Análise da Interação Verbal
Análise da Conversação
x
Análise do Discurso
Introdução
A análise da interação verbal teve sua origem com os trabalhos
de Garfinkel no início dos anos 60, mais especificamente com a
publicação do livro “Studies in Ethnomethodology" em 1967. Aqui
se iniciam os estudos sobre etnometodolgia, mais
especificamente, falaremos da análise da conversação (AC) que
teve suas origens na etnometodologia.
A etnometodologia pode ser definida como o estudo das maneiras
pelas quais as pessoas criam sentido em seus mundos sociais,
ou seja, dos ambientes sociais em que vivem.
Por conversação entendemos como toda troca espontânea de
falas ou conversas entre pessoas no dia a dia aproximando-se
mais do tipo de conversa informal, não submetida a ocasiões ou
instituições sociais que possam determinar uma mudança nos
níveis de formalidade e informalidade.
Razões que justificam o estudo
da conversação
1. prática social mais comum do ser humano
2. desempenha um papel privilegiado na construção de
identidades sociais e relações interpessoais
3. exige uma enorme coordenação de ações que
exorbitam em muito a simples habilidade lingüística
dos falantes (Marcuschi, 1986)
4. permite que se abordem questões envolvendo "a
sistematicidade da língua presente em seu uso e a
construção das teorias para enfrentar essas
questões" (Marcuschi, 1986)
Perguntas que norteiam a
Análise da Conversação
Como é que as pessoas se entendem ao conversar?
Como sabem que estão se entendendo?
Como sabem que estão agindo coordenada e
cooperativamente?
Como usam seus conhecimentos lingüísticos e
outros para criar condições adequadas à
compreensão mútua?
Como criam, desenvolvem e resolvem conflitos
interacionais?
Aspectos organizacionais da
conversação
A análise da conversação possui uma
linha
relativamente
estrutural,
preocupada em definir aspectos
organizacionais da conversação. Estes
aspectos característicos podem ser
elencados da seguinte maneira a fim de
que delimite o que é conversação e sua
análise:
Aspectos organizacionais da
conversação
a. interação entre pelos menos dois falantes;
b. ocorrência de pelo menos uma troca de
falantes;
c. presença de uma seqüência de ações
coordenadas;
d. execução numa identidade temporal;
e. envolvimento numa interação centrada.
(Marcuschi, 1986)
Características da Conversação
1. troca de falantes recorre ou pelo menos ocorre
2. em qualquer turno, fala um de cada vez
3. ocorrências com mais de um falante por vez são comuns, mas breves
4. transições de um turno a outro sem intervalo e sem sobreposições são
comuns; longas pausas e sobreposições extensas são a minoria
5. a ordem dos turnos não e fixa, mas variável
6. a tamanho dos turnos não e fixo, mas variável
7. a extensão da conversação não e fixa nem previamente especificado
8. o que cada falante dirá não e fixo nem previamente especificado
9. a distribuição dos turnos não e fixa
10. o numero de participantes e variável
11. a fala pode ser continua ou descontinua
12. são usadas técnicas de atribuição de turnos
13. são empregadas diversas unidades construidoras de turno: lexema,
sintagma, sentença, etc.
14. certos mecanismos de reparação resolvem falhas ou violações nas
tomadas (Marcuschi, 1986)
Observações
Na AC, para efeitos de estudo, não é tomada nenhum
tipo de atividade verbal monológica, tanto pelo fato
de serem exigidos no mínimo dois falantes, quanto
pela característica dialógica da linguagem.
A mudança do foco da análise da conversação para
estudos interacionistas se deu pela posterior
necessidade de respostas que a situação da
conversa somente não era capaz de abarcar.
Passou-se então a verificação do contexto social e
como este influenciava na conversa e nos elementos
paralingüísticos.
Observações
A mudança de foco nos estudos variacionistas se dá
com Gumperz e os estudos interacionistas no âmbito
da sociologia e antropologia. Gumperz considera
necessário o conhecimento de todo o contexto social
de uma certa comunidade para que se justifiquem os
tipos de mudança na fala dos indivíduos. Seu artigo
(CAP. 3 SOCIOLING. INTERAC.) é bem ilustrativo
neste sentido, de verificar como se processa a
interação e os traços. Como a atenção neste
momento é de explicitar alguns pontos da AC, não
nos deteremos a Gumperz.
Elementos subjacentes à AC
Seguindo os tópicos de Marcuschi (1986), exporemos os
elementos subjacentes à AC como se segue:
1. organização de turno a turno
 fala um por vez – não linear, ocorrendo com o que possui o
turno
 quem tem a palavra e quando – 1. o falante escolhe quem
deve continuar ou 2. há uma auto-escolha dos interlocutores
 falas simultâneas e sobreposições – segue o modelo do ponto
2 anterior
 pausas, silêncios e hesitações – momentos de organização do
turno pelo falante
 reparações e correções – fator tempo influi para que se corrija
o que foi dito; o falante ou o ouvinte podem faze-lo
Elementos subjacentes à AC
2. organização das seqüências
 pares conversacionais: a. perguntas e respostas; b. ordem e
execução; c. convite e aceitação/recusa, etc.
 pré-seqüências – preparação par uma seqüência que virá;
uma pergunta que se fará terá uma preparação prévia para tal
 seqüências inseridas – retardamento da sequencia original até
que prossiga com o turno seqüencial original; uma ordem não
entendida pode ser repetida até que se compreenda de fato
 organização da preferência – modos que os falantes realizam
ações alternativas não-equivalentes: convite – recusa –
insistência - aceitação
Elementos subjacentes à AC
3. organizadores globais
 abertura
 desenvolvimento
 fechamento
Elementos subjacentes à AC
4. marcadores conversacionais
 verbais – não constituem itens lexicais mas
são situados no contexto (ahã, hein, etc)
 não-verbais
corporais, etc
–
riso,
olhar,
inclinações
 supra-segmentais – de natureza lingüística
mas não verbal (pausas, hesitações, etc)
Conclusão...
Estes marcadores são tomados como unidades
comunicativas (UC) já que substituem o conceito
sintático de frase. Na AC podemos encontrar
exemplos de silêncios que funcionam como um
anacoluto, sem que necessariamente seja
seguida a definição gramatical do termo. Um
anacoluto na AC, por exemplo, pode ser
indicativo de início de outro tópico
conversacional sem necessariamente haver a
quebra sintática organizacional da conversação.
Download

Análise da Interação Verbal