GENÉTICA QUANTITATIVA HERANÇA POLIGÊNICA Genética II Profa. Dra. Ana Elizabete Silva ALGUMAS CARACTERÍSTICAS OU DOENÇAS 'COMUNS‘, COMO: ALTURA, PESO, COR DA PELE ASPECTOS DO COMPORTAMENTO, CÂNCER, DIABETES DOENÇAS CARDÍACAS APRESENTAM "AGREGAÇÃO FAMILIAL" SEM, CONTUDO, APRESENTAREM UM PADRÃO DE HERANÇA DEFINIDO. CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS Herança Mendeliana ou Monogênica: caracteres qualitativos → não mensuráveis Herança monogênica dominante: Fenótipos: homozigoto (AA) e heterozigoto (Aa) → similares Herança Quantitativa: caracteres quantitativos → distribuição gradativa contínua (mensurável) •Peso do corpo no gado •Quantidade de leite •No. de ovos •Tamanho de grãos GENÉTICA QUANTITATIVA: parte da genética que estuda os caracteres quantitativos HERANÇA POLIGÊNICA: herança dos caracteres quantitativos, regulado por vários genes HERANÇA MULTIFATORIAL ou HERANÇA de CARACTERÍSTICAS COMPLEXAS: interação de fatôres genéticos e ambientais Herança Quantitativa ou Poligênica • Conceito: • Características determinadas pelos efeitos aditivos de 2 ou mais pares de genes → POLIGENES → manifestação de um fenótipo em diferentes intensidades → estuda caracteres quantitativos • Cada alelo aditivo determina o aumento da intensidade da expressão do fenótipo → VARIAÇÃO CONTÍNUA • Os alelos não aditivos não acrescentam nada na expressão do fenótipo • Influenciadas por muitos fatores no ambiente • Exemplos: • coloração da pele humana → 2 ou mais pares de genes (melanina) GENÉTICO HERANÇA QUANTITATIVA MULTIFATORIAL AMBIENTE Efeito aditivo de cada gene Loci de característica quantitativa (QTL): múltiplos genes que contribuem para um traço quantitativo Variacão na côr de grãos de trigo: contribuição de 3 pares de genes diferentes com efeito aditivo→ 2 alelos cada (vermelho – branco) P F1 F2 F2: 8 tipos gametas c/ genótipos diferentes No. classes fenotípicas em F2= 2n+1 n= no. de pares de genes 3 pares de genes + 1 = 7 classes de fenótipos autofecundação Efeitos genéticos em características quantitativas No. classes fenotípicas = 2n+1 n= no. de pares de genes Características da Herança Quantitativa • Variação gradual do fenótipo: • Ex.1- cor da pele: entre os extremos branco x negro → diversos fenótipos intermediários • Ex.2- Altura: altura máxima x altura mínima → vários fenótipos intermediários • Distribuição dos fenótipos em curva normal ou de Gauss: • fenótipos extremos → qde. menores • Fenótipos intermediários → frequências maiores É POSSÍVEL IRMÃOS COM CÔR DE PELE EXTREMAS??? Irmãos gêmeos Kaydon (à esquerda) e Layton Richardson, nascidos no Reino Unido – Probabilidade: 1:1 milhão de nascimentos de gêmeos http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15426.shtml HERANÇA DA COLORAÇÃO DA PELE 3 pares de genes: genes aditivos (A,B e C) → bolinhas pretas genes não aditivos (a, b e c)→ bolinhas brancas cada gameta: tem um gene de cada par. 3 pares de genes (6 alelos): 7 fenótipos diferentes. Mulato médio A probabilidade de nascer um negro ou um branco → fenótipos extremos Cruzamento de dois heterozigotos para 3 pares de genes: (1/4)n; substituindo n por 3, que é o número de pares de genes, temos: 1/4x1/4/x1/4= 1/64. Cruzamento entre dois mulatos médios Estudada em nível de indivíduos e interpretação com base na contagem de proporções definidas pelos resultados observados nas descendências Estudada em nível de população Frequências de distribuição para altura em homens: a) Histograma de frequência: altura de estudantes → variação de 155 e 190cm (classes de 5cm) b) Número maior de indivíduos: subclasses de 1cm c) Aumentando no. de indívíduos: histograma terá aspecto contínuo → curva normal ou Curva de Gauss Média e variância de uma distribuição Duas populações podem ter a mesma média mas apresentarem variabilidades diferentes Média (X): centro da distribuicão, valor típico, medida mais comum: soma de todas as medidas (Xi) dividida pelo número de medidas na amostra (n) Variança (s2): medida da dispersão dos dados ao redor da média: quadrado da distância média das observações a partir da média dessas observações Desvio padrão (s): é a raiz quadrada da variança Média A média é uma medida de localização do centro da amostra, e obtém-se a partir da seguinte expressão: x i n onde x1, x2, ..., xn representam os elementos da amostra e n a sua dimensão Cálculo da Média e variância de um caráter fenotípico Distribution of height in 5000 British women: Mean = 63.1 inches n = no. de observações x = ∑ Xi 15 00 n 12 50 10 00 s2 = ∑ (Xi – x 7 50 umber of Women x )2 (n-1) 5 00 s = √s2 2 50 0 56 58 6 0 62 6 4 66 68 7 0 72 Height ( inches) In this graph, the column designated "62" includes all i ndividuals w ith heights betw een 61 and 63 inches, "64" includes all i ndividuals w ith heights between 63 and 65 inches, and so on. Comprimento de 10 cães 104 106 103 105 100 104 108 90 101 99 Média= 102 Variância = 25,3 Desvio padrão = 5,03 •Por que os indivíduos são diferentes? –Porque apresentam diferentes composições genéticas (variações hereditárias) + desvio de ambiente Considere dois rebanhos de ovinos lanados Rebanho A: Pouca variação fenotípica – os animais são mantidos em um ambiente constante. (confinamento) Rebanho B: Grande variação fenotípica – animais mantidos em condições ambientais bastante variáveis. (campo) Distribuição da característica Rebanho A Rebanho B Média 2,2 2,2 Variância 0,04 0,36 Desvio Padrão 0,2 0,6 Características de herança complexa ou quantitativa: efeitos genéticos e não genéticos Pergunta: Se duas populações têm médias fenotípicas diferentes, a causa tem natureza genética ou ambiental? Nature vs. Nurture (Natureza ou criação?) Como saber? A variação é genética ou ambiental? Cultive indivíduos de populações com diferentes médias fenotípicas em um mesmo ambiente. Diferenças fenotípicas fatores genéticos Cultive indivíduos com o mesmo genótipo em diferentes condições. Diferenças fenotípicas fatores ambientais Tipos de variança Variança fenotípica: é a variança total da população. Inclui efeitos genéticos e não genéticos. Variança genética: é a variança que é devida às diferenças genéticas existente entre os indivíduos da população. Exclui a variação causada por fatores ambientais. Variância fenotípica Var = 61 cm2 Média = 1,72 m Variança fenotípica VP = Variança genética VG + Variança ambiental VE Até que ponto a variacão observada em uma populacão é devida a diferenças genéticas entre os indivíduos, e até que ponto é devida a diferenças ambientais? HERDABILIDADE •PROPORCÃO DA VARIÂNCIA FENOTÍPICA DE UMA POPULACÃO QUE É ATRIBUÍVEL A DIFERANÇAS GENÉTICAS •REFLETE AS CONTRIBUICÕES RELATIVAS DAS DIFERENÇAS GENÉTICAS E AMBIENTAIS PARA A VARIÂNCIA OBSERVADA EM UMA CARACTERÍSTICA quanto maior Vg maior a contribuição do componente genético H2 = 1, traço totalmente genético H2 = 0, traço totalmente ambiental Exemplos de Herdabilidade Esquizofrenia Estatura QI (Binet) Asma Fenda labial/palatina Estenose pilórica Pé torto Defeito fechamento tubo Neural (anencefalia) 0,85 0,81 0,68 0,80 0,76 0,75 0,68 0,60 Em geral, a herdabilidade de uma característica é diferente em cada população e em cada conjunto de ambientes. Ela não pode ser extrapolada de uma população e de um conjunto de ambiente para outro MÉTODOS PARA ESTABELECER A HERDABILIDADE • Semelhança fenotípica entre parentes: A- Estudos de gêmeos B- Estudos de adoção • Segregação de genes marcadores: A- Estudos de ligação: se os genes marcadores (sem relação com a característica em estudo) são vistos variando em relação à característica → supostamente estão ligados a genes que influenciam a característica e sua variação (polimorfismos – RFLP e VNTR) HERANÇA MULTIFATORIAL – DOENÇAS COMPLEXAS • Traço determinado por uma combinação de fatores genéticos e ambientais • o caráter é determinado pela interação de vários genes em locos diferentes, cada um com efeito pequeno mais aditivo (poligenes) • Heredograma: não possibilita um diagnóstico de herença multifatorial • risco de recorrência (risco empírico): frequência de repetição observada em amostras adequadas da população • são doenças comuns na população: 1/1000 Distinção entre hereditariedade e influência do ambiente familial Estudos de gêmeos Estudos de adoção Gêmeos idênticos MZ x DZ Gêmeos: 1:100 nascimentos clones geneticamente idênticos e concordantes são do mesmo sexo permite a comparação entre parentes com genótipos idênticos que podem ou não ser criados juntos (mesmo ambiente) compartilham mais o ambiente que gêmeos DZ: em média 50% de seus genes, como qualquer par de irmãos criados juntos: avaliar concordância entre parentes em ambientes similares mas que não compartilham todos os genes DZ Concordância > em MZ x DZ: forte evidência de componente genético (mesmo ambiente intra-uterino e pós-natal) Discordância: fatores não genéticos (ambiental), mutações somáticas, diferenças na inativação do X de gêmeas e efeito epigenético Taxa de concordância em gêmeos DOENÇAS MONOZ.(%) DIZ. LABIO LEPORINO+PALATO FENDIDO DOENÇA BIPOLAR ALCOOLISMO DIABETES - TIPO I ESQUIZOFRENIA ESPINHA BÍFIDA 30 62 60 40 46 72 2 8 30 4,8 1,5 33 Gêmeos MZ criados separadamente •Observar concordância em indivíduos com genótipos idênticos criados em ambientes diferentes (influências ambientais) número pequeno de casos separação parcial viés de averiguação semelhanças são mais averiguadas que diferenças ambiente intra-uterino x causas genéticas ESTUDOS DE ADOÇÃO • Encontrar pessoas adotadas que sofrem de determinada doença com agregação familial e investigar se ela ocorre na família biológica ou adotiva • Começar com indivíduos afetados cujos filhos foram adotados longe da família e investigar se os filhos apresentam ou não a doença Estudos de adoção Dados sobre a família biológica e adotiva Adotados portadores de esquizofrenia Adotados controles Casos de esquizofrenia entre pais biológicos Casos de esquizofrenia entre pais adotivos 8-10% 2% 2% 2% Caracteres multifatoriais descontínuos (Dicotômicos): caráter qualitativo com limiar a- Malformações Congênitas b- Doenças da Vida Adulta Determinação multifatorial de uma doença ou malformação MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS • Caracteres com limiar (tudo ou nada): as pessoas afetadas herdaram uma combinação de genes de alta suscetibilidade → excede o limiar → manifesta a característica • Defeito de fechamento de tubo neural: anencefalia, encefalocele, espinha bífida • Palato fendido e lábio leporino: • Estenose pilórica: M>F (5x) = 3:1000 • Malformações cardíacas Lábio e palato fendido unilateral Lábio e palato fendido bilateral M>F = 1:1000 DEFEITO DE FECHAMENTO DE TUBO NEURAL - DFTN • Falha no fechamento do tubo neural: 25-28 dias • incidência varia de acordo com a população: (1/700 RN) • mais freqüente no sexo feminino • mais freqüente após casos mais graves • influência ambiental ( risco) : – – – – hipertermia gestacional uso de drogas na gestação (ácido valpróico) Diabetes materna deficiência de ácido fólico DEFEITO DE FECHAMENTO DE TUBO NEURAL - DFTN • • • • • • • • Tipos de DFTN: Craniorraquisquise: abertura completa do TN Anencefalia: ausência do cérebro Encefalocele:crânio-bífido Diferentes níveis da espinha: Meningocele Mielomeningocele Espinha bífida oculta CRANIORRASQUIQUISE •Falha no fechamento do comprimento total do tubo neural •letal http://escuela.med.puc.cl/paginas/Cursos/tercero/patologia/fotosMalformaciones4.html DEFEITOS DE FECHAMENTO DE TUBO NEURAL Deficiência de Ácido Fólico Materno • Níveis sorológicos de ac. Fólico materno durante a gravidez < 200ug/L • Prevenção: 4mg folato um mês antes da concepção até dois meses após (redução de 75% da incidência de DTN) • Risco de recorrência: ~3% • Os riscos de recorrência podem mudar substancialmente de uma população para outra • Diagnóstico Pré-Natal: -dosagem de alfa-fetoproteína do soro materno - dosagem de alfa-fetoproteína do líquido amniótico -ultrassom ~ 19 semanas EFEITO LIMIAR Indivíduos cuja suscetibilidade excedeu o limiar Exemplos: defeitos de fechamento de tubo neural, lábio e palato fendidos, estenose pilórica MODELO LIMIAR • Risco diferente conforme o sexo Ex.: palato e lábio fendidos: mais comum no sexo masculino -um casal com uma filha afetada tem risco de recorrência maior que um casal com filho afetado -a recorrência deve ser mais provável ocorrer em filho do sexo masculino Exemplo de Limiar maior para mulher homens mulheres Critérios para Herança Multifatorial • 1. O risco de recorrência é muito maior para parentes em 1º. Grau do que parentes mais distantes • Nos monogênicos 50% a cada grau de parentesco. 50% irmãos, 25% para tiosobrinho, 12,5% primos em primeiro grau Critérios para Herança Multifatorial • 2. O risco aumenta se mais de um membro da família for afetado Exemplo: risco de recorrência de um irmão para lábio leporino • 4% se tiver um irmão afetado • 10% se tiver dois irmãos afetados. • O risco para doenças monogênicas não muda Critérios para Herança Multifatorial • 3. Se a expressão no probando é mais grave, o risco de recorrência é maior • Indica que a pessoa afetada está em um extremo da distribuição de suscetibilidade • Exemplo – ocorrência bilateral de fenda labial/palatina: • Unilateral: 2,5% • Bilateral: 5,6% Critérios para Herança Multifatorial • 4. O risco de recorrência é maior se o probando é do sexo menos comumente afetado • Porque uma pessoa afetada do sexo menos suscetível está em geral numa posição mais extrema na distribuição de suscetibilidade. DOENÇAS DA VIDA ADULTA • • • • • • • Artrite reumatóide Esclerose múltipla Epilepsia Esquizofrenia Distúrbio afetivo Autismo Doenças cardíacas coronárias receptor de LDL e apolipoproteínas • Diabetes mellitus • Obesidade (H2 = 60-80%) hormônio leptina e seu receptor • Alcoolismo: Tipo II (H2=88%) receptor D2 de dopamina • Doença de Alzheimer DOENÇA DE ALZHEIMER • INCIDÊNCIA: 10% das pessoas com > 65 anos 40% das pessoas com > 85 anos • CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: -Perda progressiva da memória e demência -Distúrbios do comportamento emocional -Deteriorização cognitiva geral -Perda de neurônios do cérebro e formação de placas contendo amilóides (exame post mortem) e emaranhados neurofibrilares no cérebro (córtex cerebral e hipocampo): morte dentro de 7-10 anos após os sintomas DOENÇA DE ALZHEIMER – FORMAS: Início precoce: as vezes mendeliana (AD): 10-15% dos casos três genes: deposição da proteína B-amilóide (APP) APP (21q21): mutações no gene da proteína precursora amilóide → depósito de amilóide Presenilina-1 (14q24): clivagem da proteína precursora → amilóide quando não clivada se acumula no cérebro (forma longa) Presenilina-2 (1q42): função correlata a PS1 DOENÇA DE ALZHEIMER – Início tardio (>60 anos): não mendeliana e pouca agregação familial – evidências de ligação com o cromossomo 19 → componente das placas amilóides → liga-se ao peptídeo amilóide – 19q13.2: gene Apo E (apolipoproteína E) Alelo E4: suscetibilidade (risco) Alelo E2: resistência (protetor) Indivíduos: E3/E4: risco de 3-5 x maior que E3/E3 Indivíduos E4/E4: risco de 5-10 x maior que E3/E3 (início da doença antecipado) ApoE: parece contribuir com ~50% suscetibilidade da doença de início tardio da OBESIDADE 70% da variância do índice de massa corpórea -7 genes conhecidos como causadores de obesidade: neuropeptídeo Y, receptor de melanocortina 4 (MC4R), etc Fatores genéticos -vários mecanismos levam a obesidade Leptina e seu receptor Leptin mutante Normal ALCOOLISMO • Incidência nos EUA: 10% homens 3 – 5% mulheres • Aglomerado familiar: risco 3x > progenitor é afetado • Taxa de concordância: gêmeos MZ= 60% gêmeos DZ=30% -Associação com polimorfismo de DNA ligado ao gene receptor D2 de dopamina (11q): via de bem estar cerebral – Neuropeptídeo Y (ansiolítico fisiológico natural e modulador da fome): forma variante → amostra americana dependente de álcool – Receptores GABA (ácido gama-aminobutírico): álcool aumenta liberação do GABA → efeito calmante Metabolismo do álcool: ADH (álcool desidrogenase): etanol → acetaldeído ALDH (aldeído desidrogenase): acetaldeído → acetato Alelo ALDH2*2 : acúmulo excessivo de acetaldeído (alelo protetor)