PNEUMONIA E DERRAME PLEURAL EM CRIANÇAS Natália de Morais Furtado* RESUMO Trata-se de um estudo bibliográfico que tem como objetivo principal analisar a publicação científica sobre a ocorrência de derrame pleural entre a população infantil. Foram selecionados 16 artigos sobre a temática pneumonia e derrame pleural em pediatria. Segundo estes, os menores de 5 anos são os mais acometidos pelo derrame pleural, prevalecendo o sexo masculino, com tempo médio de hospitalização de 13,4 dias e tempo de febre superior a 6 dias. Quanto aos grupos de risco, observou-se que a baixa idade e o comprometimento do estado nutricional aparecem quase que unanimemente entre os autores como fatores de risco para o comprometimento pleural. Dentre os agentes etiológicos o Streptococcus aureaus é o patógeno mais comumente isolado em culturas, quando este consegue ser identificado, pois em cerca de 60% dos casos não é conseguido descobrir o agente etiológico. As complicações são os principais determinantes do agravamento clínico e morte em menores de 5 anos com pneumonia. Diagnósticos realizados em tempo oportuno podem evitar a evolução para derrame pleural nas pneumonias. O amplo conhecimento da epidemiologia da doença é de fundamental importância para fundamentar a implementação de estratégias de prevenção e controle deste agravo. A prevenção da desnutrição, do baixo peso ao nascer e das infecções respiratórias ocupam papel de destaque dentre as medidas preventivas, associadas às vacinas, educação dos cuidadores e fatores socioambientais. Palavras-chave: Pneumonia. Derrame pleural. Crianças. Infância. *Bacharel em Enfermagem. E-mail: [email protected] Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Enfermagem em Pediatria e Neonatologia, sob a orientação do professor (a) Max José Pimenta Lima. Salvador, 2014. 2 1 INTRODUÇÃO As infecções respiratórias agudas são um dos principais problemas de saúde mundiais em crianças com menos de 5 anos (AMORIM et al., 2012; PINTO; MAGGI; ALVES, 2004). Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, representam cinco milhões de mortes nesta faixa etária, sendo 70% delas decorrentes de pneumonias (RICETTO et al., 2003). As pneumonias são quadros infecciosos agudos, de qualquer natureza, do trato respiratório inferior que comprometem os alvéolos, os bronquíolos e o espaço intersticial (FERNANDES; FERNANDES; EJZENBERG, 2004; SECTISH; PROBER, 2009; TARANTINO, 2008). A pneumonia é uma causa significativa de mortalidade e morbidade na infância (particularmente entre crianças com menos de 5 anos). Calcula-se que a pneumonia cause 4 milhões de mortes entre as crianças de todo o mundo (SECTISH; PROBER, 2009). A doença ocorre principalmente nos países em desenvolvimento e a mortalidade secundária à doença é maior nos primeiros dois anos de vida (MOREIRA; RIBEIRO; TRESOLDI, 2005). Segundo Boletim da Organização Mundial da Saúde, o Brasil está entre os 15 países de maior incidência dessa infecção com 1,8 milhões de casos de pneumonia em menores de 5 anos (CIANTELLI; MORAIS; PRIGENZI, 2012). Alguns fatores tais como menor idade, frequência a creches, aglomeração de pessoas num domicílio, exposição passiva ao fumo e episódios prévios de sibilância e pneumonia aumentam o risco de adquirir pneumonia de acordo com Amorim et al. (2012), Riccetto et al. (2003) e Veras et al. (2010). A ocorrência de complicações é um dos principais fatores que colabora para o agravamento e risco de morte nestas crianças. Consoante Sectish e Prober (2009), as complicações da pneumonia geralmente são resultantes da disseminação da infecção bacteriana dentro da cavidade torácica (derrame pleural, empiema e pericardite) ou bacteremia e disseminação por via hematogênica. O derrame pleural pode ser definido como a presença de líquido na cavidade pleural (PESSOA, 2000). Ele é considerado a complicação mais frequente em pneumonias graves em crianças menores de cinco anos segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). (BENGUIGUI; BOSSIO; FERNANDÉZ, 2001). É 3 ainda responsável por 80-85% das mortes por doença respiratória e sua ocorrência varia de 20 a 91% em crianças com pneumonia (MOREIRA, RIBEIRO, TRESOLDI, 2005). A incidência de derrame pleural parapneumônico, no nosso país, varia de 20 a 30% dos casos de pneumonia adquirida na comunidade internados (MARCHI; LUNDGREN; MUSSI, 2006). Estes números são preocupantes e levam à necessidade de um maior estudo sobre o tema a fim de avaliar a realidade e, ao conhecê-la melhor, poder traçar planos que visem diminuir essas estatísticas. A partir da situação referida, temos como problema deste estudo: Quais os fatores que levam ao surgimento de derrame pleural em pacientes pediátricos acometidos por pneumonia? Visamos com este trabalho, conhecer a situação da doença em diferentes realidades e suas implicações para a população por ela acometida, a fim de elucidar as situações postas acima. O objetivo do presente estudo foi analisar a publicação científica sobre a ocorrência de derrame pleural em pacientes com pneumonia entre a população infantil. Para isso pretendemos identificar quais os principais fatores que contribuem para o surgimento de derrame pleural em crianças com pneumonia; Verificar o perfil das crianças com pneumonia acometidas pelo derrame pleural; Identificar o patógeno mais frequente entre as crianças internadas com derrame pleural em pneumonia. O presente estudo pretende contribuir, com seus resultados, para um melhor conhecimento da realidade do derrame pleural em pacientes com pneumonia e para que, a partir daí, possam ser desenvolvidas ações específicas com vistas ao grupo de pessoas com maior risco de desenvolver tal complicação como, por exemplo, a vacinação compulsória e medidas de educação em saúde a fim de diminuir o número de crianças que vêm a apresentar a doença e suas complicações mais graves. Ações como estas podem e devem ser desenvolvidas tanto a nível municipal, como estadual e federal, já que o fato evidenciado em nossa realidade, não difere em muito dos outros municípios e Estados do Brasil. Políticas públicas que atinjam todas as esferas do governo poderão, assim, beneficiar os indivíduos, os serviços de atendimento médico e o próprio governo, ao diminuir os ônus que estes têm por conta das complicações da pneumonia. Este estudo pretende ainda contribuir, no âmbito acadêmico, incitar que estudos epidemiológicos possam ser realizados, assim como estudos complementares a este, inserindo os estudantes e docentes no nível da pesquisa acadêmica, hoje tão incipientemente desempenhada em nosso meio. 4 Para a população geral, este estudo pode também trazer grandes benefícios, já que um maior conhecimento da doença pode levar à diminuição do número de casos ou da gravidade dos mesmos, diminuindo assim o número de crianças que vão ter sequelas da pneumonia, assim como cicatrizes, sequelas neurológicas, pulmonares e perda da funcionalidade de órgãos ou membros, fato que, indubitavelmente, terá implicações no modo como a criança se desenvolverá enquanto adulto e sujeito social. Trata-se de uma pesquisa exploratória, do tipo revisão de literatura, que segundo Gil (1999, p. 65), “(...) é desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos” e consoante Marconi e Lakatos (2002) este tipo de pesquisa pode propiciar um exame do tema sob um novo enfoque, chegando a novas conclusões, não sendo desta forma a repetição do que já foi dito ou escrito. A principal vantagem deste tipo de estudo, segundo Gil (2002), é permitir uma ampla cobertura sobre o assunto pesquisado. Para que isso ocorra com fidedignidade, é importante que as bases de dados utilizadas sejam confiáveis. Por isso, utilizamos apenas bases de dados mundialmente reconhecidas no meio científico. Estudo localizado na Atualiza Cursos que é uma instituição especializada no ensino de Pós-Graduação e Atualização na área de saúde situada na cidade de Salvador - BA. Tem como missão promover o aperfeiçoamento profissional e pessoal dos alunos, visando à formação de pessoas que contribuam para o desenvolvimento da sociedade. A busca de artigos científicos ocorreu através da consulta às seguintes bases de dados: LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde: É uma base de dados cooperativa da Rede BVS produzida de forma cooperativa pelas instituições que integram o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde e coordenada pela Bireme. Contém referências bibliográficas na área da Saúde publicadas nos países da América Latina e do Caribe, desde 1982. Contém 605 revistas da área de Saúde, abrangendo mais de 290 mil registros (UNIFESP, 2008). SciELO – Scientific Eletronic Library Online: “É uma biblioteca virtual piloto que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros com base hospedada na Fapesp” (GIL, 2002, p.74). Os artigos foram obtidos na íntegra através do próprio site ou através do link para as revistas online. Livros e sites oficiais brasileiros também serão consultados. No entanto, estes 5 abordam muito sumariamente os aspectos da doença aos quais foi dada ênfase neste trabalho, tendo, portanto os artigos, sido escolhidos como fonte de dados prioritária para a formulação dos resultados deste trabalho. Para realização deste estudo, a pesquisadora definiu alguns critérios para seleção do material a ser analisado, os quais foram baseados na questão norteadora e nos objetivos do estudo. Os critérios para inclusão foram ter acesso à versão completa do artigo, escritos em português, inglês ou espanhol e textos cujo foco é o derrame pleural em crianças com pneumonia escritos no período de a 2001 a 2013. Para seleção dos textos utilizaram-se como descritores os termos: pneumonia, derrame pleural e pediatria. Foi realizada leitura dos mesmos e excluídos aqueles que não se inserem nos critérios de inclusão ou que permitam acesso somente ao resumo ou à referência ou aqueles disponíveis somente para venda nos sites. Após leitura dos mesmos, foram selecionados 16 artigos que tratam sobre o tema. De posse de todos os artigos selecionados, a autora procedeu à leitura dos mesmos a fim de identificar os aspectos relacionados ao derrame pleural em crianças internadas por pneumonia. Concluída a leitura, os textos foram agrupados segundo tema abordado, dando origem a 03 (três) categorias de análise: Grupos de risco para a ocorrência de derrame pleural, Perfil da população com pneumonia acometida por derrame pleural, Bactérias mais comuns entre os indivíduos afetados pela doença. Por se tratar de um estudo de revisão de literatura, não houve a necessidade de submeter este trabalho ao Comitê de Ética em Pesquisa. Salienta-se, entretanto, que a pesquisadora respeitou todos os aspectos éticos relacionados aos direitos autorais dos autores dos textos selecionados. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1. Perfil da população acometida por derrame pleural A Tabela 1 apresenta algumas das características relacionadas à população acometida por pneumonia e que desenvolveram derrame pleural no curso da doença. Segundo os autores, a faixa etária de maior prevalência de complicações é a de menores de 5 anos, com uma idade média que variou de 2,9 anos a 3,75 anos; o sexo de maior prevalência foi o masculino, 6 variando de 55% a 71,4% dentre os estudos; o tempo médio de hospitalização foi de 13,4 dias, sendo aumentado em crianças que necessitaram de ventilação mecânica e intervenção cirúrgica. Quanto aos dias de febre, um autor (AMORIM et al., 2012) avaliou apenas o tempo de febre antes da internação, enquanto os outros avaliaram o tempo total de permanência da mesma, porém todos concordam que o tempo de febre é maior naqueles pacientes que desenvolveram derrame pleural ou outras complicações, sendo superior a 6 dias em todos os autores estudados. Tabela 1 – Características relacionadas à população pediátrica acometida por derrame pleural Amorim et al., 2012 Arancibia et al., 2007 Fonseca et al., 2009 Mocelin e Fischer, 2001 Paz et al., 2001 Veras et al., 2010 -- 2,9 a 3,75 a -- 3a -- 55,3% masc. masc. 71,4% masc. 55% masc. Masc. 60,2% masc. Tempo médio hospitalização 12,18 d 10 d 20,7 d 15 d 15 d 7,5 d Dias de febre 6,3 d (antes da internação) -- 16,4 d Mais de 8 d 7d -- Idade média Sexo Fonte: Autoria própria. 2.2 Grupos de risco para a ocorrência de derrame pleural Dentre os autores pesquisados, cinco deles discorriam sobre os grupos de risco para o internamento por pneumonia e subsidiaram a formulação da Tabela 1. Nela, podemos observar uma quase unanimidade no que concerne aos indivíduos com comprometimento do estado nutricional e com baixa idade, em especial os menores de 5 anos, como grupo de risco (5 entre 6 artigos). Outros fatores risco para a ocorrência de complicações, tais como condições socioeconômicas (aglomerados de pessoas no domicílio, baixa renda familiar, baixa escolaridade dos pais, baixa idade materna) também se sobressaem. Outro fato de interesse é o fato de frequentar creches, fator de risco também para a ocorrência de outras doenças da infância como diarreia e doenças virais. 7 Tabela 2- Grupos de risco para a necessidade de internamento por pneumonia e ocorrência de complicações Grupos de risco para a necessidade de internamento por pneumonia n (artigos) Comprometimento do estado nutricional 5 Baixa idade 5 Aglomerados de pessoas no domicílio 4 Crianças que frequentam creches 4 Baixo peso ao nascer 3 Baixa renda familiar 3 Baixa idade materna 3 Baixa escolaridade dos pais 2 Fonte: Autoria própria. Quando procurados fatores ligados diretamente à ocorrência de derrame pleural dentre os pacientes com pneumonia, apenas dois autores estudaram diretamente a influência de variáveis para o surgimento do derrame pleural e outras complicações da doença. Amorim et al. (2012) encontraram que as variáveis epidemiológicas não estiveram diretamente ligadas à presença de complicações, somente encontrando associação direta da evolução para complicações na pneumonia com variáveis biológicas. As variáveis que apresentaram relação com maior risco de complicações foram os antecedentes patológicos do paciente, uso prévio de antibióticos e tempo da febre antes da internação, sendo este último de maior destaque com risco duas vezes maior de evoluir para complicações. Já Pinto, Maggi e Alves (2004), encontraram como fatores de risco para comprometimento pleural, o local de residência do paciente (zona rural), com risco duas vezes maior do que residir em zona urbana, número de cômodos do domicílio (até dois cômodos), refletindo a importância do confinamento no estado de saúde das crianças e ainda a baixa renda familiar, apontando que crianças pertencentes às famílias com renda inferior a 170 dólares tem um risco duas vezes maior de desenvolver derrame pleural. 8 2.3 Bactérias mais comuns entre os indivíduos afetados pela doença Dentre os autores, é unânime o fato de as bactérias causadoras de pneumonia em crianças não serem identificadas na maioria dos casos (ARANCIBIA et al., 2007; DIRETRIZES BRASILEIRAS EM PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNDADE EM PEDIATRIA, 2007; PINTO; MAGGI; ALVES, 2004; RICETTO et al., 2003, VERAS et al., 2010, VERVLOET, et al., 2012). O patógeno não é identificado em até 60% dos pacientes. Entretanto, é fundamental o conhecimento da etiologia das pneumonias para subsidiar a terapêutica. Dentre os autores que estudaram pacientes em que foi conseguido identificar o patógeno, todos apontam o Streptococcus pneumoniae como principal agente causador de pneumonia com derrame pleural. Outras bactérias também apareceram nos resultados das culturas, como Staphylococcus aureaus, Haemophilus influenzae e Streptococcus pyogenes, porém em menor escala. 2.4 Discussão Os autores concordam em dizer que as hospitalizações por pneumonia com derrame pleural em pacientes pediátricos afetam preferencialmente os menores de 5 anos de idade. Crianças prematuras, com baixo peso ao nascer, baixa idade e desnutridas são mais susceptíveis às doenças respiratórias e às outras doenças da infância (NASCIMENTO et al., 2004). A presença de vias aéreas mais estreitas, com mais fácil obstrução das vias aéreas periféricas, além de mecanismos de defesa das vias aéreas ainda imaturas e resposta imune diminuída, nos pacientes mais jovens parece favorecer os quadros mais graves nessa faixa etária. (ARANCIBIA et al., 2007; BENGUIGUI; BOSSIO; FERNÁNDEZ, 2001; GOYA, 2005 apud AMORIM et al., 2012; NASCIMENTO et al., 2004). Concordamos com os autores, ao passo que as crianças menores parecem ter maior número de passagens pela UTI, maior necessidade de suporte de oxigênio e maior tempo de internação, além de apresentarem maior índice de mortalidade. 9 Em seus resultados, Amorim et al. (2012) não encontraram relação entre baixa idade e presença de complicações, fato que pode ser justificado pela exclusão de menores de 12 meses no seu estudo. Medidas para prevenção do baixo peso, prematuridade e desnutrição são bastante conhecidas no meio da saúde, porém não são amplamente disseminadas para a população geral, nem implementadas no âmbito da saúde pública. (NASCIMENTO et al., 2004). Entretanto, estas medidas tomadas na prevenção dessas situações podem reduzir o risco de internação e mortalidade, não só por pneumonias como por outras doenças prevalentes na infância. Vários trabalhos têm mostrado maior risco de morte e complicações por pneumonia em pacientes do sexo masculino. O único estudo que demonstrou risco de complicações maior no sexo feminino foi Ricetto et al., 2003. Não encontramos na literatura, justificativa para que o fato de ser do sexo masculino ou feminino favorecer a ocorrência de derrame pleural. Com relação à idade materna, observamos que mães mais jovens apresentam maior risco de terem filhos internados com pneumonia e derrame pleural. Nascimento et al. (2004) afirmam que a falta de experiência destas mães nos cuidados com sua prole e dificuldade de reconhecer uma situação mais grave poderiam ser explicações para a baixa idade materna como risco de complicações. Muitas destas mulheres engravidam ao acaso e precisam aprender sozinhas como cuidar de uma criança. A demora no início do tratamento antibiótico vem sendo implicada como um fator ligado ao aparecimento de derrame pleural (BENGUIGUI; BOSSIO; FERNÁNDEZ, 2001). Se conseguirmos que a pneumonia seja descoberta precocemente, através do conhecimento de situações graves pelos cuidadores da criança, principalmente sua mãe, podemos minimizar estas estatísticas. Esse conhecimento pode e deve ser adquirido em todas as oportunidades, já desde a gravidez em consultas de pré-natal, puericultura e através de ações de saúde públicas voltadas à esta população. Um estudo demonstrou uma alta taxa de colonização por pneumococos em crianças que frequentam creches, o que pode nos fazer pensar nessas instituições como foco de disseminação respiratória de bactérias resistentes e nos faz ter uma atenção especial à essa população (REY et al., 2002). Um grupo de autores demonstrou maior risco de hospitalização em crianças com pneumonia que frequentam creches, porém não de apresentar complicações. Concordamos 10 com Amorim et al. (2012) quando eles dizem que parece que este fato influencia apenas na aquisição da doença e não na sua evolução para complicações. Consoante Nascimento et al., (2004) a transmissão de patógenos através de gotículas respiratórias pode explicar o fato do risco aumentado entre crianças que frequentam creches e naquelas que vivem em domicílios com pequeno número de cômodos. O número de cômodos no domicílio, no estudo realizado por Pinto, Maggi e Alves (2004) esteve diretamente ligado às condições socioeconômicas da família. Associado à baixa renda, podem reforçar a hipótese da influência dos fatores econômicos na associação com o agravamento das pneumonias e desenvolvimento de derrame pleural. Esta ideia é reforçada pelos resultados encontrados por Pinto, Maggi e Alves (2004) de que crianças residentes no meio rural foram mais susceptíveis à infecção ao passo que o meio rural onde residiam as crianças estudadas, segundo o autor, apresenta importantes deficiências referentes a saneamento básico, emprego, renda, educação, nutrição e assistência à saúde. Descobrimos que as crianças com derrame pleural têm um tempo maior de febre do que as crianças com pneumonia adquirida na comunidade sem complicações. Podemos, a partir desta descoberta, nos atentar para este fato ao colhermos a história da doença da criança e ao acompanharmos ela no seu internamento. Se a criança permanece com febre ou clinicamente instável após 48-72h da admissão, deve-se pesquisar complicações, principalmente o derrame pleural, que é a mais comum delas. (DIRETRIZES BRASILEIRAS EM PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE EM PEDIATRIA, 2007). O número de dias de hospitalização associada a derrame pleural foi significativamente superior quando comparada a outras condições pediátricas agudas. O maior tempo de hospitalização nos pacientes com complicações esteve relacionado com a necessidade de manutenção de antibioticoterapia endovenosa por um período prolongado e cuidados com o procedimento de drenagem pleural. (AMORIM et al., 2012). Este fato se associa a elevados custos de tratamento, absenteísmo escolar e laboral dos pais, maior risco de infecções nosocomiais, além de sequelas físicas e psicológicas para a criança. Amorim et al. (2012) ressaltam que diagnósticos realizados em tempo oportuno podem evitar a evolução para derrame pleural nas pneumonias. Concordamos com o autor, ao tempo que entendemos que é de extrema importância que os cuidadores procurem um serviço de saúde tão logo evidenciem a presença de febre ou outros sinais de alteração do estado de saúde da criança tais como sibilância e tosse produtiva para que estes diagnósticos possam ser 11 realizados precocemente, evitando assim a evolução da pneumonia para derrame pleural ou outras complicações graves, além da aquisição de infecções nosocomiais. Durante muito tempo difundiu-se que pneumonia associada com derrame pleural indicava o Staphylococcus aureaus como etiologia, entretanto, a apresentação clínica do derrame pleural em pediatria tem se transformado nos últimos 30 anos. O Streptococcus pneumoniae é hoje o agente mais frequentemente isolado, quando a cultura dá positiva como demonstram diversos estudos (ARANCIBIA et al., 2007; CIANTELLI; MORAIS; PRIGENZI, 2012; RICETTO et al., 2003). Veras et al. (2010) afirmam que, apesar da baixa especificidade da hemocultura, o exame deve ser solicitado rotineiramente em pacientes internados por pneumonia no momento da admissão. Já Fonseca et al. (2009) apontam que a baixa positividade das culturas pode ser parcialmente explicada pela alta frequência de utilização de antibióticos antes da admissão hospitalar. Embora o Streptococcus pneumoniae seja hoje o agente patológico mais prevalente em todas as faixas etárias, algumas outras bactérias também são de grande importância e os agentes etiológicos variam discretamente de acordo com a idade da criança. De qualquer maneira, a solicitação de exames de cultura de secreção e sangue devem ser realizadas o quanto antes a fim de aumentar as chances de isolamento do patógeno causador da doença na criança, tendo em vista que o conhecimento dos agentes esperados em cada faixa etária e em cada caso especifico, irá facilitar a condução do tratamento específico de cada caso. Com isso, as chances de sucesso da terapêutica empregada aumentam e o risco de complicações diminui. 3 CONCLUSÃO As complicações são os principais determinantes do agravamento clínico e risco de morte nas crianças menores de 5 anos com pneumonia. O derrame pleural associado a processos infecciosos predomina entre as complicações da doença. Seu diagnóstico e tratamento envolvem custos elevados com antibióticos venosos, exames complexos de imagem, colocação de tubos de drenagem, procedimentos cirúrgicos de decorticação pulmonar, necessidade de UTI e uso de oxigenioterapia suplementar, dentre outros. Estes 12 procedimentos, não só se associam à dor na criança, como também levam à um elevado número de dias de hospitalização. Apesar da limitação de dados, é clara a importância do impacto do derrame pleural em crianças com pneumonia, principalmente se considerando todas as implicações que tem uma doença grave e potencialmente mortal para uma criança previamente sadia. O amplo conhecimento, em nosso meio, da epidemiologia da pneumonia, de suas complicações e fatores de risco de óbito e sequelas graves é de extrema importância para fundamentar a implementação de estratégias de prevenção e controle deste agravo, orientando políticas de atendimento à saúde e colaborando também para uma avaliação desta implementação. Estudos relacionados com a ocorrência dessa complicação da pneumonia e da epidemiologia desta doença em nosso meio podem trazer grandes benefícios, não só para a população susceptível, como para as unidades de saúde e órgãos governamentais responsáveis pelo controle deste agravo. Estes estudos poderiam, inclusive, apontar métodos eficazes de combater a doença e diminuir os custos a ela associados. A prevenção da desnutrição, do baixo peso ao nascer e das infecções respiratórias ocupam papel de destaque entre as medidas preventivas da pneumonia. O setor saúde pode contribuir nesse sentido abordando de forma integral os principais problemas de saúde prevalentes na infância, enfatizando a atenção primária e com foco preventivo desde o período pré-natal. Ações básicas em saúde pública, instrução e orientação da população podem ter papel relevante na redução da mortalidade e morbidade por pneumonia e derrame pleural. Ainda, as vacinas têm papel inquestionável como medida de prevenção em saúde. No caso da pneumonia, a vacina contra a influenza e a vacina conjugada contra o pneumococo são recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pneumonia. Os fatores socioambientais demonstram a dependência do processo de saúde e doença quanto à necessidade de organização de outros setores relacionados à qualidade de vida da população. As medidas de intervenção que visam a melhoria das condições socioeconômicas e de moradia da população são fundamentais para impedir o adoecimento e o possível agravamento dos quadros de pneumonia em crianças menores de 5 anos. Além disso, ações que visem ao reconhecimento precoce da pneumonia são essenciais, levando em consideração o fato de que este reconhecimento precoce pode favorecer o início 13 do tratamento adequado e impedir o surgimento do derrame pleural e outras complicações da doença. 14 PNEUMONIA AND PLEURAL EFFUSION IN CHILDREN SUBSTRACT: It consisted in a bibliographic study that had as its main objective to analyze the scientific publication about the occurrence of pleural effusion among the children population. 16 articles have been selected about the theme pneumonia and pleural effusion among children. According to those articles, the children under the age of five are the most affected by the pleural effusion, prevailing the masculine sex, with an average hospitalization time of 13.4 days and time of fever above 6 days. Concerning the risk groups, it have been seen that the young age and the compromised nutritional status show up almost unanimously among the authors as a risk factor to pleural involvement. Between the etiologic agents, the Streptococcus aureaus is the pathogen most commonly isolated in cultures, when this pathogen can the identified. In among almost 60% of the cases, the pathogen can’t be identified. The complications are the main determinants of clinical worsening and death amongst children under the age of 5 with pneumonia. Diagnostic made in adequate time can avoid the evolution to pleural effusion on pneumonias. The wide knowledge of the disease’s epidemiology is of the utmost importance to substantiate the implementation of strategies for preventing this disease. Preventing malnutrition, low birth weight and respiratory infections play a very important role between the preventive measures, associated with vaccines, education of the caregivers and socio-environmental factors. Keywords: Pneumonia. Pleural Effusion. Children. Childhood. 15 REFERÊNCIAS AMORIM, Pollyana Garcia et al. Fatores associados às complicações em crianças pré-escolares com pneumonia adquirida na comunidade. J. bras. pneumol., São Paulo, v. 38, n. 5, Oct. 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132012000500011 &lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20 Dez. 2013 ARANCIBIA G, M. Francisca et al. Empiema y efusión pleural en niños. Rev. chil. infectol., Santiago, v. 24, n. 6, dez. 2007. 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