Governo Dilma
e perspectivas
Economista Octavio A. C. Conceição
Corecon/RS nº 3097
O que se pode esperar do governo Dilma nas esferas econômicas e
social a partir de 2015?
Acho que as urnas revelaram a necessidade premente de mudanças. A
orientação do governo deveria ser simultaneamente atender dois pontos,
aparentemente contraditórios, mas que necessariamente devem ser perseguidos. De um lado, os pontos positivos, que conduziram à reeleição,
estão ligados aos avanços das políticas sociais e distributivas, que permitiram aos mais pobres ascender em termos de sua participação relativa
na renda nacional. De outro lado, os pontos negativos, alvo de críticas da
oposição, e que não podem ser negligenciados pela “nova” política econômica governamental, dizem respeito às políticas de controle da inflação,
ao controle do déficit público e à reversão das dificuldades no balanço de
pagamentos, que, pela apreciação cambial, estão levando o setor produtivo a perdas de competitividade e de produção. Afora isto, preocupações
com a infraestrutura produtiva
e tecnológica são decisivas para
modernização do País.
Por que analistas econômicos estão prevendo que 2015
deverá ser um ano de ajuste e
dificuldades?
Pelos motivos expostos. O
governo não pode esquecer seu
compromisso com a inclusão
social, porém, temores de descontrole inflacionário, fiscal e
cambial sugerem uma perda
de rumo da política econômica,
que afeta sua própria credibilidade e gera profecias que, se não revertidas,
se autorrealizariam. Cabe ao governo angariar a confiança na eficácia de
sua “nova” política econômica, em um duplo sentido: demonstrar a consistência das políticas sociais e sua compatibilidade com metas de estabilização inflacionária, inserção externa competitiva e inovação tecnológica.
Enfrentar adequadamente este duplo desafio constituirá a essência da política econômica do novo governo.
Essa vitória nas urnas, com uma margem tão pequena de votos,
pode trazer dificuldades paro o governo Dilma continuar fazendo
suas reformas?
Pelo contrário, revelam um novo norte no sentido de explicitar por
onde deverão orientar-se as reformas. Se isto não for percebido, aí sim, as
dificuldades aumentarão. Acho que a Presidente tem sensibilidade política
para implementar as mudanças sinalizadas pelos resultados das eleições.
O que deve ser feito para que a inflação convirja para o centro da
meta e o crescimento econômico seja mais robusto e consistente?
A convergência para o centro da meta é uma estratégia de política
econômica adotada na consolidação da estabilização brasileira pós-real,
e acredito que não será abandonada. Também considero que a busca da
consolidação de um novo cenário de crescimento nacional, que, na minha
visão, está em construção, foi percebido pelos eleitores que confiaram um
novo mandato à Presidente. De novo, o desafio da política econômica a
ser implementada é combinar com inteligência, criatividade e credibilidade, objetivos tão complexos que não podem ser vistos como antagônicos.
Caberá ao governo e sua equipe demonstrar a exequibilidade de tais metas.
Este é o desafio da “nova” política econômica.
O que esperar em termos de reformas estruturais?
As mudanças estruturais estão em pleno andamento. O Brasil tem um
novo cenário distributivo, conquistado com expressivos avanços no âmbito da inclusão social. Falta-nos avançar mais na infraestrutura logística e
produtiva, cujos gargalos foram percebidos pelo governo e que vêm sendo
enfrentados, embora sem muito alarde. Os PAC I e II, neste sentido, foram
fundamentais e devem ser desdobrados. Por fim, acho que uma política
tecnológica e de inovação, sintonizada com o novo desenho do País, deve
assumir um papel mais explícito e efetivo na “nova” política econômica
governamental.
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