Doença Cardiovascular e Inflamação em Pessoas Vivendo com HIV Heloisa Ramos Lacerda Livre Docente em Infectologia Professora da UFPE e UPE Coodenadora Científica SBI 2014-2015 Heloisa Ramos Lacerda Conflito de Interesses Declaro que já recebi apoio para participação em eventos e realizei palestras remuneradas para os laboratórios/indústria farmacêutica: Jansen; Abbott; Pfizer; Roche; Merck; Sanofi e GSK Etiologia da aterosclerose em PVHIV HIV Antirretrovirais (IP) Imunossupressão Idade, sexo Tabagismo, sedentarismo Antecedente familiar DCV Perfil Aterogênico Redução HDL Aumento LDL Aumento dos TGC Lesões coronarianas em PVHIV Lesões atípicas (não calcificadas) e de risco elevado para ruptura são mais comuns em pessoas PHIV comparados a pessoas sem o HIV: placas de baixa atenuação e placa remodelada positivamente Marcadores inflamatórios alterados entre 125 pacientes com HIV atendidos ambulatorialmente em Recife PCR Ultra-sensível ≥3,0mg/L 38,5% IL1-Beta ≥0,08pg/mL 10,7% IL6 ≥ 0,11pg/mL 73,8% TNF-alfa ≥1,2mg/mL 68,8% sICAM-1 ≥502pg/mL 3,3% sVCAM-1 ≥710pg/mL 56,6% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% % 80% Falcão M da C, Lacerda HR, et al. Arq Bras Cardiol. 2012 ;99:971-8. DOENÇA CARDIOVASCULAR EM PACIENTES COM HIV/AIDS – RESULTADOS DA AVALIAÇÃO BASAL DA COORTE DE PERNAMBUCO ATEROSCLEROSE SUBCLÍNICA E BIOMARCADORES • Estudo prospectivo com 2.016 pacientes HIV positivos atendidos em dois hospitais de referência em Pernambuco, • Iniciado em 2007 e em avaliação até hoje Objetivos Determinar a prevalência 1)dos fatores de risco para doença cardiovascular 2)Dislipidemia, obesidade 3)Fatores de risco para capacidade aeróbica reduzida 2) aterosclerose carotídea detectada pelo USG de carótidas e 3) isquemia coronariana e capacidade aeróbica detectada pelo teste ergométrico, Características gerais 1.752 pacientes Masculino Idade (média) Tabagismo Ex-fumante Fumante Colesterol Total (mg/dL) > 200 HDL-Colesterol (mg/dL) baixo LDL-Colesterol (mg/dL) ≥ 130 Triglicerídeos (mg/dL) >150 Glicemia ≥ 100 N 1088 39,5 % 62,1 +9,5 511 449 408 920 231 709 244 29,4 25,8 27,3 62,8 18,7 47,7 16,5 Características gerais 1.752 pacientes N Uso de anti-retrovirais 1358 Tempo de TARV < 1 ano 252 1 – 5 anos 549 > 5 anos 555 Tipo de Tratamento Sem ARV 278 C/IP 643 S/IP 661 Linfócitos CD4 Atual (média) 445,7 Nadir (média) 276,7 Carga Viral cópias/mL Atual (média) 34.148 % 83,0 18,6 40,5 41,0 17,0 41,0 42,0 - Sobrepeso e obesidade (IMC) • Desnutridos 8,8% • Anemia • Linfócitos CD4 < 200 • Sobrepeso/obeso 32,1% • Acima 40 anos • Diabetes mellitus Mariz C, Albuquerque MF, Lacerda HR et al. Cad Saude Publica. 2011; 27(10):1997-2008. Aptidão Cardiorrespiratória Excelente Bom Regular Fraco Muito Fraco N 25 142 178 124 80 % 4,55 25,87 32,42 22,59 14,57 Association of aerobic capacity with demographic and clinical characteristics : Final multivariate analysis Sexo Male Female Ativ Física Sedentary Irregularly active Active Very active Nível de Hb Non Anaemia Anaemia Glicemia alterada No Yes Circ abdominal Normal Abnormal CD4 atual <350 ≥350 Odds Ratio 1 2.70 1 1.08 0.77 0.40 1 2.08 1 1.92 1 4.26 1 0.58 95% CI P value 1.68, 4.32 <0.001 0.56, 2.08 0.41, 1.45 0.18, 0.90 0.819 0.423 0.027 1.22, 3.54 0.007 1.08, 3.41 0.026 1.99, 9.10 <0.001 0.37, 0.91 0.016 Risco cardiovascular em pacientes com HIV/Aids em Pernambuco Garret, M, Queiroga, F, Lacerda et al Avaliados 811 pacientes, julho/2007 a julho/2008, com idade de 40,61 ± 9,45 anos, sendo 505 (62,26%) homens. O risco cardiovascular médio da população foi de 5,24 ± 4,78%. Prevalência de espessamento de carótida em pacientes com HIV/Aids em uso do primeiro esquema ARV ou sem ARV n=694 pacientes (45,7%) 47 % (54,3)% Total = 694 pacientes Idade (média)= anos Tese Doutorado 2010, PPG MT-UFPE Albuquerque39 VM, orientação Lacerda, HR Análise multivariada - Fatores de risco para aterosclerose subclínica em pacientes com HIV/Aids (n=649) p-valor Fatores OR Idade (anos) Masculino Raça Não branca Fumar 10 > (cigarros/dia) HAS Sobrepeso Obeso LDL Aumentado 1,14 1,59 1,87 3,61 1,58 1,86 3,52 2,05 (1,11 – 1,17) (1,05 – 2,41) (1,16 – 3,00) (1,02 – 12,7) (1,04 – 2,40) (1,19 – 2,91) (1,72 – 7,21) (1,22 – 3,42) <0,001 0,026 0,009 0,045 0,030 0,006 0,001 0,006 Tempo de TARV (anos) 1,08 (1,00 – 1,17) 0,041 Tese Doutorado 2010, PPG MT-UFPE Albuquerque VM, orientação Lacerda, HR Fatores de risco para aterosclerose subclínica em indivíduos com menos e mais de 40 anos • comparamos 351 indivíduos com menos de 40 anos e 346 indivíduos com mais de 40 anos. • 40 anos foi a mediana de idade • possuir mais de 40 aumentava o risco de aterosclerose em mais de 10 vezes • comparados apenas os pacientes sem fatores de risco para DCV Albuquerque VM, Lacerda HR et al.BMC Infect Dis. 2013 Jun 18;13:274 Análise multivariada - Fatores de risco para aterosclerose subclínica em pacientes sem fatores de risco para DCV Idade (continua) Sexo masculino Não brancos IMC sobrepeso Obesidade Síndrome Metabolica Colesterol Total 200 to < 240 ≥ 240 Hypertensão TCD4 < 200 200 to < 350 > 350 Uso TARV Sem TARV < 5 anos ≥ 5 anos < 40 anos p > 40 anos p 1,09 3.02 3.21 1.62 1.0 < 0,037 0.018 0.071 0.306 1.15 1.03 1.23 3.97 1.0 0.000 0.937 0.702 0.007 1.07 0.49 1.0 0.902 0.321 0.97 2.41 1.0 0.967 0.168 0.96 0.954 2.16 0.300 0.47 0.33 0.425 0.394 5.95 6.84 0.050 0.063 0.290 0.281 0.218 1.0 0.47 3.62 1.79 7.60 0.245 0.208 0.316 0.010 1.0 0.51 0.55 2.41 Albuquerque VM, Lacerda HR et al.BMC Infect Dis. 2013 Jun 18;13:274. Lacerda HR, Alencar Ximenes RA et al. J Interferon Cytokine Res. 2013 Dec 20. Avaliação da associação dos níveis de marcadores inflamatórios com fatores biológicos, metabólicos, relacionados ao HIV e seu tratamento Análises multivariadas dos fatores associados ao aumento de sVCAM, sICAM, TNF-α, IL-6 e PCR-us Biomarcadores Variáveis por bloco sVCAM OR TNF-α OR p PCRus OR p 0,3 (0,1- 0,7) 0,02 CD4 atualb < 200 3,1 (1,2- 7,9) 0,01 Pressão sistólicaa > 140 3,3 (0,8-13,7) 0,09 Sexo Masculino p IL-6 OR p 2,3(1,0 - 5,3) 0,04 Carga viral máxima > 100.000 2,5 (1,1- 5,7) 0,02 2,4 (1,0 -5,8) 0,04 Uso de TARV 0,2 (0,0 -0,7) 0,02 0,2 (0,0 -1,0) 0,06 Antecedente familiar DAC Tempo HIV > 5 anos TARV > 5 anos Síndrome metabólicab 3,1 (0,9-10,3) 0,06 0,4 (0,1- 1,1) 0,09 1,8 (0,8- 4,1) 0,11 Lacerda HR, Alencar Ximenes RA et al. J Interferon Cytokine Res. 2013 Dec 20. Fatores de risco para doença coronariana entre pacientes infectados pelo HIV: Um estudo multicêntrico no Brasil Nordeste Sul Centro Oeste Total pacientes 2.016 1.224 289 3.829 Fuchs SC, Lacerda HR et al. Scientific World Journal. 2013 Oct 2;2013:163418 Fuchs SC, Lacerda HR et al. Scientific World Journal. 2013 Oct 2;2013:163418 Conclusões Gerais O Framingham foi baixo na maioria dos pacientes, 85%, provavelmente pela baixa idade Elevada prevalência de aterosclerose subclínica, 47%, mostrando um potencial elevado de doenças CV no futuro. O tempo de TARV esteve associado ao seu aparecimento, mas não o tipo de esquema ARV Os fatores de risco tradicionais têm grande peso sobre a presença de doença cardiovascular e devem ser combatidos Não constatamos influência de um tipo específico de TARV, mas sim ao tempo de TARV Elevada frequência de valores elevados dos biomarcadores e associação com fatores relacionados ao HIV, mas pouca associação com aterosclerose carotídea. Tratamento com TARV reduz PCR O que fazer na prática ? Classificar – Maior Risco • Síndrome metabólica • Diabetes • Aterosclerose incipiente (espessamento carotídeo > 1 mm ou escore cálcio elevado) • Pooled Cohort Equations (risco CV) • Escore de Framingham Moderado/Alto Risco 10-20% evento/óbito em10anos Cardiologista e testar para isquemia (ergométrico, cintilografia, CT com score cálcio) Início da TARV em pacientes com DCV ou risco elevado Está indicado em pacientes com Doença Cardiovascular estabelecida ou risco cardiovascular elevado (Framingham > 20% em 10 anos) Indicar antirretrovirais com baixo risco cardiovascular: raltegravir, ATV/r 2013 Report on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Disease in Adults American Heart Association Stone NJ for the 2013 ACC/AHA Cholesterol Guideline Panel*. Ann Intern Med. 2014 Jan 28 Tratar agressivamente • • • • Mudança hábitos (tabagismo, cocaína) Redução peso Sedentarismo Tratamento agressivo da dislipidemia com estatinas ou/e fenofibratos de acordo com o tipo de alteração lipídica Dieta saudável para o coração O foco é na individualização da dieta, com • Flexibilidade e adaptação às preferências individuais • Rica em vegetais, frutas, produtos derivados do leite com gorduras reduzidas (leite e queijos brancos, desnatados) • Grãos integrais, peixes, legumes, amêndoas, castanhas e óleo vegetal. • Limitação na carne vermelha, doces e bebidas c/açúcar, gordura trans e sódio. Restrição das gorduras saturadas para 5-8% das calorias ingeridas • Ganho calórico consistente com a manutenção do peso. Dieta saudável para o coração Hipertrigliceridemia Evitar carboidratos refinados, tais como pães brancos, arroz branco, biscoitos, bolachas, doces, bolos, açúcar e bebidas alcoólicas Substituir carboidratos refinados por alimentos integrais, tais como hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Atividade Física Adultos devem realizar 3 ou 4 sessões aeróbicas por semana, com cada sessão durando uma média de 40 minutos com atividade física moderada ou vigorosa (se não houver contra-indicação) Total 2horas e 30 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana Intensidade da ação das estatinas Terapia com estatina de altaintensidade Terapia com estatina de moderada intensidade Terapia com estatina de baixa intensidade Doses diárias reduzem LDL– C em aproximadamente ≥50% Atorvastatina 40–80 mg Rosuvastatina 20 (40) mg Doses diárias reduzem LDL–C entre 30% <50% Doses diárias reduzem LDL– C em <30% Atorvastatina 10 (20) mg Rosuvastatina (5) 10 mg Simvastatina 20–40 mg Pravastatina 40 (80) mg Lovastatin 40 mg Fluvastatina XL 80 mg Fluvastatina 40 mg bid Pitavastatin 2–4 mg Simvastatina 10 mg Pravastatina 10–20 mg Lovastatina 20 mg Fluvastatina 20–40 mg Pitavastatina 1 mg Hipercolesterolemia LDL-colesterol Profilaxia primária > 21 anos LDL-C > 190 mg/dL Estatina de alta intensidade Profilaxia primária 40-74 anos LDL-C entre 70 e 189 mg/dL e risco DCV > 7,5%¶ Diabetes LDL-C 70-189 mg/dL ou risco DCV > 7,5%¶ Estatina de moderada/ alta intensidade Estatina de moderada/ alta intensidade Doença CV manifesta Estatina de alta intensidade *Maior dificuldade em reduzir os níveis de colesterol em pacientes em uso TARV http://my.americanheart.org/professional/Stateme ntsGuidelines/Prevention-Guidelines Implementação das medidas Hipertrigliceridemia isolada LDL-c normal e TCG entre 200-500 Modificação de hábitos 6m LDL-c normal e TGC > 500 Modificação agressiva dos hábitos e 1ª.opção fibratos 2ª opção ômega 3 Dislipidemia mista Coleterol e triglicerídeos LDL-c alto e TCG entre 200-500 Modificação de hábitos 6m e iniciar estatinas Persiste LDL-c elevado Estatina mais potente LDL-c elevado e TGC > 500 Alvo 1º. TGC modificação hábitos e fibratos 2ª opção ômega 3 Medicamentos que podem ser utilizados em concomitância com a TARV ESTATINAS DOSE DIÁRIA USO COM IP/R USO COM ITRNN Baixa intensidade Pravastatina 20-80 mg DRV/r dose máxima 40mg Considerar doses mais altas Moderada intensidade Atorvastatina 10-80 mg Dose máxima 40mg Considerar doses mais altas Rosuvastatina 5-40 mg Dose máxima 20mg Iniciar doses baixas Baixa intensidade Sinvastatina Não utilizar FIBRATOS Benzafibrato 200-600 mg Fenofibrato 200-250 * Testar AST/ALT e CPK (efeitos colaterais) O que fazer com a TARV? • Conduta habitual • Tratamento da mudanças de hábito e tratamento da dislipidemia • Quando trocar a TARV • 1) Possui opções capazes de controlar a viremia? • 2) Não responde às condutas e o esquema possui perfil lipidogênico (opções Raltegravir e ATV/r) Concluindo DCV merece atenção constante Estratificar risco Tratar agressivamente os de maior risco Controlar as dislipidemias Particularizar TARV Para Todos Cessar tabagismo, controlar PA Atividade física, controlar o peso Dieta pobre em gorduras e carboidratos • • • • • Perspectivas • Estatina que não é metabolizada no citocromo P450 • Pivastatina = Pivastatina • Uso de Estatina mesmo para pacientes fora da indicação tradicional??? • Estudo REPRIVE – Randomized Trial to Prevent Vascular Events in HIV Patients Perspectiva Efeito da Atorvastatina/AAS versus Placebo em Pacientes com HIV em uso de Antirretrovirais e com Baixo Risco Cardiovascular na função endotelial e na inflamação: Ensaio Clínico randomizado •Desfechos: •DILA- vasodilatação arterial dependente do endotélio – USG doppler (primário) •Dilatação arterial – USG doppler •Aterosclerose carotídea •Níveis biomarcadores inflamatórios •Níveis de CT e LDL-c Projeto financiado pelo CNPq; Tese de Doutorado da UFPE, PG Gerson Gomes; Orientador Heloisa Ramos