FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR ALDA MARIA ARAÚJO DE OLIVEIRA UMA ANÁLISE DA FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA NAS MAIORES EMPRESAS DO ESTADO DO CEARÁ Fortaleza 2004 ii FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR ALDA MARIA ARAÚJO DE OLIVEIRA UMA ANÁLISE DA FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA NAS MAIORES EMPRESAS DO ESTADO DO CEARÁ Dissertação apresentada ao Curso de Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração de Empresas. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte Fortaleza 2004 iii Alda Maria Araújo de Oliveira UMA ANÁLISE DA FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA NAS MAIORES EMPRESAS DO ESTADO DO CEARÁ Data de Aprovação: ________________________________________ Banca Examinadora: __________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte (Orientador-UNIFOR) __________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Correia de Oliveira (Membro-UNIFOR) __________________________________________________ iv Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto (Membro-UNIVALI) OLIVEIRA, Alda Maria Araújo de. Uma análise da formulação da estratégia nas maiores empresas do estado do Ceará. Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Dissertação (Mestrado em Administração), 2003. Perfil da Autora: Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza UNIFOR (1987), Pós-Graduada em Gerência Geral, pela Universidade Estadual do Ceará – UECE (1991), MBA Gestão Estratégica de Tecnologia da Informação, pela FGV/ MARPE -Fortaleza (2001). Articulador de Projetos. RESUMO: Administrar mudanças e em paralelo as questões rotineiras é o grande desafio do gestor contemporâneo. Saber formular boas estratégias pode ser a chave do sucesso. Objetiva-se analisar o processo de formulação da estratégia nas maiores empresas do Ceará, segundo o Prêmio Delmiro Gouveia 2003, da Bolsa de Valores Regional do Ceará, à luz da tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A pesquisa de campo é descritiva, qualitativa e quantitativa, utilizando-se de fontes primárias e secundárias. As técnicas de pesquisa foram entrevista e questionário estruturado e não disfarçado, com escala Likert, aplicado junto com os dirigentes e/ou diretores das empresas. A amostra intencional compôs-se de 35 empresas. As análises revelaram que variando em intensidade com pontuação aproximada, todas as escolas, com exceção da cognitiva, influenciam no processo de formulação de estratégia, tendo à frente a empreendedora, inclusive nas empresas mais antigas. A análise fatorial com rotação varimax resultou em quatro novas dimensões conceituais: liderança, dinâmica, comportamental e mista. Espera-se que este trabalho possa servir de subsídio para a utilização prática dos executivos empresariais, despertando o interesse de outros pesquisadores para o desenvolvimento de novas pesquisas na área. PALAVRAS CHAVES: Estratégia Empresarial, Formulação da Estratégia, Mintzberg, Safári da Estratégia, Escolas Estratégicas. v ABSTRACT Managing both changes and the routine at the same time is the big defiance of contemporary’s manager. Knowing how to formulate good strategies may be the key of success. The object of this research is to analyse the strategy formulation process in the biggest enterprise of Ceará, according to the Delmiro Gouveia’s Premium from the Bolsa de Valores Regional do Ceará, using Mintzberg, Ahlstrand and Lampel’s Tipology of 10 Schools of strategy formulation. The methodology was based in Malhotra (2001), the research was descriptive, qualitative and quantitative, using primary and secundary sources. The research’s technics were interview and structured and non disguised questionary with Likert’s scale applied to the enterprise’s managers. The intentional sample was composed with 35 entreprisies. The analysis unveiled that varing in intensity with close pontuation all of the schools, excluding the cognitive have influence in the strategy formulation process with the entrepreneurial as the stronger even in the oldest enterprisies. The factor analysis with varimax rotation resulted in 4 new conceptuais dimentions: leadership, dynamics, comportamental and mixed. It’s expected that this research will be useable for the executive’s practices awakening the interest of another researchers to the development of new researchs in the same área. KEYWORDS: Corporate Strategy, Strategy Formulation, Mintzberg, Strategy Safari, Strategic Schools. vi Dedico esta dissertação ao meu pai Professor José Guilherme Pimenta Araújo (em memória) que sonhou em me ver mestra há muitos anos, ao meu amado esposo Auricio que insistiu ser o momento de realizar tal sonho, me dando o apoio intelectual e emocional para concluílo, à minha mãe Emilse que não me deixou desanimar lembrando sempre os benefícios futuros e, em especial, aos meus filhos, Mariana e Guilherme Neto, que mais se ressentiram das longas horas que subtraí do nosso convívio familiar em função dos estudos. vii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, acima de tudo, por ter me dado forças para persistir diante de todas as provações que conduzem a momentos de desânimo. À minha avó e madrinha Alda (em memória), uma segunda mãe, que, com certeza, me iluminou para conquista deste desafio. À minha avó Maria, com quem aprendi a orar antes de me submeter a um teste dizendo: “Senhor, o Teu dedo é a minha caneta”. À minha mãe, minha irmã Elaine e minha afilhada Emilsinha que me ajudaram com palavras de incentivo e acompanhando meus filhos para suprir minhas ausências. Ao meu irmão Zé Olavo, que intercedeu com seus amigos empresários, de forma a facilitar o preenchimento dos questionários. À Liliam, fiel amiga, desde o jardim da infância, pelas inúmeras vezes que me afastei do nosso convívio social em função dos estudos. Ao Governo do Estado do Ceará representado pelos dirigentes das instituições ETICE por custear, parcialmente, o curso; SEPLAN, pela liberação dos horários necessários à realização das disciplinas e orientação da dissertação e FUNCAP, pela bolsa de estudos fornecida. Ao meu orientador e coordenador do CMA, Prof. Dr. Sérgio Forte, pelas horas que dedicou à construção desse trabalho, bem como dos artigos publicados e ainda pelo respeito que demonstra à memória do meu pai. Aos professores que ministraram as disciplinas do curso, cujos ensinamentos muito contribuíram no desenvolvimento da dissertação. Ao Deusdetith, Adriana e Narciso, membros da secretaria do mestrado, que sempre procuraram atender, da melhor forma, às demandas dos alunos do mestrado. viii À minha amiga e colega Ariana, que compartilhou comigo as emoções do mestrado, desde a solicitação ao Estado e ao Edmar, seu dedicado marido, que também me ajudou nos momentos que precisei. Às colegas Graça e Nicole, com quem tive a oportunidade de estreitar mais de perto a amizade e com quem contei em vários momentos. À Priscila, uma amiga, apesar da distância, que conquistou minha admiração pelo esforço adicional que fez para realizar esse mestrado. Ao Alberto e à Dulcinda, que me ajudaram nas questões estatísticas. À Rosa por ter gentilmente mudado o horário de sua qualificação, de forma à tornar possível a realização da minha em tempo hábil. A todos os colegas da turma VIII, alguns dos quais me deram o prazer realizar trabalhos em conjunto, trocar cd’s, livros e informações e que elevaram o nível do mestrado, contribuindo com suas ricas experiências. Ao Prof. Dr. Chico Correia, por ter aceito compor a minha banca e pelo respeito que demonstrou por mim e pelo meu trabalho, me recebendo mais de uma vez para discutir formas de aprimorá-lo. Ao Prof. Dr. Ricardo Rossetto, da UNIVALI, por ter aceito o convite para compor minha banca, demonstrando satisfação por fazê-lo e contribuindo com sugestões valiosas. Aos dirigentes da SEPLAN, por apoiarem a realização desse curso, em especial, ao João Marcos Maia, secretário executivo da SEPLAN, um amigo, um exemplo de determinação e amor ao saber, que sempre apostou na minha competência e que contribuiu, em muito, para que a minha solicitação ao Estado fosse aceita. À Norma Alcoforado e Fernandes Távora, coordenadores da ADINS, em momentos diferentes do mestrado, que confiaram em mim fornecendo o apoio integral para que eu pudesse conciliar as atividades do trabalho com às do mestrado. Ao “time” da ADINS, Dr. Adjemir, por seus ensinamento ortográficos, Lina, Robério e Andréa, pelo companheirismo e troca de experiências que têm possibilitado o meu crescimento pessoal e intelectual. Aos colegas do gabinete da SEPLAN e aos colegas do ix CPD, representados por Cairamir e Luiz Edvan que contribuíram com ações ou palavras de apoio e incentivo. Ao Idilvan, também colega da ADINS, que se mostrou um grande amigo sendo o coordenador da rede de pesquisadores, profissionais da SEFAZ, responsáveis por grande parte dos questionários. Aos profissionais da SEFAZ, que se dispuseram a aplicar o questionário. À Annuzia, por me auxiliar com a análise fatorial e à Nina Rosa, que realizou a correção ortográfica do documento. Aos tios, primos, cunhados e amigos Dedé, Amélia, Ângela, Gustavo, Nilson, Geralda, Adriane, Lina, Neto Cisne, Paulo Alcântara, Valdemar, Dr. Brasil, Miriam Almada, Lair Fontoura, Ana Cristina Pinheiro e Samuel Facó, que trabalharam comigo na consecução dos questionários. Aos dirigentes e representantes das empresas que responderam o questionário, pelo exemplo que deram ao valorizar a importância da pesquisa científica, agindo com transparência. Enfim, que todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram contribuindo de alguma forma, sintam-se referenciados, pois seria impossível citar o nome de todos os envolvidos em um trabalho dessa dimensão. A todos, de coração, o meu muito obrigada! x SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES xii INTRODUÇÃO 17 1. 22 A EVOLUÇÃO DA ESTRATÉGIA NO CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO 2. 3. 1.1 A Evolução da Estratégia 1.1.1 Tipologias de Estratégia 1.2 A Evolução da Estratégia e o Pensamento dos Líderes 26 38 45 A FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA 51 2.1 2.1.1 2.1.2 2.1.3 2.2 2.3 53 54 60 70 85 96 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.2.6 3.2.7 3.2.7.1 3.2.8 3.2.9 3.3 4. O Processo de Formulação da Estratégia A Tomada de Decisão Padrões de Resposta ao Ambiente Modelos Mistos A Evolução do Pensamento de Mintzberg Pesquisas Similares Definição do Problema Planejamento geral da pesquisa Objetivos da pesquisa Hipóteses da Pesquisa Definição das variáveis da pesquisa Determinação do Tipo de Pesquisa Definição das fontes de dados Determinação dos métodos e técnicas de coleta de dados Determinação da população de pesquisa e técnicas de amostragem Justificativa para a escolha da população e da amostra Planejamento da coleta Análise dos dados Resultados do Pré-Teste 99 101 103 103 103 103 104 105 105 110 110 112 113 118 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA 129 4.1 4.2 130 133 Ambiente da Pesquisa Análise dos Resultados xi 4.2.1 4.2.2 4.2.3 Caracterização das empresas pesquisadas Caracterização dos respondentes Análise da relação empresas x escolas utilizando os resultados da 133 136 138 4.2.4 4.2.5 escala de Likert Novas Dimensões utilizando Análise Fatorial Descrição Comparativa com Pesquisas Similares 151 158 CONCLUSÃO, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES 162 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 172 APÊNDICE I - Questionário Utilizado 181 ANEXO I - Prêmio Delmiro Gouveia-2003 - 100 Maiores Empresas do Ceará 185 xii LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Modelos de Estratégias Categorias de Estratégias Tipologias de Estratégia Ambiental Vantagens e desvantagens de se optar por estratégias globais As visões do mundo x Estratégia Modelos de Tomada de Decisão Modelos de Tomada de Decisão. Entre a racionalidade instrumental e 8. 9. 10. 11. 12. 13. o modelo incremental Modelos de Tomada de Decisão x Escolas de Formulação Aspectos das diferentes atitudes diante do planejamento Posturas para enfrentar o ambiente Padrões de resposta a mudanças ambientais Ações dos Tomadores de Decisão segundo a Perspectiva Determinista Ações dos Tomadores de Decisão segundo a Perspectiva 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. Indeterminista Estágios da Mudança Organizacional Três modelos de formulação estratégica Estilos de Planejamento Estilos de Comportamento Estratégico Abordagens para formulação de estratégia Abordagens para formulação de estratégia Estilos básicos para elaboração da estratégia Processo de escolha estratégica – perfis gerenciais Escolas de Formulação de Estratégia Tipos básicos de ambiente Tipos de estrutura Escolas prescritivas Escolas descritivas Escola macro Classificação das respostas subjetivas do questionário Objetivos dos gráficos elaborados Cálculo do Alfa de Cronbach Dimensões estratégicas das maiores empresas do Ceará PÁGINA 39 40 43 44 47 54 55 57 60 61 64 66 67 67 76 77 78 80 81 82 84 85 86 87 91 91 92 114 115 117 157 xiii FIGURA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. PÁGINA Fases da Evolução da Estratégia Estrutura de Estratégia de Andrews Matriz Produto/Missão de Ansoff Matriz de Crescimento-Participação do BCG Vantagem Competitiva A Rede de Valor Tomada de decisões: Enfoque ocidental x Enfoque japonês O Ciclo Adaptativo Modelo do Equilíbrio Pontuado Formulação de estratégia competitiva Modelo de Formulação de Estratégia à luz da VBR Perspectivas sobre estratégia A estrutura x formulação da estratégia O Pentágono 27 28 29 30 31 33 59 63 68 71 75 79 86 89 xiv TABELA PÁGINA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. Caracterização das Empresas - Geral Caracterização das Empresas - Consolidação Classificação Grendene Classificação Pague Menos Classificação Guanabara Classificação UNIMED Escolas mais utilizadas - Resultado Geral Distribuição das empresas por tempo de existência Distribuição das empresas por tipo Distribuição das empresas por origem Distribuição das empresas por setor Representatividade da amostra por setor em relação ao universo da 118 118 120 122 124 126 127 133 134 134 134 135 13. 14. 15. 16. 17. 18. pesquisa Distribuição das empresas por FLA Distribuição das empresas por RLA Cargo dos respondentes Tempo dos respondentes na empresa Faixa etária dos respondentes na empresa Tempo de existência das empresas x utilização de escolas 135 136 136 137 137 140 19. 20. 21. 22. prescritivas Autovalores iniciais Soma dos quadrados de cargas extraídas Soma de quadrados de cargas rotadas Matriz de componentes rotada 151 151 152 152 GRÁFICO PÁGINA 1. 2. 3. 4. 5. 6. Comportamento da Grendene por escola de pensamento Comportamento da Pague Menos por escola de pensamento Comportamento da Guanabara por escola de pensamento Comportamento da UNIMED por escola de pensamento Resultado das empresas do Pré-Teste por Escola de pensamento Correspondência entre respostas subjetivas e resultado da Escala 120 123 124 126 127 138 7. 8. Likert Comportamento das Empresas por tempo de existência Comportamento dos setores por escola de pensamento 140 141 xv 9. 10. 11. 12. Representatividade das escolas de pensamento em cada setor Comportamento das empresas por escola de pensamento x FLA Comportamento das empresas por escola de pensamento x RLA Comportamento geral das empresas por escola de pensamento 143 145 146 148 INTRODUÇÃO Buscar formas de preservar suas empresas, antecipando-se às mudanças, mantendo firme a visão no futuro e administrando bem a rotina tem sido o grande desafio dos gestores contemporâneos. O desempenho empresarial, porém, não é de interesse somente dos executivos que conduzem as empresas. A sociedade é diretamente afetada na medida em que é ela que demanda os produtos e serviços ofertados. Ocorre que essa sociedade tem passado por profundas transformações, aumentando o seu nível de exigências com relação à qualidade do produto. A postura perante a preservação ambiental e a responsabilidade social também têm sido observadas quando se trata do comportamento das organizações. A reforma do Estado e as recentes transformações econômicas e políticas causadas, em especial, com a ascensão de um partido originalmente trabalhista provocaram mudanças em todos os setores. Esses são apenas exemplos de fatores que têm orientado o gerenciamento das empresas. Mudanças políticas e econômicas, exigências da sociedade, globalização, evolução tecnológica, evolução teórica, tudo isso tem colocado a estratégia, cada vez mais, em posição de destaque, despertando interesse no meio acadêmico e empresarial. As teorias estratégicas evoluem e se aprimoram a cada dia, da mesma forma que também aparecem os modismos passageiros. O que fazer diante de tal cenário? Como não embarcar em modismos que poderão resultar em grandes insucessos? O gestor depara-se com uma série de questionamentos para escolher a estratégia a adotar. Alguns consideram que a estratégia provê consistência e ordem à organização, reduzindo sua ambigüidade e estabelecendo uma direção. Outros, porém, receiam que focar em uma estratégia pode inibir a criatividade e a inovação, tão necessárias no mundo contemporâneo. Acredita-se que as experiências vividas e a formação do gestor são os grandes responsáveis pela forma como compreendem, aceitam e praticam as abordagens existentes. 18 O fato é que vários aspectos devem ser observados para que se formule uma estratégia de sucesso. Aspectos sociais, culturais e ambientais, dentre outros, têm influência na organização e suas estratégias. O que varia é o valor que o executivo atribui a cada um dos aspectos que impactam a organização. O que leva os executivos a optarem por determinadas estratégias? Em pesquisa junto às maiores indústrias do Ceará, Forte (1999) levantou algumas causas para que gestores selecionassem suas estratégias. Dentre os fatores citados estavam nova realidade econômica, competitividade no mercado, concorrência, globalização e baixo poder aquisitivo do consumidor. As turbulências enfrentadas pela economia brasileira, sobretudo no segundo semestre de 2002, como a elevação da taxa de juros e desvalorização do real, têm influenciado o desempenho da economia cearense, dificultando o desempenho das empresas cearenses. Contudo há empresas que conseguem encontrar uma maneira não só de se manter, mas de se destacar em meio às demais. O que há por trás dessas empresas que conseguem apresentar um diferencial se estão submetidas ao mesmo cenário de tantas outras? Administrar mudanças e em paralelo as questões rotineiras é uma arte, da qual os executivos precisam ter domínio. Por outro lado há correntes que não atribuem aos executivos a responsabilidade pela escolha estratégica, entendendo que o processo estratégico consiste em adaptar-se às mudanças ambientais. Nesse caso é o ambiente que dita as regras. O processo de formulação estratégica é o caminho para se chegar a uma estratégia que possa trazer os retornos desejados. É importante que executivos conheçam as abordagens existentes e tenham consciência de como as estão praticando. Apesar de muitas vezes as teorias organizacionais parecerem ser de interesse restrito da academia, entende-se que estas são de suma importância para o desenvolvimento e aprimoramento das práticas empresariais. Diante de tudo que foi posto surgem alguns questionamentos: Baseados em que decidem os executivos cearenses que de alguma forma se destacam em desempenho empresarial? Até que ponto conhecem e praticam deliberadamente as teorias existentes sobre estratégia? Até que ponto administram com base no feeling? E as teorias, realmente podem contribuir com as organizações de maneira prática? A motivação para o tema surgiu do desejo de buscar respostas a tais questionamentos de forma a contribuir com ampliação de estudos sobre o processo de formulação estratégica 19 entendendo ser este fundamental à obtenção de vantagem competitiva e considerando a lacuna existente na literatura com esse foco. Como base teórica para dar suporte à pesquisa optou-se pela Tipologia das 10 escolas de Formulação de Estratégia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A obra constitui uma coletânea geral de diferentes tendências que levam gestores a selecionar estratégias. O problema central da pesquisa é: Que escolas de estratégia, à luz da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), influenciam a formulação da estratégia nas 100 Maiores Empresas do Estado do Ceará? No delineamento da pesquisa foi definido como objetivo geral: Identificar que escolas de estratégia, à luz da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), influenciam a formulação da estratégia nas 100 Maiores Empresas do Estado do Ceará. Os objetivos específicos, por sua vez, são os seguintes: 1. Analisar se existe relação entre a escola de formulação de estratégia com o tempo de existência, o setor de atividade e o retorno financeiro das empresas estudadas; 2. Analisar se as empresas estudadas adotam uma única escola ou uma composição de escolas, conforme seu contexto; 3. Identificar dentre as 10 escolas do modelo, aquelas que mais têm influenciado a formulação da Estratégia nas empresas estudadas; 4. Testar a aplicabilidade da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), e 5. Elaborar descrição comparativa da presente pesquisa com pesquisas similares no Brasil. Na seqüência, em consonância com o problema central e os objetivos da pesquisa, foram elaboradas as hipóteses. Segundo Malhotra (2001), hipótese é uma afirmação ou proposição não comprovada a respeito de um fator ou fenômeno que é de interesse para o pesquisador. A elaboração de hipóteses é, para Gil (1991), um ato criativo. O autor ressalta, porém, que hipóteses surgem de fontes tais como observação dos fatos cotidianos, resultados de outras pesquisas, teorias e intuição, entre outros. 20 De fato, a observação da prática empresarial aliada ao aprofundamento do tema na bibliografia pesquisada deram origem às hipóteses da presente pesquisa. Dentre os trabalhos que subsidiaram a formulação das hipóteses postas a seguir, vale destacar o de Forte (1998), o qual constatou, em pesquisa nas indústrias de grande porte do Ceará, que os dirigentes sabiam conceituar planejamento e estratégia empresarial, porém, não sabiam identificar fases do planejamento, tipos de estratégia empresarial, técnicas e metodologias, embora dessem muita importância ao assunto. Vale destacar, ainda, o trabalho de Vasconcelos (2001) cujo resultado mostrou que empresários fazem suas próprias composições de escolas para formular suas estratégias, apontando o empreendedorismo como a escola mais influente. Nesse contexto, as hipóteses da presente pesquisa tiveram origem a partir do amadurecimento de questões tais como: Empresas mais antigas possuem uma tendência ao tradicionalismo, lançando mão das escolas prescritivas para formular suas estratégias; as atividades diferenciadas pertinentes aos setores estudados levam a composições próprias para cada setor; processos de formulação baseados na escola empreendedora conduzem a melhores resultados financeiros tendo em vista a flexibilidade proporcionada pelo empreendedorismo, possibilitando estratégias que acompanhem as mudanças constantes; da mesma forma que as empresas pesquisadas por Vasconcelos (2001), as empresas cearenses buscam suas próprias composições de escolas e o empreendedorismo tem sido a escola mais influente. As reflexões postas resultaram nas hipóteses descritas a seguir: 1. As empresas mais antigas tendem a utilizar as escolas prescritivas; 2. Cada setor apresenta um comportamento próprio em relação à utilização das escolas; 3. As empresas em que predomina a escola empreendedora alcançam melhores resultados financeiros; 4. As empresas utilizam uma composição de escolas, em vez de adotarem apenas uma única escola; 5. Os gestores das empresas pesquisadas têm adotado posturas empreendedoras. 21 Para a estruturação deste documento tomou-se como base o Manual de Elaboração de Tese, Dissertação e Monografia (FORTE, 2002), adotado pelo Curso de Mestrado em Administração - CMA da Universidade de Fortaleza – UNIFOR e Regras para Elaboração de Artigo (FORTE, 2004). Acredita-se que a relevância do tema consiste no enriquecimento da literatura sobre a formulação da estratégia, por meio do cruzamento entre teoria e prática empresarial. É importante que pesquisadores atentem para a necessidade de aprofundamento sobre o tema visando a desmistificar o processo de formulação da estratégia, cuja importância para o desempenho empresarial é cada vez maior. Dessa forma, espera-se que esse trabalho possa servir de subsídio aos executivos, bem como despertar o interesse de pesquisadores para o desenvolvimento de novas pesquisas na área. O corpo do trabalho estrutura-se em quatro capítulos, sendo dois teóricos, um sobre a metodologia utilizada e um dedicado à análise dos resultados da pesquisa. O primeiro capítulo trata da evolução da estratégia no contexto histórico da gestão, citando as principais tipologias de estratégia (de conteúdo) decorrentes e ponderando acerca dos impactos gerados na visão do estrategista. No segundo capítulo apresentam-se as tipologias de formulação das estratégias, dentre as quais, a das 10 Escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), base para essa pesquisa. Em seguida, o terceiro capítulo dispõe detalhadamente a metodologia utilizada, que teve como autor base Malhotra (2001), enriquecendo-se conceitos, quando necessário, com autores como Gil (1991) e Richardson (1989). O quarto capítulo consiste na análise dos resultados da pesquisa. Ao final serão apresentados conclusão, limitações e recomendações, referências bibliográficas, apêndices e anexos. CAPÍTULO 1 A EVOLUÇÃO DA ESTRATÉGIA NO CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO 23 Ao longo do tempo, em especial, dos últimos 50 anos, as formas de administrar têm mudado significativamente. Organizações brasileiras tanto privadas quanto públicas, passaram a perceber a necessidade de revisar seus modelos de gestão. As privadas buscam garantir sobrevivência e competitividade, enquanto que as públicas objetivam cumprir com sua missão, prestando à sociedade serviços de qualidade. Nesse contexto a estratégia emergiu naturalmente como aliada dos gestores organizacionais. Contudo o tratamento e a importância a ela atribuídos têm variado conforme o contexto histórico. Ghyczy, Oetinger e Bassford (2002) lembram que no passado a incerteza guardava relação com poucos fatos externos de natureza imprevisível que ocorriam de forma descontínua. O ambiente empresarial até os anos 50 compunha-se de empresas baseadas em poucos produtos, poucos concorrentes, demanda estável e mudanças lentas. Observando-se os dias atuais, percebe-se uma grande diversidade de produtos disponíveis no mercado, concorrência acirrada, demanda crescente e consumidor exigente; tudo isso aliado a um ritmo de mudanças cada vez mais acelerado. A incerteza é apoiada em uma característica notadamente diferente do passado, que é o surgimento contínuo de fenômenos inesperados. A dinâmica imposta pelas mudanças crescentes resultou na percepção da estratégia como fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações. Não só no campo da administração, como em outras áreas, inclusive na vida pessoal, a palavra tomou tamanha dimensão que passou a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. Em que consiste realmente a estratégia? Como surgiu? A denominação originou-se da composição de stratos (exército) e agein (conduzir). Um strategus era um comandante militar da antiga Atenas, segundo Ghyczy, Oetinger e Bassford (2002). A Primeira Revolução Industrial, ocorrida entre meados do século XVIII e meados do século XIX, não teve impacto no pensamento ou comportamento estratégico, tendo em vista a falta de poder das indústrias para influenciar o mercado. A adaptação da estratégia a um contexto de negócios surgiu após a Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX, tendo sido sacramentada no século XX (GHEMAWAT, 2000). À essa altura, conforme Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) a estratégia já estava presente, ainda que de forma sutil, nos cursos iniciais de Administração de Negócios em Wharton (final do século XIX) e em Harvard (início do século XX). Os estudos sobre 24 Administração e principalmente estratégia empresarial, porém, só apareceram na segunda metade do século XX. Neste período, a preocupação com a estratégia chegava ao Brasil por meio dos cursos de graduação em administração da Fundação Getúlio Vargas e na Universidade de São Paulo. Assim, assistiu-se a geração e consolidação do pensamento estratégico nas décadas seguintes (VASCONCELOS, 2001). Dessa forma, estudiosos passaram a buscar incessantemente uma definição que traduzisse a estratégia, dando origem a uma série de conceitos e terminologias acerca do tema. Para Chandler (1962 apud WHITTINGTON, 2002) estratégia é a determinação de metas e objetivos básicos em longo prazo de uma empresa e a adoção de ações e alocação de recursos necessários para atingi-los. Dessa forma, a estratégia estabelece uma direção. A idéia de estratégia como “um caminho previamente traçado para o alcance de objetivos” é reforçada por Thompson e Strickland III (2000) ao afirmarem que sem estratégia um gerente não tem um rumo a seguir, não tem um mapa e não tem um programa de ação unificado para produzir os resultados almejados. Para os autores, a estratégia se traduz no planejamento do jogo de gerência para reforçar a posição da organização no mercado, promover a satisfação dos clientes e atingir os objetivos de desempenho. Ambas as definições mostram a estratégia como um meio para estabelecer rumo e direção, em face de objetivos previamente estabelecidos. Ansoff (1990) lembra que decisão e escolha são palavras-chave para o termo ao definir estratégia como “um dos vários conjuntos de regras de decisão para orientar o comportamento de uma organização”. Ao conceituar estratégia Andrews (1980 In: MINTZBERG e QUINN, 2001, p. 58) apresenta uma definição completa e abrangente, caracterizando estratégia como O padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as principais políticas e planos para a obtenção dessas metas e define a escala de negócios em que a empresa deve se envolver, o tipo de organização econômica que pretende ser e a natureza da contribuição econômica e não-econômica que pretende proporcionar a seus acionistas, funcionários e comunidades. 25 Uma abordagem dinâmica é dada por Ansoff e MacDonnell (1993) ao mostrarem a estratégia como forte ferramenta diante das mudanças que impactam as organizações, ressaltando que embora complexa e cara é compensadora. O ambiente externo consiste em fonte de constantes mudanças para o meio empresarial. Grant (1991) afirma que a estratégia tem sido definida como a composição que organizações fazem entre seus recursos internos e os riscos criados pelo ambiente externo, ressaltando o crescente interesse que o papel dos recursos da firma têm despertado nas bases da estratégia por ela definida, estabelecendo, assim, a ligação ambiente-estratégia. A estratégia é uma palavra que dá margem a várias interpretações e definições. Cada autor dá foco específico nos aspectos que considera mais relevantes. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), por sua vez afirmam que a estratégia requer uma série de definições, especificando cinco. Assim, estratégia é um plano (direção); um padrão (algo que se repete ao longo do tempo); uma posição (conquista de um espaço em um mercado específico); uma perspectiva (maneira fundamental de se fazerem as coisas); ou um pretexto (manobra específica para enganar um concorrente). A idéia de pretexto foge às demais definições que mostram a estratégia como uma direção a seguir, como uma decisão ou escolha ou uma ferramenta para se enfrentar mudanças. A análise dos diversos conceitos existentes leva, em princípio, à conclusão que, embora muitas vezes destaquem diferentes aspectos da estratégia, possuem também pontos comuns. Nessa linha, Rebelo e Erdmann (2002) ponderam que muitos conceitos existentes sobre o termo indicam sempre necessidade de escolha de uma direção, em um espectro temporal de longo prazo, de forma que se possa conduzir a empresa por um caminho mais seguro, com menos turbulência, para consecução dos objetivos organizacionais. O termo estratégia tem sido utilizado de várias formas e em diversos contextos. Poderiam ser citadas mais algumas dezenas de definições para “estratégia”, porém, como este não consiste em objeto deste trabalho, acredita-se que as definições apresentadas sejam suficientes para o conhecimento básico sobre o significado da estratégia. Conhecer o passado, segundo Montgomery e Porter (1998), promove uma visão da forma pela qual componentes individuais se encaixaram e idéias se transformaram em avanços significativos. Mediante tal concepção o presente capítulo objetiva, em especial, 26 promover uma visão geral sobre a evolução da estratégia, e as principais tipologias decorrentes, bem como uma reflexão sobre as mudanças ocorridas no pensamento dos líderes a partir da evolução da estratégia. Nesse contexto, a primeira seção, a seguir, apresenta uma breve retrospectiva da evolução da estratégia, a partir da qual surgiram tendências e tipologias que subsidiaram a elaboração da tipologia das 10 escolas de formulação estratégica de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A segunda seção consiste em uma reflexão sobre a evolução da estratégia e sua influência no pensamento gerencial, o qual determina a forma como gestores encaram e conduzem o processo de formulação estratégica, objeto deste trabalho. 1.1 A Evolução da Estratégia Ao longo dos anos, em especial a partir da década de 50, teorias e práticas de estratégia passaram por várias mudanças, assim como o ambiente empresarial. Esse tópico busca apresentar os principais marcos na história da estratégia. Entende-se passar por esse “túnel do tempo” será uma forma de compreender em que momentos e contextos surgiram pensamentos, conceitos e teorias que contribuíram para a composição de diversas tipologias de formulação da estratégia, em especial a das 10 escolas de formulação de estratégia, de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), apresentadas no capítulo 2. Para tanto, buscou-se categorizar a evolução do planejamento em fases, a partir da década de 50 (fig. 1). Conhecer o passado promove uma visão da forma pela qual componentes individuais se encaixaram e idéias transformaram-se em avanços significativos (MONTGOMERY e PORTER, 1998). 27 Figura 1: Fases da Evolução da Estratégia. Fonte: elaborado pela autora com base em Guemawat (2000), Porter (1986, 1989), Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), kaplan e Norton (2000) e Hamel (2002). O planejamento financeiro, que remonta os anos 50, é marcado pelo pensamento, com ênfase nas escolas mais prescritivas, lembram Paulino et al (2001). Predominava a ótica do sistema fechado, tendo a estratégia centrada no principal executivo. O objetivo principal era cumprir o orçamento, elaborado com base em projeção de gastos passados. O foco em finanças elevou o valor do setor financeiro na organização (CARMO, 1999). O planejamento financeiro visava à simplificação e à eficiência nos processos, porém, as preocupações com o cumprimento de regras e a visão estreita das atividades operacionais inibiam a capacidade empreendedora, suprimindo a importância da formulação da estratégia. A objetividade dos números tornava a estratégia uma prática mecânica, dificultando a compreensão e o exercício de seu do potencial criativo. Nessa época o ambiente industrial tinha grande fluidez e havia mais oportunidades que competidores, razão pela qual não era necessário foco em competição (BETHLEM, 2002). No Brasil, o ambiente empresarial era composto, em grande parte, de pequenas e médias empresas e multinacionais com negócios incipientes (BERTERO, VASCONCELOS e BINDER, 2003). O planejamento orçamentário foi mais difundido no setor público o qual, embora ainda utilize esse modelo, tem buscado variações que incluem, por exemplo, o planejamento participativo. Foi no final da década de 50 que Kenneth Andrews difundiu o pensamento de que toda organização empresarial, todas as suas subunidades e até cada indivíduo deveria ter um conjunto claramente definido de fins ou metas, que o mantivesse em movimento numa 28 direção deliberadamente escolhida e o impedisse de se desviar por direções indesejadas (GHEMAWAT, 2000). A idéia do delineamento de metas esvaziou o planejamento focado em números, por meio do qual primeiro era determinado o “quanto gastar”, para só então se pensar “em que gastar”, que limitava a ação e a criatividade. Assim, surge uma nova concepção de planejamento. Ainda sob enfoque formal e prescritivo, a década de 60 teve como marco o exercício do Planejamento em Longo Prazo. A estabilidade dos indicadores econômicos americanos levava a crer que intervenções no presente, tomando-se como base projeções de indicadores atuais e passados, poderiam resultar em mudanças no futuro. Essa fase teve como ponto positivo o incentivo à criatividade, por meio da projeção de cenários – hipóteses geradas pelo decisor visando a prepará-lo melhor para enfrentar desvios do padrão observado (BETHLEM, 2002). O apego à análise racional, o distanciamento entre concepção e execução e o compromisso com a maximização do lucro surgiram como decorrência dos trabalhos de Chandler (1962), Sloan (1963) e Ansoff (1965), citados em Whittington (2002). As discussões nas classes das escolas de administração marcaram o início da concepção do conceito SWOT-Strength, Weakness, Opportunity,Threat (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) de Kenneth Andrews, ilustrado na figura 2, que pregava a necessidade de equilíbrio entre competências e recursos com as necessidades ambientais (GHEMAWAT, 2000). O referido conceito deu forma à Escola do Design, de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Condições e Tendências Ambientais Econômicas Técnicas Físicas Políticas Sociais Comunidade Nação Mundo Oportunidades e riscos Identificação Pesquisa Avaliação de riscos Competência Distintiva Capacidades: Financeira Gerencial Funcional Consideração de todas as combinações Avaliação para determinar a melhor combinação de oportunidades e recursos Escolha de Produtos e Mercados Estratégia Econômica Organizacional Reputação Histórica Recursos Corporativos Aumentando ou restringindo oportunidades Identificação de forças e fraquezas Programas para elevar capacidade Figura 2: Estrutura de Estratégia de Andrews. Fonte: Ghemawat (2000, p. 20). 29 A perspectiva de longo prazo dava à competência distintiva uma importância maior, o que levantou um debate naquela época. No artigo Marketing Myopia, publicado em 1960, Levitt explicitou sua critica a concentração em determinado produto, em detrimento do desenvolvimento de novos produtos que servissem conscientemente ao cliente. Ansoff (1965) discordava de tal posição achando que seria perigoso apostar em novos produtos não alinhados com a competência distintiva da empresa. Criou, então a matriz produto/missão, com quatro categorias para verificar se o novo produto possuía uma “linha comum” com os já existentes (figura 3). Missão Atual Nova Missão Produto Atual Novo Produto Penetração no mercado Desenvolvimento do Produto Desenvolvimento do mercado Diversificação Figura 3: Matriz Produto/Missão, de Ansoff. Fonte: Ghemawat (2000, p. 21). Quanto ao ambiente empresarial nesse período, Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) lembram que as décadas de 60 e 70 tiveram como marco o surto do crescimento das empresas. O importante desempenho industrial refletiu-se nas altas taxas de crescimento do produto interno bruto. Empresas brasileiras e subsidiárias de multinacionais crescem significativamente, trazendo autonomia operacional e estratégica. No final da década de 60 as aquisições e fusões tinham se tornado “quase que uma mania”, tendo subido de 2.000 em 1965 para 6.000 em 1969 (CHANDLER, 1990 In: MONTGOMERY e PORTER, 1998). A necessidade de um ambiente sem incertezas e descontinuidades chocava-se com a rapidez das mudanças ambientais. As limitações do Planejamento em Longo Prazo foram tornando-se visíveis, conduzindo o planejamento para uma visão mais estratégica. Surge, então, o Planejamento Estratégico, nos anos 70, tendo como influência o livro Corporate Strategy publicado em 1965 por Igor Ansoff. Encontram-se aqui as origens da teoria institucional, para a qual as organizações se adaptam aos ambientes, não guiadas por questões de eficiência, mas sim por questões de necessidade de legitimação. Esta perspectiva desafia a imagem das organizações como racionais e voltadas para objetivos, introduzindo um retrato de organizações guiadas por mitos, símbolos e desejo por legitimidade social 30 (POWELL e DIMAGGIO, 1991 apud ALVES e KOGA, 2003). Voltada para pressões institucionais enfrentadas pela organização em seu ambiente, a teoria institucional viria a se encaixar na Escola Ambiental de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Um fato bastante marcante nessa época foi o domínio das consultorias. O Boston Consulting Group (BCG), por exemplo, ocupou um nicho de poucos fazendo parte da elite da atividade de consultoria, conforme Bertero, Vasconcelos e Binder (2003). Consolidaram-se conceitos como (1) Unidades Estratégicas de Negócios (UENs) – formadas por produtos e fatores relacionados com um mesmo mercado; (2) curva de experiência desenvolvida para tentar explicar preço e comportamento competitivo em segmentos de crescimento extremamente rápido; e (3) matriz de crescimento e participação no mercado – depois de traçadas as curvas de experiência das unidades de negócios de uma empresa diversificada, o potencial relativo de cada uma delas como área de investimento pode ser comparado colocando-o na grade mostrada na figura 4. Esta matriz representou o primeiro uso da análise de portfólio (GHEMAWAT, 2000). Alta Participação Baixa Participação Alto Crescimento Estrela Vaca leiteira ? Ponto de interrogação Cachorro Baixo Crescimento Figura 4: Matriz de Crescimento-Participação do BCG. Fonte: Ghemawat (2000. p.23). Uma conferência sobre política de negócios, em 1973, na Harvard Business School, contribuiu para que fosse disseminado o conceito da análise SWOT iniciado nos anos 60 nas Escolas de Administração. Estudiosos e Organizações passaram, segundo Dolci e Karawejczyk (2002), a valorizar a importância da interdependência interna e externa da organização. Paulino et al (2001) lembram que em 1979 a Revista Fortune divulgou pesquisa apontando que das 500 maiores empresas industriais americanas 45% usavam algum tipo de técnica de planejamento, mostrando a presença do pensamento estratégico na gestão das 31 empresas. No início dos anos 80, as dificuldades do planejamento estratégico motivaram empresas e consultorias a buscarem um novo método. O assunto foi tão impactante que levou Mintzberg (1994) a publicar “The rise and fall of strategic planning”. O autor identificou a predeterminação, o desligamento e a formalização como três falácias do planejamento estratégico que resultaram em uma grande falácia: “o planejamento, ao contrário de prover novas estratégias, não pode prosseguir sem sua existência prévia”. A essa altura, a análise de portfólio também sofria sérias críticas. Para Hayes e Abernathy (1980 apud GHEMAWAT, 2000), a técnica era essencialmente um instrumento que conduzia gestores a focalizar a minimização dos riscos financeiros em vez de investir em novas oportunidades que exigissem um comprometimento de recursos em longo prazo. As críticas aos conceitos e práticas vigentes demonstravam a necessidade de uma análise mais cuidadosa da atratividade da indústria e da posição competitiva da empresa. No final dos anos 70, o conceito de “vantagem competitiva” começou a destacar-se no campo da estratégia (VASCONCELOS e BRITO, 2004). Os anos 80 marcaram a Administração Estratégica, resultante do aprimoramento de conceitos e experiências anteriores. Surgiu aqui a abordagem de vantagem competitiva. Definida por Ansoff (1965) como “a vantagem de perceber, de forma pró-ativa, tendências de mercado à frente dos concorrentes e de ajustar a oferta em função dessa antecipação”, a abordagem cresce em importância, sendo adotada pela academia e despertando o interesse dos estudiosos na área. Ocorre que as concepções sobre a origem da vantagem competitiva dividiram-se basicamente em duas dimensões: a externa e a interna. Vasconcelos e Cyrino (2000) apresentaram um modelo classificando as teorias estratégicas focadas em vantagem competitiva em dois eixos principais. O eixo um trata de sua origem, e o eixo dois refere-se às premissas sobre a concorrência (figura 5). POSICIONAMENTO EIXO 1 VANTAGEM ORIGEM COMPETITIVA EIXO 2 (EXTERNO) PERFORMANCE SUPERIOR PREMISSAS VISÃO ESTRUTURAL (ESTÁTICA) SOBRE A CONCORRÊNCIA VISÃO DINÂMICA Figura 5: Vantagem Competitiva. Fonte: elaborado pela autora, a partir deVasconcelos e Cyrino (2000). 32 No eixo um as teorias classificam-se segundo a origem da vantagem competitiva. (1) Há teorias que consideram a vantagem competitiva como um atributo de posicionamento, exterior à organização, derivado da estrutura da indústria, da dinâmica da concorrência e do mercado, e (2) há teorias que consideram a performance superior como um fenômeno decorrente de características internas da organização. O eixo dois discrimina as abordagens segundo suas premissas sobre a concorrência. (1) Há uma corrente que possui uma visão estrutural, essencialmente estática da concorrência, fundada na noção de equilíbrio econômico, e (2) outra corrente enfoca os aspectos dinâmicos e mutáveis da concorrência, acentuando fenômenos como inovação, descontinuidade e desequilíbrio. Vasconcelos e Cyrino (2000) destacam o SCP (Structure–Conduct-Performance) ou Estrutura-Comportamento-Performance, como um dos mais difundidos modelos conceituais que explicam a vantagem competitiva por fatores externos à organização. De acordo com essa tendência, a performance das firmas em uma indústria particular depende do comportamento (estratégia) de compradores e vendedores no tocante à fixação de preços, níveis de cooperação tácita e competição, políticas de pesquisa e desenvolvimento etc. O comportamento é, por sua vez, determinado pela estrutura da indústria em questão, caracterizada por número e tamanho relativo a concorrentes, compradores, vendedores, diferenciação do produto, dentre outros. O grande destaque para a abordagem do posicionamento, porém, foi Michael Porter, que exerceu forte influência nos estudos e na prática da estratégia empresarial desde a década de 80, apresentando conceitos que viriam a servir de base para a Escola do Posicionamento de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Porter (1986, 1989) disseminou conceitos que formam a seqüência para formulação de estratégia, são eles: (1) modelo de análise estrutural das indústrias focalizando cinco forças competitivas que exercem influência nas organizações: rivalidade entre concorrentes, novos entrantes, ameaça de produtos substitutos, poder de negociação dos fornecedores e poder de negociação dos compradores; (2) grupos estratégicos – grupos de empresas com estratégias semelhantes; (3) Modelo de análise da concorrência segundo o qual analisar as metas futuras, a estratégia em curso, as hipóteses e as capacidades do concorrente é crucial para movimentos competitivos; (4) Sinais de mercado – ações do concorrente que indicam suas intenções estratégicas; (5) Cadeia de valor - meio de analisar todas as atividades da empresa e suas 33 interações, dividindo-as em primárias e de suporte, de forma a identificar fontes de vantagem competitiva; e (6) Tipologia de estratégias genéricas - diferenciação, custo mínimo e foco – a partir das quais as empresas podem superar a concorrência. Compartilhando do pensamento de vantagem competitiva ligada à estrutura da indústria, Brandenburger e Nalebuff (1996 apud GHEMAWAT, 2000) propõem ajustes ao modelo das cinco forças de Porter (1986) defendendo o papel crítico dos complementadores no sucesso ou fracasso da empresa. Complementadores consistem em participantes dos quais clientes compram produtos/serviços complementares, ou para os quais os fornecedores vendem recursos complementares (figura 6). Brandenburger e Nalebuff (1996 apud GHEMAWAT, 2000) ressaltaram o aspecto cooperativo dos complementares dizendo que nesse enfoque a empresa deve identificar maneiras de tornar o bolo maior, em vez de lutar com concorrentes por um bolo fixo. Cliente s Concorrentes Empresa Complementadores Fornecedores Figura 6: A Rede de Valor. Fonte: Ghemawat (2000, p. 43). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), lembram que a escola do posicionamento tem uma dívida intelectual com a teoria econômica, referindo-se à teoria dos jogos, cuja principal contribuição é forçar os administradores a se colocarem no lugar de outros participantes, em vez de verem os jogos exclusivamente da perspectiva de suas próprias empresas. Por outro lado, como uma teoria alternativa às idéias de Porter (1986) tendo como foco o que é interno às companhias estruturou-se a Teoria Visão Baseada em Recurso (VBR) (FORTE, OLIVEIRA, SILVA e SOARES, 2003), que desenvolve um processo de criação de vantagem competitiva sustentável baseada em competências, capacidades, habilidades e recursos estratégicos da organização (LIMA, 1998). Os recursos e capacidades mais importantes são aqueles duráveis, difíceis de identificar e entender, intransferíveis e sobre os quais a firma possui total poder e controle. Essas são as jóias da organização, ensina Grant (1991). VBR viria a compor a Escola Cultural de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) em 34 consonância com as obras iniciais de Barney, um dos principais defensores da teoria, que examinava a relação da cultura com o desempenho financeiro superior. Vendo por outra ótica, conforme Wittington (2002), os evolucionistas asseguram que estratégia pode ser uma ilusão perigosa, tendo em vista que, mercados são muito eficientes para permitir a criação de vantagem sustentável e que os concorrentes imitarão com facilidade. Por esta razão, Williamson (1975, 1985, 1991 apud WITTINGTON, 2002, p. 23) buscando defender a teoria dos custos de transação, sob a premissa que a economia é a melhor estratégia, escreveu que Um esforço de estratégia raramente predominará se um programa for carregado de significativos excessos de custos em produção, distribuição ou organização. Todos os brilhantes posicionamentos e ações dificilmente salvarão um projeto com sérias deficiências em aspectos econômicos. A teoria dos custos de transação prega que os gerentes devem concentrar-se em seus custos, em especial, os de transação. Diferentemente da VBR, nesse caso não é a competência que determina os limites da empresa. Ainda nos anos 80, Reurer e Chaharbaghi (1995) lembram que foi dada atenção crescente à habilidade de implementar uma estratégia, considerada, então uma importante fonte de vantagem competitiva. Os autores apresentam um dos primeiros modelos para implementação de estratégia, desenvolvido pela McKinsey – O Modelo dos 7-S (Strategy, Skills, Shared values, Structure, Systems, Staff, Style), que identificou estratégia, habilidades, valores compartilhados, estrutura, sistemas, pessoal e estilo como os sete fatores essenciais para implementação da estratégia e mudança bem sucedida. Dando continuidade à evolução em curso, a Gestão Estratégica aprofundou, nos anos 90, o conceito de capacidades, constante em VBR. Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) “se a administração estratégica tem uma moda para os anos 90, esta é, decididamente a abordagem das capacidades dinâmicas”, a qual tem relação com a Escola de Aprendizado, tendo em vista a premissa do aprendizado coletivo (PRAHALAD e HAMEL, 1990). Para Mills et al (2002 apud FLEURY e FLEURY, 2004), capacidade dinâmica consiste na capacidade de uma empresa adaptar suas competências ao longo do tempo, sendo diretamente 35 relacionada aos recursos importantes para a mudança. A teoria das capacidades dinâmicas retoma a análise dos fatores ambientais, que em VBR ficaram em segundo plano, como determinante da estratégia (VASCONCELOS e CYRINO, 2000). Diante das mudanças ambientais a firma tem condições de mudar também seus recursos essenciais garantindo a manutenção de um desempenho diferenciado. Porter (1996) - em artigo denominado “What is strategy?” - fez uma reflexão colocando que posicionamento, anteriormente o coração da estratégia, passou a ser rejeitado devido a ser considerado muito estático para a dinâmica atual dos mercados e das mudanças tecnológicas. Alega-se que rivais podem copiar rapidamente uma posição de mercado. Esse tipo de crença tem levado muitas organizações ao fracasso e afirma que a raiz do problema é a dificuldade de distinguir entre efetividade operacional e estratégia. A pressão por produtividade, qualidade e velocidade tem espalhado um número considerável de ferramentas e técnicas gerenciais como qualidade total, benchmarking, reengenharia e gerenciamento de mudanças, dentre outros, os quais pouco a pouco têm tomado o lugar da estratégia, alerta Porter (1996). A questão colocada por Porter (1996) mostra a vulnerabilidade de empresas a novas soluções, tendo em vista a dificuldade de se manterem competitivas. Estar alinhado com novos conceitos e aberto a implementá-los é essencial aos gestores, porém, mais importante é manter-se preparado para analisar criticamente novas alternativas. Em alguns casos, contudo, novas práticas extrapolam as expectativas iniciais, a exemplo do Balanced Scoredcard (BSC). Denominando a década de 90 como a “era da competição baseada no conhecimento” e acreditando que a capacidade das organizações para desenvolver e mobilizar ativos intangíveis era fator crítico de sucesso Kaplan e Norton (2000) acharam que os indicadores financeiros eram incapazes de refletir as atividades criadoras de valor relacionadas aos ativos intangíveis das organizações. Por esta razão, desenvolveram, na época, o BSC, visando a resolver os problemas da mensuração. Em análise posterior, perceberam que o uso que vinha sendo dado à ferramenta contemplava bem mais que mensuração. A ferramenta passou a resolver o problema da implementação de novas estratégias alinhando equipes executivas, unidades de negócios, recursos humanos, tecnologia da informação e recursos financeiros na estratégia da organização. 36 Destaca-se também a ênfase na utilização de estratégias ambientais em 90. Conforme Coral, Rossetto e Selig (2003), as bases teóricas sobre Estratégia Ambiental e Social são relativamente recentes, tendo surgido no final da década de 80 e, principalmente, na década de 90 com o advento do Desenvolvimento Sustentável e com o aumento da necessidade de incorporar os seus princípios nos modelos de gestão corporativa. Já na década de 80, confirma Souza (2002), os grupos ambientalistas passaram a influenciar estratégias ambientais corporativas, mas foi na década de 90 que as ações das firmas na área ambiental se tornaram mais pró-ativas e passaram a ser utilizadas como estratégia competitiva, vinculando-se a boa performance ambiental principalmente à melhoria na reputação das empresas. Mostrando que conceitos e teorias são, por muitas vezes, complementos de pensamentos iniciados há muito tempo, vale ressaltar a utilização da cooperação estratégica por meio de alianças, redes e modalidades semelhantes. Segundo Wittington (2002), as redes, estruturas diversificadas com várias divisões, tiveram origem a partir dos Keiretsu no final do século XIX. Apesar da origem longínqua, as redes antigas da Ásia, Keiretsu e Guanxi agora são propostas como modelos para o capitalismo avançado em todo o mundo. Nessa modalidade organizações não operam isoladas, mas em complexas redes de interações com outros agentes e organizações, inclusive fornecedores, concorrentes e clientes. Para tanto, devem utilizar uma “estratégia coletiva” formação de estratégia conjunta entre os membros da rede (CASTELLS, ASTLEY e FOMBRUM, 1996 apud WITTINGTON, 2002). Como conseqüência de sua disseminação, as redes e estratégias coletivas desencadearam uma “torrente de obras” sobre a prática de alianças estratégicas – variedade de diferentes arranjos cooperativos, normalmente entre fornecedores e clientes ou entre parceiros, muitas vezes concorrentes em outros domínios. Alianças variam de tipos relativamente não comprometidos em longo prazo, cooperação baseada em projeto e cooperação baseada em investimento de capital a longo prazo (LORANGE e ROOS, 1996). Juntamente com as redes, alianças estratégicas enquadram-se na Escola de Poder, dentre outros motivos pelos aspectos negociados da estratégia, sua grande dificuldade consiste no choque de culturas, resultante da união. 37 O novo milênio vem reforçar temas como complexidade, compartilhamento e inovação em curso na década de 90. Baseado em suas próprias experiências, Smith (2003) defende a teoria do caos afirmando que as organizações modernas necessitam de um redesenho baseado nos princípios emergentes do caos e da complexidade de forma a promover a interdependência e com foco em fatores humanos. Levy (1994) ensina que as coisas são tão caóticas e desordenadas que os indivíduos flexíveis e de rápidos movimentos podem aproveitar oportunidades por toda parte. A teoria do caos, que viria a ocupar pequeno espaço na Escola do Aprendizado, porém, não é de fácil assimilação. Apesar dos defensores de que essa é a tendência futurista, caos e desordem têm sido vistos com prejudiciais à própria noção de organização, como forças destrutivas a serem restringidas (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). Os conceitos de interdependência e cooperação parecem, contudo, estar crescendo em dimensão e aplicabilidade. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) termos como redes, estratégia coletiva, empreendimentos conjuntos, alianças estratégicas e terceirização estratégica fazem parte do novo vocabulário de administração estratégica. Ainda que muitos desses conceitos tenham origem em anos bem anteriores, sua aplicabilidade ao contexto atual leva Elfring e Volberda (1998 apud MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000) a sugerir a formação de uma nova escola, denominada “Escola de Limites”, dentro da administração estratégia com base em tais conceitos. Ao emitir sua opinião sobre as tendências das próximas décadas, Hamel (2002) utiliza propositalmente uma redundância ao alertar: “a mudança mudou!”. Passou de contínua a inesperada e existem pouquíssimas pessoas e organizações capazes de mudar tão rápido como o mundo ao seu redor. Dentre suas previsões, o autor coloca a emergência do “capitalismo sem atritos”. Muitas empresas ainda devem seu lucro à existência de intermediários, graças à ignorância dos clientes. Hamel (2002) acredita que já na próxima década a internet corroerá todas as fontes de lucro baseadas no atrito. O ciclo de vida dos produtos também está cada vez mais reduzido, tendo em vista que consumidores se entediam rapidamente. A saída, avisa, é que as empresas se reinventem constante e radicalmente; não a cada dez anos ou quando em crise; o autor se refere a períodos de dois a quatro anos. A sugestão de Hamel (2002) é preocupante. Como uma empresa pode se reinventar radicalmente a cada dois anos ou mesmo em quatro? O autor explica que os já conhecidos 38 capitais financeiros, estrutural e intelectual não criam nova riqueza. O segredo, ensina, está em três novas fontes: capital da imaginação – desafiar sistematicamente as verdades do mercado, realizando o impensado; capital para arriscar – ousar, investir no novo correndo riscos; capital para relacionar-se – aprender de todos os lados impulsionando uma “explosão” de novas possibilidades de inovação. A “passagem” por todas essas décadas mostrou como conceitos e práticas surgiram, muito mais como forma de complementar do que substituir uns aos outros. A divisão da retrospectiva em fases foi apenas um meio de tornar a história mais didática. As coisas não iniciaram ou foram concluídas exatamente em uma determinada década. Percebe-se que algumas teorias tiveram sua origem bastante distante da prática efetiva. Logicamente que ao se comparar a década de 50 com os dias atuais, será possível constatar situações opostas variando entre a simplicidade da concorrência branda à complexidade da alta competitividade. Como resultado, ficaram as tipologias sobre as quais dispõe, brevemente, o próximo tópico. 1.1.1 Tipologias de Estratégia A revisão histórica da estratégia apontou o aparecimento cronológico das principais tipologias de estratégia. Dedica-se este tópico à revisão de alguns trabalhos sobre o tema a título de ilustração sem, contudo, pretender aprofundar definições. Tipologias representam caracteres gerais que definem um conjunto de atributos. Uma vez identificado, cada tipo estratégico pode ser testado e expandido por pesquisadores que, por sua vez, revelam sua preferência por um determinado conjunto de variáveis (COSTA e SILVA, 2002). A proliferação de tipologias é conseqüência natural de estudos e práticas gerenciais. Tomados os devidos cuidados com sua credibilidade, elas são de muita utilidade contribuindo ou até garantindo vantagem competitiva. Miles & Snow (1978) justificam a importância da criação, da validação e da utilização de tipologias ponderando que o comportamento das organizações como sistemas jamais poderá ser compreendido e prognosticado sem conceitos apropriados. Tipologias constituem excelente veículo para esse tipo de análise, embora que nenhuma delas representará todos os comportamentos, em face de um mundo organizacional tão complexo e mutável. Em 39 consonância com o objetivo deste capítulo, serão mencionadas, sucintamente, tipologias sobre o conteúdo da estratégia. Rebelo e Erdmann (2002), visando a conhecer estratégias em serviços, analisaram os modelos apresentados no quadro 1, a seguir. TIPOLOGIA/DESCRIÇÃO AUTORES Estratégias Genéricas - Para obter vantagem competitiva a empresa precisa adotar uma de três Porter estratégia: Liderança de Custo Total – custo total menor que o do concorrente Diferenciação – oferta de produto considerado único no mercado Enfoque – esforços voltados a determinado alvo estratégico (estreito) Comportamento Estratégico - A empresa escolheria uma das quatro estratégias que lhe Miles & Snow oferecesse oportunidade de sobreviver no mercado: Defensiva – oriunda de organizações com domínios estreitos de produto-mercado. Raramente buscam oportunidades fora do seu domínio. Prospectiva – surge da busca de novas oportunidades. Favorece o desenvolvimento de novas tecnologias. Analítica – oriunda de domínio de produto-mercado estável e em mudança. Reativa – oriunda de ameaças dos concorrentes. Matriz dos quatro componentes - A escolha de uma estratégia dependerá do produto ou Ansoff mercado, novo ou atual, no qual a empresa deseja competir: penetração de mercado, desenvolvimento de mercados, desenvolvimento de produtos e diversificação. Escola do Planejamento Estratégico - entende a formulação da estratégia como um processo Mintzberg, formal, técnico e centralizado e Ahlstrand e Escola do Aprendizado - pressupõe que a formulação se dá como um processo emergente no Lampel qual o aprendizado emerge das relações. Incorporação da competência dos clientes - O foco central é o “Cliente como fonte de Prahalad competência”, surgindo o conceito de “empresa ampliada”. Ramaswamy Modelo Combinado - Indica que o novo processo estratégico vem da capacidade de empreender Rodgetts et al e inovar, mas mantendo uma base de estabilidade com as estratégias atuais. Modelo Delta - O enfoque deste modelo está na escolha da estratégia do melhor produto, de Hax e Wilde soluções para o cliente ou de lock-in do sistema. Modelo CRM (Gestão de Relacionamento com Cliente) - Baseia-se na mensuração do índice de Rogers satisfação do cliente através da técnica IDIP (Identificar, Diferenciar, Interagir e Personalizar). Segmentação Dupla Entrada - A estratégia seria mapear toda a clientela, auto-selecionar, pensar Forsyth et al por grau de importância através da técnica estatística DFA e segmentar permitindo dupla entrada. Seis Princípios da Ruptura - A escolha da estratégia segue seis passos (indicados anteriormente) Markides que conduzem a uma opção integradora entre empresa e clientes. e 40 TIPOLOGIA/DESCRIÇÃO AUTORES Políticas Estratégicas - De acordo com o diagnóstico organizacional de pontos fortes, fracos, Rebouças oportunidades e ameaças, a empresa escolherá a estratégia de sobrevivência, manutenção, crescimento e desenvolvimento. Quadro 1: Modelos de Estratégias. Fonte: Rebelo e Erdmann (2002). Silva, Brandt e Costa (2003) apresentaram as tipologias de estratégias de Miles & Snow (1978), Porter (1986, 1989) e Mintzberg (1988), visando a testá-las nas franquias de fast food que operam no Brasil. As duas primeiras são as mesmas citadas por Rebelo e Erdmann (2002) (quadro 1), a de Mintzberg (1988) surgiu como contraponto à tipologia de Porter (1986, 1989). Mintzberg considera falha a tipologia de Porter por não ser capaz de se aplicar a qualquer indústria, julgando os conceitos de diferenciação e de baixo custo como elementares e não mais suficientes para explicar as estratégias das empresas no ambiente competitivo atual, caracterizado por competição global e alta taxa de inovação tecnológica. Mintzberg (1988) propôs as seis classificações seguintes: Diferenciação por Suporte – oferta de algo mais com o produto (serviços ou complementares) Diferenciação por qualidade – oferta de produto igual sendo melhor em confiabilidade, durabilidade e desempenho Diferenciação por imagem – derivada de investimentos em propaganda e promoção Diferenciação por projeto – oferta de produto diferente para substituir o do concorrente Diferenciação por preço – oferta de produto com preço visivelmente mais baixo para o consumidor Não diferenciada – prática deliberada de copiar produtos concorrentes Forte (2004) realizou levantamento de diversas tipologias de estratégia, ressaltando a existência de muitas abordagens diferentes. Apresentou vinte e dois modelos, dentre os quais o de sua autoria, tendo em seguida enquadrado-os em dez categorias: funcional, ambiental, sistêmica, biológica, poder, evolução, perspectiva, alvo dicotômica e mista (quadro 2). CATEGORIA AUTORES TIPOS DE ESTRATÉGIAS 1. Funcional 1. Hofer & Schendel ♦ Corporativas; De negócios; Funcionais e De legitimação 2. Ambiental 2. Miles & Snow ♦ Defensoras; prospectoras, analíticas e reativas 3. Thompson ♦ Competição; Ajuste ou Negociação; Cooptação; e Coalizão 4. Ghemawat & Pisano ♦ De fazer comprometimento; e De desenvolvimento de capacidades 5. Mintzberg I ♦ Localização; Distinção; Elaboração; Ampliação; e Redefinição 3. Sistêmica 41 CATEGORIA AUTORES 6. Hamel & Prahalad TIPOS DE ESTRATÉGIAS ♦ Reestruturação; Reengenharia; Criação do Futuro, do Mercado Futuro; e Competição no Mercado Futuro 4. Biológica 7. Freeman ♦ Ofensiva; Defensiva; Imitativa; Dependente; Oportunista; e Tradicional 5. Poder 8. Dixit & Nalebuff ♦ Dominante; Dominada; e De equilíbrio 6. Evolução 9. Ansoff ♦ Penetração; Desenvolvimento de Mercado; Desenvolvimento de Produto; e Diversificação 10. Aaker ♦ Diferenciação; Vantagem Competitiva Sustentável (VCS); Crescimento; e diversificação 11. Bouckaert, Deneffe & ♦ De Primeira Geração; De Segunda Geração; De Terceira Geração Vantrappen 12. Mintzberg II ♦ Planejadas; Deliberadas; Realizadas; Emergentes; e Não realizadas 13. Johnson & Scholes ♦ Planejadas; Implementadas; Realizadas; Oportunistas; Emergentes; Impostas; e Não realizadas 7. Perspectiva 14. Bock, Hellweg Lube & ♦ De fora para dentro; e De dentro para fora Muhlhauser 8. Alvo 15. Ohmae ♦ Corporação; Cliente; e Concorrência 16. Hax & Wilde II ♦ De melhor produto; De soluções para o cliente; De lock in do sistema 9. Dicotômica 17. Porter ♦ Liderança em custo; e Diferenciação 10. Mista 18. Pina ♦ Corporativa; Para novos negócios; De mercado e de produtos; De desenvolvimento; Para ambiente sem crescimento; De manutenção; e Ofensiva e defensiva 19. Certo & Peter ♦ Nível Organizacional ou global: De concentração; De estabilidade; de Crescimento; e Combinada ♦ Nível de Negócios: Liderança de custo; Diferenciação; Defesa; Ataque; Flanco; e Guerrilha ♦ Nível Funcional: Variáveis e Funções controláveis 20. Zacarelli ♦ Pelos clientes: estratégias de marketing; ♦ Pela mudança nos negócios: terceirização, especialização ou ampliação, parcerias, integração, joint venture, franquia, distribuidor autorizado, cadeia própria de fornecimento, suprimento e fusão; e ♦ Complementares: Intento ou independentes, Preempção (domínio 42 CATEGORIA AUTORES TIPOS DE ESTRATÉGIAS do mercado) e De oportunidade (disputa de condições favoráveis ou prestação de serviços ocasionais) 21. Paine & Anderson ♦ Independentes; cooperativas e de manobra 22. Forte ♦ Postura ampliada - Sobrevivência; Manutenção; Crescimento; e Desenvolvimento Quadro 2: Categorias de Estratégias. Fonte: adaptado pela autora a partir de Forte (2004). Diferentemente de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), que apresentam 10 Escolas distintas para se formular estratégias (processo), Forte (2004) apresenta 10 categorias de tipologias estratégicas (conteúdo) que consistem no resultado da tomada de decisão. Forte (2004) explica que a categoria funcional refere-se a uma classificação endógena nas diversas funções de uma organização mononuclear, ou nos níveis. Por seu turno, a ambiental consiste em alternativas de ataques e defesas para a sobrevivência organizacional. A sistêmica é processual, enquanto que a biológica, segundo o autor, é quase a ambiental com a diferença que “se parece mais com relações biológicas entre animais”. A de poder reflete as relações de disputa em que há o dominador e o dominado. A categoria da evolução engloba estratégias progressivas, ao tempo em que as de perspectivas são consideradas quando há visões diferentes, a exemplo do cliente para a empresa e vice-versa. A categoria de alvo é mencionada quando o objeto consiste em clientes, empresa, concorrência para o desenvolvimento da estratégia. As dicotômicas, explica Forte, são aquelas em que realmente se tem que escolher uma ou outra. Por fim, as mistas envolvem aspectos complementares de outras categorias. Um tema que está muito atual é a valorização do meio ambiente. Empresas têm abraçado a causa buscando formas de contribuir com a preservação ambiental. Com objetivo+ de discutir e aprofundar teoricamente a evolução, os fatores condicionantes e tipologias de estratégias ambientais, Souza (2002) apresentou as tipologias descritas no quadro 3. 43 TIPOLOGIA/DESCRIÇÃO AUTORES Defensoras de portfólio - dão grande importância a responder às regulamentações ambientais Brockhoff & assim como em antecipar novas regulamentações e padrões; Chakrabarti Escapistas - atendem as regulamentações, mas dão pouca importância à antecipação de (1999) normas e padrões. Inativas ou indiferentes - envolvem baixo risco ambiental e pequeno potencial de mercado para bens ambientais. Ativistas - semelhantes às defensoras de portfólio, mas que jogam grande importância em explorar novos mercados. Modelo de conformidade - firmas apenas cumprem com todas as regulações e leis aplicáveis, Miles e Covin visando a maximizar o retorno para os stackholders. Despesas ambientais são vistas como (2000) custos ou taxas e nunca como um investimento no desenvolvimento de uma vantagem competitiva. Modelo estratégico - as despesas ambientais são vistas como investimentos na criação de vantagens competitivas, gerando valor por meio de uma estratégia baseada na diferenciação é o principal foco Quadro 3: Tipologias de Estratégia Ambiental. Fonte: adaptado pela autora, de Souza (2002). Zou e Cavusgil (1995) defendem um tipo de estratégia não abordado anteriormente - a estratégia global. Acreditam que “na era da globalização gerentes, consultores e pesquisadores devem reconhecer que o estudo de indústrias, estratégias e organizações em um contexto global deve ser adotado como uma norma”. A “estratégia global”, segundo Zou e Cavusgil (1995), consiste na forma como uma organização compete em um mercado global. Ao conceberem uma estratégia global gestores estão articulando uma resposta à interdependência natural de mercados globais, onde a competição não é mais baseada em “mercado-a-mercado” (multidoméstica). Globalizar ou não globalizar tem se tornado uma das mais calorosas questões estratégicas para os gerentes em todo mundo, afirma Yip (1989, In: MINTZBERTG e QUINN, 2001). Para tomar essa decisão, o gestor deve observar que a estratégia globalizada implica em vantagens e desvantagens (quadro 4). VANTAGENS Redução de custos DESVANTAGENS Custos administrativos significativos Melhoria de qualidade em produtos e programas A participação de mercado pode levar a um Preferência do consumidor realçada comprometimento maior com um mercado do o Alavancagem competitiva maior possível A padronização de produtos pode resultar em 44 produtos que não satisfaçam a nenhum cliente A concentração de atividades distancia os clientes e pode resultar em retorno e flexibilidade menores O marketing uniforme pode reduzir a adaptação ao comportamento do cliente local Manobras competitivas integradas podem significar abrir mão de receitas, lucros ou posição competitiva em determinados países Quadro 4: Vantagens e desvantagens de se optar por estratégias globais. Fonte: adaptado pela autora a partir de Yip (1989, In: MINTZBERTG e QUINN, 2001). Diversas mudanças parecem aumentar a probabilidade de que, em alguns setores, a estratégia global terá mais sucesso do que a multidoméstica. Cabe aos gestores realizar estudos minuciosos levando em conta as características próprias do seu negócio em função das vantagens e desvantagens envolvidas. Somente após análise criteriosa, o gestor deverá optar pela estratégia global. Acredita-se na importância das tipologias, sejam elas indicativas de estratégias globais ou locais, genéricas ou não. Elas constituem importantes ferramentas gerenciais. O fator crítico está em saber escolher aquela que possa prover os resultados desejados. É a maneira de pensar dos gestores que determinará a sua ação. Por esta razão procurou-se entender um pouco como funciona o a mente do estrategista e como ela evoluiu ao longo dos tempos. 1.2 A Evolução da Estratégia e o Pensamento dos Líderes Dos anos 50 aos dias atuais, o mundo assistiu uma evolução contínua e progressiva de conceitos, teorias e tipologias estratégicas. Como não podia ser diferente, o pensamento estratégico sofreu mudanças refletidas nas formas de se administrar. O humano é um ser adaptativo, que consciente ou inconscientemente adapta-se a novas situações e evolui. É natural e saudável que ao longo do tempo gestores tenham mudado suas visões de mundo e seus comportamentos e conseqüentemente suas ações estratégicas. 45 Assim, compreender a mente humana ajudará a entender os fatores que têm influenciado gestores em suas escolhas. O assunto é tão importante e de tamanho impacto na formulação estratégica que ganhou espaço nas 10 escolas de formulação de estratégia, como Escola Cognitiva. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 116) afirmam que “se estamos falando sério sobre compreender a visão estratégica e como as estratégias se formam precisamos sondar a mente do estrategista”. Os autores acreditam, porém, que “estamos distantes de compreender os atos complexos e criativos que dão origem às estratégias”. Para Oliveira e Meneses Júnior (2002), todo homem traz consigo uma forma de pensar e enxergar a realidade em volta, oriunda dos primeiros anos de vida, influenciada pela educação que teve, pelos valores e crenças compartilhados com as pessoas mais próximas e pelo condicionamento social, presente na sociedade na qual está inserido. É essa forma de pensar que modela as ações do indivíduo, em nível pessoal e organizacional. Nesse contexto, resgatou-se a definição apresentada por Torres (2002, p.1), que caracteriza “visão de mundo” como ...uma janela conceitual, através da qual nós percebemos e interpretamos o mundo tanto para compreendê-lo como para transformá-lo. Esta janela funciona como uma espécie de lente cultural, na construção da qual os ingredientes incluem valores, crenças princípios, premissas, conceitos e enfoques que modelam a nossa percepção da realidade e, portanto, nossas decisões e ações para todos os aspectos de nossa experiência humana no universo. A definição apresentada acima parece ter estreita relação com o conceito de modelos mentais - idéias profundas arraigadas, generalizações ou mesmo imagens que influenciam o modo de encarar o mundo e as atitudes que muitas vezes são inconscientes (SENGE, 1990). Dessa forma, as imagens e crenças construídas pelo indivíduo ao longo da vida influenciarão suas atitudes, mesmo que não seja de forma deliberada. Smith (2003) prefere chamar os modelos mentais de mindsets, definindo-os como percepções compartilhadas e acumuladas por um dado grupo, compreendendo elementos comportamentais, cognitivos e emocionais do funcionamento psicológico do grupo. Os mindsets do grupo ganham força porque operam fora da consciência, agindo como um reflexo condicionado. O entendimento de Smith mostra que não somente o indivíduo, mas também os 46 grupos, constroem mindsets característicos que influenciarão nas escolhas estratégicas grupais, como no caso de organizações cuja estratégia é influenciada pela cultura organizacional. Sendo ações inconscientes ou reflexos condicionados os modelos mentais ou mindsets podem levar gestores a tomarem decisões automáticas e inconscientes que, se bem planejadas, seriam diferentes. Nesse caso, é importante que tomem consciência dos modelos mentais que os guiam, de forma que possam agir conscientemente e potencializar os resultados ou ainda mudar tais modelos, caso achem necessário. Apresentam-se, a seguir três visões estratégicas identificadas por Torres (2002) em face evolução nas teorias da administração. O quadro 5, mostra uma síntese da relação entre tais visões e a estratégia. Visão mecanicista - tendo como marco conceitual o racionalismo científico, essa é uma visão dominante, desde o século XVII, para o entendimento da natureza, da sociedade e das organizações. Nesse caso, o gerente eficiente exerce autoridade, comando e controle, sob a visão de máquina. Visão econômica: nova versão da visão mecanicista, iniciada no final dos anos 70, com a revolução econômica, apoiada na tecnologia da informação. Nesse caso, surge a figura do gerente competitivo, que vê pessoas como capital (ainda como mercadoria). Visão complexa: baseada na teoria da complexidade essa visão privilegia relacionamentos e processos. Nesse caso, o gerente passa a ser conceitual e facilitador; busca o compartilhamento e o consenso. ESTRATÉGIA VISÃO CONCEITO Mecanicista Busca da forma DESENVOLVIMENTO mais Tem como eficiente de atingir objetivos estabilidade. institucionais. A estratégia é Há mais ligada aos meios que detalhada, premissa CONFIGURAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO a Somente no nível hierárquico mais planificação rígida alto, levando ao prévia, desenvolvimento de estratégias e não centradas na visão mecanicista 47 ESTRATÉGIA VISÃO CONCEITO CONFIGURAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO aos fins. A competitividade DESENVOLVIMENTO negociável de todos os passos. dos líderes, únicos estrategistas. é Tem como premissa a Somente no nível hierárquico considerada a chave para sabedoria superior do mercado. mais consecução Econômica dos objetivos Foco eliminação institucionais. A estratégia é competidores associada ao Fortemente associada à para consecução objetivos a institucionais. Há busca contínua do mais alto grau de sintonia entre a contribuição da organização e as necessidades componentes ao de desenvolvimento de estratégias apropriação centradas na visão econômica para a empresa. sustentabilidade dos e levando retorno egoísta do máximo benefício dos líderes, únicos estrategistas. econômico máximo. Complexa na alto, do dos seu ambiente. Varia conforme a influência Existem na forma de redes de enfoques diferentes, a partir fractais, da desenvolvimento de modela as relações internas e estratégias no externas da empresa. contexto de sua aplicação e O processo envolve muitos implicações envolvendo atores atores internos e externos, internos e externos. lógica complexa que implicando focadas um todos comprometidos com o contexto da aplicação e implicações da estratégia. Quadro 5: As visões do mundo x Estratégia. Fonte: adaptado pela autora a partir de Torres (2002). Percebem-se características comuns entre a primeira e a segunda visão, tais como processos de trabalho mecanicistas; visão do humano como mercadoria (recursos ou capital); priorização dos meios em vez dos fins e ausência de criatividade, dentre outros. Ressalte-se que na visão econômica o líder vê o mundo sob o prisma da competitividade, percebendo também o valor do capital intangível (informação). A grande mudança percebida encontra-se na terceira visão, com o surgimento do todo complexo, da importância dos relacionamentos, do enfoque de talento das pessoas. A criatividade e a inovação, fundamentais nos dias de hoje, são grandes ganhos da visão complexa. O gerente passa a ser conceitual e facilitador, o que leva a um salto qualitativo no desempenho das equipes de trabalho. As visões de um líder devem, em princípio, acompanhar a evolução dos tempos, caso contrário ele ficará estagnado, levando a organização ao declínio. Torres (2002) apresentou três momentos da visão gerencial que variam de uma postura autoritária a uma postura 48 flexível, tendo entre as duas uma visão intermediária, influenciada pelo advento da tecnologia da informação. Para Torres (2002), atualmente se vive uma “crise de percepção”, em que as visões que orientam os grandes líderes são baseadas em conceitos obsoletos, inadequados ao mundo complexo. Acredita-se que os modelos mentais dos líderes têm mudado bastante, ainda que por força do ambiente. Percebe-se, porém, que há dificuldade em lidar com questões como liderança compartilhada, em especial quando isso implica em perda de poder. Abrir mão dos modelos tradicionais de decisão, baseados em respeito à hierarquia e decisão centralizada, não é fácil, assim como conduzir uma organização para a convergência de objetivos comuns é tarefa árdua, tendo em vista os conflitos existentes. Há momentos em que a participação não é a melhor conduta, em outros, porém, pode enriquecer o processo, mas os líderes não estão preparados para exercê-la. Diferentes visões existem e os modelos mentais levam o indivíduo a praticar aquela com a qual mais se identifica. Gosling e Mintzberg (2003) comentaram que o mundo do gerente é complicado e confuso e requer habilidade para sintetizar partes de diferentes mindsets em um todo compreensivo. O pensamento dos autores mostra que é necessário ao gestor dispor de uma visão flexível e adaptável a diferentes condições. Assim, Gosling e Mintzberg (2003) entendem que gerentes devem manter foco não somente no que devem realizar, mas também em “como devem pensar”. Para eles, um bom gerente deve mesclar cinco diferentes mindsets gerenciais: o reflexivo – deve refletir sobre experiências passadas e usá-las no futuro; o analítico – precisa ir além de abordagens convencionais e perceber como a análise funciona e que efeitos tem na organização; o “mundano” – não ter apenas o pensamento alinhado com a globalização, mas sair de sua sala e apreciar os locais onde produtos são feitos e consumidores são servidos; o colaborativo – deve entender que gerenciar não tem relação com chefes e subordinados; trata-se de colegas e parceiros e o ativo – deve mobilizar energia em torno das coisas que precisam mudar e ao mesmo tempo manter o restante. Um bom gestor deve cultivar os cinco mindsets, embora que suas ações dependam da situação e de inclinações pessoais. Schaeffer (2002), CEO (Chief Executive Officer) da Blue Cross (Califórnia) conta que passou por três estilos gerenciais ao entre 1986 e 1998. Segundo seu relato, à medida que a 49 companhia passou por mudanças ele foi passando por transformações como CEO iniciando como autocrático, depois participativo, chegando a “reformista”. Assim, considera que liderança não é um estado e sim uma “jornada”. Conclui-se que cada líder possui sua própria visão, resultante do modelo mental que o rege. Vale ressaltar que embora oriundos de experiências e práticas de muitos anos, os modelos mentais não determinam que o indivíduo permanecerá sempre com os mesmos paradigmas. O gestor deve buscar voluntariamente a adequação de seu modelo mental e conseqüentemente suas ações ao contexto em que vive a organização. Quebrar paradigmas é possível por meio de um esforço voluntário. A hierarquia organizacional vem cada vez mais apresentando "estruturas rasas" (LEMOS e CARAVANTES, 1994), fazendo com que se tomem decisões em todos os níveis da empresa. Pereira (1997) comenta que "a antiga figura do gerente estratégico, privativa da alta direção, não existe mais. Hoje todos os gerentes são estratégicos e tomam decisões transformadoras". Isso reflete um processo de descentralização decorrente das mudanças ocorridas com a evolução dos tempos, reforçando a evolução nas visões e comportamentos dos gestores organizacionais. A perspectiva histórica mostrou que o quadro econômico estável, antes da revolução industrial, em que a competitividade era controlada, mudou a partir dos anos 50. A ocorrência de fenômenos impactantes, a evolução da tecnologia e a globalização, dentre outros fatores, imprimiram um novo ritmo às organizações. A competitividade e a “luta” pela sobrevivência organizacional tomaram grandes dimensões levando a estratégia a ser percebida como ferramenta poderosa. Ao longo das décadas o interesse pela estratégia foi crescendo e conseqüentemente cresceram os estudos acerca do tema. Assim, diversos conceitos brotaram. Alguns tiveram pouca aceitação e se perderam na evolução. Outros, porém, marcaram época e geraram teorias temporárias ou duradouras que persistem até hoje. Os modelos mentais e o comportamento dos líderes também mudaram. Há, porém os líderes bem sucedidos e aqueles que não conquistam seus objetivos. Que fatores determinam o sucesso ou o insucesso de um líder e conseqüentemente da organização em que atua? Atualmente se vive sob a ótica da complexidade e é neste contexto que os gestores 50 necessitam, cada vez mais, aprimorar seus processos de elaboração de estratégias conquistando seu espaço no mundo globalizado. É nesse contexto que a importância do processo de formulação da estratégia emerge. Na seqüência, surge, então, a necessidade de se conhecer melhor como os conceitos e modelos aqui apresentados subsidiaram a concepção de escolas de pensamento sobre a formulação estratégia, foco do próximo capítulo. CAPÍTULO 2 A FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA “Quando o estrategista erra, o soldado morre.” Lincoln 52 A estratégia define-se por meio de uma série de ações que sofrem a influência de tendências similares ou opostas, a exemplo da abordagem do posicionamento estratégico - na qual a vantagem competitiva encontra-se fora da organização, em contraposição à abordagem VBR - em que a vantagem competitiva se encontra nas capacidades e recursos internos. O capítulo 1 mostrou que a estratégia tem passado por transformações, que resultaram no surgimento de uma série modelos teóricos. Cabe à Gestão Estratégica atentar para as diversas correntes existentes, buscando desprender-se de paradigmas e observando que proveito pode tirar dos conceitos e teorias que emergiram da evolução da estratégia. Se a visão é algo construído pelo indivíduo por meio de experiências vividas, pode-se dizer que sua construção é um processo contínuo de transformação, passível de mudanças e adaptações. Uma vez reformulado o quadro mental, o modo como se intervém sobre a realidade será automaticamente mudado. Reformular o quadro mental diante da complexidade atual pode significar, porém o abandono dos paradigmas da gestão formal e a adoção de métodos mais dinâmicos e criativos que proporcionem agilidade às ações empresariais. Pode estar aí a essência da formulação da estratégia que, neste contexto, passa a ser um processo no qual a estratégia emerge como resultado de um padrão de ações. Acredita-se, porém, que a constatação da existência de estratégias emergentes não descarta a necessidade da identificação de problemas e sugestão de medidas para uma gestão estratégica eficaz em tempos de turbulência. O importante é ter discernimento para escolher a forma de agir compatível com o contexto, podendo essa escolha consistir em uma ação imediata ou na espera do momento certo para agir. Seja como for, a formação da estratégia deve assegurar o aproveitamento da dinâmica organizacional, aplicando formas inovadoras de controle tanto para o longo quanto para o curto prazo. A aprendizagem contínua é uma forte aliada na implementação de mudanças. É fundamental, contudo, manter um processo de planejamento que garanta a gestão corrente e mantenha a integridade da organização. Assim, uma gestão eficaz do processo estratégico no ambiente de turbulência em que se vive nos dias atuais, deve ser capaz de aplicar, simultaneamente, estratégias planejadas e emergentes. 53 Objetiva-se, a seguir, aprofundar o conhecimento sobre as tipologias de formulação de estratégia, ou seja, diferentes formas de uma organização escolher suas estratégias. Serão expostas abordagens de vários autores concluindo com a tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). O embasamento teórico sobre os processos de formulação estratégica objetiva prover a base necessária para o confronto entre teoria e prática empresarial, a partir do estudo realizado nas maiores empresas do Ceará, objeto desta pesquisa. 2.1. O Processo de Formulação da Estratégia Diante de um farto leque de opções para a estratégia empresarial, o dirigente deve identificar critérios para realizar a escolha daquela que melhor se adeque à sua organização. Um “tiro certeiro” garantirá o alcance dos objetivos organizacionais. A questão que surge nesse momento é “como escolher a estratégia?”. Verdu e Kuser (2003) colocam que a elaboração da estratégia pode ser considerada a maneira como uma empresa desenvolve, ou nos termos da literatura, formula ou forma estratégias. Nessa linha, o foco desse estudo não é o conteúdo da Estratégia, mas a forma como o executivo chega até ela. A estratégia escolhida deve ser a mais difícil de ser imitada pelos concorrentes, sendo ao mesmo tempo, aquela que leve a organização a criar, inovar e fazer algo diferenciado aliado a melhor qualidade e menor custo (CAMARGO et al, 2002). Comentando os processos de formulação de estratégia Feurer e Chaharbaghi (1995, p.11) alertam que Em ambientes altamente dinâmicos, abordagens tradicionais para o desenvolvimento de estratégias muitas vezes não atingem os objetivos desejados. Organizações devem buscar conceitos mais dinâmicos à medida que as condições mudam antes que as estratégias formuladas sejam totalmente implementadas. Visando a facilitar a organização e compreensão do capítulo, buscou-se enquadrar as tipologias em três classificações: (1) teoria da decisão; (2) padrões de reação ao ambiente, variando passivo ao ativo; (3) modelos mistos. Ressalte-se que, tendo em vista serem modelos que tratam todos de formulação estratégica pode haver superposições entre um tópico e outro. 54 2.1.1 A Tomada de Decisão O estudo do processo decisório “tem criado uma nova forma de pensar sobre como as organizações realmente operam e têm feito contribuições à compreensão do planejamento organizacional” (MORGAN, 1996). Acredita-se que a compreensão do processo decisório tem impacto direto no entendimento de como se formulam estratégias uma vez que o processo requer escolhas, decisões. Os processos de composição de arenas decisórias para a formulação de estratégias têm sido pensados, conforme Sampaio e Mantovaneli Jr (2002), com foco em modelos limitados e repetitivos que desconsideram as peculiaridades do contexto, limitando também as escolhas. O quadro 6 apresenta resumidamente oito inserções sobre a temática da racionalidade, identificadas por Sampaio e Mantovaneli Jr (2002). MODELO Racionalidade DESCRIÇÃO Utilizado com foco economicista. O cálculo entre meios e fins materializa-se na estatística pura matemática, técnica de árvores de decisão, pesquisa operacional, dentre outras. A partir desse modelo torna-se possível compreender a divisão feita entre meios/fins e foto/valor. Meios são equações matemáticas que relacionam um conjunto de elementos composto de números (fatos) e variáveis (valores), enquanto que fins são os produtos finais dessa equação, o Racionalidade resultado da relação fatos e valores. Crença de que devido a limitações no processamento de informações, decisores organizacional organizacionais não podem ser plenamente racionais. limitada Abordagem Adaptação das estratégias de tomada de decisão às limitadas capacidades apontadas por incrementalista Simon, não incluindo, porém, fatores extra-racionais em decisões incrementalistas. Ao contrário, reduziu-se a complexidade garantindo a tomada de decisão, com menor custo no Mixed- processamento de informações. Mescla decisões racionais com incrementais, ponderando análises aprofundadas da realidade scanning com momentos de ajustes, visando a superar o conservadorismo do incrementalismo e o Racionalidade positivismo do racionalismo. Associado ao compromisso com valores perenes, em contraste com a orientação instrumental substantiva baseada em eficiência e eficácia. Tem relação com quatro dimensões eminentemente Racionalidade substantivas: intelectual, estética, moral e espiritual. Ressalta a necessidade inquestionável da utilização de outros princípios de racionalidade, ambiental inclusive instrumental, visando a transformar o utilitarismo vigente do modelo economicista Razão de desenvolvimento. Apropria-se da linguagem para materializar o agir comunicativo, substituindo a figura do comunicativa sujeito solitário pela intersubjetividade de dois ou mais sujeitos. A racionalidade comunicativa pode conduzir a reorientação da razão instrumental, levando-a a limites sob os 55 MODELO DESCRIÇÃO quais é vital para assegurar organização e sobrevivência nas sociedades modernas, ampliando o espaço societário. Extra- Para melhor compreensão, inicialmente distinguem-se os processos irracionais - decisões que racionalidade tem um custo significativo, dos não-racionais - mediante a multiplicação de novos e inusitados problemas são utilizadas soluções inovadoras por meio de métodos não-racionais ou tácitos (intuição, julgamento, criatividade), intitulados extra-racionalidade. Nesse caso é necessário um desligamento total dos níveis de racionalidade que leve a um relaxamento de controles. Útil para solucionar problemas e promover as inovações necessárias no contexto de mudanças em que se vive atualmente. Quadro 6: Modelos de Tomada de Decisão. Fonte: adaptado pela autora a partir de Sampaio e Mantovaneli Jr. (2002). Acreditando, também, na necessidade de reformulação dos atuais modelos de tomada de decisão de modo a posicionar a razão plena, Pereira e Toni (2002) apresentam cinco abordagens (quadro 7). continuum Item Racionalidade Racionalidade Processo Política Incremental Denomi- Instrumental Atos e escolhas . Limitada Escolhas Organizacional Padrões regulares. Burocrática Focaliza na Incrementalismo nação satisfatórias. política interna de desarticulado. Unidade de O processo Formulação de um governo. Processo decisório O processo Meios e fins não análise decisório políticas através (política) como decisório são distintos. básica (política) como de meios e fins. resultado (política) como organizacional. resultado político. escolha Elementos racional. 1. Tomador de 1. Tomador de 1. Tomador de 1. Tomador de 1. Tomador de de análise decisão: agente decisão: agente decisão: decisão: atores decisão: busca numa perspectiva numa perspectiva constelação de políticos em jogos consenso entre os num processo de atores políticos. monolítica. monolítica ou organizações Decisões não. Decisões soltamente aliadas, negociação e baseadas na baseadas na baseadas em barganha baseado problema é lógica da lógica da rotinas pré- na racionalidade tratado? Em racionalidade racionalidade existentes. limitada. questões instrumental, de limitada, de 2. Como o 2. Como o complexas, os acordo com acordo com problema é problema é administradores objetivos e objetivos e tratado? São tratado? A partir tomam decisões metas. metas. segmentados e de um continuum sem clarificar os 2. Como 2. Como o partilhados entre a de interações 2. Como o objetivos. Não 56 Item Racionalidade Racionalidade Processo Política Incremental Instrumental problema é Limitada problema é Organizacional constelação de Burocrática políticas entre os existe distinção organizações a diversos atores, entre meio e fim. tratado? A partir tratado? da listagem de Conhecimento de partir da nos quais estão todas as alternativas de (descentralização) envolvidos alternativas e escolhas que do poder, com posições, poder e conseqüências foram possíveis base nos padrões valores (previsão), identificar. existentes, institucionais e para responder a utilizando pessoais. um problema programas e Padrões de estratégico. Ações são Ações baseadas repertórios. Ações seguem dos Ações emergem inferência direcionadas numa imagem programas de barganhas tomadas, lutando dominante pelas escolhas e simplificada da existentes, sempre grupais. com a incerteza, direções dos situação, com base nas em sucessivas líderes. tomando em rotinas e não tentativas, consideração unicamente nas comparando apenas os fatores escolhas e resultados e que julga mais direções dos ajustando novas relevantes e líderes. decisões. Proposições 1. Ação baseada fundamentais. 1. Ação baseada 1.Ação baseada 1.Ação não 1. Ação não gerais nos atos e nos atos e nas rotinas pressupõe a pressupõe a escolhas escolhas do organizacionais. intenção. A intenção. do líder: controle grupo 2. flexibilidade intenção 2. O teste de uma das ações pela dominante. limitada e resultante vai se boa política é previsibilidade 2. O tomador de mudança construindo no tipicamente que dos resultados. decisão não incremental. jogo. várias análises 2. Nível de processa uma 3.Existe lacuna 2. Flexibilidade. encontram-se flexibilidade função de entre 3. Há uma diretamente bastante utilidade geral e decisão(líderes) e preocupação em agregadas em uma reduzida. consistente para implementação.. se conseguir a política. comparar coalizão alternativas devido a jogos Ações são políticos. heterogêneas. Quadro 7: Modelos de Tomada de Decisão. Entre a racionalidade instrumental e o modelo incremental. Fonte: Pereira e Toni (2002). Pereira e Toni (2002) acreditam que a tomada de decisão estratégica deve estar em um continuum entre a racionalidade instrumental e o modelo incremental sendo influenciada, 57 dentre outros, por fatores como cultura, estrutura organizacional, poder e ambiente institucional. Dando continuidade à pesquisa, Pereira e Toni (2002) fizeram uma correlação entre os modelos de tomada de decisão por eles apresentados e um estudo realizado por Paulino et al (2001) em 127 artigos do Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de PósGraduação em Administração - Enanpad, entre os anos 1997 e 2000, para verificar as tendências nos estudos brasileiros à luz da tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A partir do enquadramento dos modelos de tomada de decisão nas escolas de formulação de estratégia, Pereira e Toni (2002) extrapolaram os resultados obtidos por Paulino et al (2001) para o enfoque decisório (quadro 8). MODELO DE TOMADA DE DECISÃO PERCENTUAL ESCOLAS DE FORMULAÇÃO DE Racionalidade Instrumental 38,7% ESTRATÉGIA Design, Planejamento, Posicionamento, Comportamental Político Incremental Racionalidade Instrumental, Comportamental, 22,8% 13,4% 9,4% 8,6% Empreendedora Cognitiva, Ambiental Poder Aprendizado Configuração Processo Organizacional, Político e Incremental Desarticulado Processo Organizacional 7,1% Cultural Quadro 8: Modelos de Tomada de Decisão x Escolas de Formulação. Fonte: Pereira e Toni (2002). O quadro 8 mostra que até 2001 a ênfase está na racionalidade instrumental (38,7%), enquanto no outro extremo ressalta-se o pouco interesse pelos estudos voltados à teoria do processo organizacional (7,1%). Pereira e Toni (2002) demonstram preocupação com o fato de que apenas 8,6% dos estudos compõem-se da perspectiva dos cinco modelos ao mesmo tempo, o que mostra que há, também, um desinteresse na análise multidimensional representada pela Escola da Configuração Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). O estudo de Paulino et al (2001) vai até 2000. Seria interessante a realização de estudo com foco nos estudos e também nas práticas de tomada de decisão nos últimos três anos, de forma a verificar a evolução acerca do tema. Entende-se que o foco na racionalidade instrumental limita a tomada de decisão e que o modelo incremental - sob a influência dos 58 fatores culturais e ambientais, dentre outros, não pode ser deixado à parte, no processo de escolha estratégica. Defendendo o lncrementalismo Lógico, Quinn e Voyer (1978, In: MINTZBERG e QUINN, 2001) afirmam que os processos de mudança em organizações bem administradas raramente são os analítico-racionais, ao contrário, são tipicamente fragmentados, evolucionários e intuitivos. Os autores retratam a formação da estratégia como um processo de aprendizado interativo, no qual o estrategista-chefe desenvolve gradativamente a estratégia em sua mente levando-a com habilidade a ser aceita pela organização. Fica aparente a dificuldade dos administradores no controle de eventos precipitantes que exigem antecipação ou adiamento de decisões. Assim, reconhecendo os limites do processo de formulação de estratégias, os executivos buscam eventos precipitantes para desenvolvê-los, tomando decisões em vários estágios, retardando-os, ao máximo, se for necessário esperar por momento mais oportuno. No Incrementalismo Intuitivo de Johansson e Nonaka (1996 apud CANCELLIER, 2001), planejamentos e análises extensivas ficam à margem, sendo permitido o erro e o posicionamento estratégico é definindo de forma gradual. A lógica incremental possibilita, com o retardamento de decisões, um maior nível de participação e comprometimento em todos os escalões da organização, o que conduz à obtenção de maior quantidade de informações, bem como responsabilidade conjunta sobre as soluções escolhidas. Agindo desta forma, executivos procuram alargar os limites cognitivos e processuais da formulação e implementação de estratégias nas empresas, ressalta Cancellier (2001). Ansoff e McDonnell (1993) apresentam os modelos ocidental e oriental de tomada de decisão. O modelo Japonês remete ao Incrementalismo Lógico de Quinn. A figura 7 mostra que as decisões rápidas do modelo ocidental não resultam, necessariamente, em ganho de tempo. A rapidez é, muitas vezes, resultante de centralização, o que conduz à falta de apoio à decisão, implicando em uma implantação mais difícil. Ressalte-se, também, que as seqüências são seriadas, tornando o ciclo de ação mais longo. No enfoque japonês, por sua vez, não há preocupação com rapidez na tomada de decisões. Os japoneses são rápidos na implantação de medidas de a ação, iniciando-as antes que o ponto de decisão seja alcançado. Tendo em vista, porém, o tempo dedicado à tomada de decisão, ocorre um amadurecimento e a conquista de apoio, que facilitam sobremaneira a implantação. 59 Modelo Ocidental Modelo Japonês Aceitação da escolha Otimização da escolha Viabilidade da implementação Atitude decisiva 0 Seqüência seriada T1 Otimização T2 Resultados: Decisões rápidas 0 Seqüência em paralelo T1 T2 Resultados: Tomada de decisões mais longa Ciclo longo de ação Ciclo de ação mais curto Resistência ao planejamento Planejamento cooperativo (ringi-sho) Atrasos/frustrações com a implantação Implantação com apoio Figura 7: Tomada de decisões: Enfoque ocidental x Enfoque japonês. Fonte: Elaborado pela autora com base em Ansoff e McDonnell (1993). 2.1.2 Padrões de Resposta ao Ambiente Concordando que a estratégia seria um processo assumido pelos tomadores de decisão, ou seja, pelos atores localizados no topo da organização Bignetti e Paiva (2001) afirmam que a estratégia, como tal, se caracteriza por distintos padrões de ação e que decisões dependem de como os líderes o percebem e interagem com atores externos. Para Rossetto e Rossetto (2003) os ambientes - cada vez mais dinâmicos nos quais as organizações encontram-se inseridas - são responsáveis pela ênfase que tem sido dada, pelos teóricos das organizações, aos estudos do processo de adaptação organizacional. Silva (2003) lembra que com a abordagem dos sistemas abertos, a formulação da estratégia passou a ser analisada não só de acordo com a concepção racional (vista nos modelos do item 2.1.1), mas também com respeito à forma como responde às demandas ambientais. Em linhas gerais, percebe-se que os padrões de resposta variam do passivo ao ativo. Os modelos apresentados a seguir mostram características das formas de reação ao ambiente, as quais implicam diretamente em como as estratégias são formuladas pelas organizações. Abordagens passivas e ativas perante mudanças ambientais foram identificadas por Ackoff (1974 apud OLIVEIRA, 2002) definindo diferentes formas de reação sob as perspectivas: Inativa, Reativa, Pré-ativa e Interativa (quadro 9). 60 Estilo de PADRÃO DE RESPOSTA INATIVO REATIVO PRÉ-ATIVO Conservador “por Reacionário Liberal INTERATIVO Criativo administração crise” Reage às Busca criar Reage às ameaças Reage às ameaças oportunidades e oportunidades e se ITEM sérias Situação desejada Atual Preocupação com Nenhuma ameaças antecipar às ameaças sérias Passada Futuro previsto Futuro preparado Praticamente nenhuma Seqüência de passos Total planejamento Frase básica “Navego com a “Tento nadar contra a estabelecidos “Vou estar na frente “Tento redirecionar a maré sem maré de volta a uma da maré e chegar balançar o barco” praia familiar” antes dela” Ambiente Reage a ameaças Reage a ameaças Reage a Procura criar Externo sérias e não a sérias e não a oportunidades e oportunidades e se Base para a oportunidades Viabilidade oportunidades ameaças Experiência em anos e Lógica, ciência e antecipar a ameaças Conhecimento e intuição compreensão das tomada de maré” experimentação decisão pessoas e do ambiente Quadro 9: Aspectos das diferentes atitudes diante do planejamento. Fonte: elaboração da autora a partir de Oliveira (2002). O ambiente e as posturas para enfrentá-lo também foram discutidos por Miles & Snow (1978) que afirmam que cada tipo de organização possui sua própria estratégia de resposta ao ambiente e cada uma tem sua configuração particular consistente com essa estratégia. Os autores definiram quatro padrões diferenciados de resposta organizacional (quadro 10): ITEM Ação PADRÃO DE RESPOSTA DEFENSIVA PROSPECTIVA ANALÍTICA REATIVA Os dirigentes são Busca contínua de Atuam com base em Percebem mudanças e conscientes área de de limitada sua oportunidades de atuação mercado e e procuram de produto-mercado: não experiências regulares Estável: novas com potenciais oportunidades fora de respostas a tendências seus domínios. dois tipos de domínios incertezas em seus forma eficiente, operam rotineira ambientes, sem reagir de efetivamente a elas. e Não possuem utilizando mecanismos que ambientais emergentes estruturas e processos permitam resposta formais. consistente ao seu Mutável: observam seus ambiente. Caem num competidores de perto ciclo de respostas para novas idéias e então inapropriadas, sem adotam, rapidamente, bons resultados, 61 ITEM PADRÃO DE RESPOSTA PROSPECTIVA ANALÍTICA aquelas que parecem DEFENSIVA REATIVA relutando a agir mais promissoras. de Não da Processo Responsabilidade há agressivamente no futuro. de •A gerência superior processo amplo, planejamento unificado, coalizão planejamento administrativa orientado a busca de planeja para estabilidade dominante (executivo problemas e baseado e mudança. Para principal, assessores e no feedback de ações estabilidade a seqüência quais as novo dão ou defensiva (1. Plano; 2. problema é Ação; diretrizes iniciais para oportunidade o 3. de engajado antes que o Para grupo Avaliação). mudança realizado planejamento planejamento, um é Estratégia o elaborado uma mercado. plano realizada para avaliação claramente articulada; ou um guia efetivo para ações. de Nota: Nesse caso não Parte do foi inicial de planejamento escolher as estratégias um número potencial semelhante mera definição não amplo retomando o processo detalhado tenha fim. É planejamento após organizacional Um é a mesma da atitude •A estratégia é uma diretor de produção), experimentais. os não possui estratégia identificada é seqüência definida. à atitude mais promissoras. O de oportunidades que prospectiva, evita-se o planejamento ações experimento. Uma vez é precede intensivo e tem fim exploratórias nas áreas aceito, o produto segue promissoras. para antes do início da mais ação. A seqüência é: Segue-se então 1. Plano; 2. Ação; 3. desenvolvimento Avaliação produção. o seqüência A do de planejamento é: um plano detalhado. A seqüência a 1. Avaliação; 2. Plano; resume-se 3. Ação em: 1. mudanças 2. Raramente precisam Ação; 3. Plano Estão sempre gerando A estrutura deve ser Considerando a ajustar a configuração mudanças, sem diferenciada de modo a necessidade de da tecnologia, segurança de quais refletir a natureza consistência entre delas resultarão em híbrida de seu domínio e estratégia e estrutura, de operação. Ao respostas dos tecnologia. A melhor raramente são contrário, concentram concorrentes. estrutura para acomodar realizados ajustes de esforços em melhorar tanto a estabilidade qualquer tipo até que a eficiência das quanto a mudança é a o ambiente pressione Ocorrência estrutura ou métodos de Avaliação; por mudanças. estrutura matriz. operações existentes. Quadro 10: Posturas para enfrentar o ambiente. Fonte: adaptado pela autora a partir de Miles & Snow (1978). 62 Miles & Snow (1978) complementaram seu modelo introduzindo, também, a idéia do ciclo adaptativo, segundo o qual as empresas enfrentam, de forma cíclica, três principais problemas que devem ser resolvidos de forma contínua: empresarial, de engenharia e administrativo (figura 8). De acordo com o ciclo adaptativo, uma decisão empresarial no domínio empreendedor e com foco na abordagem prospectiva resultará em decisões prospectivas também nos domínios de engenharia e administrativo, novamente no domínio empreendedor e assim por diante. Após vários ciclos o negócio estará bem alinhado com a perspectiva prospectiva, analítica ou defensiva. Se o negócio falhar na conquista de vantagens a partir das oportunidades alinhadas com o ciclo adaptativo, será classificado como um pobre e incongruente reativo (HAMBRICK, 2003). Fig 8: O Ciclo Adaptativo. Fonte: Miles & Snow (1978). Dos vários sistemas de classificação introduzidos nos últimos 25 anos, a tipologia de Miles & Snow (1978) tem sido a mais duradoura e a mais utilizada. Sujeita a numerosos testes de validade em hospitais, colégios, bancos, produtos industriais, dentre outros, tem se mostrado uma tipologia forte e consistente, atesta Hambrick (2003). A tipologia de Miles & Snow oferece conceitos aplicáveis e úteis às organizações, tendo em vista que identifica padrões diferenciados englobando vários tipos de comportamento organizacional. A respeito de padrões de resposta organizacional Oliver (1991 apud SILVA, 2003) mostra a necessidade de expor as diferentes formas de a organização responder ao ambiente em que está localizada e a partir do qual recebe demandas, pressões e expectativas. Para tanto, 63 analisa comparativamente a perspectiva institucional e da dependência de recursos, e, ao identificar pontos comuns em seus pressupostos, propõe complementar a primeira com preditores de estratégia organizacional apresentados pela segunda. Cabe ressaltar que as duas abordagens admitem a escolha organizacional, desde que limitada por um contexto de restrições ambientais e que essas escolhas são motivadas por interesses que moldados socialmente e institucionalmente construídos. Divergem entre si na postura para obtenção de legitimação e estabilidade organizacional: esta se daria através da conformação, proposta pela teoria institucional, enquanto a dependência de recursos aponta as vantagens da não conformidade, na possibilidade de controle do ambiente de acordo com os interesses da organização. Com base nessa análise comparativa e complementar entre essas duas perspectivas, Oliver (1991, apud SILVA, 2003) propõe uma tipologia que agregue diferentes respostas organizacionais aos processos institucionais, em um continuum que transita de uma postura mais passiva (determinismo) até uma ação de manipulação das pressões ambientais (voluntarismo), conforme quadro 11. (+) Ação Passiva (+) Resistência Ativa Determinismo Voluntarismo PADRÕES DE RESPOSTA A MUDANÇAS AMBIENTAIS CONSENTIMENTO COMPROMISSO ESQUIVAMENTO OPOSIÇÃO MANIPULAÇÃO A despeito dos Evita condições que Resposta estratégica Alteração ou Obediência às conduzem à mais ativa, que controle sobre os hábito (aderência cega advindos do necessidade de imprime resistência processos a normas e valores); consentimento às realmente se por meio de rejeição institucionais ou imitação (cópia pressões conformar aos (ignoram-se as consciente ou não de institucionais podem processos regras estabelecidas, pressão, por meio de modelos de ser conflitantes o institucionais por e normalmente é cooptação organizações de com os objetivos da meio de impetrada quando a (neutralizar as fontes sucesso) ou organização por dissimulação (não pressão institucional de oposição e complacência (a meio de balanço conformidade às é considerada fraca aumentar a organização (acomodar pressões sofridas, ou apresenta forte legitimidade); conscientemente múltiplas buscando divergência com os influência (é mais escolhe se conformar demandas); demonstrar interesses direcionada a às pressões a fim de pacificação (busca- aquiescência); organizacionais); valores e crenças, garantir benefícios se apaziguar ou distanciamento desafio em uma estratégia por meio de apoio tranqüilizar as fontes (distanciamento (afastamento para influenciar pressões por meio de possíveis benefícios suas fontes de 64 PADRÕES DE RESPOSTA A MUDANÇAS AMBIENTAIS CONSENTIMENTO COMPROMISSO ESQUIVAMENTO OPOSIÇÃO social. das pressões) ou parcial de suas organizacional às MANIPULAÇÃO possíveis mudanças barganha (exigir, atividades de contato normais impostas, nesses elementos) ou das fontes de externo; busca por considerá-las controle pressões, concessões reduzir a extensão inconsistentes com (estabelecimento de e flexibilidade). em que é seus padrões de poder e dominação inspecionada e racionalidade) ou dos elementos que avaliada por atores ataque (afastamento exercem as pressões externos; escape radical das pressões sobre as (retirada da institucionais, por organizações. organização do meio da iniciativa locus onde a pressão de afrontar, é exercida, ou diminuir ou alteração de seus condenar os objetivos para não processos necessitar obedecer institucionais e suas e se ajustar às fontes de pressão). pressões institucionais. Quadro 11: Padrões de resposta a mudanças ambientais. Fonte: adaptado pela autora a partir Oliver (1991 apud SILVA, 2003). Apesar das diferenças, as perspectivas institucional e da dependência de recursos podem ser consideradas complementares. A ponte de complementaridade decorre da concepção que elas fazem a respeito do meio ambiente, como sendo o fator chave do funcionamento organizacional (ROSSETTO e ROSSETTO, 2003). Uma abordagem semelhante é apresentada por Verdu e Kuser (2003) que, visando ao mapeamento do processo de escolha estratégica, mostram que os estudos organizacionais sobre mudança estratégica, têm se inclinado na direção de duas posições teóricas: voluntarista e determinista. A perspectiva voluntarista diz respeito ao papel da ação humana no processo de mudança, enquanto que a determinista tem como foco as condições internas e externas da organização como determinantes da mudança (WILSON, 1995 apud VERDU e KUSER, 2003). No determinismo, a escolha é mínima e a estratégia formada (emergente), enquanto que no voluntarismo ocorre exatamente o contrário, a escolha é máxima e a estratégia formulada (deliberada). 65 As perspectivas determinista e indeterminista também são citadas na pesquisa de Bignetti e Paiva (2001) que levantaram formas de reação distintas às pressões ambientais vinculando-as a escolas de pensamento (quadros 12 e 13). Perspectiva determinista: O ambiente externo é considerado como dado e imutável pelos tomadores de decisão, que ficam sujeitos às mudanças e às ameaças ambientais, atuando internamente para compensar as influências externas. Tomadores de decisão agem conforme quatro perspectivas (quadro 12). PADRÃO DE RESPOSTA SOB A PERSPECTIVA DETERMINISTA ITEM RELAÇÃO COM O AMBIENTE ESCOLA Inação/acomodação Indiferença em relação ao ambiente, plácido, randômico e Clássica estável. Ações de natureza tática e mudanças organizacionais Seleção/adequação incrementais. Ambiente seleciona a organização adequada a sobreviver no Ecologia das meio externo. Organizações competem entre si pela Populações sobrevivência. Atitude essencialmente passiva e as ações que T. Evolucionista promovem o desenvolvimento de um processo cumulativo de Contingencial Amortecimento/ aprendizagem. Ações visam absorver os choques externos e amortecer as Dependência de redução influências vindas do ambiente. Ações de redução de recursos influência concentram-se na alocação interna de recursos para Adaptação/ fazer frente à escassez ambiental. Organização vinculada ao ambiente externo e reativa às Planificação intervenção influências desse. Mudanças organizacionais oriundas de Posicionamento fontes externas de perturbação e decisões internas. Desenho de Design, estratégias de ajuste às ameaças ambientais. Configuracional Estratégia. e Estrutura Quadro 12: Ações dos Tomadores de Decisão segundo a Perspectiva Determinista. Fonte: Elaboração da autora a partit de Bignetti e Paiva. Perspectiva Indeterminista: Nesse caso, tanto a organização quanto o ambiente exercem influência considerável um sobre o outro. Considera-se que a organização é agente ativo, podendo influenciar, mudar e, até mesmo, estruturar o ambiente (quadro 13). ITEM Influência/ PADRÃO DE RESPOSTA SOB A PERSPECTIVA DETERMINISTA RELAÇÃO COM O AMBIENTE ESCOLAS O ambiente afeta a organização, estando sujeito, porém, ao poder Poder 66 PADRÃO DE RESPOSTA SOB A PERSPECTIVA DETERMINISTA RELAÇÃO COM O AMBIENTE ESCOLAS dos tomadores de decisões que podem vir a modificá-lo, em Institucionalismo ITEM compromisso especial, por meio de compromissos assumidos com outras Stakeholder organizações e instituições que regulem as relações interorganizacionais. Vinculada à escola de poder (Mintzberg, Modificação/ 1990). Tomadores de decisão agem de forma pró-ativa, visando à Cognitivismo construção construção do ambiente externo. Buscam modificar cursos de ação, Construtivismo, criar novas e únicas oportunidades externas, promover mudanças VBR tecnológicas, criar novos mercados e até formar novos setores industriais. Quadro 13: Ações dos Tomadores de Decisão segundo a Perspectiva Indeterminista. Fonte: elaboração da autora a partit de Bignetti e Paiva (2001). Tushman e Romanelli (1985 apud ROSSETTO, 2003) desenvolveram o Modelo do Equilíbrio Pontuado para descrever a mudança organizacional ao longo do tempo. Segundo o modelo, a evolução organizacional é descrita como períodos de mudança incremental pontuado por períodos de mudança descontínua e a formulação da estratégia está diretamente relacionada ao período pelo qual a organização está passando. Os períodos de mudança consistem em dois diferentes estágios (Quadro 14): (1) Convergência - longo período de tempo em que ocorrem mudanças incrementais e adaptação; e (2) Reorientações - períodos relativamente curtos de mudanças revolucionárias. ESTÁGIO Convergência DESCRIÇÃO QUANDO OCORRE Processos contínuos no qual o papel de liderança do Longos períodos de convergência ocorrem principal executivo da empresa é reforçar a quando a estratégia é apropriada às estratégia vigente, os valores essenciais e a missão, condições externas e internas da enquanto observa as oportunidades e ameaças do organização. Se ela enfrenta uma forte ambiente. Envolve mudanças gradativas que são ameaça, tal como uma grande alteração no fáceis de implementar e dão tempo para a ambiente e uma estratégia inapropriada, as organização concentrar-se na busca da efetividade. forças da inércia agem para prevenir que Ocorre de duas formas: Sintonia se adotem novas mudanças. fina (fine-tuning) das estratégias vigentes Reorientação Ajustes incrementais ao ambiente. Caracterizados por mudanças revolucionárias que Utilizado em resposta a descontinuidades tomam a forma de trocas simultâneas e definidas no ambiente, tal como a regulamentação nas dimensões estratégicas. Tipicamente, estas ou aumento das pressões competitivas. mudanças ocorrem não somente na estratégia, mas Freqüentemente, as forças de inércia agem 67 ESTÁGIO DESCRIÇÃO QUANDO OCORRE também na estrutura, nas pessoas e nos processos, para prevenir que novas estratégias sejam tanto que a organização é reestruturada. implementadas, fazendo com que a estratégia atual provoque declínios de performance. Neste momento, os períodos de reorientação são ativados. Quadro 14: Estágios da Mudança Organizacional. Fonte: elaboração da autora a partir de Tushman e Romanelli (1985, apud ROSSETTO, 2003) O modelo, representado graficamente na figura 9, é cíclico e inicia com a mudança ambiental, intercalando períodos de fomento com períodos de ajustes ao longo do tempo. Rossetto (2003) explica que, primeiramente, uma mudança ambiental ocorre. Em resposta a esta mudança, a organização age experimentalmente porque a estabilidade e a certeza são diminuídas por aquela mudança. Isto conduz a um período de fomento para uma mudança revolucionária. Ao mesmo tempo, forças de inércia são construídas para manter o status quo. Contudo, durante este tempo, as forças da mudança começam a ser construídas e desencadeiam uma mudança revolucionária. Surge, então, uma nova estratégia dominante com o advento de um novo período de convergência. Ajustes incrementais e de sintonia fina caracterizam a mudança na estratégia, neste período de tempo. Como a estabilidade é restaurada, as forças da inércia começam a agir novamente, determinando o estágio para a PERÍODO DE FOMENTO Desencadeadores da Inércia: PERÍODO DE AJUSTE Desencadeadores da Mudança: PERÍODO DE FOMENTO MUDANÇA REVOLUCIONÁRIA Desencadeadores da Mudança: MUDANÇA REVOLUCIONÁRIA Magnitude da Mudança próxima mudança (ROSSETTO, 2003). Desencadeadores da Inércia: PERÍODO DE AJUSTE Figura 9: Modelo do Equilíbrio Pontuado. Fonte: Tushman e Romanelli (1985, apud ROSSETTO, 2003) O modelo de Tushman e Romanelli (1985, apud ROSSETTO, 2003) lembra a definição da Escola de Configuração, em que a estabilidade relativa da estratégia dentro de Mudança Ambiental Mudança Ambiental Tempo 68 determinados estados é interrompida por saltos ocasionais e mesmo enormes para novos estados, caracterizando a transformação (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). Outro modelo significativo na abordagem das mudanças organizacionais é o de Pettigrew (1990 apud FORTE, CARVALHO e MOREIRA, 2003), o qual pressupõe que mudanças organizacionais são explicadas em três dimensões: 1. Conteúdo – Trata do estudo histórico e longitudinal para se entender as complexidades dos processos de mudança, considerando que uma decisão estratégica não pode ser explicada sem se conhecerem decisões e eventos anteriores. 2. Contexto – Estuda os fenômenos em um plano vertical e horizontal, bem como a inter-relação entre os planos através do tempo. O plano vertical refere-se às ligações e dependências entre os níveis da estrutura organizacional, desde o contexto sócio-econômico até os interesses dos grupos na organização. O plano horizontal, refere-se à seqüência das ações e eventos ao longo do tempo, e são analisados de maneira histórica. 3. Processo – Consiste em uma seqüência de eventos que descrevem como as coisas mudam através do tempo e a adoção da teoria teleológica, pois permitem que dados sejam analisados através do tempo e que se realize uma análise holística e dinâmica do processo da mudança, não se procurando mudanças episódicas. Em estudo realizado na ICI, empresa química do Reino Unido, Pettigrew (1985, 1987 apud MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000, p. 235) identificou a mudança como uma série de episódios, em vez de um só e afirmou que para entendê-la era necessário ir além das teorias racionais-lineares e examinando a justaposição do racional e do político, a busca por eficiência e poder, o papel das pessoas excepcionais e circunstâncias extremas, a confusão da mudança, as forças do ambiente e explorar algumas das condições nas quais ocorrem misturas de tudo isso. Foi com essa visão que Pettigrew (1990 apud FORTE, CARVALHO e MOREIRA, 2003) propôs a análise de conteúdo, contexto e processo, o que possibilita a identificação dos vários aspectos que envolvem uma mudança e que caracterizam diferentes escolas de pensamento. Os modelos que tratam das formas de reação ao ambiente em grande parte não valorizam, ao menos explicitamente, o papel das políticas governamentais na formulação 69 estratégica. Hillman e Hitt (1999) ressaltam essa questão apontando três formas gerais de como que as organizações respondem às políticas públicas (WEIDENBAUM,1980 apud HILLMAN e HITT, 1999). A primeira e a segunda são reativas, sem participação direta no processo de políticas públicas, enquanto que a terceira é pró-ativa. 1. Reação passiva – organizações tentam ter um papel definido na formulação ou na implementação, porém, apenas reagem após uma nova legislação. 2. Antecipação positiva – neste caso, as organizações se mostram mais que instâncias passivas; entretanto, ainda não incluem participação no processo de formulação. 3. Modelagem de políticas públicas – consiste em um comportamento pró-ativo empreendido pelas organizações para alcançar objetivos políticos específicos. A preocupação de Hilman e Hitt (1999) alerta para uma questão muitas vezes deixada de lado na formulação de estratégias organizacionais. Empresas devem estar atentas aos impactos resultantes de ações do governo e buscar formas de interagir na formulação de políticas públicas. Se permanecerem passivas e somente reagirem às políticas do governo, devem estar cientes que haverá outros grupos de interesses trabalhando com pró-atividade para moldar as políticas públicas em uma direção que os beneficiem, os quais podem ou não coincidir com os objetivos da organização. 2.1.3 Modelos Mistos Nesse tópico serão apresentadas tipologias que identificam uma ou mais abordagens para o processo de formulação de estratégia. A terminologia “modelos mistos” foi empregada considerando que tais modelos não apresentam, necessariamente um foco direcionado para uma tendência única. Conforme citado no capítulo 1, Porter (1986, 1989) marcou os anos 80. Sua teoria de posicionamento estratégico, que viria a gerar a Escola do Posicionamento, disseminou a idéia que o processo de formação da estratégia consiste na seleção de posições competitivas genéricas com base em cálculos analíticos. O autor propôs uma série de conceitos que juntos mostram uma seqüência que resultaria na consecução de vantagem competitiva (figura 10). 70 Figura 10: formulação de estratégia competitiva. Fonte: elaborado pela autora com base em Porter (1986, 1989). Em seu primeiro, livro Porter (1986) afirmou que a essência da formulação de uma estratégia competitiva era relacionar uma companhia ao seu ambiente. Partindo desse 71 princípio, o autor divulgou, dentre outros, os seguintes conceitos: Cinco forças competitivas, grupos estratégicos, análise da concorrência, sinais de mercado e estratégias competitivas genéricas. No segundo livro, Porter (1989) apresentou a cadeia de valor. A figura 10 compõe uma seqüência, com base nesse conjunto de conceitos, que levaria a empresa a se posicionar no mercado selecionando uma estratégia competitiva genérica. A seqüência inicia com a análise das cinco forças competitivas (PORTER, 1986) identificadas no ambiente, cujo conjunto determina o potencial de lucro final na indústria, medido em termos de retorno a longo prazo sobre o capital investido. São elas: Ameaça de novos entrantes: deve-se verificar as empresas que estão na iminência de entrar na indústria, tornando-se novas concorrentes. As principais fontes de barreiras de entrada são economias de escala, diferenciação do produto, custos de mudança, vantagens no custo, acesso aos canais de distribuição, necessidades de capital e política governamental. Poder de barganha dos fornecedores da empresa: fornecedores podem exercer o poder de negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar preços ou reduzir a qualidade dos bens e serviços fornecidos. Poder de negociação dos compradores: compradores competem com a indústria forçando preços baixos, solicitando melhor qualidade, jogando concorrentes uns contra os outros. O poder do comprador depende de sua situação no mercado. Ameaça dos produtos substitutos: os substitutos reduzem os retornos potenciais de uma indústria, colocando um teto nos preços que as empresas podem fixar com lucro. Intensidade da rivalidade entre concorrentes existentes: assume a forma corriqueira de disputa por posição, envolvendo concorrência de preços, batalhas de publicidade, novos produtos e aumento de serviços ou garantias ao cliente. Existe um aspecto deve ser levado em conta para a análise estrutural: a necessidade de classificação das indústrias em grupos estratégicos - grupos de empresas na mesma indústria seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante. As cinco forças não terão o mesmo impacto sobre grupos estratégicos diferentes, assim, cada força deverá ser analisada nos diferentes grupos estratégicos. 72 Uma vez estudada a estrutura da indústria em função dos grupos estratégicos é preciso conhecer detalhadamente o concorrente. Para isto Porter (1986) criou uma metodologia para análise do concorrente com base em: Metas Futuras: permitirá previsões se cada concorrente está ou não satisfeito com sua presente posição e com os resultados financeiros e, portanto, qual a probabilidade de este concorrente alterar sua estratégia e o vigor com que ele reagirá a eventos externos ou a movimentos de outras empresas. Hipóteses: Toda empresa opera com um conjunto de hipóteses sobre sua própria situação, as quais guiarão a maneira como a empresa se comporta e como ela reage aos acontecimentos. O exame das hipóteses de todos os tipos pode identificar tendências ou pontos cegos (acontecimentos não percebidos) que podem influenciar a maneira como os gerentes percebem seu meio ambiente. Estratégia em curso: a estratégia de um concorrente é mais bem concebida como suas políticas operacionais básicas em cada área funcional do negócio e a maneira como ela procura inter-relacionar as funções. Esta estratégia pode ser explícita ou implícita – ela sempre existe de uma forma ou de outra. Capacidades: uma avaliação realista das capacidades de cada concorrente é o passo final do diagnóstico da análise da concorrência. Suas metas, hipóteses e estratégia corrente influenciarão a probabilidade, a oportunidade, a natureza e a intensidade das reações de um concorrente. Seus pontos fortes e fracos determinarão a sua capacidade de iniciar ou reagir a movimentos estratégicos e de lidar com acontecimentos ambientais ou da indústria. A análise da concorrência é requisito para a interpretação do que Porter (1986) denominou “sinais de mercado”, que consistem em ações do concorrente indicativas de suas intenções. A identificação de tais sinais forma uma segunda ordem de análise da concorrência. Deve-se atentar, porém, que esses sinais podem ser indicações reais ou blefes. Outro conceito importante para a conquista de vantagem competitiva, como indica a seqüência da figura 9, é a análise da cadeia de valor (PORTER, 1998), segundo a qual uma empresa pode ter suas atividades divididas em primárias (diretamente envolvidas no fluxo dos produtos) e de suporte (apóiam as primárias). A cadeia de valor provê uma maneira sistemática de examinar todas as atividades desempenhadas pela empresa, bem como suas 73 interações, as margens de lucro dependem de como a cadeia é administrada (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). Conhecendo a estrutura da indústria, seus grupos estratégicos, o concorrente e sua cadeia de valor, a empresa está apta a selecionar sua estratégia. Porter (1985) identificou três abordagens estratégicas genéricas potencialmente bem-sucedidas para superar as outras empresas em uma indústria: Liderança no custo total: custo total menor que o do concorrente em toda a indústria. Diferenciação: oferta de produto considerado único na indústria. Enfoque: escolha de um alvo determinado (segmento de clientes), focando nele seus esforços. Se por um lado os conceitos introduzidos por Porter (1985, 1989) tiveram ampla aceitação e continuam bastante presentes na estratégia empresarial, por outro, houve uma corrente que rejeitou a idéia de vantagem competitiva oriunda de fatores externos. A vantagem competitiva reside nos recursos (ativos e capacidades) disponíveis dentro da firma (BARNEY, 1991; PETERAF, 1993; TEECE et al, 1997, apud EKELEDO e SIVAKUMAR, 2004). Sob essa premissa surgiu a teoria da Visão Baseada em Recurso (VBR) opondo-se às idéias de Porter sobre estratégia competitiva. VBR conduz à compreensão daquilo que leva as empresas que compartilham de uma mesma indústria apresentarem desempenhos diferentes (WILK, 2000; BARANIUK e BULGACOV, 2002), reconhecendo heterogeneidade dos recursos da firma (BARNEY, 1991; HUNT and MORGAN, 1995, apud EKELEDO e SIVAKUMAR, 2004). Grant (1991) coloca que o pensamento de autores como David Ricardo, Joseph Schumpeter e Edith Penrose, dentre outros, deram origem a VBR. Na sua opinião, porém, as implicações da Teoria à estratégia empresarial não estão claras por dois motivos. Primeiro, as várias contribuições necessitam de um modelo único e integrado. Segundo, pouco esforço tem sido feito para o desenvolvimento de aplicações práticas de VBR (GRANT, 1991). Visando a contribuir para a solução dos problemas que apontou, Grant (1991) propõe uma abordagem de VBR para a formulação de estratégias, integrando os pontos chaves resultantes da visão dos estudiosos sobre o assunto (figura 11). 74 4. Seleção da estratégia que melhor explora os recursos e competências da firma relativos às oportunidades externas. ESTRATÉGIA 3. Estimativa do potencial de geração de renda dos recursos e competências em termos de: (a) seu potencial de vantagem competitiva sustentável e (b) apropriabilidade de seus resultados. VANTAGEM COMPETITIVA 2. Identificação das competências da firma: o que a firma pode fazer mais efetivamente do que os rivais? Identificação dos recursos necessários a cada capacidade, bem como a complexidade de cada capacidade. CAPACIDADES 1. Identificação e classificação dos recursos da firma. Estimativa das forças e fraquezas relativas aos concorrentes. Identificação de oportunidades para melhor utilização dos recursos. RECURSOS 5. Identificação de lacunas de recursos que precisam ser preenchidas. Investimento em reabastecimento, aumento e melhoria da base de recursos da firma. Figura 11: Modelo de Formulação de Estratégia à luz da VBR. Fonte: Grant (1991). O modelo proposto por Grant (1991) privilegia o valor percebido dos recursos relevantes como fonte de vantagem competitiva. A firma deve identificar inicialmente seus recursos (algo que a organização possui ou tem acesso, mesmo que temporário) e suas competências (habilidade para fazer algo a partir dos recursos) (MILLS et al, 2002 apud FLEURY e FLEURY, 2004). Só possui valor competitivo aquilo que é único, difícil de ser imitado. Em seguida, deve ser estimado o potencial de geração de valor dos recursos e competências identificados. Feito isto, a organização terá subsídios para formular suas estratégias, com objetivo de explorar e potencializar as características únicas da firma. Deverá, ainda, ser delineado o investimento necessário para manutenção e melhoria contínua dos recursos. O modelo é cíclico e dinâmico devendo estar sempre em aplicação. Tendo em vista a ênfase nas capacidades enraizadas na cultura, VBR foi encaixada na Escola Cultural. As abordagens apresentadas a seguir, são resultantes de composições de tipologias 75 compreendendo três ou quatro escolas consideradas as mais significativas pelos autores que as apresentaram. Três modelos com focos diferenciados do Posicionamento e da VBR foram apresentados por Nadler, Hackman e Lawler III (1983 apud CANCELLIER, 2001) que consideram planejamento, processo político e modo adaptativo as abordagens mais utilizadas na formulação estratégica (quadro 15). MODELO DESCRIÇÃO Planejamento Requer racionalidade e um sistema formal de alcance de metas em termos precisos. O fator chave é o analista que usa técnicas científicas para desenvolver planos formais e abrangentes. Há integração entre decisões e estratégias. As organizações que adotam este modo de formulação estratégica acreditam que as decisões elaboradas em conjunto em um processo sistemático são menos conflitantes e mais complementares do que as elaboradas de forma Processo independente. Visualiza as organizações como entidades compostas de coalizões e grupos de interesses que político freqüentemente influenciam a tomada de decisões estratégicas. Os grupos e pessoas possuem valores e tentam moldar as decisões da organização para que esta se mova em uma direção consistente com seus valores e crenças. Desta feita, a estratégia é conseqüência de competição, Modo conflito, coalizão e barganha entre os vários grupos de interesse dentro da organização. Nesse caso as ações visam a remediar situações e se adequar ao ambiente, movendo-se em adaptativo passos curtos e desarticulados que possibilitem o não distanciamento do status quo imperante. As soluções ocorrem por reação aos problemas existentes e não pela busca ativa de oportunidades. O feedback, neste caso, é importantíssimo para a adequação da empresa às mudanças ambientais. Quadro 15: Três modelos de formulação estratégica. Fonte: elaboração da autora a Nadler, Hackman e Lawler III (1983 apud CANCELLIER, 2001). O Planejamento ressalta a importância da tomada de decisões sistemática e conjunta enquanto que o Processo Político reforça a influência de coalizões e grupos de interesses na formulação da estratégia. Na Abordagem Adaptativa a estratégia é reflexo de uma postura reativa, em vez de uma postura pró-ativa às mudanças ambientais. As abordagens apresentadas são compatíveis com as escolas Planejamento, Poder e Ambiental de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Goold e Campbell (1987, In: MONTGOMERY e PORTER, 1998), identificaram três estilos bem sucedidos de condução estratégia, em um estudo de 16 empresas diversificadas na Inglaterra, caracterizando-se, cada uma, por uma forma particular de organização dos 76 relacionamentos entre sede e unidades de negócios. Os estilos identificados foram denominados “planejamento estratégico”, “controle financeiro” e “controle estratégico” (quadro 16). Defendem a opinião que para escolher um dos três estilos o executivo deve privilegiar aquele que melhor se adapta ao seu contexto empresarial, ficando atento aos pontos fracos que deverão emergir. Lema Estratégias Planejamento Estratégico Característica Pontos Fortes Pontos Fracos Gerentes das unidades de •Monta mecanismos de verificação •Desmotiva os gerentes mais negócios podem formular e equilíbrio dentro dos processos •Processo arrojadas, propostas, mas a sede dá que determinam a estratégia de decisões a última palavra cada unidade de negócio •Encoraja mais lentas estratégias pode tornar pesado, frustante e caro •Perda de flexibilidade que se Aplica-se a Empresas que integram perfeitamente a várias buscam estratégia ampla unidades de negócios •Estímulo à criação de estratégias e integrada Lema Melhores de negócio mais ambiciosas. Controle Financeiro Característica Pontos Fortes Pontos Fracos A responsabilidade pelo •Cria motivação imediata para •Preconceito controles desenvolvimento financeiros, estratégia é dos gerentes menos das unidades de negócios da inovações gerentes melhorarem seus Aplica-se a Corporações carteira •Dispõe de meios para forçar eficiente nos gastos e longas esperas por resultados na descentralizadas exploração em lucratividade •É estratégias e investimentos •Dificuldade das estratégias ineficientes muito •Conduz a um forte desempenho diversificada contra com grandes antecipações desempenhos gerentes a abandonar estratégias com se formação de de na sinergias potenciais entre unidades de negócios executivos •Os rigorosos sistemas de controle limitam a flexibilidade da organização Lema Maior Controle Estratégico Característica Pontos Fortes Pontos Fracos A responsabilidade pela •Os gerentes das unidades de •Os objetivos financeiros e Equilíbrio, estratégia é dos gerentes negócios ficam motivados em estratégicos, as menor das empresas subsidiárias função longo curto clareza e responsabilidade que recebem dos gerentes das da liberdade e da tornam e a a metas a prazo, definição das divisões, devendo estas •Pode lidar com a diversidade responsabilidades serem exata e criam ambigüidades aprovadas pela menos 77 sede da corporação Quadro 16: Estilos de Planejamento. Fonte: Elaboração da autora a partir de Goold e Campbell (1987 In: MONTGOMERY, 1998). Executivos anseiam, ao mesmo tempo, por liderança centralizada e autonomia para suas unidades de negócios. Os modelos apresentados variam no nível de participação da cúpula e das unidades de negócio. O estudo supracitado revelou que as corporações bem sucedidas utilizam combinações dos três estilos, moldadas conforme suas próprias realidades. A conclusão foi que saber lidar com ambigüidades para encontrar o equilíbrio desejado depende do conhecimento que a alta gerência tem dos recursos de sua empresa (GOOLD e CAMPBELL, 1987 In: MONTGOMERY, 1998). Entende-se que as escolas dificilmente são utilizadas em sua forma pura. Em determinadas situações a vantagem competitiva será conquistada exatamente por aquela organização que souber usar o bom senso e o equilíbrio para a escolha de suas estratégias. As tipologias mistas fornecem caminhos a serem tomados, cabe ao estrategista saber escolher o combinar as opções da melhor forma. Uma tipologia composta por três tipos de estilos de comportamento estratégico (quadro 17) foi proposta por Ansoff e McDonnell (1993). ABORDAGEM Adaptação orgânica administrada DESCRIÇÃO não Caracteriza-se pelo aprendizado e adaptação em organizações complexas, desenvolvendo a si mesmo, nos moldes da adaptação biológica. É observado com freqüência em organizações sem fins lucrativos, em especial, órgãos públicos. Aparece, também em organizações com administração “cansada” sem gestão da administração geral, ou em empresas complexas cuja administração se dá pela tecnocracia. Lindblom (1959 apud ANSOFF e MCDONNELL, 1993) afirma ser este o único método viável para transformação de organizações complexas, considerando que a aprendizagem favorece a inteligência necessária para compreensão do Planejamento Sistemático ambiente. O curso a ser seguido é determinado sistematicamente por meio de um plano emanado pela administração, de forma racional. Esta, em seguida, orienta e controla a execução de acordo com os planos formulados. Os autores chamam atenção para situações em que planejar se torna inviável, abrindo espaço para que se “use a administração pura e simples” (MINTZBERG, 1976 apud ANSOFF e MCDONNELL, 1993), descrita na Administração Casuística Administração Casuística. Consiste no meio termo entre os dois estilos anteriores. Nesse caso trata-se uma questão estratégica por vez, à medida que a direção a encontra, ou que 78 ABORDAGEM DESCRIÇÃO e trazida por outros. Um ponto positivo nesse estilo seu curto prazo de reação, ainda que haja um processo de planejamento, o qual envolve apenas um pequeno grupo. Quadro 17: Estilos de Comportamento Estratégico. Fonte: elaboração da autora a partir de Ansoff e McDonnell (1993). Os estilos apresentados por Ansoff e McDonnell (1993) mostram que se por um lado a estratégia pode ser formada por um processo de aprendizagem, por outro pode ser o resultado de um processo formal de planejamento. A administração casuística sugere um processo intermediário e simples, que proporciona um equilíbrio no processo decisório. Percebe-se a presença do planejamento em grande parte das tipologias apresentadas, muitas vezes contrabalançado por uma escola adaptativa. Se houvesse concordância real entre os princípios da estratégia corporativa, não seria tão difícil tomar decisões estratégicas, pondera Whittington (2002). Baseado nesta afirmação, o autor buscou mostrar a questão da estratégia como prática contestável e imperfeita por meio de quatro conceitos básicos, que apresentam implicações opostas no tocante à realização da estratégia. A figura 12 apresenta as abordagens Clássica, Evolucionária, Processual e Sistêmica, classificadas em duas diferentes dimensões: Processo (eixo horizontal) - como a estratégia é formulada - e Resultados (eixo vertical) – para que serve a estratégia. Resultados Maximização dos lucros Mantenha custos baixos e opções abertas Analise, planeje e comande Processos Deliberado Clássica Evolucionária Sistêmica Processual Emergente Fique por perto do chão e siga o fluxo Jogue pelas regras locais Plural Figura 12: Perspectivas sobre estratégia. Fonte: Whittington (2002). O eixo vertical mostra a medida em que a estratégia produz resultados de maximização dos lucros ou, por outro lado, desvia-se deles para permitir outras possibilidades. No eixo horizontal é possível visualizar se a estratégia é deliberada ou emergente. As abordagens apresentadas por Whittington (2002) buscavam explicar o que é estratégia e se ela realmente importa para o gerenciamento, identificando versões distintas para os questionamentos postos, as características de cada uma encontram-se a seguir (quadro 18): 79 ABORDAGEM DESCRIÇÃO Clássica AUTORES ASSOCIADOS É a mais antiga e influente, caracterizando-se pela utilização de métodos de Ansoff e Porter planejamento racional. A estratégia é deliberada e tem como foco a maximização do lucro. Dominar ambientes internos e externos requer um bom planejamento. Decisões objetivas consistem no diferencial para a Evolucionária conquista do sucesso. Fundamenta-se na concepção que previsões eficazes tornam-se inviáveis Hannan e diante da imprevisibilidade do ambiente. Neste caso, a estratégia é Freeman; emergente e tem como premissa básica a maximização do lucro. Williamson Whittington (2002) compara a abordagem evolucionária à evolução biológica das espécies, em que algumas sobrevivem ao processo competitivo enquanto outras morrem. A formulação da estratégia não depende dos gerentes, que apenas garantem o ajuste eficaz de suas empresas Processualista às exigências impostas pelo ambiente, que determina o curso da estratégia. Prega que a estratégia emerge de um processo de aprendizado e Cyert e March comprometimento, embora não necessariamente seja uma ótima estratégia. Pessoas são vistas como bastante diferenciadas em seus interesses, limitadas e dispersas para realizar um planejamento perfeito. Os processos de seleção de mercados, por sua vez, são negligentes. Dessa forma o fracasso decorrente da criação e implementação do Planejamento Estratégico levaria Sistêmica a uma desvantagem competitiva. assume uma posição relativista, argumentando que o desenvolvimento da Grannovetter estratégia está plenamente vinculado ao contexto social. Acredita-se na capacidade de planejar e implementar planejamentos racionais de ação. Distantes da meta de maximização de lucros os estrategistas seguidores desta abordagem buscam o orgulho profissional. Nesta abordagem, a classe social e o país fazem toda a diferença na estratégia adaptada. Quadro 18: Abordagens para formulação de estratégia. Fonte: adaptado pela autora, com base em Whittington (2002) Na abordagem clássica, a estratégia permite garantir o futuro por meio de planejamento racional de longo prazo. Por outro lado, a corrente evolucionista vê o futuro como imprevisível demais para ser planejado. Garantir a sobrevivência hoje é a melhor estratégia. Para os processualistas a estratégia emerge do aprendizado e da adaptação e o planejamento racional é questionável. A abordagem sistêmica, por sua vez, tem foco no contexto social para o desenvolvimento de estratégias. Encontram-se representadas aqui as escolas Planejamento, Ambiental, Aprendizado e Cultural, de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). 80 Refletindo sobre o processo pelo qual a estratégia é formada nas organizações Barbuto Jr (2002) apresenta uma taxonomia multidisciplinar de formulação de estratégia, retratada nas seguintes abordagens: Autocrática, Transformacional, Racional, Aprendizagem, Política (quadro 19). ABORDAGEM Autocrática DESCRIÇÃO O líder decide estratégias e objetivos mantendo total controle da maioria das decisões na organização, com pouca ou nenhuma participação dos empregados, cujo papel é receber Transformacional ordens e planos estratégicos prontos para executar. Envolve a criação e articulação de visão inspiradora, missão, bem como de um claro conjunto de metas, que darão sentido para todas as atividades que permeiam a organização. Neste caso, o papel da gerência no processo é motivar e inspirar os membros da organização visando à obtenção das metas delineadas. É comum o uso de Racional símbolos e metáforas neste modelo. Baseia-se na análise e avaliação de todos os possíveis cursos de ação. O papel dos membros da organização nessa abordagem é limitado pelo acesso e habilidade para compartilhar informações e dados necessários. Técnicas de análise formal e estruturada, tais como análise de portfólio, análise da indústria e matriz SWOT-Strength, Weakness, Opportunity, Threat (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças), são utilizadas na formulação da estratégia. Um detalhado plano de ação com várias alternativas surge Aprendizagem como resultado. Envolve aprendizagem contínua e interação com ênfase na flexibilidade e adaptabilidade, em detrimento de um plano de ação especificamente delineado. Nesse caso os dirigentes investem em comunicação contínua. Buscam constantemente conhecer e entender melhor as necessidades dos stakeholders com melhorias processuais incrementais. Os empregados são encorajados a descobrir e inovar no trabalho, Política encontrando melhores formas de atender às necessidades dos stakeholders. Membros da organização que conquistem apoio do nível estratégico terão suas propostas aceitas. Universidades, hospitais e organizações profissionais são conhecidos por utilizarem esta abordagem. O papel dos empregados na formulação da estratégia é o mais ativo dentre os modelos identificados por Barbuto Jr (2002). As idéias são geradas na base da hierarquia e levadas ao topo da organização. Quadro 19: Abordagens para formulação de estratégia. Fonte: Adaptado pela autora, de Whittington (2002) As abordagens apresentadas por Barbuto Jr (2002) mostram tendências ora individualistas, ora coletivistas. Na visão Autocrática, as decisões são centralizadas no líder, com pouca ou nenhuma participação dos empregados. Na abordagem transformacional, porém, o gestor máximo motiva e conquista empregados para a conquista de metas com base em uma visão inspiradora. O papel dos membros da organização é limitado na linha Racional, em que são utilizadas técnicas de análise formal que resultam em um plano detalhado. A 81 Abordagem da Aprendizagem se mostra mais flexível. Aqui não há plano formal, mas sim um aprendizado contínuo e maior participação dos empregados na definição da estratégia. Das abordagens apresentadas, a Política é, porém, aquela na qual o papel dos empregados é o mais ativo. As idéias são levadas da base para o topo devendo os membros, por meio de coalizões políticas, conquistarem apoio para tê-las aceitas. As abordagens apresentadas por Barbuto Jr (2002) apresentam conceitos relacionados com as escolas Design, Empreendedora, Planejamento, Aprendizado e Poder, de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Um foco específico na maneira como gerentes participam da análise da situação da empresa e selecionam suas estratégias é dado na tipologia apresentada por Thompson e Strickland III (2000), que identificaram quatro variações (quadro 20). Descrição Estrategista principal Características Pontos Fortes O gerente assume pessoalmente a Funciona bem quando posição de principal arquiteto da gerente tem uma visão forte depende estratégia, modelando alguns do que e como precisa fazer. segmentos ou a maior parte da Delegação para outros Pontos Fracos o O calibre da estratégia fortemente habilidade de da uma só pessoa. estratégia. O gerente delega a elaboração da Propicia grande participação Pode causar a inexistência estratégia para terceiros, e sugestões de gerentes de de uma gerência acompanhando o processo por meio várias áreas. estratégica real. de resultar em relatórios, sem muita participação nas recomendações. compromisso Pode um medíocre sem ousadia ou em um Colaborativa Há uma colaboração entre gerente e Os encarregados consenso político modelado por subordinados influentes. pela Também conduz à escolha subordinados chave, em que todos definição e implantação da política das dão o melhor de si para definir e estratégia são os mesmos, pois implantar a estratégia. aumentando pessoas e o departamentos poderosos comprometimento elaboração. Campeã estratégias com a têm a oportunidade de formar consensos sobre sua estratégia favorita. Estratégia elaborada de baixo para Encoraja pessoas nos níveis Ações vitoriosas oriundas cima, os executivos apenas avaliam mais baixos a apresentar suas de propostas. O gerente não possui idéias diversas áreas inovadoras, organizacionais não interesse pessoal nos detalhes da estimulando a capacidade de refletem estratégia, ou ainda em liderar inovação contínua. coerente um padrão nem fornecem 82 Descrição Características pessoas para esse fim. Encoraja os gerentes subalternos a desenvolver Pontos Fortes rumo Pontos Fracos estratégico bem definido. e implantar estratégias de qualidade. A chave para o desenvolvimento da estratégia é recompensar iniciativas estratégicas vitoriosas. A estratégia total é o somatório de dessas iniciativas. Quadro 20: Estilos básicos para elaboração da estratégia. Fonte: adaptado pela autora, de Thompson e Strickland III (2000). No capítulo 1 foi dedicada atenção especial às visões de mundo e modelos mentais dos estrategistas exatamente por se acreditar que tais fatores estão sempre como pano de fundo para as escolhas estratégicas. Thompson e Strickland III (2000) reforçam a importância de valores pessoais, experiências e emoções do gerente na formulação estratégica de forma consciente e deliberada ou inconsciente. Mostram, inicialmente, uma abordagem centralizada, a do “Estrategista Principal” na qual o líder é o principal ator da formulação da estratégia, nos moldes das escolas prescritivas. Em seguida, no modelo de “Delegação para Outros” apresentam uma abordagem oposta, em que o líder máximo acompanha de longe o processo de formulação. Na “Colaborativa” a estratégia surge do esforço conjunto de gerentes e subordinados que também serão responsáveis pela implantação. Finalmente, na abordagem “Campeã” a estratégia surge de baixo para cima como resultado do estímulo dado pela alta gerência aos colaboradores dos níveis mais baixos. Steiner (1969 apud OLIVEIRA, 2002) também enfatiza a influência das aspirações do executivo-chefe quanto à sua vida pessoal, à empresa e seus envolvidos na escolha da estratégia, atribuindo ao executivo principal a responsabilidade sobre a estratégia selecionada, a qual refletirá sua história de vida. O sistema de recompensa, também delineado pelo executivo-chefe, será significativo na reação das pessoas às estratégias delineadas. Tudo indica que, ao se tentar compreender a essência de uma estratégia, a explicação será encontrada nas orientações dos principais executivos da empresa, conforme suas próprias premissas e crenças, porque após análises e estudos para as alternativas de estratégias caberá ao administrador com poder decisório fazer a escolha. Nesse enfoque, Oliveira (2002) definiu quatro perfis que explicam o processo de escolha estratégica (quadro 21), conforme classificação a seguir: 83 PERFIL Interessados em DESCRIÇÃO obter Assumem uma visão relativamente de curto prazo, pensando em termos de reputação, poder e riqueza lucros e realizações em um horizonte máximo de três anos. São aqueles inclinados a assumir grandes riscos e desejam tentar mudanças substanciais. Os que já atingiram posições Tendem a ser altamente conservadores e evitar mudanças. de poder e riqueza, desejando preservá-los Motivados por bajulação, Podem assumir uma visão em longo prazo da empresa, tendendo a ser mais estima e altruísmo Executivos jovens cautelosos cautelosos no tocante a maiores mudanças ou riscos. e Aprendem logo que compensação e promoção de indivíduos dentro da empresa chegam, rapidamente, para aqueles cujas atitudes relativas a tempo e risco são compatíveis com as de seus superiores. Quadro 21: Processo de escolha estratégica – perfis gerenciais. Fonte: adaptado pela autora, de Oliveira (2002). Oliveira (2002) mostra que aspectos ligados diretamente ao principal executivo como desejos pessoais de posição e poder, caráter e idade, dentre outros, conduzem a variações nas escolhas estratégicas, resultantes de sua própria história de vida. Ao longo desse capítulo foram mostradas diversas tendências identificadas, por estudiosos, como importantes na formulação de estratégia. Os pensamentos e escolas citados retratam as 10 escolas de Formulação de Estratégia, de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Isto já era esperado, considerando que os autores fizeram uma coletânea vasta de tudo que tem se destacado sobre o tema. A diferença é que as tipologias aqui apresentadas compõem-se de parte das tendências identificadas nas 10 escolas. É interessante observar que a Escola do Planejamento foi a mais citada nos modelos mistos. A ambiental está presente no tópico reservado às tipologias com foco em Padrões de resposta às demandas ambientais, tendo sido a mais citada nos modelos mistos, após o Planejamento. A escola do aprendizado aparece mais de uma vez, enquanto poder, cultura, empreendedorismo e design foram identificadas uma vez cada. A identificação da freqüência do aparecimento das escolas é uma tentativa de correlacionar o levantamento realizado com a tipologia das 10 Escolas, como forma de validar o seu conteúdo. Há também abordagens que mesclam características de mais de uma escola, o que é natural, pois as escolas de pensamento consistem em uma evolução conceitual mantendo inter-relação umas com as outras. Entende-se que o equilíbrio, uma vez encontrado, pode ser a chave para a melhor escolha estratégica. 84 A revisão teórica apresentada antes de ser abordada a tipologia base da pesquisa, visava a identificar uma amostra do que tem sido proposto pelos estudiosos de estratégia, em especial, aqueles preocupados com o processo de formulação estratégica. Entende-se que não seria necessário explorar outras tipologias para não correr o risco de cair na repetição. As impressões que ficaram foram suficientes para a verificação de que as abordagens que têm sido apontadas são as mesmas citadas por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), sendo que de forma fragmentada. O próximo tópico resgata o pensamento de Mintzberg retratado em suas principais obras, visando a identificar os estágios pelos quais passou até publicar o Safári de Estratégia. 2.2 A evolução do pensamento de Mintzberg Nos anos 70 Mintzberg (1973) publicou o artigo Strategy-making in three modes, no qual apontava três Escolas de Formulação de Estratégia (quadro 22): ESCOLA DE CARACTERÍSTICAS PENSAMENTO Planejamento Totalmente consciente e controlado por meio de processo, com resultados relativamente Empreendedor padronizados. Processo semiconsciente e flexível. Formulação estratégica baseada em longa experiência Adaptativo e feeling. A estratégia é um processo evolutivo de natureza repetitiva, que se forma por meio da dinâmica organizacional, com influência direta dos comportamentos. Quadro 22: Escolas de Formulação de Estratégia. Fonte: adaptado pela autora, a partir de Mintzberg (1973, apud FEURER e CHAHARBAGHI, 1995). Sob um enfoque distinto Mintzberg (1995) mostrou, em 1992, a formulação da estratégia ligada a estrutura da organização. A estrutura, por sua vez, é definida pelo ambiente no qual está inserida. Funciona como uma cadeia, retratada na figura 13, a seguir: Ambiente Estrutura Formulação da Estratégia Figura 13: A estrutura x formulação da estratégia. Fonte: elaboração da autora, com base em Mintzberg (1995). 85 Mintzberg (1995) identificou quatro tipos básicos de ambiente: complexo e estável; complexo e dinâmico; simples e estável; simples e dinâmico, conforme descrito no quadro 23. TIPOS DE AMBIENTE Complexo Simples Estável Descentralizado Dinâmico Descentralizado Burocrático Orgânico (padronização de habilidades) Centralizado (ajustamento mútuo) Centralizado Burocrático Orgânico (padronização dos processos de trabalho) (supervisão direta) Quadro 23: Tipos básicos de ambiente. Fonte: Mintzberg (1995). Nesse enfoque, Mintzberg delineou as cinco configurações básicas de estrutura que considera as mais representativas das organizações (quadro 24). ESTRUTURA Simples CARACTERÍSTICAS Possui pequena ou nenhuma BASE COMPONENTE-CHAVE Supervisão direta Cúpula estratégica Tecnoestrutura tecnoestrutura, poucos assessores, Burocracia reduzida divisão de trabalho. Assemelha àquela descrita por Weber Padronização dos Mecanizada com padronização de processos de trabalho responsabilidades, qualificações e Burocracia canais de comunicação. Existência de hierarquias Padronização de profissional administrativas paralelas: habilidades Núcleo operacional • Democrática, de baixo para cima, para os profissionais • Burocraticamente mecanizada, de cima para baixo, para assessoria de apoio Forma O poder está na perícia. Não constitui uma estrutura completa, Padronização de divisionalizada desde a cúpula ao núcleo operacional Linha intermediária saídas e sim numa estrutura sobreposta a outras. Adhocracia Inovação sofisticada. Ajustamento mútuo Assessoria de apoio Quadro 24: Tipos de estrutura. Fonte: elaboração da autora a partir de Mintzberg (1995). 86 A Estrutura Simples lida com um ambiente simples e dinâmico, sendo a tomada de decisões flexível, com alta concentração de poder e reação rápida. A formulação estratégica é de única responsabilidade do principal executivo. O processo tende a ser altamente intuitivo e não analítico, muitas vezes nascendo da incerteza e orientado para a busca agressiva de oportunidades. Como resultado a estratégia é, na maioria das vezes, um reflexo direto das crenças pessoal do estrategista, mostrando-se uma extensão de sua personalidade. Raramente torna-se explícita. A Burocracia Mecanizada é encontrada, sobretudo, em ambientes simples e estáveis, sendo a estratégia responsabilidade da cúpula com enfoque em perspectivas amplas e poder. O processo de elaboração ocorre, literalmente, de cima para baixo, com ênfase no planejamento para ação. Mintzberg destaca duas características principais do processo: (1) A elaboração da estratégia deve ser totalmente racional. Todas as decisões da organização fluem para um sistema integrado. As exceções seguem rumo ao topo da hierarquia de forma a serem tratadas no nível pertinente até que chegue na cúpula, caso necessário. As decisões resultantes fluem cadeia abaixo para implantação; (2) Somente neste tipo de estrutura a dicotomia formulação-implantação aparece. A Burocracia Profissional é encontrada em ambientes complexos e estáveis, tendo a formação da estratégia um curso próprio – as discussões e ações se ordenam em padrões ao longo do tempo. Podem ser identificados três agentes distintos: (1) as associações profissionais fora da estrutura; (2) os profissionais do núcleo operacional; e (3) os administradores. A estratégia não é vista como um modelo único e integrado de decisões. Considerando a autonomia de cada profissional e seu relacionamento próximo com clientes, é cabível pensar em termos de uma estratégia pessoal para cada profissional que, em muitos casos, seleciona seus próprios clientes e métodos. Em resumo, o processo é controlado significativamente pelos profissionais, individualmente, considerando todos os fatores que influenciam na estratégia empresarial (inputs, meios para desempenhar a missão, estrutura, governança etc). Segundo Mintzberg (1998), as questões estratégicas, podem ser decididas de três formas: (1) ordem administrativa; (2) Escolha coletiva; e (3) Julgamento Profissional. Na Forma Divisionalizada as divisões são criadas de acordo com o mercado que servem, tendo controle sobre suas operações. A descentralização decorrente do modelo é limitada verticalmente. Em geral, o escritório central dá às divisões grande autonomia para 87 tomar suas próprias decisões, monitorando os resultados decorrentes. A formulação da estratégia global da organização para o mercado-produto é de responsabilidade do escritório central. Às divisões, por sua vez, é dado poder para controlar suas operações e determinar suas estratégias para seus mercados. A Adhocracia é encontrada em ambientes ao mesmo tempo dinâmicos e complexos. Neste caso, ao contrário das demais estruturas, o controle sobre o processo de formulação estratégica não é centralizado em lugar algum. A dicotomia formulação-implantação perde o sentido, tendo em vista a natureza da estrutura. Não há padrões estabelecidos previamente. A organização avança de forma incremental e a estratégia surge, implicitamente, nas ações específicas realizadas em diversas áreas. Quando o objetivo principal da organização é inovar, os resultados nunca podem ser predeterminados. Mintzberg (1995) ressalta, ainda, ser mais adequado o termo formação de estratégia, considerando a não existência de um processo consciente e sim a formação implícita da estratégia a partir de decisões tomadas pelos indivíduos. Para concluir seu pensamento sobre configurações, o autor propõe duas alternativas: (1) a existência de apenas uma configuração, constituída de um sistema formado pelas cinco anteriormente apresentadas, ou (2) a existência de uma sexta configuração, que seria a Missionária. Na primeira opção, as cinco configurações formam simbolicamente um pentágono (figura 14), no qual cada uma está situada em um dos nós, que tracionam as organizações reais em sua direção. Conforme Mintzberg (1995), as organizações de “tipo puro”, caem em posições próximas de um dos nós, enquanto existem as que caem entre dois ou mais nós, denominadas de “tipo híbrido” ou “em transição”, de um tipo puro para outro. Nesse caso a formulação da estratégia também encontra-se sujeita ao nó de maior tração. 88 Figura 14: O Pentágono. Fonte: Mintzberg 1995. Por outro lado, o autor questiona a existência de uma sexta configuração, aquela que teria aparecido dentro das outras cinco. Trata-se da organização Missionária, que possui a socialização como mecanismo de coordenação, tendo como características a doutrinação e a ideologia. Indo mais longe, se o tipo Missionário fosse enquadrado no sistema, seria formado um hexágono, em vez do pentágono. Finalmente Mintzberg (1995) conclui que a estruturação eficaz, algumas vezes exige a criação de novas configurações, uma original e ainda congruente combinação dos parâmetros delineadores e fatores situacionais. Fazendo uma analogia, percebe-se que, da mesma forma, a formulação da estratégia não pode ser algo “engessado”. Para ser eficaz a organização deve buscar mecanismos e combinações próprios e até criá-los, se necessário. Em 1994, Mintzberg (1994) publicou o livro The Rise and Fall of Strategic Planning, em que identificou as falácias do Planejamento Estratégico. 1. A falácia da predeterminação – a necessidade de prever o curso do ambiente, controlá-lo ou assumir sua estabilidade. O mundo não pode parar durante a elaboração do Planejamento. 2. A falácia do desligamento – pensamento desligado da ação, formulação desligada da implementação, pensadores de executores. 3. A falácia da formalização – a formalização limita a criatividade e o aprendizado. A combinação das três falácias identificadas levou à grande falácia do planejamento estratégico, declarando que ele nunca foi geração de estratégias e que serviria para formalizar, onde necessário, as conseqüências das estratégias já desenvolvidas por outros meios (MINTZBERG, 1994). Dando continuidade à sua pesquisa sobre a formulação da estratégia, em 1998, Mintzberg (2001) publicou “O processo da Estratégia”, estruturado da seguinte forma: A Estratégia – aborda conceitos relacionados com a estratégia, o estrategista, a formulação de estratégias e a análise da estratégia. A Organização – aborda conceitos relacionados com estrutura e sistemas, cultura e poder e estilos de gerência. 89 Os Contextos - apresenta seis contextos que consistem numa réplica das cinco configurações já apresentadas (acrescentando o contexto das mudanças), mostrando a relação entre estratégia e estrutura, incluindo cultura e poder, sob a seguinte terminologia: ⇒ O Contexto Empreendedor - Estrutura Simples ⇒ O Contexto Maduro - Burocracia Mecanizada ⇒ O Contexto Profissional - Burocracia Profissional ⇒ O Contexto da Inovação - Adhocracia ⇒ O Contexto Diversificado - Forma Divisionalizada ⇒ O Contexto das Mudanças Também em 1998, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) publicaram o livro Safári de Estratégia, como resultado de alguns anos de levantamento exaustivo, em aproximadamente 2.000 itens na literatura sobre administração estratégica. O livro, base para a presente pesquisa, consiste em uma coletânea de 10 diferentes Escolas de Formulação de Estratégia, sendo que destas, três são prescritivas (o que deveria ser) – design, planejamento e posicionamento; seis descritivas (o que realmente é) – empreendedora, cognitiva, aprendizado, poder, cultural e ambiental; e a da configuração, que envolve elementos de todas as outras. As escolas apresentadas no referido livro já foram de alguma forma explicadas anteriormente, detalhar as escolas que compõem a tipologia seria redundante. Dessa forma, as 10 escolas serão apresentadas de maneira sucinta em três quadros. O quadro 25 mostra as escolas prescritivas, mais preocupadas em como as estratégias devem ser. O quadro 26 mostra as escolas descritivas, que mostram a descrição de como as estratégias são, de fato, formuladas. O quadro 27 mostra a Escola da Configuração, que consiste em uma visão macro, que contém um pouco de cada escola. 90 ESCOLAS PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA PRINCIPAIS AUTORES PRESCRITIVAS Design Deliberado e consciente, sob a responsabilidade do executivo Selznick (1957) (Concepção) principal. Adequação entre as capacidades internas e as Andrews (1965) possibilidades externas. Estratégias são únicas e sob medida. Baseado no conceito SWOT-Strength, Weakness, Opportunity,Threat (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Planejamento Controlado, consciente e formal. Responsabilidade do executivo (Formalização) principal, executado pelos planejadores. Pensamento desligado da Ansoff (1965) ação. Posicionamento Controlado, consciente e formal. Responsabilidade do executivo Porter (1980 e (Análise) principal. Análise estrutural da indústria e seleção de posições 1985) genéricas com base em cálculos analíticos. Estratégias corretas para as condições vigentes. Quadro 25: Escolas prescritivas. Fonte: elaboração da autora a partir de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). ESCOLAS DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA DESCRITIVAS Empreendedora ESTRATÉGIA Visão do líder como “inspiração”. Estratégia deliberada e (Previsão) PRINCIPAIS AUTORES Schumpeter emergente, flexível a adaptações. Processo de formação forcada no (1960) líder único. Cole (1959) Cognitiva Processo oriundo da mente do estrategista e as estratégias emergem Simon (1947 (Criação) como perspectivas. Estrategistas variam em seus estilos cognitivos, e1957) com consequências importantes para as estratégias seguidas. March e Simon, Aprendizado Estrategistas aprendem ao longo do tempo e novas oportunidades (1958) Lindblom (1959) (Criação de vão surgindo. As estratégias emergem de qualquer parte da Quinn (1980) Conhecimento) organização. Formulação e implementação entrecruzam-se. Prahalad e Hamel Poder Processo de negociação e concessões entre indivíduos, grupos e (1990) Allison (1971) (Negociação) coalizões. (Micro) Política) Poder Micro: lida com o jogo de política dentro da organização. Pfeffer e Salancik Poder Macro: uso de poder pela organização com agentes externos. (1978) Astley (1984) Cultural Processo coletivo, baseado nas crenças e interpretações dos (macro) Rhenman e (Criação coletiva) membros da organização. A estratégia assume a forma de uma Normann (1960) perspectiva enraizada em intencções coletivas. Ambiental A formulação origina-se de respostas adaptativas a imposições Hannan e 91 ESCOLAS DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA DESCRITIVAS (reação) ESTRATÉGIA ambientais, por meio de um processo reativo. O ambiente é o ator PRINCIPAIS AUTORES Freeman (1977) principal da escolha estratégica. Quadro 26: Escolas descritivas. Fonte: elaboração da autora a partir de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). ESCOLA DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA MACRO Configuração ESTRATÉGIA Estabilidade relativa da estratégia dentro de determinados estados, (Transformação) PRINCIPAIS AUTORES Chandler (1962) interrompida por saltos ocasionais e mesmo enormes para novos Mintzberg e estados (transformação) Miller (1970) Miles & Snow (1978) Quadro 27: Escola macro. Fonte: elaboração da autora a partir de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Na escola do Design, a formulação da estratégia é responsabilidade do principal executivo tendo como objetivo o equilíbrio entre capacidades internas e o ambiente, utilizando o modelo SWOT. As estratégias devem ser únicas e explícitas e só devem ser implementadas depois de concluídas, ressaltando a separação entre pensamento e ação, formulação e implementação. Dentre os pontos fracos da escola, destacam-se a desvalorização do desenvolvimento incremental da estratégia, a influência da estrutura sobre a estratégia e a participação de outros atores que não o executivo principal. A também prescritiva escola do Planejamento partiu dos conceitos da escola do design, tomando como base o modelo SWOT, diferenciando-se pela característica formal do processo. O principal executivo continua sendo o principal responsável pela estratégia. Contudo, surge a figura do planejador, responsável pela execução. Um ponto positivo é a possibilidade dos planejadores agirem como “catalizadores”, encorajando qualquer forma de comportamento estratégico válido na organização, conforme a situação. O planejamento estratégico sofreu várias críticas devido à sua formalidade e rigidez. A escola do posicionamento, ainda prescritiva, manteve o foco da formulação no principal executivo. A figura do planejador, porém, obteve enfoque diferenciado, funcionando mais como um analista. Nesse caso, a formulação da estratégia baseava-se em cálculos, visando a seleção de posições estratégicas genéricas, ao contrário da escola do design, com 92 suas estratégicas únicas e sob medida. As críticas repetem-se nas escolas prescritivas, em especial no tocante à separação entre formulação e implementação. A escola empreendedora, dá início às escolas descritivas e comunga com a do design no que diz respeito ao papel do líder. A grande diferença consiste no valor atribuído à intuição. A formulação da estratégia é resultante da visão do líder que deve ser inspiradora de forma a possibilitar as mudanças necessárias. A estratégia é deliberada, emergente e flexível, tendo como suporte uma estrutura também maleável. Se por um lado o surgimento da intuição revela um lado importante da formulação que é a abertura para a criatividade e flexibilidade, tão necessárias em um ambiente mutável, por outro leva a organização a ter que confiar na visão de um único indivíduo, ficando sujeita aos erros e acertos oriundos de tal visão. A necessidade de compreender a visão estratégica tem estreita ligação com a escola cognitiva, que contribui para o entendimento de como funciona a mente humana, ou seja a mente do estrategista. A escola cognitiva desdobrou-se em duas correntes distintas, a positivista, na qual a estratégia é uma espécie de recriação do mundo e a subjetivista, em que a estratégia é uma espécie de interpretação do mundo, ou seja, a cognição cria o mundo. Aqui é provocada uma reflexão útil que desperta para a questão da mente humana, sem, contudo fornecer as assertivas necessárias para que se possa afirmar como ocorre a formulação nesse foco. Essa abordagem contribuiu sobremaneira ao levantar a temática dos limites da capacidade cognitiva do homem. Entende-se que essa escola, ainda em consolidação, serve de suporte a todas as outras na medida em que é a mente humana que determina os caminhos a serem seguidos. A escola da aprendizagem difere das apresentadas anteriormente, na medida em que tira do executivo principal, ou mesmo da cúpula, a responsabilidade sobre a formulação estratégica. Nesse caso, à medida que pessoas e organizações vão vivenciando uma situação, elas aprendem e, conseqüentemente, novas oportunidades vão surgindo. A grande distinção está no fato de que o processo pode estar centrado tanto na cúpula quanto na hierarquia abaixo na organização. Nessa perspectiva, as estratégias são emergentes e oriundas de qualquer parte da organização. O exercício de erros é permitido. Contudo, a organização deve estar atenta aos excessos que podem prejudicá-la. Formulação e implementação entrecruzam-se. 93 Na escola do poder, a formulação da estratégia é moldada por poder e política, interna ou externamente. O poder se concentra no interesse próprio e na fragmentação e as estratégias resultantes do processo tendem a ser emergentes e surgem mais como ilusões do que como perspectivas. Para o poder micro, a formulação da estratégia ocorre por um processo de interação por meio de persuasão, barganha e confronto, dentre outros. Para o poder macro, a organização promove o seu próprio bem-estar por controle ou cooperação com outras organizações por meio de alianças, joint-ventures, dentre outros. Uma limitação consiste em desprezar o papel das forças integradoras, como liderança e cultura, bem como os padrões que se formam, mesmo em situações conflitivas. Com princípios opostos aos do poder, a escola da cultura concentra-se no interesse comum e na integração. A formação da estratégia, neste caso, consiste em um processo social enraizado em cultura, crenças e interpretações comuns aos membros da organização. Resgata a importante dimensão coletivista do processo social, favorecendo a criação de perspectivas integradas. Há grande risco, contudo, de a organização cair na “mesmice”, pelo fato de desencorajar mudanças necessárias. Favorece a administração da consistência, o medo do novo, priorizando tradição e consenso, o que pode levar a empresa a uma espécie de estagnação. A escola ambiental, ao contrário das demais escolas, tem o ambiente como ator principal da formulação estratégica. Neste enfoque, as atitudes e escolhas estratégicas de uma organização consistem em respostas adaptativas a imposições ambientais, por meio de um processo reativo. O que preocupa na escola ambiental é que as dimensões do ambiente são muito abstratas. Como contribuição desta escola, fica o aprendizado a respeito das populações das organizações, bem como a respeito das formas diferentes que podem assumir. A escola da configuração busca integrar as demais. Se uma organização adota estados de ser, a geração da estratégia torna-se um processo de saltar de um estado para outro. A transformação é uma conseqüência direta da configuração. Estes estados sucessivos de configuração e períodos de transformação podem se ordenar ao longo do tempo em seqüências padronizadas. Nesse caso, o modelo de formulação de estratégias deve se adequar às empresas e não o contrário. Nesse enfoque, os modelos anteriores não estão descartados, serão utilizados observando-se suas limitações em relação à configuração da empresa e o processo de mudança correlato. A organização, segundo essa abordagem, deve sustentar a estabilidade, reconhecendo e se adaptando às constantes necessidades de transformação, 94 podendo as estratégias geradas retratarem quaisquer das escolas apresentadas anteriormente, respeitando-se o contexto organizacional. Após este “passeio” pela selva da estratégia Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) provocam reflexões, deixando as respostas a cargo do leitor. Os autores indicam, por metáfora, que cada parte constitui um bicho diferente, com suas peculiaridades e o elefante todo acaba por não ser visto. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) mostram que ao longo do tempo as escolas desenvolveram-se e deixaram suas marcas. Inicialmente, dos anos 60 aos 80 imperaram as três escolas prescritivas – design, planejamento e posicionamento. A partir dos anos 90, os autores lembram que todas as outras ganharam espaço, tendo em vista o ecletismo que passou a predominar na área, tendo predominado, ultimamente, o aprendizado e a configuração. Analisando-se a trajetória de Mintzberg percebe-se a evolução gradativa de seu pensamento. Em 1973, apontou três escolas, que correspondem à Empreendedora, à Ambiental e à do Planejamento. Em seguida o autor identificou cinco configurações, em que a formulação da estratégia assumia formas diferentes, compatíveis com a estrutura da organização e sua relação com o ambiente. Por último, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apresentam, como resultado de vasta pesquisa, o “Safári de Estratégia” que provavelmente aponta as linhas mais representativas da formulação da estratégia. Mintzberg possui um estilo próprio e instigante de enviar mensagens por metáforas, mostrar conceitos sob vários pontos de vista e colocar as questões para que o leitor tire suas conclusões. O Safári de Estratégia consiste em uma obra muita rica, na qual estudiosos e gestores podem encontrar grande parte das abordagens já disseminadas, bem como tendências. Entende-se que a tipologia das 10 Escolas tem muito a contribuir com a academia e o meio empresarial, como foi de grande utilidade para a realização do presente trabalho. 2.3. Pesquisas similares Visando a elaborar descrição comparativa da presente pesquisa com pesquisas similares, foi dedicada uma atenção especial, durante a revisão teórica, a buscar trabalhos que tomaram como base o modelo das 10 escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), confrontando- 95 o com a realidade das empresas. Foram encontrados dois trabalhos utilizando o referido modelo para estudar o comportamento empresarial: Vasconcelos (2001), e Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004). Tomando como base o modelo das 10 escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Vasconcelos (2001) colheu informações junto a 195 executivos de empresas multinacionais e nacionais, nas cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, por meio de um questionário, utilizando escala Likert com 7 pontos e 29 questões, retratando 9 das 10 escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). O autor excluiu a escola da configuração, por considerá-la uma síntese das demais. Utilizando análise fatorial Vasconcelos (2001) obteve resultados que mostram um equilíbrio entre as 9 escolas, sendo a empreendedora aquela que apresenta maior pontuação 5,05 e a de aprendizagem a de menor pontuação – 4,31. A técnica agrupou as 9 escolas em três dimensões, propondo um novo modelo conceitual: A dimensão intencional retrata a estratégia como um plano de ação deliberado, intencional e raciona. O foco nesta dimensão da estratégia leva a privilegiar modelos como construções lógicas de interpretação da realidade. A dimensão de inovação considera a estratégia como a busca interativa de inovação, criação e originalidade. Visualiza a estratégia como um processo essencialmente emergente enfocando visão, inovação, mudança, insight, coragem e aprendizado. A dimensão de contexto social mostra a estratégia como um processo de adaptação a fatores humanos, sociais e contextuais. Focaliza o conceito de adaptação. Ao final do artigo, Vasconcelos (2001) propõe uma nova metáfora: a do ornitorrinco. Trata-se de animal nativo da Austrália, segundo o autor, com poucas semelhanças com outros mamíferos, que tem sido descrito como uma estranha combinação de um pato com um castor. Para Vasconcelos (2001), o ornitorrinco é um animal mais propício para retratar o comportamento das empresas por ele pesquisadas que, em vez de aderirem a uma única escola, parecem concordar com todas, combinando partes das diversas escolas para a prática empresarial. 96 Entende-se que o trabalho de Vasconcelos (2001) provoca reflexões pertinentes sobre o confronto de teoria e prática. Ao que tudo indica, esta é a primeira pesquisa com vistas a testar a Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o que consiste em valiosa contribuição ao campo da estratégia, considerando ser esta uma tipologia recente e com bastante potencial de aplicabilidade devido a sua amplitude. Não é surpreendente saber que executivos combinam as escolas de maneira a formular estratégias coerentes com suas realidades, pois a dinâmica dos dias atuais não permite que a organização se prenda à prática exclusiva de uma única abordagem. Como limitação da referida pesquisa, coloca-se em primeiro lugar a falta de informação sobre o universo da pesquisa, bem como sobre quantas empresas encontram-se representadas pelos 195 executivos e a quais setores as empresas pertencem. Percebeu-se, ainda, a ausência de análises adicionais oriundas do cruzamento das escolas com tempo e setor, dentre outros. Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) apresentaram recentemente pesquisa semelhante, tendo como universo 150 bancos que atuavam no Brasil, em dezembro de 2001 (dados do BACEN). Foram distribuídos 5.500 questionários, tendo como amostra final questionários de 286 executivos que retornaram o instrumento, representando um total de 53 bancos (públicos, privados e com participação estrangeira). Para a pesquisa, os autores utilizaram questionário com 50 questões, retratando as 10 escolas e escala Likert com 10 pontos. As variáveis da pesquisa foram agrupadas em 10 representativas de cada escola por meio de reespecificação de variáveis (AFFONSO NETO, GONÇALVES e BILICH, 2004). No tratamento dos dados foi utilizada a análise fatorial com rotação varimax, a qual foi aplicada duas vezes, obtendo os seguintes resultados: ⇒ Na primeira vez, a análise fatorial foi aplicada tomando como base as 50 variáveis (assertivas) do questionário, sendo extraídos 14 componentes principais, classificados pelos autores como as seguintes perspectivas: cartesiana, negocial, transformação, coletiva, adequação, mercadológica, posicional, determinista, liderança, cultural, oportunidade, poder, reinvenção, alternativa. ⇒ Em seguida, foi aplicada novamente a análise fatorial tomando como base as 10 variáveis (escolas de pensamento) obtidas a partir da reespecificação de variáveis, resultando 97 em três novas dimensões. A primeira delas consiste em uma combinação das escolas de Poder, Planejamento, Posicionamento, Cultural e Ambiental. A segunda, é uma combinação das escolas Empreendedora, Configuração, Design e Aprendizado. A terceira é representada somente pela Cognitiva de maneira análoga à proposta por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A pesquisa de Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) está muito rica do ponto de vista metodológico. Ao longo do texto os autores explicam minuciosamente cada passo realizado detalhando e justificando os métodos estatísticos utilizados. Os autores, porém, apresentaram limitações por não fazer análises cruzadas dos dados, ficando apenas com a fatorial. Deixaram a desejar, também, na conclusão do trabalho. Ao final, mencionam a pesquisa de Vasconcelos (2001) colocando que apesar de ambas as pesquisas terem resultado no agrupamento das escolas em três dimensões, as combinações de escolas foram consideravelmente diferentes. Destacaram que a diferença nos resultados encontrados pode ser atribuída ao diferente perfil de executivos, bem como à composição do questionário em termos do número e do conteúdo das assertivas utilizadas. Sobre seus próprios resultados limitaram-se a dizer que os bancos enquadram-se em três escolas concebidas a partir de uma tipologia alternativa à de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), já descritas anteriormente, sem, contudo, se aprofundarem no conteúdo de tais escolas. A descrição comparativa da presente pesquisa com as pesquisas similares apresentadas constará no capítulo dedicado às análises da pesquisa. A seguir, será apresentado o capítulo 3 que trata da metodologia. CAPÍTULO 3 METODOLOGIA DA PESQUISA 100 Diante de um problema ou fenômeno desconhecido surge a necessidade de se buscar uma resposta, uma explicação. Resolver um problema ou descrever um fenômeno implica em estudo, pesquisa. Para Ruiz (1993), a ciência é fruto da tendência humana para procurar explicações válidas, questionar e exigir respostas e justificações positivas e convincentes. Este dinamismo questionador peculiar ao espírito humano já se manifesta na primeira infância, quando a criança faz perguntas insistentemente. O desejo ou a necessidade de se realizar uma pesquisa direcionam o indivíduo a alguns questionamentos: qual a melhor forma de realizar a pesquisa? Como assegurar a veracidade dos dados recolhidos? Como imprimir ao estudo um caráter científico? Para Richardson (1989), a fórmula mágica e única para a realização de uma pesquisa ideal não existe, como também não existe uma pesquisa perfeita. Ressalta, ainda, que a investigação é feita por seres humanos, que são falíveis por essência. A afirmação do autor não pretende desencorajar o pesquisador. O alerta, ao contrário, visa a enfatizar a importância do conhecimento da realidade por parte do pesquisador, bem como de noções de metodologia e técnicas de pesquisa. Richardson (1989) conclui seu pensamento destacando que seriedade, espírito de equipe e consciência social são qualidades indispensáveis ao responsável pela pesquisa. O que torna o conhecimento científico distinto dos demais, ensina Gil (1991), é a sua característica fundamental de verificabilidade. Para que possa ser considerado científico, um conhecimento deve permitir a identificação das operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação. Tal identificação, segundo o autor, torna-se possível por meio do método científico, que consiste no conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se chegar a determinado conhecimento. Demo (1985), também enfatiza a importância da metodologia ao afirmar que embora esta não solucione a questão, elabora elementos que conduzem a uma reflexão mais crítica. É inquestionável o valor da metodologia no desenvolvimento e nos resultados da pesquisa. No entanto, é válido registrar a advertência de Castro (1977), segundo o qual a metodologia deve ser flexível, a seqüência escolhida não deve ser imperativa e as etapas devem ser delineadas conforme a natureza específica da pesquisa. 101 Ciente da relevância da metodologia para a credibilidade da pesquisa dedicou-se a este capítulo uma atenção especial buscando um aprofundamento teórico que fornecesse a devida segurança para sua realização. Dentre muitos, foi escolhido Malhotra (2001) como autor base, recorrendo-se a outros autores de referência para enriquecer conceitos. O processo de pesquisa compõe-se de definição do problema, elaboração de uma abordagem do problema, concepção da pesquisa, trabalho de campo ou coleta de dados, preparação e análise dos dados e preparação e apresentação do relatório (MALHOTRA, 2001). Antes de se iniciar o detalhamento de cada etapa, vale ressaltar que para a construção da dissertação, depois de concluída a fase curricular, foi definida reunião semanal com o professor-orientador e a pesquisadora, havendo reuniões extras quando necessárias. As reuniões semanais favoreceram o planejamento e o acompanhamento efetivo do desenvolvimento do trabalho, preservando-se a qualidade da pesquisa. Visando a deixar claro o desenvolvimento da pesquisa, serão detalhadas a seguir as etapas percorridas. 3.1 Definição do Problema Consistindo na primeira etapa de uma pesquisa, a definição do problema consiste na atividade mais importante para a condução adequada do trabalho. Ressalte-se que a definição incorreta do problema é uma das maiores causas de fracasso em pesquisas. Dentre as tarefas pertinentes a esta fase, o pesquisador deve promover discussões com responsáveis por decisões, realizar entrevistas com peritos da indústria e analisar dados secundários de forma a compreender o contexto ambiental do problema. Dois erros podem comprometer o entendimento do problema, que consistem tanto em uma definição exageradamente ampla quanto em uma definição muito restrita (Malhotra, 2001). Para a escolha do tema, Castro (1977) sugere três critérios, quais sejam: • Importância – estar ligado a uma questão crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da sociedade; • Originalidade – tema cujos resultados possuem potencial para surpreender; • Viabilidade – prazos, recursos financeiros, competência do autor, disponibilidade potencial de informações e teorias disponíveis compatíveis com os objetivos da pesquisa. 102 Observando-se os conceitos expostos, definiu-se o seguinte problema: Que premissas influenciam a formulação da Estratégia Empresarial nas 100 Maiores Empresas do Ceará, à luz da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)? O interesse pelo tema surgiu ainda na fase curricular, por meio da disciplina Estratégia Empresarial, ministrada pelo professor-orientador desta dissertação. Os trabalhos inerentes à disciplina oportunizaram estudos e discussões acerca de artigos científicos que tratavam da prática da estratégia pelas organizações. A partir de então, destacou-se a lacuna existente no aprofundamento do processo de formulação estratégica. Segundo os critérios definidos por Castro (1977) entende-se que a relevância do tema consiste no entendimento das bases e do processo da tomada de decisão estratégica dos dirigentes do Ceará, considerando a importância da Estratégia Empresarial para obtenção de vantagem competitiva para as empresas. Ressalte-se que o estudo beneficiará empresas, subsidiando a formulação de melhores estratégias, beneficiando também a sociedade que receberá melhores produtos e serviços. A originalidade está no fato de que a tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), ainda parece estar pouco explorada em pesquisas científicas, até pelo fato de ser uma tipologia bastante recente. Optou-se por essa tipologia como base para a pesquisa devido a ser uma obra completa, que consolidou grande parte das teorias e tendências relevantes para a formulação estratégica. O levantamento de pesquisas similares mostrou a existência de duas pesquisas tomando como base a referida tipologia com vistas a estudar o processo de formulação da estratégia na prática empresarial. Das duas pesquisas encontradas, a primeira estuda empresas de diversos setores no eixo Rio-São Paulo, enquanto que a segunda tem foco exclusivo no setor bancário. Dessa forma, a presente pesquisa consiste na primeira no NorteNordeste, diferenciando-se das demais por realizar correlação entre as escolas de formulação estratégica e tempo de existência das empresas, setor a que pertencem e resultados financeiros, além da análise fatorial. A viabilidade foi estudada com cuidado de forma que os parâmetros e recursos definidos estivessem compatíveis com a pesquisa, não representando riscos de ruptura no desenvolvimento. 103 3.2 Planejamento geral da pesquisa 3.2.1 Objetivos da pesquisa Os objetivos, conforme Gil (1991), indicam o que é pretendido com o desenvolvimento da pesquisa e quais os resultados desejados. Para tanto foram delineados o objetivo geral e os objetivos específicos, conforme mostrado a seguir: a) Objetivo geral Verificar as premissas que influenciam a formulação da estratégia nas maiores empresas do Estado do Ceará à luz da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). b) Objetivos específicos 1. Testar a aplicabilidade da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000); 2. Analisar se existe relação entre a escola de formulação de estratégia com o tempo de existência, o setor de atividade e o retorno financeiro das empresas estudadas; 3. Analisar se as empresas estudadas adotam uma única escola ou uma composição de escolas, conforme seu contexto; 4. Identificar dentre as 10 escolas do modelo, aquelas que mais têm influenciado a formulação da estratégia nas empresas estudadas, e 5. Elaborar descrição comparativa da presente pesquisa com pesquisas similares no Brasil. 3.2.2 Hipóteses da pesquisa As hipóteses da pesquisa foram elaboradas conforme descrito no capítulo Introdução. 3.2.3 Definição das variáveis da pesquisa Richardson (1989) alerta que as variáveis fundamentalmente: (1) consistem em aspectos observáveis de um fenômeno e (2) devem apresentar diferenças em relação ao mesmo ou a 104 outros fenômenos. Recorrendo-se a Gil (1991) verifica-se que variável é tudo aquilo passível de assumir valores ou aspectos diferenciados conforme o contexto. Neste contexto, as variáveis da pesquisa encontram-se definidas a seguir: • Tempo de existência da empresa • Setor de atuação • Categoria de Faturamento Líquido Ajustado (FLA) • Categoria de Resultado Líquido Ajustado (RLA) • Estilo de Formulação Estratégica Entende-se que a inclusão dos resultados financeiros como variável da pesquisa é importante considerando terem respondido por 70% do peso do conjunto de itens necessários à classificação das maiores empresas (os demais itens foram geração de empregos, impostos e patrimônio líquido, cada um com 10%). 3.2.4 Determinação do tipo de pesquisa Para realização da pesquisa deve-se identificar o tipo de pesquisa que melhor se adeque ao problema definido. Conforme Malhotra (2001) a pesquisa descritiva, como indica o nome, objetiva descrever características ou funções de determinado objeto. Dentre as razões de se optar pela descritiva, destaca-se a necessidade de descrever características de grupos relevantes – nesse caso buscou-se identificar as premissas (ou escolas) que mais influenciam as empresas, de maneira geral ou por grupos (setores de atuação), caracterizando suas ações relativas à formulação estratégica. Tendo em vista ter sido realizada tomando uma população de 100 empresas, a presente pesquisa tem caráter quantitativo, com utilização da técnica estatística denominada análise fatorial, o que possibilitou as diversas análises quantitativas apresentadas no capítulo 4. Como forma de interpretar e buscar a compreensão dos “porquês” dos resultados obtidos nas referidas análises, realizaram-se também análises qualitativas, as quais contribuíram, inclusive para o delineamento de novas perguntas a serem exploradas em pesquisas posteriores, sugeridas no capítulo de conclusão. 105 3.2.5 Definição das fontes de dados As fontes de dados classificam-se em primárias e secundárias. Malhotra (2001) diz que dados primários são aqueles produzidos pelo pesquisador com fim específico de solucionar determinado problema. Na mesma linha, Richardson (1989) coloca que primárias são fontes que tiveram uma relação física direta com os fatos analisados, existindo um relato ou registro da experiência vivenciada, como por exemplo, fotografia ou filmagem de um evento e os escritos de uma pessoa, dentre outras. Podem ser animadas ou inanimadas. Coletados para objetivos distintos do problema em questão, os dados secundários são passíveis de localização rápida e acessível (MALHOTRA, 2001) que não possuem relação direta com o acontecimento registrado, a não ser por meio de algum elemento intermediário, sendo esse tipo de fonte mais suscetível a distorções (RICHARDSON, 1989). Para a realização da presente pesquisa foram utilizadas ambas as fontes. 3.2.6 Determinação dos métodos e técnicas de coleta de dados As técnicas de coleta de dados utilizadas foram: a. Levantamento bibliográfico e pesquisas efetuadas; Foram pesquisados livros sobre o assunto, revistas e periódicos, dissertações e teses, CD’s e Anais de congressos científicos, tais como ENANPAD, 3E’s, ENEO, CLADEA e SLADE dentre outros, e bancos de dados de pesquisa científica, tais como Emerald, Proquest e Ebsco. b. Questionário e entrevistas pessoais; Tendo em vista o caráter descritivo da pesquisa, o questionário constitui técnica indispensável à coleta de dados. O questionário é, conforme (Malhotra, 2001) uma técnica estruturada para coleta de dados, compondo-se de uma série de perguntas a serem respondidas por um entrevistado. Um questionário padronizado promove a rapidez e a precisão na tabulação de dados. A concepção de um questionário bem elaborado observa itens como informação desejada; método de entrevista; conteúdo das perguntas individuais; incapacidade ou má vontade do entrevistado; estrutura, fraseado e ordem adequada das questões; forma e 106 layout. Para a coleta dos dados foi utilizado prioritariamente o questionário. Quando possível foi realizada, adicionalmente, uma entrevista pessoal. As perguntas de um questionário podem ser não-estruturadas (abertas), de forma que o entrevistado responda com suas próprias palavras ou estruturadas (especifica um conjunto de respostas), podendo ser de múltipla escolha, dicotômica ou escalonada (MALHOTRA, 2001). Visando à padronização e facilidade no preenchimento de forma a dar agilidade à pesquisa, foi elaborado um questionário adequado à aplicação pessoal, telefônica ou por email, com uma pergunta não-estruturada e as demais perguntas estruturadas e escalonadas, com base na Escala de Likert, a qual “exige que os entrevistados indiquem um grau de concordância ou discordância com cada uma de uma série de afirmações sobre os objetos de estímulo”, segundo Malhotra (2001). Optou-se por esta escala tendo em vista seu alto nível de utilização em pesquisas científicas. A referida escala exige que os entrevistados indiquem um grau de concordância ou discordância com cada uma de uma série de afirmações sobre objetos de estímulos. De modo geral, para que sejam obtidos dados objetivos, uma escala deve ser equilibrada., ou seja, com o mesmo número de categorias favoráveis e desfavoráveis. Se o pesquisador quer evitar a posição neutra, a escala deve ser par. Diante da possibilidade de incidência de entrevistados sem opinião sobre o tema, marcar a opção média pode distorcer os resultados, nesse caso aconselha-se incluir uma categoria “sem opinião (MALHOTRA, 2001). Seguindo a tais orientações elaborou-se um escala equilibrada, com um número par de categorias, sem a posição neutra e incluiu-se a opção “NA” – não se aplica, para as assertivas que os gestores entendessem como fora de sua prática organizacional e não pudessem emitir opinião. A escala resultante foi: 4 – Concordo totalmente; 3 – Concordo; 2 – Discordo; 1 – Discordo totalmente e a opção NA – não se aplica. Tomando-se como base os pressupostos relativos a cada uma das 10 escolas de Formulação de Estratégia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) foram elaboradas 33 questões assertivas representando cada escola (em média 3,3 por escola) de forma que o respondente pudesse pontuar, por meio da escala de Likert o nível de influência de cada assertiva em sua empresa, sem saber, contudo, a que escola se referia. Buscou-se representatividade máxima das escolas no número mínimo de assertivas, objetivando tornar o 107 questionário mais atrativo para o respondente, facilitando o preenchimento. Para a análise dos dados foi realizada uma reespecificação de variáveis, explicada no tópico de análise (3.2.9), resultando em 10 novas variáveis. Em relação aos pressupostos utilizados para elaborar as questões, vale ressaltar que o estudo de Vasconcelos (2001) considerou apenas nove escolas da tipologia, excluindo a da Configuração. Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2003) utilizaram a tipologia completa. Nessa pesquisa, optou-se por utilizar também as 10 escolas, por considerar que, se por um lado a configuração reflete um pouco de cada escola, por outro sua abordagem contribui significativamente para detectar como ocorrem os processos de transformação e mudança organizacional. O questionário elaborado foi dividido em quatro blocos, da seguinte forma: • Bloco 1: consiste na caracterização da empresa: nome, tempo de existência, tipo, origem, setor, Faturamento Líquido Ajustado (FLA) e Resultado Líquido Ajustado (RLA) ; • Bloco 2: Dados do respondente (bloco incluído após realização do pré-teste); • Bloco 3: Questão aberta que busca investigar como as decisões estratégicas são formuladas e deliberadas na empresa; • Bloco 4: composto por trinta e três (33) questões fechadas a serem respondidas com base na Escala de Likert. As questões refletem as 10 escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), conforme descrito a seguir: ♦ Escola do Design – 3 questões (1 a 3) ♦ Escola do Planejamento – 4 questões (4 a 7) ♦ Escola do Posicionamento – 5 questões (8 a 12) ♦ Escola Empreendedora – 3 questões (13 a 15) ♦ Escola Cognitiva – 3 questões (16 a 18) ♦ Escola do Aprendizado – 4 questões (19 a 22) ♦ Escola do Poder – 2 questões (23 e 24) ♦ Escola da Cultura – 3 questões (25 a 27) ♦ Escola Ambiental – 3 questões (28 a 30) 108 ♦ Escola da Configuração – 3 Questões (31 a 33) A partir da definição da informação a ser colhida, buscou-se decidir pela melhor forma de aplicação do questionário. Malhotra (2001) ensina que uma vez construído e reproduzido o questionário, deverá ser realizado um pré-teste visando a eliminar possíveis defeitos na sua concepção. Gil (1991) defende o pré-teste como forma evidenciar possíveis falhas na redação do questionário, tais como: complexidade das questões, imprecisão na redação, questões desnecessárias, constrangimentos ao informante e exaustão, dentre outras. Tendo em vista o grande número de empresas da população, foi decidido que as entrevistas do pré-teste seriam feitas, pessoalmente, pela pesquisadora, enquanto que para as demais entrevistas poderia ser constituída equipe qualificada para aplicação. A aplicação do questionário ocorreu da seguinte forma: 1. Realização do pré-teste em 4 empresas da população definida para a pesquisa nessa etapa, a pesquisadora aplicou pessoalmente os questionários, tendo como respondentes componentes do nível estratégico da empresa, com domínio sobre o processo de formulação da estratégia. As empresas que participaram foram: Grendene (Indústria), Guanabara (Serviços), Pague Menos (Comércio) e UNIMED (Serviços), as quais se encontram entre as 14 maiores empresas do Ceará, conforme critérios do Prêmio Delmiro Gouveia 2003. Ressalte-se que para análise do pré-teste não foi utilizada análise fatorial, a metodologia baseou-se somente na Etapa 1 de análise, descrita no item 3.2.9. Vale ressaltar que a meta estabelecida para o pré-teste era de dez empresas. Diante da impossibilidade de obtenção de espaço na agenda dos executivos em tempo hábil para aplicação dos questionários (tendo em vista que alguns chegaram a marcar e desmarcar por mais de uma vez), optou-se por concluir o pré-teste com quatro empresas, objetivando não comprometer o cronograma do trabalho. 2. Realização dos ajustes provenientes do pré-teste - os respondentes das quatro empresas responderam com facilidade o questionário, tendo sido mencionadas apenas duas questões: ♦ Um dos respondentes citou a questão 14 como constrangedora (O líder maior é criativo, persuasivo e carismático). 109 ♦ Um dos respondentes mencionou que deveria haver um “concordo parcialmente” na escala de Likert, ressaltando porém, a facilidade de responder às questões. Tendo em vista que os demais respondentes não mencionaram novamente as questões acima, optou-se por não alterar o questionário. Houve alteração, porém, decorrente de percepção da pesquisadora, que no momento de tabular os dados sentiu falta dos dados do respondente, que não constavam no questionário inicial. Constava apenas o bloco “Caracterização da Empresa”. Acrescentou-se então o bloco “Dados do Respondente”, de forma possibilitando uma caracterização dos respondentes. 3. Aplicação dos questionários na população – uma das contribuições oriundas da aplicação do pré-teste foi a verificação das dificuldades de acesso aos dirigentes empresariais. Segundo Malhotra (2001), as maiores causas das baixas taxas de resposta são recusas e ausências. No caso dessa pesquisa, dentre os motivos principais destacaram-se dificuldades de horários, devido a agendas lotadas; falta de interesse em colaborar com pesquisas científicas pelo desconhecimento de seus benefícios e constrangimento em falar da estratégia da empresa com terceiros. A intenção inicial era que a pesquisadora aplicasse pessoalmente os questionários, mediante hora marcada com os executivos. Diante das dificuldades de acesso, observou-se que dessa forma o prazo não poderia ser cumprido. Assim, optou-se por dividir a aplicação dos questionários com o que se chamou de “rede de pesquisadores”, composta por 15 integrantes, com nível de graduação, especialização e mestrado, ficando cada um responsável por um lote de empresas, de forma que todas as empresas da população fossem abordadas. A estratégia utilizada foi cada integrante da rede entrar em contato com a(s) empresa(s) do seu lote para explicar o questionário e os objetivos da pesquisa e solicitar uma hora com dirigente máximo ou diretor. Alguns conseguiram hora com os dirigentes, tendo o questionário respondido instantaneamente; outros deixaram o questionário na empresa e retornaram depois para buscar; outros fizeram contato telefônico e enviaram o questionário por e-mail. É importante ressaltar que houve dirigentes que se mostraram interessados em colaborar, inclusive ligando para a autora para esclarecer alguns pontos, assim como houve 110 situações em que a autora ligou para o respondente, após o recebimento, para complementar informações. 4. Fechamento da amostra – até abril de 2004, data estipulada para o fechamento da amostra, 35 empresas haviam respondido. Tendo em vista que, conforme disposto na tabela 12, havia representatividade dos setores da amostra, em relação à população entendeu-se que o número obtido atendia ao propósito da pesquisa. 3.2.7 Determinação da população de pesquisa e técnicas de amostragem. Após a definição do tema e do problema da pesquisa, as atenções foram direcionadas para a escolha da população. A preocupação com a representatividade e credibilidade da população levou a um estudo minucioso de alternativas. Revisando Malhotra (2001), verifica-se que “população é o agregado, ou soma, de todos os elementos que compartilham algum conjunto de características comuns”. Tomando uma população, o pesquisador pode realizar um censo – enumeração completa dos elementos de uma população ou uma amostra – subgrupo de uma população, selecionado para a participação no estudo. Gil (1991) coloca que a dificuldade de abranger todo o universo consiste na razão pela qual em pesquisas sociais, freqüentemente, trabalha-se com uma amostra - “subconjunto da população, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características dessa população.” 3.2.7.1 Justificativa para a escolha da população e da amostra A população selecionada para a presente pesquisa compõe-se das 100 Maiores Empresas destacadas pelo Prêmio Delmiro Gouveia - Maiores e Melhores Empresas do Ceará-2003, que tem como órgão responsável a Bolsa de Valores Regional. “A idoneidade do Prêmio recebe a chancela de algumas das mais tradicionais instituições atuantes no Estado: Jornal O Povo, Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Sebrae, Faec, Fecomércio, Conselho Regional de Contabilidade e BICBanco” (BOLSA DE VALORES REGIONAL, 2003). 111 Para a escolha do Prêmio foram passíveis de avaliação pela Bolsa de Valores, todas as empresas integrantes do setor produtivo do Ceará (exceto as do setor financeiro). As empresas concorrentes tinham, obrigatoriamente, que enviar a demonstração contábil e o Balanço Social (conforme modelos padronizados pelo Prêmio), além de serem submetidas a três avaliações de desempenho para a escolha das melhores e maiores: a. Melhores empresas do ponto de seu desempenho econômico-financeiro; b. Melhores empresas do ponto de vista de seu desempenho social; e c. Maiores empresas, conforme se destacaram em tamanho num conjunto harmônico de itens (diferentemente do ano de 2002, cujo lucro líquido ajustado foi o terceiro item de avaliação). As premissas gerais que orientaram a aplicação das metodologias utilizadas foram: a. As análises tomaram sempre por base as informações oficiais inclusas nas demonstrações contábeis ou complementares elaboradas segundo os princípios contábeis geralmente aceitos, quer publicadas quer não; b. As metodologias de análise seguiram um modelo simples, mas tecnicamente seguro, que pudesse ser aplicado de forma uniforme a todas as empresas da base; c. Os números e as informações apresentadas em relação às demonstrações financeiras deveriam apresentar consistência entre si e com as mutações patrimoniais apresentadas nos balanços. Ressalte-se que na edição 2003 as empresas concorrentes ao Prêmio das maiores deveriam demonstrar essa grandeza numa cesta de aspectos relevantes e não apenas no faturamento. Embora este continue sendo um dos pontos de medição das maiores, as empresas, para obterem o prêmio, deveriam também ser maiores na geração de resultado líquido positivo, em volume de patrimônio líquido, na geração de empregos e na geração de impostos. Em resumo, na edição de 2003 as maiores empresas do Prêmio Delmiro Gouveia são aquelas que se mostraram consistentemente maiores no conjunto desses itens, sendo que o faturamento e a geração de resultados líquidos respondem por 70% do peso (50% e 20% respectivamente), e a geração de empregos, impostos e patrimônio líquido, respondem pelos 30% restantes (10% cada um). 112 Considerando a idoneidade das organizações que apóiam o Prêmio, bem como a criteriosa metodologia utilizada, inferiu-se ser esta uma boa escolha para a população da pesquisa. Nesse contexto, a população da pesquisa é formada pelas 100 maiores empresas conforme classificação do Prêmio Delmiro Gouveia 2003. As técnicas de amostragem, segundo Malhotra (2001) classificam-se, em geral, como: Não-probabilística – o pesquisador decide, arbitrária ou conscientemente, os elementos a serem incluídos na amostra. Probabilística – cada elemento da população tem uma chance conhecida e diferente de zero de ser selecionado para compor a amostra. A amostragem utilizada foi a não probabilística, por conveniência – aquela que procura obter uma amostra de elementos convenientes. A seleção das unidades amostrais é deixada a cargo do entrevistador. Não raramente os entrevistados são escolhidos por se encontrarem no lugar exato, no momento certo (MALHOTRA, 2001). Inicialmente, intencionava-se realizar um censo. Porém, por ocasião do pré-teste foram percebidas as dificuldades de acesso às empresas, evidenciando que a não garantia de resposta por parte das 100 empresas. Nesse contexto, acreditou-se ser a amostragem não probabilística, por conveniência um tipo de amostra adequado. A decisão de responder ou não o questionário dependia exclusivamente dos respondentes. Assim, se compôs a amostra selecionando as empresas que se dispuseram a responder o questionário. 3.2.8 Planejamento da coleta A pesquisa foi planejada para ocorrer entre abril e dezembro de 2003, tendo efetivamente ocorrido entre abril de 2003 e abril de 2004. Foram definidos, previamente, os seguintes parâmetros para a coleta: ♦ Os respondentes solicitados para preenchimento dos questionários/entrevistas foram componentes do nível estratégico da empresa, com domínio na formulação de estratégias, preferencialmente o principal executivo; 113 Pré-teste em dez empresas, tendo ocorrido em quatro; A aplicação dos questionários do pré-teste, feita pela própria pesquisadora; O prazo para a realização do pré-teste foi definido, inicialmente, de julho a setembro de 2003, tendo efetivamente ocorrido entre agosto e novembro de 2003, e O prazo para a aplicação dos questionários com a população foi, inicialmente, previsto para setembro a dezembro de 2003, tendo ocorrido de novembro de 2003 a abril de 2004. É importante ressaltar que os desvios nos prazos definidos foram devidos às dificuldades de acesso às empresas da população. 3.2.9 Análise dos dados Foram realizadas análises quantitativas, utilizando-se os softwares Excel e SPSS (Statistical Package for Social Sciences) e descrição qualitativa dos resultados obtidos. A análise consistiu de duas etapas: Etapa 1 – Confecção e análise de gráficos Reespecificação de variáveis A diretriz inicial para realização da análise fatorial, conforme Basilevsky (1999 apud MALHOTRA, 2001), é que deve haver ao menos quatro a cinco vezes mais observações (tamanho da amostra) do que variáveis. O autor afirma, em seguida, que em muitas situações esta relação é consideravelmente menor. A afirmação indica que tal relação é aconselhável, porém, não é obrigatória. Ressalte-se que a expectativa era conseguir, dentre as 100 empresas, um número de questionários respondidos que superasse a relação ideal de observações x variáveis, o que não foi possível devido a dificuldades já explicadas. Dessa forma, o passo inicial para o tratamento dos dados foi proceder à redução do número de variáveis do questionário, inicialmente 33 assertivas para as 10 escolas de formulação (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000), transformando-as em 10 variáveis representativas de cada uma das escolas. Para tanto, utilizou-se a reespecificação de variáveis, que envolve a transformação de dados para criar novas variáveis ou modificar 114 variáveis existentes, com a finalidade de criar variáveis consistentes com os objetivos do estudo (MALHOTRA, 2001). Depois de elaborada a reespecificação de variáveis passou-se a ter as seguintes variáveis: Design, Planejamento, Posicionamento, Empreendedora, Cognitiva, Aprendizado, Poder, Cultura, Ambiental e Configuração, resultando em uma relação de 3,5 observações por variáveis. Assim, a relação obtida ficou apenas um pouco (0,5) menor do que a sugerida por Basilevsky (1999 apud MALHOTRA, 2001), tornando a análise fatorial mais confiável. 2. Elaboração da Matriz de dados Uma vez realizada a reespecificação das variáveis estruturou-se a matriz de dados, construída com base nos questionários, contendo 35 linhas representando os executivos e 20 colunas, sendo 10 representando a caracterização das empresas e dos respondentes e 10 representando as variáveis reespecificadas (10 escolas). 3. Compatibilização entre pergunta não estruturada e perguntas estruturadas Buscou-se validar a consistência entre a resposta subjetiva (pergunta: “Como as decisões estratégicas são formuladas e deliberadas em sua empresa?”) e o resultado da escala de Likert, de forma a observar se o processo de formulação declarado coincide com a pontuação atribuída às assertivas do questionário. O objetivo desse passo foi identificar se há consciência por parte da organização da forma como suas estratégias são concebidas. Cada questionário foi avaliado, individualmente, pela pesquisadora mediante leitura da resposta subjetiva. Para o cruzamento com os resultados da Likert as respostas subjetivas foram enquadradas na seguinte classificação (Quadro 28): CÓD 1 2 3 CLASSIFICAÇÃO Alta Compatibilidade Média Compatibilidade Baixa Compatibilidade DESCRIÇÃO A escola que obteve maior pontuação na escala de Likert indicava o comportamento declarado pelo respondente. A escola compatível com a declaração do respondente não foi a maior, porém obteve pontuação a partir de 2,7 acima, na escala de Likert, retratando também um nível de influência. A escola que indicava o comportamento declarado pelo respondente obteve pontuação abaixo de 2,7. 115 Quadro 28: Classificação das respostas subjetivas do questionário. Fonte: autora, 2004. 4. Elaboração e análise descritiva dos gráficos Essa etapa consistiu no cruzamento dos resultados da Likert com os elementos do quadro 29, elaborando os gráficos correspondentes, visando à realização da análise descritiva do desempenho das empresas em função da influência das escolas de pensamento. GRÁFICO OBJETIVO Tempo de existência da Investigar se empresas mais antigas são influenciadas pelas escolas empresa x escolas de prescritivas, ou se as mais novas têm tendência inovadora. pensamento Setor x escolas Identificar se a ênfase em determinadas escolas varia de acordo com o setor de atuação. Resultados financeiros Identificar se as empresas com melhor desempenho financeiro praticam (FLA e RLA) x escolas conceitos das mesmas abordagens. Empresas (geral) x Identificar que escolas influenciam as empresas da amostra, como um todo. escolas Quadro 29: Objetivos dos gráficos elaborados. Fonte: autora, 2004. Etapa 2 – Análise Fatorial com rotação varimax (SPSS) No desenvolvimento da presente pesquisa - em especial, durante o levantamento bibliográfico - percebeu-se a predominância de análises qualitativas e descritivas nas pesquisas realizadas no Brasil. Tais análises são bastante importantes, contudo, entende-se que combinar a análise qualitativa com a quantitativa enriquece sobremaneira o trabalho. Com esse pensamento, optou-se por utilizar uma técnica quantitativa para dar suporte às análises descritivas. Análise fatorial, segundo Malhotra (2001), é “um nome genérico que denota uma classe de processos utilizados essencialmente para redução e sumarização dos dados”. Pode ser utilizada para “simplesmente reduzir o número de variáveis a um conjunto mais fácil de manipular”, retendo o máximo de informação possível (AAKER, KUMAR e DAY, 2001). A motivação para utilizar a análise fatorial com rotação varimax nessa pesquisa, iniciou com o estudo do trabalho de Vasconcelos (2001), que utilizando a técnica propôs um novo 116 modelo conceitual que retrata a composição de um conjunto de escolas em vez de uma abordagem única, oriunda da prática das empresas da amostra. A presente pesquisa tem como uma de suas hipóteses que “as empresas não adotam única escola e sim uma composição de escolas, conforme seu contexto”. O aprofundamento no estudo das 10 escolas de formulação estratégica de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e a constatação da relação de complementaridade existente entre elas reforçaram o pensamento que embasou a elaboração de tal hipótese. Se por um lado Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) afirmam que “somos cegos e a formulação da estratégia é nosso elefante”, Vasconcelos (2001) diz que empresários compõem seu próprio animal (Ornitorrinco), mesclando as escolas que lhes forem convenientes para formular suas estratégias. Entende-se que Vasconcelos (2001) está correto em sua afirmação. A utilização isolada de uma única escola é inviável, principalmente se for considerada a necessidade de se agir diante das mudanças constantes que são impostas às organizações atualmente. Seguindo o raciocínio exposto, optou-se pela análise fatorial por se acreditar ser esta uma técnica adequada para a reelaboração conceitual do modelo de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), com base na prática empresarial da amostra pesquisada, ampliando para o Ceará a pesquisa de Vasconcelos (2001). Acredita-se que a técnica contribuiu para complementar e validar os cruzamentos realizados na 1a. etapa das análises, descrita anteriormente. Justifica-se assim a escolha da técnica de análise fatorial para este trabalho. Antes da realização da análise fatorial foi feito o teste do Alfa de Cronbach, que mede a confiabilidade da escala de Likert. Esse coeficiente varia de 0 a 1, sendo que um valor acima de 0,6 confirma a consistência interna da escala, indica Malhotra (2001). O resultado do Alfa (0,68) atestou confiabilidade da escala utilizada nessa pesquisa (quadro 30). ANÁLISE DE CONFIABILIDADE DA ESCALA (ALFA DE CRONBACH) COEFICIENTE DE CONFIABILIDADE Número de casos = 35,0 Número de itens = 10 Alfa = ,6822 Quadro 30: Cálculo do Alfa de Cronbach. Fonte: SPSS – dados da pesquisa. 117 Procedeu-se, então, à análise fatorial, utilizando o software SPSS. Conforme Malhotra (2001), a análise fatorial compõe-se de vários passos, os quais estão enumerados a seguir, sendo explicados aqueles não mencionados anteriormente. 1. Formulação do problema e identificação das variáveis a serem analisadas. 2. Construção da matriz de correlação. 3. Determinação do método de análise fatorial. Foi utilizado o método da análise de componentes principais, recomendado quando a preocupação maior é determinar o número mínimo de fatores que respondem pela máxima variância nos dados. Os fatores são chamados de componentes principais (MALHOTRA, 2001). O fator mais informativo é o primeiro, com a máxima variância explicada e o menos informativo é o último (AAKER, KUMAR e DAY, 2001). 4. Determinação do número de fatores. Para resumir as informações contidas nas variáveis originais, deve-se extrair um número menor de fatores. Para tanto, foi utilizada a abordagem do eigenvalue (autovalor), que representa a variância total explicada por cada fator. Foram retidos, apenas, fatores com autovalores superiores a 1,0, sendo os demais excluídos do modelo. 5. Rotação dos fatores. A matriz de fatores contém os coeficientes utilizados para expressar as variáveis padronizadas em termos de fatores. Esses coeficientes (cargas fatoriais) representam a correlação entre fatores e variáveis. Um coeficiente com valor absoluto grande indica que o fator e a variável estão estreitamente ligados. Essa indicação subsidia a interpretação dos fatores. Contudo, a matriz não rotada, embora indique a relação entre os fatores e as variáveis individuais, raramente resulta em fatores passíveis de interpretação, tendo em vista que estes são correlacionados com muitas variáveis. Por essa razão é feita a rotação dos fatores, para que a matriz se torne mais simples e fácil de interpretar. Para a rotação dos fatores foi escolhido o processo varimax – método ortogonal de rotação que minimiza o número de variáveis, com altas cargas sobre um fator, facilitando sua interpretação. Assim, as 10 escolas foram agrupadas em 4 dimensões, conforme suas similaridades, representadas pelas cargas dos fatores. 6. Interpretação dos fatores. Definidas as quatro novas dimensões foi feita uma análise descritiva do agrupamento das escolas nas referidas dimensões. 118 3.3 Resultados do Pré-teste De posse dos questionários respondidos, procedeu-se à consolidação e análise dos dados, com vistas a tirar as primeiras conclusões acerca do tema. Inicialmente, buscou-se compor uma caracterização geral das empresas, com base nas respostas dos questionários, recorrendo-se também às páginas eletrônicas das empresas. Em seguida, realizou-se a tabulação dos dados para analisar como as empresas do pré-teste utilizam as premissas das 10 Escolas de pensamento de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). a) Caracterização das Empresas do Pré-teste NOME TIPO ORIGEM Grendene Calçados Matriz Outro estado brasileiro Pague Menos Matriz Local Expresso Guanabara SA UNIMED SETOR CLASSIF. No. PRÊMIO I 4a. (144,8) C Matriz Local FLA (milhões de reais) 501 – 1 bilhão RLA (+) < 10 13a. (130,10) 101 – 500 < 10 8a. (136,4) 50 – 100 < 10 14a. (129) 101 – 500 < 10 S Matriz Outro Estado brasileiro I- Indústria; C-Comércio; S-Serviços S RESPONDENTE Gerente Industrial Diretor de Relações Institucionais Gerente Divisão de Cargas Diretor de Marketing Tabela 1: Caracterização das Empresas - Geral. Fonte: Dados da Pesquisa. TIPO ORIGEM Matriz Não-Matriz 4 0 Local 2 Outro Estado brasileiro 2 SETOR I FLA (milhões de reais) C S A 501 – 1 bilhão 1 1 2 0 RLA < 10 (+) 101 – 500 50 – 100 1 2 1 4 Tabela 2: Caracterização das Empresas - Consolidação. Fonte: dados da Pesquisa. Conforme mostram as tabelas 1 e 2, o pré-teste foi aplicado em empresas de Indústria, Comércio e Serviços. Não foi possível incluir na amostra empresas de agronegócios tendo em vista a impossibilidade de acesso em tempo hábil. As quatro empresas são matrizes, sendo que duas com origem local e duas com origem em outro estado brasileiro. Uma encontra-se na faixa de Faturamento Líquido Ajustado (FLA) entre 501 milhões e 1 bilhão; duas encontram- 119 se na faixa de 101 – 500 milhões e uma tem seu FLA entre 50 – 100 milhões. Serão descritos a seguir, os resultados individuais de cada uma das empresas pesquisadas no pré- teste. b) Resultados Individuais Empresa 1: Grendene Calçados (Indústria) Classificada em 4º lugar pelo Prêmio Delmiro Gouveia Maiores Empresas – 2003, com faturamento líquido ajustado de R$ 866.355.176,25 e resultado líquido de R$ 2.204.444,09. Conforme informações constantes no site da empresa (www.grendene.com.br), encontra-se em 1º lugar no ranking nacional, incluindo a Vulcabrás e a Reebok Brasil. Possui cinco unidades em Farroupilha (RS), seis em Sobral (CE), duas em Fortaleza (CE), uma em Crato (CE), e uma em Carlos Barbosa (RS). Empresa de capital fechado - cujo controle pertence aos irmãos Alexandre e Pedro Grendene Bartelle - possui 15.596 funcionários e foi fundada em há 32 anos, na cidade de Farroupilha, onde tem sede até hoje. Conforme informações do gerente industrial, tendo como foco o cliente, as decisões estratégicas da Grendene são tomadas levando em consideração produto, mercado e tecnologia. São deliberadas dentro de uma estrutura organizacional de chefia muito enxuta e sem burocracias a fim de ganhar agilidade. Ressalta que a empresa é “tão simples que não há nada que não possa ser resolvido numa conversa de corredor ou com um telefonema”. A empresa investe fortemente em tecnologia e renova com freqüência seu parque fabril, além de participar sempre de feiras e eventos no ramo. O comportamento da Grendene, segundo as 10 escolas de pensamento de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), encontra-se descrito na tabela 3 e no gráfico 1. ESCOLA GRENDENE DESIGN 3,7 POSICIONAMENTO 3,0 APRENDIZADO 3,0 PLANEJAMENTO 2,8 EMPREENDEDORA 2,7 AMBIENTAL 2,7 PODER 2,5 COGNITIVA 2,3 120 ESCOLA GRENDENE CULTURAL 2,0 CONFIGURAÇÃO 2,0 Tabela 3: Classificação Grendene. Fonte: dados da pesquisa. Gráfico 1: Comportamento da Grendene por escola de pensamento. Fonte: pesquisa. Os resultados da Grendene mostram que as escolas prescritivas estão à frente da formulação da estratégia da empresa. A escola do Design surge em primeiro lugar o que reforça a afirmação do respondente de que as decisões estratégicas são tomadas em uma estrutura organizacional de chefia enxuta e sem burocracias, o que dá margem para se acreditar que predominem as idéias do executivo principal. O fato de ser uma empresa familiar também favorece tal tendência. Em segundo lugar, aparecem as escolas de Posicionamento e Aprendizado. Considerando tratar-se de empresa sólida com espaço definido no mercado em que atua, a ênfase na escola do Posicionamento parece bastante coerente. A escola do Aprendizado, por sua vez, fica deslocada no topo dos resultados. Ficaria mais fácil imaginar o aprendizado ocorrendo na média gerência ou no “chão de fábrica”, mas não influenciando a formulação da estratégia. 121 À primeira vista parece contraditório que sejam apontadas como as mais influentes as escolas de Design - em que o executivo principal é o grande estrategista da organização ao lado da escola de Aprendizado – em que o líder não concebe estratégias e sim gerencia o processo de aprendizado estratégico para a emergência de novas estratégias. Seria necessária uma análise mais aprofundada para compreensão deste ponto. Em terceiro lugar vem a escola do Planejamento. A Grendene consiste numa indústria estável, experiente e compatível com planejamento. O resultado, porém, não se mostra alinhado com a afirmação de que “não há nada que não possa ser resolvido numa conversa de corredor ou com um telefonema”. Em quarto lugar aparecem, com pontuação bem próxima a anterior (2,7), as escolas Empreendedora e Ambiental. O empreendedorismo e a inovação são características da Grendene, sempre lançando novidades. É de se estranhar que a escola empreendedora não tenha recebido pontuação maior, porém ainda se mostra influente. Atenção ao ambiente também é necessária, no caso, por exemplo, de oscilações de petróleo, a estratégia pode ser alterada, tendo em vista que a empresa utiliza seus derivados para produzir sandálias. O aparecimento da escola ambiental nesta posição está de acordo com a atividade da empresa, a qual deve estar atenta ao ambiente visando a acompanhar a disponibilidade de recursos com que conta (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). Variando de 2,5 a 2, foram pontuadas as escolas, Poder, Cognitiva, Cultural e Configuração. A pontuação mostra que, de forma homogênea, as referidas escolas possuem pouca influência na formulação da estratégia da Grendene. Empresa 2: Empreendimentos Pague Menos (Comércio) Obteve 13o. lugar entre as maiores empresas e 4o. lugar em desempenho social da categoria grandes empresas. Com faturamento líquido ajustado de R$ 486.882.215,28 e resultado líquido de 1.570.567,59 em 2003, consiste na primeira rede do país no setor de farmácias, com 220 lojas em diversos Estados, sendo 83 no Ceará. A empresa, com 22 anos de existência, tem como base o tripé (www.paguemenos.com.br). “conveniência, inovação e cidadania” 122 Sobre as decisões estratégicas da empresa, o diretor de relações institucionais declarou a existência de todo um processo interno, que sofre influências externas. Quando necessário para equalizar o planejamento, contrata empresa específica para a finalidade. Em pelo menos duas ocasiões ao ano, reúne o corpo diretivo de toda abrangência geográfica para discutir rumos (estratégia). Os resultados da Pague Menos constam na tabela 4 e no gráfico 2. ESCOLA EMPREENDEDORA POSICIONAMENTO DESIGN PLANEJAMENTO CULTURAL AMBIENTAL CONFIGURAÇÃO APRENDIZADO COGNITIVA PODER PAGUE MENOS 4,0 3,7 3,0 2,8 2,7 2,5 2,3 2,0 2,0 1,5 Tabela 4: Classificação Pague Menos. Fonte: dados da pesquisa. A Pague Menos mostrou como mais influente a Escola Empreendedora, o que está compatível com o desempenho da empresa que possui perfil inovador. Um exemplo disso é que, nascida no Ceará, a Pague Menos foi a primeira no setor farmacêutico a se expandir para diversos Estados. Outro ponto que mostra o caráter visionário e empreendedor da empresa é que iniciada no setor de comércio a Pague Menos tem se especializado cada vez mais em serviços conquistando seu espaço neste setor. Em seguida aparecem, uma após a outra, as escolas prescritivas – posicionamento, design e planejamento, o que vem a contrastar com do destaque empreendedor. Considerando que a Pague Menos declarou reunir em pelo menos duas ocasiões ao ano o corpo diretivo de toda abrangência geográfica para discutir rumos (estratégia), seria mais compatível que a escola do Planejamento se destacasse com uma influência maior. Também parece estranho que a escola da Cultura venha em seguida, com apenas 0,1 de pontuação a menos que o Planejamento. 123 Gráfico 2: Comportamento da Pague Menos por escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. Entre 2,5 e 2 encontram-se as escolas Cultural, Ambiental, Configuração, Aprendizado e Cognitiva, com pontuação bem aproximada. Finalmente, a escola do Poder aparece como a menos influente no processo de formulação estratégica da Pague Menos. Empresa 3: Expresso Guanabara S/A (Serviços) Classificou-se em 8º lugar entre as maiores empresas e 3º lugar em desempenho social da categoria grandes empresas, com faturamento líquido ajustado de R$ 95.878.672,03 e resultado líquido ajustado de 8.669.367,02, em 2003. “Transporte de pessoas, por via rodoviária, sob um novo conceito”, com esta máxima, a empresa surgiu há 11 anos, atuando nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, e interligando as principais capitais e cidades destas regiões. Busca estar sintonizada com tecnologias de ponta em mecânica, design e conforto, investindo sempre na capacitação de seu quadro funcional. Destaca o serviço de transportes de Cargas e Encomendas, implantado em 1995 como modelo de referência do setor no Norte/Nordeste. Sua área de atuação abrange Ceará, Piauí, Maranhão, Paraíba, Distrito Federal, Goiás, Pará, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. (www.expressoguanabara.com.br). 124 A respeito das decisões estratégicas a empresa declarou que trabalha com equipes autogerenciadas, em que cada membro do grupo participa de acordo com suas experiências e capacidades. A tabela 5 e o gráfico 3 mostram como as escolas de formulação estratégica influenciam a Guanabara. Escola GUANABARA EMPREENDEDORA 3,7 DESIGN 3,7 POSICIONAMENTO 3,5 APRENDIZADO 3,5 PLANEJAMENTO 3,0 AMBIENTAL 3,0 CULTURAL 3,0 COGNITIVA 3,0 PODER 2,5 CONFIGURAÇÃO 2,0 Tabela 5: Classificação Guanabara. Fonte: dados da pesquisa. O resultado da escala de Likert aponta as escolas Empreendedora e Design como “carro-chefe” do processo de formulação da estratégia da Guanabara, ambas com 3,7. Gráfico 3: Comportamento da Guanabara por escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. 125 Apesar de serem respectivamente prescritiva e descritiva as escolas Empreendedora e Design guardam entre si o ponto comum de terem foco no líder. Posicionamento e Aprendizado surgem em seguida, bem próximos das anteriores, com 3,5 cada uma. Pontuadas com 3,0 ficaram as escolas Planejamento, Ambiental, Cultural e Cognitiva. As escolas que demonstraram ser pouco influentes na Guanabara foram a do Poder (2,5) e a da Configuração (2,0). Os resultados mostram que oito escolas influenciam o processo de formulação da empresa, variando entre 3,7 e 3,0. A combinação mescla escolas prescritivas com descritivas, centralizadoras e participativas, mostrando um equilíbrio na utilização de abordagens na formulação da estratégia da Guanabara. Empresa 4: Unimed (Serviços) Situada em 14o lugar entre as maiores empresas a Unimed funciona em regime de cooperativa e tem 25 anos de existência, com 11 unidades distribuídas por todo o Estado do Ceará. A empresa obteve, em 2003, um faturamento líquido ajustado de R$ 311.484.745,46 e um resultado líquido ajustado de R$ 7.915.251,40. O cooperativismo de trabalho médico Unimediano tem como objetivos principais: (1) motivar economicamente seus cooperados médicos e somar esforços para preservá-los no mercado competitivo como autônomos e liberais; (2) preservar e estimular a prática da livre escolha por parte da clientela, outro pilar ético-tradicional da profissão-médica; e (3) sempre levar os preceitos tradicionais da ética médica para a prática de mercado da assistência médica suplementar (www.unimed.com.br). Quanto às decisões estratégicas o respondente colocou os seguintes pontos: • Semanalmente há reunião do Conselho Administrativo, que se compõe dos diretores e conselheiros da Unimed Fortaleza. • Os pareceres dos gerentes são sempre registrados nas citadas reuniões. • Possui planejamento estratégico anual, com orçamento geral. 126 Os resultados da Unimed estão descritos na tabela 6 e no gráfico 4. Escola UNIMED EMPREENDEDORA 4,0 PLANEJAMENTO 3,8 POSICIONAMENTO 3,6 DESIGN 3,3 AMBIENTAL 3,3 CONFIGURAÇÃO 3,3 APRENDIZADO 3,0 CULTURAL 3,0 PODER 2,5 COGNITIVA 2,3 Tabela 6: Classificação Unimed.Fonte: dados da pesquisa Gráfico 4: Comportamento da Unimed por escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. A escola Empreendedora surge novamente em primeiro lugar com 4,0. Em se tratando, porém, de uma cooperativa, cujas decisões estratégicas são tomadas em Conselho Administrativo, conforme informado pelo entrevistado e ainda por tratar-se de empresa com planejamento estratégico anual parece lógico que tal empreendedorismo seja apoiado pela escola do Planejamento que aparece com 3,8, como uma das mais influentes. 127 A proximidade entre Empreendedorismo e Planejamento está compatível com a afirmação de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) que “a estratégia empreendedora é, ao mesmo tempo, deliberada e emergente: deliberada em suas linhas amplas e seu senso direção, emergente em seus detalhes para que estes possam ser adaptados durante o curso”. Em terceiro lugar, está a escola do Posicionamento com 3,6 seguida de Design, Ambiental, Configuração, Aprendizado e Cultural, todas com 3,0, ficando as escolas do Poder e Cognitiva, como as menos influentes. Postos os resultados e análises individuais, será apresentado, a seguir, o resultado geral do pré-teste (tabela 7 e gráfico 5). b) Resultado Geral ESCOLA EMPREENDEDORA POSICIONAMENTO DESIGN PLANEJAMENTO APRENDIZADO AMBIENTAL CULTURAL COGNITIVA CONFIGURAÇÃO PODER EMPRESA GERAL GRENDENE GUANABARA PAGUE MENOS UNIMED 2,7 3,7 4,0 4,0 3,6 3,0 3,5 3,7 3,6 3,4 3,7 3,7 3,0 3,3 3,4 2,8 3,0 2,8 3,8 3,1 3,0 3,5 2,0 3,0 2,9 2,7 3,0 2,5 3,3 2,9 2,0 3,0 2,7 3,0 2,7 2,3 3,0 2,0 2,3 2,4 2,0 2,0 2,3 3,3 2,4 2,5 2,5 1,5 2,5 2,3 Tabela 7: Escolas mais utilizadas - Resultado Geral. Fonte: dados da pesquisa Escala: NA – Não se aplica; 4 – Concordo Totalmente; 3 – Concordo; 2 – Discordo; 1 – Discordo Totalmente 128 Gráfico 5: Resultado das empresas do Pré-Teste por Escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. O resultado Geral mostra a escola Empreendedora como a mais influente no processo de formulação de estratégia das empresas submetidas ao pré-teste tendo ficado à frente em três das quatro empresas do pré-teste. A tendência reflete, em uma análise primária, a necessidade de inovação percebida pelas empresas, que pode ser associada à competitividade que reina no ambiente empresarial contemporâneo. Inferências mais precisas, contudo, somente serão possíveis ampliando-se a amostra. Bem aproximadas encontram-se as escolas de Posicionamento e Design, também centradas na figura do executivo principal, o que mostra uma tendência mais individualista do que coletiva na tomada de decisão de tais empresas. Vale ressaltar que das dez escolas, sete ficaram acima de 2,7 decrescendo de 3,6 a 2,7 com pequena diferença entre uma e outra. Isso significa que não há uma única escola predominante, individualmente, nem no resultado geral do pré-teste. Conclui-se, então, que há uma utilização variada e combinada das escolas, ficando as escolas Cognitiva, Configuração e Poder identificadas como de pouca influência no resultado geral. As distorções e incompatibilidades identificadas, a exemplo de escolas com pressupostos contraditórios estarem com pontuação igual ou aproximada, merecem uma análise mais minuciosa, realizada na análise da amostra selecionada para a pesquisa. Acredita- 129 se que o objetivo do pré-teste, ou seja, validação do instrumento de coleta de dados (questionário), foi atendido a contento, tendo o instrumento sido ajustado conforme sugestões e percepções decorrentes desta etapa. CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA 130 Depois de encerrado o período máximo para recebimento dos questionários, procedeuse análise dos resultados. As inferências realizadas encontram-se descritas neste capítulo. Visando a contextualizar o ambiente da pesquisa, será realizada inicialmente uma abordagem sobre os tipos de organizações pesquisadas, bem como o cenário econômico em que se encontram. Em seguida, serão apresentados os resultados da análise. 4.1 Ambiente da Pesquisa O ano de 2003 pode ser considerado para economia brasileira como um ano de ajustes e correção, e não de crescimento, registrando conquistas e frustrações (GOVERNO DO CEARÁ-SEPLAN-CE, 2004). A trajetória declinante da inflação e os excelentes resultados atingidos pelo setor externo (em especial, as exportações) retratam avanços alcançados. Por outro lado, a não retomada do crescimento econômico, a não recuperação do poder aquisitivo da população (com rendimento real declinante) e o nível de desemprego, ainda em patamares desfavoráveis, consistem em exemplos de frustrações. Ressalte-se que no tocante às exportações, o crescimento da demanda externa - ainda que favorável - não foi suficiente para contornar a retração da demanda interna, inibindo intensamente o crescimento da economia em 2003. Em 2002, o volume de riqueza gerado pela economia estadual foi 0,72% maior que em 2000, ano de maior crescimento registrado nos últimos oito anos (GOVERNO DO CEARÁSEPLAN-CE, 2003). Ocorre que as turbulências enfrentadas pela economia brasileira, sobretudo no segundo semestre de 2002, tais como a elevação da taxa de juros e desvalorização do real, aliada a dificuldades enfrentadas também no plano local, como a redução da atividade de algumas indústrias importantes (construção civil, têxtil e vestuário e artefato de tecido), levaram a economia cearense a um desempenho favorável em 2003 (GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004). De acordo com estimativas preliminares realizadas pelo IPECE, o PIB estadual experimentou, em 2003, uma redução de 0,8%, comparativamente ao ano de 2002. Em nível de Brasil, o PIB a preços de mercado, que inclui os impostos menos os subsídios, registrou uma queda de 0,2% contrariando a previsão de crescimento de 0,4% para 2003. 131 A indústria total acusou uma queda de -3,8%, em 2003 sobre 2002. O desempenho negativo decorreu dos resultados das indústrias de construção civil, extrativa mineral e de transformação com taxas de -8,7%, -3,4 e -1,5%, respectivamente, enquanto que a indústria de utilidade pública, energia, água e gás registrou taxa anual positiva de 10,9% sobre 2002. Este resultado foi influenciado pelo aumento verificado no consumo de energia elétrica (7,0%), no volume de água faturada (3,0%) e no consumo de gás natural (61,2%), segundo dados publicados no documento Conjuntura econômica do ceará (GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004). A pesquisa “Indicadores Industriais” (FIEC, 2003), mostra que a influência da sazonalidade observada nos últimos dois meses de 2003, provocou queda na atividade industrial dos setores têxteis, calçados, vestuário e química. O comportamento da indústria, no segundo semestre de 2003, frustrou as expectativas da economia cearense de fechar o ano com taxa positiva. O resultado observado contraria a tendência histórica de maior dinamismo na economia no segundo semestre de cada ano - em nível local e nacional - movido pelas comemorações de final de ano, injeção de recursos advindo do pagamento do 13o. salário, gratificações, dentre outras fontes (GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004). Durante o primeiro trimestre de 2004 a indústria manufatureira cearense apresentou uma visível desaceleração de suas atividades, comparativamente ao nível observado nos últimos três meses do ano passado. O resultado evidencia a natural queda sazonal no primeiro trimestre em relação ao quarto, o que se confirma comparando o nível de atividade registrado no primeiro trimestre de 2003, em que se observa uma clara estabilidade, que reforça a idéia de que a desaceleração registrada de janeiro a março do corrente ano representa um movimento tipicamente sazonal. Em relação ao setor de comércio foram registradas ao longo do ano de 2003, taxas negativas nas vendas reais do varejo, com exceção do mês de dezembro que registrou um aumento de 3,29% relativo a dezembro de 2002, acumulando em 2003 um faturamento real de 5,92%, menor que o obtido em 2002. O desempenho do comércio varejista cearense em 2003 vem seguindo a mesma tendência declinante verificada no comércio em nível nacional, que obteve queda de 3,68% sobre 2002. Da mesma forma, no comércio exterior, o Ceará acompanhou a trajetória nacional que foi de crescimento. A balança comercial apresentou um saldo positivo de US$ 220,2 milhões em função das exportações que cresceram 39,9% em 2003 sobre 2002, atingindo um valor recorde de US$ 760,9 milhões. Por seu turno, as importações decresceram em 14,96% no mesmo período, totalizando um valor de US$ 540,8 132 milhões. Este resultado deveu-se, sobretudo, ao desempenho das exportações de produtos industrializados que alcançaram o valor de US$ 498,7 milhões, significando um crescimento de 48,58% e representando cerca de 65,5% do total exportado pelo Estado. Os produtos básicos com menor participação (34,5%), totalizaram uma receita de US$ 254,3 milhões: 29,0% a mais que o valor total exportado em 2002. Os empresários cearenses não somente diversificaram seus produtos, mas também ampliaram o número de parceiros com a conquista de novos mercados (GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004). Quanto ao setor de serviços, o PIB a preços básicos apresentou uma taxa positiva de 0,1%, em 2003 sobre 2002, embora pequena, a taxa positiva contribuiu para evitar uma queda mais acentuada no PIB total, tendo em vista que os serviços pesam em torno de 56%. Foram destaques no ano com resultados positivos, os segmentos de alojamento e alimentação (3,6%), e aluguéis (0,2%). O desempenho do setor serviços não foi positivo, em função de quedas verificadas em transportes (-8,9%), comércio (-4,6%) e comunicação (-1,6%), conforme dados do IPECE (GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004). A agropecuária cearense fechou o ano com uma taxa positiva de 6,4%, tendo o resultado sido influenciado pelas lavouras, uma vez que a produção animal registrou queda na avicultura de 15%. A análise do comportamento da oferta de grãos de 2003, conforme estimativa do IBGE – Levantamento Sistemática de produção Agrícola (apud GOVERNO DO CEARÁ-IPECE, 2004), mostra que a produção de grãos do Ceará indicou um incremento de 16,12%, passando de 931 para 1.088 mil toneladas de grãos, constituindo-se na maior safra desde 1947. No segmento da fruticultura, o crescimento de 2003 em relação a 2002 foi de 8,91%, passando de 897 mil toneladas de frutos para 977 mil toneladas, com uma área plantada de 463 mil hectares em 2003. A avicultura fechou o ano de 2003 com uma produção de 101,47 mil toneladas, sendo esta 15% menor do que o ano de 2002 (119,52 mil toneladas). Quanto a carcinicultura cearense, foi exportado no 4o. trimestre/2003 um volume de 4.952 mil toneladas, significando uma variação positiva de 22,73% sobre 2002. Os dados apresentados mostram que o ano de 2003 não foi fácil para o empresariado cearense. Dos quatro setores pesquisados, indústria, comércio e serviços registraram quedas. O setor de agropecuária foi exceção, tendo fechado o ano com taxa positiva. As dificuldades registradas, em nível nacional e local, indicam a necessidade de estratégias eficazes que levem 133 as empresas a superar desafios e contornar o panorama econômico que não tem se mostrado fácil. 4.2 Análise dos Resultados A análise dos resultados encontra-se dividida em blocos, seguindo a seqüência do questionário. Serão apresentadas as freqüências e análises que possibilitaram a resposta das questões e hipóteses da pesquisa. A amostra compõe-se de 35 empresas da população das 100 maiores empresas do Estado do Ceará. Ressalte-se que 65,71% das empresas da amostra estão entre as 50 maiores (vide anexo I). A apresentação dos resultados iniciará com a caracterização das empresas pesquisadas, seguida da caracterização dos respondentes, em que serão mostradas as freqüências que subsidiaram as análises. Os próximos tópicos mostrarão, respectivamente, as análises descritas explicadas na metodologia (item 3.2.9), ou seja, cruzamento de empresas x escolas utilizando os resultados da escala de Likert e novo modelo conceitual elaborado a partir da análise fatorial. 4.2.1 Caracterização das empresas pesquisadas Dentre as empresas pesquisadas, quanto ao tempo de existência, 14 empresas (40%) estão entre as mais novas da amostra, com até 20 anos; 16 empresas (45,71%) possuem entre 21 e 50 anos; apenas 1 (2,86%) possui mais de 50 anos e 4 (11,43%) não responderam, conforme mostra a tabela 8. Faixa 1 2 3 4 5 Tempo de existência (anos) Freqüência % 0-20 14 40,00 21-30 6 17,14 31-40 7 20,00 41-50 3 8,57 mais de 50 1 2,86 Não responderam 4 11,43 Total 35 100,00 Tabela 8: Distribuição das empresas por tempo de existência das empresas. Fonte: dados da pesquisa. Quanto ao tipo, as empresas são predominantemente matrizes. Apenas duas (5,71%) classificam-se em “não-matriz”. Uma empresa não respondeu a essa pergunta (tabela 9). 134 Tipo da empresa Freqüência % Matriz 32 91,43 Não matriz 2 5,71 Não responderam 1 2,86 Total 35 100,00 Tabela 9: Distribuição das empresas por tipo. Fonte: dados da pesquisa. Empresas locais também predominam na amostra, consistem em 28 representando 80%. As provenientes de outro Estado somam cinco (14,29%), e apenas uma (1,86%) tem origem estrangeira. Uma empresa não respondeu a essa pergunta (tabela 10). Origem da empresa Freqüência % Local 28 80,00 Outro estado 5 14,29 Estrangeira 1 2,86 Não responderam 1 2,86 Total 35 100 Tabela 10: Distribuição das empresas por origem. Fonte: dados da pesquisa. Foram pesquisadas empresas de quatro setores de atividade, dentre os quais a maior representatividade é da indústria - 17 empresas (48,57%). Em segundo lugar ficou o setor de serviços, com 12 empresas (34,29%). O comércio surge em seguida, representado por quatro empresas (11,43%). Em quarto lugar aparece o setor de agronegócios com duas empresas (5,71%) (tabela 11). Setor de atividade Freqüência % Indústria 17 48,57 Serviços 12 34,29 Comércio 4 11,43 Agronegócios 2 5,71 Total 35 100,00 Tabela 11: Distribuição das empresas por setor. Fonte: dados da pesquisa. À primeira vista, o percentual de empresas de agronegócios (2%), por exemplo, parece pouco representativo, contudo é importante observar que em relação à população das 100 empresas do Prêmio Delmiro Gouveia o setor de agronegócios representa apenas 8%. Considerando-se a existência de análises realizadas por setor, é importante que fique clara a 135 representatividade dos setores respondentes em relação aos respectivos setores na população da pesquisa, razão pela qual foi elaborada a tabela 12. 100 empresas % questionários por setor 35 empresas Prêmio Delmiro em relação às 100 amostra Gouveia empresas Serviços 27 12 44,44 Indústria 51 17 33,33 Comércio 14 4 28,57 Agronegócios 8 2 25,00 Total 100 35 Tabela 12: Representatividade da amostra por setor em relação à população da pesquisa. Fonte: dados da Setor de atividade pesquisa. Conforme mostra a tabela 12, o setor de serviços foi o mais bem representado pela amostra com 44,44%. O setor de indústria, embora seja aquele que apresenta a população maior de empresas, ficou em segundo lugar na amostra colhida, com 33,33%. Em terceiro lugar, ficou o comércio que apresentou 28,57%; bem próximo do setor de agronegócios, com 25%. Considera-se, então, que os setores estão representados de forma equilibrada, sem grandes distorções para qualquer setor. Conforme explicado anteriormente, os resultados financeiros foram responsáveis por 70% do peso para a classificação das 100 Maiores Empresas. Assim, inferiu-se ser importante analisar se há uma ou mais escolas de pensamento que predominem na prática das empresas com maiores ou menores resultados financeiros. Nessa ótica, buscou-se conhecer a situação do faturamento líquido ajustado (FLA) e do resultado líquido ajustado (RLA), o que subsidiará a realização de análises. As tabelas 13 e 14 mostram as respectivas freqüências, constantes na listagem divulgada pelo Prêmio Delmiro Gouveia (2003) (anexo I). Faturamento líquido ajustado (FLA) Freqüência % R$ milhões de reais 1 Maior que 1 bilhão 1 2,86 2 De 501milhões a 1 bilhão 1 2,86 3 De 101 a 500 milhões 8 22,86 4 De 50 a 100 milhões 6 17,14 5 Menor que 10 milhões 19 54,29 Total 35 100,00 Tabela 13: Distribuição das empresas por FLA. Fonte: Dados da pesquisa. Faixa 136 Percebe-se que as faixas de FLA 1 e 2 são pouco representativas, ficando apenas com uma empresa, cada. As faixas 3 e 4 comportam 8 e 6 empresas, respectivamente. A grande concentração ficou na faixa 5, em que 19 empresas apresentaram FLA até 10 milhões. Resultado líquido ajustado (RLA) Freqüência % R$ milhões de reais 1 Maior que 100 milhões 1 2,86 2 de 51 a 100milhões 0 3 de 11 a 50 milhões 3 8,57 4 de 0 a 10 milhões 19 54,29 5 de 0 a -1 milhão 6 17,14 6 de ( -1) a (-10) milhões 3 8,57 7 menor que (-10) milhões 3 8,57 Total 35 100,00 Tabela 14: Distribuição das empresas por RLA. Fonte: dados da pesquisa. Faixa Em relação ao RLA a faixa um, com apenas uma empresa, também é pouco representativa. As faixas três, seis e sete compõem-se de três empresas, cada. A faixa cinco ficou com seis empresas, tendo a grande concentração ocorrido na faixa quatro, de 0 a 10 milhões, com 19 empresas. Uma vez apresentada a caracterização das empresas, será procedida a caracterização dos respondentes. Ressalte-se que as freqüências apresentadas subsidiarão a confecção dos gráficos em seção posterior. 4.2.2 Caracterização dos respondentes Para o preenchimento dos questionários foram solicitados dirigentes, diretores ou ocupantes de cargos correlatos (de nível estratégico) que tivessem conhecimento de como é formulada a estratégia da empresa. Os respondentes encontram-se classificados na tabela 15. Cargo do respondente Freqüência % Dirigente 5 14,29 Diretor 14 40,00 Assessor 2 5,71 Gerente 12 34,29 Contador 2 5,71 Total 35 100,00 Tabela 15: Cargo dos respondentes. Fonte: dados da pesquisa. 137 A tabela 15 mostra que 21 dos 35 respondentes são dirigentes, diretores ou assessores, o que enquadra 60% dos respondentes no perfil solicitado. Quanto aos demais, 12 declararam ser gerentes e dois contadores, não se enquadrando diretamente no perfil, porém em alguns casos a indicação foi justificada pelo exercício das funções e conhecimento do processo de formulação estratégica. Quanto ao tempo de trabalho do respondente na empresa, os resultados estão na tabela 16. Faixa 1 2 3 4 5 Tempo do respondente na empresa Freqüência % Até de 5 anos 12 34,29 de 6 a 10 anos 7 20,00 de 11 a 20 anos 11 31,43 acima de 21 anos 4 11,43 Não responderam 1 2,86 Total 35 100,00 Tabela 16: Tempo dos respondentes na empresa. Fonte: dados da pesquisa. Com no máximo cinco anos na empresa (faixa 1), o que é um tempo pequeno para um conhecimento mais profundo sobre o processo de formulação de estratégias, estão 12 respondentes. A faixa dois, entre seis e 10 anos, o funcionário já possui um conhecimento relativo sobre o funcionamento da organização. Nesse caso enquadram-se sete respondentes, o que não é muito. As faixas três e representam um período acima de 11 anos, em que já é possível um conhecimento aprofundado sobre a história e os processos da organização, juntas as duas faixas somam 15 respondentes (42,86%). Uma pessoa não respondeu essa pergunta. O sexo predominante dentre os respondentes foi o masculino, com 30 respondentes (85,71%). Apenas cinco respondentes são mulheres, representando 14,29% do total, o que mostra a predominância de homens nos cargos de alto escalão da amostra pesquisada. Quanto à faixa etária, a distribuição está representada na tabela 17. Faixa 1 2 3 4 5 Faixa etária Freqüência % menos de 30 anos 2 5,71 de 30 a 39 anos 13 37,14 de 40 a 49 anos 14 40,00 de 50 a 59 anos 3 8,57 acima de 60 anos 2 5,71 Não responderam 1 2,86 Total 35 100,00 Tabela 17: Faixa etária dos respondentes na empresa. Fonte: dados da pesquisa. 138 Observando-se os dados percebe-se que a concentração está nas faixas dois e três, com 13 e 14 respondentes, respectivamente. Vale ressaltar que isso significa 77,14% de pessoas com média idade, o que pode representar um equilíbrio saudável entre experiência adquirida e abertura para o novo. Conclui-se, então, a caracterização dos respondentes, procedendo-se, a seguir, a apresentação das análises e gráficos resultantes do cruzamento com as 10 escolas de formulação de estratégia (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). 4.2.3 Análise da relação empresas x escolas utilizando os resultados da escala de Likert Nessa seção serão apresentados os resultados do cruzamento entre as escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e variáveis apresentadas na caracterização das empresas, que forem relevantes para que se respondam as questões e hipóteses da pesquisa. Inicialmente será apresentada a compatibilização entre a resposta subjetiva (pergunta: “Como as decisões estratégicas são formuladas e deliberadas em sua empresa?”) e o resultado da escala de Likert, conforme critérios especificados no capítulo de metodologia. Gráfico 6: Correspondência entre respostas subjetivas e resultado da Escala de Likert. Fonte: dados da pesquisa. Os questionários foram examinados individualmente mediante comparação da resposta subjetiva com a pontuação das 10 escolas de formulação da estratégia com base no seguinte critério: ⇒ Alta Compatibilidade - A escola que obteve maior pontuação na escala de Likert indicava o comportamento declarado pelo respondente. 139 ⇒ Média Compatibilidade - A escola compatível com a declaração do respondente não foi a maior, porém obteve pontuação acima de 2,7 na escala de Likert, retratando também um nível de influência. ⇒ Baixa Compatibilidade – A escola que indicava o comportamento declarado pelo respondente obteve pontuação abaixo de 2,7. Dessa forma, 11 respondentes (31%) mostraram alta compatibilidade entre o comportamento declarado e a escola que obteve maior pontuação na escala de Likert e seis respondentes (17%) declararam um comportamento parcialmente compatível (média compatibilidade) com a escola mais pontuada. Por outro lado, 14 respondentes (41%) declararam práticas de baixa compatibilidade com a pontuação da escala, em que as escolas que se mostraram mais influentes não estavam de acordo com as informações fornecidas na questão subjetiva. Isso mostra que as empresas nem sempre estão conscientes dos fatores que a influenciam na formulação da estratégia. O processo declarado não é aquele que efetivamente ocorre. O fato, porém, não surpreenderia Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), que afirmaram que “estratégia é uma dessas palavras que inevitavelmente definimos de uma forma, mas freqüentemente usamos de outra.” Ocorre, porém, que mesmo diante de inconsistências entre resposta subjetiva e resultados da escala de Likert, os resultados finais por empresa só poderiam ser declarados distorcidos se as escolas apresentassem um grande nível de diferença em suas pontuações, fato que não ocorreu. Conforme poderá ser observado nas análises apresentadas a seguir, as empresas utilizam, no geral, as escolas de forma equilibrada. O primeiro objetivo específico dessa pesquisa consiste em analisar se existe relação entre a escola de formulação de estratégia com o tempo de existência, o setor de atividade e o retorno financeiro das empresas estudadas. Para tanto, será exposta inicialmente a análise do tempo de existência das empresas x influência das escolas de pensamento, mostrada no gráfico 7, a seguir. Nos 88,57% que declararam seu tempo de existência o comportamento das escolas foi o seguinte: 140 Gráfico 7: Comportamento das empresas por tempo de existência. Fonte: dados da pesquisa. Ao contrário do que está posto na hipótese 1, o comparativo por tempo de existência mostra que as escolas mais antigas da amostra não possuem tendências conservadoras. Apesar de se mostrarem com grande influência, as escolas prescritivas não são as que aparecem como mais fortes, mostrando uma tendência inovadora, a escola predominante é a empreendedora. Com o objetivo de aprofundar um pouco mais a análise verificou-se a freqüência das escolas prescritivas, bem como da empreendedora nas faixas de tempo pesquisadas. A tabela 18 mostra o resultado das médias das escolas em ordem decrescente (colunas). Tempo de N. de Empresas Empreendedora Posicionamento Design Planejamento existência (anos) 1 0-20 14 3,3 3,2 3,2 3,1 2 21-30 6 3,4 3,2 2,9 3,0 3 31-40 7 3,0 3,1 3,0 2,9 4 41-50 3 3,4 3,0 2,9 2,7 5 Mais de 50 1 3,7 3,2 2,7 2,5 Média 31 3,4 3,1 3,0 2,8 Tabela 18: Tempo de existência das empresas x utilização de escolas prescritivas. Fonte: dados da pesquisa. Faixa Conforme mostram os dados, a escola empreendedora é a mais influente em quase todas as faixas, com exceção da faixa 3 em que aparece com uma diferença mínima em relação à escola do posicionamento. 141 Curiosamente, a faixa um, representativa das empresas mais novas (entre 0 e 20 anos), apresentou um resultado de 3,3 para a escola empreendedora enquanto que a faixa cinco, das empresas com mais de 50 anos de existência, pontuou a referida escola como a mais influente, com média 3,7. Embora a faixa cinco tenha enquadrado apenas uma empresa, o resultado reforça o das demais faixas, mostrando que o fato de ser a mais antiga não conduz a empresa a uma postura conservadora com a priorização apenas das escolas prescritivas; ao contrário, esta foi a empresa que mostrou o perfil mais empreendedor. Ainda à respeito do objetivo 1, serão apresentadas as análises das escolas por setor. Considerando que os setores possuem atividades diferenciadas voltadas para seus ramos de negócios, não seria estranho que a formulação de suas estratégias tivesse também uma característica própria, diferenciada por setor. O gráfico 8, a seguir, mostra o comparativo do comportamento dos setores de atuação aos quais pertencem as empresas do Prêmio Delmiro Gouveia. Gráfico 8: Comportamento dos setores por escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. No setor de indústria, a empreendedora destacou-se como escola mais influente com 3,4. Em segundo lugar, ficaram o posicionamento e o design, ambas com 3,2. Logo após, com 3,0 sugiram as escolas ambiental, planejamento e aprendizado. A configuração ficou com 2,9 e a cultura com 2,6. Com a menor pontuação, ficaram as escolas cognitiva e poder, ambas com 2,3. Os resultados mostram que as empresas do setor industrial, constantes na amostra, 142 são mais influenciadas pela escola empreendedora. O destaque, porém, não quer dizer que este setor seja eminentemente empreendedor. As escolas posicionamento, design, ambiental, planejamento e aprendizado possuem influência significativa, ficando todas acima de 3,0. As demais parecem ter pouca influência no setor, em especial cognitiva e poder. Percebe-se, então, que, com exceção das escolas cognitiva e poder, as oito escolas restantes influenciam, em bloco, o setor de indústria, apesar do destaque dado ao empreendedorismo. No comércio, a escola empreendedora repete a pontuação da indústria (3,4), sendo seguida de posicionamento com 3,2. Coincidentemente, as demais escolas decrescem 0,1, variando de 2,9 a 2,4 de modo que o design surge em terceiro lugar com 2,9, seguido das escolas ambiental e planejamento, ambas com 2,8, aprendizado com 2,7, cultura e cognitiva, com 2,6 e 2,5, respectivamente, poder com 2,5 e configuração com 2,4. Dessa forma, os valores atribuídos às escolas ficaram muito próximos uns dos outros, mostrando também a tendência à utilização de várias escolas variando um pouco na intensidade. Conforme mostram os números, a empreendedora é a mais influente, tendo o posicionamento bem próximo e as demais ficaram abaixo de 3,0 sendo que a da configuração foi a que se mostrou menos influente. O comércio mostrou comportamento aproximado da indústria tendo como mais influentes as escolas empreendedora, posicionamento, design, ambiental, planejamento e aprendizado. O que diferencia o comportamento dos dois setores é a posição da escola de configuração. No comércio, depois de aprendizado surgem cultura, cognitiva e poder, ficando a configuração por último, ao tempo em que na indústria, configuração fica entre aprendizado e estas três escolas, na mesma ordem. O setor de serviços apresenta um diferencial em relação aos dois analisados anteriormente. Nesse caso, a escola do planejamento revela-se a mais influente, com 3,2. Isso, porém, não a destaca do lote seguinte, também bastante influente e variando em apenas 0,1, mostrando as escolas design, posicionamento e empreendedora, com 3,1. À cultura foi atribuído o valor de 3,0. Também decrescendo em 0,1, ficou a escola ambiental com 2,9. Em seguida, surgem em bloco, com 2,8, aprendizado, poder e configuração. A cognitiva é a menos pontuada com 2,5. Respeitadas as diferenças, o setor de serviços não foge à regra das anteriores, que consiste em um decréscimo sutil entre as pontuações das escolas, variando um pouco a ordem. Ressalte-se, contudo, que esse setor apresentou um comportamento bem diferenciado dos dois anteriores. 143 A escola empreendedora volta à posição dianteira no setor de agronegócios, com 3,3, seguida do posicionamento com 3,2. Aqui o diferencial está na pontuação atribuída à escola cognitiva, que surge em bloco com design, aprendizado e ambiental, todas com 3,0. Também de forma diferente das demais, a pontuação decresce de forma significativa, em 0,5, levando o planejamento a compor um bloco pouco influente, com cultura e configuração, pontuadas com 2,5. Talvez a pouca influência atribuída ao planejamento esteja relacionada com a dependência de fatores de difícil previsão, a exemplo de condições climáticas, safra de produtos, dentre outros. Ao final ficou o poder, com 2,3, mantendo a posição pouco privilegiada que predominou nos setores anteriores.Vale destacar aqui pontos bem diferenciados das demais como cognitiva com alta e planejamento com baixa influência, o que não ocorreu nos demais setores. Para compor melhor as análises comparativas por setor, foi elaborado o gráfico 9, que mostra o comportamento individual de cada escola por setor. Conforme observado nos gráficos relativos ao comportamento individual dos setores, a escola empreendedora tem exercido influência significativa na formulação estratégica das empresas pesquisadas. Gráfico 9: Representatividade das escolas de pensamento em cada setor. Fonte: dados da pesquisa. 144 Percebe-se que a empreeendedora foi a escola mais bem pontuada em todos os setores, com exceção do setor de serviços em que o planejamento apresentou o maior resultado, porém com diferença de apenas 0,1. Assim, o empreendedorismo manteve uma alta pontuação em todos os setores, variando de 3,4 a 3,1. O posicionamento manteve também alta pontuação, com predomínio de 3,2, à exceção do setor de serviços, com 3,1. Quanto ao design, influenciou de forma homogênea, com pontuações distintas variado entre 3,2 a 2,9. Por seu turno, o planejamento apresentou heterogeneidade sendo bastante influente na indústria e em serviços, caindo um pouco no comércio e com pouca influência em agronegócios. As escolas ambiental e aprendizado mostraram influenciar de forma semelhante a indústria e agronegócios (3,0) , caindo um pouco em serviços e mais ainda em comércio. A configuração se comportou de forma heterogênea com influência considerável em indústria (2,9), e serviços (2,8), e baixa influência em agronegócios (2,5), e no comércio (2,4). As escolas de cultura e poder também foram pontuadas de forma semelhante destacando-se no setor de serviços e com pouca influência em indústria, comércio e agronegócios. Finalmente, a escola cognitiva manteve-se com baixa influência nos setores de indústria, comércio e serviços, variando entre 2,6 e 2,3, sendo por outro lado, bastante influente em agronegócios, com 3,0. Resumindo, os setores indústria e comércio mostraram comportamentos semelhantes privilegiando a seqüência empreendedorismo, posicionamento, design, ambiental, planejamento e aprendizado como as mais influentes. Por outro lado, as escolas cultura, cognitiva e poder exercem menor influência nos referidos setores. A diferença está na escola da configuração, influente na indústria e sem influência no comércio. 145 Os setores serviços e agronegócios, possuem em comum com as demais a forte influência do empreendedorismo, design, posicionamento, ambiental e aprendizado. Mostram, porém, características bem próprias e diferenciadas no tocante a planejamento, que no setor de serviços aparece como o mais influente e em agronegócios tem baixa influência. O mesmo acontece com a escola cultural influente em serviços e com baixa influência em agronegócios. A escola cognitiva, por sua vez, com baixa influência em indústria, comércio e serviços, destaca-se como influente no setor de agronegócios. Poder e configuração mostram boa influência em serviços e pouca em agronegócios. Objetivando conhecer a relação entre a escola de formulação de estratégia e os resultados financeiros obtidos pelas empresas da amostra (anexo I) foi analisada a influência das escolas de pensamento sobre FLA e RLA, por faixa (gráficos 10 e 11). Gráfico 10: Comportamento das empresas por escola de pensamento x FLA. Fonte: dados da pesquisa. O comportamento por faixa de FLA não foi homogêneo na medida em que houve predominância de design, planejamento e configuração, todas com 3,0 na faixa um, de maior faturamento (> 1 bilhão) e alta predominância de design na faixa 2 (501 milhões - 1 bilhão). Contudo, ambos os resultados mostram situações isoladas de uma única empresa. As faixas três (101-500), quatro (50-100) e cinco (< 50) tiveram como mais influente a escola empreendedora e como menos influente a escola cognitiva. 146 Percebe-se com os resultados que não houve uma escola, ou conjunto de escolas cuja influência caracterizasse maior ou menor resultado de FLA, tendo em vista que as duas primeiras faixas representam comportamentos isolados de uma empresa e as três restantes tiveram a maior e a menor influência das mesmas escolas. Visando a complementar as análises sobre a influência das escolas nos resultados financeiros, a seguir o gráfico 11, relativo ao RLA. Gráfico 11: Comportamento das empresas por escola de pensamento x RLA. Fonte: dados da pesquisa. O comparativo mostra, na primeira faixa (> 100) a predominância das escolas design, planejamento e configuração, com 3,0. O resultado é igual ao da primeira faixa do FLA (gráfico 10) considerando tratar-se da mesma empresa. A faixa 2 (11-50) teve bastante influência de oito escolas, tendo a empreendedora à frente (3,6) seguida de planejamento, design, aprendizado, posicionamento, configuração, ambiental e cultura, todas com pontuação acima de 3,0. Cognitiva e poder mostraram pouca influência. 147 Na faixa três (0-10) o empreendedorismo também sai na frente, com 3,4, seguido de design, posicionamento, planejamento, ambiental e aprendizado, com pontuação acima de 2,9, mostrando influência. As menos influentes foram cultura, configuração cognitiva e poder. A faixa quatro (0-(-1)), por sua vez, teve como mais pontuada a escola do posicionamento, com 3,2, seguida de empreendedorismo, com 3,1. A ambiental mostrou influência com 2,9, seguida de configuração e aprendizado, ambas com 2,8, ainda influentes. Entre 2,7 e 2,1, caindo em influência seguem, na ordem, design, planejamento, cultura, poder e cognitiva. Na faixa cinco ((-1)-(-10)) pode se observar uma influência equilibrada de todas as escolas, tendo à frente design, poder e empreendedorismo, todos com 3,2, destacando-se aqui a alta influência do poder. Em seguida, com 3,1, estão as escolas ambiental e posicionamento. A configuração também tem alto nível de influência (3,0). Com 2,9 estão planejamento, cognitiva e aprendizado. Cultura foi a menos pontuada, com 2,8, o que ainda considera-se um bom nível de influência. A faixa seis (< (-10)) tem à frente a escola do planejamento (3,3) seguida das escolas de empreendedorismo (3,2), configuração (3,1), design e posicionamento (3,0), cultura (2,9), aprendizado e poder (2,8), todas se mostrando influentes. Com baixa influência estão as escolas ambiental e cognitiva. Em uma análise geral do RLA, o empreendedorismo encontra-se em primeiro lugar nas faixas dois e três, com 3,6, e 3,4, respectivamente, mantendo-se bastante influente nas faixas quatro, cinco e seis com a seqüência de 3,1, 3,2 e 3,2, respectivamente. O poder ficou com baixa influência em quatro das cinco faixas. Foram tomadas como exemplo essas duas escolas que apresentaram desempenhos homogêneos em várias faixas não influenciando portanto em melhores ou maiores resultados de RLA. Como segundo objetivo, definiu-se analisar se as empresas estudadas adotam uma única escola ou uma composição de escolas, conforme seu contexto e o terceiro consiste em identificar dentre as 10 escolas do modelo, aquelas que mais têm influenciado a formulação da Estratégia nas empresas estudadas. Buscando subsídios para dar suporte a essas análises realizou-se um cruzamento geral das empresas, sem distinção de setor, com as 10 escolas de 148 formulação de estratégia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). O resultado encontra-se a seguir (gráfico 12). Gráfico 12: Comportamento geral das empresas por escola de pensamento. Fonte: dados da pesquisa. O gráfico mostra que a escola empreendedora foi destacada pelas empresas da amostra como a mais influente no processo de formulação estratégica, com 3,3. Em seguida, surgem as escolas prescritivas - posicionamento (3,2), design (3,0) e planejamento (2,9), também mostrando influência no processo. Pontuadas com 2,8 ficaram as escolas ambiental e aprendizado. A configuração surge em seguida com 2,7. Cultura e Poder ficaram ambas com 2,6. Destacada como não influente ficou a cognitiva, com 2,4. O comportamento geral das empresas retratado pela consolidação dos resultados obtidos a partir da escala de Likert mostra que, apesar do destaque da escola empreendedora, as demais escolas também exercem influência na formulação da estratégia. Observando-se as pontuações, verifica-se que, com exceção da escola cognitiva, pontuada em 2,4, todas as outras escolas encontram-se entre 2,6 e 3,3, o que, matematicamente representado em uma casa decimal seria 3 (“concordo”, segundo classificação da escada definida). Nessa linha, pode-se inferir que de alguma forma e em algum momento, as escolas contribuem na formulação da estratégia das empresas da amostra. A utilização de várias escolas é justificada por Hart (1991 apud MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000 p. 24) que afirma: 149 “Empresas de alto desempenho parecem capazes de misturar quadros de referência concorrentes na formulação da estratégia. Elas são, ao mesmo tempo, engenhosas e incrementais, diretivas e participativas, controladoras e delegadoras, visionárias e detalhadas.” Misturar quadros de referência concorrentes para formular estratégias é uma arte. Será que os empresários cearenses têm feito isso de forma deliberada, consciente? Antes seja. Não se pode descartar, porém, a hipótese de que mesclar diferentes escolas esteja sendo uma válvula de escape, ou a única saída para o desconhecimento do que é realmente a estratégia e das melhores formas de criá-la. O empreendedorismo, que desponta em primeiro lugar, representa características admiráveis em um líder, como capacidade de criar, inovar. A empresa que tiver à frente líderes realmente empreendedores terá grandes chances de se manter competitiva, mesmo diante de cenários desfavoráveis. Se este é o caso do Ceará, as empresas estão de parabéns. Por outro lado, se as escolas prescritivas de posicionamento, design e planejamento apresentaram pontuações tão próximas às da empreendedora, percebe-se que há um esforço para o exercício das escolas prescritivas, isso pode sinalizar que o empreendedorismo cearense resulta de tentativas frustradas de se realizar um bom planejamento, ou das dificuldades para se realizarem cálculos analíticos. O Posicionamento ficou em segundo lugar, mas será que, se perguntados, os empresários saberiam enumerar que técnicas sofisticadas de análise eles utilizam? O design foi pontuado em terceiro lugar na escala de influência na formulação da estratégia, o que isso quer dizer? Será que aliada ao destaque para o empreendedorismo vem reforçar que as empresas são guiadas conforme a mente do líder? Mas esse líder é empreendedor ou arquiteta sua estratégia com base no contexto interno e externo da organização, como reza o design? O planejamento, tão apontado na revisão bibliográfica como escola relevante na formulação estratégica ficou em quarto lugar. Será que os empresários desejam se planejar, porém não conseguem? Será que o planejamento tem sido usado, deliberadamente, para dar suporte a um empreendedorismo que tem aflorado nos últimos anos? 150 Essas são hipóteses que surgem das reflexões oriundas dos resultados da pesquisa e que merecem ser exploradas em estudos posteriores. Até então o que ficou evidente foi a utilização conjunta das escolas em combinações próprias, as quais evidenciaram-se na análise fatorial apresentada em seção seguinte (4.2.4). O quarto objetivo que motivou esta pesquisa foi testar a aplicabilidade da Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Conforme mostrou a revisão teórica os últimos 50 anos serviram de pano de fundo para a geração e consolidação de uma série de conceitos que deram origem às teorias de estratégias disponíveis na literatura. A revisão mostrou, também, que em seus estudos, os autores apontam tipologias que se encaixam nas escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), estas, porém, são utilizadas de forma fragmentada. A oportunidade de testar a tipologia das 10 escolas de formulação estratégica foi, em primeiro lugar, a oportunidade de constatar o quão rico é “O Safári da Estratégia”, o qual consiste em um grande presente para teóricos e práticos na área. A tipologia mostrou-se aplicável e útil a um estudo desse porte. A grande diversidade de abordagens permite que as empresas se encaixem de alguma forma, podendo ser identificadas as linhas de pensamento que têm influenciado os gestores, ainda que estes não tenham plena consciência de que premissas o estão conduzindo a tomar determinadas decisões, conforme identificado na relação entre a pergunta subjetiva e os resultados da escala Likert dos questionários da amostra, na qual 14 empresas (41%) mostraram baixa compatibilidade. A análise geral (gráfico 12) mostra que não há grandes picos na diferença da pontuação entre as escolas. Ao contrário, variam em escala decrescente e com numeração coincidente ou muito próxima. Assim, o presente estudo mostra que os executivos, em menor ou maior intensidade, exercem práticas da maioria das escolas. Vasconcelos (2001), identificou, por meio de análise fatorial, combinações próprias dos executivos do Rio e São Paulo. Visando a complementar as análises feitas anteriormente e diante da constatação de que as maiores empresas cearenses não usam predominantemente uma escola única, buscou-se identificar a tipologia que representa o pensamento dos executivos da amostra, procedendo-se à análise fatorial, descrita a seguir. 151 4.2.4 Novas Dimensões utilizando Análise Fatorial Conforme explicado na metodologia, utilizou-se o SPSS para realização da análise fatorial, com base no método dos componentes principais, abordagem do eigenvalue (autovalor) e rotação varimax. Depois de informados os parâmetros, o SPSS automaticamente gerou as tabelas 19, 20 e 21, apresentando ao final a Matriz de componentes rotada (tabela 22). COMPONENTES AUTOVALORES INICIAIS % DA % TOTAL VARIÂNCIA ACUMULADO 1 2,78 27,77 27,77 2 1,78 17,80 45,57 3 1,49 14,93 60,51 4 1,18 11,76 72,27 5 0,94 9,37 81,64 6 0,64 6,38 88,02 7 0,49 4,86 92,88 8 0,36 3,64 96,52 9 0,22 2,19 98,71 10 0,13 1,29 100,00 Método de extração: Análise dos componentes principais. Tabela 19: Autovalores iniciais. Fonte: dados da pesquisa. COMPONENTES SOMA DE QUADRADOS DE CARGAS EXTRAÍDAS % DA % TOTAL VARIÂNCIA ACUMULADO 2,78 27,77 27,77 1,78 17,80 45,57 1,49 14,93 60,51 1,18 11,76 72,27 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Método de extração: Análise dos componentes principais. Tabela 20: Soma dos quadrados de cargas extraídas. Fonte: dados da pesquisa 152 COMPONENTES SOMA DE QUADRADOS DE CARGAS ROTADAS % DA TOTAL % ACUMULADO VARIÂNCIA 2,26 22,59 22,59 1,77 17,66 40,25 1,74 17,37 57,62 1,46 14,65 72,27 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Método de extração: Análise dos componentes principais. Tabela 21: Soma de quadrados de cargas rotadas. Fonte: dados da pesquisa. COMPONENTE 1 2 3 Design 0,502 -0,284 0,388 Planejamento 0,540 0,040 0,015 Posicionamento 0,707 0,404 -0,155 Empreededorismo 0,889 0,089 0,147 Cognitiva -0,020 -0,072 0,917 Aprendizado 0,405 0,415 0,649 Poder -0,478 0,343 0,523 Cultura -0,099 0,283 -0,022 Ambiental 0,144 0,803 0,066 Configuração 0,038 0,702 0,025 Método de extração: Análise dos componentes principais. ESCOLAS 4 0,420 0,603 0,051 -0,010 0,024 -0,191 0,332 0,833 0,024 0,283 Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser. Rotações convergiram em 25 interações. Tabela 22: Matriz de componentes rotada. Fonte: dados da pesquisa. A tabela 22 mostra as novas dimensões compostas a partir das 10 escolas de formulação da estratégia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e que são representativas da prática das maiores empresas do Ceará, conforme resultados da amostra pesquisada. As escolas que compõem as dimensões formadas pela análise fatorial guardam algo em comum. Em seguida, apresentam-se cada uma das dimensões e acompanhadas das considerações a respeito das composições. 153 Dimensão 1 – Liderança: Empreendedorismo (0,889), Posicionamento (0,707), Planejamento (0,540) e Design (0,502). Segundo Aaker, Kumar e Day (2001) o fator mais informativo é o primeiro, com a máxima variância explicada. A composição apresentada nessa dimensão confirma os resultados apresentados no gráfico 12 em que as escolas empreendedora, posicionamento, planejamento e design, foram classificadas como as mais influentes. O empreendedorismo ocupa uma posição intermediária entre as escolas prescritivas (design, planejamento e posicionamento) e as descritivas, guardando uma relação mais próxima com o design. Apesar de ser uma escola descritiva, seus princípios não são totalmente diferentes do design, que é prescritivo. Para ambas as escolas, o executivo principal é o arquiteto da estratégia, sendo que na empreendedora acrescentou-se a intuição ao processo de criação da estratégia. A estratégia empreendedora possui senso de direção, o que a torna deliberada, mas ao mesmo tempo emergente, permitindo adaptações. A pesquisa de Vasconcelos (2001) encontrou na primeira dimensão as três escolas prescritivas (design, planejamento e posicionamento). A pesquisa de Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) agrupou na primeira dimensão as escolas de planejamento e posicionamento. A presente pesquisa agrupou na sua primeira dimensão as três escolas prescritivas, acompanhadas, porém, da empreendedora. O que isso quer dizer? O aparecimento das escolas prescritivas juntas na primeira dimensão é apenas coincidência? Ou será que a utilização de escolas prescritivas é predominante em nível de Brasil? A dinâmica das mudanças ambientais não comporta mais os cursos de ação limitados, sem flexibilidade para ajustes. Uma hipótese que surgiu ao longo das análises foi que em 2001 ainda havia predominância pura das escolas prescritivas e três anos depois, época da atual pesquisa, o empreendedorismo assumiu a dianteira da influência sobre a formulação da estratégia, mas sem que se abra mão da utilização das escolas prescritivas, cuja prática é mais antiga e oferece a segurança daquilo que já é conhecido. Outra possibilidade é que a dimensão um represente um comportamento cearense e não uma tendência nacional que vem sobressaindo. Vale reforçar o questionamento posto anteriormente. O que significa esse empreendedorismo que desponta com tamanha influência? Será uma tendência à inovação, 154 apoiada em padrões conservadores? Assim as empresas arriscam o novo, porém, apoiadas na direção fornecida pelas escolas prescritivas. Ocorre, entretanto, que não se acham com facilidade líderes realmente empreendedores por natureza. O empreendedorismo predominante na atual pesquisa pode ser resultante das dificuldades de se realizar um planejamento bem feito e fazer cálculos analíticos, o que força gestores a serem criativos para prosperar, mesmo em momentos de crises. A criatividade provocada não é exatamente aquela descrita no empreendedorismo de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), tem mais relação com tentativas de contornar o desconhecimento das melhores formas de se formularem estratégias. De uma forma ou de outra, nessa dimensão a formulação da estratégia é um processo que tem como principal responsável o líder máximo da organização, seja para conceber ou para aprovar a estratégia, deixando de lado as influências coletivas da organização. Dimensão 2 – Dinâmica: Ambiental (0,803), e Configuração (0,702) As escolas agrupadas nessa dimensão possuem em comum o movimento. Se na escola ambiental o ambiente é o agente central e suas mudanças regem o processo de geração de estratégia, na escola da configuração a formação da estratégia é resultante da transformação, da mudança de um estado de ser para outro. Então, a mudança é o primeiro grande ponto comum que pode estar unindo essas duas escolas. Por outro lado, acredita-se que as referidas escolas podem estar compondo juntas essa dimensão exatamente por uma diferença básica que possuem – uma separa e a outra agrupa. Os adeptos da escola ambiental tendem a estudar, separadamente as relações entre pares de variáveis o que possibilita o delineamento de teorias complexas oriundas da combinação de uma vasta gama de questões. Os defensores da escola da configuração tendem a agrupar questões em categorias claras e precisas, elaborando descrições mais simples de melhor entendimento do que as teorias ambientais. Separar, para depois agrupar; entender o complexo para depois simplificar; sob esse aspecto as duas escolas em questão se complementam podendo estar aí uma justificativa para essa junção que se caracteriza por mudanças e transformações. 155 A escola da configuração guarda relação com todas as demais, uma vez que cada escola constitui uma determinada configuração. A relação com a escola ambiental é, porém, especial tendo em vista que o ambiente é mutável por natureza, embora aja os mais estáveis e os que mudam constantemente. Se a escola da configuração comporta períodos de estabilidade combinados com mudanças de estágios, a evolução do ambiente pode ser fator determinante para o salto de um estágio para outro. Um ambiente estável pode levar a organização a permanecer por muito tempo em determinada configuração utilizando o mesmo processo de formulação estratégica. Ao contrário, um ambiente instável, em constante mutação tende a levar a organização a mudar rapidamente de estágio. Dessa forma, entende-se que o tipo de ambiente pode determinar a configuração adotada pela organização, justificando a composição das duas escolas em uma só dimensão. Dimensão 3 – Comportamental: Cognitiva (0,917), Aprendizado (0,649) e Poder (0,523) A dimensão 1 compôs-se de uma escola descritiva com as três prescritivas. A dimensão dois agrupou uma escola descritiva com a configuração, que não consiste em prescritiva nem descritiva. Nessa dimensão, o primeiro ponto que liga essas três escolas consiste no fato de serem todas descritivas. O segundo ponto que liga cognição, aprendizado e poder é o enfoque comportamental intrínseco a elas. A cognição explica a forma como o conhecimento é absorvido e revertido em estratégia e como as pessoas usam o poder para formular estratégias favoráveis a determinados interesses. A escola cognitiva, para a qual o mundo é complexo, pretende sondar a mente do estrategista facilitando a compreensão de suas ações. Para a escola do aprendizado, a estratégia se forma de maneira incremental, em vez de formar-se por meio de pensamentos conscientes de qualquer dos agentes. O verdadeiro aprendizado tem lugar na interface de pensamento e ação. Se padrões de aprendizado podem ser inconscientes, então se encontram na esfera cognitiva surgindo aí um ponto comum entre cognição e aprendizado. Estar aberto ao aprendizado requer uma mente aberta, um ego desprovido de orgulho, do sentimento de que já se sabe tudo. Além disso, o ciclo do aprendizado organizacional só flui se as pessoas envolvidas estiverem dispostas a repassar o conhecimento, cientes que o saber, quando compartilhado enriquece todas as partes. É preciso, para tanto, desprender-se 156 do medo de perder o poder ao repassar o que se sabe. Sim, conhecimento é poder, especialmente nos dias de hoje, em que consiste no bem mais valioso em uma organização. Nesse enfoque, a relação do aprendizado com o poder é muito forte. As pessoas querem se apropriar do conhecimento, da informação para, com isso conquistar o poder. Por trás dessa ligação está a cognição. Para que se quer o conhecimento? Para que se quer o poder? Em muitas situações para se conhecer a essência de uma pessoa deve-se provê-la de poder. Há quem diga que não gosta de poder, mas gostar de poder não é algo que venha a denegrir a imagem de um indivíduo. O que é questionável é “para que” se quer o poder, o qual, quando utilizado de forma positiva pode reverter-se em grandes benefícios para uma organização. A dimensão três mostra três escolas movidas pelo comportamento, deixando bem clara a sua ligação. Conhecimento é poder. Como aprender, como repassar o conhecimento, como reverter conhecimento em poder e como utilizar esse poder dependem exclusivamente da mente do indivíduo, que nada mais é que a cognição. Explica-se, então o agrupamento realizado. Dimensão 4 – Mista: Planejamento (0,603) e Cultura (0,833). Segundo Aaker, Kumar e Day (2001) o fator menos informativo é o último. Assim essa dimensão consiste na menos representativa das quatro dimensões propostas. À primeira vista não aparecem os pontos comuns entre as escolas de planejamento, escola prescritiva e cultura, escola descritiva. Por esta razão, denominou-se essa de dimensão mista. Ocorre, porém, que em se tratando de formulação de estratégia “uma coisa puxa a outra”. Uma análise mais minuciosa pode clarificar o elo entre planejamento e cultura. Em um determinado momento, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), no capítulo relativo à cultura, dizem fazer uma mudança brusca e deixam de lado o caráter intangível da cultura para abordar questões econômicas mais tangíveis, introduzindo assim o vínculo entre a teoria VBR e o contexto cultural. Para VBR, criar vantagem competitiva significa explorar as competências distintivas da organização, geradas ao longo da evolução da organização, ou seja, na sua cultura. Ora, as competências distintivas consistem no objeto de análise interna do conceito SWOT (figura 2), 157 de Andrews, proveniente da escola do design e amplamente utilizado pela escola do planejamento. Aí está o vínculo que liga planejamento e cultura. Nessa ótica, o planejamento realizado será mais consistente e todos se sentirão comprometidos e motivados ao alcance dos objetivos organizacionais. Feita a ligação entre as duas escolas, propõe-se uma reflexão prática: o primeiro passo de um planejamento estratégico que se preze é a definição de missão, visão e valores organizacionais, em uma construção conjunta com membros dos diversos níveis organizacionais, construção esta que servirá como base para as próximas etapas do planejamento. Assim, objetivos, metas e estratégias serão delineados com foco nessa construção, a qual refletirá o pensamento (crenças e valores) da organização como um todo. A dimensão mista resulta da prática do planejamento com base na cultura organizacional. As dimensões propostas compreendem a forma como os executivos da amostra se comportam em relação a seus processos de formulação da estratégia. A dimensão 1 – Liderança, reforçou as análises anteriores, em que ficou clara a influência maior da escola empreendedora juntamente com as prescritivas. As demais dimensões possibilitaram o delineamento de outros conjuntos de escolas resultantes das práticas empresariais, os quais não haviam ficado claros previamente. O quadro 31 resume a tipologia proposta. DIMENSÃO Liderança COMPOSIÇÃO Empreendedorismo VISÃO DA ESTRATÉGIA FONTES Estratégia deliberada – em suas Schumpeter (1960); Cole (1959); Posicionamento linhas amplas e seu senso de Porter (1980 e 1985); Ansoff Planejamento direção e emergente – em seus (1965); Design detalhes, sob responsabilidade do Andrews (1965) Selznick (1957); executivo principal Dinâmica Ambiental Estratégia emerge a partir de Hannan Configuração mudanças ambientais Freeman (1977); e Chandler (1962) transformações organizacionais Comportamental e Mintzberg e Miller (1970); Miles & Snow (1978) um Simon (1947 e1957); March e Cognitiva Estratégia Aprendizado processo aberto de aprendizado e Simon (1958); Lindblom (1959) Poder influência política emerge de Quinn (1980) Prahalad e Hamel (1990); Allison (1971); Pfeffer e Salancik (1978); Mista Planejamento Astley (1984) Estratégia deliberada formulada Ansoff (1965); Rhenman e 158 DIMENSÃO COMPOSIÇÃO Cultura VISÃO DA ESTRATÉGIA FONTES por um processo de planejamento Normann (1960) formal principal coletivo insumo tendo como a cultura organizacional Quadro 31: Dimensões estratégicas das maiores empresas do Ceará. Fonte: elaborado pela autora, a partir dos dados da pesquisa. 4.2.5 Descrição Comparativa com Pesquisas Similares Concluída a análise fatorial retoma-se o quinto objetivo que consiste em elaborar descrição comparativa da presente pesquisa com pesquisas similares no Brasil. Conforme citado no capítulo 2, a revisão teórica revelou a existência de dois trabalhos similares a essa pesquisa, os quais utilizam o modelo de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) realizando análise fatorial para reelaboração do modelo conceitual com base na prática das organizações estudadas. Para subsidiar a análise comparativa da corrente pesquisa com a de Vasconcelos (2001) e a de Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004), elaborou-se um quadro-resumo, com os pontos mais significativos das referidas pesquisas (quadro 32). As três pesquisas são similares e de forma geral visavam a identificar como ocorre o processo de formulação da estratégia nos respectivos segmentos pesquisados. O grande diferencial entre a corrente pesquisa e as pesquisas de Vasconcelos (2001) e Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004), foi que na pesquisa em curso, anteriormente à análise fatorial, dedicou-se uma seção para análise específica das escolas em relação a tempo de existência, setor de atividade, retorno financeiro e empresas como um todo, o que pode ampliar mais os resultados obtidos. As referidas análises prévias foram realizadas tendo em vista a intenção de identificar o comportamento das empresas em relação a cada escola que compõe o modelo de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A análise fatorial foi utilizada visando a reelaboração conceitual do modelo das 10 escolas com base na premissa de que as empresas fazem suas próprias composições de abordagens para formular suas estratégias. 159 Quadro 32: Comparativo de Pesquisas Similares. Fonte: elaborado pela autora, a partir dos dados da pesquisa. Vasconcelos (2001) e Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) basearam suas análises somente na análise fatorial. O primeiro utilizou uma amostra de 195 executivos de setores diversos em São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, porém não informou a população e nem quantas empresas encontram-se representadas pela amostra. A segunda pesquisa utilizou a população de 150 bancos atuantes no Brasil, distribuindo 5.500 questionários que resultaram em uma amostra de 53 bancos. A presente pesquisa teve como população as 100 empresas do Prêmio Delmiro Gouveia do Ceará (Bolsa de Valores), atuantes em indústria, comércio, serviços e agronegócios, tendo sido distribuídos 100 questionários, o que resultou em uma amostra de 35 empresas. Instrumento de pesquisa comum às três pesquisas, o questionário de Vasconcelos (2001) compôs-se de 29 questões, representativas de 9 das 10 escolas de formulação estratégicas, tendo o autor excluído a configuração, medidas por escala de Likert com 7 pontos. Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) utilizaram um questionário de 50 questões, com base nas 10 escolas, medidas por escala de Likert com 10 pontos. A presente pesquisa 160 utilizou um questionário com 33 questões, tomando como base as 10 escolas de formulação, medidas por escala de Likert com quatro pontos, e ainda a opção “não se aplica”. Para análise dos dados, as pesquisas similares utilizaram análise fatorial com rotação varimax, realizando previamente a reespecificação de variáveis ficando Vasconcelos (2001) com 9 variáveis e Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) com 10. A presente pesquisa, conforme mencionado anteriormente, realizou análises prévias à fatorial visando a dar foco em tempo de existência, setor e resultados financeiros, além da análise geral baseada nas escolas originais de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Para análise fatorial dessa pesquisa, também se realizou a reespecificação de variáveis, ficando a pesquisa com 10 variáveis. Quanto aos resultados, Vasconcelos (2001) teve como mais influente a escola empreendedora e como menos influente a escola do aprendizado, mas não realizou análises específicas das 9 escolas em relação à amostra de sua pesquisa, apenas colocou que os resultados sugerem que nenhuma escola é sistematicamente rejeitada ou unanimemente utilizada. A análise fatorial resultou em 3 novas dimensões (quadro 32). Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) não apontaram que escola foi mais ou menos influente. Procederam a análise fatorial duas vezes. A primeira com as 50 variáveis do questionário, o que resultou em 14 dimensões, identificadas como cartesiana, negocial, transformação, coletiva, adequação, mercadológica, posicional, determinista, liderança, cultural, oportunidade, poder, reinvenção, alternativa. A segunda análise fatorial foi feita com relação às 10 novas variáveis, oriundas da reespecificação de variáveis, representativas das 10 escolas de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o que resultou em 3 novas dimensões (quadro 32). A presente pesquisa teve como mais influente a escola empreendedora, e como menos influente a escola cognitiva. Aqui também ficou claro que a formulação da estratégia é um processo para o qual os executivos selecionam as escolas, compondo seus próprios modelos de formulação. As análises revelaram que a idade da empresa não provoca utilização de escolas mais antigas, que os setores fazem suas combinações próprias e que os resultados financeiros não são resultantes da utilização de determinadas escolas. A análise fatorial resultou em quatro dimensões (quadro 32). 161 Fazendo uma comparação das dimensões obtidas nas três pesquisas, percebe-se que a dimensão 1 de Vasconcelos (2001) agrupou as escolas prescritivas, tendo o mesmo acontecido na presente pesquisa, com acréscimo da escola empreendedora no bloco. As escolas prescritivas de planejamento e posicionamento também aparecem na dimensão um de Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004). Nesse ponto, abre-se um parêntese para colocar que tanto no levantamento bibliográfico como na prática empresarial o planejamento tem sempre ocupado um lugar de importância, mostrando que mesmo quando são utilizadas outras abordagens, o planejamento está presente. Sobre as dimensões obtidas, excluindo-se o ponto comum encontrado, as demais dimensões foram compostas de formas diferenciadas nas três pesquisas, o que provavelmente deve-se às especificidades de cada uma, como área de atuação e tamanho da amostra, dentre outras. Finalizando a análise descritiva, ressalta-se que a pesquisa de Vasconcelos (2001) deixou a desejar na explicação metodológica, não informando a população da pesquisa, os setores de atuação das empresas e quantas empresas se encontram representadas, uma vez que tudo indica ter havido mais de um questionário por empresa. Por outro lado, a pesquisa foi muito feliz ao propor o Ornitorrinco como animal característico da formulação da estratégia. Vasconcelos (2001) utilizou o estilo “Mintzberg” ao traduzir seu resultado em uma metáfora que se acredita, ser aplicável a qualquer contexto empresarial nos dias de hoje. De forma diversa, Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) apresentaram uma pesquisa em nível nacional, com metodologia rica, explicada minuciosamente, pecando na descrição dos resultados. Não ficou claro o motivo da realização de duas análises fatoriais. Se a análise fatorial serve para reduzir variáveis, a análise utilizando as 50 assertivas iniciais do questionário ampliou o modelo de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), de 10 para 14 escolas. Entende-se que isto não facilitou a compreensão do processo ocorrido nos bancos do Brasil, e sim mostrou um comportamento fracionado em que pedaços das escolas foram divididos em variáveis. A segunda análise fatorial realizada resultou em 3 dimensões, das quais os autores se limitaram a informar a composição, sem fazer sobre elas qualquer tipo de inferência ou apresentar conclusões. Nesse caso, ficou a impressão de que foi feito um esforço grande em termos de pesquisa e procedimentos metodológicos para ao final não ficarem conclusões à altura. 162 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES 163 De alguma forma, a estratégia existe há muito tempo e tem os primeiros sinais do reconhecimento de sua importância surgidos no final do século XIX. Desde então, o tema vem crescendo em termos de interesse teórico e prático. O aumento da dinâmica das mudanças ambientais, o avanço da tecnologia da informação e a globalização, dentre outros fatores têm sido responsáveis pelas mudanças nas formas de gestão. O perfil do gestor também tem mudado, em resposta às imposições da própria evolução das organizações e das teorias de gestão. Empresas em uma mesma indústria, utilizando estratégias semelhantes, apresentam resultados diferentes, o que é intrigante. Surge, então, a curiosidade sobre o que determina o sucesso da empresa. Acredita-se que a escolha da estratégia adequada é - senão a solução - grande parte dela. Nesse contexto, emerge a importância do processo de formulação da estratégia. A escolha da estratégia é resultante do processo de seleção utilizado. A questão é como ocorre esse processo? O que influencia a formulação da Estratégia Empresarial? Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), apresentaram 10 formas de se formular estratégias, ao tempo em que colocaram que os executivos não conseguem ver o todo, tendendo a utilizar uma das 10 escolas apontadas. A questão da formulação é intrigante e a tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) surgiu como uma possibilidade de dissecar a prática das maiores empresas do Ceará, inferindo como têm ocorrido tais práticas. Assim o presente trabalho foi motivado pelo desafio de abrir a “caixa preta” da formulação da estratégia e ao mesmo tempo testar a tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), as conclusões decorrentes encontram-se sumarizadas nesse capítulo. Do total da amostra (35 empresas da população das 100 maiores empresas do Estado do Ceará), 65,71% estão entre as 50 maiores (vide anexo I). A amostra mostrou-se representativa dos 4 setores que compõem a população dividindo-se da seguinte forma: os 17 respondentes da indústria representam 33,33% do setor na população das 100 empresas; os 4 respondentes do comércio representam 28,57% em relação ao setor comércio da população; os 12 de serviços correspondem a 44,44% de serviços na população e os dois de agronegócios retrataram 25% da população no mesmo setor. Do total de questionários, 21 foram respondidos por dirigentes, diretores e assessores, conforme perfil solicitado, e 12 foram respondidos por gerentes e contadores habilitados para 164 tal. A verificação de consistência da resposta subjetiva com os resultados da escala de Likert, que indica as escolas de formulação mais influentes na empresa em questão, mostrou que 49% dos questionários apresentaram compatibilidade entre a resposta subjetiva e o resultado obtido pela escala de Likert enquanto que 51% mostraram média e baixa compatibilidade entre as respostas. Isso mostra que não há consciência total da forma como se formulam as estratégias, ou que tendências influenciam o processo. A relação entre o tempo de existência da empresa e a utilização das escolas de pensamento mostrou que as empresas mais antigas não possuem tendências conservadoras, tendo a escola empreendedora mostrado-se bastante influente em todas as faixas existentes. Ressalte-se, ainda, que foi na empresa mais antiga da amostra que o empreendedorismo apresentou a maior pontuação. Quanto ao comportamento dos setores de atuação, observou-se que apresentaram um ponto comum: a utilização de um conjunto de escolas, em vez de uma, para a formulação de suas estratégias. O diferencial entre os setores encontra-se na composição desse conjunto de escolas. Na indústria e no comércio as escolas mais influentes foram empreendedorismo, posicionamento, design, ambiental, planejamento e aprendizado. As escolas cultura, cognitiva e poder mostram-se pouco influentes nos referidos setores. O comportamento da escola da configuração foi o único a se mostrar inverso nesses dois setores sendo influente na indústria e sem influência no comércio. Nos setores serviços e agronegócios, empreendedorismo, design, posicionamento, ambiental e aprendizado continuam com forte influência. O mesmo não acontece com a escola do planejamento, que no setor de serviços aparece como o mais influente e em agronegócios tem baixa influência. A escola cultural também difere nos dois setores sendo influente em serviços e com baixa influência em agronegócios. A escola cognitiva, por sua vez, com baixa influência em indústria, comércio e serviços, destaca-se como influente no setor de agronegócios. Poder e configuração mostram boa influência em serviços e pouca em agronegócios. 165 Quanto aos resultados financeiros, em relação ao FLA não houve uma escola, ou conjunto de escolas cuja influência caracterizasse maior ou menor resultado, tendo em vista que em três das cinco faixas a escola empreendedora foi a mais influente e a cognitiva a de menor influência. Nas duas faixas restantes observou-se a influência de design, planejamento e configuração (em bloco) em uma e de design na outra, sendo, porém ambas as faixas representadas por apenas uma empresa. No RLA, nas seis faixas existentes, o empreendedorismo ficou em primeiro lugar em duas, mantendo-se bastante influente em outras três. O poder ficou com baixa influência em quatro das cinco faixas. Foram tomadas como exemplo essas duas escolas que apresentaram desempenhos homogêneos em várias faixas não influenciando, portanto, em melhores ou maiores resultados de RLA. Dessa forma, os resultados de FLA e RLA não indicam relação direta entre as escolas mais influentes e o resultado financeiro obtido, tendo em vista que as pontuações se repetem ou aparecem de forma semelhante nas diversas faixas. No tocante ao comportamento geral das empresas em relação às 10 escolas de formulação as análises mostraram que a escola empreendedora foi a mais influente, seguida, com pontuação bem próxima, das escolas prescritivas – posicionamento, design e planejamento. As escolas ambiental, aprendizado, configuração, cultura e poder mostraram influência razoável. Por sua vez, a escola cognitiva destacou-se como não influente. Ressalte-se que, apesar do destaque para a escola empreendedora, as demais escolas também exercem influência na formulação da estratégia. Observando as pontuações, verificase que, com exceção da escola cognitiva, pontuada em 2,4, todas as outras escolas encontramse entre 2,6 e 3,3, indicando que influenciam em menor ou maior proporção, o que reforça a idéia de que executivos compõem seus próprios modelos de formulação, não utilizando apenas uma escola de pensamento. Os resultados da análise fatorial possibilitaram a reelaboração conceitual do modelo base em quatro dimensões conceituais, as quais têm norteado o pensamento dos executivos das 100 maiores empresas do Ceará. A dimensão um – Liderança, agrupou as escolas de empreendedorismo, posicionamento, planejamento e design, reforçando as conclusões oriundas das primeiras análises, nesse caso a estratégia seria deliberada – em suas linhas amplas e seu senso de 166 direção; e emergente – em seus detalhes, sob responsabilidade do executivo principal. A composição levou a geração de hipóteses como sobre o significado do empreendedorismo que desponta com bastante influência. Será que o Ceará tem sido palco para o surgimento de líderes realmente empreendedores, aqueles que prospectam oportunidades com base no seu felling? Será, porém, que por outro lado O empreendedorismo predominante na atual pesquisa pode ser resultante das dificuldades de se realizar um planejamento bem feito e fazer cálculos analíticos, o que força gestores a serem criativos para prosperar, mesmo em momentos de crises? A composição merece estudos posteriores. A dimensão dois – Dinâmica, compôs-se das escolas ambiental e configuração, na qual a estratégia emerge a partir de mudanças ambientais e transformações organizacionais. A escola da configuração guarda relação com todas as demais, uma vez que cada escola constitui uma determinada configuração. A relação com a escola ambiental é, porém, especial tendo em vista que o ambiente é mutável por natureza, embora aja os mais estáveis e os que mudam constantemente. Entende-se que é essa forte ligação com mudança que justifica a composição conjunta das duas escolas. A dimensão três – Comportamental, resultou da utilização conjunta das escolas cognitiva, aprendizado e poder, todas descritivas. Nesse caso a estratégia emerge de um processo aberto de aprendizado e influência política. A dimensão mostra três escolas movidas pelo comportamento, deixando bem clara a ligação entre elas. Conhecimento é poder. Como aprender, como repassar o conhecimento, como reverter conhecimento em poder e como utilizar esse poder dependem exclusivamente da mente (comportamento) do indivíduo, que nada mais é que a cognição. Explica-se, então o agrupamento realizado. A dimensão quatro – Mista, acomodou as escolas de planejamento e cultura, na qual a estratégia é deliberada e formulada por um processo de planejamento formal coletivo tendo como principal insumo a cultura organizacional. A teoria VBR encontra na cultura um ponto tangível que são as competências distintivas geradas por meio da criação da cultura organizacional. Competências distintivas são objeto de análise do planejamento, ao utilizar o modelo SWOT. Um planejamento estratégico de efeito define missão, visão e valores organizacionais, de forma conjunta com representantes de toda a organização, definindo objetivos, metas e estratégias com foco nessa visão conjunta. Percebe-se, assim, que planejamento e cultura estão fortemente ligados, o que esclarece a composição. 167 As pesquisas similares de Vasconcelos (2001) e Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) limitaram-se ao uso da análise fatorial, não fazendo análises do modelo original das 10 escolas com focos específicos em tempo de existência das empresas, setores e resultados financeiros. Ambas as pesquisas chegaram a um novo modelo com três dimensões conceituais, sendo que a composição de cada uma variou, em função das amostras utilizadas. Vasconcelos (2001) apresentou a metáfora do Ornitorrinco que exemplifica muito bem os resultados encontrados por ambas as pesquisas, bem como a presente pesquisa. Ficou claro que executivos fazem suas próprias composições. Affonso Neto, Gonçalves e Bilich (2004) apresentaram resultados oriundos da realização de duas análises fatoriais, sendo que a primeira ampliou a tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) para 14 abordagens, o que parece ter fragmentado as escolas e a segunda que resultou nas três dimensões apresentadas, porém sem o desenvolvimento de conclusões explicativas dos resultados. De qualquer forma, ambas as pesquisas contribuem para o engrandecimento da literatura acerca da formulação da estratégia com base em práticas empresariais, bem como para a validação da tipologia tomada como base para as pesquisas. A tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) se mostrou uma valiosa fonte de pesquisa sobre a formulação de estratégia, a qual sistematizou e deu ordem à grande maioria das abordagens, teorias e conceitos existentes na área. Contribuiu e facilitou sobremaneira o esclarecimento do problema central dessa pesquisa e possibilitou a identificação de como as abordagens conceituais se agrupam e influenciam a prática da amostra estudada explicando como ocorrem os processos de formulação da estratégia nas maiores empresas do Ceará. As análises realizadas possibilitaram que fossem atingidos todos os objetivos da pesquisa. A hipótese 1: As empresas mais antigas tendem a utilizar as escolas prescritivas não foi confirmada, uma vez que na amostra estudada a escola mais utilizada foi a empreendedora. Quanto aos setores, a hipótese 2: Cada setor apresenta um comportamento próprio em relação à utilização das escolas foi confirmada, considerando-se que apesar de apresentarem pontos comuns os setores privilegiam algumas escolas de forma diferenciada, fazendo combinações próprias. 168 Os resultados obtidos com a relação de FLA e RLA não confirmam a hipótese 3: As empresas em que predomina a escola empreendedora alcançam melhores resultados financeiros. Os gráficos de FLA e RLA analisados não indicam relação direta entre a adoção da escola empreendedora e o resultado financeiro obtido. O empreendedorismo predominou tanto nas empresas com resultados financeiros menores quanto naquelas com maiores resultados financeiros, se mostrando muito influente em três das cinco faixas de FLA e em cinco das seis faixas de RLA. A hipótese 4: As empresas utilizam uma composição de escolas, em vez de adotarem apenas uma única escola, foi confirmada mediante constatação que as empresas fazem uma composição de várias escolas para formular suas estratégias (gráfico 12). A hipótese 5: Os gestores das empresas pesquisadas têm adotado posturas empreendedoras, foi confirmada considerando-se que, dentre as 10 escolas, a empreendedora foi a que se mostrou mais influente nas diversas análises realizadas. Finalmente, ressalte-se que as análises realizadas levantaram algumas reflexões que resultaram na geração de hipóteses. Será que a ênfase na escola empreendedora tem ocorrido porque os gestores das maiores empresas do Ceará são realmente inovadores e criativos? Será que se tem buscado adotar posturas empreendedoras em face das mudanças contínuas as quais estão submetidos que os forçam a buscar uma criatividade que não surgiria sem pressão? Ou será, ainda, que o empreendedorismo tem sido uma forma de contornar dificuldades existentes para a realização de um planejamento de efeito, bem como da utilização de técnicas analíticas sofisticadas? São os gestores cearenses, conhecedores das teorias em estratégia, que resultaram no delineamento das 10 escolas de formulação de estratégia? A composição de várias escolas para a formulação estratégica ocorre de forma deliberada ou é resultante do método “tentativa e erro”? Essas são questões que ficam postas, e deixa-se aqui a sugestão de que sejam exploradas em novos trabalhos. Quanto às pesquisas similares, os resultados apresentados por Vasconcelos (2001) mostraram que parte de sua amostra tem como base a dimensão um do novo modelo conceitual, chamada intencional, na qual encontram-se somente as escolas prescritivas. Na pesquisa em curso a dimensão 1 também engloba as escolas prescritivas, tendo sido acrescentada a escola empreendedora a essa dimensão. Pergunta-se, então: o surgimento da 169 escola empreendedora aliada às prescritivas é resultante de uma prática característica do Nordeste ou decorridos três anos da pesquisa de Vasconcelos (2001) o empresariado, em nível nacional, teria passado a se arriscar mais em posturas empreendedoras? Outro ponto a ser refletido é sobre a pouca utilização da escola cognitiva. A cognição, tão importante para a compreensão das ações humanas, parece não haver decolado nem na teoria nem na prática da estratégia empresarial. Entende-se que os modelos mentais são os grandes responsáveis pelas ações humanas e empresários são em primeiro lugar seres humanos. Para entendê-los é preciso, antes de tudo, entender suas mentes. O Safári da Estratégia deixa claro, porém, que a abordagem cognitiva, em formulação de estratégia, consiste mais em um elenco de obras soltas e menos em uma escola. Os resultados obtidos no cruzamento das escolas com as empresas da amostra demonstraram, no geral, que a escola cognitiva não possui influência na formulação da estratégia da amostra. Será que se encontra aí a justificativa para que metade dos executivos da amostra não tenha apresentado total consistência entre a maneira como declararam formular suas estratégias e os resultados da escala Likert, cuja tendência é mostrar, ainda que inconscientemente, como o processo realmente ocorre? Postas essas reflexões é importante que se registrem as limitações encontradas no desenvolvimento da pesquisa. A primeira foi a consecução da lista de endereços e contatos das empresas constantes na listagem das 100 maiores empresas do Ceará. Conforme informação da Bolsa de Valores do Ceará, não é possível fornecer a lista devido ao sigilo inerente aos dados do Prêmio. Os depoimentos dos executivos premiados são unânimes em elogiar a transparência promovida pelo Prêmio, a exemplo da listagem publicada com os resultados do Prêmio, incluindo Faturamento Líquido Ajustado, Resultado Líquido Ajustado e Patrimônio Líquido, dentre outros. A consecução da listagem integral, em tempo hábil teria representado um ganho de tempo bastante significativo na realização da pesquisa. Ao contrário, foi necessário trabalhar com uma listagem parcial, composta em parte pela fornecida pelo CMA da UNIFOR. Na falta da listagem completa, coube à rede de pesquisadores identificar as localizações, nomes dos dirigentes e e-mails das empresas sob suas responsabilidades para aplicação do questionário. Definido o meio de se chegar a cada uma das empresas, surgiu o problema do acesso aos dirigentes, ficando claros, dentre outros, problemas de agendas sobrecarregadas, falta de 170 interesse pelo tema, desconhecimento da importância da realização de pesquisas desse porte para a prática empresarial e receio de compartilhar com terceiros a estratégia da empresa. Outro grande problema inerente não só a essa pesquisa, mas às pesquisas de mestrado, em geral, é o tempo limitado para a defesa da dissertação, em função de critérios estabelecidos pelos órgãos reguladores. Cada pesquisa tem suas próprias peculiaridades e o seu desenvolvimento nem sempre é compatível com o prazo estabelecido. No caso da presente pesquisa, foi necessário encerrar a aplicação dos questionários para consolidação dos dados antes de se atingir o quantitativo desejado. A limitações citadas levaram a uma grande limitação que consistiu na amostra composta de apenas 35 empresas, embora houvesse perspectiva de se atingir, ao menos, 50% das empresas da população, conforme promessas de dirigentes ou representantes de empresas, que de posse do questionário, marcaram mais de uma vez datas para devolução, sem contudo, cumpri-las. A amostra de 35 empresas levou a outra limitação que foi a relação entre as variáveis do questionário e o número de observações (questionários) que deveria ser 4,0, e foi 3,5. Assim, os resultados obtidos ficaram submetidos à referida relação, que não é a ideal, mas foi mantida como forma de dar suporte as análises realizadas previamente à fatorial. Destacam-se ainda como limitações do trabalho (1) a sua abrangência, restrita ao Estado do Ceará; (2) a não identificação do perfil dos respondentes no tocante à sua formação, e (3) a ausência identificada em parte dos respondentes da consciência plena de como ocorre o processo de formulação de estratégia em suas organizações, explicitado nos resultados da compatibilização da pergunta subjetiva com os resultados da escala de Likert. Identificadas as principais limitações do trabalho, serão sugeridos alguns pontos para futuras pesquisas. Acredita-se, inicialmente, na necessidade de um trabalho de conscientização, dirigido aos executivos, sobre a importância da pesquisa científica na aplicação da prática empresarial, mostrando, também, a importância da parceria entre academia e empresas. 171 A ampliação da pesquisa no tocante ao tamanho da amostra, com realização de análise fatorial, possibilitará maior confiabilidade nos resultados obtidos. Recomenda-se, também, que a pesquisa seja estendida para todo o Brasil, tanto por região - o que possibilitaria análises inter-regionais - quanto no país como um todo - o que daria uma visibilidade de como executivos, em nível nacional, têm formulado suas estratégias. No tocante ao perfil do executivo, seria interessante que novas pesquisas identificassem a relação existente entre a formação do gestor e as escolas de formulação adotadas. Seria interessante, ainda, um estudo que privilegiasse a investigação sobre os aspectos cognitivos e a formulação da estratégia, uma vez que acredita-se estar na cognição grande parte das explicações para o entendimento dos fatores que influenciam o processo de formulação estratégica nas empresas. 172 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAKER, David A; KUMAR, V.; DAY, George S. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001. AFFONSO NETO, Aníbal; GONÇALVES, Carlos Alberto; BILICH, Feruccio. 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Nesta perspectiva a estratégia empresarial tem assumido um papel relevante, passando a ser tema cada vez mais explorado no meio acadêmico e empresarial. Existe uma grande variedade de modelos e tipologias disponíveis. Há que se compreender, porém, como e por que os executivos optam por uma ou outra estratégia. Como aluna do Mestrado em Administração da UNIFOR, pretendo com a minha dissertação incrementar os estudos acerca da formulação da estratégia. O questionário anexo consiste em um instrumento de coleta de dados que subsidiará minha pesquisa, tomando como base o seguinte questionamento: “Em que se baseia o processo de escolha da estratégia?”. O público-alvo para a pesquisa é composto pelas empresas contempladas com o Prêmio Delmiro Gouveia/2003, da Bolsa de Valores Regional do Estado do Ceará. Ressalte-se que o estudo beneficiará empresas, contribuindo com a formulação de melhores estratégias, e conseqüentemente a sociedade, que receberá melhores produtos e serviços, ficando as informações sob o mais estrito sigilo. Para o êxito da pesquisa, sua participação é de fundamental importância, razão pela qual peço que dedique um pouco do seu tempo para responder o questionário. Caso deseje, favor devolve-lo por e-mail ([email protected]) ou fax: 488.7530. Agradeço sua atenção e valiosa contribuição. Atenciosamente Alda Maria Araújo de Oliveira Fones: 488.7513 / 9987.6047 183 1. Caracterização da Empresa Nome: Tempo de Existência: Tipo: Origem: Setor: 1. ( ) Matriz 2. ( ) Não Matriz 1. ( ) Local 2. ( ) Outro Estado Brasileiro 3. ( ) Estrangeira 1. ( 2. ( 3. ( 4. ( ) Indústria ) Comércio ) Serviços ) Agronegócios Faturamento Líquido Ajustado (Milhões de reais) Resultado Líquido Ajustado (Milhões de reais) 1. ( 2. ( 3. ( 4. ( 5. ( Positivo 1. ( ) > 100 2. ( ) 51 – 100 3. ( ) 11 – 50 4. ( ) < 10 ) > 1 bilhão ) 501 – 1 bilhão ) 101 – 500 ) 50 – 100 ) < 50 Negativo 5. ( ) <1 6. ( ) 1- 10 7. ( ) > 10 Nota: Campo não obrigatório. Informação disponível no relatório divulgado pelo Prêmio. 2. Dados do Respondente Nome: Fone: Cargo: Fax: Tempo na Empresa: Faixa etária: 1. ( ) abaixo de 30 2. ( ) 30-39 e-mail: 3. ( ) 40-49 4. ( ) 50-59 5. ( ) acima de 60 3. Como as decisões estratégicas são formuladas e deliberadas em sua empresa? 4. Questões objetivas sobre a sua empresa Não Se Aplica NA No. Concordo Totalmente 4 Concordo Discordo 3 2 Discordo Totalmente 1 AFIRMAÇÃO 1 O executivo principal é o grande estrategista da organização. 2 A estratégia da empresa é simples e explícita. 3 Existe uma clara separação entre as etapas de formulação e implementação da estratégia 4 Existe um plano estratégico escrito, formal. 5 6 A formulação da estratégia da empresa segue um processo formal com etapas distintas pré-determinadas. A estratégia é formulada pelos planejadores da empresa e aprovada pelo executivo principal. NOTA 184 No. AFIRMAÇÃO 7 O orçamento da empresa demonstra relação direta com o planejamento estratégico. 8 O estudo do setor é determinante para a seleção da estratégia a ser adotada. 9 O processo de formulação da estratégia consiste na utilização de técnicas de análise estratégica visando à seleção de uma posição genérica na indústria. 10 A empresa analisa a sua relação de poder de barganha com fornecedores e clientes. 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Novas tecnologias e produtos substitutos que podem vir a impactar a posição da empresa são analisados sistematicamente. A estratégia da empresa leva explicitamente em consideração a análise dos concorrentes diretos e potenciais. A estratégia da empresa existe na mente do líder como um senso de direção a longo prazo, uma visão de futuro. O líder maior é criativo, persuasivo e carismático. A geração de estratégias é dominada pela busca ativa de novas oportunidades de negócios. A estratégia organizacional é, em grande parte, determinada por aquelas “inpirações ocasionais”, do(s) principal(is) executivo(s), que reestruturam o modo de pensar. A formulação da estratégia considera que a empresa não pode simplesmente ajustar-se a tendências; suas ações fazem as tendências. A análise das ações gerenciais é mais relevante do que a análise ambiental Na sua organização há muitos estrategistas em potencial. Estratégias podem, surgir em todas as áreas e de maneira incomum. O papel do líder não é conceber estratégias e sim gerenciar o processo de aprendizado estratégico pelo qual novas estratégias podem emergir. Os gerentes reconhecem a importância do conhecimento tácito (implícito) e buscam convertê-lo em explícito (formal). A essência da estratégia está no desenvolvimento da capacidade organizacional para adquirir, criar, acumular e explorar o conhecimento. Há disputas e lutas de poder aparentes entre os diversos departamentos ou divisões da empresa. Decisões importantes sempre envolvem negociação entre as partes com interesses diferentes. A cultura da organização exerce forte impacto sobre a estrutura e o estilo de tomada de decisões. A formação da estratégia é um processo de interação social, baseado em crenças e interpretações comuns aos membros da organização. A resistência a mudanças estratégicas é uma constante na organização. O ambiente (economia, governo, concorrentes, mercado) é o agente central no processo de formação da estratégia. A liderança costuma “ler” o ambiente, visando a garantir uma adaptação adequada pela organização (reação a forças externas). Não há “uma maneira melhor” para dirigir uma organização, “tudo depende” (porte, tecnologia, estabilidade/hostilidade externa...). Sua organização vem mudando ao longo do tempo a sua forma de tomar decisões estratégicas. 32 Essas mudanças significam ruptura com estilos anteriores. 33 Mudanças na organização são fruto de uma pressão de cima para baixo (emanadas da superior administração). NOTA 185 ANEXO I Bolsa de Valores Regional - Prêmio Delmiro Gouveia-2003 100 Maiores Empresas do Ceará ANEXO I BOLSA DE VALORES REGIONAL - PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2003 100 MAIORES EMPRESAS DO CEARÁ Faturamento Líquido Ajustado (FLA) Ordem Empresa Setor Resultado Líquido Ajustado (RLA) Pontos Totais (em R$ 1,00) 1 COMPANHIA ENERGÉTICA DO CEARÁ 2 M. DIAS BRANCO S/A - COM. E INDÚSTRIA 3 TELECEARÁ CELULAR S/A 4 GRENDENE CALÇADOS S/A 5 COMP. DE ÁGUA E ESGOTO DO CEARÁ 6 AGRIPEC QUIMICA E FARMACEUTICA S/A 7 DEIB OTOCH S/A 8 EXPRESSO GUANABARA S/A 9 GRANDE MOINHO CEARENSE S/A 10 RIGESA DO NORDESTE S/A 11 DUCOCO PRODUTOS ALIMENTÍCIOS S/A 12 HAPVIDA ASSISTÊNCIA MÉDICA LTDA 13 EMPREENDIMENTOS PAGUE MENOS S/A UNIMED DE FORTALEZA COOP DE TRAB 14 MÉDICO LTDA 15 MARISOL NORDESTE S.A. 16 JOSÉ ABRAHAO OTOCH & CIA LTDA 17 PELAGIO OLIVEIRA SA 18 PETROPAR EMBALAGENS S/A 19 DURAMETAL S A VICUNHA NORDESTE S/A - INDÚSTRIA 20 TÊXTIL 21 DAKOTA NORDESTE S/A 22 DILLY NORDESTE S/A 23 TEBASA S/A COMPANHIA NORDESTE DE 24 AQUICULTURA E ALIMENTACAO 25 MENINA PRODUTOS ALIMENTICIOS S/A 1 Pontos (em R$ 1,00) Pontos S I S I S I C S I I I S C 150,70 149,20 145,20 144,80 144,00 139,00 137,60 136,40 134,20 134,00 132,80 131,50 130,10 1.074.297.936,42 686.026.305,99 283.753.731,81 866.335.176,25 262.913.824,29 149.198.631,03 140.330.514,07 95.878.672,03 103.755.012,34 95.772.323,76 95.404.036,34 132.684.766,00 486.882.215,28 75,50 74,50 73,00 75,00 72,50 71,00 70,50 67,50 68,50 67,00 66,50 69,50 74,00 146.645.659,88 31.463.369,20 47.815.296,06 2.204.444,09 38.859.625,70 8.584.303,42 1.908.095,40 8.669.367,02 12.641.524,51 6.043.808,43 3.274.000,41 6.275.865,50 1.570.567,59 30,40 29,80 30,20 24,80 30,00 28,80 24,00 29,00 29,40 27,80 26,80 28,20 23,00 S I C I I I 129,00 128,90 128,20 127,10 126,70 125,60 311.484.745,46 60.667.774,00 74.152.358,55 85.403.977,16 110.044.047,91 46.751.170,41 73,50 63,00 65,00 65,50 69,00 60,00 7.915.251,40 2.483.113,47 1.977.950,05 1.622.897,97 16.141.301,31 6.200.623,94 28,60 25,40 24,20 23,40 29,60 28,00 I I I I 121,10 116,10 116,00 115,50 1.497.238.511,17 196.869.371,81 65.304.921,17 137.172.991,01 76,00 72,00 64,00 70,00 -52.252.665,53 -2.877.971,45 4.862.440,66 268.718,53 27,20 18,20 I C 114,20 114,10 43.622.078,22 28.916.427,29 59,00 52,50 2.755.532,69 3.516.698,06 25,80 27,00 ANEXO I BOLSA DE VALORES REGIONAL - PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2003 100 MAIORES EMPRESAS DO CEARÁ 26 NEWLAND VEÍCULOS LTDA C 27 CIA. METALIC NORDESTE I 28 COMPANHIA DE GÁS DO CEARÁ - CEGÁS I COMPANHIA INDUSTRIAL DE ÓLEOS DO 29 NORDESTE -CIONE I 30 COTECE S/A I 31 CONSTRUTORA MARQUISE SA S A 32 COMPANHIA DE ALIMENTOS DO NORDESTE S/A 33 VIAÇÃO URBANA LTDA S 34 HOSPITAL ANTONIO PRUDENTE S/C LTDA. S 35 FAE - FERRAGENS E APARELHOS ELÉTRICOS S/A I 36 JEREISSATI CENTROS COMERCIAIS S/A S 37 METALGRAFICA CEARENSE S/A I 38 LANLINK INFORMÁTICA LTDA S 39 MARCOSA S/A MÁQ. E EQUIPAMENTOS C 40 AUTO PEÇAS PADRE CICERO LTDA C 41 CARBOMIL QUÍMICA S/A I 42 IMOBILIÁRIA JEREISSATI S/A S 43 ABC DISTRIBUIDORA S/A C 44 MOAGEIRRA SERRA GRANDE LTDA I 45 SAGANOR SA NORDESTE AUTOMÓVEIS C YOSHIDA NORDESTE S.A INDÚSTRIA E 46 COMÉRCIO I 47 SERVIS SEGURANÇA LTDA S 48 TEXTIL UNIÃO S/A I 49 ESMALTEC S/A I 50 UNITÊXTIL - UNIÃO INDUSTRIAL TEXTIL S/A I 51 SANGATI BERGA S/A I 52 FAZAUTO FORT. AUTOMOTORES LTDA C 53 AGROINDÚSTRIA BAQUIT S/A A 54 CEARÁ MOTOR LTDA C 55 CEARÁ DIESEL S/A C 56 DISPA-INDÚSTRIA DE RAÇÕES S/A I 57 LOTRAN LIBRA-LIGAS DO BRASIL S/A I LOGISTICA E TRANSPORTES 58 LTDA S 2 112,10 109,90 109,20 69.143.816,42 159.155.293,28 45.117.408,69 64,50 71,50 59,50 393.764,29 -19.860.188,49 3.067.764,04 19,40 26,40 108,90 108,70 107,80 107,70 107,60 105,40 102,20 99,30 99,30 99,20 98,40 95,90 94,40 91,40 90,80 89,80 89,60 40.891.087,64 96.218.021,92 91.999.574,48 48.152.377,39 30.291.293,50 26.103.479,25 35.999.509,32 24.673.098,16 54.955.755,68 26.251.377,83 34.748.035,81 47.063.461,16 24.120.480,54 13.075.104,36 29.120.210,12 32.431.219,20 37.105.189,13 58,00 68,00 66,00 61,50 54,50 50,00 56,50 49,00 62,00 50,50 56,00 60,50 48,50 40,00 53,00 55,50 57,50 2.950.450,98 -12.177.056,64 -14.963.244,89 2.288.161,60 2.081.839,81 2.119.706,60 1.518.000,00 2.834.243,80 -4.109.696,06 1.581.498,21 2.522.518,11 -483.348,62 5.342.748,87 6.534.916,08 375.826,00 -887.441,16 -494.568,63 26,20 25,00 24,40 24,60 22,80 26,00 23,20 25,60 27,40 28,40 19,20 - 89,50 88,80 88,60 88,40 83,20 81,80 81,70 81,00 80,60 79,50 79,40 78,30 78,10 12.082.118,12 30.564.246,35 62.139.789,51 48.022.360,20 16.422.407,77 21.081.952,12 29.324.325,55 11.932.400,91 27.055.380,62 43.563.476,20 17.215.180,46 14.811.253,50 8.023.010,93 39,50 55,00 63,50 61,00 43,00 46,50 53,50 38,50 51,50 58,50 44,00 41,00 32,50 808.622,70 -812.335,81 -6.114.400,00 -883.894,31 693.489,73 213.876,96 -956.337,05 2.430.515,25 -533.324,05 -1.167.867,48 571.106,83 8.792.878,78 405.692,22 21,20 21,00 17,80 25,20 20,60 29,20 19,80 ANEXO I BOLSA DE VALORES REGIONAL - PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2003 100 MAIORES EMPRESAS DO CEARÁ 59 CASCAJU AGROINDUSTRIAL S/A 60 CONPAR - PRODUTOS MARINHOS S/A 61 TINTAS HIDRACOR S/A 62 BEATRIZ TÊXTIL S/A 63 CONSTRUTORA COLMÉIA S/A 64 CLINICA SÃO CARLOS LTDA 65 COMPANHIA TÊXTIL DO NORDESTE 66 MARQUISE EMPREENDIMENTOS S/A 67 GRANISTONE S/A 68 MARINA DE IRACEMA PARK S/A 69 COMPANHIA FERROV. DO NORDESTE ESPLANADA CONFECÇÕES DO NORDESTE 70 S/A- ESPLANORD 71 YAMACOM NORDESTE S/A AVINE COMERCIAL E AVÍCOLA DO 72 NORDESTE LTDA. 73 ARAÚJO CABRAL & ALVES LTDA. 74 DUCOCO AGRICOLA S/A 75 HOTELEIRA ARY S/A 76 VIDEOMAR REDE NORDESTE S/A 77 COTEFOR S/A EMPRESA DE TRÂNSITO E TRANSPORTE 78 URBANO S/A 79 FIMM BRASIL LTDA. 80 FIOTEX INDUSTRIAL S/A CEMEC CONSTRUÇÕES 81 ELETROMECÂNICAS S/A INDUSTRIA BRASILEIRA DE ARTEFATOS 82 PLÁSTICOS S/A IB 83 LABORATÓRIO MADREVITA LTDA. S/A CENTRO REGIONAL INTEGRADO DE 84 ONCOLOGIA - CRIO 85 INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ 86 C. ROLIM TECIDOS S/A 87 MARIMAR INDUSTRIAL S/A 3 I A I I I S I S I S S 76,80 75,60 75,30 75,20 73,80 72,90 71,70 70,80 70,10 69,90 68,80 56.560.491,89 7.725.436,29 29.820.725,39 5.293.315,40 36.282.175,78 5.389.365,78 25.245.281,94 11.371.226,10 10.483.179,56 8.768.801,60 26.538.979,48 62,50 32,00 54,00 27,00 57,00 27,50 49,50 37,50 35,00 33,50 51,00 -778.451,32 269.991,12 -1.132.270,82 5.724.529,40 -1.941.711,70 1.132.660,87 -5.996.818,04 -5.702.092,33 1.016.066,12 483.973,28 -27.463.550,32 18,40 27,60 22,00 21,80 20,20 - I I 68,20 68,00 19.172.058,10 4.657.782,97 45,00 24,50 -2.546.083,00 3.170.541,18 26,60 A C A S S I 67,80 67,50 66,50 66,50 66,00 64,20 15.227.974,86 12.006.508,99 2.066.631,98 18.587.495,50 23.488.332,76 16.523.672,73 41,50 39,00 14,00 44,50 47,50 43,50 -353.997,27 -172.593,91 1.503.399,84 -1.718.569,03 -5.568.593,74 -10.598.226,10 22,60 - S S I 63,00 61,90 61,70 10.805.067,73 11.663.397,49 28.850.745,45 35,50 38,00 52,00 435.162,39 -154.954,41 -16.521.000,00 20,00 - I 61,10 16.174.151,55 42,50 -5.396.350,11 - I I 60,40 60,20 9.857.103,03 6.376.074,47 34,50 30,50 -380.128,02 -1.261.903,38 - S S C I 59,70 59,10 58,80 58,20 5.398.833,97 22.758.281,48 15.989.424,91 4.852.104,72 28,00 47,00 42,00 26,00 863.889,27 -1.375.767,72 -1.246.162,19 1.475.734,74 21,60 22,40 ANEXO I BOLSA DE VALORES REGIONAL - PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2003 100 MAIORES EMPRESAS DO CEARÁ 88 HORIZONTE AVÍCOLA E INDUSTRIAL S/A A 89 MICREL BENFIO TEXTIL LTDA I 90 CIA BRASILEIRA DE LATICINIOS - CBL I 91 TV SHOW BRASIL S/A S 92 INDÚSTRIA DE FRIO E PESCA S/A - IPESCA A 93 AQUACULTURA FORTALEZA AQUAFORT S/A I 94 ARARUNA PLASTICOS IND E COM LTDA I 95 MERCURIUS CONSTRUÇÕES S.A. I 96 PACATUBA HORTIGRANJEIRA S/A A UNIODONTO DE FORTALEZA-COOP DE 97 TRAB ODONTOLOGICO S 98 PETRÓLEO E LUBRIFICANTES DO NORDESTE S/A I I 99 INDÚSTRIASELÉTRICAS ELITE S/A - INELSA 100 CLINICA BEROALDO JUREMA S/A S 4 58,10 57,40 57,10 55,80 55,50 55,40 54,60 52,40 52,40 19.763.385,69 8.865.475,62 23.728.735,31 11.328.589,21 19.875.094,16 4.779.340,97 4.272.680,69 13.977.328,79 5.576.469,78 45,50 34,00 48,00 37,00 46,00 25,50 23,00 40,50 28,50 -2.390.509,14 -210.715,76 -13.919.531,40 -10.393.412,18 -398.582,95 543.678,09 16.804,46 -202.416,86 50.498,30 20,40 15,80 16,40 49,40 49,30 49,20 49,10 3.365.181,77 8.687.595,40 3.845.579,88 4.491.824,11 19,00 33,00 21,50 24,00 70.673,67 -939.386,26 601.077,02 347.700,56 16,80 20,80 19,00