Universidade Federal do Rio de Janeiro Thiago Motta Sampaio [email protected] Levels of representation in the electrophysiology of Speech Perception Colin Phillips 2001 Cognitive Science Será possível conciliar Linguística com a Neurociência? POEPPEL & EMBICK Granularity Mismatch Problem: Ontological Incommensurability Problem: Linguistic and neuroscientific studies of language operate with objects of different granularity. The units of Linguistic computation and the units of neurological computation are incommensurable. Estudos em Neurociência ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIA Sistema Visual HUBEL & WIESEL Motivação Relatos de casos médicos em que pacientes com certas enfermidades oculares perdiam a visão seletiva Hipótese Deve haver especialização celular para a visão. Experimento 1 – Período Crítico Implementação Em 1952 haviam sido desenvolvidos microeletrodos capazes de gravar a atividade de um único neurônio Experimento 2 – Representação Visual Postulação da Retinotopia ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIA Sistema Auditivo GEORGE VON BÉKÉSY Como as fibras da membrana próximas à janela oval são mais rígidas e as fibras do topo da cóclea, são menos rígidas, as ondas dos sons agudos atingem altura máxima perto da base da cóclea e as de sons graves próximo ao seu ápice. Hipótese Helmholtz acreditava que a frequencia das ondas de som acabam indo para locais específicos da membrana basilar para serem processados Um outro detalhe é que freqüências sonoras específicas ativam neurônios correspondentes também específicos. Isso é particularmente eficiente no córtex auditivo, onde a faixa de freqüência para cada neurônio é muito estreita. No córtex auditivo primário e nas áreas auditivas de associação Békésy encontrou pelo menos seis mapas tonotópicos. Na maioria dos mapas, os sons de baixa freqüência estão localizados anteriormente, enquanto os de alta freqüência se localizam posteriormente. Postulação da Tonotopia Estudos em Linguística ESTUDOS LINGUÍSTICO-FILOSÓFICOS Arbitrariedade do Signo Português Inglês Francês Borracha Eraser Gomme Menina Girl Fille Camundongo* Mouse Souris Cama Bed Lit Janela Window Fenêtre Caneta Pen Stylo Lápis Pencil Crayon Teclado Keyboard Clavier * Existe uma raíz que é compartilhada pelas três línguas para este significado : Rato/Rat/Raton. ESTUDOS LINGUÍSTICO-FILOSÓFICOS Arbitrariedade Saussureana Português Inglês Francês Livro Book Livre Relógio Clock Horloge Ferro Iron Fer Muro Wall Mur Século Century Siècle Amigo Friend Ami ESTUDOS LINGUÍSTICO-FILOSÓFICOS Arbitrariedade Saussureana Português Inglês Francês Globo Globe Globe Gato Cat Chat Disco Disk Disque Papel Paper Papier Bola Ball Ballon Música Music Musique Ciência Science Science Curso Course Cours Estudos em Filosofia ESTUDOS LINGUÍSTICO-FILOSÓFICOS Aitia / Causas /Qualia Aristoteles final eficiente LIVRO material formal Proposta da Biolinguística ESTUDOS LINGUÍSTICO-PSICO-BIOLÓGICOS Noam Chomsky Ferdinand de Saussure Menon Genie: The Wild Child Fonologia ARBITRARIEDADE SAUSSUREANA [g] + [a] + [t] + [u] Gato Existem várias evidências que mostram que esta relação não se trata de um “simples” mapeamento som-significado mas que existem diversos níveis de representação linguística envolvidos neste processo. OBJETIVO DESCOBRIR COMO O CÉREBRO HUMANO TRABALHA ESTES DIFERENTES NÍVEIS DE REPRESENTAÇÃO SPEECH PERCEPTION Níveis de Representação Conhecidos Acústica Fonética Fonológica Semântica /gato/ [g] + [a] + [t] + [u] Recepção pelos estereocílios das ondas resultantes da variação de pressão do ar. Percepção inváriavel independente da língua do falante Codificação dos traços acústicos em fones No nível fonético a língua nativa começa a ter influência na percepção auditiva Distinções linguisticamente relevantes seriam representadas com maior força do que as irrelevantes Nível mais abstrato onde as informações fonéticas ganham uma Forma “FonoLógica” capaz de ativar as entradas enciclopédicas durante o processo de Acesso Lexical. Fonológico Fonético [t] - tato /T/ [t∫] – t[h]iago [X/h] - carro /R/ [ř] – parto (gaúcho) Fonológico /R/ Fonético Brinca[Ø] Brinca[ř] Brinca[X] Brinca[h] Percepção Fonética em Crianças Os bebês nascem como “ouvintes universais” com a capacidade de distinguir contrastes sonoros relevantes para quaisquer das possíveis línguas naturais. (Streeter, 1976; Werker & Tees, 1984; Jusczyk, 1997). Crianças têm boa percepção para sons de diferentes categorias fonéticas e baixa percepção para sons da mesma categoria: Vozeamento /T-D/ (Eimas et al. 1971) Oclusivas / Glide /B-W/ (Eimas 1974) R / L (Japonês) (Eimas & Miller 1980) Local de Articulação (Eimas 1975) Percepção Fonética em Crianças PERCEPÇÃO CROMÁTICA (Mehler 194) Percepção Fonética em Crianças Variação Acústica Colin Phillips Percepção Fonética em Crianças [dæ] [tæ] Variação Acústica Colin Phillips Percepção Fonética em Crianças within category between category [dæ] [tæ] Variação Acústica Colin Phillips 60 msec Representação Fonológica Percepção Fonética em Crianças e e/ö ö õ o Colin Phillips Percepção Fonética em Crianças PERCEPTUAL MAGNETS Representação Fonológica Acústica Fonética Fonológica /gato/ [g] + [a] + [t] + [u] within category between category [dæ] [tæ] Semântica Percepção Fonética em Crianças Existe o argumento de que as representações inatas que a criança utiliza na aquisição refletem os limites naturais da representação acústica que os seres humanos compartilham com outros animais Kuhl (1991b). Estas ideias baseiam-se em trabalhos que mostram que animais apresentam efeitos de percepção categorial para certos contrastes da fala. Kuhl & Miller (1975); Kluender et al. (1987) Aos 6 MESES as crianças apresentam sensibilidade para as vogais de sua língua nativa Kuhl et al. (1992) Aos 10 MESES as crianças só conseguem perceber com eficiência os contrastes fonéticos de sua língua nativa. Werker (1995) Learning through Unlearning Jacques Mehler (1994) Phonetic Bootstrapping Fonética > Fonologia[?] > Fonotática > Limites de Palavra > Palavras Komu jsi co řekl? - O que você contou a quem? Percepção Fonética em Crianças Structure-Changing Approach PATRICIA KUHL As crianças iniciam a aquisição como ouvintes universais, e ao adquirir sua língua materna, apagam os limites categoriais que são irrelevantes para sua língua. Structuring Adding Approach JANET WERKER As crianças iniciam a aquisição como ouvintes universais e, ao adquirir sua língua materna, operam uma sobreposição da estrutura fonética de sua língua à estrutura universal. Percepção Fonética em Crianças Neurociência da Linguagem Identificação de Atividade Cortical Hemodinâmicos fMRI imagem por ressonância magnética funcional NIRS Near InfraRed Spectography Eletromagnéticos EEG MEG eletroencefalografia magnetoencefalografia 350 Patricia Kuhl Respostas Neurofisiológicas em Speech Perception Os estudos em eletrofisiologia da fala focam duas respostas: O M100 / N100 parece ser sensível a qualquer estímulo acústico, independente da atenção do sujeito ou da tarefa proposta. Porém sua latência, amplitude e localização pode variar de acordo com o estímulo (Poeppel et al. 1996) Numa sequência de sons idênticos stadards que são interrompidas por um som não-convencional infrequente pode ser identificado o componente MMF / MMN, também independente da atenção do sujeito. Este componente é o paradigma mais produtivo em eletrofisiologia da fala revelando a existência de diferentes níveis de representação. Respostas Neurofisiológicas em Speech Perception M100 RESULTS DAVID POPPOEL - Sensível à variação da categoria da vogal (/a, i, u/); - Especialmente sensível à variação de altura da vogal; - Quase que insensível à variação de pessoa (i.e. voz masculina vs. feminina) - O M100 consegue identificar importantes pistas para a categorização da vogal, mas não indica como elas são representadas. Respostas Neurofisiológicas em Speech Perception MMF / MMN RESULTS ISTVÁN WINKLER - Busca por contrastes entre vogais trilíngues (Húngaro, Estoniano e Finlandês) - O MMF para contrastes envolvendo vogais da língua nativa do falante são maiores que os contrastes que envolvem uma língua estrangeira, independente da distância acústica entre elas. Percepção Fonética Voice Onset Time (VOT) ALVIN LIBERMAN - VOT é a diferença de tempo entre a liberação do ar da consoante e a vocalização. - Estudos mostram que tanto bebês, quanto adultos e outros mamíferos limitam a percepção do vozeamento por volta dos 30ms. - Consoantes em que o vozeamento ocorre até os 30ms são considerados vozeados, após este limite são considerados desvozeados. Hipótese 1 Observação Hipótese 2 As fronteiras do vozeamento são consequências naturais da maneira como grupos específicos de neurônios respondem aos sinais acústicos Geralmente os neurônios dos sistemas de percepção são sintonizados em certas propriedades dos estímulos e, ao responder à estes estímulos, passam por um período de inatividade. O tempo de fronteira categorial do VOT corresponde ao tempo de inatividade dos neurônios correpondentes Percepção Fonética Voice Onset Time (VOT) ALVIN LIBERMAN Percepção Fonética Voice Onset Time (VOT) EEG (Sharma & Dorman 1999) -<40ms VOT elicita um N100 cuja latência varia com o VOT. - >40ms VOT elicita dois componentes N100 sendo que somente a latência do último varia com o VOT. MEG (Philips et al. 1995) - Comportamento MEG similar aos experimentos em EEG, porém as latências M100 NÃO variam com o VOT Resultados Comportamentais Sharma & Dorman Percepção Fonética Voice Onset Time (VOT) EEG (Sharma & Dorman 1999) - O experimento se baseava nos contrastes: - Within Category - MMN é significante Between Category - MMN responde significantemente mais forte que within category MEG (Philips et al. 1995) Não foram MEG realizados experimentos - Comportamento similar aos experimentos em eletrofisiológicos que contrastem os resultados EEG, porém as latências M100 NÃO variam com o VOT de nativos e não nativos, fazendo paralelo com experimentos em crianças. Percepção Fonética Ponto de Articulação - Pistas acústicas menos claras, o que dificulta hipóteses específicas sobre sua representação. - As melhores pistas são as transições nos padrões dos formantes de acordo com o contexto vocálico. - VOT e vowel-space são espaços representacionais contínuos cujas categorias podem ser sobrepostas de língua pra língua, o que as impede de serem categorizadas de forma universal. - O “place-space” não é contínuo e, devido às limitações articulatórias que restringem o número de possibilidades de realização, possibilita a descrição categorias universais que, de acordo com a língua materna, seriam modeladas durante o desenvolvimento, como previsto tanto pela Structuring Adding quanto pela Structuring Changing Approaches. Percepção Fonética Place of Articulation JANET WERKER - Werker & Tees (1984) mostram que bebês conseguem diferenciar contrastes de articulação não nativa que crianças mais velhas não conseguem. O que mostra que mudanças importantes ocorrem entre 8 e 10 meses de idade, corroborando as duas hipóteses. - Werker & Logan (1985) mostram que adultos falantes de inglês não diferenciam o contraste entre alveolar e retroflexo em ISI maiores que 500ms mas o conseguem em ISI menores. Isso corrobora a idéia de que tanto a representação universal quanto a paramétrica estão presentes, mas que a representação universal é mais fraca ou fica disponível apenas por um curto período de tempo. Ao contrário do que ocorre com as vogais, os experimentos neurofisiológicos sobre local de articulação (ex.: Sams et al. 1990; Sharma et al. 1993; Maiste et al. 1995) não encontraram diferenças de amplitude MMN relativos a facilidade ou não do reconhecimento dos contrastes entre as consoantes. Percepção Fonética Place of Articulation Maritza Riviera-Graxiola - Série de Experimentos EEG [ba-da-Da] O Contraste labial-dental é nativo do inglês e do francês enquanto o contraste dental-retroflexo é não-nativo. Percepção Fonética Place of Articulation Ghislaine Dahaene-Lambertz - Não convergência dos resultados Os resultados desta série de testes são divergentes, provavelmente por causa das técnicas utilizadas para elicitar o MMN - Dehaene-Lambertz (1997) mostra resultados que concordam com a Structuring-changing approach enquanto os resultados de RiveraGraxiola (2000ab) concordam com a Structuring Adding Approach. Percepção Fonética Incongruência dos resultados experimentais Contínuo Não nativo b -- d – D 3 contrastes Nativo Não-nativo Não-Fonético Resultados conflitantes! Colin Phillips b -- d d -- D b1 -- b5 Percepção Fonética Incongruência dos resultados experimentais Contínuo Não nativo b -- d – D 3 contrastes Nativo Não-nativo Não-Fonético Resultados conflitantes! Colin Phillips Dehaene-Lambertz 1997 b -- d d -- D b1 -- b5 Resposta contrastes nativos apenas com nos sons Percepção Fonética Incongruência dos resultados experimentais Contínuo Não nativo b -- d – D 3 contrastes Nativo Não-nativo Não-Fonético Resultados conflitantes! Colin Phillips Rivera-Gaxiola et al. 2000 b -- d d -- D b1 -- b5 Respostas em todos os contrastes sendo os nativos e não nativos muito parecidos Percepção Fonética Incongruência dos resultados experimentais Contínuo Não nativo b -- d – D 3 contrastes Nativo Não-nativo Não-Fonético Tsui et al. 2000 b -- d d -- D b1 -- b5 Em resumo, existem evidências de que os contrastes não nativos são preservados Colin Phillips Sons nativos e não-nativos com respostas quase idênticas Representação Fonológica Diferenças silábicas alterando a representação fonológica Palavras do Inglês utilizadas no Japonês: DeaeneLambertz et al 2000 INGLÊS JAPONÊS Trunks Toranksu Volcano Borukano Brother Burazaa Ebzo, ebzo, ebzo, ebzo, ebzo, ebuzo Japoneses podem compreender palavras que não se encaixam no seu padrão silábico, como se elas se encaixassem através da inserção de phantom vowels Emmanuel Dupoux et al. 1999 Japoneses apresentam apenas um MMF tardio ao escutarem esta sequência e têm dificuldades para diferenciálas, ao contrário de falantes de inglês e de francês. Representação Fonológica Wuckoo CHARLES YANG (...) A child may mean to say spill and manage only fill, where two consonants are rolled into one. This is pure genius. Recall that s is a fricative and p is labial; since making two consonants is too hard, the child will have to make do with one – f is a labial and a fricative at the same time! (...) Making words shorter is not the only way to make them simpler. Children may even make words longer; adding sounds to words can make them conform to the consonant-vowel template. Duck may be Duckoo, Car may be Kaka; and the loud banger in the living room is the pinano. This finally brings us to Russel’s metamorphosys of truck. First the two consonants (tr) were simplified to just r, wich was then substituted by a w. And finally an extra vowel oo was stuck in for the sake of the consonant-vowel sequence: Wuckoo Charles Yang 2003 – The Infinite Gift – pg 69 Representação Fonológica Wuckoo CHARLES YANG Porém a representação fonológica EXISTE na criança falante de inglês Fis Phenomenon Adult – Is this your fis? Child – No, it´s my fis. Adult – So, is this your fish? Child – yes, it´s my fis.