Delegacia Sindical de Curitiba O NEOGERENCIALISMO NAS ADMINISTRAÇÕES TRIBUTÁRIAS E OS IMPACTOS SOBRE A AUTORIDADE FISCAL AFRFB Marcelo Lettieri e-mail: [email protected] Sumário • Introdução • A “Nova” Administração Pública (Neogerencialismo) • O Novo Serviço Público • A Gestão nas Administrações Tributárias: – Produzir, Perecer e o Eclipse das Atribuições; – A Gestão na RFB hoje. • Considerações Finais 2 A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (NAP) − A Nova Administração Pública (NAP), ou administração pública como ciência do gerenciamento, como um movimento de resposta à “crise do Estado do BemEstar”. − Mas crise não se dá a partir de causas internas ao próprio Estado (ineficiência, falta de eficácia etc.). A crise é do próprio modelo de desenvolvimento capitalista Fordista. − Resposta à crise: emergência de um conjunto de abordagens que visam aplicar os princípios do mercado e a lógica empresarial à esfera da administração. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 3 A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (NAP) − Objetivo da NAP: “reestruturar” o Estado, substituindo o modelo burocrático (baseado em regras e autoridade) por um modelo gerencial baseado em competição e com foco em resultados. − Fundamentos: um receituário comum ancorado em uma agenda neoliberal internacional, que objetivava: − − − − − a “diminuição” do aparelho do Estado; a desregulamentação; o controle/ajuste fiscal; a privatização de empresas públicas; e a aplicação de técnicas empresariais no âmbito governamental. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 4 CORRENTES QUE FORMAM A NAP 5 Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (NAP) − No Brasil, a NAP foi a base para a 3ª Reforma Administrativa implantada pelo Ministro Bresser Pereira (gestão FHC). − Principal crítica à NAP: viés administrativo e economicista. As propostas desconsideram a dimensão política e institucional das reformas. − As reformas são uma resposta automática e padronizada às exigências da globalização, vendo a adaptação (com base numa agenda neoliberal) como a única saída possível. − O diagnóstico, feito em países que mais avançaram no modelo (Inglaterra e Nova Zelândia, p.ex.), mostra o grande fracasso desse paradigma. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 6 O NOVO SERVIÇO PÚBLICO (NSP) − Novas correntes de pensamento buscam focalizar a importância de revitalizar a ação do Estado e dos servidores públicos servir melhor aos cidadãos e à sociedade. − Importa não apenas melhorar o desempenho do Estado na prestação do serviço público, mas principalmente criar novos padrões de relação entre Estado e sociedade. − É nesse contexto que surge a proposta do Novo Serviço Público. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 7 A ESSÊNCIA DO NOVO SERVIÇO PÚBLICO (NSP) O interesse público é o alvo e não um subproduto: foco dos servidores deve ser a construção de interesses e responsabilidades compartilhadas junto a cidadãos e não a consumidores. Isso exige uma transição de interesses individuais, para interesses coletivos e gerais. Servir no lugar de guiar: mais do que “pilotar” a máquina pública, os gestores públicos devem ser capazes de agir como árbitros e mediadores de ações coletivas. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 8 A ESSÊNCIA DO NOVO SERVIÇO PÚBLICO (NSP) Pensar estrategicamente, agir democraticamente: políticas e programas públicos tendem a ser mais efetivos se concebidos e implementados por meio de processos colaborativos (coprodução). A cidadania deve ser colocada acima do empreendedorismo: o foco excessivo em eficácia e eficiência pode obscurecer o foco central que é promover o interesse público. Os servidores públicos não são executivos do aparelho do Estado. Fonte: ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. 9 Produzir, Perecer e o Eclipse das Atribuições Prof. Marcelo Lettieri e-mail: [email protected] São os números, seu Idiota! • WATERS; Lindsay. Inimigos da Esperança: Publicar, Perecer e o Eclipse da Erudição. Editora Unesp. 2006. “O problema é a insistência na produtividade, sem a menor preocupação com a recepção do trabalho. Perdeuse o equilíbrio entre esses dois elementos. Precisamos restaurar a simetria entre eles”. “Entramos na região sombria da pesquisa acadêmica, e agora as exigências de produtividade estão levando à produção de um número muito maior de coisas sem sentido”. “A maldição da ‘contabilidade economicista’ chegou com força ao mundo acadêmico. Contar a ‘produção’ se tornou um fim em si mesmo. O bom pesquisador não é aquele que desenvolve algo novo; é aquele que publicou mais artigos, ainda que ninguém os tenham lidos. O lema é ‘MAIS É MELHOR”, mesmo que mais porcaria.” Darvim e Einstein não sobreviveriam nesse mundo acadêmico. • Qualquer semelhança com a RFB NÃO é mera coincidência! 11 Balanced ScoreCard (BSC)! – BSC: metodologia de medição e gestão de desempenho desenvolvida pelos professores da Harvard Business School, Robert Kaplan e David Norton, em 1992. – Metodologia: definição da estratégia empresarial, gerência de serviços e gestão da qualidade; tudo implementado por meio de indicadores de desempenho. – Aplicação do BSC: não apenas como um instrumento de medida de desempenho organizacional, mas PRINCIPALMENTE como ferramenta de gestão. – Utilização Primordial: estabelecer metas individuais e de equipes, definir remuneração, alocação de recursos, planejamento, orçamento, feedback e aprendizagem 12 estratégica. Balanced ScoreCard (BSC)! – Mensagem de Kaplan e Norton (1992; 1996; 2001; 2004): • “A vinculação final entre a estratégia de alto nível e as ações do diaa-dia somente ocorre quando as empresas vinculam programas de recompensa dos indivíduos ao ‘Balanced Scorecard’". • “Os objetivos desta vinculação são, em primeiro lugar, chamar a atenção dos funcionários para as prioridades estratégicas e, segundo, fornecer motivação extrínseca por recompensas aos funcionários ,quando eles e a organização atingem os seus objetivos." • “ O Pagamento por Performance (PRP), que foi amplamente introduzido especialmente no setor público, mantém a promessa de fornecer tal vínculo." 13 BSC no Setor Público Remuneração por Desempenho: Fracasso! • O que os estudos demonstram (Metawie e Gilman, 2005 – UK): – A remuneração por desempenho do BSC desestimula trabalhos em grupo. – A implantação em alguns órgão públicos gerou comportamentos disfuncionais como: competição interna, deturpação de funções, negligenciamento de tarefas e visão de curto prazo. – O nível de subjetividade encontrado nos processos de medição de desempenho revelou-se ter um impacto negativo sobre o comportamento dos funcionários, desmotivando-os e desmoralizando os “prêmios”. – Constata-se que a mudança da remuneração para modelos mais flexíveis, baseados em recompensas, com base no desempenho individual, afetaram o sentimento de segurança no trabalho dos funcionários e reduziram o compromisso com o interesse público e a motivação entre os trabalhadores do setor público. 14 É a Eficiência, Idiota! • Ganhos de Eficiência nas Administrações Tributárias com a Implementação das Reformas Administrativas - 90 (OCDE): PAÍS Redução de Custos Geral Pessoal Canadá Chile Portugal 23% 19% 18% 41% 33% 44% Eslovênia Finlândia Rep. Tcheca 16% 14% 13% 32% 29% 34% 15 O Eclipse das Atribuições E O QUE É QUE NÓS, AUDITORES FISCAIS, TEMOS A VER COM ISSO? 16 Ameaças às Atribuições • O BSC está sendo implantado sem qualquer crítica da nossa representação sindical (resistência zero!) e, em certas dimensões, tem sido incentivado por ela. • Referido modelo gerencial tem em sua essência a divisão do corpo funcional em dois atores principais: os gerentes (corpo gerencial) e os executores (corpo operacional). • Nesse modelo, os gerentes detêm as atribuições legais do órgão, podendo indicar entre os executores quem será responsável pela realização das tarefas com maior eficiência. 17 Ameaças às Atribuições • Um conjunto de medidas que retiram nossas atribuições estão sendo adotadas diuturnamente, sem qualquer resistência da categoria, sob o eclipse de uma “eterna campanha salarial”. • Mas para que o modelo se consolide, é necessário atrelar os ganhos remuneratórios dos executores ao cumprimento de metas individuais e/ou institucionais. • Faz-se necessário, portanto, uma remuneração calcada em BÔNUS DE PRODUTIVIDADE ou BÔNUS DE EFICIÊNCIA, se preferirem camuflar a ideia central do modelo. 18 Referências Bibliográficas •ANDION; Carolina. Por uma Nova Interpretação das Mudanças de Paradigma na Administração Pública. XXXIII Encontro da ANPAD. 2009. •BORDIN, L. C. V. Administração Tributária: Características Gerais, Modelos de Organização, Tendências Internacionais e Autonomia. Em TRIBUTAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA: ORIGEM DOS TRIBUTOS, SISTEMAS TRIBUTÁRIOS, PRINCÍPIOS TEÓRICOS E ADMINISTRAÇÃO. 2002. •MCCARTEN, W. Focusing on the Few: The Role of Large Taxpayer Units in the Revenue Strategies of Developing Countries. South Asia Region, World Bank. 2004. •METAWIE ;GILMAN Problems with the implementation of performance measurement systems in the public sector where performance is linked to pay: a literature review drawn from the UK. 2005. •OCDE. Tax Administration in OECD and Selected Non-OECD Countries: Comparative Information Series 2008. Jan/2009. •WATERS; Lindsay. Inimigos da Esperança: Publicar, Perecer e o Eclipse da Erudição. Editora Unsep. 2006. 19 SINDIFISCO NACIONAL Delegacia Sindical de Curitiba MUITO OBRIGADO ! Instituto Justiça Fiscal www.ijf.org.br BLOG Falando em Justiça Fiscal: http://justicafiscal.wordpress.com/ AFRFB Marcelo Lettieri ([email protected])