A ORGANIZAÇÃO TÓPICA EM CONVERSAS INSTANTÂNEAS Monia Cavalcanti de Souza1 (SEDUC-PE) Resumo: No sentido de ampliar as discussões acerca dos gêneros digitais e especialmente aprofundar estudos já iniciados sobre o gênero chat, o presente trabalho pretende descrever o gênero chat, mostrar a complexidade na estruturação tópica que o gênero apresenta e discutir as estratégias de construção textual em conversas instantâneas, analisando o papel da organização tópica para a continuidade temática do texto. Palavras-chave: Organização tópica, chat, gêneros digitais. Abstract: In order to broadening the discussions about digital genres, specially that ones related to chat, this paper intends to describe chat as a genre, to show the complexity involved in its topical organization and to discuss the strategies of textual construction, analysing the role of the topical organization in the thematic continuity of a text. Keywords: topical organization, chat, digital genres. Introdução Uma abordagem da organização textual-interativa em ambiente virtual requer um minucioso trabalho na análise dos dados, dada a complexidade de fatores envolvidos na comunicação humana em qualquer situação. Porém, no ambiente virtual essa tarefa torna-se ainda mais árdua, uma vez que a comunicação apresenta elementos tanto na modalidade oral quanto na escrita da língua e este fenômeno se configura de maneira peculiar no contínuo de gêneros na comunicação digital mediada por computador1, pois encontramos a quase simultaneidade entre a elaboração e a manifestação do discurso. Ainda que este seja posto de forma escrita, não podemos questionar a grande velocidade dos diálogos nos ambientes virtuais que chegam a ser bem próximos aos diálogos presenciais. Segundo Marcuschi (2008), “os bate-papos virtuais ocupam a base que 1 Marcuschi,L. A. PRODUÇÃO TEXTUAL, ANÁLISE DE GÊNERO E COMPREENSÃO, São Paulo: Parábola Editorial, 2008. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -1- em certo sentido corresponde à situação da comunicação face a face, com diversas possibilidades apontadas em relação a serem comunicações grupais ou interindividuais.” O objetivo deste trabalho é discutir as estratégias de construção textual em conversas instantâneas, analisando o papel da organização tópica para a continuidade temática do texto. O texto é aqui entendido como “evento comunicativo para o qual convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”, segundo Marcuschi (2008). Todo evento comunicativo e social tem um produtor que mobiliza variados meios para transmitir a seu interlocutor suas ideias, seu modo de percepção do mundo, sua ideologia. Para tanto, ele se vale de mecanismos que corroboram para trazer ao texto o efeito desejado. Um desses elementos é a organização tópica. Por sua natureza interativa, a conversa instantânea nos parece um Corpus interessante e atual para a observação de vários tipos de organização tópica. Para tal investigação, observaremos duas conversas de MSN. As análises realizadas neste trabalho buscarão esclarecer a configuração interna das conversas instantâneas, observando como os interlocutores tentam estabelecer um tópico discursivo em ambiente virtual. Embora, em muitos momentos, essa organização não pareça evidente, constataremos que ela de fato existe, mas funciona com características diferentes da organização de uma conversação face a face. Observaremos ainda a importância do uso de recursos linguísticos, extra linguísticos e hipertextuais numa conversa mediada por computador. Com esse objetivo, o estudo da organização tópica das conversas instantâneas aqui desenvolvido pretende: Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -2- 1. Identificar as unidades tópicas (a noção de tópico aqui adotada, tal como sugerido por Brow & Yule, 1983 apud Marcuschi, 2008) seria aquilo sobre o que se está falando no discurso; 2. Observar aspectos relevantes na constituição do discurso na interação virtual como, por exemplo, como se dá a troca de turnos, como ocorrem as trocas de tópicos, e especialmente observar como se estabelece a compreensão quando ocorrem falhas na continuidade tópica; 3. Finalmente, tentaremos esboçar os traços característicos de cada organização tópica para que possamos verificar a formação de vários tipos de combinações da estrutura tema-rema, para observar como se dá a organização tópica nesse gênero digital. Justificativa Alguns autores como Batista (1998), Xavier & Santos (2000, 2000a), Komesu (2001), Abreu (2002), Marcuschi (2002, 2002a) e Araújo (2002) 2 tem se ocupado em produzir estudos acerca dos gêneros digitais. Contudo, a literatura linguística abordando gêneros digitais ainda é escassa no Brasil, talvez pelo caráter emergente dos gêneros e pela velocidade do surgimento de novos gêneros na esfera digital. No sentido de ampliar as discussões acerca dos gêneros digitais e especialmente aprofundar estudos já iniciados sobre o gênero chat. O presente trabalho pretende descrever o gênero chat e mostrar a complexidade na estruturação tópica que o gênero apresenta. A progressão textual, como diz Koch (2006), está intimamente ligada a dois grandes movimentos, um de retroação e outro de prospecção. Esses movimentos são comparados por esta autora à ação de tricotar, ou seja, para a composição da tessitura textual, necessitamos realizar repetidos movimentos de avanço e recuo para que falante e ouvinte estabeleçam uma conversação estruturada e coerente. 2 In Araújo (2003, p. 14) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -3- Mas discutir a organização tópica em ambiente virtual nos faz refletir sobre alguns aspectos relevantes na conversa, vejamos: “... a relação de interdependência entre os turnos pode ser movida pela preocupação dos falantes em se entrosarem, procurando manter a conversação em torno de um conjunto de referentes comuns, que se constituem como foco da interação verbal.” (JUBRAN et al. 2002) Deste modo, a proposta de pesquisa aqui apresentada é importante na medida em que discute as mudanças na organização tópica ocorridas em ambiente virtual, pois temos outro modo de interação e com isso novas formas de estruturação tópica. Uma vez que o ambiente virtual nos garante outras possibilidades como a própria linguagem diferenciada, o internetês, sem falar nos emotions, links, músicas e tudo mais que pode permear uma conversa instantânea na WEB. O presente trabalho visa ainda contribuir para a Linguística confirmando o caráter interativo da linguagem, enfocando a importância do estudo da organização tópica do discurso de natureza escrito-dialogada. Tendo em vista que o texto produzido nesse ambiente apresenta características específicas a serem observadas. Referencial teórico Análise da conversação Estudiosos como Sacks, Schegloff e Schiffrin3 que iniciaram os estudos da conversação e se dedicaram a observar as características constitutivas desse gênero, nos fornecem elementos essenciais para pensar sobre essa nova estrutura da conversa, o bate-papo on line. 3 In Marcuschi (2003) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -4- Marcuschi (1986, p. 15) elenca cinco características básicas que constituem a organização elementar da conversação, são elas: (a) Interação entre pelo menos dois falantes, de modo que não possa caracterizar outros gêneros, como o monólogo, por exemplo; (b) Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; (c) Presença de uma sequencia de ações coordenadas; (d) Execução numa identidade temporal significa que a interação, mesmo em espaços diferentes, precisa ocorrer durante o mesmo tempo; (e) Envolvimento numa “interação centrada”, ou seja, para caracterizar uma conversação é fundamental que exista algo sobre o que conversar. Diante dessas características básicas da conversação, partiremos dos estudos de Sacks, Schegloff e Jefferson41974 que estruturaram um modelo elementar para conversação, baseados no sistema da tomada de turno. Esta ideia consiste numa regra básica de toda a conversação que seria “cada um fala em sua vez” e sugeriram algumas técnicas para seu funcionamento. Esse sistema seria válido para interações espontâneas, informais e sem hierarquia de falantes. Assim, as conversações seguiriam algumas condições, são elas: (a) A troca de falantes recorre ou pelo menos ocorre; (b) Em qualquer turno, fala um de cada vez; (c) Ocorrências com mais de um falante por vez são comuns; longas pausas e sobreposições extensas são a minoria; (d) Transições de um turno a outro sem intervalo e sem sobreposição são comuns; longas pausas e sobreposições extensas são a minoria; (e) A ordem dos turnos não é fixa, mas variável; 4 Ibdem Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -5- (f) O tamanho do turno não é fixo, mas variável; (g) A extensão da conversa não é fixa nem previamente especificada; (h) O que cada falante dirá não é fixo nem previamente especificado; (i) A distribuição dos turnos não é fixa; (j) O número de participantes é variável; (k) A fala pode ser contínua ou descontínua; (l) São empregadas diversas unidades construidoras de turno: lexema, sintagma, sentença etc.; (m) Certos mecanismos de reparação resolvem falhas ou violações nas tomadas.5 Estas condições fazem da tomada de turno um elemento essencial para toda conversação, no entanto, não tomaremos aqui o turno como unidade central para nossa investigação. Enquanto na conversação face a face a tomada de turno é mais complexa, pois, determinar o momento propício para que ocorra a troca de turno, nem sempre é fácil. Na interação virtual, as trocas de turno geralmente ocorrem quando recebemos a mensagem. Isso não significa que essas trocas ocorram sem problemas no meio virtual. O que acontece é que a tomada de turno obedece a padrões um pouco mais simples que os da interação face a face. Uma das razões que justifica tal afirmação seria a de que o próprio ambiente virtual favorece a regra geral e prática da conversação que é: “fala um de cada vez”6. Em geral, na conversação face a face um falante espera o outro concluir, mas em alguns momentos falam todos ao mesmo tempo, na conversação mediada por computador, isso não ocorre 7. Marcuschi sugere uma distribuição de turnos num esquema linear e sequenciado, que poderia ser esquematizado da seguinte forma: 5 In Marcuschi (1986, p.18) Marcuschi (1986, p.19) 7 Ver capítulo II 6 Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -6- A: fala e pára; B: toma a palavra, fala e pára; A: retoma a palavra, fala e pára; B: volta a falar e pára; Há ainda as pausas e hesitações que em conversas face a face tomam a forma de lacunas ou interrupções e não são poucas as vezes que essa regra é violada, como diz Marcuschi (1986) “Seja como for, a regra básica é válida para a maioria das línguas, culturas e situações.” De fato, pois notamos que essa “regra” funciona muito bem em conversas virtuais. Observando as características do sistema de turnos proposta por Sacks, Schegloff e Jefferson, Marcuschi (1996) conclui que todas elas, direta ou indiretamente, têm a ver com as estratégias de organização de turnos. Assim, o turno seria uma das unidades centrais da organização conversacional. Deste modo, a tomada de turno, por caracterizar a passagem de um turno a outro adquire um papel fundamental na conversação. Segundo Sacks, Schegloff e Jefferson8 a tomada de turno não se dá caoticamente, mas obedece a regras, que segundo os teóricos citados apresentam a seguinte estrutura: Técnica I – O falante corrente escolhe o próximo falante, e este toma a palavra iniciando o próximo turno. Técnica II – O falante corrente para e o próximo falante obtém o turno pela auto-escolha. Marcuschi (1986) ressalta que o mecanismo que governa a tomada de turno é um sistema localmente comandado, tendo um caráter essencialmente contextual. 8 In Marcuschi (1986). Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -7- Por isso, o modelo aqui apresentado, baseado na cultura norte-americana, não pode servir de orientação para outra cultura. O modelo sugerido parece óbvio, já que a estruturação da conversação em turnos ocorre com naturalidade. No entanto, analisar a operacionalização desse sistema é um pouco mais complexo. Uma vez que, tanto a extensão do turno quanto a progressão temática são regida por outras regras que não são necessariamente a tomada de turno. Quando temos, por exemplo, mais de três participantes, ocorre um fenômeno que Sacks, Schegloff e Jefferson 9 chamam de cisma gerando conversações paralelas. Esta possibilidade torna-se sistemática quando há mais de quatro participantes. Contudo, ao analisarmos a conversação virtual, encontramos também uma série de fenômenos muito semelhantes aos que ocorrem na interação face a face. A cisma, por exemplo, acontece com frequência, uma vez que o ambiente das conversas on line propiciam esse fenômeno. Quanto às semelhanças com a conversação face a face, é certo que, no ambiente virtual dispomos de mais tempo, uma vez que podemos corrigir um equívoco ou outro antes de enviar a mensagem. Isso não significa que o interlocutor receberá a mensagem sem falhas, pois o tempo é um pouco maior que na interação face a face, mas muito menor que dos outros meios de comunicação escrita, já que o interlocutor espera resposta imediata. Tendo em vista esta breve caracterização da conversação, passemos as teorias que analisam de maneira mais detalhada alguns fenômenos da Organização sequencial da conversação. Caracterização dos chats Concordamos com Araújo (2003) quando diz que o chat é um gênero que se formou da transmutação do diálogo cotidiano (face a face) para uma esfera mais 9 Ibdem Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -8- complexa, que é a Web. Alguns autores, como Marcuschi (2008), resistem a essa classificação e caracterizam o chat como limítrofe da carta e uma variação do telefonema. Embora, não possamos negar a existência de semelhança entre os gêneros, sabemos que chat e o telefonema acontecem em condições de produção e suportes físicos diferentes. Além disso, como afirma Araújo (2003), o chat usa características da língua oral e escrita imbricadamente, enquanto o telefonema só dispõe da oralidade. Alguns autores como Fonseca e Marcuschi citados por Araújo (2003, p. 72), formulam terminologias para classificação chats. Fonseca (2002) divide os chats em três grupos: as videoconferências, os voice chats e os chats de texto. Nos chats chamados de videoconferência, os participantes têm acesso ao som da voz e à imagem uns dos outros. Os voice chats também oferecem acesso à voz, mas não a imagem. Quanto aos chats de texto, a autora propõe três subclassificações: os chats de texto livre, os chats de texto moderado e os chats de texto especial. No primeiro o tema é livre e não apresenta moderador (alguém que faz a triagem das mensagens). No segundo existe a presença do moderador e o tópico são predefinidos. Já no terceiro, além de contarem com a presença de um moderador e tópico predefinidos, ainda possui data e horário preestabelecidos. Marcuschi (2002a) sugere cinco tipos distintos de chats: bate-papo virtual aberto, bate-papo virtual reservado, bate-papo virtual ICQ10 (agendado), batepapo virtual em salas privadas e bate-papo virtual educacional. Adotaremos esta classificação, mas entenderemos o bate-papo virtual reservado como MSN. Como se organizam as sequências nas conversações on-line A conversação espontânea apresenta normalmente turnos alternados, que formam sequências em movimentos coordenados e cooperativos e algumas dessas 10 In Araújo (2003, p. 57) encontramos maiores informações sobre esses chats. A sigla ICQ faz alusão à pronúncia da expressão inglesa I seek you ( aiciquiu), que seria equivalente a “eu procuro você”. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -9- sequências apresentam padrões de estruturação aos quais Schegloff 11 chamou de pares adjacentes. Esses pares adjacentes ou conversacionais é uma sequência de dois turnos e tem por fim a organização local da conversação. Segundo Marcuschi, esses pares apresentam uma coocorrência obrigatória, que dificilmente pode ser adiável, como no caso dos cumprimentos. Observe: A: oi Maria B: oi Flávia No entanto, quando observamos este fenômeno nas interações virtuais, encontramos indícios de uma ruptura, ou melhor, encontramos um outro modo de processamento desse tipo de organização. É o caso de K e R abaixo: K .- http://blogkeylla.blogspot.com/ diz: [c=6][b]R.[/b][/c] diz: oi mulher K. - http://blogkeylla.blogspot.com/ diz: essa tu foto tá linda! se der fala com mais gente da nossa época [c=6][b]R.[/b][/c] diz: vou ver se mando uns recados mas vamo falar com a galera de lá, pra ver como será a recepção Como pudemos notar, o espaço em branco serviu como cumprimento, pois a conversa começa exatamente nesse momento e assim que o interlocutor percebe a mensagem vazia, responde como se houvesse a primeira parte do cumprimento. 11 In Marcuschi (1986, p. 35) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 10 - Elementos de progressão textual Os processos de construção textual envolvem uma complexidade de eventos que nos colocam diante da difícil tarefa de eleger um ou outro aspecto a ser discutido. Contudo não podemos perder de vista dois grandes processos de ordenação textual: retroação e prospecção ou os movimentos de avanço e recuo, de acordo com Koch (2003, p.121). A progressão textual tem a ver com esses procedimentos que possibilitam a sequenciação entre os elementos do texto. Segundo Jubram et al. (1996, p.361-365), a progressão tópica seria uma porção do texto caracterizada por dois elementos básicos: centração e organicidade. A centração seria a unidade definidora do tópico e dentro de seu escopo estaria à concernência, a relevância e a pontualização. A primeira ligada à relação mútua de dependência semântica entre os enunciados; a segunda seria o elemento de maior importância dentro do conjunto de referentes determinados no segmento textual e a pontualização é a possibilidade de destacar desse conjunto de referentes o ponto em que o evento focal aparece com maior evidência, através das marcas linguístico-discursivas. Considerando a opinião dos autores seria possível desenvolver vários temas e com isso vários tópicos num único texto e dentro desse evento observar a organicidade expressa nas relações de assuntos em quadros tópicos. Sendo assim, podemos observar como acontece a distribuição desses quadros em conversas instantâneas. Segundo Jubram et al (1996,p.363-366), a organicidade é observada através da articulação entre um tópico e a sequência discursiva. Seria, então, a organicidade baseada em dois níveis: no plano hierárquico (vertical) e no sequencial (linear). No nível linear, teríamos dois segmentos: a continuidade e a descontinuidade, de modo que no primeiro a abertura de um tópico só seria iniciada após o fechamento do tópico anterior e o segundo seria caracterizado pela quebra dessa linearidade, pois o tópico ainda não finalizado apresenta-se em Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 11 - partes no decorrer do texto. Já no plano hierárquico, a coerência se constrói pela sobreposição de tópicos, ou melhor, pela subdivisão de tópicos, supertópicos e subtópicos, de modo que o sentido se dá no nível vertical, já que no quadro tópico a coerência se constrói à medida que subimos na hierarquia tópica. “Dessa forma, cada nível hierárquico é recoberto por um superior e constituído por um inferior, sendo que os limites dos diversos níveis são dados pelo grau de abrangência do assunto em foco”, Koch (2003, p.129). Diante disso, podemos observar outros modelos de organização tópica. A Progressão temática As relações entre os segmentos textuais como, já dissemos, se dá basicamente em dois níveis (hierárquico e sequencial), mas o estabelecimento da articulação no interior do enunciado tem como objeto central a ligação tema-rema que influi diretamente na organização tópica do texto. Segundo Marcuschi (2008), o tópico discursivo não seria um dado, uma informação apenas, mas uma construção realizada interativa e negociadamente. Assim, em qualquer interação verbal espontânea entre indivíduos em qualquer situação da vida diária, apesar de alguém sempre propor um tópico, este alguém nunca terá a certeza de conduzir o tópico até o final por conta própria, pois sempre haverá que contar com a participação do outro. Marcuschi diz ainda, que quando se analisa o tópico discursivo, não se trata de uma simples análise de conteúdo, mas dos procedimentos para encadear os conteúdos Nesta perspectiva, adotaremos a noção de tópico discursivo como tema discursivo, como os “abautness” de que falam Brown & Yule (1983) 12. Eles formam um conjunto demarcado sobre o que se está falando no discurso. Assim, o processo de centração, constitui, ao lado de outros dois processos, a organicidade e delimitabilidade a base da noção do tópico Discursivo (TD). 12 In Marcuschi (2008) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 12 - O tópico decorre de um processo que envolve colaborativamente os participantes do ato interacional na construção da conversação, assentada num complexo de fatores contextuais, entre os quais as circunstâncias em que ocorre o intercâmbio verbal, o conhecimento reconhecimento recíproco dos interlocutores, os conhecimentos partilhados entre eles, sua visão de mundo, o background de cada um em relação ao que falam, bem como suas pressuposições. (JUBRAN et al. 1992,p.344) Contudo, observaremos também, outro modelo de estruturação tópica, proposta por Heinemann & Viehweger (1991) 13que se baseava na perspectiva funcional da frase. Nessa perspectiva, a estrutura frasal compreende que os textos estariam organizados à semelhança das frases. Os termos mais utilizados nesta teoria seriam tema e rema. Segundo Koch (2003, p.124), “A informação temática é normalmente dada, enquanto a remática constitui, em geral, informação nova”. Mesmo constituindo uma perspectiva limitada e redutora do texto, esta visão de tópico, pode contribuir para evidenciar que a progressão textual acontece em suas subunidades de maneira ordenada e não caótica. Desse modo, é possível usar vários tipos de combinações na articulação tema-rema (progressão com tema constante, progressão linear, progressão por subdivisão do rema, progressão com salto temático). Tema constante Na progressão por tema constante, a articulação tema-rema deve apresentar informações que completem a informação inicial gradativamente para que o texto mantenha uma progressão sequencial (linear). De acordo com Koch (2003, p.125), a organização da progressão textual tem a ver com o tipo de texto produzido, a modalidade (oral ou escrita) utilizada e com os propósitos e atitudes do produtor. 13 Ibdem Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 13 - Pensando nisso, compreendemos que a progressão com tema constante não é privilegiada na construção de conversas mediadas por computador, pois o processo dessa organização tópica limita o assunto e exige uma ligação direta e gradual entre os segmentos do texto. Isso não significa, porém, que a progressão por tema constante não deva ser usada em partes significativas das conversas, pois, conforme Koch (2003, p.125): “É preciso ressaltar que dificilmente se encontra em um texto um único tipo de comentário tema-rema. Eles se combinam para dar ao texto a organização desejada”. Progressão por subdivisão do rema Esse tipo de organização tópica caracteriza-se por introduzir informações novas na sequência textual. A cada rema apresentado, há um retorno para que o assunto seja aprofundado. Isso que faz com que haja sempre coerência entre os segmentos do texto. Progressão por Salto Temático A progressão com salto temático é comum a vários tipos de textos e pode ter um importante papel nas conversas instantâneas, pois permite que o texto progrida sem que haja quebra da sequência textual. A introdução de rema não exige uma progressão do tema. Essa possibilidade faz com que o escritor realize construções em que a ligação tema/rema não seja afetada. Na verdade, nesse tipo de progressão toda a informação conhecida é usada com o objetivo de preparar o interlocutor para a entrada do rema. O emprego de articuladores é também garantia de continuidade temática, na medida em que ficam explicitadas as relações entre os segmentos textuais que interligam, quer as de tipo lógico-semântico, quer as de caráter discursivo-argumentativo. KOCH (2003, p.128) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 14 - A Progressão tópica Um texto compõe-se de uma rede de informações que direta ou indiretamente relacionam-se com o tema ou tópico discursivo. Já foram mencionados alguns exemplos das diferentes organizações entre os segmentos textuais e que essa relação se dá no âmbito da articulação tema-rema. Quanto à organicidade, temos que levar em conta a natureza das articulações entre um tópico e os outros dentro da sequência discursiva. A organicidade reflete uma relação hierárquica entre os tópicos textuais, pois está dividida em dois segmentos: a continuidade e a descontinuidade. Segundo Koch (2003, p.130), a continuidade pode se ligar ao tópico de duas formas - no nível sequencial ou hierárquico, como já dissemos anteriormente - mas para que haja a continuidade tópica, é preciso que não ocorram rupturas definitivas ou muito prolongadas do tópico em andamento. Então, se o produtor do texto decidir realizar digressões ou interrupções, faz-se necessário o uso de algum tipo de justificativa para que o sentido do texto não seja comprometido. Passaremos agora a explorar os aspectos mais abrangentes da progressão tópica que se caracteriza pela centração e organicidade, conceitos já explicitados anteriormente. A partir do corpus escolhido, classificaremos essas propriedades definidoras do tópico. Falas simultâneas e sobreposições Após descrevermos e analisarmos as semelhanças entre o bate-papo virtual e a conversação face a face, passaremos à análise da organização tópica da conversação virtual. Na interação on line ocorre um fenômeno que se assemelha ao que acontece na interação face a face no momento em que todos falam ao mesmo tempo. Ocorre Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 15 - que, enquanto um interlocutor está comentando o tópico anterior, o outro interlocutor já inicia outro tópico e a mensagem parece sem sentido, uma vez que não há relação entre os enunciados. Observe: 174- 175176177178- 179- Cris diz (21:36): minha linda flor do meu jardim preciso ir agora Sté diz (21:36): Ok Cris diz (21:36): o sono tá acabando comigo Sté diz (21:36): amanha é dia Cris diz (21:36): amanha estarei aqui dia de me ferrar* Sté diz (21:36): cmg tbm tava No segmento 174 uma das interlocutoras inicia a despedida e em 176 explica o motivo da finalização da conversa, “o sono tá acabando comigo”. Enquanto a outra interlocutora (Sté), no segmento 177, completa o segmento anterior, afirmando que deveriam se despedir, pois o dia seguinte seria de trabalho “amanha é dia”. Mas, no segmento 178, percebemos que a interlocutora (Cris) ainda não havia concluído o enunciado e na mesma mensagem completa sua ideia e responde ao segmento 177. Notamos neste caso, uma forte evidencia do fenômeno que ocorre na conversação face a face: as falas simultâneas e sobreposições. No momento em que ocorre a fala simultânea, na interação face a face, alguns mecanismos reparadores entram em ação, como os marcadores metalinguísticos: “espera aí”, “deixa eu falar”, “é a minha vez”. Segundo Marcuschi (1986, p. 25) um dos casos mais comuns de sobreposições de vozes é o que se dá na passagem de um turno a outro. No caso das conversas on line, como a tomada de turno é feita toda vez que Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 16 - o interlocutor envia a mensagem, percebemos muitas mensagens enviadas ao mesmo tempo, o que caracterizaria a sobreposição. Pausas, silêncios e o uso do “ooow” Assim como a tomada de turno e as sobreposições ganham uma configuração diferente no ambiente virtual, também as pausas ou silêncio, são organizadores importantes, podendo configurar inúmeras possibilidades de significação. Vejamos: Ex. 1 626364- Cris diz (20:08): pq meu msn é mto recente Sté diz (20:08): Cris diz (20:08): daí tow mandando direto as mensagens e elas voltam Ex. 2 77- 7879- 80- Sté diz (20:15): só acreditei pq t conheco essa p* bastou ficar online q deu essa zica Cris diz (20:15): Sté diz (20:16): alguém me mandou e eu fui "fisgada" Cris diz (20:17): uauuu amiga, tow a fim de bjar Ex. 3 121- 122- Sté diz (20:58): quero comprar todos e montar um salao posso nao ficar rycha mass terei uma manicure quase particular pra passar essas lindezas nas nails Cris diz (20:58): Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 17 - 123- Sté diz (20:59): hahaha tou quase igual o kra da paida Ex. 4 188189190191192193194- Cris diz (21:37): vai ver se eu tow na eskina Sté diz (21:37): Cris diz (21:37): inté amanha Sté diz (21:37): Inté Cris diz (21:37): bjoooo e se cuida aí Cris diz (21:38): com esses esmaltes suspeitos Sté diz (21:38): ooow Na conversação face a face, em geral, as hesitações ou pausas servem como momentos de organização e planejamento interno do turno e dão tempo ao falante de se preparar. Marcuschi (1986) explica que reduplicação de artigos, de conjunções ou mesmo de sons não lexicalizados como “ah ah ah” ou “ ah eh”, entre outros. Às vezes funcionam para o ouvinte como um pedido de socorro. Nas conversas on line, esses sons foram substituídos por outros como no segmento 194 “ooow”, que possui um significado muito amplo, pois é usado em várias situações, indicando às vezes concordância, outras ênfase ou ironia. Enfim, trata-se de uma expressão carregada de significado, que nas conversas on line funciona como um verdadeiro leque de possibilidades. Quanto aos espaços em branco dos segmentos 63, 78 e 169, poderíamos classificá-los como simples equívocos dos interlocutores que enviaram mensagens vazias. No entanto, a recorrência do fenômeno e as situações em que ocorrem nos fazem refletir sobre a intenção do interlocutor no momento em que utiliza tal recurso. Nas conversas face a face, o silêncio pode significar que o interlocutor não Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 18 - concorda com enunciado proferido, ou pode ser tomado como um turno, entre outras possibilidades. Na conversação virtual, a mensagem em branco equivale ao silêncio da conversação face a face e também se configura como um turno. Em algumas situações, a mensagem em branco pode significar um simples equívoco do interlocutor, e algumas vezes, pode haver a intenção de ter um sentido retórico, quando acompanhado de perguntas que não exigem resposta. Reparações e correções Na conversação face a face, tudo que se faz é definitivo. Assim, passamos a corrigir a nós mesmos ou aos outros através de processos que se convencionou chamar de mecanismos de correção. De acordo com os estudos de Sacks, Schegloff e Jefferson14, há a seguinte tipologia geral para o mecanismo da correção: a) Autocorreção iniciada: é a correção feita pelo próprio falante, logo após a fala; b) Autocorreção iniciada pelo outro: é a correção feita pelo falante, mas estimulada pelo seu parceiro; c) Correção pelo outro e autoiniciada: o falante inicia a correção, mas quem o faz é o parceiro; d) Correção pelo outro e inicada pelo outro: o falante comete a falha e quem corrige é o parceiro. É certo, que quando escrevemos dispomos de mais tempo e podemos voltar atrás, corrigir os equívocos, eliminando o que é desnecessário, enfim, polindo o texto. No entanto, nas conversas on line, mesmo utilizando o recurso da escrita, não contamos com tempo suficiente para trabalhar o texto. Então, encontramos muitos dos recursos utilizados nas correções de conversas face a face. Porém, o 14 Apud Marcuschi (1986, p. 29) Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 19 - recurso mais utilizado é a autocorreção iniciada, pois, geralmente, o próprio interlocutor faz a correção. Observe: Ex. 1 1- Sté diz (20:02): me enchia o sacao saco* mas, enfim Ex. 2 152- Sté diz (20:53): mass até pelas fotos dápraver q é pikebno pikeno* Organização tópica Até aqui já pudemos observar que uma conversação não é formada aleatoriamente, mas organizada por estratégias de formação e coordenação. Concordamos com Marcuschi (1986) quando diz que é a natureza do funcionamento desta coordenação que é problemática, uma vez que se dá cooperativamente e não por decisão unilateral. Segundo Coulthard (1977 apud Marcuschi 1986, p.77), quando falamos em organização tópica, a primeira questão a decidir é que tipo de coisas podem formar tópicos na conversação, pois de acordo com Marcuschi, a conversação seria marcada pelo que ele chama de princípio da parcimônia, que diz não ser conveniente falar aquilo que se supõe sabido pelo parceiro. O autor explica também, que uma conversação fluente é aquela em que a passagem de um tópico a outro se dá com naturalidade, mas reconhece que é comum a passagem de um tópico a outro ser marcada. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 20 - Na segmentação do primeiro corpus15, encontramos 194 segmentos, geralmente curtos. Entre os segmentos, há os que juntos formam um único tópico, pois como a conversação on line exige velocidade, na digitação do caracteres, o tópico é subdividido para permitir maior dinamicidade ao diálogo. Esta primeira conversa acontece entre duas estudantes do ensino médio, cuja faixa etária está entre 17 e 19 anos. O que as coloca dentro do grupo da Gnet (geração nascida na Era da Internet), o que propicia grande desenvoltura das interlocutoras no ambiente virtual. A conversa está repleta de links que completam o sentido dos tópicos em discussão, pois em muitos momentos esses links constituem o próprio tópico discursivo. No que diz respeito à progressão da conversação, dois fenômenos básicos caracterizam a distribuição de tópicos na linearidade discursiva: a continuidade e a descontinuidade. A continuidade decorre de uma organização sequencial dos segmentos tópicos, de forma que a abertura de um apenas se dá após o fechamento do outro, precedente. A descontinuidade se define, então, ou pela suspensão definitiva de um tópico, ou pela cisão de um tópico em partes, que se apresentam de forma não adjacente na linearidade discursiva, em decorrência da intercalação de segmentos não atinentes ao tópico cindido. (JUBRAN et al. 1992, p.346) Vejamos esta sequência conversacional ( corpus 1): 10- 11- 15 Sté diz (19:14): omeu tá sem limite ia ficar na vontade kk tas no meebo? pq tas com fto Cris diz (19:15): tô usando a versão super ultra megar hiper atual do msn o 7.0 acredito q até o final desse mês eu consiga baixar o msn atual... Ver anexos-chat 1 Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 21 - 12131415- viu o vídeo vê aí http://www.youtube.com/watch?v=cdg4Exd4wcc# Sté diz (19:16): qual video? Cris diz (19:16): tais vendo o link? Sté diz (19:16): Sim Cris diz (19:17): Assista Podemos facilmente observar a descontinuidade no discursivo das interlocutoras, pois no segmento 10 a interlocutora (Ste) conta o episódio da perda de seu cartão de crédito, na verdade, há uma troca de cartões por engano. Logo em seguida, a outra interlocutora abandona o tópico anterior e passa a comentar sobre seu novo programa de mensagens instantâneas e envia um vídeo que passa a ser o novo tópico conversacional. Essa descontinuidade na linearidade discursiva não atrapalha em momento algum a compreensão da conversação, mesmo porque essa descontinuidade está presente em muitas partes da conversa. Isso significa que a conversação é fluente, pois a passagem de um tópico a outro se dá com naturalidade, como já explicitamos anteriormente. O segmento 29 apresenta uma mudança de tópico marcada “aaaa/deixa eu t contar o babado/o primo do teu primo/me add no kukut” (modo particular pelo qual a interlocutora se refere ao Orkut. A partir deste ponto, os segmentos 30 a 43 formam subtópicos para o grande tópico “primo Douglas”. O segmento 44, apresenta progressão por tema constante, pois a articulação tema-rema apresenta informações que completam gradativamente a informação inicial e o texto mantém uma progressão sequencial (linear). No segmento 49 encontramos uma progressão por salto temático, pois como já comentamos anteriormente, permite que o texto progrida sem que haja quebra Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 22 - da sequência textual. Deste modo, introdução de rema não exige uma progressão do tema. Notamos em toda conversação o princípio da pontualização e da relevância muito marcado em todo o texto, pois percebemos em segmentos como os 128 e do 144 ao 177 temos a possibilidade de destacar o evento focal. Já o princípio da concernência não aparece com muita freqüência, já que os enunciados nem sempre guardam forte relação de dependência. A segunda conversa acontece entre um estudante de mestrado e uma estudante de doutorado. O primeiro estuda literatura e educação e a segunda ocupa-se do estudo da teoria literária, então ambos possuem uma boa formação acadêmica na área da linguagem. Outro fator importante é a faixa etária dos interlocutores que estão entre 29 e 35. O diálogo não apresenta muito uso de “internetês”, talvez por serem professores de língua portuguesa cujo hábito de obedecer à norma culta os constranja a não falar mais livremente na rede. Notamos que não há uma preocupação exagerada dos falantes com o uso da norma culta, mas se compararmos esse diálogo ao de qualquer adolescente da Gnet(Geração Nascida com a Internet) perceberemos facilmente que ele apresentará mais desenvoltura no uso do “internetês” (linguagem usada nas conversas on line) e maior preocupação com a velocidade do diálogo. Logo no início do diálogo temos muitos exemplos de dêiticos, quando R. diz: “oi mulé!!!!/tava comendo e voltei/tás aí ainda?” Neste momento o interlocutor usa a expressão ‘aí’ que mostra seu interesse em saber se sua interlocutora está presente do outro lado da tela para que continuem o diálogo interrompido, uma vez que ele pergunta se ela está aí ainda. Nas conversas estabelecidas por mensagens instantâneas é frequente o uso de dêiticos de lugar para situar o interlocutor, recurso menos usado na interação face a face, uma vez que o interlocutor não tem dificuldade de perceber a presença do outro. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 23 - Considerações Finais As análises realizadas neste trabalho buscaram esclarecer a configuração interna de uma conversa mediada por computador, para que a partir das observações dessas construções seja feita uma análise de como se dá o processo de construção da estrutura textual. De acordo com Koch (2003, p.132) “pode-se afirmar que [...] há uma relação de inclusão: a progressão textual é garantida, em parte, pela progressão/continuidade tópica; esta engloba a progressão /continuidade temática que, por sua vez, repousa fortemente na progressão/continuidade referencial”. Essa articulação entre os vários níveis dos segmentos textuais nos coloca diante das inúmeras possibilidades para garantir a continuidade e coerência textual, pois cada segmento textual é de fundamental importância para a compreensão do conjunto temático, ou melhor, para a construção de estratégias específicas para a elaboração de enunciados que se articulam coerentemente. Por fim, é importante ratificar que adotamos a noção de tópico discursivo para nortear esse estudo. Entre os resultados identificamos traços de semelhança entre a conversação face a face e o bate-papo on line. Com isto, temos critérios para afirmar que assim como a conversa espontânea a conversa mediada por computador não é um simples amontoado de enunciados, pois há uma estruturação organizada, existem “padrões” próprios que estudos mais aprofundados poderão identificar com maior precisão. Referências ARAÚJO, J. C. R A. de. Chat na Web: um estudo de Gênero Hipertextual. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal do Ceará (UFC), 2003. DIONÍSIO, A.P. Análise da Conversação. In: MUSSALIN, F. BENTES. A. C. (orgs). Introdução à Linguística: Domínios e Fronteiras. 2ª Ed. São Paulo: Cor tez, 2001. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 24 - JUBRAN. C.C. A. S. ET AL. Organização Tópica da Conversação. In: ILARE. R. (org.) Gramática do Português Falado: Níveis de análise Linguística. Campinas, Editora da UNICAP, V. II, 1992. KOCH, I. G. V. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo: Cortez, 2002 MARCUSCHI, L. A. A Produção Textual, Análise de Gênero e Compreensão, São Paulo: Parábola Editorial, 2008. ______. Análise da Conversação. São Paulo, Ática, 1986. 1 Monia, SOUZA . Profa. ESPECIALISTA Secretaria de Educação (SEDUC -PE) [email protected] Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 25 -