O PARFOR E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTES VISUAIS: A TRANSFORMAÇÃO DE DOCENTES /ESTUDANTES Maria Carla da Cunha (SEED/UEL) Roberta Puccetti (UEL) Maria Irene P. O. Souza (UEL) RESUMO Este artigo apresenta experiências de docentes/alunos do Curso de 2ª Licenciatura em Artes Visuais do PARFOR/UEL, com o objetivo de demonstrar a trajetória da formação em processo de docentes que retornam à condição de alunos, depois de decorridos alguns anos da primeira graduação. Esta pesquisa adotou como referencial teórico Nóvoa, Oliveira e Martins, entre outros, para desenvolver um levantamento de dados por meio da observação e entrevista semiestruturada com docentes/alunos concluintes de 2012 do referido curso. Os resultados comprovaram a contribuição da Formação Continuada em relação às transformações no que diz respeito ao desenvolvimento de concepções no campo da arte, à melhoria das práticas pedagógicas e à vida pessoal destes docentes/alunos. Palavras-chave: Ensino de Arte; Formação Docente; PARFOR. ABSTRACT This article presents experiences of teachers / students of 2nd Degree in Visual Arts PARFOR / UEL, aiming to demonstrate the trajectory of the training process of teachers who return to the condition of students, after a number of years of the first degree. This research adopted as a theoretical Nóvoa, Oliveira Martins, among others, to develop a collection of data through observation and semistructured interviews with teachers / students, 2012 graduates of that course. The results confirmed the contribution of Continuing Education in relation to the changes with regard to the development of concepts in the field of art, the improvement of teaching practices and personal lives of these teachers / students. Keywords: Art Education, Teacher Training; PARFOR. A Formação de Professores é um tema que tem sido bastante discutido e pesquisado no âmbito de diversas áreas do conhecimento. Na atualidade, o Professor não pode se conformar apenas com a formação inicial, em nível de graduação, pois, ao chegar à sala de aula, se depara com muitas situações para as quais não encontra respostas ou embasamento teórico nos conhecimentos adquiridos. Alguns professores, ao se defrontarem com tal realidade, reconhecem que precisam se mobilizar em busca de uma formação continuada. O presente estudo trata da Formação de Professores na área de Artes Visuais, em um curso instituído pela Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação Básica PARFOR, na Universidade Estadual de Londrina – UEL, cujo objetivo é dar a segunda licenciatura ao docente que atua na disciplina sem a formação específica. O objetivo do estudo é demonstrar a importância da formação e as transformações dela advindas, além da trajetória pessoal e profissional desses professores que retornam aos bancos universitários na condição de alunos, a partir da análise dos depoimentos destes. A FORMAÇÃO CONTINUADA E A REFLEXÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA Os docentes/alunos que iniciavam o curso de 2ª Licenciatura em Artes Visuais em 2010 trilharam um caminho inverso que partia da teoria para a prática. A riqueza desta caminhada estava na possibilidade de refletir, discutir, relatar e ressignificar a prática vivenciada à luz da teoria. A riqueza esta na oportunidade de refletir e testar, imediatamente, as experiências e os conteúdos apreendidos, numa articulação entre prática e teoria. O curso possibilitou vivenciar novas experiências e apropriar-se de conceitos para a construção de conhecimentos, o que possibilitou um diálogo bem articulado entre a sala de aula, a prática vivenciada e a teoria adquirida. Ao se pensar na caminhada do docente/aluno, nesse retorno à academia, vale destacar os passos propostos por Saviani (2005) em sua teoria histórico-crítica: a prática social, a problematização, a instrumentalização, a catarse e a prática social. Por meio desses passos, o autor busca desenvolver, com base nos pressupostos teóricos da perspectiva histórico-social, uma reflexão sobre o significado do processo educativo que articula a aprendizagem do aluno à formação do professor. A compreensão e a vivência dos cinco passos que levam o professor a questionar sua prática perpassam pela problematização, pela instrumentalização, pela catarse e retornam à sua prática, com uma nova visão, resultado do conhecimento construído nessa trajetória. Neste contexto, destacam-se as reflexões sobre a formação docente, o Curso de Artes Visuais PARFOR - UEL e os desafios pessoais e coletivos que possibilitaram um novo olhar para as práticas cotidianas, que se tornaram elemento desencadeador da transformação efetiva da ação e envolveram a arte na formação, na docência e na experiência. Ao se tratar dos desafios da formação, é fundamental ressaltar a falta ou a insuficiência desta para muitos profissionais em diversos lugares do Brasil, pois a formação que muitos almejam nem sempre está ao alcance, seja por questões financeiras ou pela ausência de Instituições que a ofertem. Assim, é importante reconhecer a iniciativa do Governo Federal na implantação do PARFOR, programa que propiciou a muitos professores, detentores de diferentes graduações, uma oportunidade de olhar para suas práticas pedagógicas, repensar seu trabalho docente e vislumbrar a possibilidade de continuar buscando conhecimentos. Este Programa garante aos professores da educação básica da rede pública, em pleno exercício de suas funções, a obtenção da formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Diante das questões até aqui abordadas, buscou-se investigar a percepção dos profissionais da educação, participantes do PARFOR, em relação à formação oferecida por este e o reflexo desta em sua atuação docente em sala de aula. O PARFOR Nacional O Censo Escolar de 2007 mostrou a grande necessidade de formação de professores em três aspectos – a primeira licenciatura para os professores que não possuem uma licenciatura, a 2ª licenciatura para os professores que atuam fora da área de formação inicial e a formação pedagógica para os professores bacharéis. Assim, para melhorar a qualidade do ensino na educação básica pública em 29/01/2009, foi sancionado o Decreto 6.755, que instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação Básica. O PARFOR é um Programa de âmbito nacional que conta com a colaboração das Secretarias de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios e desenvolve parcerias com Instituições de Ensino Superior. A UEL é uma das universidades públicas do Paraná que oferta cursos pelo PARFOR. Atualmente conta com aproximadamente 500 alunos matriculados na modalidade presencial e A maioria dos docentes/alunos do PARFOR é proveniente de cidades próximas a Londrina, perfazendo um total de 57 municípios. Estes dados corroboram o pensar de Nóvoa (2007, p.1) para o qual “a formação de professores está muito afastada da profissão docente, das suas rotinas e culturas profissionais”. Este pensar é reconhecido por muitos profissionais que, ao adentrar a sala de aula, percebem as fragilidades de sua formação, sentem-se despreparados para o exercício do magistério e, numa atitude ousada, decidem retomar a vida acadêmica, com o objetivo de buscar a oportunidade de uma segunda graduação. O curso de 2ª Licenciatura em Artes Visuais do PARFOR/UEL conta com seis turmas, totalizando, aproximadamente, 129 alunos, que são atendidos por 13 docentes da graduação regular. A primeira turma iniciou o curso no ano de 2009, com 21 alunos que formavam um grupo heterogêneo sob o aspecto da formação inicial, uma vez que era composto por docentes/alunos graduados em letras, biologia, educação física, pedagogia, entre outras áreas. A segunda turma, foco desta pesquisa, que iniciou o curso no ano de 2010, apresentouse mais homogênea, pois a maioria dos alunos tinha especialização em educação especial. Como o PARFOR é um Programa Nacional de caráter emergencial, que tem como finalidade a capacitação de docentes que ministram aulas sem formação específica na área, o objetivo do curso de Artes Visuais, de acordo com a Resolução 244/2009, é “Habilitar o profissional para o exercício pedagógico no ensino de artes visuais em nível fundamental e médio, mediante a formação pedagógica específica para esse campo de ensino” (LONDRINA, 2009). Portanto, o curso está organizado para preparar e capacitar o profissional de Artes Visuais para redimensionar, de forma integrada, o desenvolvimento do ser humano, com base em uma visão crítica da realidade em que atua e da sociedade e do tempo histórico em que vive. Assim, o professor deve atuar como agente cultural, ou seja, deve ser capaz de identificar as demandas e definir as estratégias necessárias para a implementação de ações específicas na área, além de promover a conscientização e estimular a preservação do patrimônio natural, artístico e cultural. Os objetivos do curso privilegiam aquilo que para Nóvoa é [...] um compromisso com a prática pedagógica, integrante da formação, sem dicotomizar ou separar aquilo que se está amalgamando para ser capaz de produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do quotidiano dos professores (NÓVOA, 1992, p. 19). O curso de Artes Visuais tem a finalidade de proporcionar ao estudante a construção de uma sólida fundamentação no que diz respeito às linguagens artísticas, com bases históricas, sociológicas e filosóficas, com o intuito de lhe oferecer uma formação embasada na pesquisa, na experimentação de novas práticas artísticas e na investigação do ensino. FORMAÇÃO DOCENTE Os professores, muitas vezes, são contaminados e precisam buscar lucidez para construir e definir o futuro da educação que deve ser iniciado por sua própria formação. Num contexto onde a responsabilidade e o respeito devem ser as principais características do profissional, a atenção à constante necessidade de mudanças nas rotinas de trabalho é o elemento central do processo de formação continuada. Nesse sentido, Nóvoa reflete: Eis-nos de novo face à pessoa e ao profissional, ao ser e ao ensinar. Aqui estamos. Nós e a profissão. E as opções que cada um de nós tem de fazer como professor, as quais cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar e desvendam a nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser. É impossível separar o eu profissional do eu pessoal (NÓVOA, 1995, pp.15-17). Assim, buscou-se investigar a Formação Continuada enquanto mudança das práticas pedagógicas dos professores/alunos e a apreensão do currículo construído na escola e pela escola, o que pode sinalizar e evidenciar como tem sido a atuação docente destes docentes/alunos, no decorrer desta formação e revelar possíveis transformações ocorridas ao longo desses dois anos. Segundo Oliveira (2011) é importante buscar na prática docente a dimensão do contexto escolar que, ao longo do tempo, é marcado por trajetórias que demonstram, de forma particular, como os professores foram tratados, as aulas que tiveram e os cursos que escolheram, muitas vezes, por falta de opção. Assim, as imagens se transformam conforme a trajetória de cada um, pois a formação inicial e a docência são marcadas pelas experiências vivenciadas na vida e na escola. Para o autor (2011), as marcas que cada sujeito carrega incluem não só as experiências de vida, mas também as vivenciadas na escola. Esta afirmação é um convite a uma reflexão sobre as trilhas pelas quais o professor passa no decorrer de sua formação, tanto no que diz respeito à construção de relações com o outro, quanto ao resgate de seus guardados e à descoberta de elementos arquivados, que precisam ser revistos, a cada momento, para que possa compreender as experiências vivenciadas cotidianamente. Este estudo foi privilegiado pelo fato de que os trabalhos de conclusão de curso devem obrigatoriamente ser o resultado de uma pesquisa desenvolvida na escola onde o professor atua. Desse modo, pesquisar com seus próprios alunos os resultados de sua ação docente levou a uma análise constante da relação teoria e prática. O amadurecimento do profissional deixa marcas em si mesmo e se reflete em sua prática docente, o que evidencia aspectos importantes da formação em serviço, que não se restringem a relatos verbais, mas se traduzem em mudanças concretas que o levam, muitas vezes, a uma tomada de decisão quanto ao prosseguir ou mudar. A formação continuada, além de propiciar a internalização de novos saberes, possibilita a troca de experiências entre os docentes/alunos, numa construção coletiva do conhecimento, resultante de inúmeras visões/identidades, o que se traduz em enriquecimento no âmbito da educação escolar, espaço este também repleto de contradições. Assim, no âmbito da Formação Continuada, é importante lembrar que a história de cada docente/aluno é relevante no processo de formação, tanto individual como coletivo, pois se reflete em sua atuação nos diferentes momentos da vida escolar. Para Hernández “[...] a construção da identidade profissional docente não é algo estático, mas vai se definindo num processo de mudança, mediante uma aprendizagem incerta que se desenvolve ao longo de vários anos” (HERNÁNDEZ, 2005, p.30). Alguns aspectos da formação docente e a compreensão destes, principalmente, em relação à teoria e à metodologia, têm despertado a necessidade de se repensar, de forma crítica, este momento histórico, tendo como referência as narrativas e as estratégias que se estabelecem nas relações conflituosas entre formação e ação, no cotidiano do ambiente escolar. Segundo Barbosa: O que a antipedagogia queria era se livrar da pomposidade e inocuidade dos professores e substituí-los por engajados fazedores de coisas, ideias, e mentes que, mesmo sem ter o nome de professores, precisavam ser bem formados. Fracassaram porque o capitalismo globalizado encarcerou ainda mais o sistema educacional em todo o mundo com a adesão da maioria dos países ocidentais aos inúteis e infrutíferos Currículos Nacionais “que vêm apenas gerando medidas de controle mais eficientes” (BARBOSA apud OLIVEIRA, 2005, p.13). No Brasil, programas de formação como o PARFOR, têm apresentado inúmeras oportunidades aos professores, desse modo, mesmo que haja influências políticas e econômicas envolvidas, constituem espaço para discussões sobre a formação de docentes. Acredito que muitos, pelo Brasil afora, se perguntam: “É apropriado este tipo de formação nas circunstâncias atuais do ensino?” Este Programa, desenvolvido em nível nacional, evidencia a necessidade e a situação em que vive o professor múltiplo, que tem se mostrado ávido por conhecer diferentes teorias que propiciem opções de aprendizagem, como vem acontecendo no PARFOR, o qual aborda não somente o fazer Arte, mas também uma reflexão sobre ela, o que acaba por se refletir na ação artística ou educacional, ou nas duas, concomitantemente. Conscientes de que o professor não é somente o organizador de uma boa aula, mas o articulador de diferenças e significados, apoiado em conhecimentos, conclui-se que ele precisa de tempo para trabalhar, experimentar, planejar, rever e refazer. Neste sentido, Barbosa (apud OLIVEIRA, 2005) ressalta que, se as oportunidades forem aproveitadas, este percurso será facilmente compreendido. A pesquisa que subsidiou este artigo caracteriza-se como um estudo de abordagem qualitativa, pois buscou levantar dados para interpretar a realidade (MARTINS, 2004). Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados questionário, observações e depoimentos dos docentes/estudantes em seminários, além de debates em sala de aula, na IES. Como se trata de uma pesquisa que buscou investigar a experiência dos docentes/estudantes na trajetória acadêmica de segunda graduação e, simultaneamente, sua ação pedagógica em sala de aula, a anotação dos relatos e a análise conclusiva dos dados foram os recursos mais adequadas. A sistematização dos relatos possibilitou a organização do tema por tópicos, o que facilitou a análise das falas. A pesquisa teve como objeto de estudo a turma II do Curso de 2ª Licenciatura em Artes Visuais, composta por 15 alunos que atuam: no Ensino Fundamental - anos iniciais, 2 professores; no EJA fase I - 1 professora; na Formação Docente em nível médio - 1 professor; no sistema da socioeducação - 1 professor; e na modalidade de Educação Especial - 10 professores. Os sujeitos da pesquisa tomaram conhecimento da metodologia e concordaram em participar da mesma. Para preservar a identidade e garantir o anonimato, os participantes foram codificados com a letra inicial de seus nomes. A experiência na academia e a prática docente O desejo de escrever sobre a experiência da formação e sobre a prática docente resultante das pesquisas desenvolvidas na Universidade ficou cada dia mais forte, à medida que se vislumbrava não somente o novo representado pela retomada da vida acadêmica, mas, sobretudo, a necessidade de saber administrar o tempo do ser estudante e ser professor. Bondía (2002) ressalta a importância da experiência e de tudo o que a envolve para que se possa valorizá-la no cotidiano: A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (BONDIA, 2002, p.24). Assim, ao relatar as experiências, as transformações e a atuação docente, neste estudo, observa-se a relevância do Programa, pois provavelmente, nem os organizadores da proposta do PARFOR imaginavam a diversidade e a abrangência dessa formação, tampouco, os participantes da pesquisa. Os alunos do PARFOR, de modo geral, há muito procuravam uma oportunidade de cursar uma segunda graduação. Para alguns, era um sonho que se realizava, para outros, uma necessidade de trabalho, entretanto, no final, o amadurecimento e o compromisso com a educação e com a arte se revelaram, deixando para trás os motivos iniciais que os trouxeram ao PARFOR, fazendo emergir a importância do “processo” na formação versus Ensino e Aprendizagem. Com base nos autores pesquisados, entre eles, Oliveira e Hernandez, e nos depoimentos dos docentes/alunos, e os relatos dos professores formadores sobre suas pesquisas, foi possível desenvolver uma reflexão sobre a trajetória da formação como um todo. Nesse sentido, entre os aspectos que se deve considerar na formação estão os referenciais teóricos, que sinalizaram caminhos a serem percorridos não como receitas prontas, mas como estratégias a serem vivenciadas na diversidade da sala de aula, de modo a instigar o interesse e o desejo dos alunos no que diz respeito à Arte, processo que se deu na relação estudante/professor. O PARFOR permitiu que isso se concretizasse, nessa turma, mesmo com a diversidade de formação inicial e de atuação dos professores envolvidos. No que se refere às transformações ocorridas após o ingresso no PARFOR, verificouse: a descoberta de novas perspectivas, o amadurecimento, a aquisição de novos conhecimentos, as experiências trazidas do cotidiano, a mudança de paradigma em relação ao ensino de arte e à educação como um todo. Neste sentido, R.A.P., participante da pesquisa, relata: Antes voltada mais para expressão, pelo encantamento que a arte exercia sobre minha pessoa e hoje, vejo também como conhecimento, transformação necessária para saber me posicionar enquanto professora (participante R.A.P.). Outro aspecto abordado foi a contribuição do conhecimento adquirido para uma prática pedagógica mais rica, fundamentada na confiança no trabalho docente. A maioria dos docentes/alunos considera que evoluiu durante esses dois anos de formação, tanto em relação ao vocabulário, como em relação ao repertório e na autoconfiança para o desenvolvimento dos trabalhos em sala de aula, pois estes começaram a fluir. A esse respeito, a participante S.O diz: “Eu usava sem direcionamento”. Ficou evidente também, nos relatos dos professores, a contribuição da formação continuada, proporcionada pelo PARFOR, no que se refere às mudanças do conceito de arte e, consequentemente, do papel e da relevância do ensino de arte como construção do conhecimento. Para J.A.R: Antes do PARFOR, a minha visão a respeito da Arte [...] era limitada sempre ao belo no que diz respeito às obras de Arte. No tocante a sala de aula, a arte era mais uma reprodução de desenhos e muitos deles eram estereotipados. Após frequentar o PARFOR, minha visão mudou, pois comecei a ver obras de arte ao meu redor que nem tinha percebido antes, pois vi que a arte contemporânea está em todo lugar. Em sala de aula aprendi a valorizar mais o que os alunos fazem e explorar bem mais a criatividade de cada um, levando em consideração que todos, independentemente de deficiências, etnias e idade, possuem habilidades [...], a Arte serve como um meio para que esses se expressem com liberdade. Aprendi a dar oportunidade para o educando se expressar através da arte, sem impor nada, apenas atuando como um mediador do conhecimento e da construção do mesmo junto com o educando (J.A.R). No que se refere ao conceito de arte e seu ensino, a aluna R.A.P. ressalta sua importância na construção do conhecimento e na formação do indivíduo, bem como, a relevância do PARFOR para sua prática pedagógica, que deixou de ser superficial, pois passou a ser fundamentada em outro olhar para a arte e para as práticas educacionais. Penso que seja o fato de quebrar com alguns conceitos que tinha em relação à Arte. Estou mais reflexiva e conseguindo articular inúmeros aspectos referentes à arte e o que temos que ensinar na sala de aula. Uma complementação fundamental para minha prática pedagógica, onde consigo compreender melhor muitos aspectos relativos aos conteúdos, a ampliação do meu olhar sobre a Arte e sua importância no campo educacional. Ainda não tenho uma resposta concreta, pois estou em fase de transição profissional, porém sei que me desprendi daquela concepção afetiva+sentimentalista+expressiva. Hoje, a arte na minha vida ocupa um espaço voltado para o conhecimento, a reflexão quanto à importância para minha vida e o porquê preciso dela. Tem horas, que vejo que retrocedi enquanto artista, mas enquanto professora, enquanto indivíduo, a arte abriu meus pensamentos e me despertou para uma crítica mais ponderada e fundamentada teoricamente (R.A.P.). A descoberta de novas possibilidades de interpretação dos planejamentos, dos conteúdos e da própria prática docente, resultando na revisão do próprio conhecimento foi outro dado relevante, pois aqui inclui-se repensar o sujeito que aprende e não somente a arte enquanto conteúdo. S.O. não acreditava que o ensino da arte pudesse ser mediador do conhecimento, ou seja, pudesse ter relação com outras disciplinas. Após algum tempo de participação do PARFOR, constatou que houve mudanças: Consegui entender através da fotografia como eu tinha que trabalhar. Nunca imaginei que a fotografia tivesse fundamento. Percebo que quando vão entregar as atividades, os alunos têm alegria. Mas, eu não tinha conhecimento que isso era possível. Eu tinha habilidades manuais, mas não conseguia ver relação com os conteúdos curriculares. Hoje, consigo vê-los. Um exemplo foi um trabalho com garrafas pet, com as quais fizemos flores, ligando ao conteúdo meio ambiente (S.O.). Pelos depoimentos foi possível perceber que os docentes/alunos pensavam em conteúdos que iam da história da arte a arte moderna, contemporânea até a polivalência ou multiculturalismo, e que, antes de participar do PARFOR, consideravam os projetos e as atividades de arte muito trabalhosos e, muitas vezes, sem sentido, o que não acontece mais, pois a arte foi percebida numa outra perspectiva. Para se trabalhar na construção efetiva da identidade do indivíduo, deve-se provocar reflexões intensas e constantes, que considerem a arte não só na educação, mas também na vida, destacando sua importância na construção do conhecimento e não apenas como uma mera atividade, ressaltando seu valor no processo de criação. Segundo Ostrower, A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo individuo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vida. No individuo confrontam-se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização dessas potencialidades já dentro de uma determinada cultura (OSTROWER, 1987, p.19). Portanto, o processo de criação faz parte do desenvolvimento das potencialidades tanto do aluno como do professor. Nesse sentido, a docente/aluna A.P.S. apontou, por diversas vezes, a relevância da discussão na intimidade da turma, que demonstrava preocupação em desenvolver um projeto real que evidenciasse apropriação de conteúdos, crescimento profissional e amadurecimento pedagógico, para ser aplicado nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A turma, inicialmente, ao ingressar na Universidade, tinha a ideia de que para cursar Artes seria necessário ter “talento”. Muitos dos docentes/alunos disseram que há muito tempo desejavam frequentar este curso, mas tinham medo por se considerarem sem talento para tal. Contudo, muitos arriscaram, principalmente, pela vontade de desenvolver um trabalho de qualidade. Todos tinham experiência, mas lhes faltava clareza teórica no sentido de pensar a Arte como expressão cultural e como conhecimento cientifico, o que contribuiu para a valorização da disciplina e para a superação do ranço escolar que considera o ensino da arte como algo de segundo plano. Apaixonada pelo primeiro ano do Ensino Fundamental, V.P. relata sua experiência Pelo desenho, a partir da história, eles demonstram tudo o que vivenciam, seja individualmente ou em grupo. É a fase mais importante, porque o desenho vai ser o primeiro passo para leitura e escrita. Percebo a evolução da criança pelo desenho,[...]. No final do ano estão diferentes. O medo de desenhar revelado nas frases: “Eu não sei desenhar professora! Faz para a gente copiar, desenha pra gente” (V.P.). Essas afirmações são bem parecidas com as proferidas pelos docentes/alunos da turma em estudo nas aulas de desenho e pintura, durante o curso do PARFOR, o que demonstra como foram formados e como ainda estão se formando. Vale, aqui, uma pequena reflexão, pois enquanto a docente/aluna se manifestava, os colegas assentiam com a cabeça demonstrando passar pela mesma experiência. A mudança de olhar em relação aos conteúdos e às metodologias também se fizeram sentir, já que os conteúdos devem se sustentar e não permitir que arte seja um suporte ou meio para as demais disciplinas, pois deve o saber e ser articuladora de saberes com significado para a vida do aluno. O conteúdo de arte precisa existir de fato e apresentar-se de forma clara nos planejamentos escolares, além disso, sua ação deve ser visível na efetivação da prática pedagógica. A observação da prática em sala de aula é qualitativa e orienta os próprios atores do processo, assim, professor torna-se orientador da própria prática, que é reencaminhada com base nas análises desenvolvidas. Nessa perspectiva, ficou claro que um processo de transformação aconteceu, no que diz respeito ao conceito de arte, de fazer arte e de ensinar “arte”, na turma II do PARFOR. Isto é tão significativo que, provavelmente, os professores formadores não tinham ideia da dimensão que suas propostas alcançaram na construção da identidade docente de seus alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A formação é o lugar de nossas histórias acolhidas como base da própria aprendizagem docente. A experiência, aqui registrada, significou muito mais do que se imaginava, entretanto, talvez não seja possível expressar em palavras todas as mudanças ocorridas ao longo do processo ou mesmo quando da sistematização dos dados da pesquisa. Cultivar a atenção a tudo o que está ao redor, abrir os olhos e os ouvidos, escutar o outro, cultivar a arte do encontro, calar muito e ter paciência, são decorrências da formação desses docentes/alunos. Essa experiência e, consequentemente, a transformação decorrente dela, ao longo do processo, deixaram marcas que, de forma singular, foram proporcionadas pela interrupção do impossível e estabeleceram a mediação entre o conhecimento e cada participante do grupo, de forma particular, revelando as diferenças. A cada novo encontro ou nova disciplina, vislumbrava-se a possibilidade de um novo caminhar pedagógico, que se traduzia no desenvolvimento de aulas com base no que se aprendia na Universidade, para depois se discutir o que deu certo e o que deu errado, pois o anseio de todos era melhorar cada vez mais. Ao analisar os relatos dos docentes/alunos, percebeu-se que suas falas estavam carregadas de histórias vivenciadas na trajetória acadêmica e profissional, ou seja, repletas de experiências e transformações pessoais. O processo percorrido atrelou a experiência à vida, proporcionando aos docentes/alunos o conhecimento no que diz respeito à ação decente. Esta pesquisa privilegiou a abordagem concreta da práxis que, agora, fundamentada e registrada, se apresentou numa perspectiva crítica em relação às estratégias de formação docente. Assim, experiências concretas antes não registradas e mal fundamentadas, muitas vezes, em pequenos grupos, tomaram outra forma, agora com identidade e consistência. O sucesso do curso refletia-se em cada docente/aluno, num investimento contínuo de busca pelo novo. Outro aspecto que vale salientar é a relação entre teoria e prática, construída no decorrer do curso no cotidiano escolar. Constatou-se que esta questão esteve presente do início ao fim do processo de formação, desencadeando um repensar sobre os planejamentos, conteúdos abordados, atividades desenvolvidas e instrumentos e critérios de avaliação, culminando na configuração da identidade docente, resultado da formação em construção contínua. REFERÊNCIAS BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. 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