A seção de choque diferencial de Rutherford Qual é o ângulo de deflexão quando a partícula passa por um centro de força repulsiva? Nesse caso, quando tratamos as trajetórias sob a ação de forças centrais proporcionais ao inverso do quadrado da distância, vimos que a trajetória é dada por a e2 − 1 r = , −1 + e cos θ onde = L2 mK 1+ 2L2 E . mK 2 a e2 − 1 e r e = Note que, agora, E > 0, já que K = q1 q2 > 0 e que r vai a infinito quando θ se aproxima dos valores 1 θ± = ± arccos . e A partir da direção original de aproximação da partícula, digamos θ− , a nova direção torna-se θ+ . Caso não houvesse um centro espalhador na origem, a partícula não passaria pela origem, mas por uma reta a uma distância s da origem e continuaria ao longo dessa reta paralela à assíntota de equação polar dada por 1 θ = π + θ− = π − arccos . e No entanto, por causa do centro de força repulsiva, a direção final é dada por 1 θ = θ+ = arccos . e A magnitude da deflexão é dada pelo chamado ângulo de deflexão Θ, que nada mais é do que o valor absoluto da variação angular da trajetória final da partícula devida à ação repulsiva do centro de força: 1 Θ = π − 2 arccos . e A figura abaixo ilustra esses ângulos. 1 Essa fórmula é equivalente a π Θ cos − = 2 2 1 1 =q , 2E e 1 + 2L mK 2 isto é, sen Θ 2 1 q . 2E 1 + 2L 2 mK = A energia total inicial é dada pela energia cinética inicial, já que a partícula vem do infinito e, portanto, lá, só temos energia cinética: E = 1 K 1 2 m |ṙ0 | + ≈ mv02 , 2 r0 2 onde v0 = |ṙ0 | , para simplificar a notação. O momentum angular inicial é dado por L = mr0 × ṙ0 = m |r0 × ṙ0 | ẑ = m |r0 | v0 senβẑ, 2 onde β é o ângulo entre os vetores posição e velocidade iniciais. O parâmetro de impacto, s, é definido como |r0 | senβ s = e, portanto, L = |L| = msv0 . A figura acima ilustra o parâmetro de impacto s. Com isso, −1/2 −1/2 Θ m2 s2 v02 mv02 1 2L2 E sen = 1 + , = q = 1+ 2E 2 mK 2 mK 2 1 + 2L mK 2 isto é, sen Θ 2 = 1+ m2 s2 v04 K2 −1/2 . Em um experimento de espalhamento, a quantidade mensurável é a seção de choque diferencial. Seja dN o número de partículas que são espalhadas dentro de um intervalo do ângulo de deflexão entre Θ e Θ + dΘ, por unidade de tempo. Esse número deve ser proporcional à intensidade do feixe incidente, I, dada pelo número de partículas que chegam na região do espalhamento por unidade de área e por unidade de tempo, e deve ser proporcional a dΘ. Em termos matemáticos, podemos escrever dN ∝ IdΘ, isto é, dN dΘ ∝ I. A constante de proporcionalidade deve ter unidades de área por ângulo de deflexão. Logo, seja dσ/dΘ essa constante de proporcionalidade. Assim: dN dΘ = I dσ . dΘ Para cada ângulo de deflexão existe um valor do parâmetro de impacto, como podemos ver da expressão −1/2 Θ m2 s2 v04 sen = 1+ . 2 K2 Logo, para uma pequena variação do ângulo de deflexão, dΘ, corresponde uma variação do parâmetro de impacto, ds. Para calcular essa correspondência, vamos diferenciar ambos os membros da equação acima: " −1/2 # m2 s2 v04 Θ = d 1+ , d sen 2 K2 3 isto é, 1 cos 2 Θ 2 1 dΘ = − 2 −3/2 2m2 v04 m2 s2 v04 sds, 1+ K2 K2 ou seja, cos Θ 2 dΘ = −sen 3 2m2 v04 sds, K2 2m2 v04 sds. K2 Θ 2 ou ainda, dΘ = −tg Θ 2 sen 2 Θ 2 Note que o sinal de menos indica que dΘ < 0 se ds > 0, como fica evidente da figura acima. As partículas que serão espalhadas com ângulos de deflexão entre Θ e Θ+dΘ devem ter parâmetros de impacto entre s e s + ds. Aqui, estarei considerando dΘ > 0 e, assim, ds < 0. Consideremos a área transversal do feixe incidente, A. A figura a seguir ilustra o feixe incidente. Então, IA é o número total de partículas que estão no feixe incidente e que chegam, por unidade de tempo, na região de espalhamento. Desse número, apenas aquelas partículas que tiverem parâmetro de impacto entre s e s + ds serão espalhadas dentro do intervalo de ângulo de deflexão entre Θ e Θ+dΘ. Da área total, A, do feixe incidente, somente as partículas que passarem através da 4 área 2πs |ds| do anel serão espalhadas com a deflexão que estamos considerando. Essa área está para a área total assim como o número de partículas espalhadas está para o número total incidente: 2πs |ds| A = dN I 2πs |ds| dN , IA isto é, = como dN dΘ = I dσ , dΘ segue que dσ dΘ = = 2π dN |ds| = 2πs . IdΘ dΘ Logo, dσ dΘ 1 tg Θ 2 sen2 Θ 2 2m2 v4 . 0 K2 Mas, tg Θ 2 sen 2 Θ 2 sen3 = cos Θ 2 Θ 2 e senΘ = 2sen Θ 2 cos Θ 2 , isto é, cos Θ 2 = senΘ . 2sen Θ 2 Portanto, dσ dΘ = 2π Θ 2 4 2m2 v0 sen3 Θ 2 K 2 cos = 2π K 2 senΘ 4m2 v04 sen4 isto é, dσ dΘ = 2π q1 q2 2mv02 5 2 senΘ . sen4 Θ 2 Θ 2 ,