AMAZÔNIA: A EXAUSTÃO DOS MECANISMOS DE CONTROLE AMBIENTAL Deputado Sarney Filho PV/MA SUMÁRIO Importância do Bioma. Padrões de Ocupação e Exploração Econômica. Diagnóstico Sugestões. IMPORTÂNCIA DO BIOMA Berço de 25% da biodiversidade do planeta. ➔ Status muito bom de conservação (85%). ➔ Fixação de mais de uma centena de trilhões de toneladas de carbono, por ano. ➔ Liberação em torno de sete trilhões de toneladas de água anualmente para a atmosfera. ➔ Seus rios detém 20% de toda água doce do planeta que é despejada nos oceanos. ➔ Última grande floresta tropical do mundo. ➔ Vital para o equilíbrio ecológico mundial. ➔ Detém expressivo patrimônio socioambiental, representado por populações tradicionais, ribeirinhos, indígenas, seringueiros, castanheiros, babaçueiras, etc. ➔ Importância do Bioma Importância do Bioma Padrões de Ocupação e Exploração Econômica Formação de pastagens de baixa produtividade (nos últimos 30 anos foram desmatados 40 milhões de hectares para esta finalidade). ➔ Expansão da fronteira agrícola. ➔ Exploração desordenada e intensa dos recursos naturais da região, com ênfase para a exploração madeireira, contudo sem melhorar a renda das populações locais. ➔ Grandes projetos de colonização, ao arrepio das legislações ambiental e agrária. ➔ Grande investimentos em infra-estrutura (Projeto Carajás, UHE Tucuruí). ➔ Expansão desordenada das atividades de mineração e garimpo, até mesmo no interior de Unidades de Conservação e em Terras Indígenas. ➔ Padrões de ocupação e exploração econômica - Mineração Padrões de ocupação e exploração econômica – Extração Ilegal de Mogno - Reserva Caiapó Padrões de ocupação e exploração econômica - Carvoaria Padrões de ocupação e exploração econômica -Evolução do rebanho bovino Evolução do Rebanho Bovino na Amazônia Legal e Brasil Período 1992 / 2001 Unidade RO AC AM RR PA AP TO MA MT Amazônia Legal Brasil Fonte: PAM - IBGE 1992 2.773.896 409.172 639.811 348.807 6.989.688 61.656 4.623.500 3.930.893 10.138.376 29.915.799 154.229.303 Incremento Amazônia = 72,78% Incremento Brasil = + 14,36% 2001 6.605.034 1.672.598 863.763 438.000 11.046.992 87.197 6.570.653 4.483.209 19.921.615 51.689.061 176.388.726 % 131,11 308,77 34,99 25,57 58,04 41,42 42,11 14,05 96,49 Padrões de ocupação e exploração econômica -Evolução da área plantada no Arco do Desflorestamento Evolução da área Plantada de Produtos Selecionados na Região do Arco do Desflorestamento - 1999 - 2001 Produto Soja Arroz Milho Mandioca Fonte: IBGE Área Plantada (ha) 1999 2001 487.390 766.733 749.816 664.069 595.819 524.731 8.750 422 % 57,31 -11,44 -11,94 -95,18 Padrões de Ocupação e Exploração Econômica - Consequências Consolidação de sistemas extensivos de produção com alto grau de impacto ambiental e baixa rentabilidade. ➔ Tendência progressiva no aumento dos índices de desmatamento, queimadas e incêndios florestais, principalmente na região do “Arco do Desflorestamento” e ao longo de rodovias, notadamente a BR 163. ➔Aumento da grilagem de terras como forma de garantir a posse. ➔Aumento dos índices de ilegalidade na exploração madeireira, inclusive no interior de áreas protegidas. ➔43% da população com renda abaixo da linha de pobreza. ➔Aumento dos ílicitos ambientais relacionados à biopirataria. ➔Aumento do risco de extinção de espécies pela exploração intensa, tais como o mogno. ➔Contaminação dos cursos d'água com Hg (mercúrio). ➔ Padrões de ocupação e exploração econômica - Exploração madeireira Padrões de ocupação e exploração econômica - Evolução do Desmatamento Desmatamento na Amazônia 1988-2003 (Taxa anual – INPE) 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 /0 3" "0 2 /0 2" "0 1 00 /0 1 99 /0 0 98 /9 9 97 /9 8 96 /9 7 95 /9 6 94 /9 5 ** 92 /9 4 91 /9 2 90 /9 1 89 /9 0 88 /8 9 77 /8 8 * 0 Padrões de ocupação e exploração econômica -Evolução do Desmatamento Acumulado Evolução do Desmatamento na Amazônia Legal Evolução do Desmatamento na Amazônia Legal acumulado (Km2) acumulado (Km2) 700.000 700.000 600.000 600.000 500.000 500.000 400.000 400.000 300.000 300.000 200.000 200.000 100.000 100.000 2003 2003 2002 2002 2001 2001 2000 2000 1999 1999 1998 1998 1997 1997 1996 1996 1995 1995 1994 1994 1993 1993 1992 1992 1991 1991 1990 1990 1989 1989 1988 1988 1987 1987 1986 1986 1985 1985 1984 1984 1983 1983 1982 1982 1981 1981 1980 1980 1979 1979 1978 1978 - - Padrões de ocupação e exploração econômica - Desmatamento 2003 Desmatamento 2003 Desmatamento 2002/2003 Desmatamento até 2002 Fonte: INPE PRODES Digital, 2004. Padrões de ocupação e exploração econômica - Desmatamento por Estado Desmatamento na Amazônia por UF 1988-2003 (Taxa anual – INPE) 12000 10000 Acre Amapa 8000 Amazonas Maranhao 6000 Mato Grosso Para Rondonia 4000 Roraima Tocantins 2000 77 /8 8 * 88 /8 9 89 /9 0 90 /9 1 91 /9 92 2 /9 4 ** 94 /9 5 95 /9 6 96 /9 7 97 /9 8 98 /9 9 99 /0 0 00 /0 1 "0 1/ 02 "0 " 2/ 03 " 0 Padrões de ocupação e exploração econômica Desmatamentos com mais de 300 hectares e áreas protegidas Localização dos Desmatamentos com mais de 300ha em 2003 + áreas protegidas Desmatamento no entorno da BR163 (ha) ITAITUBA # TRAIRAO # JACAREACANGA # SAO FELIX DO XINGU # # NOVO PROGRESSO APIACAS # NOVA BANDEIRANTES COTRIGUACU # # NOVA MONTE VERDE PARANAITA # GUARANTA DO NORTE # ALTA F LORESTA # # NOVO MUNDO CARLINDA JURUENA NOVA CANAA DO NORTE # TABAPORA MATUPA # NOVA GUARITA # UF MT PA # # # PEIXOTO DE AZEVEDO # # CONFRESA TERRA NOVA DO NOR TE COLIDER Area Buffer 50km 1.167.398 6.648.344 SAO JOSE DO XINGU PORTO ALEGRE DO NORTE até 1997 de 1997 a 2000 501.607 90.193 324.991 170.560 2001 22.193 47.871 2002 Total Desmat. % do Total 665.262 56,99% 51.269 588.048 8,85% 44.626 Padrões de ocupação e exploração econômica Estradas endógenas versus desmatamento Padrões de ocupação e exploração econômica Degradação florestal – Ikonos, Paragominas, 1999 Padrões de ocupação e exploração econômica - Queimadas ➔ Diagnóstico Índice de desmatamentos, queimadas e incêndios florestais com tendência crescente, e que tem levado a perda da biodiversidade. ➔ Uso indevido de documentos oficiais (autorizações diversas, ATPF's, burla aos sistemas administrativos e operacionais de controle), que aponta para a necessidade da implantação de um processo de certificação. ➔ Aumento da exploração de recursos naturais em áreas protegidas. ➔ Vistorias e inspeções florestais insuficientes. ➔ Grande número de Planos de Manejo Florestal virtuais, gerando créditos para “esquentar” madeira de origem ilegal. ➔ Ações voltadas ao fortalecimento institucional dos órgãos ambientais deficitárias. ➔ Recursos Humanos carentes de capacitação e treinamento para melhor utilizar as ferramentas e inovações tecnológicas. Diagnóstico Aumento dos conflitos entre madeireiros, carvoeiros, guzeiros, agricultores sem terra, comunidades locais e grileiros, pela posse da terra (Pará). ➔ Aumento da contaminação de água por agrotóxicos (Maranhão, Tocantins e Mato Grosso) e por mercúrio (Amazonas). ➔ Invasão de madeireiras estrangeiras em terras indígenas (peruanas no Acre), provocando tensões nas fronteiras, inclusive devido à biopirataria (Amazonas). ➔ Aumento da invasão em áreas protegidas (Rondônia e Roraima). ➔ Diagnóstico - Conclusão O conjunto das ações desenvolvidas na região, apesar de todo o esforço dispendido, tem se mostrado insuficiente para atingir o efetivo controle ambiental, notadamente, nas questões relacionadas com o desmatamento e a exploração ilegal de madeira, evidenciado pelo fato de que grande parte do volume de madeira comercializado anualmente é reconhecidamente de origem ilegal. Computadas também as perdas inerentes a biopirataria, agregada a madeira, bem como ao tráfico de animais silvestres, temos um prejuízo incalculável e irremediável para a biodiversidade amazônica. Da mesma forma, instrumentos administrativos de controle, representados pelo conjunto de sistema de registros, cadastros e autorizações diversas, também tem se mostrado inadequados, como no caso do uso indevido de ATPF's, caracterizando a necessidade de adoção de novos mecanismos de controle ambiental e modelos de desenvolvimento para a região. Sugestões Efetivação do Zoneamento Ecológico – Econômico (ZEE), sob uma metodologia única, com a definição clara das áreas de relevante interesse ecológico, com respectivos níveis de restrição, e de áreas voltadas ao uso alternativo do solo, objetivando subsidiar a elaboração de macropolíticas territoriais, planos, programas e projetos, segundo o enfoque da compatibilização das atividades econômicas com o meio ambiente, fornecendo ainda aos tomadores de decisão, os subsídios necessários, na forma de diagnósticos gerais e específicos, para a adoção de políticas convergentes com as diretrizes de planejamento estratégico do país, entre os 09 Estados da Amazônia. ➔ Sugestões Efetivação da regularização fundiária por meio de ação conjunta e articulada com os órgãos e instituições envolvidas, de tal sorte a promover a diminuição dos conflitos sociais motivados pela posse da terra; dirimir dúvidas quanto a titularidade dos imóveis e objeto principal dos conflitos; solução definitiva da questão relacionada a sobreposição de Unidades de ConservaçãoUC's e destas para com as reservas indígenas e assentamentos, bem como seus respectivos limites; consolidação e implantação das UC's, nas suas mais diversas formas; propiciar informações fidedígnas, melhorando os instrumentos de controle ambiental; ➔ Situação Fundiária Amazonia Legal Situação Fundiária nanaAmazônia Legal 24% Terras Privadas 47% 29% Terras Devolutas/ Disputa Áreas Protegidas Sugestões Promover o fortalecimento institucional dos órgãos ambientais, responsáveis pelo controle ambiental na região, mediante a aquisição de equipamentos, veículos, contratação de mão de obra especializada, com a realização de programas de treinamento e capacitação técnica, de maneira a propiciar por meio da realização de vistorias, a validação dos dados de campo das fontes legais de matéria prima florestal, bem como o refinamento e tratamento das informações oriundas das inovações tecnológicas, tendo como objetivo impedir que o dano ambiental não ocorra. ➔ Sugestões Incentivo a implementação de programas e ações voltadas ao uso sustentável dos recursos naturais, tais como: o manejo florestal e o extrativismo, capazes de melhorar a renda das comunidades locais, além da reorientação dos procedimentos e critérios na concessão de financiamentos, no âmbito do FNO e FCO e da melhoria e adequações no âmbito do Protocolo Verde; e a priorização de um melhor uso para as áreas já desmatadas. ➔ Sugestões Implementação, harmonização e intensificação do uso das inovações tecnológicas disponíveis, tais como: imagens de satélite, informações obtidas no âmbito do SIVAM, multiplicando o poder de resposta dos órgãos responsáveis pelo controle ambiental a partir da compatibilização e integração de sistemas e troca de informações, que permitam identificar as ocorrências e as tendências de desmatamentos e queimadas, de tal sorte a impedir a efetivação do dano, em tempo real, e propiciar o planejamento mais eficaz das ações de fiscalização ambiental. ➔ Ação da fiscalização Monitoramento Ambiental Queimadas Sugestões Reativação e implantação do programa “Licenciamento Ambiental da Propriedade Rural”, nos moldes desenvolvidos pelo Estado do Mato Grosso, com a utilização de imagens de satélite e averbação da reserva legal das propriedades rurais de forma digitalizada, propiciando o acompanhamento da evolução das Autorizações para Desmatamento, por propriedade, e com a detecção do desmatamento em áreas não autorizadas. ➔Existe uma enorme discrepância entre o total apontado pelo INPE e o autorizado pelo IBAMA. ➔ Sugestões Verificar a efetiva aplicação dos ditames emanados pelas Resoluções CONAMA 001/86, combinada com a 011/86, e pela Resolução Conama 237/97, quanto a exigência da realização de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA para o desenvolvimento de Projetos Agropecuários, que contemplem áreas superiores a 1.000 ha, ou inferiores, quando se tratar de áreas significativas em termos ambientais, visando disciplinar e controlar a atividade na Amazônia brasileira. ➔ Sugestões Inserção no Protocolo de Kyoto, das florestas nativas, como fontes geradoras de créditos de carbono, de forma a propiciar um bônus real ao País e a quem mantiver a sua floresta em pé, assim como, a busca de projetos de redução de emissões, tais como a adoção de tecnologias alternativas para o desenvolvimento da agricultura de subsistência, como por exemplo, no caso da roça de tocos, que gera necessariamente a emissão de CO2, por meio da queimada para a posterior destoca. Esta poderá ser substituída por modelos assistidos técnica e financeiramente para a implantação de agricultura familiar, com tecnologias limpas, gerando, assim, projetos de redução de emissões com seus respectivos bônus, nos termos do Protocolo. ➔ Sugestões Incentivar a criação de mecanismos que facilitem a implantação de Planos de Manejo Florestal Sustentável – PMF's, tais como a redução de exigências burocráticas e, ao mesmo tempo, incentivar a criação de mecanismos que dificultem, ou tornem mais criteriosa a obtenção da Autorização para Desmatamento (hoje as exigências para se obter a aprovação do PMF estão num patamar de dificuldade bem acima dos que para se obter uma Autorização para Desmatamento). Devemos lembrar que o manejo florestal caracteriza-se por uma exploração seletiva, criteriosa e técnica, enquanto que a Autorização para Desmatamento, pelo contrário, propicia a retirada total da vegetação, expondo a terra nua. ➔ Sugestões Instituição do Selo de Origem Florestal – SOF, nos moldes propostos pela IN-MMA nº 11, de 27/11/2002, em substituição a Autorização para Transporte de Produtos Florestais – ATPF, além de incentivar a implementação de mecanismos de certificação florestal. ➔Implementação do Sistema Integrado de Monitoramento e Controle dos Recursos e Produtos Florestais – SISPROF, fundamentado no geoprocessamento (sensoriamento remoto, Sistemas de Informações Geográficas-SIG e Sistemas de Posicionamento Global– GPS), em bancos de dados informatizados e interligados, bem como na validação de dados de campo, com o desenvolvimento de metodologias específicas. ➔ Sugestões Auditagem técnica e administrativa em todas as fontes legais de matéria-prima de origem florestal (Planos de Manejo Florestal Sustentável e Autorizações para Desmatamento e Exploração Florestal), visando confrontar a realidade de campo com a documentação anexada aos processos que viabilizaram a aprovação das mesmas, bem como àquela inerente ao controle ambiental (pastas de produção, controle da liberação de ATPF's, contratos de compra e venda de produtos florestais, inclusive para fins de exportação, autorizações CITES, etc), procedendo a suspensão e/ou o cancelamento das fontes fraudulentas e demais sanções previstas na Lei de Crimes Ambientais e Código Florestal. ➔ Sugestões Implementar a criação de Unidades de Conservação, prioritariamente, nas áreas já definidas como de relevante interesse ecológico e situadas em locais de conflito, garantindo, o devido aporte de recursos necessários (inclusive oriundos da compensação ambiental, em função do licenciamento de atividades ou empreendimentos potencial e efetivamente poluidores) as suas efetivas implantações, promovendo a sua regularização fundiária, montagem da infra-estrura, manutenção e o seu provimento com pessoal técnico - qualificado. A Moratória do Desmatamento Deve ser entendida como um “marco zero”, materializada na adoção de novos e mais eficazes instrumentos de controle ambiental, além da implementação de ações de cunho administrativo, técnico, operacional e legal, que venham a inibir o desmatamento, privilegiando por outro lado o manejo florestal, até que novas políticas e modelos de desenvolvimento sustentável sejam definidos e implantados na região. Fontes de Consulta Relatórios apresentados na CPI da Biopirataria. ➔Relatórios do MMA e do IBAMA. ➔Site: www.ambientebrasil.com.br. ➔GEO BRASIL 2002 – Perpectivas do Meio Ambiente no Brasil. ➔Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia-IPAM – Visões e Perpectivas Futuras para o Meio Amazônico. ➔Informações do Grupo de Trabalho da Amazônia – GTA. ➔Matérias veiculadas na mídia escrita. ➔Revista VEJA “on line”. ➔Site: www.greenpeace.org.br . ➔Relatórios do INPE , SIVAM e IBGE ➔Outros sites especializados. ➔