DO CMA 2.1 A Universidade Estadual do Ceará – UECE A Universidade Estadual do Ceará - UECE surgiu obedecendo aos princípios da reforma universitária de 1968 (Lei n° 5.540), reestruturando os cursos e faculdades já existentes em departamentos e centros e mantendo sua estrutura. A gênese da UECE é identificada com seis instituições de ensino superior, das quais três de caráter privado e três de caráter público. As instituições privadas foram as seguintes: Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, fundada em 15.05.43; Escola de Serviço Social de Fortaleza, fundada em 25.03.50 e o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, criado em 1963. As instituições públicas, mantidas pelo Governo do Estado, eram as seguintes: Escola de Administração do Ceará, organizada a partir do Instituto Cearense de Administração fundado em 1957; a Faculdade de Veterinária do Ceará, criada em 1962; e a Faculdade de Filosofia do Ceará, encampada em 1966. O raio de ação da UECE não se restringe a Fortaleza, pois se caracteriza como uma Universidade multi-campi, sendo a maior Universidade do Ceará. Suas unidades cobrem espaços estratégicos do interior cearense, em nove cidades, a saber: Litoral (Faculdade de Educação de Itapipoca), Sertão Central (Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, em Quixadá e Campus Avançado de Senador Pompeu), Inhamuns (Faculdade de Educação de Crateús, em Crateús) e Vale do Jaguaribe/Centro-Sul (Faculdade de Filosofia Dom Aurélio Matos, em Limoeiro do Norte e Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu). Recentemente, foram inaugurados o Campus Avançado de Educação, Ciência e Tecnologia dos Inhamuns, localizado em Tauá, e o Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maciço de Baturité, localizado em Baturité. Desse modo é destacada a função social da UECE, distinguindo-a das demais universidades presentes no Estado e de suas respectivas vocações urbanas. Além dos cursos regulares, a UECE está presente em mais quarenta e sete municípios cearenses com programas especiais de formação de professores (Licenciatura Plena, em parceria com prefeituras municipais e com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará). 2.2. O curso de Mestrado em Administração da UECE Deve-se ressaltar a importância da experiência do Mestrado Acadêmico em Administração - CMA/UECE, criado em 17.06.91 pela Resolução 456/91 do Conselho de 4 Ensino, Pesquisa e Extensão - CEPE e homologado pela Resolução 091/91 do Conselho Universitário - CONSU, em setembro do mesmo ano. O curso iniciou suas atividades em fevereiro de 1992. O CMA/UECE, atualmente, concentra-se no desenvolvimento, na pesquisa e na difusão de conhecimentos na área de pequenos e médios negócios, importante segmento para a geração de emprego e de renda no Ceará. São objetivos do curso de Mestrado Acadêmico em Administração/UECE: 1. Capacitar profissionais, com formação superior, para o exercício das funções executivas e gerenciais junto à pequena e média empresas; 2. Formar pessoal para o exercício qualificado das atividades de ensino e pesquisa; 3. Fomentar o desenvolvimento de pesquisas e a geração de novos conhecimentos na área de Administração. São linhas de pesquisa do Mestrado Acadêmico: 1. Gestão e Cultura e 2. Macro Cenários, Ambientes e Estratégias Empresariais. No âmbito do curso de Mestrado Acadêmico, a Universidade tem firmado vários convênios com universidades estrangeiras. Em 07 de junho de 1995, firmou convênio de colaboração com a Université du Québec à Chicoutimí-(UQAC-Canadá), abrangendo o intercâmbio de professores e estudantes, realização de pesquisas de interesse comum dos convenientes e troca regular de publicações que tratam da administração de empresas, assim como acesso recíproco às publicações de artigos de professores. Desde então, iniciativas envolvendo a troca de experiências entre alunos e professores e de interesse do desenvolvimento local, como a constituição do consórcio entre a UECE, o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Estado do Ceará (SEBRAE), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará, a Universidade do Québec e a Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional para o desenvolvimento sustentável da pequena e média empresas na região. Foi também firmado convênio com a Universidade de Bologna, a Universidade de Santiago de Compostela, a University of London e a FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, para o desenvolvimento de iniciativas semelhantes às já mencionadas. Além disso, por meio de acordos com a CDL (Câmara dos Diretores Lojistas), a AJE (Associação dos Jovens Empresários), o IEL (Instituto Euvaldo Lodi), o SEBRAE, a FIEC (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), o CIC (Centro Industrial do Ceará) e o MIS (Museu da Imagem e do Som), o Mestrado tem desenvolvido ações conjuntas referentes à 5 cooperação e promoção de pesquisas, bem como atividades de intercâmbio entre pesquisadores de ambas instituições. 3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A metodologia tradicional para o planejamento estratégico é possível de ser implantada em universidades. Todavia, deve-se levar em consideração que as mesmas são sistemas complexos e que muitas vezes adaptações individuais serão necessárias. Deve-se reconhecer que o principal cliente do sistema é a sociedade e que seus anseios de eficiência e eficácia serão monitorados permanentemente de forma a identificar desvios entre o almejado e o alcançado. Nessa seção, serão abordadas as conceituações do planejamento estratégicas, bem como sua contextualização histórica e empresarial, função e elaboração do planejamento e, por fim, a gerência estratégica, ressaltando o processo decisório como ápice do plano. 3.1 Definição e contextualização A existência de uma organização depende freqüentemente da sua habilidade em se adaptar às mudanças ao meio. O ambiente, influenciado pelas forças da concorrência e do próprio governo, dentre outras, representa para a empresa pontos fortes, oportunidades ou ameaças. A melhor gestão desses fatores faz com que as empresas cresçam ou se insiram nesse mercado. Cabe aos gestores, como uma de suas qualidades, vislumbrar tais mudanças e preparar a organização para as mesmas. A maior tarefa de um estrategista deve ser a de utilizar-se da análise ambiental da empresa para atingir os objetivos planejados. A visão de futuro deve ser uma constante dentro de uma empresa, devendo ser compartilhada em todos os níveis hierárquicos. Os objetivos estratégicos da empresa também devem ser difundidos em toda a organização. Relaciona-se a formulação do conceito de estratégia com a noção de concorrência, jogos e até guerra. Nessa disputa, vence a organização mais capaz de selecionar do meio, fatores que a levam a conquistar seus objetivos. A arte dos generais gregos, estrategos, de planejar suas guerras na antiga Grécia, segundo Maximiano (2000, p.392), relaciona-se perfeitamente com o enfoque sistêmico na modernidade. 6 3.2 Função e elaboração Historicamente, o planejamento formalizado e estratégico tornou-se popular nos anos 60. Faz-se planejamento por diversos motivos, dentre eles: o planejamento estratégico fornece direção, reduz o impacto das mudanças, minimiza desperdício e fixa padrões para determinar o controle (ROBBINS, 2000). O planejamento estratégico fornece um norte para a organização. Estabelecendose um esforço coordenado e diante da ciência de todos para aonde a organização vai, percebese um movimento crescente em eficiência rumo aos objetivos desejados. Com o planejamento estratégico, também, a empresa antecipa-se às mudanças, considerando seus impactos e analisando alternativas para uma mínima interferência na organização, podendo aproveitar novas oportunidades em seus negócios. Esse reduz ainda as tarefas redundantes, fazendo com que a empresa se torne mais eficiente na execução de suas atividades sem repetições. Por fim, ao desenvolver objetivos no planejamento estratégico, pode-se analisá-los, compará-los e controlá-los, afim de uma maior participação no mercado e evolução organizacional. Não basta, contudo, antever o futuro. É imprescindível desenvolver ações concretas ou comprometidas com a implementação dos objetivos empresariais planejados. Tais ações que perseguem algo no futuro são baseadas em um planejamento estratégico. A propósito, Robbins (2000, p.116) enfoca: O planejamento compreende a definição das metas de uma organização, o estabelecimento de uma estratégia global para alcançar essas metas e o desenvolvimento de uma hierarquia de planos abrangentes para integrar e coordenar atividades. Portanto, perpassa pelos conceitos de eficácia e eficiência, tendo em vista que aborda não somente o que será feito, mas também, como será feito, respectivamente. O plano deverá apontar as atividades e a metodologia para galgar os objetivos esperados. Stoner (1995, p. 136) caracteriza o planejamento como uma locomotiva ou como uma árvore ao citar as funções básicas da Administração. Sem plano, os gestores não poderão organizar suas instituições, controlar ou liderá-las. Comandá-las seria outra função inexistente. Robbins (2000, p. 116) aponta a existência de dois planejamentos, um estratégico e o outro operacional. O primeiro refere-se à organização como um todo, estabelecendo objetivos globais e posicionando-se em termos de ambiente. O Planejamento Operacional aborda ações específicas de como devem ser alcançados aqueles objetivos globais. Esse 7 trabalho enfoca, contudo, somente o primeiro, pois é o que está sendo desenvolvido na instituição de ensino superior escolhida. 3.3 Gestão estratégica A elaboração de um plano estratégico não é tão simples. Contudo, é possível ser executado em qualquer organização, independente do seu porte. Necessita-se da identificação das oportunidades e ameaças, bem como do completo conhecimento dos pontos fortes e fracos internos à empresa. São dois processos independentes, mas que precisam ser analisados em conjunto. Além do mais, o planejamento estratégico é ainda bastante crucial na presença de ambientes bastante voláteis. Maximiano (2000, p. 399) informa que “Quanto mais instável e complexo for o ambiente, maior a necessidade do enfoque sistêmico e do planejamento estratégico”. A ação da concorrência, com novas idéias e novos produtos é fator de intranqüilidade empresarial para os gestores. A demanda, outra variável, dos consumidores do ambiente envolve fatores como o geográfico, o demográfico e o comportamental. As mudanças na economia, na tecnologia e na ação pública também podem contribuir para as mudanças ambientais. O ambiente externo também é abordado por Stoner (2000, p. 46) ao definí-lo como “todos os elementos fora de uma organização que são relevantes para sua operação. Numa visão sistêmica, as empresas dependem do meio e trocam recursos com ele”. O meio oferece a empresa insumos que, após transformados, voltam para o meio como produtos. Os executivos devem ser sensíveis à dependência da empresa ao meio e identificar as suas várias influências no comportamento da organização, recomendando respostas às mudanças externas. Mas o ambiente externo não é o único fator a ser considerado na análise do ambiente econômico de uma empresa. Esta possui pontos fortes e fracos a serem estudados. A sua análise requer um perfeito canal de comunicação dentro da organização. As informações devem fluir com rapidez e naturalidade para a realização da análise. “A análise interna fornece aos tomadores de decisão estratégica um panorama das habilidades e recursos da organização, bem como os níveis de desempenho gerais e funcionais”, ressaltam Bateman e Snell (1998, p. 129). Em análises nas áreas financeira, marketing e de recursos humanos, por exemplo, são reconhecidos e examinados os pontos fortes e fracos da empresa diante do objetivo geral. Diferencia-se, por tanto, da análise do ambiente externo, que estuda o setor e mercado de atuação, concorrentes, política, tecnologia e vida social, entre outras. 8 Toda essa arte de planejar uma estratégia, diante das necessidades do mercado, para gerar um processo de mudança, finaliza-se no processo decisório. Com as informações do mercado recolhidas, analisadas e delimitadas, o estrategista é o que propõe soluções viáveis para atuação empresarial. 4 BALANCED SCORECARD – UMA FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O BSC é uma filosofia prática e inovadora de gestão da performance das empresas e organizações. O objetivo da sua implementação é permitir uma gestão eficaz do desempenho organizacional, baseando-se na visão e estratégia da empresa e traduzindo-a em indicadores de performance. Ao contrário dos métodos de gestão tradicionais, o BSC permite sustentar a estratégia da empresa com indicadores financeiros e não financeiros. Desenvolvido pelo professor de Harvard, Robert Kaplan, e pelo Executivo David Norton, o Balanced Scorecard foi inicialmente definido como um “conjunto de indicadores que oferecem à alta gerência uma rápida e ampla visão do negócio” (KAPLAN; NORTON, 1992, p. 71), incluindo indicadores de desempenho financeiro e não financeiro em quatro perspectivas (inovação e aprendizado, processos internos, clientes e finanças). Posteriormente, a experiência de implementação do BSC em diversas empresas levou Kaplan e Norton a ampliar seu escopo de atuação ao de sistema de gestão estratégica, incluindo quatro processos fundamentais: traduzir a estratégia (tornando-a explícita por meio das inter-relações entre os indicadores de desempenho, representadas graficamente no mapa da estratégia); comunicar e associar (disseminando a estratégia pela organização e incentivando seu desempenho global); planejamento de negócios (integrando a estratégia ao processo orçamentário) e feedback e aprendizado (reavaliando e aprimorando as hipóteses estratégicas). Rocha (2000) define o BSC não somente como um sistema de controle, mas como uma ferramenta capaz de traduzir a visão e a estratégia de uma unidade de negócios em objetivos e medidas tangíveis, que representem o equilíbrio entre indicadores externos voltados para acionistas e clientes, e medidas internas dos processos críticos, de inovação, aprendizado e crescimento. O importante é o equilíbrio entre as medidas de resultado – as conseqüências dos esforços do passado – e os vetores de desempenho futuro. O Balanced Scorecard, por tanto, é uma ferramenta estratégica de longo prazo, sustentada num sistema de gestão, comunicação e medição da performance, cuja sua implementação permite criar uma visão partilhada dos objetivos a atingir a todos os níveis da 9 organização. O BSC será aqui considerado como uma ferramenta gerencial para implementar e aprimorar a estratégia organizacional (COSTA, 2002). Contrastando com os sistemas de medição tradicionais baseados exclusivamente na vertente financeira, o BSC direciona a organização para o seu sucesso no futuro, definindo quais os objetivos a serem atingidos e medidos na sua performance a partir de quatro perspectivas distintas. A perspectiva de aprendizagem e crescimento direcionando a sua atenção para as pessoas e para as infra-estruturas de recursos humanos necessárias ao sucesso da organização. Os investimentos a serem realizados nessa vertente é um fator crítico para a sobrevivência e desenvolvimento da organização longo prazo. Contudo esse desenvolvimento tem que ser sustentado por uma análise e intervenção constante na performance dos processos internos, os processos-chave do negócio. A melhoria dos processos internos no presente é um indicador chave do sucesso financeiro no futuro. Mas para traduzir os processos em sucesso financeiro, as empresas devem e têm em primeiro lugar de satisfazer aos seus clientes. A perspectiva do cliente permite direcionar todo o negócio e atividade da empresa para as necessidades e satisfação dos seus clientes. Finalmente, a perspectiva financeira permite medir e avaliar resultados que o negócio proporciona e necessita para o seu crescimento e desenvolvimento, assim como, para a satisfação dos seus acionistas. Quando integradas essas quatro perspectivas proporcionam uma análise e uma visão ponderada da situação atual e futura da performance do negócio. No Quadro 1 mostrarse-á a relação de causa e efeito das perspectivas do BSC destacando a inter-relação, não obstante a interdependência, entre elas. QUADRO 1: Relações de causa e efeito das perspectivas do BSC Perspectiva Financeira Perspectiva dos Clientes Perspectiva do Balanced Scorecard (BSC) Processos Internos Aprendizado e Crescimento 10 FONTE: Averson (1999). As quatro perspectivas de desempenho compreendem diversos indicadores, tais como: Financeira - Acionista/Negócios: lucro, crescimento e composição da receita, redução de custos, melhoria da produtividade, utilização dos ativos. Estratégia de investimentos. Clientes/Mercado: participação no mercado, retenção de clientes, aquisição de novos clientes, satisfação dos clientes, rentabilidade dos clientes, qualidade do produto, relacionamento com clientes, imagem e reputação. Processos Internos/Operações: inovação (desenvolvimento de novos produtos e processos), operação (produção, distribuição, vendas), serviços pós-venda (assistência técnica, atendimento a solicitações do cliente). Aprendizado e Crescimento - Pessoas/Organização: desenvolvimento de competências da equipe, Infraestrutura tecnológica, cultura organizacional e clima para ação. Após essa explanação, faz-se necessária a sua aplicação no objeto de estudo. 5 PROPOSTA DE ADAPTAÇÃO DO BSC A principal mudança realizada na adaptação na proposta original do BSC para o caso do curso de Mestrado Acadêmico em Administração da UECE foi substituir a perspectiva financeira pela perspectiva do desempenho acadêmico. Essa modificação se justifica pelas características dos programas de cursos de Pós-graduação Stricto Sensu das Universidades públicas. Na verdade, o peso do planejamento estratégico desses programas está relacionado ao seu desempenho acadêmico, o que se reflete nas avaliações as quais os mesmos são submetidos pela CAPES. Tais avaliações são importantes para a autorização, reconhecimento e classificação do curso segundo escala de notas (de um a quatro). Assim, os objetivos dessa nova perspectiva (desempenho acadêmico) foram sugeridos, nessa proposta de adaptação, utilizando-se dos principais critérios levados em consideração pela CAPES em suas avaliações. Os indicadores se relacionam com a forma de mensurar o desempenho do curso, principalmente, em relação aos parâmetros da CAPES. Cabe, contudo, ao curso, estabelecer suas metas em ampla discussão com o corpo docente e discente. 11 As demais perspectivas do BSC original foram mantidas. Contudo, a investigação em curso contribui com sugestões para alguns de seus objetivos e indicadores. A tentativa da proposta se baseia no fato de que os objetivos dessas perspectivas devem conduzir o curso a melhores níveis de desempenho acadêmico. Vale ressaltar que a proposta apresentada não esgota o tema, ao contrário é a tentativa de dar início a uma ampla discussão do planejamento estratégico do curso e do uso efetivo de ferramentas, como o BSC, que possam proporcionar ao mestrado e sua coordenação possibilidades de gestão estratégica. Os objetivos possuem no caso do BSC uma condução de causa efeito que no caso do mestrado mostra em que pontos as estratégias podem está equivocadas ou não surtindo os efeitos esperados. Pode-se observar no Quadro 1 que as setas que interligam esses objetivos entre as diferentes perspectivas apresentam as relações de causa e efeito que permitem a melhor visualização da condução estratégica do curso não só pela sua coordenação, mas pelo corpo docente, discente e pelos funcionários da Universidade que integram o programa. Portanto, os indicadores que revelarem metas não alcançadas disparam para os gestores do curso quais perspectivas e em quais objetivos, na cadeia de causa e efeito, estão com algum problema. Dessa forma, os objetivos que não possuem metas não atingidas podem, pela sequência de causa e efeito do BSC, mostrar que caminho o gestor deve seguir para resolver seus problemas de ordem estratégica. Diante do apresentado sugere-se o modelo no Quadro 2. 12 QUADRO 02 Sugestão esquemática de adaptação do BSC para o planejamento estratégico do CMA da UECE. Perspectivas Aprendizado Objetivo11: Ministrar disciplinas e conteúdos com qualidade Indicadores11: Avaliações dos Professores pelos alunos Objetivo12: Motivar os mestrandos à produção científica Indicador12: Número de artigos publicados por ano de alunos do mestrado Processos Internos Objetivo21: Atender eficientemente a demanda dos professores e alunos no trabalho de produção científica Indicador12: Número de reclamações à coordenação por semestre Objetivo22: Disponibilizar material didático e de pesquisa aos professores/alunos Objetivo13: Estimular a participação de Professores/Alunos/Funcionários em cursos e treinamentos Indicador22: Número de livros e periódicos por aluno e por professor Objetivo23: Apresentar estrutura curricular adequada à formação do pesquisador em Administração Indicador13: Número de participações em cursos e treinamentos Indicador23: Número de alterações curriculares por ano Objetivo42: Promover a participação dso alunos/Professores em congressos/seminários Indicador41: No de participação em eventos científicos Objetivo15: Realizar Benchmark em outros cursos de Mestrado da área Indicador45: No de Professores Convidados ou visitantes Clientes Objetivo31: Promover a maior satisfação possível dos alunos com os recursos disponíveis Indicador31: Índice de satisfação dos alunos Objetivo32: Atender as demandas da sociedade cearense por conhecimento na área do curso Indicador31: Número de projetos e consultas realizadas ao curso pela sociedade cearense Desempenho Acadêmico Objetivo41: Elevar o número de publicação discente. Indicador41: No de publicações discentes por No de alunos matriculados Objetivo42: Elevar o número de publicações dos docentes Indicador: No de publicações docente por número de Prof. no NRD6(1) Objetivo43; Obter um número satisfatório de professores do NRD6 para o atendimento das necessidades dos mestrandos Objetivo33: Promover a maior satisfação possível dos professores com os recursos disponíveis Indicador33: Índice de satisfação dos professores Indicadores44: No de docentes NRD6 por No de alunos matriculados Objetivo45: Oferecer ao ambiente acadêmico um número satisfatório de alunos titulados pelo curso Indicador45: Média titulados por ano pelo No de Professores no NRD6 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O artigo apresentou que é possível a aplicação da ferramenta BSC no curso de Mestrado Acadêmico em Administração da UECE, podendo ser adaptada às características específicas do curso e resultar num processo de melhoria. A adaptação principal, que foi a substituição da perspectiva financeira pela perspectiva de desempenho acadêmico será determinante para a condução da gestão estratégica do curso, principalmente, no que tange a observância dos parâmetros da CAPES. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA ARVESON, Paul. The Balanced Scorecard and Knowledge Management. 1999. Disponível <www.balancedscorecard.org/bscand/bsckm.html.>. Acesso 13/06/2000. BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. COSTA, Ana Paula Paulino da. Contabilidade Gerencial: Um Estudo Sobre a Contribuição do Balanced Scorecard. São Paulo: Dissertação de Mestrado. Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2001. HERNANDES, Carlos A. M. et al. Combinando o Balanced Scorecard com a Gestão do Conhecimento. Cadernos de Pesquisas em Administração. 1 (12): 1-9, 2000. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A Estratégia em Ação: Balanced Scorecard. 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