XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. SÍNROME DE CUSHING CANINA: AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA APÓS UTILIZAÇÃO DE TRILOSTANO Taciana Cassia Silva1, Aluisio Pereira da Silva Filho2, Marina Libonati de Azevedo2, Henrique Diniz da Silva Araújo2, Gabriela Ratis Galeas2, Carlos André Ferreira Lima2, Lilian Sabrina Silvestre Andrade3. Introdução A Síndrome de Cushing (SC) é uma das doenças endócrinas mais comuns em pacientes geriátricos. Raças mais comumente afetadas são as dachshund, boxer, beagle e raças terrier (FELDMAN & NELSON, 1996). Os sinais clínicos mais comuns incluem poliúria, polidipsia, obesidade centrípeta, abdômen distendido e pendular, alopecia, e pele hipotônica, fina e suscetível a equimoses, hiperpigmentação, alterações seborréicas, piodermatite e dermatites. No entanto, às vezes prevalece apenas um sinal clínico, o que torna mais difícil o diagnóstico clínico (BICHARID & SHERDING, 1998). O diagnóstico presuntivo poderá fundamentar-se na anamnese, exame físico, hemograma, urinálise, bioquímica sérica, biópsia cutânea e testes de função adrenal e perfil químico-clínico (FELDMAN, 2009). A alta atividade da fosfatase alcalina (F.A.) sérica é observada em até 85% dos cães com hiperadrenocorticismo (NICHOLS et al., 1998). Contudo, a suspeita clínica deverá ser confirmada através de testes endócrinos específicos (BIRCHARD & SHERDING, 2003). O teste de estimulação com ACTH é comumente utilizado como um teste de triagem, devido à sua rapidez e custo relativamente baixo, sendo útil também no monitoramento de cães em tratamento. Valores menores que 8g/dL são sugestivos de SC iatrogênica e valores de 19g/dL a 24g/dL são considerados sugestivos, valores acima de 24g/dL são fortemente sugestivos para a SC espontânea e valores de 8-18g/dL são considerados normais (NELSON, 2006). Outro teste utilizado é o teste de supressão com dexametasona em dose baixa, que avalia a integridade do mecanismo de “feedback” negativo do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (LIEW, GRECO, 1997). Cães com valores de cortisol plasmático superiores a 1,4 g/dL, após oito horas da administração de dexametasona intravenosa em dose baixa (0,01 mg/kg), são considerados como portadores da enfermidade (GUPTILL et al 1997). Para diferenciação entre SC hipofisária da adrenal é realizado teste de supressão com dexametasona em dose alta. A supressão da concentração sérica de cortisol para <1,5 g/dL ou <50% do valor basal exclui a possibilidade de um tumor adrenal (BIRCHARD & SHERDING, 2003). As opções de terapia para a SC são bastante variadas, dependendo da opção do clinico veterinário, que poderá optar pelo melhor tratamento de acordo com a necessidade do animal ou da causa da doença. Atualmente o medicamento considerado de eleição para o tratamento da SC canina é o mitotano (Lysodren®), pois o mesmo poderá ser utilizado tanto para SC hipofisária quanto para a SC adrenal. Porém, alguns cães desenvolvem efeitos colaterais (NOGUEIRA, 2008) e por esse motivo alguns veterinários optam por terapias alternativas, utilizando medicações consideradas mais seguras como o trilostano (Vetory®), que tem baixo risco de reações adversas comparado ao mitotano, mas tem como desvantagem o uso restrito a pacientes com SC hipofisária (NELSON, 2006; NOGUEIRA, 2008). O objetivo deste estudo foi realizar a análise do protocolo diagnóstico, avaliar a eficácia clínica e segurança da terapia com trilostano (Vetory®). Material e métodos Foi atendido, no Consultório Veterinário Cornelia Paasche na cidade de Colônia - Alemanha, um basset fulvo da Bretanha, 10 anos de idade, 12,2kg, macho (Figura 1), com queixa clínica de progressiva polidipsia, poliúria, polifagia e alopecia. O paciente foi avaliado através de anamnese, exame clínico e perfil geriátrico laboratorial (hemograma, bioquímica sérica, testes de função adrenal e perfil químico-clínico) para detectar possíveis causas orgânicas que pudessem causar os sinais observados. O animal apresentava pele hipotônica, delgada e com áreas de alopecia, principalmente na região torácica, abdominal e na parte superior dos membros posteriores (Figura 2, 3 e 4). Foi presumidamente diagnosticada a SC. O diagnóstico definitivo foi realizado através do teste de supressão com dexametasona em dose baixa; para tal, o paciente foi deixado o mais átono possível, para evitar resultados falsopositivos somente então foi obtida uma amostra de soro de referência. Posteriormente foi administrada dexametasona (0,01 mg / kg de IV) e após 3 e 8 horas, coletou-se mais duas amostras do soro. Para diferenciar os dois tipos de SC suspeitas foi realizado teste de supressão com alta dose de dexametasona, o cão foi deixado calmo para obtenção de amostra do soro para a determinação dos valores séricos basais. Posteriormente foi administrado 0,1 mg/Kg, IV de dexametasona e, em seguida, foram coletadas mais duas amostras, uma após três horas e outra após oito horas. Primeiro Autor discente (mestranda) de pós-graduação do programa de Ciência animal tropical, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/nº Dois Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900 [email protected] 2 Segundo Autor é discente do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/nº Dois Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900 [email protected] 3 Terceiro Autor é Professora Associada do Departamento Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/nº Dois Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900 [email protected] 1 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Para a monitorização do tratamento foi realizado o teste de estimulação ACTH, para qual foi obtida uma amostra de soro basal e em seguida administrado 250 mg/IV de Tetracosactido (Synacthen), coletando-se uma segunda amostra de soro 1-2 horas mais tarde. Todos os exames laboratoriais foram realizados pelo IDEXX Laboratories. Para o tratamento foi utilizado trilostano (Vetory®) na dose de 60 mg/24h durante 14 dias, após os quais foi realizado novamente o teste de estimulação ACTH, com finalidade de verificar a eficácia do tratamento. Resultados e Discussão O animal atendido era um cão da raça basset fulvo da Bretanha e com 10 anos de idade, corroborando com Birchard e Sherding (2003), Ao exame clínico o cão apresentava-se com obesidade centrípeta, abdome distendido e pendular. Os sinais clínicos sugeriam hiperadrenocorticismo, dentre os quais diminuição da tonicidade da pele, adelgaçamento e alopecia conforme relatam Bicharid e Sherding (1998). No perfil geriátrico laboratorial o que chamou a atenção foi a alta atividade da FA o que é observado em até 85% dos cães com SC (NICHOLS et al, 1998), subsidiando o diagnóstico presuntivo, e os demais resultado afastaram outras causas orgânicas que poderiam ter originado os sinais clínicos observados (FELDMAN, 2009). O resultado do teste de supressão com baixa dose de dexametasona após oito horas foi superior a 1,4 g/dL, o teste então foi considerado como positivo para síndrome de Cushing conforme sugere Guptill et al. (1997). Para a monitorização do tratamento foi realizado estimulação com ACTH. O resultado foi 21g/dL de cortisol sérico. Esse resultado além de servir para a comparação entre o antes e depois do tratamento reiterou o resultado do teste de supressão com dexametasona com baixa dose (NELSON, 2006). Por meio do resultado obtido pelos exames clínico e laboratorial foi diagnosticada SC hipofisária como em aproximadamente 80-90% dos cães com SC (FELDMAN & NELSON, 1996). Foi possível então a realização do protocolo terapêutico com trilostano, por ser considerado um medicamento eficaz e mais seguro. O animal não apresentou efeitos colaterais que pudessem ser mensurados (NELSON, 2006; NOGUEIRA, 2009). No décimo quinto dia após o inicio do tratamento o proprietário retornou e relatou que os sintomas anteriormente observados, mesmo que não completamente controlados, haviam perdido a intensidade. Por exemplo, a queda de pêlos, todavia ainda não haviam crescido, mas a alopecia estava estacionada. Foi então novamente realizado o teste de estimulação com ACTH o qual o resultado foi 18g/dL de cortisol sérico, corroborando com o exame clínico, uma vez que apesar de o resultado ser ainda elevado, já poderia ser considerado dentro dos padrões fisiológicos para a espécie como sugerido por Nelson (2006). Com base nos resultados obtidos pode-se afirmar que os exames laboratoriais para diagnóstico diferencial da SC além de serem de fácil execução, são bastante sensíveis em relação à SC, pois confirmou a suspeita clínica e a resposta positiva ao tratamento e que a terapia com a administração Trilostano (Vetoryl) em cães com Síndrome de Cushing é clinicamente eficaz e segura, pois reduziu o nível de cortisol sérico controlando, dessa forma, a SC no paciente tratado sem causar-lhe efeitos colaterais. A SC hipófise-dependente foi diagnosticada com o teste de supressão com dexametasona em alta dose, pois a supressão da concentração sérica de cortisol foi menor que 50% do valor basal (BIRCHARD & SHERDING, 2003). Referências Birchard, S. J.; Sherding, R. G. Manual Saunders: Clínica de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Roca, 2003 Feldman, E.C.; Nelson, RW.. In: Hyperadrenocorticism (Cushing’s syndrome). Canine and Feline Endocrinology and Reproduction. Philadelphia:Saunders 1996; 187-91. Feldman, E. C. Diagnosis of hyperadrenocorticism (Cushing’s syndrome) in dogs..., which tests are best?. In: International Congress of the Italian Association of Companion Animal Veterinarians, 64th, 2009, Rimini, Italy. Anais… Proceedings of the International SCIVAC Congress 2009 213-215. 2009 Guptill, L.; Scott-Moncrieff, J. C.; Widmer, W. R. Adrenal disorders. Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 27, n. 2, p. 215-235, 1997. Leiw, C. H.; Greco, D. S. Comparasion of results of adrenocorticotropin hormone stimulation and low-dose dexamethasone supression tests with necropsy findins in dogs: 81 cases (1985-1995). Journal American Veterinary Medical Association, v. 211, p. 322-325, 1997. Nelson, R.W., Distúrbios endócrinos. In: Nelson, Richard W.; Couto, C. Guilhermo. Medicina Interna de Pequenos Animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.745-764. Nichols, R.; Peterson, M. E.; Mullen, H. S.; Glândulas Adrenais. In: Bichard, S. J.; Sherding, R.G.. Manual Saunders. Clínica de Pequenos Animais. Editora ROCA, São Paulo, 1998. Nogueira, R.M.B., Terapêutica das Principais Endocrinopatias em Cães e Gatos. In: ANDRADE, S.F. Manual de terapêutica veterinária – 3. ed. - São Paulo: Rocca, 2008. Cap.16, p.409-414 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Cachorro da raça basset fulvo da Bretanha. Figuras 2, 3 e 4. Pele hipotônica, delgada e com áreas de alopecia, principalmente na região torácica, abdominal e na parte superior dos membros posteriores.