O RITO NA FORMAÇÃO DO
PROFESSOR DE ENSINO
RELIGIOSO
Erlei Antonio Vieira
Prof. Dr. Sérgio Rogério Azevedo Junqueira
Curitiba, julho 2006
Os ritos como eixo na
formação do
professor de Ensino
Religioso
Pesquisa Bibliográfica
Sujeito da pesquisa:
professores do Núcleo
Regional de Ensino de
Campo Mourão que
atuam no Ensino
Religioso
Instrumento: Grupo
Focal
Que conhecimento
sobre Ritos possui o
professor de
Ensino Religioso em
sua prática pedagógica
e a relação com a
concepção deste
componente a partir da
lei 9475/97?
Identificar e organizar a
estrutura e as
características do Ritos
requeridas pela
concepção de Ensino
Religioso estabelecido
pela Lei 9475/97 na
formação dos
professores deste
componente curricular.
1. Estruturar e fundamentar
as temáticas do Ritos na
área do Ensino Religioso.
2. Explicitar a concepção de
Ensino Religioso a partir da lei
9475/97.
3. Discutir os ritos como
elemento que subsidia a
capacitação do professor de
Ensino Religioso a partir da
lei 9475/97.
O Que é Ensino Religioso?
A maioria dos professores compreende a
disciplina de Ensino Religioso como um
resgate do histórico e do contato entre
diversos credos.
 Disciplina ser parte da matriz curricular.
 Importância do fenômeno religioso.
 “Ensino Religioso é ensinar o indivíduo a
respeitar-se e respeitar o outro”. (PTS)


“Ensino Religioso é ensinar o amor ao próximo,
transmitir conhecimento da palavra de Deus, o
amor a Deus. Ensinar através de histórias
Bíblicas”. (PGE)

“O Ensino Religioso que deve embasar a vida
escolar do aluno no sentido de cidadania, de
torná-lo mais humano, voltado à ética e ao
respeito ao próximo e religiões e sua
diversidade”. (PBY)

“Ensino Religioso tem várias formas de ser
trabalhado dentro de uma didática própria, com
vários recursos de ensino e aprendizagem”.(PER)
O Que é Rito?
“é uma reunião religiosa, onde seus
membros passam pelo êxtase” (PJR)
 “Rito é algo planejado – a missa é um
ritual: um cerimonial, batismo, cerimônias
– tradições religiosas, um sacrifício, uma
oferta.” (PQW)
 “rito é uma forma de valorização de
determinada religião”(PFC)

“ritos são certos ‘símbolos’ que usamos para
determinadas situações” (PHG)
 Nisso, podemos compreender uma carência de
conhecimento e a certeza de fomentarmos a
criação da licenciatura em Ensino Religioso, pois
os professores pesquisados não têm numa idéia
ou estrutura dos ritos. São extremamente
confusas e vagas as opiniões, desvinculadas
umas das outras, completamente contrárias aos
PCNERs.


Do ponto de vista antropológico, o rito é a
concretização comunitária e social de uma
vivência, na qual as pessoas se exprimem
em relação umas às outras, ou em que se
exprime o consenso de um grupo
humano, comunidade ou sociedade, em
torno de uma significação irredutível aos
simples mecanismos biológicos e técnicos.
Sendo expressão, porém, o rito exerce
também a importante função de
consolidar a comunidade em torno dos
valores que exprime e serve de veículo à
transmissão a outros das formas de viver
e de entender a vida, que dão
continuidade à comunidade e perpetuam a
sociedade, a pátria.
O RITO

Nos rituais sagrados e nos mitos, os
valores são retratados não como
preferências subjetivas, mas como
condições de vida impostas, implícitas
num mundo com uma estrutura particular
(GEERTZ, 1989, p.96).
VILHENA (2005) A autora divide os ritos da
seguinte maneira, baseada em DURKHEIM
(2003):
Ritos com conotação religiosa
 Ritos no contexto da finalidade e da
operatividade
 Ritos no contexto da espacialidade
 Ritos no contexto da temporalidade
 Ritos deambulatórios

RIVIÈRE (1997), autor que se concentra
no rito dessacralizado ou profano, colabora
com o estudo da estrutura dos ritos. Para
o autor, o rito tem como função e
característica estrutural:
 O rito é uma seqüência temporal de ações
 Como estrutura dos papéis a desempenhar
 Como estrutura teológica, o rito comporta
os valores
 Como meio simbólico
 Como sistema de comunicação

O Rito como Fenômeno
TERRIN (2004) procura analisar a
natureza dos ritos centrada na intenção
global dos atores do rito.
Ritos apotropaicos, ritos eliminatórios e
ritos de purificação.
 Ritos de repetição do drama divino.
 Ritos de transmissão de força sagrada

Do ponto de vista antropológico, TERRIN
(2004) aponta novos tipos de rito:
Ritos ligados ao ciclo da vida
 Ritos de fundo sociocultural e religioso
 Ritos com conotação mística

O Rito como Símbolo

O poder do símbolo na vida humana e
também dois outros aspectos importantes:
o primeiro diz respeito à diversidade com
que os símbolos e ritos se apresentam em
cada região, povo ou cultura diferenciada;
o segundo demonstra a força de tais
símbolos e ritos na formação da identidade
social, cultural e, portanto, pessoal, de um
indivíduo ou nação. (GEERTZ, 1989
OS SÍMBOLOS E OS RITOS NA
CONTEMPORANEIDADE

O Rito como Volta ao Sagrado, ou, a
Volta do Homo Religiosus, que nunca
partiu.
Como o Rito Pode Subsidiar
a Capacitação do Professor
de Ensino Religioso?

“não sabemos, acho que sim, mas não sei
falar como!” (PEW)
O que é necessário para a
formação do professor de Ensino
Religioso?

“Ter conhecimento de todas as religiões e
tradições religiosas. Ter conhecimento
sobre didática e metodologia do ensinoaprendizagem”. (PRS)

A prática de todo professor, mesmo de forma
inconsciente, sempre pressupõe uma concepção
de ensino e aprendizagem que determina sua
compreensão dos papéis de professor e aluno,
da metodologia, da função social da escola e dos
conteúdos a serem trabalhados. A discussão
dessas questões é importante, para que se
explicitem os pressupostos pedagógicos que
subjazem à atividade de ensino, na busca de
coerência entre o que se pensa estar fazendo e
o que realmente se faz (JUNQUEIRA, 2002,
p.110-111).

“O que é necessário na formação do
professor de Ensino Religioso, um
conhecimento sobre o que é o Ensino
Religioso, uma conscientização de seu
papel dentro do ensinamento, um
comprometimento definido. Saber a
diferença entre religião e religiosidade,
ética e cidadania” (PES).

“A formação do professor de Ensino
Religioso é ter conhecimento do sagrado
(Deus), ética, cidadania, valores, bom
comportamento, crenças religiosas” (PFA).

“Maior formação do ser, ter, mitos, enfim,
textos sagrados, tradições e ética” (PAW).
Diante do mistério do Transcendente, a
perplexidade do educador necessita antecipar à
do educando para que junto possa responder às
questões trazidas ou estimular outras perguntas.
Sua síntese centra-se na própria experiência. No
entanto, necessita apropriar-se da
sistematização de outras experiências que
permeiam a diversidade de cultura.
 A constante busca do conhecimento das
manifestações religiosas, a clareza quanto à sua
própria convicção de fé, a consciência da
complexidade de questões religiosas e a
sensibilidade à pluralidade são requisitos
essenciais no profissional do Ensino Religioso
(PCNER, 2002, 27-28).

Análise

Na competência de compreender os
relatos do grupo focal, percebemos que
tanto em suas bases teóricas, muitas
vezes confusas, quanto em suas
conseqüências na prática, os
conhecimentos profissionais do Ensino
Religioso são evolutivos e progressivos e
necessitam, por conseguinte, uma
formação continuada.

Segundo TARDIF (2002), a noção de
“saber” é um sentido amplo, que engloba
os conhecimentos, as competências, as
habilidades (ou aptidões) e as atitudes,
isto é, aquilo que muitas vezes foi
chamado de saber, saber-fazer e saber-ser.

Há uma urgência em criar uma finalidade
epistemológica prática profissional do
Ensino Religioso e revelar esses saberes,
compreender como são integrados
concretamente nas tarefas dos
profissionais e como esses os incorporam,
produzem, utilizam, aplicam e
transformam em função dos limites e dos
recursos inerentes às suas atividades de
trabalho.

Não se trata de uma unidade teórica ou
conceitual, mas pragmática: como as
diferentes ferramentas de um artesão
fazendo parte da mesma caixa de
ferramentas, os saberes profissionais dos
professores de Ensino Religioso estão a
serviço da mesma prática educacional.

O que a pesquisa aqui levantada mostra que os
saberes profissionais são fortemente
personalizados, ou seja, que se trata raramente
de saberes não formalizados ou objetivados,
mas sim de saberes apropriados, incorporados,
subjetivados, saberes que é difícil dissociar das
pessoas, de sua experiência e situação de
trabalho. Essa característica é um resultado do
trabalho docente do Ensino Religioso.
MITOS E RITOS –
ESPIRITUALIZAÇÃO DO
PROFANO NA HISTÓRIA
E NA ETERNIDADE
TRANSMISSÃO DO SAGRADO PELA
EDUCAÇÃO

Por outro lado, uma vez que a busca do
sagrado, mesmo inconsciente, da resposta
às perguntas básicas da existência do ser
humano pensante: “por que nascemos?”;
“o que estamos fazendo aqui?”; “como,
quando, por quê morreremos?”; “existe
algo depois da morte?”.

Desta forma, é necessário que haja alguém que
sirva como ponte entre o conhecimento religioso
primordial e o mundo profano. O conhecimento
do sagrado não era distribuído, no entanto,
pelos oficiantes (sacerdotes, pajés, xamãs), mas
pelos contadores de história, que assumiram o
papel de primeiros professores, tanto da moral e
dos valores, quanto dos costumes culturais de
uma nação.

Nas comunidades nativas americanas e
africanas, os contadores de histórias
andavam de tribo em tribo de uma mesma
nação (grupos com linguagem, cultura e
pensamentos similares), orientando,
especialmente, as crianças, no caminho do
sagrado. Eles traziam o tempo e o espaço
mítico para as aldeias, ao mesmo tempo
em que orientavam sobre ritos e, até
mesmo, sobre ações cotidianas.

Na América do Norte, eram conhecidos como os
“cabelos trançados”, pois essa era a indicação de
que eram os professores, os contadores de
história da tribo. Gozavam de grande deferência
entre os nativos, a ponto de auxiliarem nos
conselhos dos antigos. Serviam como
registradores, não apenas do passado remoto,
mas das batalhas e dos acontecimentos
presentes. Em culturas que possuíam a oralidade
como principal meio de comunicação, os
contadores de história, além de professores e
difusores da fé, agiam como historiadores e, até
mesmo, “repórteres ambulantes”, que
transmitiam informações de uma tribo para
outra tribo irmã.

Nas comunidades antigas, o contador de
histórias era a forma mais simplificada de
transmitir-se o sagrado. Porém, com o
desenvolvimento dos ritos e o refinamento
das estruturas religiosas, houve uma
gradativa separação entre o conhecimento
“popular” do sagrado, e o ensino
“operatório”.

Como se viu, a educação, desde o início
dos tempos, foi a forma da perpetuação
do sagrado, do transcendente, seja
ministrada por contadores de história,
cantores e poetas, padres, pastores ou
leigos. O ensino do sagrado tornou-se um
motivo de preocupação tão importante,
que penetrou nas leis, adaptando-se a
cada época e a seus acontecimentos
sociais e pedagógicos.

Em um país como o Brasil, cuja diversidade
religiosa é surpreendente, a educação como
veículo do sagrado sempre foi um enfoque
necessário, por gerar muitos questionamentos: o
quê se ensinará nas aulas de Ensino Religioso?
São necessárias tais aulas? Quem poderá
ministrá-las? Qual o perfil do profissional que
ensinará o transcendente nas escolas públicas?
Como deverão ocorrer tais aulas, se há tantas
religiões no país? Quais serão os
direcionamentos, a metodologia e o material
didático que poderão ser utilizados em tais
aulas?

A educação já provoca em si o
aparecimento do sagrado, ainda mais
quando o próprio conteúdo é voltado ao
sagrado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do desenvolvimento do Ensino
Religioso no Brasil foi um desenrolar-se no
bojo da tradição religiosa. Onde se
predomina a exposição de valores a serem
absorvidos e vivenciados pelos educandos.
A prática pedagógica demonstra que a
formulação de objetivos e metodologias
do Ensino Religioso cabe ao professorado,
para o seu desenvolvimento.

Não há vida humana real que não se
encarne em ritos. Na vida comunitária
social, as pessoas se relacionam umas
com as outras ou em grupo assumindo um
consenso, em torno de uma significação
irredutível aos simples mecanismos
biológicos e técnicos.

Constatamos que os professores de Ensino
Religioso carecem de formação e epistemologia
do Ensino Religioso. Para isto percebemos a
necessidade de uma licenciatura em Ensino
Religioso. Enquanto isto não é possível, há
formas de conseguir-se uma melhoria na
qualidade deste Ensino, de forma que ele venha
realmente a cumprir sua missão de re-ligere, ou
seja, ligar o ser humano com o sagrado.

Tal formação pode se dar, primeiramente
através da criação de grupos de estudo,
nos quais não apenas os PCNs e PCNERs
seriam discutidos, mas outros materiais
que pudessem enriquecer sobre os
conceitos e as diversas tradições
religiosas, pois foi observada grande
deficiência deste conhecimento através da
pesquisa realizada.

Outra forma seria a participação de
eventos relacionados não apenas à
disciplina (como o Fórum Nacional
Permanente do Ensino Religioso), mas
também às diversas tradições religiosas
abertas ao público em geral, com o intuito
de conhecê-las em sua totalidade,
espantando o “fantasma” do preconceito
religioso, mesmo quando disfarçado de
boas intenções.

Muitas das perguntas feitas nesta
pesquisa, ainda não foram totalmente
respondidas, pois o currículo do Ensino
Religioso no Brasil é multicultural,
oferecendo um mapa da diversidade
cultural a partir das invariantes, que
constituem os eixos dos conteúdos.
Futuros trabalhos nesta área podem incluir
pesquisas que desenvolvam:
 - o rito sob um aspecto único, ou seja, o
antropológico, o sociológico, o psicológico e
assim por diante;
 - projetos de formação de professores de Ensino
Religioso dentro das novas políticas educacionais
para a disciplina;
 - o estudo mais detalhado de mitos ou símbolos
dentro da vida pessoal e profissional de
professores ou alunos do Ensino Religioso, ou de
outros grupos sociais pré-determinados.

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