I SIMPÓSIO MINEIRO DE HOMEOPATIA 21 A 23 DE NOVEMBRO BELO HORIZONTE / MG 2008 APROXIMAÇÕES ENTRE A HOMEOPATIA EA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA / SAÚDE COLETIVA Núncio Antônio Araújo Sól Diretor-Presidente AMHMG Mestre em Epidemiologia/EV-UFMG Doutorando em Saúde Coletiva/FCM-UNICAMP • No Brasil: 1820 imigrantes alemães. • Oficialmente: 1840 por Benoit Mure, • • opção de tratamento para grandes parcelas da população grande crescimento no início do século XX. Década de 70: declínio mundial hegemonia da biomedicina novo movimento de expansão da Homeopatia no mundo, em consonância com o crescimento dos questionamentos a respeito do paradigma biomecânico (fragmentação do corpo e baseada em tecnologias de alto custo e pouco acessíveis à população em geral). Brasil: um dos países em todo o mundo onde a Homeopatia apresenta um dos maiores crescimento e institucionalização. A ESTRATÉGIA (POLÍTICA) DE SAÚDE DA FAMÍLIA - ESF • Para o MS, a ESF, um dos “elementos essenciais para a reorientação do modelo de atenção, (...) fundamenta-se nos eixos transversais da universalidade, integralidade e eqüidade, (...), princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação constitucional e infraconstitucional.”(Brasil, 2007). • Em relação à qualificação da atenção, diz ainda o MS, a respeito da ESF que esta “concepção supera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença, (...), dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade.” (Brasil, 2007). ESF • Ainda, segundo o MS, as “equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade”, através da prestação de “(...) assistência integral, permanente e de qualidade; (...) [e] atividades de educação e promoção da saúde (...), estabelecendo “vínculos de compromisso e de co-responsabilidade com a população.” (Brasil, 2007). René Magritte (1898 - 1967) MS: desafios institucionais para expandir e qualificar a atenção básica no contexto brasileiro, destaca-se: “(2) a contínua revisão dos processos de trabalho das equipes de saúde da família.” • “um dos um dos principais empecilhos ao desenvolvimento da Reforma Sanitária brasileira e do Sistema Único de Saúde tem sido o insuficiente enfrentamento das temáticas da mudança do processo de trabalho e da participação dos trabalhadores de saúde na mudança setorial. A modificação desse quadro é essencial para a efetivação do SUS, pois entendemos que apenas alterando o modo como os trabalhadores de saúde se relacionam com o seu principal objeto de trabalho, a vida e o sofrimento dos indivíduos e da coletividade representados como doença, é que será possível cumprir os preceitos constitucionais que garantem o direito efetivo à saúde a todos os brasileiros.” (Carvalho&Cunha, 2006, p.837) INTEGRALIDADE / ASSISTÊNCIA INTEGRAL • Como auxílio da cura servem ao médico os dados detalhados da causa ocasional mais provável da doença aguda, bem como os momentos mais significativos na história inteira da doença crônica, para encontrar a causa fundamental, na maioria dos casos devida a um miasma crônico, no que se devem considerar a constituição física visível do paciente (especialmente do paciente crônico), seu caráter moral e intelectual, suas ocupações, seu modo de vida e hábitos, suas condições sociais e domésticas, sua idade e função sexual, etc.” (Hahnemann, 1962, § 5, p.58) • Pensar a saúde hoje passa então por pensar o indivíduo em sua organização da vida cotidiana, tal como esta se expressa não só através do trabalho mas também do lazer – ou da sua ausência -, por exemplo do afeto, da sexualidade, das relações com o meio ambiente. Uma concepção ampliada da saúde passaria então por pensar a recriação da vida sobre novas bases. (Vaistman, 1992, p. 172). INTEGRALIDADE / ASSISTÊNCIA INTEGRAL • A sensibilidade deste modelo O objeto de tratamento (a doença) era fabricado e posto em ordem pela patologia. Dispunha-se arbitrariamente sobre quais doenças deveriam existir, sobre quantas e quais de suas formas e variedades. Ora vejam! A série inteira de doenças, produzidas em inumeráveis e sempre imprevisíveis variedades pela Natureza infinita, em seres humanos expostos a milhares de condições diferentes, o patologista impiedosamente reduz a mero punhado de moldes retalhados e ressequidos! (Hahnemann, Prefácio da 2ª ed., 1818) teórico e seu saber atual é pequena e “grosseira”, pouco permeável às constelações dinâmicas e pouco objetiváveis de sintomas vividos pelas pessoas, mesmo estes persistindo considerável tempo, o que não é raro. Ou seja: as patologias da biomedicina, com seus critérios diagnósticos objetivantes, mesmo os sindrômicos, e sua grade nosológica, têm pouca sensibilidade em relação à infinita gama de alterações de funções e sensações, de sintomas e mesmo sinais que os doentes trazem espontaneamente. Isto sem falar nos significados e situações existenciais que estão, em geral, ali envolvidas.(Tesser; Luz; Campos, 2004). INTEGRALIDADE / ASSISTÊNCIA INTEGRAL Estes males impropriamente chamados crônicos são os contraídos pelas pessoas que se expõem continuadamente a influência nocivas evitáveis, que se habituam a abusar de líquidos e alimentos nocivos, que se entregam a dissipações de muitos tipos, as quais prejudicam a saúde, que se privam por muito tempo de coisas necessárias para o sustento da vida, que residem em locais insalubres, principalmente em lugares pantanosos, que habitam sótãos, porões e outras moradias fechadas, que se privam de exercício ou de ar puro, que arruínam a saúde forçando o corpo ou a mente, que vivem em constante preocupação, etc. (Hahnemann, § 77 ) • É preciso reconhecer que o • aconselhamento básico para uma vida saudável feita pela ciência médica (fonte legítima das verdades hoje), não difere muito do proposto pela sabedoria dos antigos de décadas ou séculos atrás ou de outras culturas não ocidentais no que estas convergem. Em geral, as mais consensuais e unânimes descobertas científicas contemporâneas têm confirmado aquela sabedoria. Referimo-nos aqui ao que pode ser depreendido das mais recentes pesquisas clínico-epidemiológicas, no que elas convergem e se reforçam, quanto ao recomendado para uma vida saudável: satisfação na vida e no trabalho, pouco estresse, boa alimentação, equilíbrio no desfrute da vida emocional-afetiva e social, exercícios regulares, etc. (Silvestre et all, 1996; Silvestre, 1997). INTEGRALIDADE / ASSISTÊNCIA INTEGRAL • Empenha-se para manter em crédito junto aos doentes, em empregar, onde puder, meios que, pela lei da oposição (contraria contrariis), suprimem e aliviam (paliativos), por algum tempo, os sintomas, mas que deixam persistir a razão dessas queixas (a própria doença), e ainda mais forte e mais agravadas. (Hahnemann, prefácio da 6ª ed., 1842). • Por este artifício, pode-se sempre transformar, no limite, um sintoma em uma síndrome e assim como que numa “doença” (através de um diagnóstico descritivo), podendo-se, então, providenciar um tratamento legítimo causal, em geral uma intervenção no mecanismo semiogênico – um sintomático. Por espúrio que seja, este raciocínio flexível está legitimado e instituído. O problema surge e se torna angustiante quando este artifício falha ou é muito fugaz, o que não é raro: não há sintomático eficaz, praticamente (o sintoma não melhora ou volta logo) (...) (Tesser; Luz; Campos, 2004). GUSTAVO TENÓRIO CUNHA AULA SOBRE CLÍNICA AMPLIADA • Perguntas / Problemas para a clínica • • Saúde no Coletivo Em que medida consegue identificar as potências (forças vitais) deste sujeito coletivo, e trabalhar com elas e para elas? O quanto é capaz de reconhecer a sua legitimidade. Em que medida reconhece os próprios desejos? Em que medida reconhece forças externas de co-produção e em que medida consegue lidar com elas? GUSTAVO TENÓRIO CUNHA AULA SOBRE CLÍNICA AMPLIADA • Busca do Foco Temático • Busca do foco temático: estimular narrativa do usuário sobre: a- Objeto: queixa, sofrimento, problema de saúde (momento relativo à doença, ao que provoca impotência e justifica buscar apoio). b- Objetivo: saúde, desejo de recuperar certo Modo de andar a vida (autonomia, potência). VÍNCULOS DE COMPROMISSO E DE CO-RESPONSABILIDADE • Rosenbaum (1996) aponta • “(...) no espaço uma “vantagem colateral” da consulta homeopática, que ao estimular o paciente a falar de si e de seus sofrimentos, aumenta sua capacidade de auto-observação, com uma conseqüente percepção de suas suscetibilidades individuais, recuperação de sua capacidade intuitiva e aumento de sua capacidade de promoção de sua saúde. das relações entre médico e paciente produzia-se uma nova ordem fundada no cuidado em detrimento da cura, na paridade com respeito à diferença em detrimento da disparidade, etc.” (Barros, 2000, p. 206). NA MANUTENÇÃO DA SAÚDE DESTA COMUNIDADE • Ele (o médico) é igualmente um conservador da saúde, se conhece as coisas que a perturbam e causam e mantêm a doença, e sabe afastá-las do homem são” (Hahnemann, 1962, §4, p.58) NO SUS HOJE • Contabiliza-se como sendo cerca de um terço os casos que não se enquadram em nenhum quadro nosológico e calcula-se que cerca de 30 a 50% da demanda do clínico geral no atendimento primário tem sintomas puramente psíquicos ou psicógenos. O que aumenta se levarmos em conta sua implicação em várias doenças, alcançando, segundo alguns estudos, 60 a 70%. (Tesser; Luz; Campos, 2004). • “[...] também fica compreensível a impossibilidade (teórica, sob a perspectiva do saber) de um acompanhamento terapêutico, um tratamento ao longo do tempo, para o doente na biomedicina. Ela só pode tratar a longo prazo, longitudinalmente, de uma doença. Fragmentada que está pela pulverização nas especialidades médicas, é comum que o mesmo doente, trate de mais de uma doença crônica ou mesmo aguda, com dois ou mais médicos especialistas, como se fosse dois ou mais doentes. A perspectiva de um tratamento específico para o sujeito doente ficou de fora do horizonte médico científico. Este pode, apenas, oferecer tratamentos específicos para doenças.” (Tesser; Luz; Campos, 2004) QUAL A FUNÇÃO DA MEDICINA? • Amplitude maior que fazer • interferências sobre doenças conhecidas. Estados clínicos de difícil classificação: alterações funcionais, sensibilidades, ritmos alterados, perturbações orgânicas e psíquicas, resultados laboratoriais inconclusivos, ... NOVÍSSIMA MEDICINA: ETHOS DO CUIDADO ROSENBAUM, 2008 • Cuidar de sujeitos doentes implica • • levar em conta aspectos biológicos, psíquicos e sociais, sem perder de vista a micro atmosfera histórica de cada vida. Trata-se de uma ética baseada no cuidado. Ela ainda não é facilmente assimilada pela sociedade e por isso mesmo, as reformas nos cânones médicos sugeridas por Samuel Hahnemann, ainda permanecem incompreendidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS • O SUS apresenta, como um de seus princípios, a integralidade da assistência e, além desta, a ESF preconiza vínculos de compromisso e de coresponsabilidade, uma concepção que supere a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença e a manutenção da saúde da comunidade, sendo considerada uma estratégia de mudança do modelo assistencial, identifica as especialidades básicas, e entre estas, em especial, o médico generalista como um dos mais adequados à composição da equipe. CONSIDERAÇÕES FINAIS • O médico homeopata, por sua • formação filosófica, entende o indivíduo como um todo indissociável e portando atende à integralidade da pessoa. E, em geral, é um generalista, atendendo homens e mulheres, adultos e crianças. Quando atende somente a um grupo específico, em grande parte o faz dentro de uma das especialidades básicas – clínica médica, pediatria ou ginecologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS • Esta visão e ação generalista tem o • potencial de otimizar os recursos disponíveis, ampliando as possibilidades de ações de promoção e atenção à saúde. A inserção do médico homeopata ao SUS, face também à sua forma de abordar o paciente, acrescenta a tão preconizada “individualização” e “humanização” do atendimento, um dos pilares na abordagem de qualidade no atendimento à saúde tanto na esfera pública quanto na privada. CONSIDERAÇÕES FINAIS • Nestas breves considerações verificamos a grande adequação do médico homeopata aos princípios e necessidades do SUS/PSF. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB). Comissão de Saúde Pública. • • • • • • • • • A Homeopatia no Sistema Único de Saúde – SUS - Histórico e situação atual. 2005. BARROS, N.F. A construção de novos paradigmas na medicina: a medicina alternativa e a medicina complementar. Brasil, Ministério da Saúde. Atenção Básica e a Saúde da Família. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php Acesso em 16.11.2007. CARVALHO, S. R.; Cunha, G. C. A gestão da atenção na saúde: elementos para se pensar a mudança da organização na saúde. In: Campos, G.W.S.; Minayo, M.C.S.; Akerman, M.; Júnior, M.D.; Carvalho, Y.M. Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. FIGUEIREDO, A. M. A constituição profissional da medicina homeopática na interação com a medicina alopática. 1994. 192 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minais Gerais, Belo Horizonte. FREIRE, G. O Vitalismo em Homeopatia. Texto capturado da internet, março,2004. HAHNEMANN, S. Exposição da doutrina homeopática ou Organon da arte de curar. Gráfica Laemmert Limitada. Rio de Janeiro: 1962. HAHNEMANN, S. Exposição da Doutrina Homeopática ou Organon da Arte de Curar. Rio de Janeiro: Gráfica Laemmert Limitada, 1962. KENT, J. T. Filosofia Homeopática. São Paulo: Robe Editorial, 1996. LACERDA, L.; Valla,V. Homeopatia e apoio social: repensando as práticas de integralidade na atenção e no cuidado à saúde. In: Pinheiro, R.; Mattos, R. (Org.). Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro:IMS/ABRASCO, 2003, p. 169-196. • • • • • • • • • • • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LUZ, M.T. Medicina e racionalidades médicas: estudo comparativo da medicina ocidental contemporânea, homeopática, tradicional chinesa e ayurvédica. In: Canesqui, A.M. (Org.). Ciências Sociais e saúde para o ensino médico. Säo Paulo: Hucitec; 2000. LUZ, MT. A arte de curar versus A ciência das doenças.São Paulo: Dynamis Editorial;1996 LUZ, MT. Natural, racional, social; razão médica e racionalidade científica moderna. Rio de Janeiro: Campus; 1988. MONTEIRO, Dalva de Andrade; IRIART, Jorge Alberto Bernstein. Homeopatia no Sistema Único de Saúde: representações dos usuários sobre o tratamento homeopático. Cad. Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 23, n. 8, 2007 . Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X2007000800017&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 25 Nov 2007. doi: 10.1590/S0102-311X2007000800017 NASSIF, M.R.G. Compêndio de Homeopatia. Vol I. São Paulo: Robe Editorial,1997. PELLEGRINO, J.C. Criterios de Curación. Homeopatía, Vol.56, 1991. PELLEGRINO, J.C. Curación y falsa curación. Homeopatía, Vol.59, 1994. ROSENBAUM p. Novíssima Medicina: ethos do cuidado. Ed. Organon, São Paulo, 2008. SALLES, S. A. C. A interface entre a Homeopatia e a Biomedicina: o ponto de vista dos profissionais de saúde não homeopatas. 2006. 242 f. Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de concentração: Medicina Preventiva. São Paulo. SALLES, S. A. C. Perfil do médico homeopata. 2001. 129 f. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Práticas em Serviços de Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo. VAITSTMAN, J. Saúde, cultura e necessidades. In: Fleury, S. (org.). Questionando a onipotência do social. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992. O doente quis ajudar o diagnóstico, Contou coisas antigas, íntimas, minuciosas. O médico sacudia a cabeça, um pouco distraído O doente voltou a contar. Pôs uma vírgula que faltava. Tirou lá de um canto da memória um pormenor que ficara na sombra. O médico sacudia a cabeça. No seu dedo, a esmeralda resplandecia. Do tamanho de um grão de milho. E luminosa como um domingo ao ar livre. O doente acabara a narrativa. A confissão. Era um doente bem intencionado. Um homem de consciência. O médico levantou-se, e disse: "Muito bem. Aqui o aparelho é que vai falar a verdade". Consultório - Cecília Meireles Poemas I (1942-1949) E começou a copiar os sinais que a máquina ditava. A máquina sabia mais que o doente. A máquina sabia mais que o médico. A máquina sabia mais que a vida. A máquina sabia mais que Deus.