Colégio Cândido Portinari Professora Anna Frascolla 2009 Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora. O beijo Gustav Klimt Manuel Bandeira A vida de uma língua deve-se, inclusive, à capacidade que seus falantes têm de criar novas palavras, de ampliar seu vocabulário, ou de emprestar aos vocábulos novos sentidos. Dá-se o nome de neologismo à essa prática criativa. "(...) Já outro, contudo, respeitável, é o caso - enfim - de 'hipotrélico', motivo e base desta fábrica diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem de bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: -E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto: -Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: -Como? ... Ora ... Pois se eu a estou a dizer? -É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: -O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo". (Guimarães Rosa, in Tutaméia Terceiras estórias) Segundo o autor, "hipotrélico" significa "indivíduo pedante", "falta de respeito para com a opinião alheia." Neologismo léxico Aquisição de uma nova palavra no vocabulário da língua. É o que ocorre com muitas palavras ligadas à informática: Mouse, site (importadas do Inglês), infovia. Neologismo Semântico: Empréstimo de um novo sentido a uma palavra já existente: azular = fugir; pistolão = proteção; curtir = aproveitar. Embora se reconheça em um neologismo seu aspecto de ineditismo, os processos utilizados para sua criação são os mesmos há muito disponíveis: derivação e composição. Quando se cria uma palavra nova a partir de apenas uma palavra ou radical, por anexação, supressão ou mesmo pela simples alteração de sua classe. A derivação, portanto, poderá ser progressiva (afixos são incorporados a uma base), regressiva (elementos são suprimidos), imprópria (não se altera a forma, só a classe). 1. Amoral / prever / desordem / refazer Derivação prefixal 2. Capitalista / gostoso / realizar / docemente Derivação sufixal 3. Infelizmente / deslealdade / desordenadamente Derivação prefixal e sufixal 4. Anoitecer / entardecer / repatriar / embarcar Derivação parassintética 5. Amparo / combate / pouso / planta Derivação regressiva Derivação imprópria - não ocorrem acréscimos nem supressões, apenas uma mudança proposital da classe a que a palavra primitiva pertencia: O anoitecer no sertão é deslumbrante (verbo transformado em substantivo). "O beijo da mulher aranha" está em cartaz (substantivo transformado em adjetivo). Ninguém gosta de ouvir um não (advérbio transformado em substantivo). Quando se cria uma palavra nova a partir de duas ou mais palavras ou radicais já existentes, dando ao produto um sentido novo. Há dois processos distintos de composição, caso ocorra ou não alteração fonética dos elementos formadores: - Justaposição: não ocorre alteração fonética, reconhecendo-se os elementos formadores em sua integralidade: passatempo, malmequer, amor-perfeito, péde-moleque. - Aglutinação: as palavras ou radicais que vão entrar na composição sofreram, previamente, alterações fonéticas. Dá-se o nome de metaplasmo às mudanças de forma, seja por acréscimo ou por supressão. Assim, para ocorrer a aglutinação, os elementos formadores são submetidos a metaplasmos de supressão: Aférese - supressão fonética no início, como ocorre na linguagem coloquial: ta por está. Síncope - supressão fonética no interior, como ocorre na linguagem coloquial: pra por para. Apócope - supressão fonética no final, como ocorre na linguagem coloquial: mó por mor (antes, maior). Um exemplo de aglutinação e sua evolução: Vossa Mercê Apócope de Vossa: Vos Síncope de Mercê: mecê Palavra composta aglutinada: vosmecê Síncope de vosmecê: você (forma aceita pelo padrão culto) Aférese de você: ocê (variante popular) Aférese de ocê: cê (variante popular) Onomatopéia é o recurso que consiste em criar palavras para registrar sons, ruídos, vozes de animais: miar, piar, cataplum, pingue-pongue. Observe como Manuel Bandeira, em seu poema "Os Sapos" registra, com vocábulos que nada têm de onomatopéicos, na estrutura, mas que imitam a coisa significada, ou seja, a voz da saparia: Urra o sapo-boi: "Meu pai foi rei!" - "Foi!" "Não foi!" - "Foi" - "Não foi!"