Integra‹o Entre As Polaridades
A necessidade de integra‹o n‹o Ž algo novo. Existiu e existe ao longo dos tempos uma tendncia
e uma busca de integra‹o entre as polaridades. Por exemplo, os antigos s‡bios e fil—sofos
chineses tao’stas j‡ falavam sobre o Tao como a realidade œltima, cujas manifesta›es s‹o
geradas pela inter-rela‹o din‰mica das duas foras: Yin e Yang.
ÒA caracter’stica principal do Tao Ž a natureza c’clica de seu movimento e sua
mudana incessantes. ÔO retorno Ž o movimento do Tao,Õ afirma Lao TsŽ, e Ôafastarse significa retornarÕ. Essa idŽia Ž a de que todos os desenvolvimentos ocorridos na
natureza, quer no mundo f’sico, quer nas situa›es humanas, apresentam padr›es
c’clicos de ida e vinda, de expans‹o e contra‹o.Ó
Na concep‹o chinesa, todas as manifesta›es do Tao s‹o geradas pela inter-rela‹o entre os
dois opostos complementares Yin e Yang e do equil’brio din‰mico entre elas surge todo o
movimento e muta‹o.
Yin representa o princ’pio passivo, feminino, noturno, escuro e frio. Yang, o princ’pio ativo,
masculino, diurno, luminoso e quente. Mas n‹o h‡ hierarquia entre os dois, pois tudo que existe
contŽm os dois princ’pios, e, segundo a tradi‹o tao’sta, toda vez que cada uma das foras atinge
seu extremo, manifesta dentro de si a semente de seu oposto, o que d‡ a caracter’stica c’clica
do Universo e de tudo que o comp›e.
A conscincia masculina, Yang, tem sido comparada ao Sol e a feminina, Yin, ˆ Lua. O Sol, claro,
brilhante, iluminado, fonte de luz, calor e de vida, associa-se ao masculino com seu aspecto
discriminador, organizador, anal’tico, que busca o conhecimento intelectual e racional. ƒ o contato
com o real, o material, o concreto. ƒ o que nos desperta do sono e dos sonhos para o mundo
da conscincia. ƒ o que caracteriza o dia, o tempo, o previs’vel, o rotineiro, pois atŽ usamos a
express‹o Òdia a diaÓ como aquilo que Ž o esperado em cada dia.
A Lua, clara, mas ˆs vezes escura, encoberta, que reflete a luz numa atitude mais receptiva e
passiva, fria e noturna, associa-se ao feminino com seu aspecto intuitivo, sentimental, receptivo
e instintivo. A Lua nos traz o sono, os sonhos, o contato com o inconsciente, com a alma e com
as emo›es. Ë noite nada Ž bem definido, tudo Ž mais nebuloso e escuro, e, por n‹o se enxergar
bem os contornos, usa-se mais a imagina‹o. A Lua tem fases bem distintas entre si, associandose aos ritmos biol—gicos dos seres humanos e principalmente da mulher.
Mas cada astro tem grande import‰ncia e um necessita do outro para completar seu trabalho.
Sem o Sol n‹o existiria o calor necess‡rio para a vida, mas sem a Lua as sementes n‹o
germinariam, pois o Sol aquece, mas resseca a terra e a Lua a umedece, simbolizando inclusive
a deusa da Fertilidade, como veremos mais tarde.
Todo este processo de busca e integra‹o dos opostos nos leva ao Anthropos do fil—sofo Plat‹o,
que nos traz um antigo mito grego sobre os seres humanos originais, que eram esfŽricos e
possu’am quatro braos, quatro pernas e uma cabea com duas faces. Por possu’rem qualidades
e inteligncia admir‡veis, e estarem muito vaidosos, os deuses, por medo e inveja, cortaram os
seres em dois, para reduzir seu poder. Desta forma, estes seres esfŽricos originais ficaram
separados em duas metades, uma feminina e outra masculina, tentando, desde ent‹o, reunirse. Passam toda a vida nesta busca e s— quando uma delas encontra sua outra metade tornase novamente completa e inteira.
A maioria dos homens projeta a metade que lhes falta, o elemento feminino, em uma mulher. E
a maioria das mulheres projeta a metade que lhes falta, o elemento masculino, em um homem,
como se o outro fosse formar sua totalidade masculino / feminina. Mas essa totalidade deve ser
encontrada em primeiro lugar dentro de cada um, no seu pr—prio desenvolvimento individual, para
que seja poss’vel um verdadeiro encontro com o outro tal como ele Ž, sem tantas proje›es de
conteœdos internos.
Exatamente dentro destes conceitos, Carl Gustav Jung entende a psique contendo componentes
masculinos e femininos que formam uma totalidade. S‹o opostos complementares que se
equilibram e se completam como o yin e yang na antiga filosofia chinesa. Estamos falando da
anima no homem e do animus na mulher. Assim,...Óos fatos psicol—gicos mostram que todo o
ser humano Ž andr—gino. Dentro de todo o homem existe o reflexo de uma mulher e dentro de
cada mulher h‡ o reflexo de um homem...Ó
A anima desperta a capacidade de amar e de estabelecer relacionamentos pessoais no homem
e representa a sua alma, dando-lhe a certeza de que existe algo que merece ser conquistado e
pelo qual se deve lutar.
J‡ o animus d‡ ˆ mulher poder de discrimina‹o e de compreens‹o, ligando-a ao mundo impessoal
do intelecto e do esp’rito, servindo como um guia que aponta um caminho ou conduz a ele.
Anima e animus Òhabitam uma esfera de penumbra, e dificilmente percebemos que ambos s‹o
complexos aut™nomos que constituem uma fun‹o psicol—gica do homem e da mulherÓ . ƒ s—
atravŽs da conscientiza‹o que eles podem tornar-se pontes que nos levem ao inconsciente e,
ˆ medida que cada um vai conhecendo seus pr—prios conteœdos internos, estes podem ser
integrados ˆ conscincia.
Existem, portanto, dois casamentos que podem ser feitos: um Ž o interno, com sua pr—pria alma
indo ao encontro do seu mundo interior, a integra‹o da anima no homem e do animus na mulher.
O outro Ž o casamento externo, de um homem e uma mulher, que significa aceitar o outro como
ele Ž, com suas peculiaridades, caracter’sticas e imperfei›es. Estes dois casamentos s‹o
reflexos das duas naturezas que constituem os seres humanos e se misturam dentro do ser: a
humana, que faz com que um homem e uma mulher se casem e a divina, que faz com que cada
ser busque integrar sua contraparte.
Este casamento, a uni‹o sagrada entre os opostos, foi chamado por Jung de coniunctio, termo
usado na alquimia para simbolizar a uni‹o de subst‰ncias desiguais, que geraria um novo elemento
com um potencial maior que a soma dos atributos das duas polaridades. Estes pares opostos
apresentam um car‡ter que transcende ˆ conscincia, ultrapassando a personalidade do ÒeuÓ.
Formam a totalidade humana.
Quantos seres passam uma vida buscando fora de si mesmos sua Òoutra metadeÓ, acreditando
que s‹o seres incompletos, sem perceberem que tudo que necessitam para serem completos,
est‡ exatamente dentro de si!
Fica a’ o convite para empreender esta viagem de auto conhecimento ao seu mundo interno.
1 Fritjof CAPRA, O Tao da F’sica, p. 86.
2 Carl Gustav JUNG, O Eu e o Inconsciente, p. 9
3 Ibid, p. 86.
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