CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E PROFICIÊNCIA LEITORA:
UMA RELAÇÃO QUE IMPORTA ABORDAR
NO PERCURSO FORMATIVO DE EDUCADORES E PROFESSORES
Tabela das competências esperadas entre os 5 e os 6 anos de idade
Nesta idade, a criança apresenta habilidades de linguagem bem
desenvolvidas, sendo capaz de aprender palavras mais complexas o
que aumenta a compreensão da informação verbal.
A criança já consegue pronunciar todos os sons da língua com
clareza, elabora frases mais complexas e gramaticalmente corretas.
Também
apresenta
um
bom
vocabulário
que
continua
em
desenvolvimento e é capaz de iniciar conversação, esperando a sua
vez de falar.
SEMÂNTICA
•
•
•
•
Vocabulário alargado e adequado às situações –
incorpora
novas
palavras
no
discurso
espontaneamente
Reconta histórias, explica experiências de forma mais
coesa, sequencial e elaborada
Capacidade de sinonímia e antonímia
Capacidade de categorização
FONOLOGIA
Melhor pronunciação das palavras
 Melhor memória auditiva

MORFOSSINTAXE

Estrutura frásica mais complexa
PRAGMÁTICA
Participa em discussões de grupo, toma a
sua vez de forma adequada em
conversações
 Tece comentários relativos aos tópicos que
estão a ser discutidos

Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
A leitura não se adquire de forma espontânea pelo simples
contacto com o meio linguístico envolvente, tal como acontece
com a fala (Silva, 2003). A sua aprendizagem exige um ensino
explícito, que não se ultima com o domínio da correspondência
grafema-fonema, mas antes se prolonga por toda a vida (SimSim, Duarte & Ferraz, 1997; Sim-Sim, 1998). Na verdade, e
apesar de a faculdade da linguagem se assumir como um
património genético próprio do ser humano (Chomsky, 1976), a
faculdade da leitura é uma aquisição que decorre de um ensino
formal, ainda que baseado em métodos perfeitamente díspares
nas suas abordagens.
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
Mais ainda, nas crianças em fase inicial
da aprendizagem da leitura, a formação
de unidades significativas a partir dos
sons é uma actividade demasiadamente
complexa pela razão simples de não
existir uma correspondência natural e
directa entre unidades acústicas e
unidades linguísticas (Borges, 1998)
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
Uma reflectida e consciente problematização norteada pelo National Reading
Panel (2000), sinalizou um conjunto de pontos fulcrais de procedimento efectivo
no que se refere ao ensino da leitura (Cruz, 2005):

consciência fonémica: a aptidão para ouvir e reconhecer sons individuais nos
enunciados orais;

domínio do princípio alfabético: consciência da relação existente entre as letras
no registo escrito e os sons utilizados na fala;

fluência: competência para ler um texto de um modo correcto, preciso, rápido e
eficaz;

vocabulário: domínio das palavras que os alunos precisam de conhecer no
estabelecimento de uma comunicação efectiva;

compreensão: capacidade para entender e extrair significado do que foi lido.
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
As crianças em idade pré-escolar começam a
desenvolver progressivamente formas várias de reflexão
sobre a sua língua materna a que vários autores se têm
referido como manifestações de consciência linguística
(Sim-Sim, 1998), destacando-se de entre estas a
consciência fonológica.
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
Vários estudos dão conta de uma relação intrínseca entre consciência fonológica e
aprendizagem da leitura, embora sob distintos pontos de vista:

Uns indicando um vasto conjunto de evidências experimentais e correlacionais
entre consciência fonológica e sucesso na
aprendizagem da leitura (National
Reading Panel, 2000; Silva, 2002);

Outros mostrando que dado um sistema de escrita como o nosso, em que nem
sempre existe uma correspondência unívica grafema-fonema e vice-versa, beneficia,
por sua vez, o desenvolvimento da consciência fonológica (Morais, 1997);

Outros ainda mostrando que a consciência fonológica funcionará como causa e
consequência da aprendizagem da leitura (Silva, 2003).
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
A noção de consciência fonológica tem sido, por isso, alvo de várias definições:

A capacidade para conscientemente manipular (mover, combinar ou suprimir) os
elementos sonoros das palavras orais (Tunmer & Rohl, 1991 ).

O conhecimento que permite reconhecer e analisar, de forma consciente, as unidades
de som de uma determinada língua, assim como as regras de distribuição e
sequência do sistema de sons dessa língua. Em contraste com as actividades de falar
e de ouvir falar, a consciência fonológica implica a capacidade de voluntariamente
prestar atenção aos sons da fala e não ao significado do enunciado (Sim-Sim, 1998,
p.225).

A capacidade de identificar as componentes fonológicas das unidades linguísticas e de
as manipular de uma forma, voluntária e controlada (Gombert, 1990; Wagner &
Torgesen, 1987).
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
A este propósito Gombert (1990) propõe uma distinção clara e
precisa entre consciência fonológica e comportamentos epifonológicos.
Enquanto que a primeira remeterá para a capacidade de identificar as
componentes fonológicas e de as manipular de uma forma consciente,
controlada
e
voluntária,
a
segunda
corresponderá
a
comportamentos/habilidades que revelam a capacidade de discriminar,
desde cedo, o elenco de sons da língua materna, ocorrendo de forma
intuitiva e espontânea, por isso não consciente.
Assim sendo, a expressão consciência fonológica deveria apenas
ser utilizada nas situações em que o que está em causa é uma
manipulação consciente dos sons individuais ou agrupados da língua
materna, enquanto unidades abstractas (Adams, 1994)
Relação Consciência Fonológica/Aprendizagem da Leitura
Poder-se-á, então, entender a noção de Consciência Fonológica
enquanto capacidade de identificar as componentes fonológicas da fala,
assim como a capacidade de as manipular deliberadamente (Wagner &
Torgesen, 1987), isto porque, em contraste com as actividades de falar
e de ouvir falar, a consciência fonológica implica a capacidade de
voluntariamente prestar atenção aos sons da fala e não ao significado
do enunciado.
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Contudo, há que entender as várias
formas de consciência fonológica:
Consciência silábica;
 Consciência intra-silábica;
 Consciência fonémica

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Consciência silábica
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Consciência intra-silábica
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Consciência fonémica
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Na verdade, parece ser mais fácil para a criança:




identificar uma sílaba que se constitua apenas com
uma vogal (V);
identificar uma sílaba que se constitua apenas com
uma vogal e uma consoante, ou vice-versa (VC ou
CV);
identificar uma sílaba que se constitua apenas com
um ditongo, ou uma consoante e um ditongo (VG ou
CVG);
identificar uma consoante em ataque simples, do que
a mesma consoante num ataque ramificado:
Ex.: [patu] e [pratu].
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Logo, é possível discriminar diferentes níveis de
complexidade referentes à consciência fonológica
(Freitas & Santos, 2001):

Dividir uma palavra em sílabas é mais fácil do que
substituir uma sílaba por outra;

Dividir uma palavra em sílabas é mais fácil do que
dividir a mesma palavra em sons;

Dividir uma palavra em sons é mais fácil quando essa
palavra apresenta os formatos CV e V
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Por todas estas razões as Orientações
Curriculares para o Ensino Pré-Escolar
referem a necessidade e a importância de
promover e potenciar o desenvolvimento da
consciência linguística das crianças pelo
recurso, por exemplo, a trabalhos sobre
rimas e trava-línguas.
ACTIVIDADES
PARA
PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
ACTIVIDADES PARA PROMOÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
(adaptado de Freitas & Santos, 2001)
ACTIVIDADE 1: Vamos medir o tamanho das palavras!
Objectivo: desenvolver a consciência fonológica ao nível da identificação
de sílabas
Actuação: o educador/professor pede às crianças que façam várias
bolinhas de plasticina. De seguida, vai mostrando vários cartões com
imagens, ao mesmo tempo que vai pedindo que “partam aos
bocadinhos cada uma das palavras”, recorrendo para tal às palmas. A
cada palma corresponderá uma bolinha de plasticina.
Variação: a actividade pode ser aproveitada para trabalhar sílabas mais
complexas, quer ao nível da consciência fonológica, que ao nível da
própria produção oral (fala)
ACTIVIDADES PARA PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
(adaptado de Freitas & Santos, 2001)
ACTIVIDADE 2: À procura dos sons na história!
Objectivo: desenvolver a consciência fonológica ao nível do
reconhecimento de sons
Actuação: o educador/professor lê a história e a criança dá um salto cada
vez que ouve o som [R]
Variação: a actividade pode ser aproveitada para trabalhar qualquer som
que se queira, variando também o grau de complexidade
História: O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia
ACTIVIDADES PARA PROMOÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
(adaptado de (Freitas & Santos, 2001)
ACTIVIDADE 3: Vamos trocar as palavras!
Objectivo: desenvolver a consciência fonológica ao nível da manipulação (substituição)
de sons
Actuação: o educador/professor lê uma história e a criança deverá substituir o som
inicial de cada palavra por outro que lhe é indicado
Variação: a actividade pode ser aproveitada para trabalhar qualquer som que se queira,
variando também a posição do som a trabalhar na palavra. Pode aproveitar-se para,
em vez de trabalhar a substituição, trabalhar a inserção de sons
História: O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia
O pato poeu a polha da gapafa do pei da Pússia
O ratoi roeui ai rolhai dai garrafai doi reii dai Rússiai
ACTIVIDADES PARA PROMOÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
(adaptado de Freitas & Santos, 2001)
ACTIVIDADE 4: À procura das palavras com som igual!
Objectivo: treinar a consciência fonológica ao nível do reconhecimento de vogais e
ditongos
Actuação: o educador/professor prepara saquinhos com cartões ilustrados e distribui por
grupos de duas ou três crianças, pedindo, de seguida, que encontrem as palavras que
rimem com as palavras que vai dizendo.
Variação: a actividade pode ser aproveitada para trabalhar a questão da abstracção. O
educador/professor pode colocar, a par de palavras com sons iguais aos que vai
dizendo, palavras do mesmo campo lexical ou semântico. A ideia será levar a criança a
descobrir que em conjuntos como pai, sai e mãe, a palavra que não obedece ao pedido
feito é mãe (que não possui o ditongo ai) e não sai (que nada tem a ver com mãe e
pai).
JOGOS DIDÁCTICOS PARA
PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
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Consciência Fonológica - Nadol-Lab