CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IPA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – LICENCIATURA Letícia de Araujo Saraiva ASPECTOS RELEVANTES NA INTERAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA COM ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS PORTO ALEGRE 2009 LETÍCIA DE ARAUJO SARAIVA ASPECTOS RELEVANTES NA INTERAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA COM ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS Relatório de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura do Centro Universitário Metodista IPA como requisito parcial para obtenção de Grau de Licenciado em Ciências Biológicas. Orientadora: Gianice Fortes PORTO ALEGRE 2009 Dedico este trabalho aos meus pais, por todo amor, dedicação, incentivo e por terem contribuído para a realização de um sonho. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Raul Souza Saraiva e Valéria Santos de Araujo, à minha família e ao meu noivo Rafael D'avila por todo apoio, incentivo e compreensão durante a minha vida acadêmica. A professora e orientadora Gianice Fortes pela atenção, competência e auxílio para a elaboração deste Relatório de Conclusão de Curso. Aos meus colegas, que se tornaram grandes amigos durante o curso de graduação. “Tenho o direito de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga tal qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como motivação de minha briga porque, histórico, vivo a História como tempo de possibilidade não de determinação.” Paulo Freire RESUMO Este Relatório de Conclusão de Curso apresenta aspectos relevantes no relacionamento de uma professora de Biologia com alunos deficientes mentais e como base deste trabalho, foram utilizadas as observações e experiências adquiridas durante a regência no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, em uma turma de alunos de classe especial. Escolheu-se como metodologia principal à observação da interação desses alunos com a acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, através do seu relacionamento, forma de trabalho, retorno dos alunos em relação às atividades e percepção da motivação em relação à turma. Perante essas colocações, se faz necessário compreender o relacionamento entre professor-aluno, pois é uma ferramenta essencial no processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Relacionamento, Deficientes mentais, Acadêmica de Biologia SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................8 1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................11 1.1.1 Objetivo geral...................................................................................................11 1.1.2 Objetivos específicos......................................................................................11 1.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................12 2. DESENVOLVIMENTO...........................................................................................13 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................20 8 1. INTRODUÇÃO Este Relatório de Conclusão de Curso apresenta aspectos relevantes no relacionamento de um professor de Biologia com alunos deficientes mentais, de Educação Inclusiva. Como base deste trabalho, foram utilizadas as observações e experiências adquiridas durante a regência no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, em uma turma de alunos de classe especial. Neste período, foi possível analisar a interação da professora de Biologia com seus alunos e também o retorno destes em relação às atividades propostas. O tema escolhido para este Relatório de Conclusão segue a linha de formação relacionada a metodologias de ensino, voltada para a prática inclusiva. O CAZON é uma unidade da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e Pessoas com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (FADERS), que atende deficientes mentais utilizando atividades diferenciadas como oficinas. Cada aluno pode optar entre o turno da manhã ou tarde para freqüentar o centro. As oficinas ocupacionais oferecidas são: arte e artesanato, culinária, reciclagem, técnicas agrícolas e educação ambiental, alfabetização, produção e recreação e lazer. Além de tudo isso, o aluno ainda conta com uma equipe de apoio pedagógico, educação física e um grupo de psicologia. Segundo Pletsch e Braun (2008), pessoas com deficiência mental passaram a ser aceitas no ambiente escolar apenas no século XIX, depois de muitos estudos realizados, pois até então eram rotuladas como selvagens e consideradas impossíveis de serem educadas. Atualmente diminuiu muito este tipo de preconceito e muitas escolas estão atendendo alunos com necessidades especiais e introduzindo-os na nossa sociedade. Para que um professor consiga atender às diversas necessidades de um aluno, é preciso que tenha uma formação adequada nesta área. Felizmente muitas universidades vem trabalhando com freqüência esses pontos, que são essenciais na educação de um licenciado. É relevante que tenham experiências de inclusão nas suas salas de aula durante o desenvolvimento do seu estágio, pois contribuirá no seu crescimento e amadurecimento profissional. O objetivo principal da inclusão é proporcionar o acesso e participação de todos no setor educacional, igualando as pessoas e impedindo qualquer forma de exclusão e preconceito (MITTLER, 2003). Todas essas práticas contribuem muito na interação professor-aluno, pois sem distinções acabam tornando-se mais próximos e o seu relacionamento se torna mais agradável. De acordo com Silva e Aranha (2005, p. 376) “A 9 construção de uma sociedade inclusiva é de fundamental importância para o desenvolvimento e a manutenção de um estado democrático”. No contexto da inclusão de alunos com deficiências mentais, é preciso que as escolas e os professores estejam capacitados e motivados para atender este público, pois não é somente importante a inserção deste aluno no ensino regular e sim o seu retorno escolar e desenvolvimento social (PLETSCH; BRAUN, 2008). “ A escola tem o dever de não se contentar apenas com o que o aluno já sabe, estimulando-o a prosseguir no entendimento de um fenômeno, ou de um objeto e de torná-lo capaz de distinguir o que estuda [...]” (BRASIL, 2006, p. 8). De acordo com Maciel (2000) a integração do professor com um aluno de deficiência mental ocorre quando não existe uma barreira de preconceito, e a missão deste professor é instigar o desenvolvimento do aluno. Este autor relata que o processo não é fácil, mas quando atingido, se torna inesquecível para os envolvidos (MACIEL, 2000). Para Paulino e Santos (2008, p. 53), “O professor é, pois, um agente de encantamento nestes tempos de desencanto. O professor [...] apresenta os limites, e sobretudo, faz florescer as possibilidades criativas e inclusivas”. Os autores comentam que o professor dá condições e oportunidades para os alunos construírem seus sentidos e pensamentos para viverem em uma sociedade (PAULINO; SANTOS, 2008). Para que o aluno alcance os objetivos propostos durante o seu processo de ensino-aprendizagem, é preciso que o professor tenha expectativas positivas em relação a ele. As limitações do aluno com deficiência devem ser reconhecidas, mas não podem impedir este processo de ensino (FONTES et al., 2007). Alunos com deficiência mental tem mais dificuldade de construir seu próprio conhecimento e sua capacidade cognitiva, e as escolas com modelo de ensino conservador e centralizador alimentam ainda mais essa dificuldade, reforçando a inibição deste aluno perante o resto da turma (BRASIL, 2006). “A deficiência mental constitui um impasse para o ensino na escola comum e para a definição do seu atendimento especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades de abordagens do mesmo” (BRASIL, 2006, p. 10). De acordo com Tassoni (2000, p.13) “O comportamento do professor, em sala de aula, expressa suas intenções, crenças, seus valores, sentimentos, desejos que afetam cada aluno individualmente”. É imprescindível que no processo de ensino de deficientes mentais sejam utilizadas diferentes formas de linguagem. O professor deve mostrar os 10 conteúdos de forma visual e auditiva, instigando o desenvolvimento deste aluno. Pode ser feito uso de recursos ilustrativos para ele compreender e reconhecer conceitos básicos (FONTES et al., 2007). Para melhorar o desempenho do aluno e também do professor, é necessário que exista um diálogo, mas esse diálogo só acontece quando os dois se respeitam mutuamente e não assumem posições de superioridade e de dominação sobre o outro. Essas medidas auxiliam na interação professor-aluno e oportunizam a inserção destes na sociedade (BRASIL, 2006). 11 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 OBJETIVO GERAL Analisar a relação da acadêmica de Ciências Biológicas com alunos de deficiência mental. 1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS − Observar a interação dos alunos com a acadêmica de Ciências Biológicas; − Evidenciar se a acadêmica de Ciências Biológicas foi motivada pela experiência na prática inclusiva; − Identificar se há retorno significativo dos alunos em relação as atividades propostas em sala de aula. 12 1.2 JUSTIFICATIVA A Educação Inclusiva é um tema que vem sendo muito discutido atualmente, pois visa diminuir qualquer tipo de exclusão na nossa sociedade. Por simpatizar com este assunto e buscando entender a relação professor-aluno, foi desenvolvido no Estágio III – Educação Inclusiva, um trabalho diferenciado com oficinas de Educação Ambiental para alunos com deficiências mentais. Esta temática foi escolhida com o propósito de ampliar o conhecimento sobre inclusão na prática docente, pois apenas era abordado e trabalhado na teoria. O Relatório de Conclusão de Curso foi baseado na experiência pessoal obtida com o Estágio III – Educação Inclusiva, desenvolvido no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON. A interação aprofundada do professor com alunos de deficiências traz muitos benefícios, pois auxilia tanto na prática do ensino como também facilita na relação de ambos (FARIAS et al., 2008). Segundo Vieira (2004, p.141), “o ato de aprender e de ensinar é um processo interativo. Só ocorre ensino quando alguém se coloca no lugar do aprendiz.” Portanto, se faz necessário compreender o relacionamento entre professor-aluno, pois é uma ferramenta essencial no processo de ensino-aprendizagem. 13 2. DESENVOLVIMENTO Durante o Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metodista IPA foram desenvolvidos três estágios curriculares obrigatórios, como requisito parcial para obtenção de grau. Estes estágios dividiam-se em: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Inclusiva, e todos eles contribuíram muito para a formação de Licenciado em Ciências Biológicas. O Estágio I – Ensino Fundamental foi desenvolvido na Escola Estadual Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, localizada na rua Waldomiro Schapke nº 11, no bairro Partenon – Porto Alegre, em uma turma de quinta série (novo 5° ano), com trinta e dois alunos, onde foram abordados os conteúdos sobre ar e água. Neste estágio não foi possível estabelecer um bom relacionamento com a turma bem como na aplicação das atividades, pois os alunos não aceitavam a idéia de que a professora titular estava sendo substituída por uma estagiária. Foram utilizadas várias metodologias durante o período de regência, mas as que mais despertavam seu interesse eram aulas expositivas e dialogadas, pois podiam expor as suas opiniões para todos os colegas. O Estágio II - Ensino Médio foi realizado na mesma escola, em uma turma de primeiro ano, com 36 alunos, trabalhando conteúdos de citologia. Nesta turma, o relacionamento com os alunos foi ótimo e eles participavam muito das aulas. Foram utilizadas diferentes metodologias, mas a que eles se adaptaram melhor foram aulas práticas e atividades realizadas em grupos. A experiência obtida com este estágio foi maravilhosa, pois os alunos sempre respondiam bem às aulas propostas e questionavam os temas abordados, procurando adquirir mais conhecimento. O Estágio III – Educação Inclusiva foi desenvolvido no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, localizado na rua Joaquim Silveira nº 200, bairro Parque São Sebastião - Porto Alegre, em uma turma de Educação Especial, composta por sete alunos com deficiência mental. Nesta turma era desenvolvida a oficina de recreação e lazer, e durante o estágio foi possível trabalhar conteúdos de Zoologia, Ecologia e Botânica, utilizando como ferramenta principal, a Educação Ambiental. A experiência adquirida com este estágio foi ótima e contribuiu muito para o amadurecimento e aperfeiçoamento como profissional da educação, pois estes temas eram somente discutidos na teoria e com o estágio foi possível colocar em prática todo conhecimento adquirido nas aulas de estágio curricular. A relação com os alunos se deu da melhor forma, pois eles eram afetuosos e expressavam seus sentimentos em relação às aulas, auxiliando no desenvolvimento das 14 atividades e também no desempenho deles. O CAZON tem um grande significado tanto para os alunos quanto para os pais e funcionários, pois o trabalhado realizado no centro é um fator importante na melhoria dos alunos com deficiência mental. Eles tem a oportunidade de realizar tarefas, sendo úteis e valorizados, e também passam a ser inseridos na sociedade através do trabalho de socialização que é feito no Centro Abrigado Zona Norte (PITTA; DANESI, 2000). Este Relatório de Conclusão de Curso compreenderá aspectos observados no Estágio III – Educação Inclusiva, realizado no CAZON, em uma turma composta por sete alunos adultos, com deficiência mental, pertencente à faixa etária de 24 a 50 anos. Durante o período de observações foi possível constatar que os alunos se relacionavam muito bem entre eles, demonstrando afeto e coleguismo, e também com o professor regente. Eles tinham necessidade de expressar seus sentimentos em relação ao professor através do toque e chamando a sua atenção na execução das atividades propostas. A organização das turmas por temáticas de oficinas, funcionava muito bem, pois através deste trabalho os alunos tinham a possibilidade de construir o saber, e a aprendizagem acontecia de forma subjetiva. O CAZON conta com a ajuda da Associação de Pais e Amigos do Centro Abrigado Zona Norte – APACAZON, pois é um recurso que colabora com o desenvolvimento do centro através de doações e contribuições de pais, funcionários e da comunidade. Dentre as doações estão a maioria dos equipamentos existentes na instituição, como os materiais utilizados nas oficinas e também eletrodomésticos e materiais de informática, proporcionando a inclusão digital (PITTA; DANESI, 2000). De acordo com essas situações descritas, escolheu-se como metodologia principal a observação da interação desses alunos com a acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, através do seu relacionamento, forma de trabalho, retorno dos alunos em relação às atividades e percepção da motivação em relação a turma. Segundo Tassoni (2000, p. 2), “a relação que caracteriza o ensinar e o aprender transcorre a partir de vínculos entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar.” O mesmo autor relata que, “no decorrer do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão ampliando-se e a figura do professor surge com grande importância na relação de ensino e aprendizagem, na época escolar” (TASSONI, 2000, p. 4). No período de regência realizado na turma, foram desenvolvidas atividades práticas que pudessem relacionar os conteúdos de Biologia com o cotidiano dos alunos, facilitando a aprendizagem deles. Na execução das atividades utilizaram-se diferentes 15 recursos, como: argila, massinha de modelar, vídeos, jogos, revistas, jornais, folhas secas, sementes e desenhos. Os assuntos abordados tinham como enfoque a Educação Ambiental, proporcionando o contato destes alunos com a natureza e conscientizando-os que os seres vivos também estavam inseridos neste contexto. Uma dificuldade encontrada neste processo foi a falta de concentração dos alunos para a realização das atividades, pois eles se dispersavam facilmente e como conseqüência, alguns desistiam de continuar as tarefas solicitadas. A tendência dos alunos à dispersão pode ser explicada pelas limitações que apresentavam devido as suas deficiências. Todos eles eram deficientes mentais, mas o grau da deficiência variava do mais avançado até o mais leve, e alguns alunos tinham déficit de atenção, hiperatividade, esquizofrenia, dificuldade de motricidade e perturbações no comportamento. O fato de não estarem acostumados a realizar atividades diferenciadas também contribuía para a sua dispersão, pois o professor regente deixava-os escolher o que queriam trabalhar no dia e também os liberava para caminhadas e rodas de conversa. Perante estes fatos, a melhor maneira encontrada para trabalhar com eles foi utilizando materiais alternativos juntamente com o diálogo, que é a chave principal para o desenvolvimento e aprimoramento de uma relação. Segundo Vygotsky (2005), a função principal da fala é estabelecer uma comunicação, proporcionando um intercâmbio social. Relacionado a esse contexto, pode-se dizer que, “a transmissão racional e intencional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho” (VYGOTSKY; 2005, p. 7). Na primeira aula foi proposta uma atividade com folhas secas e sementes, proporcionando o contato dos alunos com a natureza, o objetivo principal era mostrar as estruturas das folhas e conscientizá-los de que as plantas também são seres vivos. Após realizar a tarefa,os alunos entregaram seus desenhos para a professora de Biologia, como demonstração de carinho e gratidão. O tema da segunda aula foi sobre seres vivos, onde os alunos deveriam utilizar massinha de modelar para representar qualquer tipo de ser vivo. Nesta atividade apenas dois alunos criaram esculturas, mostrando-se interessados na temática da aula. Os outros alunos não quiseram realizar a atividade proposta e preferiram ficar olhando revista e jornais. Perante essa situação, foi solicitado que eles procurassem nas revistas, gravuras de seres vivos, como proposta de trazer a atenção deles para a dinâmica da aula. 16 Na atividade da terceira aula, os alunos deveriam fazer um desenho utilizando como tema a preservação da natureza, em uma folha tingida com anilina. Para realizar o desenho, eles deveriam usar um cotonete embebido em solução de água sanitária, resultando em um desenho “mágico”, pois com a ação da água sanitária, a anilina seria descolorida, formando a figura desejada. Na quarta aula, o recurso utilizado foi à argila e, nesta aula, todos os alunos participaram da atividade, fazendo esculturas de plantas, animais e seres humanos. Durante a execução das atividades os alunos gostavam de conversar e sempre diziam que relaxavam e esqueciam dos problemas nas aulas de Biologia. “A arte é uma forma de expressão, principalmente quando a deficiência mental afeta a utilização de alguns recursos que possibilitam ao aluno exprimir-se oralmente, ou pela linguagem escrita” (BRASIL, 2006, p. 61). O assunto abordado na última aula foi sobre questões de saúde, priorizando a higiene pessoal. Utilizou-se um vídeo sobre higienização para fixar o conteúdo que havia sido trabalhado durante a aula. De uma forma geral, o retorno dos alunos nas atividades desenvolvidas foi ótimo, pois eles conseguiam realizar o que era solicitado e também foi possível chamar a atenção deles com os assuntos trabalhados. A partir das aulas, eles conseguiam relacionar os temas abordados com situações do dia-a-dia e faziam questão de mostrar que haviam entendido o conteúdo trabalhado. Para Freire (1996) é necessário discutir com os alunos a realidade que vivem, vinculando com os conteúdos abordados em sala de aula e também acredita que os saberes curriculares devem estar ligados intimamente com os saberes sociais que cada um tem como indivíduo. “Quando o aluno cria com liberdade, fazendo seus desenhos e suas produções, ele levanta hipóteses e imprime sua marca na construção simbólica de sua história” (BRASIL, 2006, p. 61). Os alunos trocavam carinhos no decorrer das aulas, tanto com a professora quanto com os colegas, e essas demonstrações de afeto transcorriam de uma forma tão natural que auxiliavam na relação professor-aluno e aluno-aluno. A necessidade que eles tinham em tocar e abraçar as pessoas era compreendida como uma forma de expressar seus sentimentos e angústias, pois se sentiam seguros e felizes demonstrando os gestos de carinho. Vygotsky (2005), declara que a comunicação através de movimentos expressivos é uma efusão afetiva, que pode ser considerada como uma forma de expressão e comunicação. No processo de ensino-aprendizagem é importante que exista uma base afetiva entre professor e aluno, pois a partir da relação estabelecida o aluno passa a confiar no 17 professor e, conseqüentemente, o desenvolvimento das atividades torna-se mais agradável e interativo. Segundo Maturana (2001) as ações humanas são impulsionadas e realizadas de acordo com o domínio emocional de um determinado instante, ou seja, a emoção define o comportamento a ser realizado. Perante essas colocações Tassoni (2000) comenta que Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, num processo vincular. Pensando, especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros, escrita, etc. não acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações (TASSONI; 2000, p. 3). A interação da acadêmica do Curso de Ciências Biológicas com os alunos da turma acontecia de forma natural e tranqüila, era possível notar que agia impulsionada pela emoção, não tinha nenhum tipo de preconceito em relação aos alunos com deficiência mental. Era uma relação bonita, de cumplicidade e tomada por sentimentos de alegria e satisfação pelo trabalho desempenhado. Outro aspecto levado em consideração foi à motivação da professora em relação à turma, que era muito visível, pois conseguia realizar atividades diferenciadas com facilidade. Em várias aulas chegava a levar materiais elaborados em casa, e não se importava com isso, pois a principal preocupação era passar conhecimento para os alunos e adquirir algum retorno, mesmo que fosse com abraços e beijos. “Embora os fenômenos afetivos sejam de natureza subjetiva, isso não os torna independentes da ação do meio sociocultural, pois relacionam-se com a qualidade das interações entre os sujeitos, enquanto experiências vivenciadas (TASSONI, 2000, p. 4). 18 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para compreender e analisar as relações existentes entre professor e aluno com deficiências mentais é preciso estar livre de qualquer tipo de preconceito e ter paciência para observar a interação estabelecida. O trabalho desenvolvido com estes alunos é árduo e cansativo, pois o retorno em relação às atividades propostas muitas vezes não é o esperado, e por esse motivo, alguns professores acabam se desmotivando para seguir em frente. É preciso ser persistente para atingir os seus objetivos como educador, pois alunos com deficiência mental tem um tempo diferente para entender o que está sendo dito e solicitado, é muito diferente do que ensinar uma criança “normal”, que compreende na hora o que está sendo questionado. O aluno com deficiência mental precisa ser estimulado para entender um conteúdo e também necessita saber que apesar das suas limitações também é capaz de realizar a atividade que está sendo solicitada, e muitas vezes, com este apoio, consegue percebê-las com facilidade. A experiência obtida com a educação de alunos deficientes mentais ou com qualquer tipo de aluno de Educação Inclusiva é muito importante para profissionais da área da educação. É necessário que todos professores tenham experiências assim, pois desta forma estarão capacitados para atender qualquer aluno. Os professores de Biologia devem utilizar recursos diferenciados para facilitar a aprendizagem de seus alunos, e proporcionar principalmente o contato com a natureza. Apesar das dificuldades, este trabalho é muito gratificante, pois quando é estabelecida uma relação entre professor e aluno com deficiências mentais, o desenvolvimento das aulas se torna mais fácil, e o resultado obtido nesta experiência se torna inesquecível. Um ponto marcante nesta interação é a afetividade, porque o aluno tem muita necessidade de expressar seus sentimentos em relação ao professor e faz isso através de gestos de carinho, demonstrando sua gratidão pela ajuda que está tendo e também pela confiança que está sendo depositada nele. A afetividade estabelecida entre ambos pode auxiliar muito no processo de ensino-aprendizagem, pois o aluno passa a gostar e admirar o seu professor e em troca quer mostrar para ele que está conseguindo entender o que está sendo estudado. Para Freire (1996), o que o professor não pode permitir, é que a afetividade que sente em relação a um aluno interfira no seu exercício de professor e atrapalhe na sua autoridade sob a turma. Ela é um instrumento facilitador no aprendizado, mas para ser eficiente deve ser utilizada de forma correta e positiva para os 19 envolvidos. Em relação ao estágio realizado no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, os resultados obtidos com a turma foram os esperados. Eles responderam bem as atividades propostas e em comparação com o primeiro dia de aula e o último, o progresso deles foi impressionante. No primeiro dia apresentaram dificuldades para se concentrar e se expressar, mas no decorrer das aulas foram se acostumando com a metodologia diferenciada e com a presença da nova professora, e as atividades passaram a ser desenvolvidas com o mínimo de dificuldades. O tempo de estágio realizado nesta turma foi relativamente curto, pois durou uma semana e meia. De acordo com o desempenho dos alunos neste período, acredita-se que se fosse possível estender mais o tempo do estágio, os resultados obtidos teriam sido superiores aos esperados, pois o processo de ensino de deficientes mentais é progressivo. Os alunos deixavam claro nas suas falas, que estavam realizando as atividades por vontade própria, que gostavam do que estavam fazendo e muitas vezes faziam comentários sobre como se sentiam desenvolvendo as atividades. Por várias vezes foi possível escutar eles dizendo que se sentiam bem nas aulas, que com as dinâmicas abordadas conseguiam superar seus limites e esquecer de todos os problemas que tinham. Os estágios obrigatórios que compõem o currículo do Curso de Ciências Biológicas são fundamentais para a formação de Licenciado em Ciências Biológicas. Com as experiências obtidas em cada um deles, foi possível crescer muito profissionalmente. Se for feita uma comparação entre os três estágios, pode-se concluir que a preparação e segurança entre um e outro foi aumentando, de modo que, ao chegar no Estágio III, a tranqüilidade e amadurecimento para abordar os diversos conteúdos era significativa. O Estágio III proporcionou uma experiência maravilhosa, que possibilitou o contato com alunos deficientes mentais, mostrando que a Biologia está presente na vida de todos e que é possível ensinar qualquer tipo de aluno, quando se tem curiosidade e força de vontade. Para conseguir educar estes alunos é necessário ter experiências nesta área, e isto é uma vantagem que o Centro Universitário Metodista IPA proporciona para seus alunos, pois na sua graduação têm a possibilidade de desenvolver este tipo de trabalho. Isso além de melhorar o currículo do professor, deixa-o capacitado para atender a diversos alunos, que é um requisito necessário na carreira de educador. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Educação. 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