António Pereira Coelho Dois séculos após a sua descrição inicial, a endometriose constitui no quadro das patologias femininas, aquela que continua a apresentar o maior número de enigmas relativamente à quase totalidade dos diferentes aspectos e enquadramentos sob os quais efectuemos a sua análise. Convém recordar que o reconhecimento da sua identidade terá sido efectuada no já longínquo ano de 1860 e que, se a sua definição genérica – presença de focos de tecido endometrial fora da sua localização normal – é pacificamente aceite, já o mesmo não se pode dizer quanto ao significado das múltiplas formas que esse mesmo conceito abarca. 1. ETIOPATOGENIA A existência de várias e distintas teorias para tentar explicar o aparecimento da endometriose é bem reveladora do nosso insuficiente conhecimento acerca da natureza desta patologia, que muitos admitem que só de uma forma simplista pode ser considerada como uma entidade única. Como quer que seja, todas elas têm que ser tomadas em consideração, na medida em que os mecanismos invocados são passíveis de explicar diferentes situações anatomoclínicas. 1.1. TEORIA DA IMPLANTAÇÃO Pode considerar-se a concepção que reúne um maior consenso, talvez porque constitui efectivamente a explicação que de uma forma mais coerente explica um maior número de quadros. De acordo com esta teoria descrita por Sampson em 19251, a endometriose resultaria da implantação pélvica de fragmentos de endométrio viável provenientes de uma menstruação retrógrada. Os pilares em que assenta esta teoria advêm da constatação de vários fenómenos que analisados em simultâneo, lhe conferem unidade e coerência. O primeiro e, talvez o mais óbvio, resulta da verificação efectuada inicialmente por laparotomia e, mais tarde por laparoscopia, da presença de sangue de aspecto menstrual, fluindo através das trompas e acumulando-se nas regiões mais baixas da cavidade pélvica, simultaneamente próximas do pavilhão – fundo-de-saco de Douglas, ligamentos útero-sagrados e fossetas ováricas, bem como nos folhetos posteriores dos ligamentos largos. Paralelamente, a valorização do papel destas designadas menstruações retrógradas foi estabelecido, porque as localizações peritoneais dos focos de endometriose pélvica coincidem precisamente com as zonas «banhadas» pelo sangue menstrual refluído. Uma outra constatação fundamental é a da presença quase sistemática de permeabilidade tubária, indispensável para o refluxo; os raros casos de obstrução, melhor dito, de dificuldade de passagem, advêm de distorções anatómicas secundárias aos processos inflamatórios que apresentam os estádios mais graves da doença. 277 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 17 Endometriose de tecido endometrial funcionante em locais distantes, localizações essas insusceptíveis de explicação pelas duas teorias anteriores. Para essas localizações, nomeadamente pulmonares, nasais, umbilicais, ganglionares, torna-se possível invocar a possibilidade de uma migração ou metastização, tal como o propôs Halban4 em 1924. Os focos à distância são compatíveis com uma propagação quer por via hemática, quer linfática. 1.2. TEORIA DA METAPLASIA 1.5. TEORIA AUTOIMUNE Esta teoria propõe como explicação para o aparecimento da endometriose pélvica a ocorrência de fenómenos de metaplasia do mesotélio peritoneal, relacionados com a presença de factores irritativos, um dos quais podia ser precisamente o sangue menstrual. Como facilmente se depreende, esta concepção não só não invalidava a teoria do refluxo, como pelo contrário a reforçava, ao apresentar uma explicação que preenchia a lacuna que advinha da dúvida quanto à viabilidade do endométrio descamado. Pode sem grandes reservas afirmar-se que a conjugação destas duas concepções é suficiente para explicar a maioria, se não mesmo a totalidade das situações de endometriose peritoneal. Esta concepção é de algum modo abrangente, na medida em que assenta num pressuposto que não exclui qualquer das concepções anteriores, mas que ajuda a compreender, porque razão nem todas as mulheres apresentam endometriose, nem as mesmas manifestações clinicopatológicos delas decorrentes. É uma concepção que parte do reconhecimento da existência de alterações fisiopatológicas comuns a múltiplas doenças auto-imunes, alterações essas que permitiriam explicar não apenas a ocorrência da doença em si mesma, como de algumas das suas frequentes e controversas consequências, caso da infertilidade por exemplo. 1.3. TEORIA METASTÁTICA Nas diferentes teorias descritas precedentemente, fica por explicar a razão pela qual nem todas as mulheres sofrem de endometriose, mesmo quando sujeitas a circunstâncias favorecedoras. Para além das formas mais frequentes e conhecidas de endometriose pélvica, têm ao longo dos tempos sido encontrados focos 278 1.4. TEORIA DAS CÉLULAS PRECURSORAS Restos embriofetais de origem mal definida, mas eventualmente genital, poderiam ser estimulados pelas hormonas que habitualmente exercem o seu efeito sob o endométrio e levá-los a reagir da mesma forma. 1.6. FACTORES GENÉTICOS Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Mais tarde, e inspirados por estas constatações, Te Linde e Scott2 conceberam e executaram um trabalho de investigação em fêmeas de macacos Rhesus, em que lhes foi possível desencadear processos de endometriose invertendo o útero e assim drenando o sangue menstrual para a cavidade pélvica. Uma das reservas postas a esta teoria apontava para a dúvida quanto à viabilidade dos fragmentos do endométrio menstrual, dúvida, que de certo modo foi eliminada quando em 1958 Ridley3 conseguiu que fragmentos desse tipo de endométrio dessem origem a focos de endometriose ao serem transplantados para a pele aquando da realização de laparotomias. Apesar de tudo, continuam a surgir dúvidas quanto à concepção biológica subjacente a esta explicação o que deu azo ao aparecimento da teoria da metaplasia. 2. HISTOPATOLOGIA Se considerarmos a adenomiose, em tempos designada endometriose interna, como uma patologia diferente da outrora descrita endometriose externa, devemos ainda assim confrontar-nos com formas de apresentação que, possuindo em comum alguns traços que permitem considerá-la uma entidade única, divergem em múltiplos aspectos. Esta diversidade é de tal forma acentuada nos seus aspectos morfológicos, sintomatologia, evolução e resposta à terapêutica, que muitos autores se interrogam quanto à legitimidade de continuar a considerá-la como a mesma doença, admitindo que possam e devam antes ser consideradas entidades distintas. Reconhecendo embora, que esta perspectiva apresenta muitos argumentos em que possa alicerçar-se, julgamos que, apesar de tudo, são mais fortes as razões que nos levam a considerar a concepção unicista. Nesta óptica, consideraremos como uma mesma patologia as diferentes lesões peritoneais, as lesões ováricas nomeadamente os endometriomas e os focos útero-sagrados com extensão para os planos profundos, com destaque para as lesões infiltrativas rectovaginais; esta opção assenta fundamentalmente na existência de aspectos histológicos que no essencial são comuns às lesões enunciadas. Endometriose 2.1. ASPECTOS MICROSCÓPICOS O denominador comum às lesões endometriósicas é a presença em todas elas dos dois elementos morfológicos que caracterizam o tecido endometrial: glândulas e estroma. Mas, para que a concepção unicista possa ser reforçada há que considerar que a identidade não se limita à histologia, exigindo-se para uma mais rigorosa definição e caracterização, um idêntico comportamento funcional, em particular a receptividade aos estímulos hormonais, com destaque para a resposta à estimulação pelos estrogénios e, em menor grau, pela progesterona. Contudo, importa acentuar que a similitude com o tecido endometrial original é incompleta e variável, tal como diferentes são também os diversos focos na sua caracterização morfológica e funcional, alargando-se esta diversidade ao comportamento variável que vão apresentando de acordo com a sua longevidade e a idade da mulher. Múltiplos têm sido os trabalhos efectuados no sentido de precisar as razões explicativas da heterogeneidade aludida, mas todos os esforços efectuados não permitiram até agora chegar a conclusões irrefutáveis. Uma das dúvidas que persiste é relativa à manifesta discrepância constatada na transformação decidual, um fenómeno que como é sabido resulta essencialmente da acção da progesterona, ou seus derivados sintéticos, sobre o componente estroma endometrial; esta decidualização, porque constitui um dos mais importantes fundamentos da terapêutica médica da endometriose, tem sido particularmente estudada. Os resultados apresentam uma extrema variabilidade, qualquer que seja a perspectiva sob a qual sejam estudados, embora se possa dizer que existe uma tendência manifesta a destacar o papel dos receptores de estrogénios; uma certa inferioridade dos receptores de progesterona relativamente aos estrogénicos, dos quais dependem, poderia 279 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Parece cada vez mais óbvia a existência de uma predisposição, assente numa base genética, com um modelo de transmissão de tipo mendeliano, tal como acontece por exemplo na diabetes. A presunção para este conceito assenta num certo número de constatações: — Manifestação preferencial em vários membros de uma mesma família5. — Aparecimento simultâneo em gémeas monozigóticas6. — Prevalência da doença nos familiares de 1.o grau, seis a nove vezes superior à da população em geral. 2.2. LESÕES MACROSCÓPICAS De acordo com a visão mais generalizada e aceite, devem salientar-se como possuindo características próprias as lesões peritoneais superficiais, quase sempre acompanhadas de focos ováricos também superficiais, mas que frequentemente dão origem a formações quísticas, outrora quase sempre designados por «quistos de chocolate» e actualmente mais descritos por endometriomas7, conceito extensivo a qualquer colecção de sangue hemolisado revestida por tecido endometrial. Retomando as lesões peritoneais, representativas das formas consideradas menos graves de endometriose, o destaque vai para aquele que historicamente foi considerado o aspecto típico, como de queimaduras de pólvora, de localização preferencial no Douglas, ligamentos útero-sagrados e folheto posterior do ligamento largo; com o progresso obtido na identificação das variadas formas de apresentação da endometriose conclui-se que estes aspectos tradicionais correspondiam na maioria dos casos a zonas antigas, em regressão, provavelmente inactivas. Mas em paralelo com elas foram sendo caracterizadas outras lesões de aspecto consideravelmente distinto, duvidando-se até em determinado momento que pudessem corresponder à mesma entidade. Assim, lesões tão variadas como zonas vermelhas com componente vascular mais ou 280 menos marcado (Fig. 1), pequenas formações de aspecto polipóide, vesículas de dimensão e conteúdo nem sempre semelhante (Figs. 2 e 3), placas esbranquiçadas isoladas ou incluindo algumas das formas anteriormente descritas, manchas castanho-amareladas de extensão variável (Fig. 4), acabaram por ser reconhecidas como diferentes expressões de endometriose peritoneal, dado que as biopsias efectuadas nessas zonas apresentavam no essencial o padrão histológico que descrevemos anteriormente como definidor da endometriose8-10. As lesões infiltrativas ligamentares, particularmente dos ligamentos útero-sagrados, podem ser consideradas como charneira entre as lesões peritoneais e os endometriomas de localização extra-ovárica e de transição também para as formas infiltrativas profundas, de que se destacam os complexos infiltrados rectovaginais; não se nos afigura distinta a natureza e comportamento das lesões profundas genitovesicais, tal como as anteriores de características nodulares e com uma tendência invasiva de tal forma marcada, que frequentemente são equiparadas a lesões cancerosas. Talvez também devam merecer um lugar de destaque as lesões diverticulares localizadas na junção útero-tubárica (JUT), que muitos assumem como focos de adenomiose de características peculiares e que devem ser distinguidas das classicamente designadas lesões de salpingite ístmico-nodosa. Com efeito, estas entidades têm em comum apenas a hipertrofia nodular da JUT (Fig. 5) e, distinguindo-se umas pela penetração intramuscular do tecido endometrial (ou de revestimento do lúmen tubário) e as outras pelo predomínio acentuado do tecido fibroso, de origem pouco clara. Muito do trabalho executado posteriormente incidiu na tentativa de estabelecer uma relação precisa com a idade das lesões, com o grau de actividade ou a gravidade das mesmas, com a associação a fenómenos bioquímicos tradutores de disfunções como a dor ou a infertilidade. Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 constituir a explicação mais simples e aceitável para os maus resultados terapêuticos obtidos em muitos casos de utilização de gestagénios ou estroprogestativos. De destacar também relativamente a todos os tipos de lesões de endometriose a presença de tecido fibroso, envolvendo ou penetrando nos diferentes focos. Esta fibrose, que é quase unanimemente considerada reaccional, parece apresentar alguma relação com a longevidade dos focos e poderia traduzir uma diminuição significativa da sua actividade. Figura 4. Aderências laxas de formação recente, ligadas a processo inflamatório. Figura 1. Lesões polimorfas: placas brancas, lesões vasculares, vesículas citrinas e vesículas azuladas (hemáticas). Figura 5. Lesões de salpingite ístmica nodosa na junção útero-tubar direita. 3. HISTÓRIA NATURAL Figura 2. Zona vermelha com componente vascular. Figura 3. Lesões vesiculares de conteúdo esbranquiçado, castanho e hemático na superfície ovárica e ligamento útero-sagrado. Endometriose À semelhança do que acontece com quase todas as análises efectuadas a respeito dos diferentes aspectos relativos à endometriose, também no que concerne à sua evolução existe uma significativa divergência de constatações e da interpretação das mesmas. Em condições normais, isto é, fora de uma situação de gravidez ou de qualquer contexto terapêutico, afigura-se que na maioria dos casos as lesões de endometriose tendem a persistir durante o período de vida reprodutiva da mulher. Tentando particularizar por tipo de lesões, poder-se-á dizer que a maioria das lesões superficiais tendem a manter-se estáveis ou a evoluírem no sentido do agravamento, embora estejam descritos casos, aparente- 281 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Apesar do progresso conseguido nesta linha de actuação, deve reconhecer-se que são ainda mais as dúvidas que subsistem do que as certezas que foram sendo adquiridas. 282 Aparentemente inexplicáveis são também as situações de mulheres assintomáticas, que engravidam facilmente, e que mais tarde vêm a apresentar lesões exuberantes de localização ovárica, ou de infiltração do septo rectovaginal. Teoricamente, com a instalação da menopausa, a endometriose regride de uma forma definitiva; mas se alguns casos de persistência perante terapêuticas de substituição são fáceis de entender, mais difíceis de interpretar se tornam as lesões activas por vezes encontradas na pós-menopausa, eventualmente associadas a produção hormonal endógena, para além do que seria legítimo esperar. 4. DIAGNÓSTICO 4.1. QUADRO CLÍNICO Se alguma unanimidade existe relativamente à endometriose, ela diz respeito à dor e à sua valorização como o elemento clínico mais significativo para a o seu diagnóstico. Ainda assim, também neste aspecto, nem todos os casos apresentam um padrão de dor sobreponível, sendo quase consensual porém, que a maior discrepância se verifica entre a intensidade da dor e a gravidade das lesões. Natural será referir em primeiro lugar a ocorrência da dismenorreia, ou dor menstrual, embora seja justamente em relação a ela que nem sempre existe o paralelismo que atrás referimos. Uma primeira dificuldade reside no facto de uma grande maioria de raparigas apresentarem uma dismenorreia dita primária, também designada por essencial ou funcional, supostamente não associada a qualquer patologia orgânica. Por outro lado e, por definição, a dismenorreia da endometriose é uma dismenorreia dita secundária, progressiva e total, isto é, abrangendo grande parte ou mesmo a totalidade dos dias da menstruação, por contraponto à inicial. Sucede que a evolução de uma forma para a outra pode ser Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 mente excepcionais, de regressão dessas mesmas formas. Parece também acontecer com alguma frequência um outro tipo de evolução, a passagem de focos considerados mais recentes e activos (lesões vermelhas, polipóides ou vesiculares) para as clássicas lesões em queimadura de pólvora o que traduziria uma remissão espontânea do processo, pelo menos na perspectiva de atenuação da actividade funcional, interferindo com o processo reprodutivo e/ou causadora de sintomas mais marcados. Particularmente interessante e controversa é a formação dos quistos do ovário, que surgindo em condições tão distintas, legitimam todas as especulações acerca dos mecanismos do seu aparecimento11,12. Contudo, a situação menos clara e consensual tem a ver com o papel da gravidez. Classicamente tem sido admitida como dogma a noção que a gravidez e o clima endócrino que lhe está associado constituem os factores mais favoráveis para a contenção, se não mesmo para a remissão duradoura das lesões endometriósicas; daqui nasceu de resto o fundamento para o tratamento médico da endometriose, a designada «pseudogravidez» assente na abolição da menstruação e na criação de um ambiente hormonal favorável à decidualização e, consequente reabsorção dos focos. Contudo, esta concepção não reúne um consenso absoluto, havendo casos descritos de agravamento nas semanas iniciais, embora com involução posterior, e outros de ausência de efeitos positivos notórios, persistentes, podendo nestes casos dizer-se que eles correspondem às situações mencionadas de lesões desprovidas de receptores hormonais. Embora não se possa fazer uma extrapolação directa, pode partir-se da situação gravídica para a consideração acerca do mérito dos diferentes tipos de tratamento médico propostos, cuja eficácia como veremos posteriormente, apresenta uma extrema diversidade consoante as metodologias e o tipo de pacientes analisadas. 4.2. EXAME OBJECTIVO Na nossa experiência pessoal, tem sido possível desde o exame ginecológico com espéculo, iniciar a confirmação da suspeita de uma endometriose sugerida pela história clínica. Com efeito, quer o aparecimento de manchas azuladas cervicais, presumíveis equivalentes das lesões em queimadura de pólvora, quer sobretudo a constatação de pequenos sangramentos peri-orificiais, preEndometriose cedendo a menstruação (a verdadeira explicação para os spottings?) não sendo muito frequentes, estão quase sistematicamente associados a outros elementos diagnósticos. Patognomónicos, consideramos nós os nódulos visíveis no fundo-de-saco posterior, particularmente quando assumem um aspecto polipóide, frequentemente vascularizado; correspondem obviamente a processos infiltrativos graves. No toque ginecológico tem sido historicamente referida a ocorrência de um útero em retroversão como um dos mais valiosos indícios da existência de endometriose. Não pretendendo negar esta realidade, afigura-senos porém, que mais do que uma simples variação anatómica como esta, são de valorizar as profundas distorções anatómicas associadas aos processos graves: hipertrofias nodulares e encurtamentos por vezes unilaterais dos ligamentos útero-sagrados, nódulos quase sempre múltiplos e irregulares, palpação de massas mais ou menos volumosas, correspondendo eventualmente a endometriomas ováricos, tendo por denominador comum a dor intensa que desperta a sua palpação. 4.3. EXAMES COMPLEMENTARES Historicamente e durante largos anos, a histerossalpingografia (HSG) foi o exame auxiliar de diagnóstico que mais contribuiu para confirmar uma suspeita de endometriose baseada na história clínica e no exame ginecológico da doente; por vezes, embora menos frequentemente, foram as imagens radiológicas que alertaram para a possibilidade da doença, aquando da investigação de um processo de infertilidade em que as manifestações álgicas não eram muito chamativas e a observação nada revelava de específico. Destaque então nestas circunstâncias para as clássicas imagens de um útero em baioneta, de longas trompas permeáveis, apresentando um perfeito desenho das pregas numa região ampolar anormalmente distendida, ou para um esvaziamento revelando os 283 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 progressiva o que tornaria a sua valorização mais difícil, embora com alguma frequência ela venha a manifestar-se apenas após um intervalo livre, de duração variável. Fugindo um pouco ao conceito dor, consideramos apesar de tudo vantajoso abordar desde já uma manifestação menstrual que pela sua especificidade se pode considerar quase patognomónica da endometriose: trata-se do que em linguagem anglo-saxónica se designa por spotting pré-menstrual e que se refere ao aparecimento de pequenas perdas tipo borra de café, com a duração de 3-4 dias. Menos específicas, mas também comuns são manifestações como diarreia e vómitos, traduzindo uma aceleração do trânsito intestinal, associado presumivelmente à libertação de prostaglandinas. Retomando o sintoma dor, dever-se-á talvez colocar em segundo lugar numa escala de valorização, tomando por critério a incapacidade que determina, a dispareunia, assumindo esta mais comummente uma localização profunda, simples ou com irradiação. São as formas infiltrativas as mais frequentemente imputáveis pela dispareunia, bem como pela dor espontânea de localização lombossagrada; também nestes casos podem manifestar-se aquando da defecação dores com irradiação rectal. Disúria ou cólicas renais acompanham frequentemente as formas com compromisso ureteral ou vesical, podendo acompanhar-se de hematúria durante as menstruações, tal como ocorrem por vezes rectorragias nas mesmas circunstâncias. 284 Se quase se torna desnecessário destacar a importância da imagem, para nós inconfundível, dos endometriomas ováricos com a sua fina ecogenicidade, parece-nos igualmente importante, sobretudo na interpretação do papel da endometriose na infertilidade, reter a imagem de um ovário retro-uterino, fixado (Fig. 6), que dispensa qualquer outro elemento adicional para assumir uma atitude terapêutica numa mulher de idade reprodutiva avançada. Figura 6. Ovários retro-uterinos, fixados, típicos de endometriose. CA 125 é a designação abreviada de um antigénio (uma glicoproteína de alto peso molecular com origem nas células superficiais de estruturas derivadas de restos embrionários do epitélio celómico), considerado um marcador importante de tumores não-mucinosos do ovário14. Constatou-se que os valores plasmáticos do CA 125 também se encontram elevados na maioria dos casos de endometriose moderada ou grave e particularmente na fase menstrual15,16. Não havendo dúvidas quanto à ocorrência de uma correlação positiva com os processos graves de endometriose, traduzida numa especificidade superior a 80%, o problema põe-se na sua falta de sensibilidade (variações de 20 a 50%) e associação com outros processos patológicos, nomeadamente doença inflamatória pélvica17. Outra limitação deriva da grande variabilidade dos valores encontrados – 8-22 U/ml na menstruação de mulheres sem endometriose, 14-31 U/ml Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 contornos de um ovário, cuja imagem se tornava perceptível pelas aderências que o fixavam à parede pélvica. Em situações bem mais raras a imagem de bago de azevinho, reveladoras de uma endossalpingiose, com os clássicos divertículos semelhantes aos da tuberculose genital, dela se distinguindo pela ausência da obstrução distal que esta quase sempre apresentava. O uso generalizado da laparoscopia nos anos 80 foi decisivo para o correcto conhecimento dos aspectos morfológicos já descritos, para a determinação da sua real incidência e evolução, para precisar o verdadeiro significado das lesões então consideradas atípicas e que as múltiplas biopsias efectuadas revelaram de uma forma algo surpreendente serem outras faces de um mesmo processo13. Ainda no plano diagnóstico, mas numa perspectiva que entroncava no conhecimento da fisiopatologia, a possibilidade de analisar o líquido peritoneal, a sua composição celular e bioquímica foram essenciais; mas essencial também para melhor compreender a evolução natural da doença e a sua resposta aos diferentes tipos de tratamento. Sem desprezar a correlação das imagens histerossalpingográficas com os aspectos das alterações morfológicas a que essas imagens correspondiam. Também no plano da imagem e, coincidindo com a fase áurea da laparoscopia emerge em toda a sua pujança a ecografia, em particular a ecografia vaginal, que possibilitou associar o uso de um método não-invasivo de utilização simples à caracterização dos quadros morfológicos suspeitados pela HSG e corroborados, por vezes é certo também desmentidos, pela laparoscopia. Para um observador que tenha tido a oportunidade de durante um tempo suficientemente longo ser o executante único dos três exames, HSG, ecografia (ECO) e laparoscopia, pode com segurança afirmar-se que só não será feito o diagnóstico com a utilização de dois deles (a ECO e a HSG) nos casos de lesões mínimas. 5. ESTADIAMENTO Desde sempre foi sentida a necessidade de estabelecer uma classificação da endometriose, que permitisse estabelecer um prognóstico e, particularmente a eficácia das variadas formas de tratamento médico e cirúrgico, particularmente nas situações de infertilidade. Também neste aspecto os trabalhos de Sampson em 1921 foram pioneiros, embora limitando as suas avaliações ao tratamento cirúrgico conservador dos «quistos de chocolate»; desde então múltiplas foram as tentativas realizadas com este objectivo, mas por insuficiente conhecimento dos aspectos morfológicos quase todas votadas ao insucesso. Foi contudo a utilização corrente da laparoscopia, particularmente na investigação da infertilidade, que forneceu a base para o reconhecimento das múltiplas formas de apresentação e a eficácia dos diferentes tipos de tratamento médico e cirúrgico na eventual redução ou mesmo eliminação das lesões pré-existentes e, consequente repercussão no aspecto reprodutivo. Pode dizer-se que foi com Acosta19, et al. em 1973 que se estabeleceram as bases que permitiram após múltiplas correcções e aperfeiçoamentos criar o esqueleto daquela que é actualmente a classificação quase universalmente aceite e utilizada – a classificação da American Fertility Society (actualmente American Society for Reproductive Medicine), cuja última versão data da revisão Endometriose efectuada em 1996 e está essencialmente dirigida para o papel da endometriose na infertilidade. Nesta última classificação, assente num somatório de pontos decorrentes de lesões de endometriose peritoneais e ováricas discriminando as lesões vermelhas, brancas e escuras, eventual obliteração do fundo-desaco e de aderências ováricas e tubáricas são estabelecidos quatro estádios (Quadro 1): — Estádio I (mínimo): 1–5. — Estádio II (ligeiro): 6–15. — Estádio III (moderado): 16–40. — Estádio IV (grave ou severo) > 40. Deste modo se explica a valorização atribuída às novas formas de expressão da endometriose peritoneal, que podendo não ter grande repercussão clínica, nomeadamente através do sintoma dor, interferem no processo reprodutivo através de mecanismos essencialmente bioquímicos. 6. ENDOMETRIOSE E INFERTILIDADE A relação entre a endometriose e a infertilidade é um dado adquirido desde há muito tempo e demonstrado por inúmeros trabalhos de investigação e publicações relacionadas com o tema; contudo, nem sempre é fácil ou possível estabelecer uma relação causal, ou precisar os mecanismos a ela subjacentes. É óbvio e consensual que os estádios mais graves e avançados da doença podem ser facilmente implicados na infertilidade feminina através das profundas distorções anatómicas que determinam, independentemente da sua associação a outros mecanismos fisiopatológicos mais subtis. Que esta asserção é correcta, comprovamno os múltiplos casos em que a destruição de focos, a eliminação de aderências, a exérese de endometriomas ováricos, associados ou não a terapêutica médica transitória, possibilitam a ocorrência de uma gravidez subsequente a mais ou menos curto prazo. 285 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 nos estádios mínimo e ligeiro e 13-95 U/ml nas situações moderadas e graves. Também tem sido tentada através do CA 125 a avaliação da resposta à terapêutica médica e/ou cirúrgica. Nestes casos as variações deste parâmetro de avaliação têm permitido detectar respostas positivas aos tratamentos instituídos, tal como prever a falência dos mesmos, ou a recorrência após períodos mais ou menos prolongados de remissão18. Lesões peritoneais (considerar apenas a lesão mais grave superficial ou profunda) Peritoneu Superficiais Profundas <1 1 2 1-3 cm 2 4 > 3 cm 4 6 Lesões ováricas (considerar apenas a lesão mais grave e adicionar os scores dos ovários direito e esquerdo) Ovário direito Superficiais Profundas <1 1 2 1-3 cm 2 16 > 3 cm 4 20 Ovário esquerdo Superficiais Profundas < 1 cm 1 4 1-3 cm 2 16 > 2/3 4 20 Aderências anexiais (adicionar os scores dos ovários direito e esquerdo e das trompas direita e esquerda) Ovário direito Finas Densas < 1/3 1 4 1/3-2/3 2 8 > 2/3 4 16 Ovário esquerdo Finas Densas < 1/3 1 4 1/3-2/3 2 8 > 2/3 4 16 Trompa direita Finas Densas < 1/3 1 4 1/3-2/3 2 8 > 2/3 4 16 Trompa esquerda Finas Densas < 1/3 1 4 1/3-2/3 2 8 > 2/3 4 16 Pavilhão tubar englobado em aderências = 16 Obliteração do fundo-de-saco de Douglas 286 Parcial 4 Total 40 Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Quadro 1. Classificação da endometriose da Sociedade Americana de Medicina da Reprodução Endometriose Também outras fases do processo reprodutivo foram consideradas afectadas pela endometriose, nomeadamente a fecundação, quer através do comprometimento da mobilidade e capacidade fecundante dos espermatozóides pelo líquido peritoneal, quer por uma eventual perda da qualidade dos ovócitos, ou ainda alterações da captação e do transporte tubário. Mais importantes, porque poderiam eventualmente interferir com a utilização das técnicas de fertilização extracorporal, foram as dúvidas quanto à qualidade dos embriões25, o processo de implantação dos mesmos26 e ainda uma eventual maior incidência de abortos precoces27. 7. TERAPÊUTICA Muitas das formas de endometriose não justificam a realização de qualquer terapêutica, médica ou cirúrgica; genericamente pode dizer-se que os casos que impõem uma terapêutica são os que têm subjacente uma situação de infertilidade arrastada, os que estão associados a problemas de dor incontrolável, e eventualmente os que apresentam massas pélvicas. A decisão quanto à necessidade ou à utilidade da terapêutica passa também pelo seu valor profiláctico, isto é pela sua capacidade de prevenir o aparecimento de novas lesões, de evitar sintomatologia incapacitante, ou possibilitar a manutenção de um potencial reprodutivo. 7.1. ATITUDE EXPECTANTE São sobretudo as situações de endometriose pouco grave (estádios I e II, por vezes também alguns casos de estádio III) associadas a infertilidade, que podem permitir a opção de não realizar qualquer forma de tratamento dirigida especificamente às lesões existentes. São múltiplos os factores intervenientes nesta opção, mas como acontece frequentemente com os problemas de infertilidade, a idade da 287 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Dentro deste grupo deve destacar-se o caso peculiar da endossalpingiose, ou salpingite ístmica nodosa de natureza endometriósica, a qual deve ser considerada na prática como uma situação de obstrução tubária proximal definitiva e irreversível. Bastante mais complexa é a situação dos estádios I e II, em que não só se torna difícil afirmar de uma forma indubitável a relação causal endometriose/infertilidade, como precisar qual ou quais dos mecanismos invocados estão envolvidos no processo, ou ainda se se justifica a realização de uma terapêutica específica. Existe um reconhecimento quase consensual da importância da composição do líquido peritoneal na perturbação dos mecanismos da captação ovular e fecundação, destacando-se de entre eles quer elementos celulares como os macrófagos20, quer factores bioquímicos associados a processos inflamatórios em geral21, quer ainda substâncias mais especificamente relacionadas com problemas auto-imunes. O reconhecimento através da laparoscopia, do significado das lesões «jovens» estruturalmente diferente das clássicas lesões em queimadura de pólvora, veio permitir atribuir a estas lesões um papel mais activo na síntese dos factores mediadores da infertilidade. Mas se esta constatação pode esclarecer pelo menos parcialmente o problema da relação causa-efeito, muito resta ainda por definir quanto à sua evolução e à sua sensibilidade aos diferentes agentes terapêuticos e quais. Uma perspectiva muito considerada e valorizada há algumas décadas atrás e que actualmente tende a ser desvalorizada, ou pelo menos subalternizada, tem a ver com as possíveis disfunções ováricas e/ou tubáricas22. Desde alterações da foliculogénese, à tão discutida insuficiência luteal nas suas múltiplas expressões23, passando pela designada luteinização sem ruptura folicular24, várias foram as hipóteses postuladas, tendo sempre presentes alterações esteroidogénicas condicionadas ou condicionantes do anormal processo reprodutivo. 7.2. TRATAMENTO MÉDICO Os fundamentos da terapêutica médica assentam na extrapolação para os focos de endometriose, dos dados conhecidos acerca do comportamento do endométrio funcional normal, quando submetido a acções farmacológicas exógenas, predominantemente de tipo hormonal. Este raciocínio, embora genericamente verdadeiro, não é passível de uma transposição completa, dado que, apesar da existência de identidade em muitos aspectos, ocorrem também diferenças significativas não apenas na estrutura, como ainda no comportamento funcional do endométrio normal e do endométrio ectópico. 288 Como quer que seja, a fundamentação para o recurso às diferentes armas terapêuticas reside na necessidade de contrariar o efeito estimulante, proliferativo, dos estrogénios sobre os dois principais componentes endometriais, com o objectivo de obter a sua atrofia e/ou transformação decidual. Já noutro local tivemos oportunidade de referir que, após o abandono do uso obsoleto de testosterona e estilbestrol, coube a Kistner o mérito de conceber a noção de «pseudogravidez»29 assente na decidualização do tecido endometriósico, com a previsível atrofia e reabsorção, conduzindo a uma ulterior fibrose e cura. O essencial da actividade farmacológica derivava da acção dos progestativos de síntese, utilizados isoladamente ou em associação com o etinil-estradiol na composição de pílulas monofásicas30. 7.2.1. ESTROPROGESTATIVOS Utilizados de uma forma contínua começam por induzir uma amenorreia e, consequente eliminação das menstruações retrógradas, que como já foi dito constitui um dos mecanismos fisiopatológicos indutores da doença e da sua perpetuação. Mas para além deste efeito, exercem o também já referido papel de agentes de decidualização atribuível na sua essência ao componente gestagénico do medicamento. A resultante mais óbvia e mais imediata da eficácia terapêutica é comprovada pelo rápido desaparecimento, ou no mínimo atenuação, da dor menstrual e de uma forma talvez menos exuberante dos outros tipos de dor, nomeadamente a dispareunia. Mais questionável é o seu papel na resolução das situações de infertilidade, reportando-nos naturalmente às formas mínimas ou ligeiras, já que no que concerne aos endometriomas ováricos será previsível apenas uma redução do volume decorrente da redução da componente líquida do seu conteúdo. Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 mulher acaba por ser um factor decisivo. Dada a inconstante eficácia dos diferentes tipos de tratamento na correcção de uma incapacidade reprodutiva, afigura-se legítimo ponderar de imediato o recurso a formas agressivas de terapêutica, v.g. técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), em idades iguais ou superiores a 37 anos. No outro extremo, idades inferiores a 35 anos podem ser compatíveis com uma atitude expectante, ou com o recurso a terapêuticas médicas e/ou cirúrgicas. São os múltiplos os estudos realizados que pretendem fundamentar e justificar quer a atitude intervencionista, quer a abstencionista; esse facto, juntamente com as experiências muitas vezes contraditórias observadas na prática clínica, não permitem definir uma linha de actuação incontroversa28. Há que ter em conta que, apesar de se admitir uma idêntica eficácia de ambas as atitudes, os casais inférteis aceitam quase sempre mal uma postura não-intervencionista, quando está diagnosticado um problema que pode legitimamente ser responsabilizado pela sua infertilidade. Naturalmente que nas situações de infertilidade a ocorrência simultânea de outro, ou outros factores associados obrigam a reequacionar a situação em termos distintos. 7.2.2. PROGESTATIVOS Assentando o seu uso em mecanismos de acção que têm subjacente a transformação decidual dos focos de endometriose, são nisso comparáveis aos estroprogestativos. Contudo, quer efeitos colaterais quase irrelevantes como as hemorragias endometriais por disrupção, quer outras manifestações subjectivas e objectivais menos bem toleradas como problemas digestivos, o aumento de peso, retenção hídrica, associadas à necessidade de altas doses para conseguir a manutenção da amenorreia, tornam menos aconselhável o seu uso. Dos vários tipos de gestagénios disponíveis, terá sido o acetato de medroxiprogesterona, particularmente a sua forma de administração injectável, de efeito prolongado, a mais utilizada. Se é certo que nestas situações se conseguia uma efectiva e duradoura amenorreia, também não podem ser ignorados, a par dos aspectos clínicos negativos já referidos, as alterações metabólicas graves nos tratamentos de longa duração. 7.2.3. DANAZOL Trata-se de um derivado da 17-A-etiniltestosterona introduzido na prática clínica por Greenblatt31, e que historicamente é apontado como possuindo uma acção indutora de uma pseudomenopausa, concepção só aceitável pela comprovada acção inibitória da esteroidogénese ovárica, já que em simultâneo inibe também por acção hipotálamo-hipofisária a secreção de LH e FSH. Nos primórdios foram os efeitos endócrinos do danazol aqueles que conduziram a um uso Endometriose corrente com resultados positivos quer a nível da dor, quer no tratamento da infertilidade; resultados positivos minimizados porém, pelos manifestações colaterais decorrentes da sua acção simultaneamente androgénica e anabolizante, como pele oleosa, acne, alterações da voz, associados a problemas metabólicos incidindo particularmente na alteração do perfil lipídico. Mais tarde e, coincidindo temporalmente com um melhor conhecimento das alterações imunológicas associadas à endometriose, veio a constatar-se também um papel importante do danazol a este nível, o que veio reacender o interesse potencial do seu uso terapêutico32,33 não apenas na endometriose, mas também numa série de doenças auto-imunes. De entre os efeitos relacionados com a endometriose podem destacar-se a diminuição dos níveis séricos de imunoglobulinas, de C3, C4, de auto-anticorpos antifosfolípidos e ainda das concentrações de CA 12534, bem como interleucina-1 e factor de necrose tumoral (TNF)35, além da supressão da citotoxicidade mediada pelos macrófagos e monócitos em pacientes com endometriose mínima ou ligeira36. Pessoalmente, tivemos uma longa e satisfatória experiência com o danazol durante uma década, iniciando quase sempre a terapêutica com doses de 600 mg/dia até assegurar a instalação da amenorreia e, prosseguindo depois com 400 mg e por vezes até com 200 mg/dia durante períodos de seis ou nove meses, em doentes jovens. Raros foram os casos com este esquema, que apresentaram manifestações colaterais, que obrigassem à suspensão do tratamento. 7.2.4. GESTRINONA É um derivado da 19-nortestosterona com propriedades androgénicas e simultaneamente antigonadotróficas, antiestrogénicas e antiprogesterónicas, que acabam por determinar em função da dose utilizada, uma 289 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 Desta opção terapêutica possuímos uma experiência francamente positiva com o seu emprego no pós-operatório de processos em que predominam os endometriomas ováricos, associados no seu início a pílula a um análogo de GnRH por um período não superior a um mês. 7.2.5. AGONISTAS DA GNRH Abstemo-nos de evocar os mecanismos pelos quais os agonistas conduzem a um estado de hipoestrogenismo de que decorre o seu efeito terapêutico. Embora seja referida na literatura uma tolerância comparável à do danazol ou dos progestativos, quando administrados isoladamente, não é essa a nossa experiência, pelo que desde há muito os utilizamos exclusivamente em associação com estroprogestativos e, exclusivamente para favorecer a instalação da amenorreia. Parece-nos particularmente útil, quando este esquema é instituído cerca de duas semanas antes de uma planeada intervenção cirúrgica destinada à realização de quistectomia(s) de endometriomas ováricos. Não só é possível nestas condições efectuar o estadiamento da doença, como ainda não se estabeleceu a fibrose que poderia dificultar a dissecção. Utilizando apenas uma injecção de uma das diferentes apresentações de agonistas depot consegue-se prosseguir a terapêutica com estroprogestativos isoladamente com uma redução significativa das hemorragias de disrupção durante um período de mais 3-4 meses e sem o risco de provocar uma osteoporose inicial como vimos acontecer em casos de agonistas utilizados isoladamente38. 290 7.3. TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento cirúrgico modificou-se naturalmente ao longo dos tempos em função de um melhor conhecimento do significado dos diferentes tipos de lesões e sua evolução, bem como também dos recursos técnicos disponíveis, em particular nas últimas décadas com a generalização da cirurgia laparoscópica, devendo nesta destacar-se as diferentes formas de energia que lhe estão associadas. Antes da era laparoscópica, a cirurgia era essencialmente uma cirurgia amputadora: histerectomia mais ou menos alargada quando já não estava em causa o potencial reprodutivo, anexectomias, ooforectomias ou quistectomias quando se tornava necessário preservar a fertilidade da mulher. Frequentemente também lise de aderências, quando o objectivo era precisamente corrigir uma infertilidade em que o processo de endometriose desempenhava um papel preponderante. O conceito de que lesões mínimas ou ligeiras podem por um lado ser reversíveis e não evoluir obrigatoriamente para lesões mais graves39,40, e que por outro podem estar associadas às formas infiltrativas profundas essencialmente ligadas à dor, representam um ponto de viragem nas opções terapêuticas41. Assim, nas formas mínimas e ligeiras, podendo não ser indispensável tratar cirurgicamente dado o seu carácter potencialmente reversível, não deixa de ser aconselhável destruir as lesões superficiais, se no decurso de uma laparoscopia diagnóstica é possível o recurso a uma vaporização laser, particularmente do tipo CO2. Trata-se de uma cirurgia «limpa», precisa, com limitada criação de zonas de necrose e de potencial formação de aderências; o mesmo não se poderá afirmar em rigor da coagulação mono ou mesmo bipolar. Ademais, foi possível demonstrar que este tipo de actuação permitia melhorar a fertilidade da mulher42. Mais controverso é o papel destas lesões no desencadear da dor, quando não estão Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 amenorreia em 50-100% dos casos; para além deste efeito parece actuar directamente a nível celular com inactivação e degenerescência dos focos de endometriose. Dada a sua natureza, tem naturalmente efeitos colaterais sobreponíveis, embora aparentemente menos intensos, do que os do danazol e uma semivida mais longa o que possibilita a utilização em doses mais espaçadas37. A nossa experiência pessoal com a gestrinona tem sido muito escassa, pelo que não possuímos uma opinião formada acerca dos seus méritos e/ou deméritos. Endometriose tantes está hoje bem estabelecido que não apenas se deve operar, como essa cirurgia deve ser efectuada exclusivamente em centros possuindo equipas altamente diferenciadas e dotadas da mais sofisticada tecnologia. Admitir sempre nestes casos a eventual necessidade de estender a cirurgia aos aparelhos urinário e digestivo. 7.4. ENDOMETRIOSE E TÉCNICAS DE PRO CRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA Existe uma controvérsia aparentemente infindável sobre este tema, a que na nossa perspectiva tem faltado um pouco de saudável pragmatismo, que permita decidir também à margem das conclusões exclusivamente baseadas na evidência. Afigura-se-nos que nos casos de endometriose mínima ou ligeira em que não foi possível conseguir obter gravidez após terapêutica médica, complementada eventualmente com o recurso a inseminação intrauterina, se deve recorrer a FIV; por maioria de razão, idêntica conduta deve ser preconizada, se a idade da mulher aquando do estabelecimento do diagnóstico de infertilidade não é compatível com delongas que inviabilizem em definitivo a resolução do problema reprodutivo. Nas formas moderadas e graves, o problema deve equacionar-se de forma diferente e não estaremos deslocados, se dissermos que a questão nuclear nestes estádios se centra primordial, para não dizer exclusivamente, na conduta a assumir perante os endometriomas ováricos com a tentativa de encontrar uma resposta satisfatória para o grande dilema: má qualidade eventual dos ovócitos versus diminuição da resposta ovárica. Duas publicações recentes abordam de uma forma muito clara e interessante este tema, pelo que ousamos fazer uma reprodução quase literal dos seus pressupostos e conclusões. Assim, na primeira45 são citados os prós e os contras da abordagem cirúrgica prévia dos endometriomas nos seguintes termos: 291 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 associadas a formas profundas. Assumindo que pelo menos certas mulheres poderiam apresentar um quadro álgico essencialmente ligado à inflamação, também essas situações poderiam justificar a opção cirúrgica, embora controversa. Controverso também é o tratamento cirúrgico dos endometriomas ováricos, particularmente quando o objectivo principal da terapêutica é resolver um problema de infertilidade e mais ainda quando se admite como muito provável o recurso a uma técnica de PMA. É que os resultados da cirurgia laparoscópica dos endometriomas variam entre os 23 e 67% de taxa de gravidez43, podendo uma tão grande discrepância ser explicada entre outras razões, pelas diferentes características das pacientes, os critérios de selecção, a duração do follow-up e a técnica cirúrgica utilizada. Um dado pode ser considerado adquirido neste momento, salvo se tecnicamente for inexequível: a quistectomia, pressupondo a execução do designado stripping é o método de eleição, relegando definitivamente para segundo plano a simples drenagem com coagulação subsequente do leito44; esta última ficaria reservada para os casos de pequenos endometriomas, muito aderentes e, com elevado componente de fibrose. Em que circunstâncias se pode considerar indispensável o recurso à cirurgia? Nas situações de infertilidade em que não existam outros factores que levem a pensar na necessidade de recurso à PMA e a idade da doente o permitir, a opção cirúrgica parece óbvia e os resultados compensadores (4050% de gravidezes em doentes jovens); a grande polémica põe-se quando é forte a probabilidade de recurso ulterior à PMA, tema que abordaremos num capítulo específico. Fora das situações de infertilidade e, sobretudo se foi ultrapassada a idade reprodutiva, é inquestionável a indicação operatória, associada ou não a histerectomia. Quanto à abordagem cirúrgica das formas profundas, infiltrativas, fortemente incapaci- Bibliografia 1. Sampson J. Peritoneal endometriosis due to menstrual to menstrual dissemination of endometrial tissue into the peritoneal cavity. Am J Obstet Gynecol. 1925; 14:422–69. 2. Te Linde RW, Scott RB. Experimental endometriosis. Am J Obstet Gynecol. 1950;60:1147-73. 3. Ridley JH. The validity of Sampson’s theory of endometriosis. Am J Obstet Gynecol. 1961;82:777. 4. Halban J. Histeroadenosis metastatica. Wien Klin Wochensch. 1924;37:1205-28. 5. Kennedy SH, Mardon HJ, Barlow DH. Familial endometriosis. J Assist Reprod. Genetic. 1995;12:32-4. 6. Hadfield RM, Mardon HJ, BarlowDH, Kennedy SH. Endometriosis in monozygotic twins. Fertil Steril. 1997; 68:941-2. 7. Brosens IA, Puttemans PJ, Deprest J. 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Capítulo 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2011 — A favor: risco de abcesso pélvico, contaminação do conteúdo hemático, dificuldades na aspiração folicular, prevenção da progressão da endometriose e detecção de degenerescência maligna. — Contra: riscos cirúrgicos genéricos e específicos, diminuição significativa da reserva ovárica, acréscimo considerável dos custos, falta de evidência de uma melhoria dos resultados da FIV/ICSI. Concluem os autores que se torna impossível no momento presente afirmar de uma forma insofismável qual a melhor atitude, embora admitam que não existem dados que suportem a abordagem cirúrgica sistemática, prévia à fertilização extracorporal. A outra publicação a que aludimos46 não se afasta muito dos pressupostos referidos no trabalho precedente e conclui sob uma forma afirmativa/interrogativa: há uma premência desesperada (sic) de estudos randomizados que respondam às seguintes questões: — O tratamento cirúrgico prévio aumenta o sucesso das técnicas de PMA? — Qual regime de estimulação faz correr o menor risco de recorrência e/ou agravamento da doença? Endometriose 39. Koninckx PR. Is the mild endometriosis a condition occurring intermittentling in all women? Hum Reprod. 1994;9:2202-5. 40. Vercellini P, Bocciolone L, Crosignani PG. Is mild endometriosis always a disease? Hum Reprod. 1992;7:627-9. 41. Koninckx PR, Meuleman C, Demeyre S, Lesafre E, Cornillie FJ. Suggestive evidence that pelvic endometriosis is a progressive disease, whereas deeply infiltrating endometriosis is associated with pelvic pain. Fertil Steril. 1991;55:759-65. 42. Marcoux S, Maheux R, Berube S; the Canadian collaborative group on endometriosis. 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