UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DIFICULDADE EM LEITURA E ESCRITA NA
ALFABETIZAÇÃO
Élida Aparecida de Oliveira
Orientadora: Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira
GOIÂNIA
2009
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DIFICULDADE EM LEITURA E ESCRITA NA
ALFABETIZAÇÃO
Élida Aparecida de Oliveira
Trabalho monográfico apresentado
como requisito parcial para obtenção
do
Grau
de
Especialista
em
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.
GOIÂNIA
2009
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, “inteligência suprema, causa primeira
de todas as coisas”, aos professores, orientadores e
amigos, que me fizeram aumentar, a cada dia, a vontade
de vencer, acreditando no meu trabalho. Aos meus pais e
irmãos, pelo reconhecimento e espírito fraterno. E todos
aqueles que estiveram ao meu lado durante a realização
deste trabalho. Ao Jairo, pelo companheirismo, dedicação
e incentivo oferecido.
3
DEDICATÓRIA ESPECIAL
Ao meu inesquecível pai (in memorian), exemplo de
esposo, pai, avô e amigo, figura de grande importância
em minha formação e de quem sinto muita saudade.
4
RESUMO
O presente trabalho trata das dificuldades de aprendizagem na
aquisição da leitura e da escrita. O objetivo é conhecer as razões deparadas no
contexto escolar que dificultam o aprendizado das mesmas. Além de, promover
aos educadores esclarecimentos teóricos que venham fortalecer a práxis
pedagógica possibilitando assim uma intervenção de acordo com o ritmo de
aprendizagem de cada aluno. Dessa maneira, entrever a leitura e a escrita
como indispensável para o exercício da cidadania é compreender que as
mesmas estão indissociavelmente ligadas e interligadas, e que, seu exercício
inalterável estabelece comunicação com o mundo, restituindo o indivíduo que a
utiliza um agente de conhecimento. A pesquisa é de caráter bibliográfico
essencial em autores de nomes renomados.
Palavras-Chaves: Escrita; Leitura; Dificuldade de Aprendizagem.
5
METODOLOGIA
O método será inicialmente o de pesquisa bibliográfica de propostas
para harmonizar o aluno.
Segundo Rodrigues Brandão: “A educação existe no imaginário das
pessoas e na ideologia dos grupos sociais e ali, sempre se espera, de dentro,
para fora, que a sua missão é transformar sujeitos e mundos em alguma coisa
melhor, de acordo com as imagens que se tem um dos outros... e deles
faremos homens.”
E através desse método que se buscam novas maneiras para que na
prática a educação para a leitura não seja mais um crítico problema mais que
seja um motivo para nós seres humanos nunca desistir de conquistar seu ideal
mesmo que isso lhe custe um pouco de tempo.
O plano de investigação direciona-se para um estudo de caso, por
meio do qual se pode fazer um acompanhamento sistemático do cotidiano
escolar, desde o início até a conclusão. Para entender/analisar o processo de
alfabetização nas escolas e suas conseqüências para os alunos que não
acompanharam esse desenvolvimento, procuram-se investigar como é feito o
diagnóstico e
o encaminhamento das crianças
com dificuldades
de
aprendizagem na alfabetização, além da análise das atividades propostas nas
salas de aulas e de reforço.
A alfabetização é a aquisição do código da escrita e da leitura, a
codificação através da leitura; em suma, em seu sentido mais restrito
alfabetizar-se é aprender a ler e a escrever.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
07
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM
10
CAPÍTULO II
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E NA ESCRITA
14
CAPÍTULO III
A AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM
26
CONCLUSÃO
32
BIBLIOGRAFIA
34
7
INTRODUÇÃO
A aprendizagem da leitura e escrita nas séries iniciais da escolaridade
constitui um dos maiores problemas da educação brasileira, especialmente,
quando pensamos no número significativo de alunos que saem da escola sem
ter, pelo menos, o domínio da leitura ou da escrita. Esse problema origina-se
de outros mais complexos, não só os de natureza sócio-econômica, mas
também advém de uma prática pedagógica que, como qualquer prática social,
tem sua história. Ao decorrer dos anos, a educação vem buscando desenvolver
no educando as competências da leitura e da escrita, o que é indispensável
para vivermos num mundo onde o acesso às informações é cada vez mais
rápido.
O tema que será desenvolvido neste estudo monográfico é a
“Dificuldade de Leitura e Escrita na Alfabetização”.
Sendo a questão central deste trabalho esclarecer as dificuldades de
algumas crianças no desenvolvimento da leitura e escrita.
O tema sugerido é de fundamental revelância, pois, para a criança,
entrar no universo da leitura e escrita, constitui um momento mágico, no qual
ela estará frente com sonhos, fantasias e imaginação, para ler as diferentes
histórias, bem como criá-las, tornando-se um leitor e, ao mesmo tempo, um
escritor.
O trabalho com a alfabetização deve estar solidamente pautado em
exercícios significativos de uso real da leitura e da escrita, tal como elas se
colocam no cotidiano social de nós, mais ou menos intensamente a depender
do ambiente imediatamente próximo a cada um. Assim se entende que os
alunos devem estar em contato com diversos tipos de textos (textos que são
criados para atender a propósitos diferentes e que se estruturam de forma
8
diversa), para que, interagindo com eles possam colocar-se na sociedade
como sujeitos competentes e construtores de sua história.
A aplicação pedagógica baseada neste princípio é a de que os
processos de ensino e aprendizagem devem se basear na atividade daquele
que aprende de que todos os procedimentos pedagógicos devem propiciar à
criança a oportunidade de “descoberta” e “invenção”.
A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz
parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com
uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcado pelo meio social em que se desenvolve, mas também
o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência
fundamental, apesar da multiplicação de interações sociais que estabelece com
outras instituições sociais.
Elas possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres
que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que
estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio
que as circunda, elas revelam seu esforço para compreender o mundo em que
vivem as relações contraditórias que presenciam e, por meio de brincadeiras,
explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e
desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam
as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem
idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa
perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que
estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O
conhecimento não se constitui em cópias da realidade. É fruto de um intenso
trabalho de criação, significação e ressignificação.
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Respeitar a individualidade da criança constitui o ponto central desta
pesquisa, ou seja, educação centrada no indivíduo, adequada às suas
características intelectuais, maturacionais e emocionais.
Entretanto, a aprendizagem da leitura e da escrita é um processo
complexo que envolve vários sistemas e habilidades como: lingüísticas,
perceptuais, motoras e cognitivas.
Neste contexto, o presente estudo objetiva refletir sobre as dificuldades
na aquisição da leitura e da escrita. Para tanto, é fundamental adquirir
conhecimento das causas mais comuns que se apresentam no contexto da
aprendizagem
escolar,
contribuindo
assim
para
uma
nova
estrutura
educacional visando o aprendizado de todos os indivíduos presentes na
instituição escolar.
As dificuldades de aprendizagem não são uma condições ou síndrome
simples, nem decorrem apenas de uma única etiologia, trata-se de um conjunto
de condições e de problemas heterogêneos e de uma diversidade de sintomas
e de atributos que obviamente subentendem diversificadas e diferenciadas
respostas clínico-educacionais.
O trabalho procura desenvolver algumas causas como sendo
responsáveis pelas dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita, além
de, favorecer um embasamento teórico sobre o que são as dificuldades de
aprendizagem e qual o papel da escola e do educador neste processo.
10
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM
As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida
nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução
cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento préexistente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas
inteligência e construção de conhecimento, mas basicamente, identificação
pessoal e relação através da interação entre as pessoas.
O aprendiz é um sujeito protagonista do seu próprio processo de
aprendizagem. Essa construção, pelo aluno, não se dá por si mesma e no
vazio, mas a partir de situações nas quais ele possa agir sobre ele, recebendo
ajuda, sendo desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas.
Para que ocorra a aprendizagem é necessário um sujeito ativo, que dê
sentido às informações que estão disponíveis, buscando recursos suficientes
para avançar. O conhecimento não é gerado do nada, é uma permanente
transformação a partir do conhecimento que já existe.
Conforme Smith (2001), a aprendizagem é um processo de aquisição e
assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de
perceber, ser, pensar e agir.
Já para Hockenbury (2003), aprendizagem é um processo que produz
uma alteração relativamente no comportamento, ou no conhecimento como
resultado de experiências passadas.
Vygotsky (1998), afirma que o desenvolvimento cognitivo é produzido
pelo processo de interiorização da interação social com materiais fornecidos
pela cultura. As potencialidades do indivíduo devem ser levadas em conta
11
durante o processo de ensino-aprendizagem e o sujeito é não apenas ativo,
mas interativo, pois forma conhecimento e constitui-se a partir de relações intra
e interpessoais. Sendo que relação interpessoal é uma estratégia de longo
prazo para melhorar a qualidade, os serviços e as relações. Extrair de cada
encontro todo potencial de criar, mudar e desenvolver.
Para Piaget (1994), a construção do conhecimento se dá através da
interação da experiência sensorial e da razão. A interação com o meio
(pessoas e objetos) é necessária para o desenvolvimento de indivíduo. Enfatiza
o processo de cognição à medida que o ser se situa no mundo e atribui
significados à realidade em que se encontra, preocupando com o processo de
compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvida
na cognição.
A aprendizagem ocupa papel de destaque na Psicologia, haja vista que
parte significante de todo o comportamento humano é aprendido.
A
familiarização
com
as
principais
teorias
de
aprendizagem,
salientando principalmente a influência do mesmo no processo ensinoaprendizagem, pode auxiliar na compreensão das causas das dificuldades
reveladas pelos alunos; identificando os fatores que para elas contribuem.
O
conceito
de
aprendizagem
tem
vários
significados
não
compartilhados. Algumas definições incluem: condicionamento, aquisição de
informação, mudança comportamental, uso do conhecimento na resolução de
problemas, construção de novos significados e estruturas cognitivas e revisão
de modelos mentais.
Toda aprendizagem requer um consumo de energia, um esforço
direcionado, e a colocação em ação de múltiplos processos que necessitam da
decisão (do sujeito que aprende) para que se ativem – processos atentivos,
decodificadores, perceptivos, raciocínio, etc. Esta mobilização do sistema
12
humano, motivação, pode ser proporcionada por intermédio de múltiplos
procedimentos: antecipação do efeito positivo da aprendizagem, processo
prazeroso, resolução de necessidade, entre outros. A motivação é um
elemento essencial, em virtude de que toda ação humana, no caso a
aprendizagem, exige uma finalidade.
Os reforços compõem o segundo grupo, que facilitam a aprendizagem.
Reforço é tudo aquilo que colabora ou não com o processo de aprender, isto é,
que induz à execução ou repetição de ações. A importância de reforço
depende do seu significado para o sujeito que aprende e a forma como é
empregada.
Os recursos, destinados à aprendizagem constituem outros aspectos
facilitador de suma importância. Abarcam um conjunto muito grande e variado
de componente que vai desde simples modelos até livros, materiais escolares,
mobiliário, material manipulativo e outros. Os recursos não se restringem
unicamente àqueles empregados em sala de aula, considerando que
aprendizagem é processo amplo que extrapola este espaço.
Desta maneira, considerando que o ensino-aprendizagem não se deve
vincular este processo, unicamente aos meios existentes e empregados pelo
professor.
Apesar de serem encontradas termologias diferenciadas dependendo
do autor consultado, sendo comum depararmos com termos tais como
Distúrbios de Aprendizagem; Problemas de Aprendizagem; Deficiência na
Aprendizagem e Dificuldade de Aprendizagem será adotada no presente
trabalho, o termo Dificuldade de Aprendizagem entende abranger os demais.
Segundo Smith (2001), Dificuldades de Aprendizagem (D.A.) são
problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender,
recordar ou comunicar informações.
13
Muitas vezes o termo Dificuldades de Aprendizagem é utilizado de
forma inadequada, por motivo de pouco conhecimento sobre o assunto. Este
tem sido bastante estudado, mas as informações obtidas penetram no âmbito
educacional de forma lenta.
(...) dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio,
mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer
área do desempenho, acadêmico. Raramente elas podem ser
atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem
prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos
destas crianças freqüentemente são complicados, até certo ponto por
seus ambientes domésticos e escolares (SMITH, 2001, p. 15).
Muitos
casos
de
D.A.
observam-se
também
comportamentos
diferenciados tais como: hiperatividade; fraco alcance de atenção; dificuldade
para seguir instruções; imaturidade social; dificuldade com a conversação;
inflexibilidade; fraco planejamento e habilidades organizacionais; distração;
falta de destreza e falta de controle dos impulsos. Esses comportamentos são
causados pelas mesmas condições neurológicas que originam as D.A.
As Dificuldades de Aprendizagem “referem-se às situações difíceis
enfrentadas pela criança normal e pela criança com desvio do quadro normal,
mas
com
expectativa
de
aprendizagem
em
longo
prazo
(aluno
multirrepetentes)” (COELHO, 1991, P. 23). Em resumo, as D.A. consistem em
problemas acadêmicos que alguns alunos enfrentam, resultando no não
acompanhamento regular do processo escolar.
14
CAPÍTULO II
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E NA
ESCRITA
Definir leitura e escrita não consiste em tarefa fácil, pois ao contrário do
que possa parecer, estas são áreas complexas e abrangentes. São vários os
sentidos que pode ser atribuído às idéias de leitura e escrita, podendo estes,
serem restritos ou amplos. Em termos escolares, tanto a leitura como a escrita
está diretamente vinculada à alfabetização, adquirindo deste modo caráter de
aprendizagem formal.
No sentido restrito, são encontradas definições simplistas tanto para a
leitura como para a escrita. Conforme Ximenes (2000, p. 386), “escrita é a
representação de palavras ou idéias por meio de letras ou sinais
convencionais”.
Portanto,
a
escrita
constitui-se
num
sistema
de
intercomunicação humana por meio de signos visíveis, visuais, ou seja, é a
representação de palavras ou idéias por letras ou sinais.
Já a leitura é o ato de percorrer os olhos (visão) sobre algo que está
escrito, decifrando e interpretando as palavras e o sentido do texto,
constituindo aquisição da decodificação e interpretação dos símbolos
alfabética e dos textos (XIMENES, 2000, p.27).
A leitura, tanto quanto a escrita, consiste em atividade bastante
intrínseca. Nesta perspectiva, não há como falar de leitura sem falar de escrita
ou vice-versa, pois segundo Cagliari (2002, p.152) “a leitura é uma atividade
ligada essencialmente a escrita”, assim o ato de decodificá-lo através de várias
linguagens.
Para compreensão da leitura entram em concorrência as questões do
enunciado, que conforme Bakhtin (1929/1988) é constituído de significação de
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tema ou de sentido. Esses dois elementos integram-se formando um todo, e
sua compreensão só é possível por meio da interação.
A significação refere-se à parte geral e abstrata da palavra, constituída
de conceitos dicionarizados, responsáveis pela comunicação entre os
participantes de interação verbal. O sentido da enunciação, portanto, não está
no indivíduo, nem na palavra e tampouco nos interlocutores, mas no efeito da
interação entre o locutor e o destinatário, produzido por meio de signos
lingüístico.
Para Bakhtin (1953/1992), em qualquer enunciado ou produção verbal,
falada ou escrita, existe a palavra do outro, que se diferencia da que é
originada pelo próprio locutor. Em sua abordagem todas as palavras (os
enunciados, as produções verbais, as obras literárias) são palavras do outro
que se transformam em palavras minha - alheia. Palavras que são sempre
carregadas de intenções, de significados e de vestígios do contexto em que é
proferida, daí seu aspecto polissêmico.
Coracini (1995), ao interpretar Bakhtin, diz que o ato de ler é um
processo discursivo, em que o autor e o leitor estão sócio-historicamente
determinado e ideologicamente constituído. É o momento histórico – social que
determina o comportamento, as atitudes, o diálogo entre leitor e autor, bem
como o sentido do enunciado. Por isso, há a variação da leitura, não apenas a
realizar pelo sujeito particular, mas também aquela que é nos feita diferentes
momentos de sua vida.
Orlandi (1988), afirma que a leitura não deve ser baseada no texto,
como produto, mas apoiada no processo de produção e de significação. Ler
não significa apenas aprender o sentido que está no texto, mas também dar
sentido ao que se lê.
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A busca de compreensão do processo de leitura tem resultado em
vários modelos teóricos que procuram formalizar o comportamento do leitor ou
o que ocorre em sua mente durante esse processo.
A leitura está diretamente relacionada ao próprio desenvolvimento dos
estudos lingüísticos. Assim, passa-se da visão da linguagem como código para
a de linguagem como ação social, em que sujeitos interagem, construindo e
reconstruindo significados. Passa-se da preocupação com a palavra ou a
sentença isolada para a preocupação com o texto dentro da situação social em
que está imerso. Passa-se da noção de competência lingüística para a de
competência comunicativa, percebendo-se que a compreensão de uma
enunciação ou texto “envolve uma pluralidade de habilidade, níveis e sistemas
diferentes, tanto lingüísticos quanto não lingüísticos”.
O leitor é visto como decodificador e a leitura é vista essencialmente
como um processo de decodificação dupla: do estímulo visual em sons, e dos
sons em significado. Essa decodificação existiria sempre, quer na leitura oral,
quer na leitura silenciosa, através da vocalização ou subvocalização.
Para Smith (1989), tanto a leitura em voz alta como a subvocalização,
em si mesmas, não contribuem para a compreensão. Na verdade, elas não
seriam bem sucedidas se fossem precedidas de compreensão. Ao lermos
fluentemente, não “ouvimos” primeiro as palavras e os fragmentos de frase
para depois compreendermos. Além disso, quando percebemos que está
ocorrendo à vocalização ou subvocalização, elas indicam que, na verdade, ou
não está havendo compreensão, ou se está querendo memorizar, ou ainda que
se está diante de leitores ainda não maduros, em fase de alfabetização. Assim,
embora essa teoria possa explicar comportamento do leitor nessas condições,
ela não dá conta da leitura veloz, fluente e compreensiva, além do que revela a
concepção de linguagem como código, em que as relações entre sons e
significados estão prévia e unitariamente determinadas.
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A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural,
resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita
cumpre diversas funções sociais e tem meios concretos de existência
(especialmente nas concentrações urbanas). O escrito aparece, para a criança,
como objeto com propriedades específicas e como suporte de ações e
intercâmbios sociais.
A leitura e a escrita é um processo que o sujeito começa a desenvolver
desde criança, em contato com diversos tipos de textos. Esse processo se
desenvolve a partir da construção intelectual, ou seja, a criança vai construindo
a sua representação de acordo com suas hipóteses, com o que ou não ser lido.
A leitura e escrita são as primeiras significações que a criança
necessita para conhecer e dar significado a coisas e objetos. Pois através da
leitura e da escrita ela se insere no mundo em que vive passando a conhecê-lo
melhor.
Sabemos que a leitura e a escrita é fundamental importância para o
aluno e a partir desse processo que esses alunos poderão criar seu próprio
conhecimento e ter noção do mundo que vive, podendo contribuir durante o
seu crescimento para mudança significativa.
A leitura é condição para a plena participação no mundo da cultura
escrita: através dela podemos entrelaçar significados, entrar em outros
mundos, podemos atribuir sentidos, nos distanciar dos fatos e com uma
postura crítica questionar a realidade, não correndo o risco de perder a
cidadania da comunidade letrada.
Percebe-se nas falas das crianças a busca de compreensão do mundo
através da apropriação da leitura e escrita. Neste contexto revela-se que a
valorização do saber se efetiva no momento que é possível ascender
socialmente. Também a aquisição da leitura e escrita é vista como
18
possibilidades de mudanças da realidade social que as crianças vivenciam,
tornando-se importante fator de mudança social.
De acordo com o pensamento expresso por Freire (2001), a leitura é
importante no sentido de oferecer ao homem a compreensão do mundo e
através dessa relação é possível a descoberta da realidade sobre a vida.
Observa-se que na infância que a leitura expressa um mundo particular da
criança e ela dá significadas as coisas que lhe cercam. No momento que o
homem aprende as coisas que se expressam em seu mundo, revela-se no seu
processo de alfabetização uma tarefa criadora e nessa perspectiva revela-se:
A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra... a leitura do
mundo e a leitura da palavra está dominantemente juntos. O mundo
da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e temas
significativos. (p. 28)
Entende-se que a leitura e a escrita oferecem meios necessários ao
homem se comunicar e compreender o mundo, oferecendo a oportunidade de
transformar suas relações. De acordo com Martins (1999) o ato de ler é
usualmente relacionado com a escrita e nesse respeito é possível de se
efetivar diversas formas de leitura, tais como o olhar de alguém, ler o tempo, ler
o espaço, e assim a importância da leitura e escrita se destaca como
importante fator a ser considerado no desenvolvimento humano, e então o
conceito de leitura está geralmente restrito a decifração da escrita, sua
aprendizagem.
Entende-se que a leitura e a escrita são indispensáveis ao processo do
desenvolvimento humano, especialmente no momento que o conhecimento se
expressa como fator fundamental para mudanças na vida social. Também é
expressa no mundo contemporâneo a leitura e a escrita serem revelados de
forma diversificadas, nesse caso na escola as variedades deve ser incentivado.
A escola deve priorizar no contexto de sua atuação o aprendizado da
leitura e escrita, o aluno, de acordo com a realidade que vivencia, e essa
19
reflexão pode ser benéfica no sentido de elevar o nível sócio-cultural dos
sujeitos na sociedade.
Dificuldade de aprendizagem é um assunto vivenciado diariamente por
educadores em sala de aula e que desperta a atenção para a existência de
crianças que freqüentam a escola e apresentam problemas de aprendizagem.
Por algum tempo, essas crianças têm sido ignoradas, mal diagnosticadas e
maltratadas.
Devido à complexidade causal das dificuldades de aprendizagem
muitas vezes sendo resultado da combinação de vários fatores, fica nítida a
dificuldade de diagnóstico certeiro. Por isso, é claro que, a aprendizagem da
leitura e da escrita é um processo complexo que envolve vários sistemas e
habilidades, como: lingüística, perceptuais, motoras e cognitivas. Não se pode
esperar, portanto, que um determinado fator seja o único responsável pela
dificuldade para aprender.
Assim, as dificuldades de aprendizagem devem ser levadas em conta,
não como fracassos, mas como desafios e serem enfrentados dando
oportunidade aos alunos de serem independentes e de reconstuirem-se
enquanto seres humanos.
A psicopedagogia está presente nas atuais propostas educacionais, em
forma de assessoria, bibliografia e, principalmente, em forma de idéias, as
quais já são usadas em algumas escolas. A psicopedagogia se preocupa, com
o “aprender a aprender”; “aprender a fazer” de forma autônoma; com o
“aprender a ser” humano; o “aprender a compartilhar” o mundo, a natureza, as
idéias, as intenções e as ações. Ela surge com a intenção de compreender o
homem em interação, num interjogo de influências entre ele e o meio em que
vive.
O trabalho psicopedagógico, submete-se ao processo diagnóstico,
favorecendo o conhecimento das possíveis perturbações ou dificuldades de
20
aprendizagem dos alunos, sendo que é realizado por meio de uma interação e
sistematização do processo escolar, o qual irá lidar com as dificuldades na
aprendizagem, bem como promove e contribui o desenvolvimento intelectual do
aluno.
Em todo o caso em que ocorrem as dificuldades na aprendizagem
deve-se realizar o processo de avaliação e observar alguns aspectos.
Para Bossa (1994), deve ficar atento “aos níveis de execução das
tarefas escolares apresentadas pelos alunos”. Obter informação complementar
do desenvolvimento escolar anterior do aluno, condutas em sala de aula,
avaliação referencial do professor, expectativas sobre o futuro escolar, dados
evolutivos, aptidões, conhecimento da família.
Já Lacan nos leva a perceber que “a linguagem é condição do
inconsciente (...). O inconsciente é a ampliação da lógica da linguagem: com
efeito, não existe inconsciente sem linguagem”. Reconhecer a singularidade do
momento de cada aluno, para que se possa investir no sujeito, levá-lo a
perceber sua falta e desejar produzir, aprender, escolher, singularizar-se. A
partir da resistência que se apresenta, a educação precisa permitir que a
criança possa nomear criar o mito de sua história, abrir espaços de fala para
transformá-la em escrita, alfabetizar-se.
A influência interpessoal é imprescindível nas primeiras fases do
aprendizado da leitura, pois instiga a aquisição da leitura propriamente dita
devido está diretamente ligada a área emocional, cognitiva e sensorial, que são
fatores indispensáveis ao processo de aprendizagem.
A aprendizagem da leitura e da escrita coloca à criança questões muito
particulares a respeito do seu lugar no mundo.
É inevitável considerar que a aquisição da escrita vai além de juntar
letras e escrever palavras. A aquisição da leitura e da escrita aparece como o
desejo de tomar visível o processo de nascimento do sujeito.
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Lacan (1966, p.22) fala sobre a instância da letra no inconsciente
mostrando-nos que quando a criança constrói um significado e o internaliza, ela
adquire o estatuto da letra que se estabiliza como um traço mínimo onde o
sujeito está situado. Para Lacan, a letra é a face material do significante o que
dá sustentação para o significante, ficando oculta tanto na fala como na escrita.
Desta forma pode se considerar a entrada no mundo simbólico
acontecer por conta da linguagem.
As letras funcionam como ordenador simbólico, isto é, uma tentativa de
representação e simbolização e a escrita podendo ser pensada como a
produção de um ato para tentar acontecer a uma ordem já existente.
A teoria histórica e cultural vem sendo desenvolvida a partir dos
estudos de Vygostsky e seus seguidores. As pesquisas de Vygostsky (1986) e
alguns percussores sobre aquisição de linguagem como fator histórico e social,
enfatizam a importância da interação e da informação lingüística para a
construção do conhecimento. O centro do trabalho passa a ser, o uso e a
funcionalidade da linguagem, o discurso e as condições de produção. O papel
do professor é o de mediador, e facilitador, que interage com os alunos através
da linguagem num processo dialógico.
Vygotsky (1989) buscava uma solução científica para os problemas do
ensino
inicial
da
língua
escrita
e,
neste
sentido,
deixou
algumas
recomendações. Acreditava ser necessário que as letras se convertessem em
elementos da vida das crianças tal como o é a linguagem, ressaltando que do
mesmo modo que as crianças aprendem a falar, devem aprender a ler e a
escrever. Em suas conclusões práticas, o autor entende que para levar o
educando a uma compreensão interna da língua escrita, é preciso organizar
um plano. Ao expressar-se pelo desenho, a criança pode chegar a perceber
num determinado momento que este não lhe é suficiente.
22
Para que se aprenda a ler e escrever, são necessários habilidades ou
pré-requisitos, que devem ser trabalhados no período pré-escolar, o que muitas
vezes não acontece adequadamente.
O ideal é que quando se observa que as dificuldades de aprendizagem
que a criança apresenta são oriundas ou ampliadas por um método de ensino
que não esta adaptada à criança, propõe-se uma mudança metodológica para
facilitar o processo de aprendizagem.
Ao abordar os fatores emocionem, Morais (2002) deixa clara a
dificuldade de se estabelecer com precisão, quando o transtorno emocional
precede as dificuldades de aprendizagem, ou quando é a própria causa das
mesmas.
É necessário um estudo detalhado da personalidade da criança e de
seu comportamento, assim como da dinâmica familiar e social, na qual ela se
encontra inserido.
Por causa à complexidade causal das dificuldades de aprendizagem
muitas vezes resulta a combinação de vários fatores fica nítida a dificuldade de
diagnóstico certeiro. Deve-se ficar claro que, a aprendizagem da leitura e da
escrita é um processo complexo que envolve vários sistemas e habilidades
(lingüística, perceptuais, motoras, cognitivas) e, não se pode esperar que um
determinado fator seja o único responsável pela dificuldade para aprender.
O professor ajude os alunos a estabelecer relações entre o que já
aprenderam e o que estão aprendendo, criando em sala de aula um
ambiente favorável à troca de idéias. Isso significa que os
educadores devem constantemente propor questões que possibilitem
aos alunos refletir sobre o que sabem e o que estão aprendendo. As
perguntas e as relações verbalizadas ajudam os alunos a perceber
que a construção do conhecimento ocorre por meio de sucessivas
reorganizações, as quais são feitas a partir de novas relações.
(DURANTE, 2004, p. 34).
O professor deve sempre despertar o interesse do aluno pela leitura e
escrita.
23
As atividades lúdicas podem desenvolver diversas habilidades e
atitudes interessantes no processo educacional.
Trabalhar com alunos valorizando suas habilidades e seus interesses
é, sobretudo trabalhar com respeito, tornando-se assim num ambiente propício
para a ploriferação da aprendizagem. Por conseguinte, despertar o interesse
no aluno requer mais do que artifícios e argumentos. Requer uma atitude
presente no verdadeiro educador, o amor, para a interação do processo
ensino-aprendizagem.
(...) dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio,
mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer
área do desempenho acadêmico. Raramente elas podem ser
atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem
prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos
destas crianças frequentemente são complicados, até certo ponto por
seus ambientes domésticos e escolares (SMITH, 2001, p. 15).
As dificuldades de aprendizagem no processo de aquisição da leitura e
da escrita de acordo com Coelho (1991) podem ser divididas nas seguintes
categorias:
DIFICULDADE NA LEITURA ORAL: Devido à percepção visual ou
auditiva alterada, a criança recebe informações cerebrais distorcidas
e frequentemente confunde troca, acrescenta ou omite letra e
palavras.
DIFICULDADE NA LEITURA SILENCIOSA: Devido a distorção
visual a criança apresenta lentidão e dispersão na leitura, perdendose no texto e repetindo palavras ou mesmo frases e linhas inteiras.
DIFICULDADE NA COMPREENSÃO DA LEITURA: Devido à
deficiência de vocabulário e a pouca habilidade reflexiva, a criança
apresenta sérios obstáculos em entender o que está escrito.
DISLEXIA: Dificuldade com a identificação dos símbolos gráficos
desde o início da alfabetização.
DISGRAFIA: Falta de habilidade motora para transpor através da
escrita o que captou no plano visual ou mental, a criança apresenta
lentidão no traçado e letras ilegíveis.
DISORTOGRAFIA: Incapacidade para transcrever corretamente a
linguagem oral; caracteriza-se pelas trocas ortográficas e confusões
com as letras.
ERROS DE FORMULAÇÃO E SINTAXE: Apesar de ler
fluentemente, apresentar oralidade perfeita, copiar e compreender
textos, a criança apresenta grandes dificuldades para elaborar sua
própria escrita. Geralmente omite palavras, usam incorretamente
verbos, pronomes e utiliza a pontuação de forma inadequada.
24
Já as causas das dificuldades de aprendizagem são fundadas em
fatores biológicos, sendo que estes podem ser divididos em quatro categorias,
conforme afirma Smith (2001):
ALTERAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO CEREBRAL: Pertubação
ocorrida em qualquer ponto do processo contínuo de ativação neural,
ocasionando o não desenvolvimento normal de alguma parte do
cérebro. Podemos citar como exemplo a dislexia, que consiste em
sérias dificuldades de leitura e, consequentemente, de escrita, apesar
de a criança apresentar nível normal de inteligência. Geralmente a
dislexia apresenta-se associada a outros distúrbios, como dificuldade
de memorização.
DESEQUILIBRIOS NEUROQUIMICOS: Dissonância entre os
neurotransmissores (mensageiros químicos), causando a má
comunicação entre as células cerebrais, acarretando prejuízos à
capacidade de funcionamento do cérebro.
HEREDITARIEDADE: Herança genética, transmissão de caracteres
biológicos as descendentes.
LESÃO CEREBRAL: Qualquer dano causado durante a gestação,
parto ou pós-parto, através de acidentes, hemorragias, tumores,
meningite, exposição a substâncias químicas entre outros.
Seja qual for o fator biológico contribuinte para as dificuldades
encontradas na alfabetização, o ambiente mostra-se como fator decisivo,
podendo facilitar ou complicar o quadro do portador da mesma. “Embora as
dificuldades de aprendizagem tenham uma base biológica, com freqüência é o
ambiente da criança que determina a gravidade do impacto da dificuldade”
(SMITH, 2001, p. 20).
Também pode ser destacada ainda como causa das dificuldades de
aprendizagem, a ausência de estímulos das habilidades necessárias à
alfabetização, os métodos de ensino inadequados, problemas emocionais, falta
de maturidade para aprender a ler e escrever.
A maturidade para aprender a ler e escrever significa estar pronto para
tal tarefa, e estar pronto abrange fatores fisiológicos, ambientais, emocionais e
intelectuais e isto não ocorre ao mesmo tempo para todas as crianças, ou seja,
a mesma idade cronológica não garante a maturidade geral.
25
Após
a
avaliação
psicopedagógica,
será
recomendado
pelo
profissional, o procedimento necessário (tanto ao professor, como à família da
criança) para superação das dificuldades.
Em relação à intervenção, os princípios básicos são: estimulo e
respeito. Os estímulos são imprescindíveis, pois valoriza e aumenta a autoestima da criança, levando-a acreditar em si mesmo e na sua capacidade para
superar as dificuldades.
26
CAPÍTULO III
A AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM
Ser professor de alunos bons consiste em tarefa relativamente fácil,
mas e quando o docente depara-se com alunos com D.A? O que fazer? Como
agir? Qual deve ser a postura e as atitudes de tal situação?
O papel do professor no processo de aprendizagem é indiscutivelmente
decisivo,
suas
atitudes,
concepções
e
intervenções,
serão
fatores
determinantes no sucesso ou fracasso escolares de seus alunos.
Na relação entre educador e educando, deve-se buscar a compreensão
e a aceitação mútua, no respeito, na amizade, no amor, na troca de
informações e no diálogo, base de um bom aprendizado. Os educadores são
como as velhas árvores. Possui uma face, um nome, uma história a ser
contada. Habitam um mundo em que o valor é a relação que os liga aos
alunos. “E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso
que se estabelece a dois. Espaço artesanal” (ALVES, 1985, p. 62).
Cabe ao professor duas tarefas básicas diante das D.A., o diagnóstico
ou detecção seguida de intervenção adequada.
No contato diário com os alunos, muito rapidamente o professor
começa a perceber entre eles aqueles que apresentam dificuldades, a partir
desta detecção a atitude correta deve ser o encaminhamento do aluno em
questão a um psicopedagogo, que deverá avaliar as habilidades perceptivas,
motoras, lingüística e cognitiva do mesmo e ainda os fatores emocionais e os
próprios atos de ler e escrever.
27
Após
a
avaliação
psicopedagógica,
será
recomendado
pelo
profissional, o procedimento necessário (tanto ao professor como à família do
aluno) para a superação das D.A.
Em nível de intervenção, os princípios básicos são: respeito e estímulo,
que envolvem a não utilização de comentários depreciativos; respeito ao ritmo
da criança, não a envolvendo em situações de competição; não constrangê-la;
não fazer comparações de nenhuma espécie e principalmente, conversar
particularmente com o aluno sobre suas dificuldades, porque elas ocorrem,
sobre suas intenções em ajudá-lo; isto estabelecerá um clima sincero entre
ambos, despertando confiança do aluno com relação ao professor.
“Esta conversa (...) é de suma importância já que, permite que se
estabeleça, entre o professor e o aluno, um clima aberto e sincero, no qual a
criança se sente apoiada e tranqüila sobre as possíveis reações do professor
frente às suas dificuldades” (MORAIS, 2002, p. 188).
Os
estímulos
são
imprescindíveis,
pois
funcionarão
como
massageadores da auto-estima, que progressivamente levará o aluno a
acreditar em si mesmo e na sua capacidade para superar as dificuldades.
No entanto, o que se observa nas escolas públicas e, muitas vezes,
também nas particulares, é a falta de preparo do corpo docente para lidar com
as D.A. É necessária que seja oferecido aos professores (se não oferecido,
buscado pelos mesmos), orientação adequada, para que estes possam ajudar
de fato seus portadores de D.A.
Ainda falando em nível de intervenções adequadas por parte dos
docentes, vale destacar a questão dos “Métodos de Ensino” a serem utilizados.
Muitos são os autores que têm se dedicado a pesquisar sobre o
método mais eficaz para a aprendizagem da leitura e da escrita para as
28
crianças ditas “normais” e para as crianças com D.A. No entanto, nenhum
resultado foi categórico em apontar um ou outro como mais indicado.
Algumas correntes defendem o método sintético, outras, o método
analítico e outras ainda, o método analítico-sintético.
Diante de tal discordância, podemos concluir que caberá ao decente a
análise dos resultados obtidos com o método utilizado, e a possível
substituição ou mesclagem de outro método, em busca de melhor rendimento
de seus alunos.
Trabalhar com criança requer sensibilidade do educador e uma
investigação de como cada criança aprende, estendendo essa visão para as
habilidades e dificuldades de cada uma delas. Assim, é importante que o
educador construa um perfil de turma, para conhecer os alunos e saber por
onde começar o seu trabalho, partindo da realidade de cada um.
Motivar com uma palavra amiga, um olhar, um sorriso, um toque,
muitas vezes traz de volta as crianças que, devido a sua origem cultural, estão
desgastadas pelo sofrimento e descaso. Muitas necessidades emocionais das
crianças deveriam receber prioridade para facilitar a situação de aprendizagem.
O professor não precisa gostar de todos os alunos da mesma maneira só
porque é professor. Mas tem que ser autêntico, selar seu compromisso com os
educandos, respeitando o ser humano que há em cada um. Por isso, o
educador, ao manifestar interesse pelos sentimentos e pela vida da criança,
bem como o oferecer possibilidades para a própria criança se expressar, pode
auxiliar na construção de um ser mais seguro e autônomo.
É preciso, buscar alternativas nas ações pedagógicas visando à
formação d indivíduos cooperativos, críticos e criativos, capazes de atuarem de
modo transformador na sociedade.
29
Uma das formas de ensinar criativamente é incentivar a curiosidade da
criança por aquilo que se relaciona com o seu mundo e encorajá-la a
expressar-se espontaneamente. Ela necessita aprender valorizar suas idéias e
percepções e saber confiar nelas. A brincadeira, o jogo (não visando a
competição), as músicas e o humor têm destaque especial no desenvolvimento
do potencial criador porque a criatividade é um ato prazeroso. Os exercícios
verbais oportunizam o desenvolvimento dessa habilidade, podendo ser
acompanhados por desenhos, pinturas, colagem, recortes, teatro, dobraduras,
entre outros recursos, sempre à escolha da própria criança.
Como mediador e facilitador da aprendizagem, o educador pode
auxiliar o educando a aprender, usando estratégia que permitam conhecer a
cultura
existente
recriando-a
em
função
do
seu
conhecimento.
Na
aprendizagem, existem princípios que precisam ser observados: toda
aprendizagem exige ser significativa, precisa envolver o aprendiz como pessoa
inteira. O processo de aprendizagem é individual, ninguém aprende pelo outro.
No entanto, deve ter objetivos reais e, principalmente, ser embasada em um
bom relacionamento interpessoal entre os membros que participam do
processo.
Da mesma forma que o ser humano nasce, passa pela infância e
adolescência até atingir a idade adulta, a criança apresenta fases ou níveis de
desenvolvimento na construção do pensamento em relação à língua escrita.
Desse modo, o educador que trabalha com essa fase precisa conhecer como
ocorrem esses níveis e como pode fazer a mediação para que a criança
avance cada vez mais. Além de perceber a importância da afetividade no
processo de construção desse saber.
Afirma Vygotsky que o conhecimento do mundo objetivo ocorre quando
desejos, interesses e motivações aliam-se à percepção, memória, pensamento,
imaginação e vontade, em uma atividade cotidiana dinâmica entre parceiros.
30
No decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem
um papel fundamental para que a criança acesse o mundo simbólico também
da alfabetização.
Segundo Ferreiro (1992, p. 35), “entre o olho que vê e a mão que
escreve, existe uma cabeça que pensa”. Nas sociedades modernas, ensinar a
ler e escrever é, um princípio, uma tarefa da escola. Todavia, na tentativa de
buscar explicação para o sucesso ou fracasso escolar, estudos recentes têm
destacado que a escola não é o único lugar onde se processa o ensino e a
aprendizagem.
Alfabetizar-se é aprender a língua escrita. Essa aprendizagem não é
aquisição de uma técnica resultante da mecanização, mas é a ação do
indivíduo refletindo, levantando hipóteses e operando sobre o objeto do
conhecimento. Para Vygotsky (1988, p. 143), “quando uma criança entra na
escola, ela já adquiriu um patrimônio de habilidades e destrezas que a
habilitará a aprender a escrever em tempo relativamente curto”.
Aprender a leitura e a escrita não é apenas uma questão de
inteligência; depende da familiarização e convivência com a escrita. É
fundamental, também, que os educadores conheçam um pouco do histórico da
criança e, além disso, tenha conhecimento de como essa aprendizagem pode
ser construída pelo educando para, a partir desses dados, trabalhem seus
diferentes contextos. Emília Ferreiro trouxe uma grande contribuição para a
educação, quando teorizou sobre a aquisição da leitura e da escrita, dando
continuidade aos estudos de Piaget sobre o sujeito epistêmico.
Para Ferreiro (1992, p.32),
as crianças são facilmente alfabetizáveis, desde que descubram
através de outros informantes e participação em atos sociais onde a
escrita sirva para fins específicos. A construção desse conhecimento
não é um processo com períodos preciosos de organização e
reorganização, para cada um dos quais existem situações conflitivas
que podem antecipar-se.
31
Cabe à escola trabalhar com a função social da escrita, sendo que este
bem cultural é importante na instituição porque é fundamental fora dela. Ao
utilizar vários materiais, como livros, revistas, jornais, receitas, bilhetes ou
nomes na lista telefônica, mostrará a importância deste saber. O maior desafio
que precisa ser enfrentado pelas crianças como um conhecimento a ser
descoberto é perceber que este recurso é fundamental em sua vida diária.
É de suma importância o papel dos profissionais, da educação. Porém,
é a família que pode, em primeiro lugar, proporcionar experiências
educacionais à criança no sentido de orientá-la e dirigi-la.
O local onde vive a criança é importante para o desenvolvimento
intelectual e emocional, sendo tarefa das famílias propiciarem um ambiente
estimulador para o pleno desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança. O
ambiente familiar deve possibilitar elementos estimuladores a ela para que
desenvolva todo o seu potencial.
A família é a primeira, a mais importante instituição educadora na vida
da criança. É fundamental que os pais assumam sua responsabilidade,
enquanto orientadores que são dentro do lar, conversem, orientem e ouçam
seus filhos, para que eles aprendam com seus familiares de forma
descontraída, pois, na família, a aprendizagem é espontânea, livre e
significativa. Sendo assim, a família e a escola devem estar em constante
interação, pois isto permitirá à criança um desenvolvimento cognitivo maior e
um ajustamento social, cultural e emocional mais adequado.
A escrita não é um produto escolar, mas um produto do esforço
coletivo da humanidade para representar a linguagem. A postura da família
pode facilitar a aquisição da leitura e da escrita, mas é importante lembrar que
todos os alunos, mesmo os provenientes de lares culturais e economicamente
marginalizados, aprendem a ler e escrever se lhes forem dados o tempo e a
condições para que isso se efetive.
32
CONCLUSÃO
Para que a criança tenha sucesso na apropriação da leitura e escrita é
necessária que a escola retome o trabalho no que se refere ao
desenvolvimento infantil e proponha tarefas de acordo com o mesmo. É
importante que as escolas trabalhem a pré-leitura, pois o não desenvolvimento
dessas habilidades poderá causar grandes problemas na aprendizagem da
leitura e escrita.
A leitura e a escrita são pré-requisitos para as outras aprendizagens
escolares, portanto, devem ser priorizadas.
Diante de estudos realizados observamos que várias são as causa das
dificuldades de leitura e escrita apresentadas pelos alunos no decorrer de sua
vida escolar, sendo de suma importância o diagnóstico precoce realizado pelo
professor da sala regular, para que em conjunto com a coordenadora
pedagógica possam realiza os encaminhamentos adequados, visando a
formação integral do aluno.
O educador enquanto mediador do processo ensino-aprendizagem e
protagonista na resolução e estudo das dificuldades de aquisição de leitura e
escrita devem obter orientações especificas para que desenvolva um trabalho
consciente e que promova o sucesso de todos os envolvidos no processo.
Possíveis são as causas das Dificuldades de Aprendizagem e inúmeras
são as possibilidades de combinações entre as mesmas. Faz-se necessário a
avaliação do portador de dificuldade de aprendizagem por um profissional da
área, que indicará as intervenções adequadas a cada caso, tanto a nível
escolar, quanto familiar.
33
É fundamental que o educador auxilie o educando para que ele vá
além do que sempre vê e ouve, podendo estabelecer novas relações e
associações e expressar-se de maneira diferente, tornando-se mais criativo.
Ela precisa incentivar no educando a curiosidade e encorajá-lo a expressar-se
espontaneamente. O mais importante no processo ensino-aprendizagem é o
comprometimento do educador com a educação, devendo estar aberto a novos
conhecimentos e a novas metodologias e sempre procurar estabelecer uma
relação de prazer e troca com seus educando.
Cada um deve se conscientizar de que seu papel na educação é
fundamental para que ocorra um processe ensino-aprendizagem mais eficiente.
No que se refere à alfabetização, se a criança sentir prazer e desejo de
aprender já no início da sua caminhada, gradativamente generalizará esses
sentimentos para as outras fases do trabalho escolar, tornando a escola
sempre um lugar de conflito e aprendizagem, mas com alegria e prazer.
Este
trabalho
é
apenas
o
início
de
uma
longa
busca
de
aperfeiçoamento e conhecimento à qual nós, educadores nos submetemos.
Não podemos mais pensar em sermos educadores que nada acrescentam na
transformação social e afetiva dos educando, pois, assim, só seremos
lembrados simplesmente como mais uma pessoa que passou pela vida sem
ser percebido.
34
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Cortez, 1985.
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Élida Aparecida de Oliveira