Comunicação como semiose: uma
abordagem Peirceana
João Queiroz
Dept. Computação e Automação (UNICAMP)
Dept. Biologia (UFBA)
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Todas as maiores realizações da
mente vão muito além do
poder de um só indivíduo.
Charles S. Peirce
Comunicação – cognição semiose

[...] thinking always proceeds in
the form of a dialogue -- a dialogue
between different phases of the ego -so that, being dialogical, it is
essentially composed of signs, as
its matter, in the sense in which a
game of chess has the chessmen for
its matter (CP 4.6).
C.S.Peirce (1839-1914)
fundador do pragmatismo
metrologia, psicologia experimental,
geodésia, fotometria estelar, economia
matemática, filosofia da matemática,
teoria da gravitação, linguística,
história e filosofia da ciência, história e
filosofia da lógica, lógica matemática,
teoria da computação,
 … semiótica

significado, semiose, ação do signo,
comunicação
Filosofia arquitetônica

co-implicação de suas partes
lógica
 fenomenologia
 semiótica
 metafísica
 pragmatismo

• princípios metateóricos
• categorias
Os conceitos de signo e semiose envolvem idéias
interdependentes — Terceiridade, continuum,
relação triádica, inferência, lei, hábito
Teoria e modelo
Qual “a natureza essencial e
variedade fundamental de todas
as possíveis semioses”?
• categorias lógico-fenomenológicas
• primeiridade, secundidade, terceiridade
• relações (monádica, diádica, triádica)
• terceiridade - relação triádica (S-O-I) –
semiose
• semiose multimodal

semiose como comunicação

condições e pré-requisitos
• teoria pragmática da comunicação
Problemas dependem do sistema
 comunicação
relação com representação?
cognição?
 semiose?
 contexto-dependente?
 processos multimodais?


categorialogia, pragmatismo,
semiótica ...
Coerções teóricas: teoria e modelo
definição de semiose e símbolo
o que é e o que não é signo
secundidade vs terceiridade
o que não é e relação com o que é
simbólico
relação entre semiose e
comunicação?
Coerções teóricas: teoria e
modelo

definição de semiose e símbolo


‘quando, como, por que, para que’ depende de
‘o que é’ e ‘do que não é’ semiose e simbólico
modelo: ‘o que é’ e ‘o que não é’ signo
classificação: ‘o que não é’ e relação com ‘o que
é’ simbólico
mainstream
 relação entre signo e modalidade sígnica?


• relação “fraca” modelo-classificação

relação entre semiose e comunicação?
Teoria das categorias

As categorias demarcam as condições
do que é inteligível e devem ser
pensadas como uma lista exaustiva de
concepções, ou questões,
fundamentais, impostas a priori à
cognição.
Teoria das categorias
Para Hausman (1993:94), “tais
concepções podem ser observadas
como classes (ou tipos) através das
quais as coisas que são conhecidas,
ou podem ser conhecidas, são
divididas; ou são consideradas modos,
condições, por meio das quais as
coisas podem ser distinguidas, e, de
acordo com elas, ser conhecidas.”
Teoria das categorias
Segundo Hookway (1985:80), “uma
teoria das categorias é uma série de
concepções altamente abstratas e que
funciona como um sistema completo
de summa genera, qualquer objeto do
pensamento ou da experiência
devendo pertencer a uma das
categorias deste sistema.”
Categorias cenopitagóricas

lógico-fenomenológico

lógica das relações/grafos existenciais
• relações monádicas, diádicas, triádicas

faneroscopia
• feeling, altersense, medisense

Freeman (1934): “essa qualificação marca sua
contribuição única para a ciência da
categorialogia — a tentativa de combinar
métodos racionalistas e empiricistas, sem que
um seja absorvido pelo outro.”
Complementariedade metodológica
completude (lista exaustiva)
irredutibilidade (elementos
radicalmente distintos)
composicionalidade (é possível
combiná-los, e há uma ordem de
pressuposição necessária entre os
elementos)
inspecionalidade (checar suas
propriedades em um “mundo de
fatos”)
Primeiro, Segundo, Terceiro

Savan: “Peirce aparentemente conclui
que, desde que as categorias e os
números são, ambos, funções de
unificação da variedade, as
categorias, como os princípios
numéricos, serão chamadas de
Primeiro, Segundo e Terceiro”.
Primeiridade
“Primeiridade é o modo de ser daquilo
que é tal como é, positivamente e
sem referência a qualquer outra coisa”
(CP8.328)
“Perfeitamente simples e sem partes”
(CP1.531)
“As típicas idéias de Primeiridade são
qualidades de feeling ou mera
aparência” (CP8.329)
Secundidade
“Secundidade é o modo de ser daquilo
que é tal como é, com respeito a um
segundo, mas sem observar qualquer
terceiro” (CP8.328)
“O tipo de idéia de Secundidade é a
idéia de esforço, prescindido da idéia
de um propósito” (CP8.330).
Terceiridade
“Terceiridade, no sentido da categoria,
é o mesmo que mediação” (CP1.328)
“Algumas das idéias proeminentes,
devido a sua grande importância em
filosofia e ciência, e que requerem
atento estudo são, generalidade,
infinidade, continuidade, difusão,
crescimento e inteligência” (CP1.340).
Fenomenologia (primeiridade)
“Imagine uma consciência em que não
há qualquer comparação, nenhuma
relação, nenhuma multiplicidade
reconhecida, nenhuma mudança,
nenhuma imaginação de qualquer
modificação do que está
positivamente lá, nenhuma reflexão –
nada além de uma simples
característica positiva. Tal consciência
poderia ser apenas um odor […]. A
primeira categoria é uma qualidade de
feeling” (EP2:150).
Fenomenologia (Secundidade)
“Você tem um sentido de resistência e
ao mesmo tempo um sentido de
esforço. Não pode haver resistência
sem esforço; não pode haver esforço
sem resistência. Eles são somente
dois modos de descrever a mesma
experiência. É uma dupla consciência.
Nós nos tornamos atentos de nós
mesmos nos tornando atentos do nãoself. O estado de vigília é uma
consciência da reação” (CP1.324)
Fenomenologia (Terceiridade)
“Sentido de Mediação é consciência de
um meio termo ou processo, pelo qual
alguma coisa, não-self, é reunido na
consciência. Toda consciência de um
processo pertence a este sentido de
mediação” (CP7.544).
Semiose - Terceiridade

“Um Signo, ou Representamen, é um
Primeiro que está em uma tal relação
genuína com um segundo, chamado seu
Objeto, de modo a ser capaz de determinar
um Terceiro, chamado seu Interpretante,
para assumir a mesma relação triádica com
seu Objeto na qual ele próprio está com o
mesmo Objeto” (Peirce CP2.274).
Modelo
‘Um signo pode ser definido como um meio para a
comunicação de uma Forma. [...] Como um meio,
o Signo está em uma relação essencialmente
triádica com o Objeto que o determina e com o
Interpretante que ele determina. Aquilo que é
comunicado a partir do Objeto, através do
Signo, para o Interpretante, é uma Forma;
vale dizer, não é nada como um existente
mas é um poder, é o fato que alguma coisa
aconteceria sob certas condições’ (Peirce
MS793: 1-3, 1905).
Significado -> ação do signo
Significado e comunicação: processo autocorretivo cuja dinâmica exibe uma
irredutível relação entre expressão sígnica
(signo), usuário do signo (falante),
interpretante do signo (intérprete).
A ação do signo (semiose): padrões de
comportamento que emergem da
cooperação intra/inter agentes em um
ato comunicativo.
•agentes situados
•contexto-dependente
•multimodalidades
Classificação de signos
1.
2.
3.
variedades fundamentais (classes)
da semiose?
quais são estas variedades?
como estão inter-relacionadas?

Classe: irredutível, parte de uma lista
exaustiva de classes, hierarquicamente
organizadas como em um sistema de
pressuposições.
Ícones, índices, e símbolos
relações de similaridade, contigüidade, e lei entre
Signo e Objeto (S-O), da tríade Signo-ObjetoInterpretante (S-O-I).
 semiose S-dependente (dependente das
propriedades de S) = icônica
 semiose S-O dependente (dependente de
correlação espaço-temporal S-O) = indexical
 semiose S-O-I dependente (S-O dependente da
mediação de I) = simbólica
os processos são triádicos; a variação de
dependência entre os termos S-O-I determina
sua natureza (icônico, indexical, simbólico)
Ícone, índice, símbolo

Ícone


Índice


relações de similaridade que podem prescindir de
qualquer correlação física que S pode ter com O
se S é signo de O em virtude de uma relação de
causa e efeito com O (relação diádica)
Símbolo

Se a relação S-O é uma relação mediada por I,
então ela é uma relação triádica
Ícones
“Toda pintura (ainda que convencional em
seu método) é essencialmente uma
representação deste tipo. Assim é todo
diagrama, ainda que não haja semelhança
sensória entre ele e seu objeto, mas apenas
uma analogia entre as relações das partes
de cada um” (CP2.279);
“Um diagrama é, principalmente, um ícone, e
um ícone de relações inteligíveis”
(CP4.513);
“Uma figura geométrica desenhada num
papel pode ser um ícone de um triângulo
ou de outra forma geométrica” (EP2:306).
Índices
pronome demonstrativo, que “força
atenção para um objeto particular,
sem descrevê-lo” (CP1.369)
sintoma físico
termômetros (co-variação entre a altura
da coluna de mercúrio e temperatura)
hidrômetros, barômetros, balão de
vento (co-variação da posição do
balão e a direção do vento) ...
Símbolo
“Um símbolo é um signo que se refere ao
objeto que denota em virtude de uma lei”
(CP2.249);
“Eu defino um símbolo como um signo que é
determinado por seu objeto dinâmico
apenas no sentido que ele será assim
interpretado. Ele portanto depende, ou de
uma convenção, ou de um hábito, ou de
uma disposição natural de seu
interpretante” (CP8.335)
“Um símbolo é uma lei, ou regularidade do
futuro indefinido” (CP2.293).
Problemas
Como as classes se subdividem em
classes mais específicas?
Como estão inter-relacionadas
formando sistemas de pressuposição?
Como propriedades de irredutibilidade
das classes acontecem ‘in the wild’?
Há evidências de maturação ontofilogenéticas que confirmem
propriedades lógicas do sistema?
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Aula 2 - Digital Encyclopedia of Charles S. Peirce