. 1 2 OBJETIVOS: Abordar alguns conceitos de interdisciplinaridade. Discutir acerca de alguns pressupostos teóricometodológicos da interdisplinaridade e seus desafios na EJA. Refletir sobre implicações e fragilidades na elaboração e execução de práticas pedagógicas num currículo interdisciplinar na EJA. 3 O que se busca na escola? O aluno não vem para a escola escutar aula. Vem para reconstruir conhecimento e arquitetar sua cidadania ( corporal, emocional e espiritual). Sala de aula é antes de tudo, ambiente de estudo e pesquisa pela razão simples de que pesquisa é o ambiente de aprendizagem. (Pedro Demo, 2004, p. 74). 4 O que é Interdisciplinaridade? Quais são os desafios que se colocam: ◦ à educação, ◦ à escola e ◦ ao professor? na seleção, organização, articulação e avaliação de objetivos educacionais para fazer frente, com ousadia, aos desafios na formação do ser humano na atualidade? 5 O conceito emerge no meio educacional e busca articular saberes e experiências no planejamento, desenvolvimento e avaliação de ações e práticas educativas entre os diversos campos do saber como forma de superar a abordagem tradicional de disciplinas fragmentadas, que durante séculos fizera da repetição e memorização uma estratégia para a educação, frequentemente incapaz de atender às demandas de um ensino contextualizado. 6 A Escola é uma instituição que consta de uma série de peças fundamentais, entre as quais se sobressaem o espaço fechado, o professor como autoridade moral, o estatuto de minoria dos alunos, e um sistema de transmissão de saberes intimamente ligado ao funcionamento disciplinar. Desde os colégios jesuítas até a atualidade, essas marcas estão presentes na lógica institucional dos centros escolares, tanto públicos como privados, sem dúvida, sofreram retoques, transformações e até metamorfoses, mas as escolas continuam hoje, como ontem, privilegiando as relações de poder sobre as de saber. (VARELA E ALVAREZ, apud HERNÁNDEZ, 1998, p. 64-65). 7 Ela foi projetada no século XVIII e tomou como base o paradigma cartesiano, dualista de ciência e de valorização excessiva do memorização e de uma visão mecanicista do conhecimento. Esse paradigma moldou o ensino por mais de 300 anos e ainda hoje está presente nos conceitos humanos, na forma de pensar e agir, e também na forma de conceber os objetivos e os fins da educação. 8 9 A oralidade e a escrita são marcos da evolução do conhecimento humano. A escrita viabilizou o conhecimento científico e hoje as novas tecnologias da informação e da comunicação proporcionam a difusão global da informação e possibilitam seu compartilhamento com velocidade nunca antes imaginada. A interatividade gera enorme volume de informações e traça novas possibilidades de transferência do conhecimento. Tais particularidades, também presentes na educação, lançam desafios às instituições de ensino: repensar, desenvolver e aplicar novas metodologias à prática docente. 10 DISCIPLINA, de acordo com o dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano (2007, p. 339) envolve duas funções: Uma ciência, como objeto de aprendizado ou de ensino. Uma regra ou de um conjunto de regras (função negativa ou coercitiva) que impede a transgressão. Assim para Kant disciplina envolve “coerção graças à qual a tendência constante de transgredir certas regras é limitada e, por fim destruída” (ABABAGNANO, 2007, p. 339). 11 A organização disciplinar, como ainda a conhecemos hoje, foi instituída no século XIX e [...] desenvolveu-se no século XX [...]. As disciplinas tem uma história: nascimento, institucionalização, evolução, esgotamento, etc; essa história está inscrita na história da Universidade, que, por sua vez, está inscrita na história da sociedade; (MORIN, 2002, P. 105). 12 É possível repensar a organização do espaçotempo escolar e desenvolver práticas educativas numa perspectiva integrada e interdisciplinar entre os diversos campos do saber? 13 De acordo com Alves, Brasileiro e Brito (2004), foram Japiassú (suporte epistemológico) e Ivani Fazenda (suporte pedagógico) os responsáveis por introduzir no Brasil, a partir de 1976, as concepções sobre interdisciplinaridade, decorrentes do Congresso de Nice, na França, em 1969. Eles apontam para necessidade de ser “superada/curada” a disciplinaridade através da prática com projetos interdisciplinares com a presença de profissionais de várias áreas. 14 Na concepção de Ivani Fazenda em “Práticas Interdisciplinares na Escola. São Paulo : Cortez, 1993, os currículos disciplinares levam o aluno ao acúmulo de informações. Sua superação exige uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento. O pensar interdisciplinar tenta, através do diálogo com outras formas de conhecimento, interpenetrar pelos diversos campos do saber. 15 Não é ensinado, mas vivenciado; Exige responsabilidade individual, envolvimento com o projeto propriamente dito, com as pessoas e com a instituição. Precisa nos levar a estabelecer relações, conexões com novas idéias; Precisa fazer-nos perceber, sentir e pensar de forma a transpor as barreiras da disciplinaridade; Exige ousadia para inovar, criar e principalmente passar da subjetividade para a intersubjetividade. 16 17 Embora já se tenha falado muito acerca da interdisciplinaridade, ainda não foi possível formalizar um conceito capaz de unir epistemólogos, filósofos e educadores em torno de um consenso. No momento em que se constata, que a ciência ou algumas teorias científicas renunciaram às pretensões de totalidade e completude, vislumbrase na abordagem interdisciplinar a possibilidade de um diálogo que aproxime os saberes específicos, oriundos dos diversos campos do conhecimento, em uma fala compreensível, audível aos diversos interlocutores (LUDKE, 2010). 18 Aprendizado; Atualização; Criatividade; Dedicação; Disciplina; Persistência; Ousadia; Superação; Trabalho em equipe. 19 UM PERCUSO POSSIVEL Parta de um problema de interesse geral e utilize as disciplinas como ferramentas para compreender detalhes. Como um professor especialista, você tem a função de um consultor da turma, tirando dúvidas relativas à sua disciplina. Inclua no planejamento idéias e sugestões dos alunos. Se você é especialista, não se intimide por entrar em área alheia. Pesquise com os estudantes, indique novas fontes e sugira a eles também buscar outras fontes de consulta. 20 UM PERCUSO POSSIVEL (CONT.) Faça um planejamento que leve em consideração quais conceitos podem ser explorados por outras disciplinas. Levante a discussão nas reuniões pedagógicas e apresente seu planejamento anual para quem quiser fazer parcerias. Recorra ao coordenador. Ele é peça-chave e pode ajudar a identificar e perceber possibilidades interdisciplinares de trabalho. Lembre-se de que a interdisciplinaridade não ocorre apenas em grandes projetos. É possível praticá-la entre dois professores ou até mesmo sozinho. 21 FRENTE O EXPOSTO: Pode-se inferir que a interdisciplinaridade enquanto prática pedagógica atua no interior da sala de aula, mas também e principalmente para além dela, na própria organização do espaço educacional e de conhecimento do mundo. Esse novo modo de conceber a organização do trabalho pedagógico através dos PROJETOS DE TRABALHO, de acordo com Ludke (2010) podem propiciar ao aluno familiaridade com conceitos, processos e atitudes próprios de um outro tipo de relação com a aprendizagem e a construção do conhecimento e de desenvolvimento de sua autonomia. 22 Uma ruptura com o esquema tradicional de ensino por disciplinas; Possibilidade de reunir o que já foi aprendido pelo aluno e o que pode vir a sê-lo, nos vários campos do conhecimento; Participação ativa e dinâmica dos alunos, desencadeando forças em geral apassivadas no modelo escolar tradicional; Construção de conhecimento pela investigação própria dos alunos; Articulação entre trabalho individual e coletivo e valorização de atitudes e comportamentos sociais; Combinação entre trabalho escolar e o de várias outras instituições e agências. 23 Uma excelente proposta pedagógica pode ser inteiramente solapada por uma avaliação inadequada (GIMENO, Apud LÜDKE, 2010. p. 75). Embora não devam ser considerados como uma panacéia, ou solução salvadora, os projetos interdisciplinares representam uma via interessante para conjugar recursos para aproximar os esforços dos professores das necessidades dos alunos e romper com a ótica tradicional na avaliação. 24 O rompimento da linearidade disciplinar volta-se para a articulação entre o individual e o coletivo, a integração de diversas fontes formadoras, a imprevisibilidade de metas precisas. A literatura internacional mais recente apresenta a idéia de “rubricas” (Liu, 1995, Andrade, 1997, Howe, 1997) em que são estabelecidos critérios sobre os quais os alunos seriam avaliados “o que é que conta” nessa avaliação: o propósito, a organização, os detalhes, a voz, a articulação em um trabalho de redação, além de graduações de qualidade. 25 Informar aos estudantes sobre a qualidade dos trabalhos que devem fazer; Estabelecer padrões e níveis que eles devem atingir; Esclarecer sobre as “expectativas” que lhes serão requeridas; Incentivar e estimular a assumirem responsabilidades sobre sua própria aprendizagem; As rubricas servem para que o estudante tenha claro os domínios que ele precisa desenvolver a partir dos conteúdos (objetivos). 26 Não é fácil o estabelecimento de rubricas, como também não o é a proposição de projetos. É preciso unir interesse e iniciativa dos estudantes. As rubricas fazem a ponte entre o que se propõe e o que se espera, deixando claro o compromisso assumido por alunos e professores frente cada situação de trabalho. Cada participante, aluno e professor, saberá o que se espera de sua atuação, já que foi balizada pelo grupo, ao decidir que problema seria importante estudar por meio de um projeto de forma interdisciplinar. 27 BURITY, J. A. Interdisciplinaridade, discurso e diálogo científico. In: Simpósio Interdisciplinaridade em Questão - Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba. Anais, 1998. DEMO, P. Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1998. DEMO, P. Ser professor é cuidar para que o aluno aprenda. 3. ed. Porto Alegre Editora Meditação, 2004. ETGES, N. J. Ciência, interdisciplinaridade e educação. In: Jantsch, A. P. & Bianchetti, L. (Orgs.) Interdisciplinaridade - para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1997. FAZENDA, Ivani C. Arantes. 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