A ORGANIZAÇÃO TÓPICA EM CONVERSAS INSTANTÂNEAS
Monia Cavalcanti de Souza1 (SEDUC-PE)
Resumo:
No sentido de ampliar as discussões acerca dos gêneros digitais e
especialmente aprofundar estudos já iniciados sobre o gênero chat, o
presente trabalho pretende descrever o gênero chat, mostrar a
complexidade na estruturação tópica que o gênero apresenta e discutir as
estratégias de construção textual em conversas instantâneas, analisando o
papel da organização tópica para a continuidade temática do texto.
Palavras-chave: Organização tópica, chat, gêneros digitais.
Abstract:
In order to broadening the discussions about digital genres, specially that
ones related to chat, this paper intends to describe chat as a genre, to
show the complexity involved in its topical organization and to discuss the
strategies of textual construction, analysing the role of the topical
organization in the thematic continuity of a text.
Keywords: topical organization, chat, digital genres.
Introdução
Uma abordagem da organização textual-interativa em ambiente virtual
requer um minucioso trabalho na análise dos dados, dada a complexidade de
fatores envolvidos na comunicação humana em qualquer situação. Porém, no
ambiente virtual essa tarefa torna-se ainda mais árdua, uma vez que a
comunicação apresenta elementos tanto na modalidade oral quanto na escrita da
língua e este fenômeno se configura de maneira peculiar no contínuo de gêneros na
comunicação digital mediada por computador1, pois encontramos a quase
simultaneidade entre a elaboração e a manifestação do discurso. Ainda que este
seja posto de forma escrita, não podemos questionar a grande velocidade dos
diálogos nos ambientes virtuais que chegam a ser bem próximos aos diálogos
presenciais. Segundo Marcuschi (2008), “os bate-papos virtuais ocupam a base que
1
Marcuschi,L. A. PRODUÇÃO TEXTUAL, ANÁLISE DE GÊNERO E COMPREENSÃO, São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
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em certo sentido corresponde à situação da comunicação face a face, com diversas
possibilidades
apontadas
em
relação
a
serem
comunicações
grupais
ou
interindividuais.”
O objetivo deste trabalho é discutir as estratégias de construção textual em
conversas instantâneas, analisando o papel da organização tópica para a
continuidade temática do texto. O texto é aqui entendido como “evento
comunicativo para o qual convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”,
segundo Marcuschi (2008). Todo evento comunicativo e social tem um produtor que
mobiliza variados meios para transmitir a seu interlocutor suas ideias, seu modo de
percepção do mundo, sua ideologia. Para tanto, ele se vale de mecanismos que
corroboram para trazer ao texto o efeito desejado. Um desses elementos é a
organização tópica.
Por sua natureza interativa, a conversa instantânea nos parece um Corpus
interessante e atual para a observação de vários tipos de organização tópica. Para
tal investigação, observaremos duas conversas de MSN.
As análises realizadas neste trabalho buscarão esclarecer a configuração
interna das conversas instantâneas, observando como os interlocutores tentam
estabelecer um tópico discursivo em ambiente virtual. Embora, em muitos
momentos, essa organização não pareça evidente, constataremos que ela de fato
existe, mas funciona com características diferentes da organização de uma
conversação face a face. Observaremos ainda a importância do uso de recursos
linguísticos, extra linguísticos e hipertextuais numa conversa mediada por
computador.
Com esse objetivo, o estudo da organização tópica das conversas
instantâneas aqui desenvolvido pretende:
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1. Identificar as unidades tópicas (a noção de tópico aqui adotada, tal como
sugerido por Brow & Yule, 1983 apud Marcuschi, 2008) seria aquilo sobre
o que se está falando no discurso;
2. Observar aspectos relevantes na constituição do discurso na interação
virtual como, por exemplo, como se dá a troca de turnos, como ocorrem
as trocas de tópicos, e especialmente observar como se estabelece a
compreensão quando ocorrem falhas na continuidade tópica;
3. Finalmente, tentaremos esboçar os traços característicos de cada
organização tópica para que possamos verificar a formação de vários
tipos de combinações da estrutura tema-rema, para observar como se dá
a organização tópica nesse gênero digital.
Justificativa
Alguns autores como Batista (1998), Xavier & Santos (2000, 2000a), Komesu
(2001), Abreu (2002), Marcuschi (2002, 2002a) e Araújo (2002) 2 tem se ocupado em
produzir estudos acerca dos gêneros digitais. Contudo, a literatura linguística
abordando gêneros digitais ainda é escassa no Brasil, talvez pelo caráter emergente
dos gêneros e pela velocidade do surgimento de novos gêneros na esfera digital.
No sentido de ampliar as discussões acerca dos gêneros digitais e
especialmente aprofundar estudos já iniciados sobre o gênero chat. O presente
trabalho pretende descrever o gênero chat e mostrar a complexidade na
estruturação tópica que o gênero apresenta.
A progressão textual, como diz Koch (2006), está intimamente ligada a dois
grandes movimentos, um de retroação e outro de prospecção. Esses movimentos
são comparados por esta autora à ação de tricotar, ou seja, para a composição da
tessitura textual, necessitamos realizar repetidos movimentos de avanço e recuo
para que falante e ouvinte estabeleçam uma conversação estruturada e coerente.
2
In Araújo (2003, p. 14)
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Mas discutir a organização tópica em ambiente virtual nos faz refletir sobre
alguns aspectos relevantes na conversa, vejamos:
“... a relação de interdependência entre os turnos pode ser movida pela
preocupação dos falantes em se entrosarem, procurando manter a
conversação em torno de um conjunto de referentes comuns, que se
constituem como foco da interação verbal.” (JUBRAN et al. 2002)
Deste modo, a proposta de pesquisa aqui apresentada é importante na
medida em que discute as mudanças na organização tópica ocorridas em ambiente
virtual, pois temos outro modo de interação e com isso novas formas de
estruturação tópica. Uma vez que o ambiente virtual nos garante outras
possibilidades como a própria linguagem diferenciada, o internetês, sem falar nos
emotions, links, músicas e tudo mais que pode permear uma conversa instantânea
na WEB.
O presente trabalho visa ainda contribuir para a Linguística confirmando o
caráter interativo da linguagem, enfocando a importância do estudo da organização
tópica do discurso de natureza escrito-dialogada. Tendo em vista que o texto
produzido
nesse
ambiente
apresenta
características
específicas
a
serem
observadas.
Referencial teórico
Análise da conversação
Estudiosos como Sacks, Schegloff e Schiffrin3 que iniciaram os estudos da
conversação e se dedicaram a observar as características constitutivas desse
gênero, nos fornecem elementos essenciais para pensar sobre essa nova estrutura
da conversa, o bate-papo on line.
3
In Marcuschi (2003)
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Marcuschi (1986, p. 15) elenca cinco características básicas que constituem a
organização elementar da conversação, são elas:
(a) Interação entre pelo menos dois falantes, de modo que não possa
caracterizar outros gêneros, como o monólogo, por exemplo;
(b) Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;
(c) Presença de uma sequencia de ações coordenadas;
(d) Execução numa identidade temporal significa que a interação, mesmo em
espaços diferentes, precisa ocorrer durante o mesmo tempo;
(e) Envolvimento numa “interação centrada”, ou seja, para caracterizar uma
conversação é fundamental que exista algo sobre o que conversar.
Diante dessas características básicas da conversação, partiremos dos estudos
de Sacks, Schegloff e Jefferson41974 que estruturaram um modelo elementar para
conversação, baseados no sistema da tomada de turno. Esta ideia consiste numa
regra básica de toda a conversação que seria “cada um fala em sua vez” e
sugeriram algumas técnicas para seu funcionamento. Esse sistema seria válido para
interações espontâneas, informais e sem hierarquia de falantes. Assim, as
conversações seguiriam algumas condições, são elas:
(a) A troca de falantes recorre ou pelo menos ocorre;
(b) Em qualquer turno, fala um de cada vez;
(c) Ocorrências com mais de um falante por vez são comuns; longas pausas e
sobreposições extensas são a minoria;
(d) Transições de um turno a outro sem intervalo e sem sobreposição são
comuns; longas pausas e sobreposições extensas são a minoria;
(e) A ordem dos turnos não é fixa, mas variável;
4
Ibdem
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(f) O tamanho do turno não é fixo, mas variável;
(g) A extensão da conversa não é fixa nem previamente especificada;
(h) O que cada falante dirá não é fixo nem previamente especificado;
(i) A distribuição dos turnos não é fixa;
(j) O número de participantes é variável;
(k) A fala pode ser contínua ou descontínua;
(l) São empregadas diversas unidades construidoras de turno: lexema,
sintagma, sentença etc.;
(m)
Certos mecanismos de reparação resolvem falhas ou violações nas
tomadas.5
Estas condições fazem da tomada de turno um elemento essencial para toda
conversação, no entanto, não tomaremos aqui o turno como unidade central para
nossa investigação. Enquanto na conversação face a face a tomada de turno é mais
complexa, pois, determinar o momento propício para que ocorra a troca de turno,
nem sempre é fácil.
Na interação virtual, as trocas de turno geralmente ocorrem quando
recebemos a mensagem. Isso não significa que essas trocas ocorram sem problemas
no meio virtual. O que acontece é que a tomada de turno obedece a padrões um
pouco mais simples que os da interação face a face. Uma das razões que justifica
tal afirmação seria a de que o próprio ambiente virtual favorece a regra geral e
prática da conversação que é: “fala um de cada vez”6. Em geral, na conversação
face a face um falante espera o outro concluir, mas em alguns momentos falam
todos ao mesmo tempo, na conversação mediada por computador, isso não ocorre 7.
Marcuschi sugere uma distribuição de turnos num esquema linear e
sequenciado, que poderia ser esquematizado da seguinte forma:
5
In Marcuschi (1986, p.18)
Marcuschi (1986, p.19)
7
Ver capítulo II
6
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A: fala e pára;
B: toma a palavra, fala e pára;
A: retoma a palavra, fala e pára;
B: volta a falar e pára;
Há ainda as pausas e hesitações que em conversas face a face tomam a
forma de lacunas ou interrupções e não são poucas as vezes que essa regra é
violada, como diz Marcuschi (1986) “Seja como for, a regra básica é válida para a
maioria das línguas, culturas e situações.” De fato, pois notamos que essa “regra”
funciona muito bem em conversas virtuais.
Observando as características do sistema de turnos proposta por Sacks,
Schegloff e Jefferson, Marcuschi (1996) conclui que todas elas, direta ou
indiretamente, têm a ver com as estratégias de organização de turnos. Assim, o
turno seria uma das unidades centrais da organização conversacional. Deste modo,
a tomada de turno, por caracterizar a passagem de um turno a outro adquire um
papel fundamental na conversação.
Segundo Sacks, Schegloff e Jefferson8 a tomada de turno não se dá
caoticamente, mas obedece a regras, que segundo os teóricos citados apresentam
a seguinte estrutura:
Técnica I – O falante corrente escolhe o próximo falante, e este toma a
palavra iniciando o próximo turno.
Técnica II – O falante corrente para e o próximo falante obtém o turno pela
auto-escolha.
Marcuschi (1986) ressalta que o mecanismo que governa a tomada de turno é
um sistema localmente comandado, tendo um caráter essencialmente contextual.
8
In Marcuschi (1986).
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Por isso, o modelo aqui apresentado, baseado na cultura norte-americana, não
pode servir de orientação para outra cultura.
O modelo sugerido parece óbvio, já que a estruturação da conversação em
turnos ocorre com naturalidade. No entanto, analisar a operacionalização desse
sistema é um pouco mais complexo. Uma vez que, tanto a extensão do turno
quanto a progressão temática são regida por outras regras que não são
necessariamente a tomada de turno. Quando temos, por exemplo, mais de três
participantes, ocorre um fenômeno que Sacks, Schegloff e Jefferson 9 chamam de
cisma gerando conversações paralelas. Esta possibilidade torna-se sistemática
quando há mais de quatro participantes.
Contudo, ao analisarmos a conversação virtual, encontramos também uma
série de fenômenos muito semelhantes aos que ocorrem na interação face a face. A
cisma, por exemplo, acontece com frequência, uma vez que o ambiente das
conversas on line propiciam esse fenômeno. Quanto às semelhanças com a
conversação face a face,
é certo que, no ambiente virtual dispomos de mais
tempo, uma vez que podemos corrigir um equívoco ou outro antes de enviar a
mensagem. Isso não significa que o interlocutor receberá a mensagem sem falhas,
pois o tempo é um pouco maior que na interação face a face, mas muito menor que
dos outros meios de comunicação escrita, já que o interlocutor espera resposta
imediata.
Tendo em vista esta breve caracterização da conversação, passemos as
teorias que analisam de maneira mais detalhada alguns fenômenos da Organização
sequencial da conversação.
Caracterização dos chats
Concordamos com Araújo (2003) quando diz que o chat é um gênero que se
formou da transmutação do diálogo cotidiano (face a face) para uma esfera mais
9
Ibdem
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complexa, que é a Web. Alguns autores, como Marcuschi (2008), resistem a essa
classificação e caracterizam o chat como limítrofe da carta e uma variação do
telefonema. Embora, não possamos negar a existência de semelhança entre os
gêneros, sabemos que chat e o telefonema acontecem em condições de produção e
suportes físicos diferentes. Além disso, como afirma Araújo (2003), o chat usa
características da língua oral e escrita imbricadamente, enquanto o telefonema só
dispõe da oralidade.
Alguns autores como Fonseca e Marcuschi citados por Araújo (2003, p. 72),
formulam terminologias para classificação chats. Fonseca (2002) divide os chats em
três grupos: as videoconferências, os voice chats e os chats de texto. Nos chats
chamados de videoconferência, os participantes têm acesso ao som da voz e à
imagem uns dos outros. Os voice chats também oferecem acesso à voz, mas não a
imagem. Quanto aos chats de texto, a autora propõe três subclassificações: os
chats de texto livre, os chats de texto moderado e os chats de texto especial.
No primeiro o tema é livre e não apresenta moderador (alguém que faz a triagem
das mensagens). No segundo existe a presença do moderador e o tópico são
predefinidos. Já no terceiro, além de contarem com a presença de um moderador e
tópico predefinidos, ainda possui data e horário preestabelecidos.
Marcuschi (2002a) sugere cinco tipos distintos de chats: bate-papo virtual
aberto, bate-papo virtual reservado, bate-papo virtual ICQ10 (agendado), batepapo virtual em salas privadas e bate-papo virtual educacional. Adotaremos esta
classificação, mas entenderemos o bate-papo virtual reservado como MSN.
Como se organizam as sequências nas conversações on-line
A conversação espontânea apresenta normalmente turnos alternados, que
formam sequências em movimentos coordenados e cooperativos e algumas dessas
10
In Araújo (2003, p. 57) encontramos maiores informações sobre esses chats. A sigla ICQ faz alusão à
pronúncia da expressão inglesa I seek you ( aiciquiu), que seria equivalente a “eu procuro você”.
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sequências apresentam padrões de estruturação aos quais Schegloff
11
chamou de
pares adjacentes.
Esses pares adjacentes ou conversacionais é uma sequência de dois turnos e
tem por fim a organização local da conversação. Segundo Marcuschi, esses pares
apresentam uma coocorrência obrigatória, que dificilmente pode ser adiável, como
no caso dos cumprimentos. Observe:
A: oi Maria
B: oi Flávia
No entanto, quando observamos este fenômeno nas interações virtuais,
encontramos indícios de uma ruptura, ou melhor, encontramos um outro modo de
processamento desse tipo de organização. É o caso de K e R abaixo:
K .- http://blogkeylla.blogspot.com/ diz:
[c=6][b]R.[/b][/c] diz:
oi mulher
K. - http://blogkeylla.blogspot.com/ diz:
essa tu foto tá linda!
se der fala com mais gente da nossa época
[c=6][b]R.[/b][/c] diz:
vou ver se mando uns recados
mas vamo falar com a galera de lá, pra ver como será a recepção
Como pudemos notar, o espaço em branco serviu como cumprimento, pois a
conversa começa exatamente nesse momento e assim que o interlocutor percebe a
mensagem vazia, responde como se houvesse a primeira parte do cumprimento.
11
In Marcuschi (1986, p. 35)
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Elementos de progressão textual
Os processos de construção textual envolvem uma complexidade de eventos
que nos colocam diante da difícil tarefa de eleger um ou outro aspecto a ser
discutido. Contudo não podemos perder de vista dois grandes processos de
ordenação textual: retroação e prospecção ou os movimentos de avanço e recuo,
de acordo com Koch (2003, p.121). A progressão textual tem a ver com esses
procedimentos que possibilitam a sequenciação entre os elementos do texto.
Segundo Jubram et al. (1996, p.361-365), a progressão tópica seria uma
porção do texto caracterizada por dois elementos básicos: centração e
organicidade.
A centração seria a unidade definidora do tópico e dentro de seu escopo
estaria à concernência, a relevância e a pontualização. A primeira ligada à
relação mútua de dependência semântica entre os enunciados; a segunda seria o
elemento de maior importância dentro do conjunto de referentes determinados no
segmento textual e a pontualização é a possibilidade de destacar desse conjunto
de referentes o ponto em que o evento focal aparece com maior evidência, através
das marcas linguístico-discursivas. Considerando a opinião dos autores seria
possível desenvolver vários temas e com isso vários tópicos num único texto e
dentro desse evento observar a organicidade expressa nas relações de assuntos em
quadros tópicos. Sendo assim, podemos observar como acontece a distribuição
desses quadros em conversas instantâneas.
Segundo Jubram et al (1996,p.363-366), a organicidade é observada através
da articulação entre um tópico e a sequência discursiva. Seria, então, a
organicidade baseada em dois níveis: no plano hierárquico (vertical) e no
sequencial (linear). No nível linear, teríamos dois segmentos: a continuidade e a
descontinuidade, de modo que no primeiro a abertura de um tópico só seria
iniciada após o fechamento do tópico anterior e o segundo seria caracterizado pela
quebra dessa linearidade, pois o tópico ainda não finalizado apresenta-se em
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partes no decorrer do texto. Já no plano hierárquico, a coerência se constrói pela
sobreposição de tópicos, ou melhor, pela subdivisão de tópicos, supertópicos e
subtópicos, de modo que o sentido se dá no nível vertical, já que no quadro tópico
a coerência se constrói à medida que subimos na hierarquia tópica. “Dessa forma,
cada nível hierárquico é recoberto por um superior e constituído por um inferior,
sendo que os limites dos diversos níveis são dados pelo grau de abrangência do
assunto em foco”, Koch (2003, p.129). Diante disso, podemos observar outros
modelos de organização tópica.
A Progressão temática
As relações entre os segmentos textuais como, já dissemos, se dá
basicamente em dois níveis (hierárquico e sequencial), mas o estabelecimento da
articulação no interior do enunciado tem como objeto central a ligação tema-rema
que influi diretamente na organização tópica do texto.
Segundo Marcuschi (2008), o tópico discursivo não seria um dado, uma
informação apenas, mas uma construção realizada interativa e negociadamente.
Assim, em qualquer interação verbal espontânea entre indivíduos em qualquer
situação da vida diária, apesar de alguém sempre propor um tópico, este alguém
nunca terá a certeza de conduzir o tópico até o final por conta própria, pois
sempre haverá que contar com a participação do outro. Marcuschi diz ainda, que
quando se analisa o tópico discursivo, não se trata de uma simples análise de
conteúdo, mas dos procedimentos para encadear os conteúdos
Nesta perspectiva, adotaremos a noção de tópico discursivo como tema
discursivo, como os “abautness” de que falam Brown & Yule (1983) 12. Eles formam
um conjunto demarcado sobre o que se está falando no discurso. Assim, o processo
de centração, constitui, ao lado de outros dois processos, a organicidade e
delimitabilidade a base da noção do tópico Discursivo (TD).
12
In Marcuschi (2008)
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O tópico decorre de um processo que envolve colaborativamente os
participantes do ato interacional na construção da conversação, assentada
num complexo de fatores contextuais, entre os quais as circunstâncias em
que ocorre o intercâmbio verbal, o conhecimento reconhecimento
recíproco dos interlocutores, os conhecimentos partilhados entre eles, sua
visão de mundo, o background de cada um em relação ao que falam, bem
como suas pressuposições. (JUBRAN et al. 1992,p.344)
Contudo, observaremos também, outro modelo de estruturação tópica,
proposta por Heinemann & Viehweger (1991) 13que se baseava na perspectiva
funcional da frase. Nessa perspectiva, a estrutura frasal compreende que os textos
estariam organizados à semelhança das frases. Os termos mais utilizados nesta
teoria seriam tema e rema. Segundo Koch (2003, p.124), “A informação temática é
normalmente dada, enquanto a remática constitui, em geral, informação nova”.
Mesmo constituindo uma perspectiva limitada e redutora do texto, esta visão
de tópico, pode contribuir para evidenciar que a progressão textual acontece em
suas subunidades de maneira ordenada e não caótica.
Desse modo, é possível usar vários tipos de combinações na articulação
tema-rema (progressão com tema constante, progressão linear, progressão por
subdivisão do rema, progressão com salto temático).
Tema constante
Na progressão por tema constante, a articulação tema-rema deve apresentar
informações que completem a informação inicial gradativamente para que o texto
mantenha uma progressão sequencial (linear).
De acordo com Koch (2003, p.125), a organização da progressão textual tem
a ver com o tipo de texto produzido, a modalidade (oral ou escrita) utilizada e com
os propósitos e atitudes do produtor.
13
Ibdem
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Pensando nisso, compreendemos que a progressão com tema constante não é
privilegiada na construção de conversas mediadas por computador, pois o processo
dessa organização tópica limita o assunto e exige uma ligação direta e gradual
entre os segmentos do texto.
Isso não significa, porém, que a progressão por tema constante não deva ser
usada em partes significativas das conversas, pois, conforme Koch (2003, p.125): “É
preciso ressaltar que dificilmente se encontra em um texto um único tipo de
comentário tema-rema. Eles se combinam para dar ao texto a organização
desejada”.
Progressão por subdivisão do rema
Esse tipo de organização tópica caracteriza-se por introduzir informações
novas na sequência textual. A cada rema apresentado, há um retorno para que o
assunto seja aprofundado. Isso que faz com que haja sempre coerência entre os
segmentos do texto.
Progressão por Salto Temático
A progressão com salto temático é comum a vários tipos de textos e pode ter
um importante papel nas conversas instantâneas, pois permite que o texto progrida
sem que haja quebra da sequência textual. A introdução de rema não exige uma
progressão do tema. Essa possibilidade faz com que o escritor realize construções
em que a ligação tema/rema não seja afetada. Na verdade, nesse tipo de
progressão toda a informação conhecida é usada com o objetivo de preparar o
interlocutor para a entrada do rema.
O emprego de articuladores é também garantia de continuidade temática,
na medida em que ficam explicitadas as relações entre os segmentos
textuais que interligam, quer as de tipo lógico-semântico, quer as de
caráter discursivo-argumentativo. KOCH (2003, p.128)
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A Progressão tópica
Um texto compõe-se de uma rede de informações que direta ou
indiretamente relacionam-se com o tema ou tópico discursivo. Já foram
mencionados alguns exemplos das diferentes organizações entre os segmentos
textuais e que essa relação se dá no âmbito da articulação tema-rema.
Quanto à organicidade, temos que levar em conta a natureza das
articulações entre um tópico e os outros dentro da sequência discursiva.
A
organicidade reflete uma relação hierárquica entre os tópicos textuais, pois está
dividida em dois segmentos: a continuidade e a descontinuidade. Segundo Koch
(2003, p.130), a continuidade pode se ligar ao tópico de duas formas - no nível
sequencial ou hierárquico, como já dissemos anteriormente - mas para que haja a
continuidade tópica, é preciso que não ocorram rupturas definitivas ou muito
prolongadas do tópico em andamento. Então, se o produtor do texto decidir
realizar digressões ou interrupções, faz-se necessário o uso de algum tipo de
justificativa para que o sentido do texto não seja comprometido.
Passaremos agora a explorar os aspectos mais abrangentes da progressão
tópica que se caracteriza pela centração e organicidade, conceitos já explicitados
anteriormente. A partir do corpus escolhido, classificaremos essas propriedades
definidoras do tópico.
Falas simultâneas e sobreposições
Após descrevermos e analisarmos as semelhanças entre o bate-papo virtual e
a conversação face a face, passaremos à análise da organização tópica da
conversação virtual.
Na interação on line ocorre um fenômeno que se assemelha ao que acontece
na interação face a face no momento em que todos falam ao mesmo tempo. Ocorre
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que, enquanto um interlocutor está comentando o tópico anterior, o outro
interlocutor já inicia outro tópico e a mensagem parece sem sentido, uma vez que
não há relação entre os enunciados. Observe:
174-
175176177178-
179-
Cris diz (21:36):
minha linda
flor do meu jardim
preciso ir agora
Sté diz (21:36):
Ok
Cris diz (21:36):
o sono tá acabando comigo
Sté diz (21:36):
amanha é dia
Cris diz (21:36):
amanha estarei aqui
dia de me ferrar*
Sté diz (21:36):
cmg tbm tava
No segmento 174 uma das interlocutoras inicia a despedida e em 176 explica
o motivo da finalização da conversa, “o sono tá acabando comigo”. Enquanto a outra
interlocutora (Sté), no segmento 177, completa o segmento anterior, afirmando
que deveriam se despedir, pois o dia seguinte seria de trabalho “amanha é dia”.
Mas, no segmento 178, percebemos que a interlocutora (Cris) ainda não havia
concluído o enunciado e na mesma mensagem completa sua ideia e responde ao
segmento 177.
Notamos neste caso, uma forte evidencia do fenômeno que ocorre na
conversação face a face: as falas simultâneas e sobreposições. No momento em
que ocorre a fala simultânea, na interação face a face, alguns mecanismos
reparadores entram em ação, como os marcadores metalinguísticos: “espera aí”,
“deixa eu falar”, “é a minha vez”. Segundo Marcuschi (1986, p. 25) um dos casos
mais comuns de sobreposições de vozes é o que se dá na passagem de um turno a
outro. No caso das conversas on line, como a tomada de turno é feita toda vez que
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o interlocutor envia a mensagem, percebemos muitas mensagens enviadas ao
mesmo tempo, o que caracterizaria a sobreposição.
Pausas, silêncios e o uso do “ooow”
Assim como a tomada de turno e as sobreposições ganham uma configuração
diferente no ambiente virtual, também as pausas ou silêncio, são organizadores
importantes, podendo configurar inúmeras possibilidades de significação. Vejamos:
Ex. 1
626364-
Cris diz (20:08):
pq meu msn é mto recente
Sté diz (20:08):
Cris diz (20:08):
daí tow mandando direto as mensagens e elas voltam
Ex. 2
77-
7879-
80-
Sté diz (20:15):
só acreditei pq t conheco
essa p*
bastou ficar online
q deu essa zica
Cris diz (20:15):
Sté diz (20:16):
alguém me mandou
e eu fui "fisgada"
Cris diz (20:17):
uauuu
amiga, tow a fim de bjar
Ex. 3
121-
122-
Sté diz (20:58):
quero comprar todos e montar um salao
posso nao ficar rycha
mass
terei uma manicure quase particular pra passar essas lindezas nas nails
Cris diz (20:58):
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123-
Sté diz (20:59):
hahaha
tou quase igual o kra da paida
Ex. 4
188189190191192193194-
Cris diz (21:37):
vai ver se eu tow na eskina
Sté diz (21:37):
Cris diz (21:37):
inté amanha
Sté diz (21:37):
Inté
Cris diz (21:37):
bjoooo e se cuida aí
Cris diz (21:38):
com esses esmaltes suspeitos
Sté diz (21:38):
ooow
Na conversação face a face, em geral, as hesitações ou pausas servem como
momentos de organização e planejamento interno do turno e dão tempo ao falante
de se preparar. Marcuschi (1986) explica que reduplicação de artigos, de
conjunções ou mesmo de sons não lexicalizados como “ah ah ah” ou “ ah eh”,
entre outros. Às vezes funcionam para o ouvinte como um pedido de socorro. Nas
conversas on line, esses sons foram substituídos por outros como no segmento 194
“ooow”, que possui um significado muito amplo, pois é usado em várias situações,
indicando às vezes concordância, outras ênfase ou ironia. Enfim, trata-se de uma
expressão carregada de significado, que nas conversas on line funciona como um
verdadeiro leque de possibilidades.
Quanto aos espaços em branco dos segmentos 63, 78 e 169, poderíamos
classificá-los como simples equívocos dos interlocutores que enviaram mensagens
vazias. No entanto, a recorrência do fenômeno e as situações em que ocorrem nos
fazem refletir sobre a intenção do interlocutor no momento em que utiliza tal
recurso. Nas conversas face a face, o silêncio pode significar que o interlocutor não
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concorda com enunciado proferido, ou pode ser tomado como um turno, entre
outras possibilidades. Na conversação virtual, a mensagem em branco equivale ao
silêncio da conversação face a face e também se configura como um turno. Em
algumas situações, a mensagem em branco pode significar um simples equívoco do
interlocutor, e algumas vezes, pode haver a intenção de ter um sentido retórico,
quando acompanhado de perguntas que não exigem resposta.
Reparações e correções
Na conversação face a face, tudo que se faz é definitivo. Assim, passamos a
corrigir a nós mesmos ou aos outros através de processos que se convencionou
chamar de mecanismos de correção. De acordo com os estudos de Sacks, Schegloff
e Jefferson14, há a seguinte tipologia geral para o mecanismo da correção:
a) Autocorreção iniciada: é a correção feita pelo próprio falante, logo após
a fala;
b) Autocorreção iniciada pelo outro: é a correção feita pelo falante, mas
estimulada pelo seu parceiro;
c) Correção pelo outro e autoiniciada: o falante inicia a correção, mas
quem o faz é o parceiro;
d) Correção pelo outro e inicada pelo outro: o falante comete a falha e
quem corrige é o parceiro.
É certo, que quando escrevemos dispomos de mais tempo e podemos voltar
atrás, corrigir os equívocos, eliminando o que é desnecessário, enfim, polindo o
texto. No entanto, nas conversas on line, mesmo utilizando o recurso da escrita,
não contamos com tempo suficiente para trabalhar o texto. Então, encontramos
muitos dos recursos utilizados nas correções de conversas face a face. Porém, o
14
Apud Marcuschi (1986, p. 29)
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recurso mais utilizado é a autocorreção iniciada, pois, geralmente, o próprio
interlocutor faz a correção. Observe:
Ex. 1
1-
Sté diz (20:02):
me enchia o sacao
saco*
mas, enfim
Ex. 2
152- Sté diz (20:53):
mass
até pelas fotos dápraver q é pikebno
pikeno*
Organização tópica
Até aqui já pudemos observar que uma conversação não é formada
aleatoriamente, mas organizada por estratégias de formação e coordenação.
Concordamos com Marcuschi (1986) quando diz que é a natureza do funcionamento
desta coordenação que é problemática, uma vez que se dá cooperativamente e não
por decisão unilateral.
Segundo Coulthard (1977 apud Marcuschi 1986, p.77), quando falamos em
organização tópica, a primeira questão a decidir é que tipo de coisas podem formar
tópicos na conversação, pois de acordo com Marcuschi, a conversação seria
marcada pelo que ele chama de princípio da parcimônia, que diz não ser
conveniente falar aquilo que se supõe sabido pelo parceiro. O autor explica
também, que uma conversação fluente é aquela em que a passagem de um tópico
a outro se dá com naturalidade, mas reconhece que é comum a passagem de um
tópico a outro ser marcada.
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Na segmentação do primeiro corpus15, encontramos 194 segmentos,
geralmente curtos. Entre os segmentos, há os que juntos formam um único tópico,
pois como a conversação on line exige velocidade, na digitação do caracteres, o
tópico é subdividido para permitir maior dinamicidade ao diálogo. Esta primeira
conversa acontece entre duas estudantes do ensino médio, cuja faixa etária está
entre 17 e 19 anos. O que as coloca dentro do grupo da Gnet (geração nascida na
Era da Internet), o que propicia grande desenvoltura das interlocutoras no
ambiente virtual. A conversa está repleta de links que completam o sentido dos
tópicos em discussão, pois em muitos momentos esses links constituem o próprio
tópico discursivo.
No que diz respeito à progressão da conversação, dois fenômenos básicos
caracterizam a distribuição de tópicos na linearidade discursiva: a
continuidade e a descontinuidade. A continuidade decorre de uma
organização sequencial dos segmentos tópicos, de forma que a abertura de
um apenas se dá após o fechamento do outro, precedente. A
descontinuidade se define, então, ou pela suspensão definitiva de um
tópico, ou pela cisão de um tópico em partes, que se apresentam de forma
não adjacente na linearidade discursiva, em decorrência da intercalação
de segmentos não atinentes ao tópico cindido. (JUBRAN et al. 1992, p.346)
Vejamos esta sequência conversacional ( corpus 1):
10-
11-
15
Sté diz (19:14):
omeu tá sem limite
ia ficar na vontade
kk
tas no meebo?
pq tas com fto
Cris diz (19:15):
tô usando a versão super ultra megar hiper atual do msn
o 7.0
acredito q até o final desse mês eu consiga baixar o msn atual...
Ver anexos-chat 1
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12131415-
viu o vídeo
vê aí
http://www.youtube.com/watch?v=cdg4Exd4wcc#
Sté diz (19:16):
qual video?
Cris diz (19:16):
tais vendo o link?
Sté diz (19:16):
Sim
Cris diz (19:17):
Assista
Podemos
facilmente
observar
a
descontinuidade
no
discursivo
das
interlocutoras, pois no segmento 10 a interlocutora (Ste) conta o episódio da perda
de seu cartão de crédito, na verdade, há uma troca de cartões por engano. Logo
em seguida, a outra interlocutora abandona o tópico anterior e passa a comentar
sobre seu novo programa de mensagens instantâneas e envia um vídeo que passa a
ser o novo tópico conversacional. Essa descontinuidade na linearidade discursiva
não atrapalha em momento algum a compreensão da conversação, mesmo porque
essa descontinuidade está presente em muitas partes da conversa. Isso significa
que a conversação é fluente, pois a passagem de um tópico a outro se dá com
naturalidade, como já explicitamos anteriormente.
O segmento 29 apresenta uma mudança de tópico marcada “aaaa/deixa eu t
contar o babado/o primo do teu primo/me add no kukut” (modo particular pelo
qual a interlocutora se refere ao Orkut. A partir deste ponto, os segmentos 30 a 43
formam subtópicos para o grande tópico “primo Douglas”. O segmento 44,
apresenta progressão por tema constante, pois a articulação tema-rema apresenta
informações que completam gradativamente a informação inicial e o texto mantém
uma progressão sequencial (linear).
No segmento 49 encontramos uma progressão por salto temático, pois como
já comentamos anteriormente, permite que o texto progrida sem que haja quebra
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da sequência textual. Deste modo, introdução de rema não exige uma progressão
do tema.
Notamos em toda conversação o princípio da pontualização e da relevância
muito marcado em todo o texto, pois percebemos em segmentos como os 128 e do
144 ao 177 temos a possibilidade de destacar o evento focal. Já o princípio da
concernência não aparece com muita freqüência, já que os enunciados nem sempre
guardam forte relação de dependência.
A segunda conversa acontece entre um estudante de mestrado e uma
estudante de doutorado. O primeiro estuda literatura e educação e a segunda
ocupa-se do estudo da teoria literária, então ambos possuem uma boa formação
acadêmica na área da linguagem. Outro fator importante é a faixa etária dos
interlocutores que estão entre 29 e 35.
O diálogo não apresenta muito uso de “internetês”, talvez por serem
professores de língua portuguesa cujo hábito de obedecer à norma culta os
constranja a não falar mais livremente na rede. Notamos que não há uma
preocupação exagerada dos falantes com o uso da norma culta, mas se
compararmos esse diálogo ao de qualquer adolescente da Gnet(Geração Nascida
com a Internet) perceberemos facilmente que ele apresentará mais desenvoltura
no uso do “internetês” (linguagem usada nas conversas on line) e maior
preocupação com a velocidade do diálogo.
Logo no início do diálogo temos muitos exemplos de dêiticos, quando R. diz:
“oi mulé!!!!/tava comendo e voltei/tás aí ainda?” Neste momento o interlocutor
usa a expressão ‘aí’ que mostra seu interesse em saber se sua interlocutora está
presente do outro lado da tela para que continuem o diálogo interrompido, uma
vez que ele pergunta se ela está aí ainda. Nas conversas estabelecidas por
mensagens instantâneas é frequente o uso de dêiticos de lugar para situar o
interlocutor, recurso menos usado na interação face a face, uma vez que o
interlocutor não tem dificuldade de perceber a presença do outro.
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Considerações Finais
As análises realizadas neste trabalho buscaram esclarecer a configuração
interna de uma conversa mediada por computador, para que a partir das
observações dessas construções seja feita uma análise de como se dá o processo de
construção da estrutura textual.
De acordo com Koch (2003, p.132) “pode-se afirmar que [...] há uma relação
de
inclusão:
a
progressão
textual
é
garantida,
em
parte,
pela
progressão/continuidade tópica; esta engloba a progressão /continuidade temática
que, por sua vez, repousa fortemente na progressão/continuidade referencial”.
Essa articulação entre os vários níveis dos segmentos textuais nos coloca diante das
inúmeras possibilidades para garantir a continuidade e coerência textual, pois cada
segmento textual é de fundamental importância para a compreensão do conjunto
temático, ou melhor, para a construção de estratégias específicas para a
elaboração de enunciados que se articulam coerentemente.
Por fim, é importante ratificar que adotamos a noção de tópico discursivo
para nortear esse estudo. Entre os resultados identificamos traços de semelhança
entre a conversação face a face e o bate-papo on line. Com isto, temos critérios
para afirmar que assim como a conversa espontânea a conversa mediada por
computador não é um simples amontoado de enunciados, pois há uma estruturação
organizada, existem “padrões” próprios que estudos mais aprofundados poderão
identificar com maior precisão.
Referências
ARAÚJO, J. C. R A. de. Chat na Web: um estudo de Gênero Hipertextual. Dissertação
(Mestrado em Linguística). Universidade Federal do Ceará (UFC), 2003.
DIONÍSIO, A.P. Análise da Conversação. In: MUSSALIN, F. BENTES. A. C. (orgs). Introdução à
Linguística: Domínios e Fronteiras. 2ª Ed. São Paulo: Cor tez, 2001.
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JUBRAN. C.C. A. S. ET AL. Organização Tópica da Conversação. In: ILARE. R. (org.)
Gramática do Português Falado: Níveis de análise Linguística. Campinas, Editora da
UNICAP, V. II, 1992.
KOCH, I. G. V. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo: Cortez, 2002
MARCUSCHI, L. A. A Produção Textual, Análise de Gênero e Compreensão, São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
______. Análise da Conversação. São Paulo, Ática, 1986.
1
Monia, SOUZA . Profa. ESPECIALISTA
Secretaria de Educação (SEDUC -PE)
[email protected]
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