UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS – LICENCIATURA CRISTINA AMÉRICO CRISTIANO ENSINO DA ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE: OLHARES E REFLEXÕES A PARTIR DA NARRATIVA DE PROFESSORES E ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA E.E.B PROFESSORA MARIA GARCIA PESSI CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. 2 CRISTINA AMÉRICO CRISTIANO ENSINO DA ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE: OLHARES E REFLEXÕES A PARTIR DA NARRATIVA DE PROFESSORES E ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA E.E.B PROFESSORA MARIA GARCIA PESSI Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para obtenção do título de Licenciatura em Artes Visuais. Orientador: Prof. Esp. Marcelo Feldhaus CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. 3 CRISTINA AMÉRICO CRISTIANO ENSINO DA ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE: OLHARES E REFLEXÕES A PARTIR DA NARRATIVA DE PROFESSORES E ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA E.E.B PROFESSORA MARIA GARCIA PESSI Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de licenciatura, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação e Arte. Criciúma, 02 de dezembro de 2010. BANCA EXAMINADORA Prof. Marcelo Feldhaus - Especialista – (UNESC) - Orientador Profª Maria Helena Périco da Silva - Mestre - (UNESC) Profª Maria Aparecida da Silva Mello - Mestre - (UNESC) 4 Dedico este trabalho aos meus familiares e amigos, especialmente ao meu noivo Stefan, que se mostrou um fiel companheiro durante esta trajetória. Ao meu orientador, professor Marcelo Feldhaus, que guiou meus passos com sabedoria e seriedade. E a todos os alunos que tive o prazer de conviver e trocar experiências durante os estágios supervisionados, pois muito me ensinaram e contribuíram nesta conquista. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelos anjos que colocou em meu caminho ao longo desta trajetória: meus tios, Marino e Isabel, que foram os maiores incentivadores de todo meu percurso acadêmico; meu noivo Stefan, por seu carinho, paciência e lealdade; minhas amigas Andressa Vitali e Lisiane Sachet, por terem sido companheiras incondicionais durante esses quatro anos, permanecendo ao meu lado nos momentos felizes e também difíceis enfrentados neste caminho. Ao meu orientador Marcelo Feldhaus, por ter dedicado seu tempo e seu conhecimento para ampliar meu olhar, auxiliando assim de forma direta nesta conquista. A professora e mestre Maria Helena Périco, por ter me apoiado e auxiliado com seus préstimos sempre que necessário. Aos alunos e professores da Escola Maria Garcia Pessi, que participaram da pesquisa com seriedade e colaboram para que ela se efetivasse. Aos alunos das instituições que lecionei e estagiei, por terem contribuído para o meu amadurecimento enquanto estudante, profissional e principalmente como ser humano. A todos estes anjos citados e também aos demais professores e colegas do curso de Artes Visuais, muito obrigada! 6 “O ensino da arte que desejamos é aquele que nos propomos construir.” Edite Volpato 7 RESUMO A presente pesquisa discorre sobre o olhar dos alunos e professores de diferentes áreas do conhecimento do ensino médio, da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, em Araranguá-SC, acerca da disciplina de Arte em uma perspectiva interdisciplinar. O objetivo é refletir sobre como eles percebem a contribuição desses conhecimentos nas diferentes disciplinas durante proposições interdisciplinares. Para alcançar o objetivo proposto a pesquisa se desenha por meio de uma abordagem qualitativa e descritiva, onde como instrumento de coleta de dados utilizo questionários com perguntas semi-estruturadas. Considerando a dimensão do problema proposto, faço um percurso bibliográfico, onde dialogo com diferentes autores e especialistas em assuntos como as perspectivas históricas e contemporâneas do ensino da arte, o currículo da disciplina no ensino médio, interdisciplinaridade na educação, planejamento, formação de professores, entre outros. Ao aprofundar-me dos dados teóricos da pesquisa, somados as análises dos questionários com professores e alunos da escola-campo, percebo que há a necessidade de uma atitude frente a fragmentação do currículo, de modo que os profissionais desta instituição dediquem tempo e espaço para discussões sobre planejamento coletivo e interdisciplinar como sendo uma alternativa para aproximar o aluno da totalidade do conhecimento, em um movimento de interação entre as disciplinas. Ainda diante dos dados coletados, entendo que o ensino da arte precisa ser percebido em suas múltiplas linguagens e possibilidades para que possa contribuir significativamente para a desconstrução do olhar fracionado e limitado para a arte nas dinâmicas interdisciplinares, vistas a favorecer o alargamento cultural dos alunos. Palavras-chave: Ensino da arte, Currículo, Planejamento e Interdisciplinaridade. 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACT – Admissão em Caráter Temporário DCNEM – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio E.E.B – Escola de Educação Básica ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PCNEM – Parâmetros Curriculares do Ensino Médio PCSC – Proposta Curricular de Santa Catarina PPP – Projeto Político Pedagógico UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10 2 ARTE E LINGUAGEM ............................................................................................ 13 2.1 Refletindo sobre arte.......................................................................................... 13 2.2 Arte e Educação ................................................................................................. 15 2.2.1 A Arte na educação escolar: perspectivas históricas e contemporâneas . 15 2.2.2 Arte no Ensino Médio: o currículo e as possibilidades de interação ......... 20 3 ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE ..................................................................... 25 3.1 Interdisciplinatidade na Educação: breves discussões teóricas................... 25 3.2 O ensino da arte e a Interdisciplinaridade ....................................................... 28 3.3 A Interdisciplinaridade no Ensino Médio: o que dizem a LDB, os PCNEM, DCNEM, PCN+ e a Proposta Curricular de Santa Catarina (PCSC)...................... 30 4 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, ENSINO DA ARTE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ........................................................................................................ 35 4.1 Planejamento Escolar: um processo contínuo e globalizante ....................... 35 4.2 Planejamento em Arte: construir para descontruir ......................................... 38 4.3 Formação Continuada: conceitos e relevância ............................................... 40 5 METODOLOGIA DA PESQUISA: CONSTRUINDO CAMINHOS .......................... 43 6 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS................................................................... 46 6.1 Questionário 01: o olhar dos professores ....................................................... 46 6.2 Questionário 02: dando voz aos alunos/sujeitos do processo ...................... 62 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 71 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 74 APÊNDICE A: Questionário aplicado com professores do ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi................................................................................ 79 APÊNDICE B: Questionário aplicado com alunos do ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi................................................................................ 84 ANEXO: Projeto “Capacitarte: uma proposta de capacitação para para professores do ensino médio por meio das múltiplas linguagens artísticas” ... 88 10 1 INTRODUÇÃO Ao longo de minha trajetória enquanto acadêmica no curso de licenciatura em Artes Visuais, tive a oportunidade de me debruçar em muitas leituras, reflexões e projetos educacionais envolvendo arte, educação e pesquisa, principalmente durante as enriquecedoras experiências vivenciadas nos estágios supervisionados de docência, que foram vivências que me possibilitaram observar nos sucessos e insucessos dos projetos desenvolvidos desde a educação infantil ao ensino médio as dificuldades e as necessidades de diferentes alunos com relação ao ensino da arte. Tais vivências me possibilitaram o transgredir da teoria à prática e serviram para fortificar a escolha que fiz a quatro anos atrás: ser professora de Arte. Em meio às experiências de estágio pude deparar-me com algumas situações conflitantes com relação ao olhar dos alunos e das escolas para a disciplina de Arte. Mas, destaco uma destas experiências como fundamental para o encontro da problemática a que me debruço nesta pesquisa, que partiu de um projeto interdisciplinar realizado com uma turma de ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, no município de Araranguá. Nele propus a interação entre a disciplina de Arte e Literatura, mas pude perceber a dificuldade dos alunos em relacionarem os conhecimentos entre ambas, ainda que, segundo os PCNEM, elas pertençam a mesma área de conhecimento, intitulada Linguagem, Códigos e suas Tecnologias. Esse fato me levou a observar que projetos de natureza interdisciplinar envolvendo principalmente a disciplina de Arte não pareciam familiares aos alunos, fazendo-me levantar algumas questões, como por exemplo: Será que os alunos apresentam dificuldade em perceber os conhecimentos de Arte em outras disciplinas porque não compreendem verdadeiramente o propósito da primeira? As parcerias interdisciplinares envolvendo a Arte não são comuns porque os professores de outras disciplinas não percebem a contribuição desta em projetos deste cunho? E foi com o objetivo de aprofundar e refletir sobre as questões apontadas que a presente pesquisa partiu da seguinte indagação: “Como os professores e alunos de Ensino Médio, da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, em Araranguá/SC, percebem a contribuição dos conhecimentos relativos à disciplina de Arte nas diferentes áreas do currículo escolar em abordagens interdisciplinares?”. 11 Para alcançar a dimensão da problemática, algumas questões norteiam esta pesquisa, como: Qual o conceito histórico de interdisciplinaridade? Qual a contribuição do ensino da arte para alunos do ensino médio? Qual o conceito de arte para os alunos e professores de diferentes áreas do currículo do ensino médio? A disciplina de Arte atualmente está sendo colocada no mesmo grau de relevância de outras disciplinas do currículo escolar? Para desenhar a pesquisa, com vistas a refletir sobre o problema apontado, dialogo com diferentes autores, discutindo assuntos que pressuponho serem essenciais para o melhor aprofundamento do tema, distribuídos em três momentos teóricos. No primeiro momento discorro sobre arte e linguagem, traçando primeiramente reflexões sobre arte, seguidas por perspectivas desta na educação, pontuando algumas questões históricas e contemporâneas do ensino da arte no Brasil, estabelecendo interfaces entre o antes e depois da LDB de 1996. No mesmo texto, apresento as múltiplas linguagens artísticas na escola, elencando as artes visuais, música, teatro, dança e artes audiovisuais como significativas dentro de um contexto escolar na contemporaneidade, discorrendo também sobre a importância da educação estética e onde a disciplina de Arte pode contribuir para a (re)significação do olhar sensível e crítico do aluno, com foco nos alunos do ensino médio. Costuro ainda informações sobre as especificidades do currículo de Arte deste nível, dialogando com a LDB, os PCNEM, entre outros documentos e autores. No segundo momento proponho uma discussão sobre a interdisciplinaridade na educação, onde primeiramente aponto algumas atribuições ao termo, apontando reflexões sobre disciplinaridade e fragmentação do currículo escolar. Em seguida, apresento uma discussão sobre a disciplina de Arte em uma perspectiva interdisciplinar, discorrendo sobre a contribuição dos conhecimentos desta em abordagens deste cunho. E para efeito de esclarecimento, pontuo alguns pressupostos de interdisciplinaridade trazidos pelos principais documentos que norteiam a educação, com foco ao ensino médio, como a LDB, o PCNEM e a PCSC. No terceiro momento discuto sobre planejamento e formação continuada, uma vez que percebo que para dar conta de contemplar a interdisciplinaridade primeiramente faz-se necessário (re)pensar os encaminhamentos metodológicos do planejamento educacional e também a relevância da formação permanente do professor, pois penso que uma está diretamente associada a outra. 12 Para amarrar as informações e reflexões trazidas no decorrer do referencial teórico, apresento os métodos práticos que me apropriei para a elaboração da pesquisa aplicada com os professores e alunos do ensino médio da Escola Maria Garcia Pessi, caracterizada como uma pesquisa de campo qualitativa e descritiva, através da aplicação de questionários e amparada na linha de pesquisa do Curso de Artes Visuais da UNESC, Educação e Arte. 13 2 ARTE E LINGUAGEM 2.1 Refletindo sobre arte Antes de iniciar qualquer tentativa de reflexão sobre a arte, cabe ressaltar que toda tentativa de busca por um conceito objetivo e definitivo para a mesma é um esforço em vão, ainda que amparado em conceituados autores. Encontrar uma definição suficientemente compatível e que dê conta de exprimir tudo aquilo que a arte simboliza é uma tarefa bastante improvável. O universo da arte é cercado por subjetividade e indefinições, o que impossibilita uma conceituação precisa e efetiva. Porém, ainda assim é inegável que durante as criações e manifestações expressivas de caráter estético, a arte consegue de forma única, singular e eficiente, agregar os aspectos racionais e criativos do ser humano em um único ato. O convívio com a arte é fundamental para o desenvolvimento pleno do indivíduo e pertence a sua história desde os primórdios da vida humana. Segundo Bosi (2000), desde a Pré-História o homem busca na arte uma maneira de relacionar-se com o universo e consigo mesmo. Os registros imagéticos encontrados nas paredes das cavernas comprovam essa incessante busca, onde além do seu caráter histórico ainda reforçam uma visão de arte comunicativa e provedora de transformações na realidade. Para Coli (1990) a arte se apresenta representativa desde a infância, facilmente perceptível na desenvoltura das crianças ao cantar, dançar e desenhar de uma maneira particularmente natural. Neste sentido, observa-se que por meio da arte, em quaisquer que sejam as suas manifestações artísticas (visuais, musicais ou teatrais), o ser humano encontra uma forma de comunicação e expressão nos mais diferentes meios e recursos, fazendo uso de símbolos e códigos. A arte surge como a concretização de um pensamento carregado de emoções e experiências de caráter estético em suas entrelinhas. Para Cantele (1999), a emoção é o conteúdo transmitido pela matéria – que neste contexto é meio ou recurso para alcançar o feito, seja pelo uso de tinta, som ou outros – e que se 14 propaga para além da própria matéria e do corpo humano, pois a arte tem o poder de exprimir o inteligível no sensível, sugerindo interpretações, estimulando a imaginação e a sensibilidade do expectador. Nas produções artísticas existe uma edificação de diferentes valores culturais, sociais e particulares produzidos por artistas que buscam dar vida aos conceitos, sentimentos, emoções e olhares em torno de suas realidades. Que a arte possui inúmeras possibilidades de reflexão isso é notório, porém identificar uma produção artística em meio a tantas criações que se encontram por ai a afora é uma tarefa bastante complexa. Neste sentido, Coli (1990) diz que a nossa cultura possui seus próprios instrumentos para decidir o que é ou não uma obra de arte, como por exemplo, o discurso sobre a obra, proferido por autoridades reconhecidas e competentes na área. Parte-se do princípio que a qualificação de arte feita por historiadores, críticos, peritos, entre outros, é incontestável, pois se pressupõe que estes entendem mais do que ninguém sobre o assunto. Outro recurso para identificar uma obra de arte, ainda parafraseando o mesmo autor, é identificá-la pelo local em que está inserida, se em uma exposição de arte, museu ou outro local específico. Porém, quando o assunto é arte, nem sempre as coisas são assim tão objetivas e práticas, muito do que se fala sobre ela é relativo e por vezes até polêmico. A classificação e o reconhecimento do objeto de arte dependerão muito da época, ambiente e cultura pertencente a cada sujeito. De acordo com os pressupostos trazidos pelo autor citado anteriormente o estatuto e arte “não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura, dignificando os objetos sobre os quais ele recai.” (COLI,1990, p.7). Seguindo qualquer uma das diferentes vertentes de reflexão sobre arte, seja objetiva ou subjetivamente, o fato é que independente da cultura que se faça parte é inegável que em qualquer canto do planeta a arte tentará exprimir tudo aquilo que há de melhor e/ou pior em uma sociedade, retratada sob a perspectiva de um artista e vislumbrada pelo olhar coletivo. Neste sentindo, comungo com o pensamento de Pereira, onde quando afirma que: 15 A arte cria sentidos para ler o cotidiano, apresenta maneiras de superar o comum e aprofundar-se nas idéias sobre o convívio social. Ela é uma possibilidade de criar sentidos ao já posto, de transcender a realidade, abrindo frestas para imaginação criadora. (2008 p.8-9). A arte tem muitas funções na sociedade, dentre elas a de integrar o homem a sua natureza, capacitá-lo a estruturar sua personalidade e a intervir na sua realidade, aumentando assim o seu horizonte e superando as limitações do conformismo. Para construir estes conceitos de arte no ambiente escolar é necessário pensá-la como um instrumento a favor da cultura, instrumento este fundamental não apenas dentro, como essencialmente fora da sala de aula. Comungando com Barbosa: Arte não é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário e é conteúdo. Como conteúdo, arte representa o melhor trabalho do ser humano. (1991, p.4). 2.2 Arte e Educação 2.2.1 A arte na educação escolar: perspectivas históricas e contemporâneas Sabendo que um dos maiores objetivos da educação é favorecer o desenvolvimento intelectual e autônomo do sujeito, de forma a contribuir para o seu aperfeiçoamento e conseqüentemente crescimento pessoal, a arte pode se inserir – e insere-se – neste contexto com total eficácia, pois não visa um ensinoaprendizagem norteado por modelos prontos e fórmulas concretas que condicionam a intelectualidade do aluno e o bloqueio do seu imaginário criativo. Pelo contrário, o ensino-aprendizagem em Arte vislumbra mais do que conteúdos fragmentados, prevê essencialmente uma vivência integradora entre sujeito e sociedade, 16 auxiliando-o a compreender e modificar a sua realidade, bem como desenvolver a sua autonomia intelectual através destas competências. Vislumbrando a arte na educação sob um olhar sensível e “poético”, vale dizer que o contato com ela, seja em um espaço formal ou não, auxilia o educando a libertar as algemas de sua alma, da cadeia chamada por Cury (2007) de “cárcere da emoção”, aquela que aprisiona os sentimentos e emoções mais intensas. Nesta perspectiva, a vivência com a arte pode proporcionar a liberdade do sujeito, uma vez que esta é o alicerce para a imaginação expressiva e criadora. Mas, como o assunto deste tópico é a arte na educação escolar, seria limitado e incompatível com toda relevância circundante seguir apenas na perspectiva de ensino da arte como expressão e criatividade, já que estas não conseguem sozinhas exprimirem a significância desta área tão complexa. Tampouco seria adequado pensá-lo, contrapondo com a perspectiva anterior, em um ensino de arte como técnica meramente funcional e sem conexão com a realidade do educando. A verdade é que para pensar em ensino da arte, o ideal seria levar em conta todos os aspectos que contribuem para o desenvolvimento estético, sensível e também cognitivo do aluno. Para refletir sobre o ensino-aprendizagem de arte sob outras vertentes, sem valorizar apenas um ponto de vista, é importante rever algumas questões histórico-culturais relativas a sua prática desde o seu surgimento na educação formal, no sentido de tentar dar corpo ao entendimento da Arte como área de conhecimento, fruição e reflexão, sob uma concepção contemporânea, que vem sendo apontada em diferentes estudos como a orientação mais adequada para o desenvolvimento do ensino da arte na educação escolar. A trajetória, do ensino da arte (formal) que se inscreve no Brasil, segundo Barbosa (1990), é oriunda de 1816, com a criação da Academia de Belas Artes, trazida por dom João VI. A academia possuía um formato “elitizado”, uma vez que era formada por grandes nomes da arte da Europa, artistas e professores de orientação neoclássica, que introduziram um jeito diferente de ensinar arte daquele que vinha sendo aplicado nos espaços informais, voltados para o artesanato. Em contrapartida, o ensino era caracterizado pelos exercícios de reproduções de desenhos, uso de modelos vivos para cópia, enfim, exercícios que não agregavam o valor real da arte. 17 Desde então, a história do ensino da arte que vem sendo escrita é marcada por uma série de interferências sócio-culturais, artísticas, tendências pedagógicas e mobilizações de profissionais da área. Estas variantes têm moldado este ensino e motivado, no campo da Arte-Educação (epistemologia da arte), diferentes estudos e teorias, no intuito de justificar e renovar as concepções de ensino, prática e aprendizagem desta área. Considerando que o meu objetivo com esta pesquisa não é o de aprofundamento de questões teóricas sobre tendências e movimentos pedagógicos na educação, farei apenas alguns pequenos recortes históricos relativos ao ensino da arte no Brasil, que imagino serem relevantes para um entendimento mais abrangente das diferentes concepções que o circundam. Segundo Ferraz e Fusari: As práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de arte, também artísticas e estéticas. Quando caracterizadas em seus diferentes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida. (1999, p.27). O fato é que, nas entrelinhas de algumas práticas metodológicas, didáticas e conceituais, ainda escondem-se tratamentos ultrapassados de ensino da arte oriundos de concepções enraizadas historicamente. Um exemplo é a pertinência do desenho-livre, da pintura de figuras mimeografadas ou xerocadas que até hoje aparecem em algumas práticas de professores desta área. Sobre as diferentes concepções de ensino da arte que se construíram ao longo de sua história, três delas foram essencialmente importantes e até hoje justificáveis em algumas práticas em sala de aula: a visão de arte como técnica, a visão de arte como expressão e a visão de arte como atividade1, respectivamente. A não obrigatoriedade do ensino da arte no currículo escolar, prevista pelas leis anteriores a LDB de 1996, levou os arte/educadores de todo país a mobilizarem-se e lutarem politicamente para que este ensino fosse inserido nas escolas. O intuito era que a arte fosse percebida como campo de conhecimento específico, com conteúdos, objetivos e métodos avaliativos próprios, não como mera atividade, até então compreendida pelas leis vigentes. 1 Maiores explicações sobre estas tendências podem ser obtidas nos estudos da autora Ana Mae Barbosa, mais precisamente nos livros Arte-Educação no Brasil: Realidade hoje e expectativas futuras (1990) e Tópicos utópicos (1998). 18 A luta dos arte/educadores vislumbrava além da obrigatoriedade do ensino da arte em todo território nacional, também pretendia conscientizar e organizar os profissionais do ensino formal desta área para discutir sobre novas tendências para o ensino desta no âmbito escolar. Foi então que, em 20 de dezembro de 1996, após a promulgação da nova LDB, nº 9.394, o ensino da arte passou a ser componente obrigatório em todos os níveis da educação básica, como forma de “promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.2 Em conseqüência da implementação desta Lei, o Ministério da Educação e Desporto (MEC), reformulou os Parâmetros Curriculares Nacionais. E em 1998, passa a entender que: [...] é característica desse novo marco curricular a reivindicação de identificar a área por Arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área com conteúdos próprios ligados a cultura artísticas, e não apenas como atividade.(BRASIL,1998, p.30). Ainda segundo o mesmo documento: [...] a atual legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica. No ensino fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e trabalho com as várias linguagens e visa á formação artística e estética dos alunos. A área de Arte, assim constituída, refere-se às linguagens artísticas, como as Artes Visuais, a Música, o teatro e a Dança. (p.19). A partir da trajetória brevemente explicitada, a arte chega aos dias atuais como uma área de conhecimento em permanente evolução, que vem sendo estudada por muitas vertentes teóricas, mas ainda abarcada por diferentes concepções de ensino, uma vez que estas não estão restritas aos períodos sóciohistóricos, nem surgiram de forma isolada na prática educativa de alguns professores. Sabe-se que na abordagem metodológica de um mesmo professor é possível perceber a existência de diferentes concepções de arte, muitas até divergentes. O ensino da arte atualmente visa apresentar aos educandos diferentes possibilidades de aperfeiçoamento de saberes teóricos e práticos sobre arte, que 2 A referida Lei, no que se refere à Arte, teve seu inciso alterado em 13 julho de 2010, pela Lei n° 12.387 e acrescenta a antiga redação as “expressões regionais” relacionadas ao ensino da arte. 19 surgem durante a proposição das múltiplas linguagens artísticas (artes visuais, teatro, música, artes audiovisuais e a dança). Por meio destas linguagens a disciplina de Arte busca a aproximação do estudante com a sua própria natureza, considerando a sua identidade pessoal, sua história e sua cultura, fazendo com que ele compreenda como estes elementos podem se integrar na sociedade. Leitte (2008, apud MARTINS) observa que por meio das linguagens artísticas de determinados povos, culturas e épocas é possível conhecer muito sobre seus pensamentos e sentimento. Nesta perspectiva, entender, interpretar e atribuir sentido as linguagens se faz tão necessário, pois só se aprende a operar os seus códigos apropriando-se adequadamente deles. A autora ainda ressalta que: Da mesma maneira que na escola existe espaço destinado à alfabetização na linguagem das palavras e dos textos orais e escritos, é preciso haver espaço para a formação estética nas linguagens da arte e das mídias como forma de compreensão do mundo, das culturas e de si próprio. (2008, p.45). A disciplina de Arte, à luz das múltiplas linguagens, destaca-se nos dias como uma área de conhecimento amplo, que propicia aos alunos o contato com as especificidades do universo da arte e das suas diversas manifestações. As linguagens artísticas possuem formas particulares e diferenciadas de dar sentido ao mundo em concretude, o contato com elas faz com que os alunos criem e recriem conceitos, além de oportunizá-los uma vivência significativa de dimensão simbólica e estética. A educação estética é um dos fatores importantes para discutir a relevância do ensino da arte na contemporaneidade. Sobretudo porque é preciso atentar-se para as novas demandas sócio-culturais, cada vez mais diversificadas e cercadas por múltiplos apelos midiáticos. Considerando o crescente avanço das novas tecnologias e meios de comunicação, como da internet, fotografia, televisão, cinema, jornais, revistas, entre outras, uma nova realidade se instaura nas escolas. Deste modo, há a necessidade de práticas que dialoguem com esta nova realidade, a fim de aproximar o ensino-aprendizagem do cotidiano dos alunos. Neste sentido, é importante que a escola preocupe-se também com a educação do olhar do aluno, não apenas com a leitura e escrita das palavras. Nesta ótica, a disciplina de Arte pode proporcionar, através de suas múltiplas facetas, a busca da (re)construção e (re)significação do olhar sensível do 20 aluno, como um eixo de ligação entre a aprendizagem artística e a experiência estética, comungando com Buoro: Se a arte é produção sensível, se é relação de sensibilidade com a existência e com experiências humanas capaz de gerar um conhecimento de natureza diverso daquele que a ciência propõe, é na valorização dessa sensibilidade, na tentativa de desenvolvê-la no mundo e para o mundo desenvolvê-la, que poderemos contribuir de forma inegável com um projeto educacional no qual o ensino da arte desempenhe um papel preponderante e não apenas participe como coadjuvante. (2002, p.41). A pertinência das discussões sobre estética no ensino da arte, deve se fortificar no ensino médio, uma vez que nesta fase o aluno sente ainda mais forte a presença dos diferentes vetores influências da cultura visual e estética no seu dia a dia. Assim, urge a necessidade de conhecer este aluno e sua realidade sóciocultural na atualidade, para que se possa compreender a maneira como ele interpreta e absorve as informações circunscritas em forma e conteúdo. 2.2.2 A Arte no Ensino Médio: do currículo às possibilidades de integração Para pensar em currículo no ensino médio, seja de Arte ou de qualquer outra disciplina do âmbito escolar, faz-se necessário primeiramente esclarecer algumas questões referentes ao conceito do termo “currículo” e fundamentalmente levantar, mesmo que de forma sucinta, as reformas curriculares no ensino médio a partir da Lei 9.394/96 e das DCNEM. A conceituação para o termo “currículo” é tida por muitos como um conjunto de conhecimentos e experiências de aprendizagem. No entanto, a atribuição feita pelo documento que orienta a educação pública estadual3, contempla este termo sob uma perspectiva mais contemporânea, fazendo vistas a uma nova abordagem, esclarecendo que no âmbito da educação: O currículo vai além das listagens de disciplinas da matriz curricular, do saber “atrás das grades”, envolvendo todas as atividades, conhecimentos e relações pedagógicas, sociais, organizacionais e administrativas vivenciadas na escola. O currículo numa perspectiva crítica, torna-se um 3 Orientações para a Educação Básica e Profissional da Rede Pública Estadual. 21 instrumento de construção e de reconstrução do conhecimento. (SANTA CATARINA, 2005, p.62). Ainda assim, cabe ressaltar que para que o currículo possa ser oferecido aos alunos, antes precisa passar por várias instâncias de elaboração. E é fora da escola que, com base nas prioridades estabelecidas para a política educacional, são elaboradas leis, diretrizes, orientações e indicações curriculares, que objetivam auxiliar as escolas na organização e construção do seu projeto político pedagógico. Neste sentido, sabe-se que a trajetória histórica do currículo escolar que se conhece é reflexo de muitas questões sociais e econômicas que marcaram uma determinada época – o que não se difere nos dias atuais, umas vez que o currículo na contemporaneidade também precisa dialogar com a realidade sócio-cultural. A partir desta perspectiva, vistas a atender a nova demanda contemporânea, reformas no currículo do ensino médio foram providenciadas, fundamentalmente à partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996. No que tange o currículo do ensino médio, esta Lei se contrapôs as antigas leis, que davam ênfase a preparação técnico/profissional do jovem (LDB nº 5692/71 e 7044/82). Nesta, por sua vez, estabelece no 26º artigo, que: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. A mesma lei ainda esclarece que o ensino médio deve representar “a consolidação e o aprimoramento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o progressimento de estudos.” (artigo 35, inciso I). Compreende-se que a partir de sua implementação houve uma nova concepção de ensino médio, preocupada em resgatar essencialmente a natureza cultural deste nível de ensino, articulando formação geral e científica para alcançar “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.” (Lei 9.394/96, artigo 35, inciso III). Em detrimento desta Lei e tendo em vista a nova realidade, com os avanços crescentes da tecnologia da década de 90, o MEC divulgou os Parâmetros 22 Curriculares do Ensino Médio (PCNEM), com o objetivo de difundir os princípios desta reforma. Para tanto, estabeleceu a divisão do conhecimento escolar em áreas, entendendo “os conhecimentos cada vez mais imbricados aos conhecedores, seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social.” (BRASIL, 2000a, p.18). Esta divisão foi instituída em: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias. O documento parte do princípio que as disciplinas pertencentes a cada área destacada se comunicam em sua base conceitual, possibilitando nesta ótica uma perspectiva interdisciplinar. A disciplina de Arte, segundo o PCNEM pertence à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, assim como a Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física e Informática, sendo que ao compor esta área “a Arte é considerada particularmente pelos seus aspectos estéticos e comunicacionais.” (BRASIL, 2000a, p.48). Para o mesmo documento, a arte no ensino médio apresenta-se como um conhecimento significativo no processo de fortalecimento das vivências sensíveis e inventivas, adquiridas pelos alunos ao longo de sua história, que capacita-nos: [...] a humanizarem-se melhor como cidadãos inteligentes, sensíveis, estéticos, reflexivos, criativos e responsáveis, no coletivo, por melhores qualidades culturais na vida dos grupos e das cidades, com ética e respeito pela diversidade. (BRASIL, 2000a, p.50). Nesta mesma perspectiva, nos PCN+4, as autoras Maria Heloísa Corrêa de Toledo Ferraz e Rosa Iavelberg, ao falar da relevância da Arte, reforçam que: É papel do ensino médio levar os alunos a aperfeiçoarem seus conhecimentos, inclusive os estéticos, desenvolvidos nas etapas anteriores. Por isso, é importante frisar o valor da continuidade da aprendizagem em arte nessa etapa final da escolaridade básica, para que adolescentes, jovens e adultos possam apropriar-se, cada vez mais, de saberes relativos à produção artística e à apreciação estética. Com a vivência em arte e a extensão dos conhecimentos na disciplina, os estudantes terão condições de prosseguir interessados em arte após a conclusão de sua formação escolar básica. (BRASIL, 2002, p.179). 4 Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. 23 Para o documento intitulado Diretrizes 35, que contém a proposição de conceitos essenciais para serem apropriados pelos alunos em cada disciplina ao longo das séries e etapas da Educação Básica da Rede Pública de Santa Catarina, a Arte é geradora de conhecimento e possuiu campo teórico próprio nas representações visuais, musicais e midiáticas, que são abarcadas por signos, símbolos e códigos fundadores do pensamento artístico e da apreciação estética, fundamentais na construção de um “cidadão criativo, reflexivo, sensível, ‘ousado’.” (SANTA CATARINA, 2001, p.85). Para o mesmo documento, as linguagens da arte no ensino médio são formas de expressão e comunicação que interagem dinamicamente com as linguagens utilizadas em outras áreas do conhecimento, ampliando o repertório cognitivo, crítico, artístico e afetivo do aluno. A partir deste contexto, percebe-se que o ensino da arte, segundo as Diretrizes catarinenses, é pensado sob uma perspectiva de interação com as demais áreas do conhecimento. De modo que se aproxima dos pressupostos da abordagem interdisciplinar, bastante comum em outros documentos nacionais relacionados à educação, como a LDB, DCNEM, PCNEM, entre outros. Para estes, à Arte no ensino médio é percebida sob um olhar integrador, seja durante a interação com as próprias linguagens da arte, no diálogo com as outras disciplinas da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, ou até mesmo com na interface com as demais disciplinas curriculares. No entanto, os PCN+ esclarecem que esta articulação: [...] não significa a supressão de conteúdos específicos de artes visuais, dança, música, teatro e artes audiovisuais. Significa, sim, a busca de pontos de interseção e, por vezes, a ênfase na separação entre as áreas e disciplinas, de modo a garantir que à classificação dos conteúdos de ensino de cada disciplina corresponda também a possível articulação entre conteúdos de diferentes disciplinas [...] Existem, portanto, competências e habilidades específicas que dizem respeito ao conhecimento da arte e outras, que podem ser comuns a várias disciplinas ou áreas de conhecimento ou a questões sociais da atualidade. (BRASIL, 2002, p.182). Embora os documentos citados mencionem a interdisciplinaridade no currículo do ensino médio, principalmente nas orientações pedagógicas para o encaminhamento de práticas significativas em Arte, a autora Edite Volpato, em seu 5 Caderno temático publicado pela Secretaria da Educação Pública de Santa Catarina em 2001. 24 texto: “Arte no Ensino Médio: Especificidades e Currículo” atenta para os problemas ainda pertinentes a todos os níveis educacionais “tanto com relação a estrutura curricular e a falta de interação disciplinar no ensino médio quanto especificamente entre a área das linguagens, em que está inserido o ensino da Arte.” (2005, p.8081). Para a autora faz-se necessário refletir sobre a dicotomia entre os documentos e as práticas docentes, uma vez que é perceptível a ausência de mudanças na organização dos sistemas educacionais. Em meio a essa realidade, torna-se necessário repensar a organização curricular fragmentada nas escolas, reavaliar as possibilidades de construção de um currículo que envolva a interação entre as disciplinas, vistas a superação do conhecimento fracionado. Além do mais, faz-se relevante que na construção do Projeto Político Pedagógico a escola leve em consideração os saberes e a cultura condizente com cada sua realidade: alunos, professores e de toda comunidade. Enfim, um currículo que dialogue com a realidade e que acompanhe as constantes transformações e mudanças da sociedade contemporânea. 25 3 ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE No presente capítulo discorrei sobre a interdisciplinaridade sob um enfoque fundamentalmente pedagógico, considerando os estudos no campo da educação e vislumbrando-a como um movimento de articulação no processo de ensino- aprendizagem. Porém, cabe ressaltar que este enfoque não é único, nem tampouco prevê uma concepção estanque, tendo em vista que a interdisciplinaridade também é muito discutida em outros campos do conhecimento e abarcada por diversas perspectivas. 3.1 Interdisciplinaridade na Educação: breves discussões teóricas Para efeito de discussão sobre interdisciplinaridade, é importante primeiramente refletir sobre o termo que a designa. Deste modo, Fazenda (2008, p.18-19) esclarece: [...] A palavra interdisciplinaridade evoca a “disciplina” como um Sistema constituído ou por constituir, e a interdisciplinaridade sugere um conjunto de relações entre disciplinas abertas sempre a novas relações que se vai descobrindo. Interdisciplinar é toda interação existente dentre duas ou mais disciplinas no âmbito do conhecimento, dos métodos e da aprendizagem das mesmas. Interdisciplinaridade é o conjunto das interações existentes e possíveis entre as disciplinas nos âmbitos indicados. Lenoir (In: FAZENDA, 2001) aponta que as disciplinas são divididas em duas vertentes diferentes: as disciplinas escolares e as científicas. Portanto, faz-se necessário diferenciá-las para que um entendimento sobre a interdisciplinaridade na educação se construa de forma mais consciente. Para isso, o autor esclarece: [...] a interdisciplinaridade escolar trata das “matérias escolares”, não de disciplinas científicas. Mesmo se as matérias escolares tomam certos empréstimos às disciplinas científicas, não constituem cópias de maneira alguma, nem tampouco resultam de uma simples transposição de saberes eruditos. (p.47). 26 A interdisciplinaridade no campo educativo vem sendo discutida por vários autores, principalmente por aqueles que pesquisam as teorias curriculares e as epistemologias pedagógicas. Para estes, a interdisciplinaridade é uma forma de articulação no processo de ensino e de aprendizagem, vista como uma atitude (FAZENDA, 2002), um novo jeito de repensar a educação (MORIN, 2005), um pressuposto de organização curricular (JAPIASSU, 1976), um fundamento para as opções metodológicas do ensinar (GADOTTI, 2004) e ainda, um elemento orientador na formação de profissionais da educação (PIMENTA, 2002). De modo geral, embora não exista uma definição concreta para o tema – já que o mesmo permanece em constante construção – é perceptível nos estudos de muitos teóricos um consenso quanto a finalidade da interdisciplinaridade na educação, onde concordam tratar-se de uma busca pela desfragmentação dos processos de produção e socialização do conhecimento. Em uma perspectiva contemporânea, a interdisciplinaridade pode ser entendida como um movimento de interação no processo de ensino e aprendizagem, que visa romper com a postura curricular cartesiana e mecanicista adotada e até então enraizada nas escolas de ensino formal e superior. O objetivo é a reestruturação das práticas pedagógicas atuais, através de uma educação mais integradora, dialética e totalizadora. Popularmente concebida como interação de disciplinas ou áreas do saber, a interdisciplinaridade muitas vezes se confunde com outras abordagens que também lidam com a questão da disciplinaridade na educação, denominadas: multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdiciplinaridade. De modo geral, o que as difere é justamente o nível de interação que estabelecem com as disciplinas. Inicialmente, o termo multidisciplinaridade, segundo Japiassu (1976), se caracteriza por ser uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum. Na abordagem multidisciplinar são realizados trabalhos com muitas disciplinas, no entanto não há uma integração real entre elas, já que não conseguem romper com as fronteiras entre as áreas do conhecimento (RICHTER, In: BARBOSA, 2003), pois ainda preservam características fragmentadas, sem que haja nenhum tipo de cooperação entre as disciplinas, cada professor desenvolve a sua prática à sua maneira habitual, sem parcerias. A multidisciplinaridade, muitas vezes é vista como sinônimo da pluridisciplinaridade, porém alguns autores, como Japiassú (1976), ressaltam que 27 ambas diferenciam-se fundamentalmente no grau de integração e cooperação que estabelecem entre as disciplinas. Embora também sustentem as fronteiras disciplinares, as abordagens pluridisciplinares, ao contrário das multidisciplinares, reconhecem a existência de alguma cooperação e ênfase na relação entre os conhecimentos. Por último, a transdisciplinaridade, é compreendida como uma espécie de coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas e que busca, segundo Richter, “um movimento de través, de perpasse entre as diferentes áreas do conhecimento.” (In: Barbosa, 2003, p.86). Em uma abordagem transdisciplinar há o uso de noções, métodos, competências e abordagens próprios de uma disciplina dentro da estrutura de uma outra, sob um novo contexto. Nesse caso, existem alguns assuntos, temáticas ou conceitos que usualmente são utilizados nesta perspectiva, chamados temas transversais.6 É importante ressaltar que os conhecimentos disciplinares são fundamentais para as práticas multidisciplinares, pluridisciplinares, interdisciplinares e até transdisciplinares. Deste modo, não faz sentido desprezar esses conhecimentos, mas sim é importante avançar na direção de ações que permitam articulá-los, gerando compreensões em patamares mais elevados. No caso da interdisciplinaridade, em especial, Gadotti (2004), ressalta que a mesma propõe a construção de um conhecimento ainda mais abrangente, que ultrapasse as fronteiras das disciplinas, mas sem desconsiderá-las. Nesta perspectiva, para superar as limitações da disciplinaridade, transgredindo-as para a interdisciplinaridade, conclui-se que apenas integrar conteúdos não é suficiente. Deste modo, Josgrilbert sustenta que: [...] a integração deve ocorrer como produto de uma aprendizagem completa, mais com pessoas do que com conteúdos, como um processo interno de compreensão do que ocorre no aprendiz, como uma abertura para novas possibilidades. (In: FAZENDA, 2002, p. 85). A partir da fala da autora, fica claro que para que a integração aconteça de fato, é essencial o comprometimento das pessoas envolvidas neste trabalho. No 6 Temas transversais são um conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria particular, pode se considerar que são comuns a todas, de forma que, mais do que criar novas disciplinas, acha-se conveniente que seu tratamento seja transversal num currículo global da escola. (YUS, 1998, p. 17) 28 entanto, Luck (2001) ressalta que como toda ação a que não se está habituado, trabalhar nesta perspectiva envolve uma sobrecarga de trabalho e isso gera insegurança diante do novo, para os professores “é certamente um grande desafio.” (p. 68). Em uma abordagem interdisciplinar é necessário, antes de tudo, a existência de iniciativas por parte dos educadores, do que Ivani Fazenda chama de mudança de atitude, onde “a atitude do professor é de um mediador momentâneo, colocando em prática as condições didáticas favoráveis às orientações de integração.” (2001, p.54). O professor precisa desenvolver-se como um profissional de visão integradora da realidade, que compreenda que por mais profundo que seja o seu entendimento em sua área de formação, isso não é o suficiente para dar conta de todo o processo de ensino. Para isso, ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações conceituais que sua área de formação estabelece com as outras disciplinas e ter o entendimento que com essa atitude o conhecimento da disciplina que leciona não deixará de ter seu caráter de especialidade, sobretudo quando profundo, sistemático, analítico, meticulosamente reconstruído; todavia, ao educador caberá o papel de reconstruí-lo dialeticamente na relação com seus alunos por meio de métodos e processos verdadeiramente produtivos. A temática da interdisciplinaridade, por mais que apareça nos discursos das universidades e escolas durante a elaboração dos planos de ensino ou nas discussões sobre PPP, ainda assim continua a representar um desafio para a superação do referencial dicotomizador e parcelado da construção e socialização do conhecimento. 3.2 O ensino da arte e a Interdisciplinaridade Por sua natureza reflexiva diante da questão do conhecimento, que propõe diferentes formas de ler o cotidiano, pode-se dizer que a arte caminha na interdisciplinaridade. Ambas estão intimamente ligadas, uma vez que a arte auxilia na integração do homem com o seu universo. 29 Analisando esta relação (arte e interdisciplinaridade) no âmbito escolar, percebe-se que a disciplina de Arte pode ser muito significativa no processo de desvelamento das fronteiras entre as áreas do conhecimento. O espaço da arte-educação é essencial à educação numa dimensão muito ampla, em todos os seus níveis e formas de ensino. Não é um campo de atividades, conteúdos e pesquisa de pouco significado. Muito menos está voltado apenas para atividades artísticas. É um território que pede presença de muitos, tem sentido profundo, desempenha papel integrador e plural e interdisciplinar no processo formal da educação. Sob esse ponto de vista, a arte-educação poderia exercer um papel de agente transformador na escola e na sociedade. (FUSARI e FERRAZ, 1993, apud VARELA, p.221). Neste contexto, a Arte é uma disciplina altamente complexa e amplamente integradora para limitar-se a abordagens fechadas. Deste modo, é importante que o arte/educador mantenha uma postura interdisciplinar no ato de ensinar, mesmo convivendo com a realidade do currículo fragmentado. Se o professor não assumir a interdisciplinaridade como primordial para um trabalho de qualidade, obviamente não conseguirá validá-lo na sua prática docente, deixando uma lacuna entre a teoria e a prática, entre o contextualizar e o fazer. Trabalhar interdisciplinarmente requer esforço e mudança de atitudes. Para isso é necessário um trabalho de parcerias e nesta ótica Ferreira (2001), refere-se a interdisciplinaridade como uma sinfonia, com seus instrumentos, público e maestros, sugerindo que para sua execução, além da integração entre todos os elementos, é preciso harmonia entre eles, para que assim se construa o entendimento do público. Seguindo a perspectiva da autora e traduzindo-a para uma linguagem prática, dentro do contexto escolar, seria como dizer que o professor é o maestro desta sinfonia, aquele que constrói a rede de disciplinas necessárias para a execução do trabalho interdisciplinar. Para Barbosa (2003) o professor de Arte tem papel importante neste contexto, mas ressalta que o professor desta disciplina precisa atentar-se ao fato de que não se faz interdisciplinaridade usando as habilidades do professor de Arte em festividades, ilustrando textos de outras disciplinas, ou ensinando formas matemáticas via origami, pois “Arte tem conteúdo, assim como todas as outras disciplinas, e esse conteúdo deve ser respeitado e estimulado tanto quanto os outros.” (In: Barbosa, p.109-110). 30 Neste sentido, uma aborbagem contextualizada entre a Arte e as outras as áreas do conhecimento pode ser bastante significativa se bem elaborada, pois sabe-se que “não se trata de tomar as outras disciplinas e integrá-las às artes, nem colocar a Arte a serviço das outras disciplinas” (Richter, 2003, p.86), mas sim de integrá-las em movimento de transgreção dos moldes fragmentados da educação atual. Os documentos oficiais da educação nacional a algum tempo vem demonstrando interesse pelo inter-relacionamento das áreas do conhecimento (multiculturalidade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade), principalmente no que se refere ao ensino médio. Portanto, faz-se necessário conhecer melhor o que dizem esses documentos, para então analisar a relação existente entre eles e as práticas pedagógicas, e por fim refletir sobre as possibilidades de abordagens integradas e interdisciplinares dentro do contexto real da educação atual. 3.3 A Interdisciplinaridade no Ensino Médio: o que dizem a LDB, os PCNEM, DCNEM, PCN+ e a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (PCSC) Um dos documentos oficiais da educação, que visa nortear as práticas pedagógicas no âmbito escolar, em todos os níveis da educação formal, são os chamados Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Porém, para se pensar em um currículo que atendesse as necessidades especificas de cada nível de ensino, o Ministério da Educação (MEC) subdividiu-os em PCN Ensino Fundamental I (1ª a 4ª), PCN Ensino Fundamental II (5ª a 8ª) e por último os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio (PCNEM). Os PCNEM foram elaborados com o objetivo de apresentar aos professores do Ensino Médio, de todo o país, uma proposta de currículo que permita a concretização dos ideais de educação e dos princípios pedagógicos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9.394/96) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM). Estes parâmetros “cumprem o duplo papel de difundir os princípios da reforma curricular e orientar o professor, na busca de novas abordagens e metodologias” (BRASIL, 2000b, p. 5), tendo como 31 princípios básicos de fundamentação a Interdisciplinaridade e a Contextualização do conhecimento, com objetivo de “dar significado ao conhecimento escolar, mediante a contextualização; evitar a compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade; e incentivar o raciocínio e a capacidade de aprender” (Idem, p. 5). Os PCNEM propõem a organização curricular das disciplinas em três áreas do conhecimento, conforme já mencionado no primeiro capítulo desta pesquisa. O documento salienta que tais áreas possuem bases comuns e compartilham objetos de estudo, deste modo “mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade.” (BRASIL, 2000b, p. 20). A organização curricular proposta pelo PCNEM representa uma tentativa de partilha, de comunhão e conseqüentemente, indicam para a interdisciplinaridade nas práticas pedagógicas. Neste sentido, refere-se a ela como sendo: [...] um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. (BRASIL, 2000a, p. 88 e 89, grifo do autor). Em certos trechos dos PCNEM, é possível encontrar outros indicativos para a interdisciplinaridade, como por exemplo: [...] a interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma abordagem relacional, em que se propõe que, por meio da prática escolar, sejam estabelecidas interconexões e passagens entre os conhecimentos através de relações de complementaridade, convergência ou divergência. (BRASIL, 2000a, p. 36). Uma vez que: A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição e, ao mesmo tempo, evitar a diluição em generalidades. De fato, será na possibilidade de relacionar as disciplinas em atividades ou projetos de estudo, pesquisa e ação, que a interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagógica e didática adequada aos objetivos do ensino médio. (BRASIL, 2000a, p. 88). Como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de Nº 9.394/96 em seus artigos 26º, 35º e 36º, mudanças na concepção de ensino médio foram 32 estabelecidas. Para tanto, a Resolução da Câmara de Educação Básica (CEB), nº 3, de 26 de junho de1998 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Tal resolução adotou três princípios pedagógicos como estruturadores do Ensino Médio, conforme o artigo 6°, são os chamados princípios da Diversidade e Autonomia, da Interdisciplinaridade e da Contextualização (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1998). Sobre a observância da interdisciplinaridade na escola, o artigo 8º, destas DCNEM, é inteiramente dedicado ao assunto e traz algumas orientações sobre o seu fundamento, em seis incisos. Dentre eles, trago como destaque o primeiro: I - A Interdisciplinaridade, nas suas mais variadas formas, partirá do princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de negação, de complementação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos. (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1998, p. 21). Posterior aos PCNEM e as DCNEM, o MEC publicou uma série de três livros intitulados PCN+: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, dedicados a cada área do conhecimento. Obviamente este documento preserva a mesma concepção predominante de interdisciplinaridade já mencionada no PCNEM. Porém, por se tratar de um documento complementar, oferece subsídios adicionais para a ampliação do olhar a cerca do assunto. Neste sentido, os PCN+ trazem em seu corpus um tópico dedicado a interdisciplinaridade, no livro que anuncia a área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. O documento acrescenta algumas contribuições ainda não referenciadas nos PCNEM, como as dos autores Santomé e Pereira. No que se refere a integração curricular o primeiro autor salienta: A complexidade do mundo e da cultura atual obriga a desentranhar os problemas com múltiplas ferramentas, tantas quantas são as fornecidas pelas áreas do conhecimento; sem isso, os resultados seriam facilmente afetados pelas deformações impostas pelas perspectivas de que lançamos mão, como sujeitos. Deve-se sempre estimular o aluno a recorrer a outras disciplinas para compreender melhor aquela que está estudando em determinado momento.(BRASIL, 2002,p.29). 33 Já o outro autor mencionado, esclarece a relação entre a interdisciplinaridade e as disciplinas: [...] não se pode falar em interdisciplinaridade sem disciplinas, assim como não há internacional sem nações. Ela não se confunde com polivalência e, portanto, não anula o conhecimento específico nem o papel de cada profissional. Ao se organizar o currículo do novo ensino médio em áreas, não se está dizendo que o futuro professor será um gênio que domine todos os conhecimentos de uma área. Está-se dizendo que ele deverá entender a relação de sua disciplina com as da mesma área e com todo o currículo. (BRASIL, 2002, p.29-30). Percebe-se que por meio destes referencias, o novo documento (PCN+) busca atribuir uma concepção mais específica e mais clara para interdisciplinaridade – não tão genérica como traz o PCNEM – demonstrando um comprometimento ainda maior com a abordagem interdisciplinar como alternativa para o desenvolvimento das competências e habilidades comuns nos alunos. Não obstante aos documentos do MEC, estão as publicações da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina. A Proposta Curricular do Estado de 1991 já apontava para a interdisciplinaridade como uma forma de atingir a totalidade do conhecimento: [...] concebemos interdisciplinaridade como uma postura político-pedagógica e não como uma justaposição ou apenas afinidade entre os conteúdos a serem trabalhados, capazes de produzir a síntese da totalidade do conhecimento [...] Trabalho voltado para a mudança de concepção e práticas, ou seja, uma forma de conceber o homem historicamente situado na sociedade e no seu trabalho. (SANTA CATARINA, 1991, p.73). Já com a atual Proposta Curricular de Santa Catarina, de 1998, poucas contribuições são encontradas sobre o assunto. São evidenciados em alguns momentos apenas indicações de falas que giram em torno do termo integração, ao invés de interdisciplinaridade, tratando do tema de forma bastante abrangente, sem a mesma precisão da Proposta de 1991. Em uma breve análise nos documentos estaduais para a educação, é possível observar que tanto na PCSC quanto nas diretrizes, há uma escassez de material sobre a interdisciplinaridade, onde nas poucas vezes que aparece mostrase de forma complexa, confundindo muitas vezes o entendimento sobre o sentido da interdisciplinaridade na educação. Este fato muitas vezes pode justificar a pouca 34 incidência de práticas comprometidas com ela nas escolas, principalmente em se tratando de escolas estaduais – uma vez que os documentos mais utilizados para nortear a construção dos planejamentos e do PPP são justamente os elaborados pela Secretaria da Educação de Santa Catarina. No entanto, ainda que seja perceptível a fragilidade do quadro teórico para fundamentar a prática da interdisciplinaridade presente na PCSC/98, o professor de ensino médio pode contar com outros recursos para se aprofundar do tema, como os PCNEM, PCN+, DCNEM e as literaturas específicas sobre ele. Parte-se do princípio que o trabalho interdisciplinar pressupõe não apenas que o aluno sozinho consiga estabelecer relações entre os objetos de estudo, mas também que o professor seja agente deste processo, com a atitude de procurar parcerias disciplinares, construir as pontes de ligação e estabelecer o trânsito entre as disciplinas, ou áreas do conhecimento. Neste sentido, torna-se de fundamental importância o envolvimento do sujeito-professor, não somente no que se refere a interdisciplinaridade, como em todo processo de ensino e aprendizagem. Em vista disso, algumas questões precisam ser repensadas, como por exemplo, a importância do professor pesquisador, do planejamento escolar contextualizado e da formação continuada do profissional da educação. Estas questões devem ser refletidas de forma conjunta e complementar, tendo em vista que um professor pesquisador, comprometido com seu aprimoramento profissional e com o seu processo contínuo de formação, consegue mais facilmente construir propostas de ensino pautadas na formação e constituição cultural dos sujeitos dialogando de forma direta com as necessidades e expectativas da sociedade contemporânea. 35 4 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, ENSINO DA ARTE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES No presente capítulo teço discussões sobre diferentes olhares a cerca do planejamento na educação, trazendo um breve recorte do planejamento especificamente na disciplina de Arte, contemplando suas especificidades e a importância que incide sobre este planejamento, no sentido de estabelecer caminhos possíveis para nortear a execução da ação pedagógica. As reflexões deste capítulo vêm ao encontro dos projetos interdisciplinares, já mencionados nos capítulos anteriores, uma vez que sugerem um planejamento integrado que contemple as parcerias entre professores, escola e conseqüentemente entre as áreas do conhecimento. Ainda no mesmo capítulo pontuo a relevância do processo de formação continuada de professores, uma vez que a ausência deste muitas vezes tem configurado práticas docentes em moldes tradicionalistas, desconectados com as contínuas mudanças e transformações que configuram o contexto político, social e cultural da educação contemporânea. 4.1 O planejamento escolar na educação: um processo contínuo e globalizante O ato de planejar está presente na vida diária do homem. Sempre que este busca determinados objetivos e os relaciona com os meios necessários para poder alcançá-los. No entanto, existem vários tipos de planejamento, que acontecem em níveis de complexidade distintos e que conforme aponta Gandin (2001, p. 83) tentar enumerar todos aqueles necessários para as atividades humanas é uma tarefa quase impossível, justificando que: [...] sendo a pessoa humana condenada por sua racionalidade a realizar algum tipo de planejamento, está sempre ensaiando processos de transformar suas ideias em realidade. Embora não o faça de maneira consciente e eficaz, a pessoa humana possui uma estrutura básica que a 36 leva a divisar o futuro, a analisar a realidade a propor ações e atitudes para transformá-las. Assim sendo, vale pontuar apenas os tipos de planejamentos relativos à educação, já que estes são os que de fato acrescentarão a esta pesquisa. Neste sentido, o planejamento pode ser entendido como uma atividade inerente a educação, já que esta tem como características básicas além de evitar a improvisação, projetar o futuro, estabelecendo diretrizes que estejam de acordo com a execução da ação educativa, promovendo o acompanhamento e a avaliação da própria ação – uma vez que planejar e avaliar precisam andar de mãos dadas. O planejamento na educação escolar, segundo Sant`Anna (1995): É um processo contínuo que se preocupa com o 'para onde ir' e 'quais as maneiras adequadas para chegar lá', tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto as necessidades da sociedade, quanto as do indivíduo. (p.14). Sobre as ramificações deste planejamento Baffi (2002) explicita algumas que merecem destaque, que são o Planejamento Escolar, o Planejamento de Ensino e o Planejamento Curricular. Embora similares todos possuem as suas próprias particularidades. Planejamento Curricular é o "processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno." (VASCONCELLOS, 1995, p. 56). Deste modo, constitui como um instrumento orientador da ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, através dos diversos componentes curriculares. Já o Planejamento Escolar é o planejamento global da instituição de ensino, que envolve o processo de reflexão, de tomada de decisões sobre a organização, o funcionamento e o Projeto Político Pedagógico (PPP)7 da escola. "É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, 7 Segundo Vasconcellos (1995 p.143) o PPP é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita re-significar a ação de todos os agentes da instituição (p.143). 37 articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social." (LIBÂNEO, 2001, p. 221). Por último tem-se o Planejamento de Ensino, que supõe um movimento de decisão sobre atuação concreta dos professores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e situações, em constante interação entre professor e alunos (PADILHA, 2001). Deste modo, este planejamento propõe que o professor atente para as necessidades do aluno e da comunidade e atue de forma condizente nesta realidade. Neste pressuposto, é possível refletir sobre este tipo de planejamento, pensando primeiramente na relevância plano de ensino enquanto documento/registro que operacionaliza toda a ação de planejamento do professor, tal que estabelece métodos, objetivos e pontos a serem explorados em sala de aula nas aulas por este ministradas. Vale destacar a importância indiscutível do educador na construção desse planejamento, lembrando que “todo planejamento possui teoria, da mesma forma que a técnica, a teoria não é neutra, porque há um objetivo a alcançar e uma realidade a transformar”. (DALMAS, 2001, p.25). Em uma perspectiva interdisciplinar, a parceria dos professores na elaboração dos planejamentos supõe um trabalho em sintonia, em comunhão com o processo global do conhecimento, supondo diálogo e possíveis intercâmbios de vivências essenciais para solução de entraves encontrados na educação dos dias atuais, com vistas a mudanças reais na qualidade do ensino-aprendizagem. Embora esta pesquisa esteja se construindo travando diálogos constantes entre a área de Arte e sua relação com as demais disciplinas do currículo, propondo nesta ótica uma visão totalizadora do conhecimento na educação escolar, vale referenciar, a critério de discussão e reflexão, alguns pressupostos metodológicos da educação escolar em arte, alinhavando suas especificidades durante o planejamento do professor, seja por meio de planos e projetos individuais ou coletivos. 38 4.2 O planejamento em Arte: construir para desconstruir A trajetória do ensino da arte no Brasil, mencionada no segundo capítulo desta pesquisa, deixa evidente a luta dos arte/educadores pela conquista e posteriormente sustentação da arte no currículo escolar até os dias atuais, prevista pela LDB 9.392/96. No entanto, mais importante do que apoiar-se em uma lei que configure a obrigatoriedade deste ensino, é imprescindível refletir sobre o embasamento teórico-metodológico utilizado pelo professor para o encaminhamento de sua prática em sala de aula, de modo que esta faça valer a relevância do ensino da arte prevista no ambiente escolar. Deste modo, para que o ensino da arte se faça significativo e atenda as necessidades culturais e artísticas da contemporaneidade, contribuindo para a formação de cidadãos reflexivos, críticos, conhecedores e fruidores da arte, é preciso que o professor organize suas propostas de forma que a arte de fato apareça em suas propostas e se mostre relevante na vida dos educandos (FERRAZ e FUSARI, 1994). Vale ressaltar que não existem receitas prontas para prática do professor – nem podem existir –, porém existem alguns subsídios, conteúdos, métodos de ensino-aprendizagem e avaliação, bem como outras variantes, que precisam ser levadas em consideração pelo professor/propositor. Neste sentido, as autoras Ferraz e Fusari, no livro “Metodologia do Ensino da Arte” (1994) traçam uma síntese dos principais componentes curriculares que se articulam durante o planejamento educativo das aulas de arte, que auxiliam a pensar sobre os compromissos, perspectivas e posicionamentos assumidos pelo professor durante a elaboração e prática docente. Para as autoras, este processo deve considerar: o professor de arte como sujeito responsável pelo processo prático e teórico da educação (aquele que propõe e media); os objetivos educacionais em arte, os conteúdos de arte, os métodos de ensino e aprendizagem, os meios de comunicação em arte e os alunos enquanto sujeitos que são: [...] co-responsáveis pelo processo de educação escolar em arte; incorporam uma história individual e social de produção artística e de entendimento estético nas várias modalidades de arte; apresentam 39 potencialidades, objetivos e necessidades para diversificar e melhorar – avaliar e ser avaliados – em seu “fazer e entender” sensível-cognitivo em arte. (p.103). Comungando com as autoras, o professor precisa desenvolver e encaminhar seu planejamento centrado no aluno, levando em conta as necessidades do mesmo, refletindo sobre as finalidades a serem alcançadas. Para tanto, carece que este profissional trace um caminho educativo, que contemple os conteúdos e assuntos referentes às modalidades artísticas (música, artes visuais, artes audiovisuais, teatro, dança e música) e que o faça através de diferentes recursos didáticos. Simultaneamente, torna-se preciso que o educador se habitue a registrar e anotar todo esse processo, uma vez que o registro é uma forma de auxiliá-lo a “acompanhar, analisar, pesquisar, avaliar, aperfeiçoar o seu trabalho docente e até discutir e partilhar com os colegas de profissão” (FERRAZ E FUSARI, 1994, p.101). A medida que as discussões sobre a relevância do planejamento educativo significativo, responsável e comprometido com a qualidade da ensinoaprendizagem vão criando forma, também vão se evidenciando questões sobre a necessidade indispensável de um educador criativo, pesquisador, atualizado, informado e informatizado, compondo e atuando neste processo. Tendo em vista esta precisão, a doutora em Arte-Educação, Rosa Iavelberg8, acrescenta que apenas estando muito alimentado pela atualização permanente é que o professor consegue aproximar-se mais e melhor do universo da arte. Portanto, para contribuir com a formação artística e estética do aluno, como uma das finalidades da arte na educação escolar, é essencial que o aperfeiçoamento do profissional seja uma constante no cotidiano do arte/educador e que este construa seus planejamentos propondo a desconstrução de encaminhamentos pedagógicos ultrapassados e desconectados com a nova realidade sócio-cultural. 8 Paráfrase da citação da autora para uma revista, <http://www.projetopresente.com.br/revista/rev6_ensino_arte.pdf>. extraída do site: 40 4.3 Formação continuada: conceitos e relevância Nos dias de hoje, as discussões sobre a necessidade de atualização e (re)significação profissional é uma crescente nos discursos de profissionais de todas as áreas. Isso porque as necessidades impostas pelas mudanças de paradigmas da nova sociedade, sob o reflexo dos avanços tecnológicos e culturais, das novas descobertas científicas e da evolução dos meios de comunicação, exigem profissionais cada vez mais qualificados para o mercado de trabalho, considerando que nos dias atuais, não faz mais sentido o profissional pensar que, ao terminar sua formação escolar ou acadêmica, estará totalmente “pronto” para atuar em sua profissão, sem carecer de conhecimentos póstumos. No caso específico do profissional da educação, a preocupação com a auto-formação e atualização devem ser ainda mais significativas, uma vez que “na sociedade contemporânea, cada vez se torna mais necessário o seu trabalho como mediação nos processos constitutivos da cidadania dos alunos.” (PIMENTA, 2002, p.161). Nesta perspectiva, faz-se urgente repensar a formação contínua do profissional da educação, em especial, a do professor, pois comungando com Demo (2004): Mais do que outras profissões, esta precisa de reconstrução completa, dentro da máxima: ser profissional hoje é, em primeiro lugar, saber renovar, reconstruir, refazer a profissão. Isso não denigre o desafio do domínio de conteúdos, mas, como esses se desatualizam no tempo, é fundamental renová-los constantemente (p.11). Para o mesmo autor, não basta o professor transmitir o conhecimento, é fundamental que ele saiba reconstruir o conhecimento transmitido com autonomia, tendo em vista que o seu desafio não é o de dar aula, mas sim o de cuidar da aprendizagem do aluno. A fim de traçar uma linha de raciocínio a cerca do conceito de formação continuada de professores – também chamada de formação contínua –, contemplo os autores Furasi e Franco (2005) onde esclarecem que: 41 [...] a formação contínua vem sendo compreendida como aquela que ocorre após a formação inicial (magistério em nível superior, licenciatura, bacharelado), a partir do ingresso do sujeito na carreira do magistério. Dito de outra forma, tudo aquilo que ocorreu antes do ingresso no trabalho entra na categoria da formação inicial e o que ocorre depois, na categoria de formação contínua. Seria como se tivéssemos dois tempos distintos no processo de formação: um tempo anterior e outro posterior. (p.18). Deste modo, a formação continuada de professores supõe humildade, requerendo destes profissionais a sabedoria de aceitarem-se enquanto eternos aprendizes, na qualidade de sujeitos que fazem da educação a sua profissão. Obviamente, a questão da formação continuada depende de muitos fatores, sociais, políticos, culturais e até econômicos, que não valem aqui serem aprofundados. Cabe apenas a tarefa de deixar frestas para possíveis reflexões sobre educação, qualificação, profissionalização e por que não dizer, enriquecimento pessoal do professor. Almeida (2005) propõe algumas, das muitas, possibilidades de ações de formação continuada, destacando algumas, como a formação contínua realizada pelas universidades; a formação contínua realizada pelas Secretarias da Educação, ONGS, Sindicatos; as realizadas em modelos de educação à distância; a formação cultural e artística realizada em museus, cinemas, teatros, entre outros e a formação contínua realizada nas escolas. Esta última, possui uma importância bem desenhada, pois é no interior da escola que o professor aperfeiçoa sua prática, aprende na mesma amplitude que ensina, tanto na relação professor-aluno como também na relação entre professor e colegas de profissão. Nesta perspectiva, estudos sobre formação de professores Freire (2001) chama a atenção para a formação contínua realizada na escola, sugerindo uma formação reflexiva, que propõe o abandono dos conceitos de formação docente como processos de atualização que se dão através da aquisição de informações científicas, didáticas e psicopedagógicas, descontextualizadas da prática educativa do professor, para adotar um conceito de formação que consiste em construir conhecimentos e teorias sobre a prática docente, a partir da reflexão crítica. No que tange a formação continuada realizada em museus e centros culturais, os olhares automaticamente se cruzam para a importância e presença do professor de Arte nestes espaços. O que vale reforçar, pois o trabalho educativo do professor de Arte precisa conhecer e vivenciar a arte nas suas mais diversas 42 facetas, ele precisa munir-se artisticamente, já que pressupõe-se que sem uma boa formação cultural, o professor não poderia ter condições de ensinar cultura aos nossos alunos. Vale ressaltar que esse contato artístico-cultural é importante para professores de todas as áreas, levando em conta que o trabalho docente fica muito mais rico se o professor não limitar-se apenas ao conhecimento formal e aos conteúdos curriculares pragmáticos, mas que ao contrário, desfrute das inúmeras contribuições do mundo das artes. Por isso, é fundamental que todos os educadores vivenciam experiências culturais de forma intensa e diferenciada, freqüentando museus, centros culturais, cinemas, teatros, concertos e shows, de modo que possam alargar seus conceitos, conscientes que os espaços culturais são privilegiados de formação contínua. 43 5. METODOLOGIA DE PESQUISA: CONSTRUINDO CAMINHOS O presente capítulo tem por objetivo definir os métodos utilizados no desenvolvimento da pesquisa científica sobre o “Ensino da arte e interdisciplinaridade: olhares e reflexões a partir da narrativa de professores e alunos do ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi”, no sentido de ordenar os dados essenciais para refletir sobre o problema pesquisado e dialogar com as variantes observadas ao longo desta. Sobre o contexto de pesquisa, respaldo-me no pensamento de Gatti (2002, p.9 -10), onde esclarece que: Pesquisa é o ato pelo qual procuramos obter conhecimento sobre alguma coisa.[...] Contudo, num sentido mais estrito, visando a criação de um corpo de conhecimentos sobre um certo assunto, o ato de pesquisar deve apresentar certas características específicas. Não buscamos, com ele, qualquer conhecimento, mas um conhecimento que ultrapasse nosso entendimento imediato na explicação ou na compreensão da realidade que observamos. Por estar propondo análises de implicações sobre a arte no contexto escolar, esta pesquisa segue a linha “Educação e Arte”, prevista na ementa do curso de licenciatura em Artes Visuais da Unesc, uma vez que esta estabelece e evidencia princípios teóricos e metodológicos nesta perspectiva. O campo de pesquisa será a E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, situada no município de Araranguá-SC, onde dez professores e dezesseis alunos do ensino médio desta instituição compõem o público alvo. A presente pesquisa parte da seguinte inquietação: “Como os professores e alunos de ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi percebem as contribuições dos conhecimentos relativos à disciplina de Arte nas diferentes áreas do currículo escolar durante proposições interdisciplinares?”. Deste modo, a abordagem metodológica utilizada para pesquisa não poderia ser outra que não qualitativa, uma vez que ela: [...] parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conceito não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma 44 teoria explicativa; o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. (CHIZOTTI, 2005, p.79). Ao travar diálogos deste âmbito, com sujeitos de diferentes opiniões e em torno de uma mesma temática, devo considerar as particularidades de cada um deles, principalmente porque não tenho a intenção imediata de medir ou comprovar fatos, mas sim de refletir e aprofundar o contexto. Portanto, a abordagem qualitativa, a meu ver, é a mais apropriada para esta pesquisa, que também se desdobrará em descritiva e exploratória de campo. As ferramentas utilizadas para coletar os dados para análises serão dois questionários, um para os professores e o outro para os alunos. O questionário realizado com os professores de ensino médio é composto por dezessete perguntas semi-estrururadas, abertas e fechadas. Estas perguntas são comuns a todos eles, independente da disciplina que lecionam, inclusive considerando neste grupo as contribuições trazidas pelos professores de Arte, já que neste sentido faz-se importante observar a compreensão destes sobre sua própria área de atuação. Vale ressaltar que dos vinte questionários distribuídos, apenas dez deles retornaram e é com base nestes que, a seguir, realizarei as análises. Na presente pesquisa, foram também entregues vinte questionários aos alunos de nível médio da mesma escola, seguindo a mesma estrutura do questionário dos professores (perguntas semi-estruturadas, abertas e fechadas), no entanto com apenas onze questões, formuladas especificamente para os alunos. Dos vinte questionários distribuídos, dez deles foram destinados para duas turmas de primeira série do período matutino (cinco para cada), outros cinco para uma turma de primeira série do período vespertino e por último, cinco para uma turma de segunda série do mesmo período. A escolha das turmas foi feita aleatoriamente e contou apenas com o número de alunos interessados em participar da pesquisa. Vale ressaltar que a análise dos questionários será realizada com base nas respostas de dois alunos representantes das segundas séries do ensino médio e quatorze das primeiras séries, uma vez que foram apenas estes que realizaram a entrega dos questionários e anexaram junto deles as autorizações dos pais ou responsáveis necessárias para o uso de suas falas na pesquisa em questão. 45 Para efeito de regra, faz-se necessário justificar o motivo desta pesquisa ter também considerado o olhar do aluno para a interdisciplinaridade e não apenas do professor. Isto porque percebi que ao sugerir esta abordagem como alternativa para melhoria no processo de ensino-aprendizagem seria incoerente não mencionar e reconhecer a presença do aluno-sujeito nesta dialética. Como poderia falar em “perceber a contribuição dos conhecimentos de arte em outras disciplinas” sem questionar se o aluno, sujeito mais interessado na sua formação intelectual, consegue estabelecer tal relação? Portanto, partindo do princípio que o professor é o mediador do conhecimento e o aluno aquele que filtra e (re)significa os saberes adquiridos, busquei incluí-lo nesta pesquisa com “peça-chave” para a reflexão dos resultados, contrapondo as respostas dadas por eles com a dos professores, estabelecendo diálogos entre as falas de ambos. Assim sendo, na posterior análise dos dados, considerei essa sintonia (ou falta dela) como alternativa para refletir sobre as inquietações trazidas ao longo desta pesquisa sobre educação, ensino da arte e interdisciplinaridade. 46 6 ANALISE DOS DADOS COLETADOS Neste capítulo opto por dividir as análises em dois sub-capítulos, uma vez que realizada a pesquisa com professores e alunos faz-se necessário discutir primeiramente os resultados de forma isolada para então poder integrá-las em uma análise comum. No primeiro sub-capítulo apresento discussões sobre o resultado da pesquisa realizada com dez professores que atuam na E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, lecionando as seguintes disciplinas no ensino médio: Língua Portuguesa e Inglesa, Literatura, Matemática, Biologia, Sociologia, História, Estudos Regionais, Química, Física e Arte. No segundo sub-capítulo analisarei as informações inseridas nos dezesseis questionários respondidos pelos alunos de ensino médio da mesma escola, quatorze das primeiras séries e dois das segundas. 6.1 Questionário 01: o olhar do professor Inicialmente vale esclarecer que para poder dar maior liberdade às declarações dos educadores que participaram desta pesquisa, suas identidades foram preservadas, levando em conta apenas o sexo dos mesmos. Deste modo, foi possível contar com as contribuições de oito professores do sexo feminino e dois do sexo masculino. Portanto, identificarei os entrevistados neste texto por meio das iniciais que representam a disciplina que cada um deles leciona na escola-campo. E para os professores que lecionam duas disciplinas serão adotadas as iniciais de ambas, juntamente. Já para os professores que lecionam uma mesma disciplina, serão preservadas as iniciais das mesmas, porém seguidas dos números 1 e 2. Assim sendo, os professores serão identificados desta maneira: Língua Portuguesa e Inglesa (LPI), História e Estudos Regionais (HER), Química e Física (QF), Física (F), Arte (A1) e (A2), Matemática (M), Sociologia (S), Língua Portuguesa e Literatura (LPL), Biologia (B). 47 Em relação a formação docente dos professores investigados, observouse que apenas dois deles possuem apenas a graduação, enquanto os demais já possuem pós (lato sensu) em sua área de atuação. Esta informação pressupõe, de uma forma antecipada a análise, uma forte incidência de educadores preocupados com sua auto-formação e qualificação profissional. Estes dados ficam evidentes quando ao observar que embora a maioria dos profissionais tenha mais de dez anos de magistério (seis deles) e os outros quatro tenham de cinco a dez, apenas um professor quando questionado sobre a quantidade de horas de cursos de capacitação profissional realizados informou ter desenvolvido o inferior a oitenta horas. De todos os professores envolvidos na pesquisa, somente um tem é graduado a menos de um ano. Para analisar o vínculo dos professores com a escola e conseqüentemente com os colegas de profissão em relação ao tempo de serviço, fato este que pode facilitar nas parcerias interdisciplinares, uma das perguntas do questionário visava saber sobre a condição de atuação dos profissionais na escola, se são efetivos nesta ou ACT, bem como se trabalham em outra instituição. Dos questionários analisados, oito dos professores responderam que são efetivos na escola, onde seis destes atuam apenas nela. Outros dois trabalham em mais uma ou duas. Apenas dois professores estão admitidos em caráter temporário e lecionam em outras instituições de ensino. A primeira questão aberta aplicada no questionário referia-se ao Conselho de Classe, onde indaguei se os professores participavam e se o consideravam como um momento importante para o processo de ensino-aprendizagem. Esta pergunta possuía nas entrelinhas o objetivo de observar se os professores utilizavam deste momento não apenas para falar do trabalho já concluído, da avaliação do aluno em sala de aula, mas se, além disso, aproveitavam para refletir, trocar experiências e vivências sobre suas práticas, de modo a propor novas possibilidades e mudanças necessárias para auxiliar no processo de ensinoaprendizagem. O resultado diagnosticado foi que todos participam do Conselho e que o percebem como um momento extremamente importante para troca de informações sobre o desempenho, dificuldades, habilidades e comportamento dos alunos em sala de aula. 48 Apenas o professor B amplia essa percepção e menciona o Conselho de forma mais significativa, dizendo que este “é um momento de diálogo entre professores, orientação e direção, nele trocamos ideias, refletimos sobre a prática docente, discutimos as dificuldades individuais dos alunos e propomos estratégias de ensino.” Para investigar como os professores desta escola constroem os seus planejamentos e observar se estes são norteados por alguma base curricular, seja a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (PCSC) – já que a escola que lecionam é estadual –, ou os PCN, perguntei a eles sobre os instrumentos que utilizam para a elaboração de seus planos de aula. Neste sentido, nove professores citaram que fazem uso de livros diversos, apostilas, internet, revistas e do livro didático adotado pela escola como recursos para o desenvolvimento dos planos, mas sem mencionarem os PCN e a PCSC. Apenas o professor QF fez menção a esses documentos e ainda apontou que se reúne com colegas da área para “discutir” o livro didático adotado pela escola. Para um dos professores de Arte (A1), um dos seus recursos de planejamento é a sua própria experiência prática em sala de aula. Ou seja, este professor utiliza de sua observação da realidade e experiência docente para elaborar um plano de aula que dialogue com esta vivência. Obviamente, o fator mencionado por A1 não deve ser determinante para elaboração do planejamento, embora não desmereço a prática do “diagnóstico” e a valorização do contexto onde o aluno está inserido como recurso. Porém, o professor precisa contemplar outros meios de elaboração do seu plano de ensino, visando a construção de um sujeito mais crítico e atuante, vistas a garantir possibilidades de mudança na realidade já instalada. Como esta pesquisa propõe primordialmente refletir sobre a percepção destes professores sobre a contribuição dos conhecimentos de Arte nas diferentes áreas do currículo, duas perguntas não poderiam faltar: “O que você entende como arte?” e “Em sua opinião, qual a relevância do ensino da Arte no currículo escolar?”. A primeira questão é um tanto subjetiva e fundamentalmente particular, uma vez que conforme já mencionado no primeiro capítulo desta pesquisa, não existe uma definição estanque e definitiva para a arte, ela depende muito da cultura de cada sujeito (COLI, 1990). 49 Deste modo, as definições foram as mais diversas, dentre elas a arte como “expressão do belo” (HER), expressão de emoções, sentimentos, potencialização da criatividade e ampliação do repertório por meio das diferentes linguagens (QF, M, A1, B). Embora não se tenha uma conceituação estanque para arte, ainda assim sabe-se que ela não é tão abrangente, como aponta o professor A2, ao dizer que arte é “tudo” que está em sua volta. Sobretudo, a arte também não é tão limitada como cita o professor F ao falar de arte enquanto “dom”. Diante de tantas definições e indefinições para arte, não seria estranho se os professores não conseguissem identificar a relevância desta disciplina para o currículo escolar. No entanto, algumas atribuições surpreenderam e demonstraram uma percepção mais significativa. Por exemplo, os professores LPI, QF e A2 entendem o ensino da arte como área do conhecimento, tão significativa quanto as demais disciplinas, enquanto os professores HER e M ainda reforçam que além disso, ela conecta o aluno às suas emoções. O professor F fala novamente em arte como dom e responde que o ensino desta é importante para “desenvolver as habilidades artísticas nos alunos”. Em contrapartida, o professor LPL, embora também relacione o ensino da arte às habilidades artísticas, o faz sob outra perspectiva, ao trocar o verbo “desenvolver” por “explorar”. Esta simples mudança verbal, a meu ver, atribui a este ensino uma conotação totalmente diferente. Entretanto, penso que vislumbrar o ensino da arte sob a perspectiva do domínio de habilidades artísticas, ainda não é o caminho, principalmente dentro do contexto escolar. Deste modo, para que a atribuição feita pelo professor LPL faça vistas a um contexto mais representativo, o ideal seria substituir os termos “explorar as habilidades artísticas” por “explorar a sensibilidade estética e artística”. Ainda assim, percebo que a percepção do professor LPL é a que melhor contempla a relevância da arte no currículo escolar, especialmente quando acrescenta que ela auxilia os alunos a “interpretar os códigos utilizados pela sociedade”. A indicação feita por este professor aponta para uma percepção bem contemporânea do ensino da arte, tendo em vista que os códigos dos quais ele se refere sugerem os meios de comunicação utilizados pela nova sociedade, que estão cada vez mais diversificados e complexos. Neste sentido, o ensino da arte 50 apresenta-se como um forte aliado para auxiliar na leitura, interpretação e reflexão destes novos meios, já que eles são criados a partir de uma ideologia e refletem a cultura específica de cada povo. Todavia, nem todos os professores investigados compartilham da mesma opinião a respeito da relevância do ensino da arte no currículo escolar. Para o professor B, quando questionado sobre o mesmo assunto, diz que não discute a importância desta disciplina até o 9º ano do ensino fundamental, porém considera que no ensino médio ela não é necessária, justificando que o currículo nesta etapa “é precário e insuficiente para muitas outras áreas”. É evidente que este professor desconhece o sentido da arte na educação, assim como ignora as necessidades dos alunos de ensino médio, contrariando o que determina a LDB nº 9.394/96 no primeiro inciso do artigo 35, que estabelece como finalidade deste nível de ensino a concretização e aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Portanto, de acordo com a Lei, o ensino médio deve possibilitar ao aluno o progressimento dos estudos. Neste sentido, contestando a declaração do professor B, penso que privar o estudante de nível médio do contato com a arte seria como menosprezar o desenvolvimento cultural e estético construído ao longo de suas vivências artísticas desde a educação infantil. Vale esclarecer que não compete a nenhum professor, nem mesmo ao de Arte, compreender “tudo” sobre ela e sobre suas amplas possibilidades dentro da realidade educacional, já que ela está em constante transformação e (re)adaptação, acompanhando e influenciando os moldes sociais de um contexto histórico. Entretanto, na qualidade de educadores, independente da área de atuação, é importante que todos, sem exceção, preocupem-se não apenas com a educação integral dos seus alunos, mas que na mesma intensidade dediquem-se a sua própria educação integral, uma vez que esta tem relação direta com a educação cultural, educação do olhar sensível e com a formação estética destes sujeitos. Mesmo que esta consciência não seja comum a todos, é fundamental que o educador busque manter-se informado sobre as leis que regem a educação nacional, os parâmetros curriculares atribuídos a ela e que em posse desses documentos consiga refletir sobre a dimensão da responsabilidade que lhe é incumbido “ser professor”, sujeito que segundo Demo (2004) é responsável por cuidar da aprendizagem do alunos, de ser o mediador do conhecimento, aquele que 51 auxilia na formação de cidadãos inteligentes, sensíveis, estéticos, críticos e reflexivos. Aproveitando esse viés, reflito sobre as respostas dos professores para as seguintes questões: “Você já trabalhou em parceria direta com o professor de Arte em algum projeto escolar?”, “Em que circunstância?” e “Como se deu esta parceria?”. Ao analisar as respostas obtidas, as evidências sobre a dificuldade dos professores em perceberem as contribuições da disciplina de Arte eclodiram com intensidade – embora a maioria dos entrevistados quando questionados sobre a importância do ensino da arte no currículo escolar relata que conseguem perceber a sua importância desta área. Porém, ainda assim, apenas três dos entrevistados (QF, LPL, B) dizem já terem trabalhado em uma parceria direta com o professor de Arte. Obviamente, a falta de entendimento sobre a disciplina em questão não é o único fator que inviabiliza um trabalho em parcerias. No entanto, é possível dizer que este fator contribui muito para isso, sobretudo porque um professor que desconhece o significado da arte no contexto escolar, possivelmente também não perceberá a relevância dos conhecimentos relativos a ela interagindo nos trabalhos coletivos e favorecendo no processo de ensino aprendizagem do aluno. O professor QF menciona que já trabalhou em parceria com os professores de Arte e Língua Portuguesa em um projeto sobre educação fiscal. O objetivo em questão consistia em uma apresentação teatral sobre o tema, onde foram delimitadas as seguintes funções: ao professor de Arte trabalhar com os alunos na elaboração de painéis para a peça; ao de Língua Portuguesa redigir as falas para a apresentação; e ao professor de Química, a tarefa de trabalhar os efeitos especiais. (...)9 Interessante perceber que os saberes relativos ao teatro, enquanto uma linguagem artística, foram deixados em segundo plano neste projeto (...) E o que falar do professor de Arte que em um projeto interdisciplinar que previa uma peça de teatro, tenha se limitado a auxiliar apenas na confecção de painéis? Será que os conhecimentos de Arte foram inseridos nos painéis? Em que contexto? (...) 9 Quando insiro este símbolo “(...)” estou lançando reflexões soltas sobre questões que fogem ao contexto central desta pesquisa, mas que, no entanto, por representarem inquietações pessoais acerca dos dados observados, resolvo me posicionar para não deixá-las às escuras. 52 Tendo em vista que o professor QF não apresentou muitos detalhes sobre o projeto, algumas perguntas ficarão sem resposta. O fato é que, estas inquietações me levaram a pensar que os professores de Química e Língua Portuguesa neste projeto não menosprezaram os conhecimentos artísticos durante o encaminhamento da proposta. Mas, percebo que dadas as informações trazidas por QF, o professor de Arte foi quem de fato não conseguiu perceber a dimensão dos conhecimentos de sua área de atuação, visto que não viu no teatro uma linguagem com conteúdos e códigos específicos, ricos de possibilidades a serem exploradas, ao contrário permitiu que este fosse utilizado apenas como ferramenta. Contrapondo este olhar, na parceria mencionada pelo professor LPL entre a Literatura e a Arte durante a transposição de obras literárias para o gênero dramático, o teatro de fato foi inserido como linguagem da disciplina de Arte. Questionado sobre o que achou da experiência, o professor LPL relatou ter sido bastante interessante. No entanto, ao descrevê-la demonstrou uma percepção centrada apenas na sua área e deixou de mencionar o teatro como significativo por si próprio, ao dizer que o teatro “facilitou a compreensão das outras pessoas que não estavam envolvidas no projeto a participarem como expectadores e entrarem em contato com a literatura” (grifo meu). Em mais um relato, a impressão que tive foi a de que o teatro foi utilizado à serviço de outras disciplinas, submetendo o ensino da arte a descontextualização e ao simples “fazer por fazer”, contrapondo o pensamento de Ana Amália Barbosa (2003), já mencionado no referencial teórico desta pesquisa, mas que neste momento parece fundamental retomá-lo: “Arte tem conteúdo, assim como todas as outras disciplinas, e esse conteúdo deve ser respeitado e estimulado tanto quanto os outros” (In: Barbosa, p.109-110). Para se opor totalmente ao pensamento da autora citada, o professor B, que também declara ter vivenciado uma parceria com o professor de Arte, descreve a experiência como “não muito produtiva”, considerando o resultado final do trabalho proposto. Ao ser questionado sobre em que circunstância houve a parceria com o professor de Arte e como ela se deu, B trouxe um relato bem contrário a todos os princípios metodológicos e funcionais do ensino da arte. Em vista disso, opto por trazer o seu relato na íntegra para maiores reflexões, onde descreve a circunstância da parceria e resultado: “Foi na elaboração de maquetes para um projeto que utilizei na escola. O tema foi H2O: Ouro Azul. Os alunos fizeram um workshop, com vários 53 grupos abordando enfoques diversos, mas todos relacionados com a questão ambiental do uso/desperdício de água.” [...] “Não achei muito produtivo. Criei uma expectativa para as tais maquetes, mas foi decepcionante. O resultado final dos trabalhos não ficou satisfatório”. Em posse dessas duas respostas, observei que algumas questões não foram esclarecidas e de certo modo se mostraram incoerentes, como por exemplo: “Que critérios este professor utilizou para avaliar as maquetes como ‘decepcionantes’?”, “Em que contexto elas foram inseridas nas aulas de Arte?”, “O resultado final foi insatisfatório porque levou em conta a estética das maquetes ou porque o enfoque ambiental não foi bem explorado?”. O posicionamento do professor B dialoga com o que o mesmo já havia pontuado na questão sobre a relevância do ensino da arte, onde contesta a necessidade no ensino médio e ainda avalia o currículo como precário e insuficiente para as demais áreas. Costurando estas duas declarações, percebe-se que este profissional compreende o ensino da arte como “acessório” ou “alegoria” para as outras disciplinas, pois me parece claro que quando classificada as “tais maquetes” como decepcionantes, na verdade está considerando a estética como sinônimo do belo e a arte como materialização deste modelo, reforçando assim os padrões estereotipados. Nesta perspectiva, penso que se a Arte na educação escolar se resumisse a exteriorização de modelos prontos e unívocos, certamente precisaria concordar com o professor entrevistado (B) e ainda reforçar o seu entendimento, contestando a necessidade desta disciplina não apenas no ensino médio como também em todos os outros níveis. Deste modo, retomo o pensamento de Ana Mae Barbosa, já contemplado no segundo capítulo desta pesquisa, para fechar esta discussão: Arte não é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário e é conteúdo. Como conteúdo, arte representa o melhor trabalho do ser humano (1991, p.4). Um projeto em parceria entre professores requer alguns pressupostos básicos, como o diálogo, respeito, interação e cooperação entre os envolvidos. Neste contexto, percebo pelas declarações dos professores pesquisados um forte 54 apego aos conteúdos de sua área de atuação, como se os conhecimentos de cada disciplina não dialogassem entre si. Tal circunstância muitas vezes é o que distancia o educador de um trabalho em parceria, uma vez que se o professor não percebe a contribuição dos conhecimentos de outras disciplinas na sua área específica, automaticamente não se sentirá motivado a participar de uma proposta interdisciplinar. Deste modo, a parceria que me refiro ao longo desta pesquisa remete à interdisciplinaridade dentro do contexto escolar, visto que ela propõe o diálogo e a articulação das disciplinas. Neste sentido, como proponho refletir sobre como os professores de outras áreas percebem os conhecimentos de Arte em projetos coletivos ou mesmo individuais, que perpassem as diferentes áreas do conhecimento, é importante que esta observação se faça à luz das perspectivas interdisciplinares. Primeiramente, para analisar o entendimento dos professores sobre o assunto, os questionei sobre o que entendem sobre interdisciplinaridade. Ao observar as respostas pude constatar que houve uma clara divisão de paradigmas, que embora não distintos, trataram o termo interdisciplinaridade sob três enfoques: como trabalho coletivo, como integração de disciplinas e como visão de conhecimento desfragmentado. Conforme já mencionado no capítulo 3, o termo interdisciplinaridade não possui um conceito único, pois pode ser visto sob as lentes das disciplinas científicas e escolares. E nesta última, ainda divide espaço com a multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade10. O primeiro enfoque, trazido pelos professores B, A1, A2, LPI e F, referese a interdisciplinaridade como um trabalho coletivo em que um mesmo conteúdo, tema ou objetivo é abordado por várias disciplinas. Neste sentido, percebo que o entendimento destes professores aproxima-se da multidisciplinaridade, uma vez que não citam a relação de diálogo e interação entre as disciplinas, essencial para que um trabalho deste cunho aconteça, mas sim a entendem como um recurso para abordar um mesmo assunto dentro das fronteiras de cada disciplina. Já os professores HER e QF comungam da opinião que a interdisciplinaridade é uma visão do conhecimento de forma desfragmentada. Tais 10 Tais termologias encontram-se brevemente explicitadas no capítulo 3 desta pesquisa. 55 professores trazem a tona um olhar mais amplo para o termo, que se assemelha aos conceitos da interdisciplinaridade científica, que estuda a epistemologia, onde tem “o conhecimento como sistema de referência” (LENOIR, In: FAZENDA, 2001, p.52). No entanto, vale ressaltar que estes professores de certa forma não estão equivocados, pois como não especifiquei na pergunta o tipo de abordagem interdisciplinar a qual me referia, eles a responderam da maneira que entenderam. Porém, ainda assim, penso que em se tratando de uma pesquisa que aborda assuntos relativos ao ensino-aprendizagem no contexto escolar, a definição destes professores não consegue de forma objetiva dar a dimensão da interdisciplinaridade neste ambiente. Em contrapartida, as contribuições dos professores LPL, M e S demonstraram um entendimento bem mais claro e preciso sobre o assunto. Para eles, a interdisciplinaridade é um processo de relação estabelecida entre as disciplinas, de modo que mostre aos alunos que nenhuma está dissociada da outra, todas estão conectadas. A definição trazida por estes profissionais é bastante rica, pois além de considerar o diálogo indiscutível entre as áreas do conhecimento, também pontua os alunos como sendo os sujeitos que precisam estabelecer as relações. Tal definição dialoga com o conceito de interdisciplinaridade que venho construindo ao longo desta pesquisa, amparada por autores como Hilton Japiassu, Yves Lenoir e Ivani Fazenda, que comungam que “interdisciplinaridade é toda interação existente entre duas ou mais disciplinas no âmbito do conhecimento, dos métodos e da aprendizagem das mesmas.” (FAZENDA, 2008, p.18). Deste modo, no âmbito escolar a interdisciplinaridade pode ser lida como uma ação em parceria, vistas a auxiliar os alunos na percepção sobre as relações explícitas e implícitas que existem entre as disciplinas do currículo escolar, para que compreendam que são os saberes adquiridos por meio delas que estruturam e constroem as suas bases intelectuais. Após observar o entendimento dos professores sobre o conceito de interdisciplinaridade, questionei-os sobre se trabalham ou já trabalharam em projetos nesta perspectiva. A pergunta, elaborada de forma fechada, dispunha das opções: a) Sim, sempre que possível; b) Raramente; c) Nunca. Dos professores investigados, seis deles relataram que o fazem sempre que possível, enquanto os outros quatro dizem que raramente. Esse resultado me 56 permitiu concluir que “todos” os professores investigados trabalham ou já trabalharam interdisciplinarmente, mesmo que por raras vezes. No entanto, analisando este resultado com maior atenção, é possível observar que quando os professores declaram participar ou já terem participado em projetos interdisciplinares, estão levando em consideração o entendimento que possuem sobre o assunto, porém não significa dizer que realmente trabalhem interdisciplinarmente, tendo em vista que na questão anterior alguns destes atribuírem significações imprecisas ou incoerentes com as especificidades que circundam um trabalho interdisciplinar no contexto escolar. Em suma, contrastando as informações adquiridas, pressuponho que nem todos os professores investigado, já tenham de fato feito parte de parcerias interdisciplinares, mas sim que em proposições deste tipo tenham encaminhado projetos em formato multidisciplinar. Sabe-se que a interdisciplinaridade na educação é um assunto bastante discutido nas escolas e representa um grande desafio. Obviamente um trabalho interdisciplinar não é um trabalho fácil, assim como toda ação a que não se está habituado, uma vez que envolve uma sobrecarga de trabalho e gera a nós propositores, insegurança diante do novo. (LUCK, 2001). Trabalhos desta magnitude implicam romper hábitos e acomodações, exigem a busca pelo novo, pelo desconhecido e isso certamente é um grande desafio a ser superado. Neste sentido, quis saber dos professores: “Quais as dificuldades encontradas durante proposições interdisciplinares?” Cinco deles dizem que a falta de tempo e a incompatibilidade de horários entre os professores são os maiores entraves que inviabilizam as discussões sobre propostas deste cunho. Já o professor QF menciona que a falta de conhecimento e habilitação dos profissionais para exerceram práticas deste tipo é o que mais dificulta. E ainda finaliza: “tudo que é diferente do nosso contexto se cria resistência”. A resposta deste professor confirma os pressupostos de Luck (2001) e ainda põe a tona outro fator relevante a ser discutido, quando diz “não somos habilitados com essa prática” (QF). Analiso esta declaração sob dois pontos de vista: primeiro sobre o modelo de formação inicial do professor e o segundo sobre a relevância da formação continuada. 57 Sabe-se que o modelo curricular adotado pelas universidades segue quase a mesma linha estrutural do desenvolvido pelas escolas, onde em ambos os conhecimentos são distribuídos em fragmentos, chamados de disciplinas ou matérias. A diferença é que nas universidades há o aprofundamento de uma área específica, mas que ainda assim, é também compartimentada, de forma disciplinar. Neste sentido, um professor oriundo de uma formação inicial sob esta estrutura curricular, ao ingressar no exercício de sua profissão, possivelmente terá dificuldade de trabalhar a interdisciplinaridade, pois na universidade recebeu uma formação que não reconhecia essa prática. Por isso, ao confrontar-se com proposições interdisciplinares no cotidiano escolar é comum que o professor sinta-se despreparado e inseguro, conforme mencionou QF. No entanto, esse fator não pode servir como justificativa para o não envolvimento do professor em propostas que visem a melhoria do processo de ensino-aprendizagem nas escolas. Pelo contrário, diante das adversidades e das novas exigências das demandas atuais, é imprescindível que o professor invista em sua auto-formação. Nesta ótica, Demo (2004) aponta que a profissão de educador nos dias de hoje exige uma reconstrução completa, sendo preciso que o profissional saiba renová-la, reconstruí-la e refazê-la com freqüência, principalmente porque os conteúdos se desatualizam com o tempo e para acompanhá-los é fundamental que o professor renove-os constantemente. Ainda sobre a mesma questão, relativa aos entraves encontrados durante projetos interdisciplinares, o professor S pontua algumas questões importantes quando diz que “as dificuldades são inúmeras, desde a personalidade dos envolvidos até o direcionamento e encaminhamento ideal para contemplar os aspectos que envolvem a interdisciplinaridade”. Quando este professor traz como dificuldade a personalidade dos envolvidos, penso se tratar de um forte agravante, que de fato pode inviabilizar um trabalho interdisciplinar. Mas, ainda tenho dúvida se os “envolvidos”, os quais ele se refere, são apenas os professores, ou se neles ele inclui os alunos e também todo o corpo pedagógico da escola. Se ao falar na personalidade dos envolvidos como sendo apenas a do professor, creio que, possivelmente ele esteja se referindo as dificuldades de relacionamento que pode haver entre eles. Neste sentido, acredito que esta possa 58 ser realmente uma situação que atrapalha os trabalhos em parceria, uma vez que os professores precisam conviver em harmonia, com respeito, com profissionalismo, sabendo ouvir, se impor e principalmente sabendo dialogar, condição esta que é imprescindível para um trabalho interdisciplinar. Já em se tratando da dificuldade de personalidade dos alunos, suponho que o professor S possa estar falando das particularidades de cada um deles, pois sabe-se que para que a interdisciplinaridade de fato aconteça é preciso que seja percebida por pelo menos um aluno, de modo que ele consiga estabelecer as relações propostas por meio desta. Se este aluno estiver fazendo parte dos “envolvidos” mencionados pelo professor S, é possível que ao falar da dificuldade de personalidade, ele tenha se referido a dificuldade que este aluno pode ter em perceber e estabelecer as relações escondidas nas entrelinhas de um projeto interdisciplinar. Nesta perspectiva, o professor LPL diz que um dos maiores obstáculos durante projetos interdisciplinares é o fato dos alunos, segundo ele, possuem pouca leitura e por isso sentem dificuldade de contextualizar e relacionar os conhecimentos adquiridos. Retomando a declaração do professor S, caso ele realmente esteja inserindo o aluno como um dos envolvidos nos projetos interdisciplinares (informação que não ficou muito clara), ele menciona que os entraves durantes estes projetos vão “desde a personalidade dos envolvidos até o direcionamento e encaminhamento ideal para contemplar os aspectos que envolvem a interdisciplinaridade”. Deste modo, parece estabelecer uma espécie de ponte entre estes dois entraves, onde de um lado coloca a dificuldade dos alunos em estabelecer as relações entre as áreas do conhecimento e do outro a dificuldade dos professores em direcionar e encaminhar propostas que as evidenciem. Sob esta leitura, entendo que os alunos tenham dificuldade de “contextualizar”, conforme mencionou o professor LPL, não só porque lhes falta leitura, mas principalmente porque as abordagens interdisciplinares precisam apresentar-se de forma clara e precisa o suficiente para que o aluno consiga “filtrar” os saberes adquiridos e assim estabelecer as relações. Comungando com Severino (2001): 59 A educação é um processo que só se legitima se estiver mediando a inserção das novas gerações no âmbito de suas relações existenciais, o ensino, por sua vez, só se legitima se for processo mediador na educação. É por isso que não se pode fazer uma distinção entre instrução e educação, pois o que pode legitimar o ensino só pode ser mesmo a sua eficácia educativa. (In: FAZENDA, 2001, p.37). A interdisciplinaridade na educação escolar é um assunto também vigente em alguns documentos oficiais que norteiam as escolas brasileiras, aparecendo com freqüência, por exemplo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Especificamente nos PCN de 2002 é possível observar duas contribuições importantes para pensar a interdisciplinaridade na perspectiva escolar, ambas as citações foram inclusas, na íntegra, na questão 16 do questionário (disponível em anexo), com o objetivo de propor aos professores que ao tomarem conhecimento delas – caso ainda não o tivessem – refletissem e em seguida respondessem: “O que pensam a respeito?”, “É possível transgredir a teoria e colocá-la em prática? Justifique”. Nove dos entrevistados dizem que sim, sem qualquer indagação. Apenas o professor A1, embora também diga que a teoria pode transgredir a prática, critica que muitas vezes os documentos não condizem com o dia a dia em sala de aula. Tal apontamento, já foi endossado por Volpato (2005) em outra oportunidade, quando diz que há uma “dicotomia entre as práticas educacionais e as orientações legais propostas pelos documentos.” (In: PILLOTO, p.79). Os professores LPI e HER embora tenham respondido positivamente sobre a questão da transgressão da teoria para a prática, ainda assim retomaram os entraves que a inviabilizam, como a acomodação dos professores e a dificuldade de desenvolver um planejamento conjunto. O professor QF vai mais fundo na questão e propõe que para ser possível uma mudança precisa em relação a interdisciplinaridade é necessário a “quebra de paradigmas a muito tempo enraizados nas escolas, que pode ser superada com professores unidos e focados num interesse comum”. Nesta mesma perspectiva, o professor LPL especifica o que seria a “quebra de paradigmas” chamando todo o corpo pedagógico e administrativo da escola para a responsabilidade de “desenvolverem ações práticas para criar ambientes propícios para a execução deste tipo de prática pedagógica.” 60 Já os professores M e F preferem abraçar a responsabilidade dizendo que para transgredir a teoria depende muito da vontade de cada professor, pois segundo eles, é preciso enfrentar o medo do novo e esforçar-se para perceber as relações existentes entre os conteúdos de um professor e outro. Aproveitando a contribuição dos professores M e F, trago a última questão do questionário, onde proponho aos entrevistados que citem os conteúdos ou temáticas de suas práticas em sala de aula possíveis de serem desenvolvidas em parcerias interdisciplinares com o professor de Arte. Esta última questão foi formulada com o intuito de trazer subsídios ainda mais precisos sobre o entendimento dos professores investigados a respeito da arte, ensino da arte e interdisciplinaridade. Isso porque ao passo que eles mencionam os conteúdos e temáticas de suas práticas em sala de aula possíveis de serem desenvolvidas em parceria interdisciplinar com o professor de Arte, nas entrelinhas evidenciam o que de fato entendem como sendo arte e como sendo conhecimentos, conteúdos e assuntos de uma aula de Arte. Além disso, é possível observar a percepção dos professores sobre “parceria interdisciplinar”. O professor QF faz alguns indicativos para o relacionamento da disciplina de Química com a de Arte, sugerindo a Cromatografia e a fabricação de tintas com produtos naturais como sendo assuntos possíveis para uma boa parceria. O mesmo professor, que também leciona a disciplina de Física, aponta que em parceria com o professor de Arte poderiam discorrer sobre a reflexão das imagens no espelho, revendo como ela se forma em um. Já o professor F, que também leciona a disciplina de Física, propõe outras atividades e assuntos possíveis de serem explorados pela disciplina de Arte em comunhão com a Física, como a confecção de câmera escura de orifício, disco rígido de Newton, ilusão de ótica, dispersão da luz que forma o arco-íris, etc. Na perspectiva do professor de Matemática investigado (M), a arte tem profunda relação com muitos assuntos matemáticos, dentre eles o número de ouro, as figuras geométricas e a simetria. O professor HER, de História e Estudos Regionais (HER), por sua vez, diz que quase todo conteúdo de História é possível ser desenvolvido em parceria com o professor de Arte, em especial os períodos históricos, como a Pré-História, a História Medieval, Moderna, Contemporânea, entre outros. 61 No que se refere a Arte e a Sociologia, o professor S menciona: “Como professor de Sociologia digo que tudo que se refere ao homem e a sua cultura pode ser expressado artisticamente, desde os adornos usados nas mais diversas culturas, a moda, as danças, a pintura, etc”. Segundo os dois professores de Língua Portuguesa questionados, sob os codinomes LPL e LPI, Arte e Português formam uma bela parceria. Para o professor LPI, a parceria se fortifica principalmente com a Literatura, pois “a História da Arte trata de aspectos que são trabalhados quando falamos nas escolas literárias”. O mesmo professor ainda pontua outra relação: “Os livros que são leituras obrigatórias também podem ser trabalhados pelos professores de Arte”. O professor LPL, acrescenta que para trabalhar os gêneros textuais diferentes, o professor de Arte pode auxiliar inserindo os conhecimentos de música, teatro e poesia. Ou ainda para na interpretação de texto, segundo LPL, inserir as charges, os cartuns, as gravuras e as fotografias. Diante das contribuições trazidas pelos sete professores mencionados, as parcerias com o professor de Arte podem acontecer de maneiras bem diversificadas e produtivas para todos, principalmente para o aluno, sem diminuir e desmerecer as especificidades de cada disciplina. Um dos professores investigados, que leciona a disciplina de Biologia, cita como pressupostos de contribuição da Arte na disciplina de Biologia dentre outras atividades, a construção de maquetes de células, desenhos de flores e frutos, confecção de cartazes, painéis, etc. É perceptível na declaração deste professor, que ele desconhece os verdadeiros conhecimentos que a Arte pode inserir na Biologia, visto que as possibilidades de interação são inúmeras, basta analisar artistas contemporâneos como Edouard Martinet e Schwanke, com obras que trazem desde insetos de aço a esculturas e instalações de mandeira e materiais alternativos em torno de questões ambientais. Fazendo um breve recorde dos principais dados extraídos dos questionários analisados, destaco aqueles que melhor dialogam com a problemática desta pesquisa, dentre eles: as diferentes vertentes que surgiram para a arte e a relevância do ensino desta no currículo escolar (predominando a concepção de ensino da arte como expressão de sentimentos e da criatividade); as poucas parcerias realizadas com o professor de Arte (apenas três dos professores 62 entrevistados); as definições distintas para a interdisciplinaridade e as múltiplas dificuldades encontradas durante projetos desta magnetude; a insidência de projetos interdisciplinares (todos os entrevistados dizem já terem participado de um) e por último, as diferentes e relevantes indicações de conteúdos e temáticas possíveis em parcerias com o professor de Arte. O próximo questionário a ser analisado será o realizado com os dezesseis alunos de ensino médio da mesma escola, a fim de inserí-los como sujeitos deste processo, valorizando a percepção que possuem sobre os conhecimentos da Arte e sua contribuição nas diferentes disciplinas do currículo escolar. 6.2 Questionário 02: dando voz aos alunos-sujeitos do processo Para dar maior liberdade aos alunos em suas respostas opto por preservar as suas identidades, ainda que os pais e responsáveis tenham autorizado o uso de suas escritas e até imagens. Porém, creio que a identificação dos seus nomes não se mostra relevante neste momento. Deste modo, prefiro continuar com a mesma estratégia de codnomes utilizada no questionário com os professores. Portanto, para diferenciar os entrevistados, faço uso de números, que circundam entre 1 e 16. Sobre a estrutura do questionário, são onze questões formuladas sob uma linguagem diferente da utilizada com os professores, principalmente em se tratando do termo interdisciplinaridade, onde opto por substutuí-lo por outras expressões, ora indicando a “parceria entre as disciplinas”, ora mencionando a “relação entre os conteúdos”. Embora as expressões escolhidas para substituir o termo em questão ainda não consigam dar conta de exprimir toda a complexidade da interdisciplinaridade em um contexto escolar, foram as que melhor encontrei para fazer-me entender de forma clara e objetiva pelos alunos. Compondo o grupo de estudantes entrevistados, encontram-se doze meninas e quatro meninos. Dos dezesseis alunos, quatorze deles estão nas primeiras séries do ensino médio e os outros dois nas segundas, todos matriculados entre os períodos matutino e vespertino. 63 O questionário aos alunos tem como objetivo maior observar se eles compreendem as especificidades da Arte e se percebem que os conhecimentos desta área também podem auxiliar de forma significativa na sua aprendizagem somada as outras disciplinas. Neste sentido, para que esta análise se construa em bases sódidas, primeiramente é preciso saber a quanto tempo os alunos entrevistados estudam na E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, pois parto do pressuposto que a bagagem artística, estética e cultural que carregam possui uma forte influência nas vivências com a Arte que tiveram ao longo de sua trajetória escolar. Além do mais, a escola em questão é uma das poucas da rede estadual de Araranguá que atende aos estudantes de nível médio, portanto recebe alunos de diferentes escolas, de diferentes realidades e conseqüentemente de diferentes perspectivas para o ensino da arte. Portanto, dos dezesseis alunos entrevistados, nove deles estudam nesta escola a mais de um ano (1, 2, 4, 9, 10, 11, 12, 13 e 14) enquanto os demais (3, 5, 6, 7, 8, 15 e 16) ingressaram neste ano. Deste modo, percebo que tenho duas perpectivas diferentes para analisar, a trazida pelos alunos antigos, que por estudarem a mais tempo na escola possivelmente resgatarão experiências que vivenciam ou já vivenciaram nesta. E em contrapartida, tenho também as contribuições de alunos novos, que trarão relatos de vivências em outras instituições. Para iniciar, perguntei-lhes: “O que você entende por arte?”. Onze dos alunos entrevistados dizem que arte é expressão de sentimentos, sendo que dentre estes, três apontam que essa expressão se faz através do desenho. Já o aluno 4 diz que entende como arte “tudo aquilo que é diferente”. O último aluno mencionado, ao fazer uso do termo “diferente” cita alguns exemplos: “um filme, uma construção e até mesmo uma roupa são arte”(4). Na mesma perspectiva o aluno 5 menciona que arte é uma “inspiração” que depende “do que brota num instante qualquer”. Porém, para o aluno 3 a arte não é apenas uma inspiração do acaso, ela “é o estudo das cores, ângulos, antiguidades, entre outros”. Diante dos relatos observados pude constatar a presença predominante das artes visuais como sendo a linguagem mais familiar para os alunos, 64 principalmente o desenho. Em nenhuma das falas apareceram o teatro, a música, as artes audivisuais e a dança. Apenas o aluno 1, quando perguntado sobre o que entende por arte, traz um relato que contraria os demais, ao declarar que: “Não posso dizer que entendo claramente, mas através das aulas que começamos a ter, esclarecendo a matéria, passei a entender bastante coisa, inclusive que a arte não se fecha aos desenhos”. Considerando que este relato é de um aluno da primeira série do Ensino Médio, achei-o riquíssimo para análise, uma vez que percebi nas entrelinhas de sua fala um verdadeiro amadurecimento do olhar para a arte. O fato deste aluno ter declarado não entender claramente a arte, a meu ver demosntra que sua relação com ela está em um processo de (re)conhecimeto, pois menciona que depois das aulas que começou a ter, “esclarecendo a matéria” está conseguindo compreendê-la melhor. Isto me leva a crer que a contextualização dos conteúdos até então não vinha sendo significativa para este aluno, mas que só agora no Ensino Médio ele passa a percebê-la. Volto a dizer, conforme já mencionado em outras situações, que o conceito de arte é muito relativo e depende muito da cultura de cada sujeito e de sua leitura de mundo. Portanto, para me dar subsídios para uma reflexão mais aprofundada sobre como os alunos percebem os conhecimentos da Arte no contexto escolar, a pergunta seguinte do questionário foi um pouco mais específica: “Em sua opinião, qual a importância da disciplina de Arte na escola?”. Os alunos 8, 13 e 14 dizem que a disciplina de Arte ajuda os alunos a expressarem e entenderem seus sentimentos. Já o aluno 2 reforça dizendo que ela é importante para “um diálogo diferente, não só na escrita, quadro e copiar, mas sim aprender coisas novas, figuras e desenhos”. Na mesma perspectiva, os alunos 10,15 e 16 comungam que a arte na educação escolar é importante para aprender sobre as cores e os desenhos. No entanto, o aluno 16 amplia esta concepção dizendo que além de “desenvolver a forma de desenhar” a arte ajuda a aprender sobre culturas antigas e sobre artistas importantes. Chamou-me a atenção no relato deste aluno quando menciona o termo “antigas”, como se os conhecimentos de Arte estivessem sujeitos apenas ao passado. Nesta mesma linha de raciocínio os alunos 4 e 9 atribuem a disciplina de Arte a importância de possibilitar a aprendizagem sobre as pinturas e fatos que marcaram determinada época. 65 A impressão que tenho ao refletir sobre estes depoimentos é que os alunos não percebem a arte na contemporaneidade, não conseguem estabelecer relações entre ela e o cotidiano. Esta situação ainda piora ao perceber na fala de um aluno, que estuda a dez anos na escola-campo, que “A Arte é importante para se expressar, achar novos talentos para o mundo em que vivemos e ainda para aprender um pouco mais sobre artistas do passado”. (...) Como a disciplina de Arte conseguiu se distanciar tanto da realidade do aluno contemporâneo? Onde estão as novas mídias e tecnologias? (...) Tenho que confessar que a declaração deste aluno me deixou bastante apreensiva, uma vez que sob sua perspectiva percebo o estreitamento gritante das possibilidades da arte. Mas, não são todos os alunos que comungam desta perspectiva, pois para o aluno 7 a disciplina de Arte é importante porque “através dela a gente ganha conhecimento. A arte não é só desenhos e pinturas, ela é educação”. Os alunos 5 e 6 concordam com o 7 e um deles ainda acrescenta que na educação a arte “É muito valiosa e deve ser passada adiante, pois um mundo sem arte é como um casarão desocupado, vazio” (5). A citação deste aluno é realmente interessante, suas palavras me remetem a arte enquanto patrimônio cultural. Neste sentido, um ser humano que não produz, não recebe e nem perpetua a cultura pode de fato vir a se tornar esse “casarão desocupado e vazio”, tal qual menciona o aluno 5. Para o aluno 1, a Arte “amplia os horizontes” e na educação ela representa o que outro entrevistado chama de “conjunto de matérias” (3), pois em sua concepção tudo tem alguma relação com a arte. Aproveitando este ensejo, lanço a sétima pergunta: “Você acha que os conhecimentos adquiridos na disciplina de Arte podem contribuir para a sua aprendizagem em outras disciplinas? Justifique”. Esta questão vem bem ao encontro da problemática desta pesquisa, onde inicialmente cabe refletir sobre como os alunos investigados percebem a contribuição dos conhecimentos de Arte nas diferentes disciplinas do currículo do ensino médio. Deste modo, dez dos alunos dizem que os conhecimentos de arte podem contribuir na disciplina de História, porque segundo eles, a Arte trata de períodos 66 históricos em imagens e obras antigas e isso auxilia na aprendizagem. O aluno 4 cita uma situação específica: “Uma vez aprendi em Arte como viviam os povos das cavernas e o professor de História pediu um trabalho sobre esse assunto, aí facilitou na pesquisa e acabou ficando mais fácil na hora de apresentar o trabalho”. O aluno 12 também faz menção a esta aula e diz no ensino médio a Arte e a História abordam assuntos parecidos, dizendo que na primeira série ambas tratam sobre períodos pré-históricos. Já os alunos 1, 3 e 5 citam que os conhecimentos de arte podem contribuir na disciplina de Matemática, uma vez que ambas trabalham com ângulos. Um destes alunos inclusive, pontua que a Arte “tem a ver com pensamento crítico e lógico, que também são usados na Matemática e na poesia”. Esta citação me deixa extremamente preocupada, pensando sobre como as aulas de Arte, bem como o currículo e o planejamento dos professores para o ensino médio está sendo organizado. É importante pensar que a cada dia mais necessitamos de propostas significativas e palpáveis para a formação humana e isso inclui práticas efetivas em propostas que atentem para os objetivos de cada disciplina. A oitava questão parte do mesmo pressuposto da sétima, de observar e refletir sobre como os alunos de ensino médio percebem a contribuição dos conhecimentos relativos à disciplina de Arte nas demais áreas do currículo escolar. Porém nesta questão, em especial, busco ser mais objetiva e pergunto: “Você já percebeu em alguma aula de disciplinas como Português, Matemática, ou outras, conteúdos relacionados com a disciplina de Arte? Quais foram às disciplinas e os conteúdos?”. Primeiramente vale ressaltar que para fazer-me entender pelos alunos de forma clara, citei nesta questão a Matemática e o Português como possíveis disciplinas para pensarem os conteúdos que se relacionam com a Arte, porém com este indicativo isso acabei induzindo o olhar dos alunos, tendo em vista que alguns responderam levando em consideração apenas essas disciplinas, sem mencionar as outras. Neste sentido, ao se referir à disciplina de Português, seis dos entrevistados dizem que já perceberam nestas aulas conteúdos que se relacionam com os de Arte, citando os períodos literários (2, 4, 6 e 11), a poesia (5) a leitura de imagem e as releituras (9). 67 Em se tratando da disciplina de Matemática especificamente, os alunos citam como conteúdos relacionados: as formas geométricas e os ângulos (3, 5, 7, 8 e 11). Os dez alunos que não limitam suas repostas às sugestões de disciplinas inseridas na questão, mencionaram a disciplinas de História como tendo conteúdos que freqüentemente dialogam com a Arte, citando em grande maioria: a Roma Antiga (14, 15, 16) as estátuas gregas, o Egito (3, 15) e os períodos históricos de modo geral (1, 2, 4, 10, 12, 13). Em mais uma questão pude ter duas percepções estanques: a de Arte relacionada a história antiga e as artes visuais. Este fator agrava-se ainda mais quando questiono: “Em sua opinião, qual disciplina que melhor se relaciona com a de Arte? Por quê?”. Esta questão foi formulada, justamente para reforçar o entendimento de Arte por parte dos alunos, pressupondo caminhos já trilhados interdisciplinarmente e que foram percebidos por eles. Diante dos relatos já previamente analisados, não me causou nenhum estranhamento ao perceber que as únicas disciplinas mencionadas foram a História, a Matemática e a Literatura. Apenas dois dos alunos entrevistados (6 e 16) apontam a Literatura, justificando que ela se relaciona com a Arte porque ambas “trabalham assuntos parecidos, como estudos de obras e períodos” (6). Em contrapartida, outros dois alunos (3 e 5) entendem que a disciplina de Matemática é a que melhor dialoga com a Arte, em função das formas geométricas e das linhas. Já os demais entrevistados dizem que a disciplina de História e a de Arte tem muita coisa em comum. Inclusive o aluno 13 diz que a “História é a única que fala mais de Arte”. O aluno 2, volta a dizer que “No primeiro ano [ensino médio] as duas matérias são muito parecidas”. Neste sentido, os alunos 1, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 14 e 15 dizem que ambas tem em comum abordar assuntos da antiguidade. Dentre esses doze alunos que dizem que a Arte e a História assemelhamse nos conteúdos, duas citações especialmente me preocuparam: “História e Arte, ambas falam sobre o passado” (14), “Quando fala-se em tempos antigos, fala-se muito de Arte” (11) . 68 O que realmente me preocupa não é a Arte no ensino médio tratar de assuntos históricos, sei que estes saberes são importantes para compreender o presente. Mas o que de fato assusta é perceber que estando os adolescentes no auge da informatização, das tecnologias e das mídias, alguns professores de Arte ainda continuam desconsiderando as diversas formas de manifestações artísticas e culturais ligadas ao cotidiano do aluno. A questão de número dez do questionário propunha inicialmente uma situação hipotética, onde os alunos deveriam imaginar um projeto sobre Meio Ambiente em que o professor de Arte e o de Biologia estariam trabalhando em parceria. Em seguida, lancei a pergunta: “Você acha que com um projeto como este seria mais fácil aprender sobre Meio Ambiente ou acha que neste contexto a Arte nada pode contribuir para sua aprendizagem sobre ele?”. É preciso justificar que quando formulei esta questão tinha como objetivo apontar uma situação hipotética de interdisciplinaridade na escola. Porém, na tentativa de elaborar uma questão clara e objetiva o suficiente para que os alunos pudessem compreendê-la, percebo que a situação que mencionei na questão aproxima-se muito mais de uma proposta multidisciplinar do que interdisciplinar, uma vez que o tema Meio Ambiente soou mais forte do que propriamente os conhecimentos de cada disciplina, especialmente a de Arte, prevalecendo as fronteiras entre as disciplinas. Contudo, ainda assim a questão continua alimentando o objetivo de perceber como os alunos entrevistados percebem a Arte em diferentes interfaces, principalmente porque são colocados a refletir sobre a possibilidade de diálogo entre a Arte e a Biologia, disciplina esta que até o momento não havia sido mencionada pelos alunos sob esta perspectiva. Deste modo, os alunos 2 e 4 dizem que em um projeto deste cunho poderia facilitar muito a aprendizagem, pois embora sejam “disciplinas bem diferentes” (2) “ambas trabalhariam sobre o mesmo tema, mas com formas e linguagens diferentes” (4). Neste sentido, o aluno 11 completa: “a Biologia trataria mais pelo lado científico, já a Arte pelo lado artístico, na criação e reciclagem de objetos, por exemplo.” A percepção do aluno 9 comunga com 11 quando também menciona que a Arte pode contribuir neste projeto através da reciclagem. Porém, outros sete entrevistados fazem referência exclusivamente ao desenho como sendo a maior 69 contribuição da disciplina de Arte, inclusive um deles diz que enquanto “a Arte entra com a expressão visual, a Biologia entra com a parte de explicação e conhecimento [...)”. A questão da predominância das artes visuais sobre outras linguagens é um fator que se fortifica a cada relato trazido pelos alunos. No entanto, nesta última questão, em especial, me chamou a atenção que alguns alunos mostram-se incertos sobre os conhecimentos específicos da área de Arte, preferindo referir-se a ela como expressão desarticulada de qualquer contextualização. Isso gera um descompasso, uma vez que a Arte visa conectar o sujeito e envolvê-lo em sua totalidade, integrando sentimento e conhecimento, razão e emoção, subjetividade e objetividade. Mas, a verdade é que o pensamento e até o olhar do aluno parecem estar cada vez mais fragmentados. A última pergunta do questionário dialoga com esta perspectiva de fragmentação, partindo do pressuposto que para que o aluno busque sua totalidade ele precisa ser estimulado para tal. Portanto, a fim de observar se na escola os alunos estão recebendo este estímulo, se as abordagens interdisciplinares, ou mesmo multidisciplinares, estão de fato sendo percebida pelos alunos, já que os professores de ensino médio entrevistados anteriormente dizem que trabalham nesta perspectiva sempre que possível, questiono: “Você já percebeu em alguma aula a parceria entre dois ou mais professores trabalhando em um mesmo projeto, como o mesmo tema, mas em disciplinas diferentes?”. A questão dispunha das opções: “Nunca”, “Não lembro” e “Sim”. Em seguida, solicitava aos alunos que responderam positivamente, o relato de quais as disciplinas que se uniram, o tema abordado e principalmente se estas aulas foram produtivas, se facilitaram a aprendizagem. Primeiramente, vale lembrar que dos dezesseis alunos entrevistados, sete deles começaram a estudar nesta escola este ano e outros a pouco mais de um, por isso alguns trazem relatos de experiências vividas em outras escolas. Portanto, levando em consideração que esta pesquisa busca recolher dados para reflexões sobre a percepção de Arte dos alunos e professores especificamente da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, os relatos que não contemplem informações desta escola não serão considerados na análise desta questão. Três dos alunos entrevistados, que já estudam a mais de quatro anos nesta escola, dizem que não se recordam de terem percebido nenhum projeto ou 70 aula em uma perspectiva de parceria. Em contrapartida, outros quatro alunos dizem lembrar-se de um projeto em que as disciplinas de Arte, Filosofia e Sociologia se uniram em um projeto sobre impostos, porém nenhum deles mencionou se as aulas foram produtivas e se auxiliaram na aprendizagem. Dois alunos ainda mencionam outro projeto, este sobre meio ambiente, onde várias disciplinas se integraram no mesmo propósito. Porém, apenas um deles discorre sobre este projeto, dizendo que aprendeu muito, inclusive a construir objetos de garrafa peti nas aulas de Arte e a fotografar lugares poluídos em Biologia. As informações recolhidas ao longo do questionário com os alunos são fundamentais para refletir sobre como a Arte está sendo conduzida atualmente na escola-campo, seja em abordagens interdisciplinares ou não, bem como para observar se esta condução influencia na construção do olhar dos alunos e professores sobre os conhecimentos desta área. 71 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao retomar a trajetória inscrita nesta pesquisa, me dou conta de que todos os assuntos discorridos no referencial teórico dialogam com as análises dos questionários realizados com professores e alunos da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi. De modo que, em posse deste embasamento, reflito sobre os resultados desta pesquisa sob três fatores que se mostraram intercalados: 1 - Que a construção do olhar dos alunos e professores para a disciplina de Arte tem relação direta com as práticas metodológicas desenvolvidas pelo professor desta área. Por conseguinte, cabe a este profissional atualizar-se permanentemente para poder vislumbrar as vastas possibilidades de sua área de atuação; 2 - Que a interdisciplinaridade é uma excelente alternativa para aproximar os alunos da totalidade do conhecimento e afastá-los do pensamento limitado, reforçado pelo currículo escolar fragmentado; 3 - Que as discussões sobre formação continuada e planejamento precisam ser constantes entre os profissionais da educação, reivindicando direitos à profissionalização e instrumentalização perante os órgãos competentes. Direcionando estes pontos elencados especificamente para realidade observada no processo de investigação com os professores e alunos de ensino médio da escola-campo, percebi que o olhar destes para os conhecimentos da disciplina de Arte em abordagens interdisciplinares é um olhar, de certo modo, confuso. Primeiramente porque os termos arte e interdisciplinaridade mostraram-se por vezes controversos ao longo dos relatos. E depois porque os professores ainda confundem interdisciplinaridade com multidisciplinaridade, fator este que impossibilita os alunos de perceberem as relações eminentes entre os conteúdos e conceitos das diferentes disciplinas do currículo na construção do conhecimento do aluno. Deste modo, observo que este agravante não ocorre apenas na disciplina de Arte, como aparentemente em todas. Sobre a percepção de ensino da arte, observei que os alunos de ensino médio demonstram muita dificuldade em perceber a arte na contemporaneidade, prevalecendo a perspectiva tradicionalista de arte apenas em desenhos, formas geométricas e conhecimento de períodos históricos. Este fator leva-me a crer que as abordagens metodológicas envolvendo outras linguagens, como a dança, música, 72 teatro, artes audiovisuais e até as outras tantas possibilidades das artes visuais não parecem uma práxis entre os professores de Arte desta instituição, uma vez que nenhum dos alunos entrevistados mencionaram o contato com nenhuma destas linguagens. Não obstante, os professores de diferentes áreas do currículo não costumam trabalhar com o professor de Arte em projetos em parceria (interdisciplinares ou não), ainda que a maioria dos entrevistados tenha registrado ricas indicações de possibilidades de inserção da arte em dinâmicas deste tipo. Penso que ainda existe um distanciamento dos professores e alunos entrevistados com relação a arte, mas este distanciamento está longe de chamar-se desinteresse, pois ao confrontar as respostas de ambos percebo que há um bom espaço para a Arte na escola-campo, não apenas fisicamente, como também de receptividade por parte de todo grupo entrevistado. Mas, ainda assim, eles não perceber “na prática” os benefícios desta disciplina, seja nas suas especificidades ou durante projetos coletivos e/ou interdisciplinares. Portanto, com base nestas observações minha pesquisa se inclinou significativamente para a importância da formação continuada de professores, uma vez que os questionários analisados indicam um currículo fragmentado e professores com carga horária excessiva, o que reflete diretamente no planejamento e elaboração das aulas. Acredito que há a necessidade da comunidade escolar (pais, alunos, professores e gestores) de pensar na escola como um espaço coletivo de construção permanente. Neste sentido, refiro-me diretamente aos professores, partindo do pressuposto que é necessário um comprometimento ainda maior com a formação contínua e permanente nas diferentes áreas, bem como momentos que privilegiem o planejamento coletivo, integrando disciplinas e conhecimentos em propostas realmente construtivas. Desmistificar a ideia de “projeto ou proposta interdisciplinar” enquanto um “amontoado de disciplinas” em torno de um tema gerador, geralmente de cunho social, em que não se aprofundam conceitos e códigos específicos de cada área do conhecimento. Mais do que isso, é papel do professor criar/provocar situações para que o aluno relacione e reelabore conceitos e saberes a partir das questões trabalhadas, possibilitando a ele interferir de maneira direta no contexto social em que se insere. Desta forma, proponho como possibilidade de formação o projeto 73 “Capacitarte: uma proposta interdisciplinar de capacitação para professores do ensino médio por meio das múltiplas linguagens artísticas.” Este projeto visa agir e contribuir de forma significativa no contexto pesquisado, de forma qualitativa, ultrapassando a mera constatação e registro. Contudo, minha pesquisa não visa esgotar o tema proposto, tendo em vista a diversidade de autores que discorrem sobre os diferentes conceitos de interdisciplinaridade. Tampouco pretende atribuir ao ensino da arte a função interdisciplinar no currículo escolar, sobretudo porque conforme já exposto, a disciplina de Arte, como todas as outras, tem suas especificidades que devem ser respeitadas. Porém, pressuponho que esta pesquisa seja um ponto de partida para reflexões de professores e escolas sobre as múltiplas possibilidades da Arte e da contribuição desta para o ensino-aprendizagem dos alunos de forma integral, vistas a totalidade do conhecimento, sobretudo durante a interação entre as demais disciplinas do currículo escolar. E esta situação deve intensificar-se no currículo do ensino médio, a fim de que nesta fase o ensino seja voltado para a formação geral do estudante, de forma contextualizada e significativa para a inserção do jovem da vida adulta, não apenas investindo em conteúdos sob o olhar fixo nos índices de aprovação nos vestibulares ou ENEM, como ultimamente vem acontecendo. Minha pesquisa curvou-se primordialmente às questões, porém espero que tenha deixado frestas abertas para futuras discussões sobre interdisciplinaridade, currículo do ensino médio, planejamento coletivo, formação continuada de professores e gestores, com vistas a inserir a Arte de forma significativa neste contexto, de modo a auxiliar positivamente na melhoria do ensino e aprendizagens dos alunos. 74 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Isabel. Formação contínua de Professores em face das múltiplas possibilidades e dos inúmeros parceiros existentes hoje. In: MEC. Formação contínua de professores. Boletim 13, ago. 2005. Disponível em: <http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/150934FormacaoCProf.pdf>. Acessado em: 08 out.2010. BAFFI, Maria Adélia Teixeira. O planejamento em educação: revisando conceitos para mudar concepções e práticas. In: BELLO, José Luiz de Paiva. Pedagogia em Foco, Petropólis, 2002. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/fundam02.htm>. 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Pesquisadora: Cristina Américo Cristiano 1 – Identificação: Sexo: Fem ( ) Masc ( ) 2 – Formação docente: ( ) Graduado ( ) Pós- graduado ( ) Outros – Citar: ___________________. 3 – Qual a sua condição de atuação nesta escola: ( ) Professor (a) efetivo (a) ( ) Agente em caráter temporário (ACT) ( ) Outros – Citar: ___________________. 4 – Qual ou quais as disciplinas que leciona nesta escola? __________________________________. 5 – Leciona em mais de uma escola? ( ) Não ( ) Sim. Em quantas?__________________. 80 6 – Você considera o Conselho de Classe importante para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos? Justifique. Você participa dos conselhos em sua escola? 7 – A quanto tempo atua nesta área? ( ( ( ( ) Menos de 1 ano. ) 1 a 5 anos. ) 5 a 10 anos. ) Mais de 10 anos _______. 8 – Nos últimos três anos, quantas horas de cursos de capacitação profissional você realizou? ( ) Nenhuma. ( ) Menos de 80 horas. ( ) Mais de 80 horas. 9 – Que instrumentos você utiliza para construir o seu planejamento de aula? 10 – O que você entende por arte? 11 – Em sua opinião, qual a relevância do ensino da arte no currículo escolar? 81 12 – Você já trabalhou em parceria direta com o professor de Arte em algum projeto escolar? ( ) Não. ( ) Sim. Em que circunstância? Como se deu essa parceria? 13 – O que você entende por interdisciplinaridade? 14 – Você trabalha, ou já trabalhou em projetos interdisciplinares? ( ) Sim. Sempre que possível. ( ) Raramente. ( ) Nunca. 82 15 – Quais as dificuldades encontradas durante proposições interdisciplinares? 16 – Segundo o PCNEM (2000, p.88 a 89): A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. (grifo do autor). Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber útil e utilizável para responder às questões e aos problemas sociais contemporâneos (p. 34 e 36). Refletindo sobre as citações acima, o que você pensa a respeito? É possível transgredir a teoria e colocá-la em prática? Justifique. 17 – Cite alguns conteúdos ou temáticas de sua prática em sala de aula, que possam ser desenvolvidos em parcerias interdisciplinares com o professor de Arte. Araranguá, ____, de_________ 2010. 83 APÊNDICE 02 – Questionário aplicado com alunos do ensino médio da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi 84 Questionário Caro aluno, Este questionário é parte fundamental na pesquisa que estou realizando para a composição do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Peço sua colaboração nas respostas a estas questões, contanto com sua maior sinceridade. Lembrando que, para dar mais liberdade as suas respostas, seu nome será omitido nesta pesquisa. Pesquisadora: Cristina Américo Cristiano 1 - Identificação: Sexo: Fem ( ) Masc ( ) 2 - Série: ( ) 1º ano ( ) 2º ano 3 - A quanto tempo estuda nesta escola? _________. 5 - O que você entende por arte? 6 - Em sua opinião, qual a importância da disciplina de Arte na escola? 7 - Você acha que os conhecimentos adquiridos na disciplina de Arte podem 85 contribuir para sua aprendizagem em outras disciplinas? Cite exemplos. 8 - Você já percebeu em alguma aula de disciplinas como Português, Matemática (ou outras), conteúdos relacionados com a disciplina de Arte? Quais foram as disciplinas e os conteúdos? 9 - Em sua opinião qual disciplina que melhor se relaciona com a de Arte? Por quê? 10 - Imagine a seguinte situação: Um professor da disciplina de Biologia resolve trabalhar em um projeto em parceria com o professor de Arte, o tema escolhido é o Meio Ambiente. Cada professor dará as suas aulas e seus conteúdos específicos normalmente, a diferença é que ambos estarão falando de meio ambiente. Você acha que com um projeto como este seria mais fácil aprender sobre meio ambiente ou acha que neste contexto a Arte nada pode contribuir para a sua aprendizagem sobre ele? Justifique. 86 11 - Você se recorda de ter vivenciado em sua escola alguma situação semelhante a que foi citada na questão anterior? Ou seja, você já percebeu em alguma aula a parceria entre dois ou mais professores trabalhando em um mesmo projeto, com o mesmo tema, mas em disciplinas diferentes? ( ) Nunca ( ) Não lembro ( ) Sim. Se sua reposta foi positiva, relate quais foram as disciplinas que se uniram, qual foi o tema e principalmente se estas aulas foram produtivas, se facilitaram a sua aprendizagem. Araranguá, ____, de_________ 2010. 87 ANEXO A – Projeto “Capacitarte”: uma proposta interdisciplinar de capacitação para professores do ensino médio por meio das múltiplas linguagens artísticas 88 PROJETO “CAPACITARTE”: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR DE CAPACITAÇÃO PARA PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO POR MEIO DAS MÚLTIPLAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS JUSTIFICATIVA: Nos dias atuais, é quase impossível discorrer sobre a qualidade da educação escolar sem falar na formação do professor/mediador, uma vez que uma complementa a outra. A formação teórica e prática do professor é um fator significante para melhoraria na qualidade do ensino. Para tanto, é de extrema importância que o profissional docente mantenha-se atualizado e em processo de formação ininterrupta. Para Nóvoa (2002, p.23): “O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente.” Para o autor, a formação continuada se constrói também de maneira coletiva e depende da experiência e da reflexão como instrumentos contínuos de análise, onde “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.” (Idem,1997, p.26). Sob esta perspectiva, o projeto “Capacitarte, desenha-se sobre uma perspectiva interdisciplinar, uma vez a partir das análises dos questionários realizados com os professores e alunos da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, me dei conta da dificuldade que os mesmos apresentaram em perceberem os conhecimentos de Arte articulados significativamente nas demais disciplinas do currículo e ainda de vislumbrarem outras linguagens artísticas, que não somente as artes visuais. Deste modo, este projeto propõe chamar inicialmente os professores atuantes nas diferentes disciplinas do currículo da referida escola, inclusive o próprio professor de Arte, para reflexões sobre o ensino da Arte, as múltiplas linguagens e 89 as possibilidades de articulação com as demais áreas, através de um planejamento participativo, interdisciplinar e contextualizado. Opto por um projeto de formação continuada para professores de todas as áreas – inclusive os de Arte – por entender que, estando o educador/mediador munido de saberes relativos às múltiplas linguagens artísticas e a interdisciplinaridade concomitantemente, será possível conquistar a ressignificação do olhar deste profissional acerca das possibilidades dos conhecimentos da disciplina de Arte. De modo que, percebendo verdadeiramente os conhecimentos desta área, o professor/propositor se sentirá mais seguro e consciente sobre os benefícios de um trabalho em parceria com ela. Neste sentido, pressuponho que este projeto poderá contribuir para a valorização e (re)construção do ensino da arte e refletir nas práticas em sala de aula, uma vez que através de abordagens interdisciplinares que consigam dar conta de contemplar os conhecimentos da Arte e das outras áreas em um movimento linear, o aluno conseguirá mais facilmente perceber as relações explícitas e implícitas entre uma saber e outro. Vale lembrar que o presente projeto de curso foi amparado primordialmente nas Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+/2002), mais especificamente no livro sobre as Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias, onde a disciplina de Arte se insere. Deste modo, os pressupostos trazidos ao longo do projeto dialogam com este documento, que contemplam com ênfase principalmente a interdisciplinaridade, formação de professores e sobre as múltiplas linguagens da Arte no Ensino Médio, assuntos fundamentais não apenas na proposta de projeto como também ao longo de toda minha pesquisa. EMENTÁRIO DO CURSO: Curso de formação continuada direcionado aos professores de Ensino Médio, da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, localizada no município de Araranguá-SC, que tem como espinha dorsal as múltiplas linguagens da Arte (teatro, música, dança, artes visuais e artes audiovisuais) e a possibilidade de pensá-las 90 como contexto de um trabalho interdisciplinar envolvendo diferentes disciplinas do currículo escolar. PROPOSTA DE CARGA HORÁRIA: 20 h/a OBJETIVOS: GERAL: Proporcionar aos professores que lecionam em diferentes áreas do currículo do Ensino Médio, da E.E.B Professora Maria Garcia Pessi, a ampliação do olhar acerca das possibilidades significativas de articulação das linguagens da Arte em abordagens interdisciplinares. ESPECÍFICOS: • Compreender os conhecimentos da área de Arte como fomentadores do desenvolvimento cultural e estético dos alunos de ensino médio, por meio das diferentes linguagens artísticas (teatro, música, artes visuais, dança e artes audiovisuais). • Ampliar o olhar sobre as múltiplas possibilidades do ensino da arte em consonância com outras disciplinas. • Refletir sobre os princípios básicos que fundamentam a elaboração dos PCNEM e os PCN+: a interdisciplinaridade e contextualização dos conhecimentos. • Reconhecer as múltiplas linguagens da Arte nas dinâmicas dos projetos educacionais interdisciplinares. • Perceber na escola um ambiente favorável para sua formação continuada, através da troca de experiências entre colegas de profissão e alunos. 91 • Propiciar momentos de reflexão sobre a organização da prática pedagógica, com vistas ao planejamento participativo. METODOLOGIA: 1º Encontro (4 h/a): Apresentação da proposta / Introdução a história da arte e seus conceitos, técnicas, movimentos e contextos / Especificidades da área de arte no currículo escolar, discorrendo sobre as múltiplas linguagens (artes visuais, teatro, música, dança e artes audiovisuais) / Desdobramento da Arte como eixo articulador de conteúdos entre várias disciplinas (introdução a interdisciplinaridade). Materiais: vídeos (Arte na Escola), revistas, músicas, textos e livros. 2º Encontro (4 h/a): Aprofundamento das linguagens artísticas, explicitando as competências e habilidades a serem desenvolvidas em Arte para cada uma delas, apontando para o fazer, refletir e contextualizar (conforme os PCN e o PCSC) / Apresentação de algumas vivências pessoais e de colegas com as múltiplas linguagens da arte em sala de aula (em slides). 3º Encontro (4 h/a): Mesa redonda, com discussões sobre os pressupostos trazidos pelos documentos oficiais da educação para o Ensino Médio, como o PCNEM e o PCN+, no que tange a distribuição das disciplinas em áreas do conhecimento / Proposição de diálogos sobre os pressupostos trazidos por estes documentos para a interdisciplinaridade e a contextualização / Levantamento das maiores dificuldades percebidas pelo grupo em relação ao ensino-aprendizagem do aluno de Ensino Médio da escola / Seleção de quatro das maiores dificuldades concordadas pelo grande grupo. 4º Encontro (4 h/a): Divisão do grupo em quatro equipes, onde cada uma delas escolherá uma das dificuldades ou problemáticas apontadas no encontro anterior para elaboração de um projeto interdisciplinar que deverá ter como eixo norteador uma das linguagens artísticas (distribuídas aleatoriamente). 92 5º Encontro (4 h/a): Apresentação dos projetos/ Discussão sobre o encaminhamento de cada um. 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