Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas
Transnacionais e da Globalização Econômica
Ano XV Nº 92
Filiais de empresas transnacionais instaladas no Brasil remeteram US$ 7,3 bilhões ao exterior
no primeiro quadrimestre deste
ano, desde US$ 4,0 bilhões no
mesmo período do ano passado.
Com isso, temos o terceiro maior
volume de tais remessas para
este período do ano em toda a
série do Banco Central, iniciada
em 1952. Condições externas
parecem conspirar a favor da
continuidade deste movimento.
Maio / 2013
REMESSA DE LUCROS E DIVIDENDOS EM
TRAJETÓRIA DE ELEVAÇÃO
As remessas de lucros e dividendos das filiais de empresas
transnacionais no Brasil para suas matrizes no exterior voltam a surpreender. Se ao longo do ano de 2012 estas
registraram trajetória de declínio, o inverso pode ser observado nos primeiros meses deste ano. Estas acumulam US$
20,4 bilhões nos últimos 12 meses até o último dado disponível, desde US$ 17,2 bilhões no total ano passado, como
pode ser observado na figura a seguir. Essa expansão resulta do incremento de tais envios no primeiro quadrimestre
deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
De fato, dados do Banco Central indicam que filiais de empresas transnacionais remeteram US$ 7,3 bilhões no primeiro
quadrimestre deste ano, desde US$ 4,0 bilhões no mesmo
período do ano passado. Com este aumento de 81,4%, temos neste primeiro quadrimestre o terceiro maior volume
de tais remessas para este período do ano em toda a série
do Banco Central, superado apenas pelas remessas acumuladas nos primeiros quatro meses de 2008 e de 2011.
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Os diagnósticos mais frequentes sobre a evolução das remessas de lucros e dividendos costumam se valer de pelo menos duas variáveis explicativas, ambas relacionadas à economia nacional. A primeira refere-se à atividade econômica do país. O raciocínio é o de que o maior dinamismo da atividade econômica tende a favorecer os resultados de filiais de empresas
transnacionais instaladas no país e, por conseguinte, as suas remessas de lucros e dividendos. De acordo com o mesmo argumento, portanto, a redução da atividade econômica afeta
negativamente o lucro destas filiais e, portanto, suas remessas para suas matrizes no exterior.
A segunda variável frequentemente utilizada nos diagnósticos acerca da evolução das remessas de lucros e dividendos refere-se à taxa de câmbio. Segundo diagnósticos recorrentes, a
apreciação da moeda nacional tende a potencializar a expressão em moeda estrangeira dos lucros obtidos pelas filiais de empresas transnacionais no Brasil e, portanto, as remessas de lucros e dividendos. Analogamente, a depreciação da moeda nacional desfavorece o resultado
das filiais de empresas estrangeiras e, como resultado, suas remessas de lucros e dividendos.
Não se pode negar a coerência destes raciocínios. No entanto, nenhuma de suas duas
variáveis explicativas parece ajudar a entender a expansão corrente das remessas de lucros e
dividendos. Em relação à atividade econômica, em primeiro lugar, temos que o Produto Interno
Bruto desacelerou em 2012. De fato, este cresceu 0,9% no ano passado, frente a 2,7% no ano
de 2011. Assim, se as remessas de lucros e dividendos do início do ano refletem os resultados
auferidos ao longo do ano anterior, estas deveriam ter diminuído no primeiro quadrimestre de
2013, e não o contrário, como de fato ocorreu. Diga-se de passagem, a indústria, cuja evolução
nas Contas Nacionais no ano passado foi negativa em 0,8%, foi a única que contribuiu para a
expansão de tais remessas no primeiro quadrimestre deste ano, conforme figura a seguir. Em
relação à taxa de câmbio, por sua vez, temos que a depreciação do real observada no ano passado, de 17%, tampouco ajuda a explicar o atual crescimento dos envios de lucros e dividendos.
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Os motivos para a aceleração nas remessas de lucros e dividendos devem ser buscados
em outros fatores que não apenas os condicionantes internos. Assim como observamos nos
anos de 2008 e de 2011, fatores externos também condicionam estes movimentos de capitais. Entre tais condições está a fragilidade da recuperação das economias centrais, em especial na Europa, origem de 55% do estoque de IDE na economia brasileira. As condições
externas atuais parecem ainda conspirar a favor da continuidade deste movimento de aumento de remessas ao exterior. A depender destas condições, portanto, a perspectiva segue
sendo de aumento das remessas de lucros e dividendos destas filiais nos próximos meses.
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