Verificação Experimental das Fórmulas de Fresnel A. Ferreira (67893), A. Patrı́cio (67898), M. Prata (67933), T. Coutinho(67957) LCET, Engenharia Fı́sica Tecnológica 2o ano, IST, Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa, Portugal (Dated: 19 de Maio de 2011) Nesta actividade, determinámos a reflectância e a transmitância de um feixe laser(radiação monocromática no domı́nio do vı́sivel com λ = 632.8 nm, sujeita a polarizações paralela e perpendicular. Variando o ângulo de incidência da radiaçao sobre a superfı́cie de separação, a reflectância e transmitância são calculadas com base nas fórmulas de Fresnel. O ı́ndice de refracção do polı́mero foi calculado com base no ângulo de Brewster e o no ângulo crı́tico de reflexão total. 1. DESCRIÇÃO E PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL O meio mais refringente usado nesta actividade experimental consiste num semi-cilindro de polı́mero colocado no centro de um goniómetro com gónio, o qual está acoplado a um sistema de posicionamento de um laser e um detector de radiação, de forma a que um feixe de luz incidente atinja a superfı́cie de separação ar-polı́mero com um ângulo de incidência variável: Para cada ângulo de incidência, medimos duas intensidades I1 e I2 no detector principal e I3 no auxiliar. As leituras são feitas de forma alternada(na ordem I1 , I2 e I3 ) e rápida, de forma a que a intensidade de referência seja aproximadamente igual à intensidade média no intervalo de tempo da medição. São também realizadas aproximadamente num pico/vale(no tempo) de intensidade de forma a ser a variação temporal minima. A intensidade(relativa/adimensional) do raio reflectido/transmitido é, assim, calculado pela expressão: I= I1 + I2 2I3 (1) No término da experiência, retirámos o semi-cilindro do goniómetro e fizémos incidir o feixe laser directamente sobre o detector. Deste modo, medimos a intensidade do feixe incidente. Efectuámos ainda a medição de dois ângulos de Brewster bem como de um ângulo crı́tico de reflexão total na passagem do meio mais refringente para o menos refringente, de modo a podermos estimar o valor do ı́ndice de refracção η2 do semi-cilindro de polı́mero para o comprimento de onda λ = 632.8 nm. Relativamente ao cálculo dos valores teóricos, usámos as fórFigura 1: Foto-esquema da montagem experimental. mulas de Fresnel presentes em [3] e os valores experimentais para O feixe laser(Hélio-Neon) usado emite radiação com compri- a reflectância R e transmitância T foram obtidos pelos quocienmento de onda λ = 632.8 nm, cuja radição pode ser polarizado tes entre as intensidades relativas medidas para cada ângulo e a intensidade de referência. linearmente com um polarizador acoplado à lente do feixe. Trabalhámos com um detector de estado sólido, não sensı́vel à polarização da radiação incidente, que possui uma cabeça de medida e um corpo de processamento do sinal. 2. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Devido à existência de uma polarização, inerente ao funcionamento do laser, variável no tempo, foi necessário implementar Medimos a intensidade relativa da radiaçao I com o feixe em um detector auxiluar que permitisse ler uma intensidade de re- incidência directa no detector, valores registados na tabela I. ferência I3 proveniente da uma reflexão parcial num momento anterior à incidência no semi-cilindro. Desta forma, reduzimos Polarização I1 a I3 I2 I a contribuição da polarização variável. Perpendicular 0.2090 ± 0.0005 0.0304 ± 0.0005 0.2100 ± 0.0005 6.89 ± 0.12 Paralela 0.2269 ± 0.0005 0.0460 ± 0.0005 0.2272 ± 0.0005 4.94 ± 0.12 Polarizámos o feixe laser na perpendicular e paralelamente ao plano de incidência e, para cada direcção da polarização(do a Medida adimensional, visto ser obtida por comparação a um valor de campo eléctrico), realizámos dois conjuntos de medidas, uma referência do próprio detector. com o feixe incidente oriundo de um meio mais refringente (fig. Tabela I: Intensidade da radiação directa incidente. 2a)) e outra de um meio menos refringente(fig. 2b )). As medições relativas a cada uma das séries de medidas atrás referidas, dada a sua extensão e a limitação de espaço, não se expõem aqui de forma directa. Para acessar à totalidade dos dados experimentais, bastará aceder ao url em [5]. Registámos também os dois ângulos de Brewster e crı́tico para cada uma das condições de incidência presetes na tabela II. (a) (b) Figura 2: Duas situações de incidência. Em cada uma das séries de medidas, variámos o ângulo de incidência desnte 0o a 85o , em intervalos igualmente espaçados de 5o e medimos a intensidade dos feixes reflectido e refractado. Ângulo Brewster Brewster Critico a Erro Sup.Incidência Polı́mero-Ar Ar-Polı́mero Polı́mero-Ar Âng.Inferior(o ) 34.0 55.6 42.0 Âng.Superior(o ) 34.7 56.4 42.7 Âng.Médio(o )a 34.3 ± 0.3 56.0 ± 0.5 42.3 ± 0.3 médio obtido por registo dos limites de detecção para cada ângulo. Tabela II: Valores registados para cálculo de η2 . 3. 3.1. ANÁLISE DE RESULTADOS Determinação do Índice de refracção η2 do polı́mero. Para determinação da reflectância e transmitância do feixe lase na passagem pelas superfı́cies de separação ar-polı́mero e polı́mero-ar a partir das leis de Fresnel, determinámos o ı́ndice de refracção do polı́mero com base nos ângulos de Brewster θb e de reflexão total θc apresentados na tabela II. Este cálculo foi feito com base nas fórmulas da óptica largamente conhecidas que se seguem η2 = tan(θb ) η2 = cot(θb ) η2 = cosec(θc ) (2) (3) (4) sendo a fórmula 2 referente à transição ar-polı́mero(fig.2b)) e a fórmula 3 referente à transição polı́mero-ar(fig.2a)). Os valores obtidos de η2 para cada ângulo bem como o seu valor médio apresentam-se na tabela III. Ângulo Brewster Brewster Critico Sup.Incidência Polı́mero-Ar Ar-Polı́mero Polı́mero-Ar η2 1.46 ± 0.02 1.48 ± 0.02 1.48 ± 0.01 Figura 3: Polarização perpencidular e incidência na face plana. η2medio 1.48 ± 0.01 Tabela III: Valores determinados para o ı́ndice de refracção η2 . Note-se que, apesar do valor obtido para η2 com base no ângulo de Brewster para a superfı́cie Polı́mero-Ar ser inferior aos restantes dois valores, a diferença entre estes é suficientemente pequena para o erro experimental praticamente a cobrir. Assim, decidimos daqui em diante adoptar para o ı́ndice de refracção o valor médio aqui obtido. 3.2. Verificação das Leis de Fresnel Realizado o cálculo do ı́ndice de refracção experimental para o polı́mero, pudémos então determinar os valores experimentais da transmitância e reflectância para as diferentes condições de incidência e polarização do feixe laser, de acordo com as fórmulas ?? e ??, e compará-los com os teóricos. Abaixo analisamos cada uma das direcções de polarização. 3.2.1. Figura 4: Polarização perpencidular e incidência na face curva. Polarização Perpendicular No caso da polarização perpendicular ao plano de incidência, comparámos os valores experimentais da reflectância R e transmitância T com os teóricos. Este estudo gráfico comparativo apresenta-se nas figuras 3 e 4. Também foi interessante para a análise a representação gráfica da soma R + T em função do ângulo de incidência e para cada condição de incidência, que se concretiza nas figuras 5 e 6. Estes resultados gráficos permitem-nos tirar várias conclusões que serão aprofundadas na conclusão. Relativamente à face plana, notamos claramente que a adequaçao dos dados às fórmulas de Fresnel usadas é bastante superior no caso da reflectância R, sendo que a adequação de T à teoria é inicialmente boa passando a diminuir com o aumento do ângulo de incidência. Tal poderá justificar-se quer pela não pontualidade da fonte, quer pela existência de múltiplas reflexões no Figura 5: Soma R + T relativa à Face Plana e Polarização Perpendiinterior do polı́mero, fenómenos de absorção e imperfeições do cular. mesmo. Não sendo pontual, o feixe laser alargou quando atravessou a fronteira entre ar e polı́mero, o que atribuiu ao feixe uma largura muito superior àquela que o detector consegue captar. 2 T com os teóricos, tal como na alı́nea anterior. O estudo gráfico comparativo análogo mostra-se nas figuras 7 e 8. Figura 6: Soma R + T relativa à Face Curva e Polarização Perpendicular. Este efeito amplificou-se com o aumento do ângulo de incidência o que, em parte, explica a ‘descida’ nos valores de T com o ângulo de incidência. O mesmo não aconteceu tão notoriamente com R, pelo que a diminuição de R face ao previsto teoricamente com o aumento do ângulo de incidência é apenas muito ligeira. Esta ligeira diferença deve-se sobretudo a à existência de outros fenómenos ópticos não considerados nas fórmulas de Fresnel usadas para análise, como fenómenos de absorção e de reflexões internas(bem observáveis ao realizar a experiência). Fenómenos de absorção, conseguir visualizar o ‘rastro’ do laser é um bom indicador, poderão justificar um desvio sistemático em relação ao previsto teoricamente. A existência de imperfeições, por outro lado, poderá ter um papel importante no aumento das perdas de energia reflectida e transmitida com o aumento do ângulo de incidência, uma vez que este aumento angular amplifica o efeito das imperfeições já existentes. O gráfico R+T = f (θi ) ilustra claramente as perdas de energia existentes no processo e a análise efectuada. Para a face curva, a adequação dos dados de R aos teóricos tambem é superior à dos dados de T , mas apenas nos 5 primeiros pontos experimentais de R. Verificamos que a diferença entre o valor teórico e experimental de T se mantém aproximadamente constante(aumenta ligeiramente com o ângulo de incidência) para todos os pontos experimentais com excepção do último. A diferença entre valores experimentais e teóricos justifica-se para este caso de forma idêntica à indicada para R na face plana, sendo que agora existe um factor de absorção no polı́mero bastante superior ao quase inexistente no caso da reflectância na face plana. Relativamente à reflectância, observamos que, apesar de numa fase inicial a diferença entre a curva teórica e os pontos experimentais ser pequena, isto se deve ao pequeno valor dos pontos experimentais. Porém, após a passagem pelo ângulo crı́tico θc verificamos que continua a ocorrer um padrão de diminuição de R com o ângulo de incidência com uma diferença à teoria um pouco superior ao dobro da diferença entre teoria e valores práticos para T . Isto pode tentar justificar-se notando que o feixe laser percorre o dobro do trajecto relativamente ao caso da transmissão. Figura 7: Polarização paralela e incidência na face plana. Figura 8: Polarização paralela e incidência na face curva. A representação gráfica da soma R + T em função do ângulo de incidência e para cada condição de incidência, apresenta-se nas figuras 9 e 10. Relativamente à face plana, vemos novamente que a adequaçao dos dados às fórmulas de Fresnel usadas é superior no caso da reflectância R, mas agora a adequação de T à teoria já não é inicialmente boa, passando a existir uma diferença entre teoria e prática pouco variável. Como anteriormente, esta diferença diminui abruptamente para valores do ângulo de incidência superiores a 50/60 o . Tal poderá justificar-se pelos mesmos motivos atrás apontados para o caso da polarização perpendicular, excepto o facto de existir uma diferença inicial entre teoria e experiência pouco variável com o ângulo de incidência, que poderá dever-se a uma maior absorção/papel das impurezas par esta polarização. Novamente se observa uma ligeira diminuição de R face à 3.2.2. Polarização Paralela curva teórica. Em geral, também para esta direcção de polarização a soma Para a polarização paralela ao plano de incidência, compará- R + T diminuiu com o ângulo de incidência, novamente pelos mos os valores experimentais de reflectância R e transmitância motivos atrás apontados. 3 de aumento das perdas com o ângulo de incidência. 4. ANÁLISE SUMÁRIA E CONCLUSÕES Em geral, os resultados experimentais adequaram-se às previsões teóricas, pelo que, sendo possı́vel prever teoricamente os resultados experimentais ou, pelo menos, a sua variação qualitativamente idêntica, podemos dizer que a validade das fórmulas de Fresnel foi comprovada. O sucesso da experiência assenta na semelhança entre a evolução de valores teóricos e experimentais para as diferentes polarizações e orcondições de incidência observadas. No entanto, estes resultados são positivos apenas qualitativamente, dado que os desvios à exactidão são muitas vezes bastante consideráveis, nomeadamente nos resultados relativos à transmitância T , que se apresentam normalmente abaixo da curva teórica. Esta subestimação de valores poderá ser explicada por não considerarmos na análise teórica a não pontualidade do feixe e a existência de fenómenos de abosrção e de múltiplas reflexões internas. A aproximação do feixe por uma onda plana não deverá, à partida, constituir factor de erro mensurável. O facto deo feixe não ser pontual e de alargar na fronteira entre os dois meios impossibilita uma correcta medição da intensidade transmitida para valores do ângulo de incidência sucessivamente mais próximos de 90o . Tal facto não ocorre tão visivelmente com a intensidade do feixe reflectido, uma vez que este não resulta da transmissão numa superifice entre meios opticamente distintos. Outros factores que contribuem para a diferença entre os valores teóricos e experimentais são essencialmente fenómenos ópticos como a absorção, existência de imperfeições e múltiplas reflexões internas no polı́mero. Tais factores fazem com que a intensidade medida seja inferior à esperada. Os resultados experimentais parecem indicar que estes fenómenos são mais significativos no caso da polarização paralela ao plano de incidência. A análise da soma R + T , consequentemente da conservação da energia, veio a confirmar as hipóteses anteriores, na medida em que a energia ‘medida’ experimental não se conservou, sendo necessário considerar os factores de perdas atrás mencionados. Esta actividade experimental poderia ser melhorada com a utilização de um semi-cilindro de polı́mero que se garanta ter uma forma mais próxima da ideal e que possua um polimento adequado(menos rugosidades e imperfeições). Por outro lado, verificámos claramente que este apresentava sujidades na sua superfı́cie, as quais poderiam ser evitadas com uma simples limpeza pre-experiência com produto adequado. Por outro lado, sugere-se um tratamento de erros que sobrestime os erros de medição. De facto, o cálculo de erros aqui efectuado baseou-se na escala digital do detector mas, porém, o erro experimental é bastante superior ao introduzido por esta, uma vez que o método de medição usado exige uma rapidez de anotação dos valores muito elevada, com o prejuı́zo da variação entre I1 e I2 ser demasiado elevada para ser aceitável, uma vez que a variação ciclica da polarização do feixe laser faz também variar ciclicamente a intensidade da radiação incidente para a polarização em estudo. Seria também interessante verificar se os desvios à teoria, e consequentemente os valores experimentais evoluiam de igual forma para um polı́mero com as mesmas dimensões e acabamento semelhante, mas com diferente ı́ndice de refracção. Tal consolidaria possivelmente as conclusões aqui retiradas. Figura 9: Soma R + T para a incidência na Face Plana e Polarização Paralela. Figura 10: Soma R + T para a incidência na Face Curva e Polarização Paralela. Para a face curva, os resultados são semelhantes aos análogos para a polarização perpendicular, excepto numa vizinhança do ângulo de Brewster θb . Verificamos que nesta vizinhança que não se detecta um máximo visivel de intensidade experimental como previsto por teoria. Tal facto poderá justificar-se pela evidência experimental de que não é detectável um ponto, tal como previsto teoricamente, em que a intensidade do feixe reflectido é nula. Apenas se detecta um mı́nimo de intensidade pois o feixe é não pontual e o semi-cilindro tem imperfeições quer de forma quer de rugosidades. A inexistência deste máximo vı́sivel de intensidade é ainda em parte devido à atenuação do feixe no interior do polı́mero. Apesar do pequeno número de pontos usados, o gráfico de variação de R+T com o ângulo de incidência indica uma tendência [1] D.J.Griffiths,Introduction to Electrodynamics, 3a ed., Reed College [2] J. L. Figueirinhas, Aula de apresentação sobre as Fórmulas de Fresnel. [3] J.L.Figueirinhas, http://www.ciul.ul.pt/~figuei/fresnel.pdf [4] http://en.wikipedia.org/wiki/Transmittance, Transmittance Article @ Wikipedia [5] https://spreadsheets.google.com/spreadsheet/ccc?key= 0Amew-ACrohMOdEhSb0xYcWNrc2g1ZElKMXF1SFdDQlE&hl=pt_ PT&authkey=CLezx78P, Dados Experimentais 4