Diabetes e gravidez Quem fez este pré-natal? Juliana Zimmermmann Conceito Diabetes mellitus (DM) é doença sistêmica, crônica e evolutiva que se caracteriza por quadro de hiperglicemia em decorrência de defeitos na secreção ou na produção de insulina, alterando o metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Em longo prazo, pode provocar disfunções de vários órgãos como olhos, rins, nervos, coração e vasos sangüíneos. Classificação 2.1- Diabetes Mellitus do tipo1 (DM1): 2.2- Diabetes Mellitus do tipo 2 (DM2): Diabetes Mellitus Gestacional: (DMG) 1. 2. 3. 4. Com início ou primeiro reconhecimento durante a gestação; Pode ou não persistir após o parto. Ocorrem redução na secreção e alterações na ação da insulina, produção aumentada de hormônios com efeito contra-insulínico e diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina. Mais da metade das mulheres com história pessoal de DMG desenvolverá o diabetes tipo 2 nos vinte anos seguintes à gravidez acometida. Tolerância diminuída à glicose / Intolerância à glicemia de jejum: Trata-se de um estado intermediário entre a homeostase da glicose e o DM. Considera-se fora da gravidez: 1. A glicemia apresenta-se entre 140mg/dl e 200mg/dl após a realização do teste oral de tolerância com 75g de dextrosol (TOTG-75g); 2. A glicemia de jejum situa-se entre 110mg/dl e 126mg/dl. Atualmente, estes estados são denominados pré-diabetes, devido ao alto risco de desenvolver a doença Alterações metabólicas da gravidez normal 1. Exaustão da glicose: No seu metabolismo, a grávida é exaurida de glicose, transferindo este carboidrato em quantidades apreciáveis para o feto, eliminando pela urina e necessitando também de quantidade significativa para atender o aumento da volemia; 2. Mecanismos metabólicos alternativos: Aumentos da glicogenólise, da gliconeogênese e da hidrólise de triglicérides no tecido adiposo, resultando em aumento de corpos cetônicos e de ácidos graxos livres. Hormônios contrainsulínicos: Esses hormônios determinam o efeito contra-insulínico observado após a 24a semana de gestação, que tem como objetivo garantir a homeostase da glicemia materna. São eles: glucagon, estrogênio, progesterona, cortisol e lactogênio placentário humano (somatomamotropina coriônica humana). Na paciente hiperglicêmica (diabética mal controlada), o feto recebe grande aporte de glicose, causando-lhe hipertrofia das células beta do pâncreas, hiperinsulinismo e aumento dos depósitos de tecido adiposo, que colaboram para a macrossomia e outros agravos. A insulinemia fetal, detectada a partir da 12ª semana, depende dos estímulos da glicemia e é fundamental no desenvolvimento fetal. Pelas suas características anabólicas, a insulina atua no metabolismo dos carboidratos, aumentando a lipogênese, e na síntese de proteínas. Fatores de Risco Complicações maternas e fetais Vulvovaginites: acúmulo de glicose - candidíase Polidrâmnio: É freqüente em Bacteriúria assintomática e pielonefrite - infecção urinária descompensa o DM e este facilita a infecção. pacientes diabéticas gestacionais com controle metabólico precário. Quando ocorre precocemente (< 24 semanas), pode estar associado a malformações congênitas. Cetoacidose diabética Retinopatia Diabética Desvios do crescimento fetal – Associado ao tipo de diabetes e a presença ou ausência de vasculopatia. Macrossomia: Caracteriza-se por organomegalia e aumento da adiposidade e da massa muscular. É conseqüência da obesidade materna, do hiperinsulinismo fetal e da hiperlipidemia maternofetal. O tamanho desproporcional do abdome e dos membros, comparado com o do crânio fetal, contribui para parto vaginal traumático, associado com risco de distocia de ombro e maior morbidade perinatal. Crescimento intra-uterino restrito (CIUR): Na presença de vasculopatia (na diabética pré-gestacional), habitualmente, o crescimento fetal é reduzido CIUR simétrico: O CIUR simétrico é caracterizado pela redução proporcional do crescimento da cabeça e do abdome fetal, causado por fatores que agem precocemente na gravidez provocando diminuição da multiplicação e crescimento celular. CIUR assimétrico: Resultante da ação de fatores que atuam mais tardiamente na gravidez, afetando o crescimento celular e o depósito de gorduras, levando a uma redução da circunferência abdominal com circunferência cefálica normal. A redução do abdome também é explicada pela diminuição do fígado, conseqüente à diminuição do aporte de glicose por insuficiência placentária. CIUR Misto DBP x IG CA x IG CF x IG Nefropatia Diabética Hipoglicemia: Deve-se à hiperinsulinemia fetal e à maior utilização da glicose pelo concepto. O aumento da insulina fetal deriva da hiperglicemia materna. Malformações congênitas: É mais comuns em pacientes com DM pré-gestacional, mas pode ocorrer também no DMG. Em ordem decrescente de freqüência, as principais anomalias são: defeitos cardíacos, regressão caudal e anomalias renais e do SNC. Prematuridade: Atinge um índice de 25% nas pacientes sem assistência adequada. A cetoacidose diabética, as infecções e o polidrâmnio são considerados fatores agravantes. Síndrome do Desconforto Respiratório: Estudos sugerem ser o hiperinsulinismo fetal a principal causa de retardo na maturação pulmonar fetal. Policitemia e hiperbilirrubinemia. Mortalidade perinatal: É maior nas gestantes sem controle metabólico adequado. A morte fetal súbita ocorre com maior freqüência a partir de 36 semanas em pacientes com complicações vasculares, controle glicêmico precário, polidrâmnio, fetos macrossômicos ou pré-eclâmpsia. Rastreio do Diabetes na gravidez Ministério da Saúde 1 < 85(90) mg/dl Repetição após 20ª s < 85(90) mg/dl Negativo Rastreio Glicemia em jejum (GJ): ≥ 85(90) mg/dl 1ª consulta 85(90) – 109 mg/dl Diagnóstico TOTG 75g (2h): GJ ≥ 110; 2h ≥ 140 GJ < 110 mg/dl e 2h < 140 mg/dl Negativo 24-28 s 1 Manual : Pré-natal e Puerpério / 2005 ≥ 110 mg/dl Repetição imediata ≥ 110 mg/dl DMG GJ ≥ 110 mg/dl e/ou 2h ≥ 140 mg/dl DMG UFJF RISCOS BAIXO / MÉDIO: 24-28 s Negativo Positivo RISCO ALTO: 1ª consulta Negativo Rastreio TS 50g (1h): Positivo ≥ 130 mg/dl Diagnóstico TOTG 100g (3h): GJ ≥ 95; 1h ≥ 180; 2h ≥ 155; 3h ≥ 140 Rastreio TS 50g (1h): 24-28s ≥ 2 valores < 2 valores Positivo DMG Negativo Negativo Critério para diagnóstico de DMG glicose plasmática (mg/dl) jejum 1h 2h 3h Critério diagnóstico TOTG 75g WHO (1985) ≥ 126 ≥ 140 1 valor anormal ADA (1998) ≥ 95 ≥ 180 ≥ 155 2 ou + valores anormais National Diabetes Data Group (1979) ≥ 105 ≥ 190 ≥ 165 ≥ 145 2 ou + valores anormais Carpenter and Coustan (1982) ≥ 95 ≥ 180 ≥ 155 ≥ 140 2 ou + valores anormais TOTG 100g A World Health Organization (WHO), 1985, recomenda a utilização de 75g de glicose, com dosagem da glicemia de jejum e 2h após, no entanto esse teste praticamente dobra o número de pacientes com diagnóstico de DMG, sem nenhum beneficio aparente (2). A American Diabetes Association (ADA), 1998, utiliza a mesma sobrecarga de glicose, com cut-off e dosagens diferentes (jejum, 1h e 2h), sendo este procedimento também recomendado pela SOGC (2). O ACOG, 1994, recomenda a utilização de sobrecarga de 100g glicose (dosagem glicose plasmática: jejum, 1h, 2h e 3h), sendo esta outra opção que a SOGC recomenda (2). Classificação do Diabetes Classe A: Diabetes Gestacional Classe B: Início após os 20 anos de idade com menos de 20 anos de duração Classe C: Início entre 10 e 19 anos de idade Classe D: Início antes dos 10 anos de idade, com mais de 20 anos de evolução. (Retinopatia benigna; hipertensão arterial). Classe F: Nefropatia Classe H: Cardiopatia Classe T: Transplante renal Classe R: Retinopatia proliferativa Assistência Pré-Natal Propedêutica básica Avaliação da Função Renal: uréia, creatinina, clearence de creatinina, proteinúria de 24 horas Avaliação Cardiovascular e fundo de olho b.3- Controle glicêmico: Deve ser realizado através de: Glicemia de jejum (15/15 dias): 90 - 95 mg/dl; Glicemia pós-prandial (15/15 dias): < 120 mg/dl; Hemoglobina glicosilada (30/30 dias): < 6%. c- AVALIAÇÃO ESPECIALIZADA c.1- Avaliação endocrinológica: Deve ser mensal. c.2- Avaliação obstétrica: Paciente com bom prognóstico (bem controlada e sem evidências de retinopatia ou nefropatia): controle mensal até 28 semanas, quinzenal até 34 semanas e, a seguir, semanal. Pacientes com mau prognóstico (diabetes de longa evolução com evidências de retinopatia ou nefropatia): controle em intervalos menores (7 a 15 dias). c.3- Outras avaliações: As avaliações pela Nefrologia e/ou Cardiologia, dependendo do quadro clínico e da classificação do diabetes, serão mensais, habitualmente. d. OUTROS CONTROLES: d.1- Dopplerfluxometria de artéria uterina: d.2 - Dopplerfluxometria de artéria umbilical / cerebral média Atualmente, o diagnóstico de centralização fetal é realizado através do estudo dopplervelocimétrico da artéria umbilical (AUM) e da artéria cerebral média fetal (ACM), considerando-se alterado um valor da relação umbilical/cerebral maior do que a unidade (AUM/ACM > 1). d.3- Mobilograma Tratamento Dieta Peso abaixo do ideal: 40 kcal/kg de peso. Eutrófica: 30 kcal/kg de peso. Obesidade: 25 kcal/kg de peso. Insulina Indicação: Glicemia de jejum > 105 mg/dl e/ ou pós-prandial > 120 mg/dl. Dose inicial: 0,5 UI – 0,9 UI /kg/dia, dependendo do trimestre. Dieta Grávida deve seguir uma dieta equilibrada e variada, rica em fibras, frutas e legumes e baixo teos de gorduras saturadas. Deve priorizar a qualidade e não a quantidade. Este tipo de alimentação fornece as calorias e os nutrientes necessários às mamães e aos bebês, sem que a mãe adquira excesso de peso. Pós parto Exercício físico Obrigada!