Volume 4 Número 28 10 de setembro de 2006 GBETH Newsletter de Tumores Hereditários de Estudos o r i e l i s Uma o Bra publicação semanal do Grup www.gbeth.org.br GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários. Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] [email protected] Editor Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico André Vettore Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Conselho Científico Beatriz de Camargo José Claúdio C Rocha Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Samuel Aguiar Jr Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos Caso Clínico: Adenomas Colorretais e Quimioprevenção Erika Maria Monteiro Santos Registro de Câncer Colorretal Hereditário - Hospital do Câncer Caso Clínico VRL, 47 anos, brasileira, natural e procedente de São Paulo, Técnica de Nutrição, Segundo Grau Completo. Admitida no Hospital do Câncer em 21 de março de 1995, com queixa de lesão anal com retração após a evacuação há dois anos. Procurou outro serviço médico onde foi submetida à duas biópsias com anatomopatológico de adenoma. Submetida a exame proctológico em 28 de março de 1995, com a identificação de pólipo em canal anal de 0,3cm – processo inflamatório crônico; e um pólipo com 0,8cm à 13cm da linha pectínea - adenoma túbulo-viloso com atipia moderada. Em abril de 1995 foi submetida à colonoscopia com a identificação de dois pólipos hiperplásicos em cólon e reto alto e um pólipo no reto a 1cm da linha pectínea, com anatomopatológico de adenoma túbulo-viloso com atipias severas. Foi submetida à ressecção transanal em maio de 1995, na qual foi identificado um adenoma viloso de 2,5cm no canal anal. No pós-operatório apresentou sangramento anal, com queda de hemoglobina (7,4g/dl); recebeu transfusão e foi liberada a seguir. Em julho de 1995 foi submetida a exame proctológico sem alterações; e em janeiro de 1996 foi submetida à colonoscopia com irregularidade na mucosa no local da ressecção e foi identificado de um pólipo retal hiperplásico. Em agosto de 1997 foi submetida à colonoscopia com ressecção de um adenoma de 4mm em reto baixo. Em setembro de 1998 foi submetida a colonoscopia com um pólipo em sigmóide com 3mm, séssil (processo inflamatório) e um pólipo em canal anal com 8mm, séssil (adenoma túbuloviloso com atipia baixo grau). A colonoscopia de agosto de 1999 não apresentou alterações. Em abril de 2001 foi submetida à colonoscopia com a identificação de um pólipo de canal anal (hiperplásico) e pólipo em reto com 8mm (adenoma túbuloviloso com atipias leves). Como preenchia critérios de inclusão, e após a assinatura do consentimento informado, a paciente foi incluída no protocolo PreSAP em junho de 2001, randomizada em julho de 2001 para placebo ou celecoxib. Na colonoscopia de agosto de 2002 (1 ano após a entrada no protocolo) foi identificado um pólipo em sigmóide com 3mm (pólipo adenomatoso serreado com displasia de baixo grau). Nas últimas colonoscopias (agosto de 2004 e julho de 2006) não apresentou Caso Clínico: Adenomas Colorretais e Quimioprevenção pólipos. Até janeiro de 2006 não apresentava história familiar de câncer, neste mês o pai de 82 anos foi diagnosticado com câncer de estômago estádio IV. Paciente em seguimento. Comentário de Artigo Arber N, Eagle CJ, Spicak J, Rácz I, Dite P, Hajer J for the PreSAP Trial Investigators. Celecoxib for the Prevention of Colorectal Adenomatous Polyps. New Engl J Med 2006;355:885-95. A enzima COX-2 está superexpressa em tumores colorretais e adenomas, e foi demonstrado que em ratos nocaute é um fator que controla a formação de adenomas. Assim, investigadores buscam avaliar os efeitos dos inibidores de COX-2, tais como o celecoxib, na formação de adenomas. Três estudos internacionais, multicêntricos com o uso de inibidores de COX-2 para prevenir adenomas esporádicos foram lançados em 1999 e 2000. O APC trial incluiu 2035 pacientes com duas doses celecoxibe, e o Aprove incluiu 2586 pacientes em um estudo com rofecoxibe. Este estudo randomizado, controlado por placebo, avalia a eficácia de 400mg de celecoxibe em pacientes submetidos à colonoscopia com ressecção de adenomas. Nos três meses anteriores a entrada do paciente no estudo, todos os indivíduos foram submetidos a uma colonoscopia. Pacientes com adenomas removidos, foram submetidos a um mês de uso de placebo para determinar a aderência ao tratamento. Ao final deste período, os pacientes foram estratificados de acordo com o país de origem e o uso de aspirina para cardioproteção, e foram randomizados em uma relação de 3:2 para receber uma dose de 400mg de celecoxibe ou placebo. Foram realizadas colonoscopias 12 meses (ano 1) e 36 meses (ano 3) após a randomização. Os investigadores completaram a inclusão dos pacientes em um ano (de março de 2001 a março de 2002) e a última colonoscopia foi realizada em maio de 2005. Avaliações de segurança incluíram exames físicos e laboratoriais. Depois de relatórios de setembro de 2004 sobre aumento de risco cardiovascular com o uso de rofecoxibe, o comitê do PreSAP solicitou a um comitê independente que executasse uma análise dos eventos cardiovasculares. Resultados desta análise não mostraram aumento significativo dos eventos cardiovasculares; no entanto, um aumento dos eventos cardiovasculares no estudo APC pelo mesmo comitê levou a suspensão da administração da droga em 17 de dezembro de 2004. População do Estudo Foram incluídos 1738 indivíduos em 107 centros de 32 países em seis continentes. Indivíduos elegíveis tinham 30 anos de idade ou mais e foram submetidos à colonoscopia pelo menos três meses antes da entrada no estudo, com a ressecção de pelo menos um adenoma com no mínimo 6mm ou dois a 10 adenomas de qualquer tamanho. Indivíduos eram inelegíveis se tivessem história de polipose adenomatosa familiar, câncer colorretal hereditário sem polipose, doença inflamatória intestinal, ou câncer cinco anos antes do estudo. Eram também inelegíveis indivíduos com doença renal, hepática, ou hematológica desordens; indivíduos hipersensíveis a inibidores de COX-2, antiinflamatórios não hormonais, salicilatos, sulfas; indivíduos com ressecção intestinal (excluindo apendicectomia); e indivíduos que usaram antiinflamatórios não hormonais três ou mais vezes por semana 60 dias antes da randomização. O resultado de eficácia primária foi a identificação de adenomas colorretais na colonoscopia ano 1, ano 3, ou ambas. Os resultados de eficácia secundários foram o número de adenomas colorretais, o tamanho do maior adenoma, e o burden de adenoma (a soma dos diâmetros de todos os adenomas) no período de três anos. Além disso, também foi considerada a descoberta de adenomas “avançados”: tamanho de pelo menos 1cm, histologia vilosa ou tubulovilosa, displasia de alto-grau, carcinoma invasivo. O cálculo de tamanho da amostra indicou que seriam necessários 1500 indivíduos (900 no grupo tratado com celecoxibe e 600 no grupo placebo) para assegurar 90% de poder para detectar 35% de redução na formação de adenomas no grupo celecoxibe. Com erro alfa de 5%. O efeito de redução do celecoxibe foi calculado com o teste Mantel-Cox. Resultados De 1738 indivíduos selecionados, 1561 foram GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 28 Caso Clínico: Adenomas Colorretais e Quimioprevenção randomizados, 628 para o grupo placebo e 933 para o grupo celecoxibe; 107 (17%) indivíduos no grupo placebo e 160 (17,1%) no grupo celecoxibe usaram aspirina com dose cardioprotetora. foi semelhante entre os grupos (12,1% no grupo celecoxibe; e 10,4% no grupo de placebo). Os pacientes do grupo placebo e do grupo celecoxibe eram semelhantes quanto às características sociodemográficas (idade, sexo, raça); e clínicas (índice de massa corpórea, pressão arterial, uso de aspirina para proteção cardíaca). Do total de pacientes cerca de 16% relataram história familiar de câncer colorretal. O número médio de adenomas foi 1,9; e 48% eram maiores que 1cm. Discussão Do total de sujeitos participantes, 63,4% do grupo placebo e 64,4% do grupo celecoxibe apresentavam algum fator de risco cardiovascular (hipertensão, hiperlipidemia, doença cardíaca arterioesclerótica, diabetes, tabagismo, doença cerebrovascular). Eficácia Nos 557 indivíduos no grupo placebo e 840 indivíduos no grupo celecoxibe, foram achados 264 e 270, adenomas. A taxa cumulativa de adenomas, calculada no método de Mantel-Cox, foi de 33,6% para os indivíduos do grupo celecoxibe e 49,3% do grupo placebo (risco relativo 0,64; IC 95% 0,56 a 0,75; p < 0.001). Os resultados foram semelhantes para os indivíduos que usavam aspirina (risco relativo 0,61; IC 95% 0,43 a 0,88; p =0.007). A proporção cumulativa de adenomas avançados no ano 3 foi 5,3% no grupo celecoxibe e 10,4% no grupo placebo (risco relativo 0,49; IC 95% 0,33 a 0,73; p < 0.001). Trinta e cinco indivíduos morreram de causas cardiovasculares; sendo 2,5% no grupo celecoxibe (23 de 933) e 1,9% no grupo placebo (12 de 628) (risco relativo 1,30; IC 95% 0,65 a 2,62 2.65). Do total de indivíduos, 74% no grupo placebo e 77,1% no grupo celecoxibe apresentaram algum evento adverso. Ulceração gastrintestinal ou hemorragia digestiva Neste estudo randomizado, controlado por placebo, duplo-cego, o uso de 400mg de celecoxibe foi associado a um risco relativo de 0,64 para adenomas durante um período de três anos. Igualmente, a taxa cumulativa de adenomas avançados foi inferior no grupo celecoxibe (risco relativo de 0,49). O estudo não avaliou se o uso de celecoxib afeta o risco de progressão a câncer invasivo. Câncer colorretal foi diagnosticado em seis indivíduos no grupo celecoxibe (0,6%) e em indivíduo no grupo placebo (0,2%). Estes casos podem ser atribuídos a excisão incompleta ou doença não detectada na colonoscopia. Três dos sete casos ocorreram em indivíduos com história familiar de câncer colorretal (mãe). A determinação do benefício clínico requer pesquisa adicional. É necessário determinar a persistência do efeito do celecoxibe na prevenção de adenomas. O celecoxibe também pode ter efeitos em outras enzimas, tais como a 15-lipoxygenase1 que pode mediar seus efeitos biológicos. Os resultados de segurança cardiovascular também devem ser considerados. Um aumento significantivo nos eventos cardiovasculares no estudo APC levou a suspensão da administração de celecoxibe. Neste estudo, o risco relativo de tais eventos com o uso de celecoxibe comparado ao placebo foi 1,30 (IC 95% 0,65 a 2,62). Em conclusão, o celecoxibe significativamente reduz o risco de adenomas colorretais. Estes resultados são consistente com evidências que a inibição seletiva de COX-2 pode reduzir a tumorigênese colorretal. Recomendações clínicas para uso deste tratamento necessita de maior investigação. GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 28