ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 15 VIII 15 Dez/2012 Dez/2012 ISSN 1809 P. 188 – 191 RES ENHA A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR PIAGET PARA ENTENDER O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM CHIAROTTINO, Zélia R. Epistemologia Genética e aquisição da linguagem. In: QUADROS, Ronice Müller de; FINGER, Ingrid. Teorias de aquisi ção da Linguagem. Florianópolis: UFSC, 2007. P.49-68. Andiara Zandoná1 Dentre as teorias que explicam a aquisição da linguagem encontram-se os pressupostos de Jean Piaget. As ideias do autor são comentadas por Zélia Ramozzi-Chiarottino–Doutora em Ciência e Pós-Doc em Linguística - no capítulo três do livro Teorias de aquisição da Linguagem, de 2007, organizado por Ingrid Finger e Ronice Müller de Quadros, especialistas no estudo da Linguagem. Zélia Ramozzi-Chiarottino (2007) salienta no início de seu texto que há falta de informações por parte das pessoas em relação à “Epistemologia G enética de Piaget”, a qual compreende conceitos importantes sobre a aquisição da linguagem. A autora acrescenta que de acordo com Piaget tanto o conhecimento quanto a linguagem são formados a partir da relação entre o sujeito e o ambiente. Porém, primeiramente é adquirida a “linguagem natural” e, posteriormente, o conhecimento científico. Essa “linguagem natural” forma-se a partir do momento em que a criança consegue “distinguir o significante do significado” conseguindo atingir o nível suficiente de abstração para poder utilizar a imaginação em determinadas brincadeiras, por exemplo. Também é necessário que ela tenha uma “organização” das representações da realidade através de suas ações com o contexto. A capacidade da criança de diferenciar o significante do significado chama-se “função semiótica” ou “simbólica”. Essa função dará origem aos “aspectos figurativos” da cognição. O conhecimento figurativo divide-se em: percepção, imitação e imagem mental. A autora lembra que 1 Graduada em Letras pela URI. Aluna do curso de Pós-graduação em Língua e Cultu ra Ingle sa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Frederico Westphale n; mestranda em Letras, área de concentração Literatura Comparada, pela URI – Campus de Frederico Westphalen-RS. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 188 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 15 VIII 15 Dez/2012 Dez/2012 ISSN 1809 P. 188 – 191 Piaget considerava que as imagens mentais não se formam somente a partir do que o indivíduo vê, ouve, degusta, mas por suas ações com o meio. A “imagem mental” se transforma em símbolo, como se fosse uma cópia da realidade. Essa imagem se manifesta quando a criança sente a necessidade de “classificar, inferir ou ordenar”, o que é possível desde os primeiros meses. Chiarottino (2007) salienta a importância da construção dos conceitos para poder receber influências do meio social e adquirir a linguagem. Ela destaca a presença de “dispositivos” formados a partir das ações que darão subsídios ao ser humano para adquirir a “língua materna” e, posteriormente, a “linguagem científica”. Quando a criança entra em contato com o mundo a vê algo que ainda não conhece, tentará encaixar a novidade em esquemas já existentes ou classificar. Quando houver uma modificação nos esquemas cerebrais ocorre o que Piaget chama de “acomodação”. Já a “assimilação” ocorre quando a criança vê um novo objeto e tenta encaixá-lo em seus esquemas já existentes. Quando não pode ser assimilado é acomodado. Assim, a partir da influência externa do meio se formam as estruturas mentais. Através dos esquemas a criança adquire as noções do real, como espaço e tempo, por exemplo. Para Piaget essas noções são fundamentais para a aquisição da linguagem tais como as noções de “antecedente e consequente”. Caso houver falha em uma dessas noções, a criança apresentará dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Segundo a autora, para Piaget os “recitativos” fornecem um indício de representação. Assim, a palavra se torna signo, não mais pertencendo à ação, mas representando-a. Um exemplo disso é o momento em que a criança relata o que ocorreu no dia. A evolução do recitativo se dá quando ele se “prolonga” e se “atualiza”, quando ela consegue também fazer descrições e perguntas. A partir disso, a linguagem da criança fica entre a “comunicação” e o “monólogo egocêntrico”. Ela dirige-se a si mesma e aos outros. A autora destaca ainda a existência de “pré-conceitos”, os quais evoluem para “conceito operatório” na idade entre 4 e 7 anos. E conforme a criança consegue construir o real, constrói também o discurso coerente. O conceito de “transdução”acontece quando a criança utiliza uma mesma lógica de explicação para o que acontece ao seu redor. Por exemplo, quando vê um cachorro de determinada raça morrer, então associa que todos os cães daquela raça morrerão. A “transdução” seria ideal se houvessem experiência vivenciadas através da ação para comprovar essa ideia. Por exemplo, um cão policial preso que mordeu alguém, então a criança pensa que todo o cão preso, morderá. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 189 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 15 VIII 15 Dez/2012 Dez/2012 ISSN 1809 P. 188 – 191 Posteriormente, a transdução dará origem ao “pensamento operatório”. Para a autora, de acordo com as ideias apresentadas por Piaget os esquemas da inteligência sensório-motora equivalem aos conceitos e relações. E ele distingue a inteligência sensório-motora da conceitual salientando que a primeira funciona semelhante a um “filme em câmera-lenta” no qual as imagens passam uma após a outra. Ela é considerada vivia e não pensada. Assim que a criança conseguir representar o mundo pelas imagens haverá uma evolução em relação ao domínio sensório-motor. Nesse momento pode-se dizer que está acontecendo a “linguagem”, pois a palavra faz a criança lembrar os esquemas que antes eram somente práticos. Outro dado importante explicado pela autora é que a partir dos esquemas de ação a criança “apreende” aspectos relacionados ao social. O primeiro “ato significador” diz respeito à primeira ação que gera assimilação e juízo prático. Chiarottino (2007) salienta que para Piaget não há um período crítico para a aquisição da linguagem que deveria começar entre um ano e meio e dois. Depois da idade ideal, a aquisição da linguagem se torna mais difícil, pois a vida social causa problemas emocionais. Para finalizar seu texto, a autora comenta que no Brasil foram aplicados alguns recursos na tentativa de reduzir a exclusão social especialmente na escola, mas apesar de serem levados em conta aspectos sociais e históricos, não se leva em conta a criança individualmente. Há pesquisas sobre o que ela não sabe, mas não sobre a causa de não saber. A culpa é sempre atribuída ao social e a aquisição da linguagem é assunto descartado nas investigações. Ela ainda cita pesquisa feita por um orientando que estudou crianças que conseguiam desempenhar tarefas, mas não conseguiam refletir sobre elas nem organizar um discurso coerente. Isso ocorria porque as pessoas não conversavam com elas, não aconteciam “trocas simbólicas”. Elas foram criadas em meio ao silêncio. Porém, depois de feito um trabalho com as crianças para reverter o problema houve resultado positivo. Nota-se que o texto de Zélia Ramozzi-Chiarottino (2007) tem papel importantíssimo para que se possa ter uma melhor compreensão e conhecimento a respeito da “Epistemologia Genética de Jean Piaget”. De forma resumida e exemplificada, a autora explica os principais conceitos do teórico em relação à aquisição de linguagem, assunto que muito interessa a professores de línguas, seja da língua materna ou estrangeira. Assim como Chiarottino (2007) utiliza a teoria de Piaget para exemplificar os processos de formação da linguagem, também Fernanda Dias (2010, p.13) no texto O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição da linguagem salienta essa importância afirmando que “a linguagem nasce da www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 190 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 15 VIII 15 Dez/2012 Dez/2012 ISSN 1809 P. 188 – 191 interiorização dos esquemas sensório-motores produzidos pela experimentação ativa da criança”. Ou seja, a criança interage com o real e a partir das suas experiências forma, pouco a pouco a linguagem. Foi de grande contribuição o exemplo que Chiarottino (2007) trouxe no final do texto relatando a experiência de seu orientando e revelando os resultados positivos conquistados ao final da pesquisa. Tanto a pesquisa quanto o que é tratado na teoria de Piaget mostra que o meio assume papel determinante quanto à aquisição da linguagem. Maria Vilani Soares, no texto Aquisição da linguagem segundo a Psicologia Interacionista: três abordagens confirma essa ideia, pois revela que “Piaget definiu a inteligência como uma das manifestações da vida, isto é, uma forma de adaptação, sendo a ação o modo de interação do homem com o meio” (SOARES, 2009, p.2). Pensando nisso, é possível inferir que a criança que cresce em um ambiente comunicativo, no qual há “trocas simbólicas”, conversas e estímulos por parte dos adultos, o desenvolvimento da linguagem ocorrerá de forma satisfatória. E concordando com a autora, se a aquisição da linguagem for satisfatória, a criança terá facilidade para refletir e construir um discurso coerente. BIBLIOGRAFIA CHIAROTTINO, Zélia R. Epistemologia Genética e aquisição da linguagem. In:QUADROS, Ronice Müller de; FINGER, Ingrid. Teorias de aquisi ção da Linguagem.Florianópolis: UFSC, 2007. P.49-68. DIAS, Fernanda. (2010). O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição da linguagem. Acesso em 28 de outubro de 2012. Disponível em <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/viewFile/7093/5931> SOARES, Maria V. (2009). Aquisição da linguagem segundo a Psicologia Interacionista: três abordagens. Acesso em 28 de outubro de 2012. Disponível em <http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2009/12/maria_vilani_soares.pdf> www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 191