XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 O BENCHMARKING NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Christian Egidio da Silva - Pós graduando em Engenharia de Produção Confab Industrial S/A – Avenida Gastão Vidigal Neto 475 – Cidade Nova – Pindamonhangaba – SP [email protected] Érico Antônio Lopes Gonçalves - Pós graduando em Engenharia de Produção Confab Industrial S/A – Rua Dr. Gonzaga s/no – Moreira César – Pindamonhangaba – SP [email protected] Carlos Eduardo Sanches da Silva – Doutor em Engenharia de Produção Programa de Pós Graduação em Eng. de Produção da Universidade de Itajubá –UNFEI [email protected], Av. BPS, 1030, Pinheirinho, Cep 37500-903- Itajubá – MG João Batista Turrioni – Doutor em Engenharia de Produção Programa de Pós Graduação em Eng. de Produção da Universidade de Itajubá –UNFEI [email protected], Av. BPS, 1030, Pinheirinho, Cep 37500-903- Itajubá – MG Abstract. Nowadays, the companies are being supposed to change more and more in order to become a dynamic enterprise. If they don´t act according to this new scenery they probably will not survive in a global market. To be competitive means to keep the excellence in quality in first place. The identification of the most models in excellence are necessary not only for products, services but also for projects, as well as the adaptation at the reality of each company, take us an adoption of a better management. The benchmarking give us directions, at the same time search the better tools to identify the best way to improve our activities. The objective of this research is describe the usual of the benchmarking as a tool to develop new products - welded pipes - in order to explore oil and natural gas. Key-words: Benchmarking, Development, Pipes 1. Introdução No cenário atual, as empresas estão sendo obrigadas a passar por mudanças cada vez mais dinâmicas, o que ameaça, portanto, a sua sobrevivência. Segundo Deming (1982), a produtividade é aumentada pela melhoria da qualidade, fato este bem conhecido por uma seleta minoria. Campos (1999) define qualidade como sendo aquele produto ou serviço que atende perfeitamente, de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo, às necessidades do cliente. Considerando que a produtividade é conseqüência direta do nível de qualidade existente, aquelas empresas que detêm a excelência em qualidade apresentam muito mais condições de sobressaírem às demais. Ser competitivo neste cenário no qual estamos inseridos, significa sermos detentores da excelência em qualidade, e a sobrevivência de qualquer empresa dependerá destes fatores. ENEGEP 2002 ABEPRO 1 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Esta segurança passa, necessariamente, pela satisfação total das necessidades verdadeiras do consumidor e pelo reconhecimento pela confiabilidade ao longo do tempo – tradição. A identificação dos maiores modelos de excelência tanto para produtos, serviços como para projetos, e adequação dos mesmos à realidade de cada empresa, possibilita a adoção de uma prática de melhoria contínua. O Benchmarking indica a direção a ser seguida, e consiste neste processo de busca das melhores práticas e evolução contínua. O objetivo deste trabalho é descrever a utilização da ferramenta ‘Benchmarking’ como método de desenvolvimento de novos produtos. 2. Benchmarking 2.1 Processo de Benchmarking Dentre as diversas abordagens de Benchmarking apresentadas por Pulat (1994), a mais completa é aquela que descreve este processo como sendo uma avaliação contínua das operações correntes na respectiva unidade de negócios, comparação com as práticas vigentes naquelas empresas consideradas como detentoras dos melhores processos e conseqüente aplicação do conhecimento assimilado através de tal estudo para o delineamento de planos, visando atingir o nível de excelência praticado por estas empresas consideradas como líderes. Segundo Silva et al (1997), o processo de Benchmarking é composto das seguintes fases: Planejamento. Consiste na definição da concorrência, na identificação das categorias de informação a serem pesquisadas e da metodologia mais adequada para sua coleta. Análise. Auxílio no entendimento dos pontos fortes da concorrência e na avaliação do seu desempenho em relação a seus pontos fortes. Integração. Utilização dos dados coletados para a definição de metas, visando ganhar ou manter a superioridade no mercado e para incorporar tais metas no processo de planejamento da organização. Ação. Fase em que as estratégias e os planos de ação estabelecidos com o processo de Benchmarking são implementados e periodicamente avaliados, afinal as práticas externas estão mudando constantemente. Amadurecimento. Determinação do momento em que é atingida a posição de liderança e avaliação da relevância do processo de Benchmarking realizado – o quanto o processo de Benchmarking se tornou essencial e um elemento contínuo no gerenciamento dos negócios da organização. 2.2 Tipos de Benchmarking Silva et al (1997) e Melo (1996) propõem que o Benchmarking pode ser: Competitivo. Focado em organizações que disputam o mesmo mercado. Consegue-se observar o que a concorrência está praticando. Pela dificuldade em se conseguir parcerias entre os concorrentes, muitas vezes torna-se necessário a contratação de uma consultoria externa para a obtenção de informações. ENEGEP 2002 ABEPRO 2 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Interno. As organizações comparam internamente as práticas de negócio, de forma a identificar os padrões internos de desempenho, transferindo aquelas informações para outras partes da organização. Funcional. Consiste na investigação do desempenho de uma função específica numa aplicação dentro da indústria, sendo estas concorrentes diretos ou não. Genérico. Assemelha-se ao funcional, divergindo, somente pelo fato de que neste a comparação é feita independentemente do setor industrial de atuação. A seguir é descrito um caso de Benchmarking no desenvolvimento de produtos do tipo funcional. 3. Praticando Benchmarking 3.1 O mercado do petróleo e gás: uma questão de oportunidade A produção de tubos para gasodutos e oleodutos tem se intensificado na última década devido à importância dos produtos transportados, como por exemplo petróleo e gás natural, para consumo industrial, residencial e geração de energia, utilizando-se de alta tecnologia e rígidas especificações (American Petroleum Institute, 1998), visando obter um produto com qualidade e baixo custo de produção para ser competitivo nos mercados nacional e internacional. A premissa básica para uma organização assegurar-se no mercado é a captação da necessidade do cliente. Isto passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de novos processos e produtos e por um eficiente sistema de gerenciamento visando a otimização da produtividade e dos custos inerentes ao processo. Uma visão ofensiva de uma organização é caracterizada por um estudo das tendências do mercado, ou seja, uma previsão do cenário para os próximos anos. Com base nestes estudos, consegue-se antecipar às necessidades do cliente. Analisando o mercado de petróleo e gás, surgiu a motivação para o presente trabalho: evolução do mercado “Offshore”. Considera-se uma região “offshore” aquela cujos trabalhos de exploração são conduzidos diretamente no oceano. As grandes descobertas que vêm enobrecendo regiões como Brasil, Golfo do México e Costa da África são os motivos da grande agitação do meio, devido às características particulares destes sítios – o que favorece a instalação e manutenção de plataformas para prospecção e extração de petróleo e gás em lâminas d’água cada vez mais profundas –, e também pelo nível de desenvolvimento tecnológico alcançado – devido às inovações tecnológicas e à redução dos custos associados a estas operações (Petroleum Economist, 1998). ENEGEP 2002 ABEPRO 3 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Evolução do Mercado Petróleo 12.000 Costa da África 10.000 $ Milhões 8.000 Mediterrâneo 6.000 Golfo do México 4.000 Brasil 2.000 Ásia Pacífico 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 1 - Evolução do mercado para águas profundas – projeção (adaptado de DouglasWestwood & Infield Systems, 1998). Analisando a Figura 1 pode-se perceber que existe uma previsão de crescimento bastante relevante para as regiões Costa da África, Golfo do México e Brasil. Já pela fgura 2, pode-se verificar que o tamanho médio das reservas, expresso em milhões de barris equivalentes de petróleo (mm boe) tende a aumentar com o aumento do tamanho da lâmina d’água, o que evidencia ainda mais a tendência ao aumento das atividades em águas cada vez mais profundas. Chamam-se de ‘águas profundas’ aquelas lâminas d’água superiores ou iguais a 500m, e de ‘águas rasas’ aquelas lâminas d’água inferiores a 500m. Tamanho Médio das Reservas [mm boe] 100 200 300 Águas Rasas Lâmina d’água (m) 400 500 Águas Profundas 600 700 800 900 1000 1500 2000 2500 Figura 2 - Tamanho médio das reservas em função do tamanho da lâmina d’água (adaptado de Douglas-Westwood & Infield Systems, 1998). ENEGEP 2002 ABEPRO 4 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Estudos de mercado conduzidos por Douglas-Westwood & Infield Systems (1998) indicam que existe uma previsão de duplicação do número de poços “Offshore” até o ano de 2005, e que existe um potencial mercado para tubos com diâmetro nominal até 16” – o que equivalerá a cerca de 50% do mercado neste mesmo período. 3.2 Benchmarking no desenvolvimento de novos produtos Tendo em vista o cenário atrativo para o mercado “offshore”, surge, então, o grande interesse no desenvolvimento de produtos para esta aplicação. Na figura 3, está esboçado o perfil de um poço de exploração de petróleo ‘offshore’. Os itens de diâmetro nominal 30” e 20” são tubos soldados (welded) e chamados de “Conductor”. Os tubos de 13 3/8”, 9 5/8” e 7” podem ser tanto soldados quanto sem solda (seamless), e são denominados de “Casing”. O item de diâmetro 3 ½” pode ser soldado ou sem solda, e é denominado de “Tubing”. À medida que a profundidade aumenta, surge a necessidade dos tubos apresentarem uma resistência maior devido aos esforços serem cada vez maiores. Nível do mar Lâmina d’água Fnndo do mar Ø 30” Ø 20” Ø 13 3/8” Ø 9 5/8” Ø 7” Ø 3 1/2” Figura 3 -Perfil de um poço de exploração de petróleo “ffshore”. Os produtos seamless podem ser obtidos, fundamentalmente, por fundição e/ou extrusão, empregando-se, necessariamente, tratamento térmico para assegurar as propriedades mecânicas desejadas. Os produtos welded são obtidos após a soldagem de chapas e/ou bobinas, podendo-se empregar, em função da resistência desejada, um tratamento térmico. ENEGEP 2002 ABEPRO 5 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 De uma forma geral, salvo algumas restrições técnicas impostas por alguns clientes e/ou condições operacionais, ambos produtos podem ser utilizados tanto como casing quanto tubing. Muitas vezes, o aspecto conservador de alguns clientes inibem a aplicabilidade de produtos welded, fato este que tem sido bastante estudado e criticado. Dentro deste contexto de mercado e neste espírito de competição existente, surgiu a necessidade de se conduzir uma comparação entre ambos produtos. Contando com o apoio de outras empresas que pertencem ao mesmo grupo e exatamente ao mesmo negócio – tubos, decidiu-se praticar o Benchmarking para desenvolvimento de novos produtos. 3.3 Metodologia empregada Esta operação consistiu, basicamente, na avaliação das características de qualidade exigidas pelos clientes e que possam, impreterivelmente, representar um diferencial no momento da escolha do produto. Para tal, seguindo-se a metodologia proposta por Silva et al (1997) delineou-se um plano de ação, que consistiu em: Planejamento. Definiu-se a empresa do grupo que seria utilizada como parceira no trabalho de caracterização simultânea, ou seja, como base para a comparação. Definida a empresa, o próximo passo seria definir o dimensional de produto e as características de qualidade a serem avaliadas – para isto, utilizou-se do estudo de mercado para decidir qual seria o dimensional mais adequado e efetuou-se um levantamento dos requisitos de qualidade relevantes para a comparação em questão. Sendo definidos os itens de investigação, e já em condições de realização da caracterização, iniciou-se o estudo propriamente dito. Análise. De posse das informações de ambas empresas, iniciou-se a avaliação das características dos produtos: welded versus seamless, identificando-se os pontos fortes e fracos de cada um. Integração. Justamente pelo fato de estarem envolvidas empresas de um mesmo grupo e mesma linha de produtos, a integração existente foi muito grande e bastante proveitosa para ambas empresas. A troca de informações e experiências caracterizou um aprendizado fantástico para ambas instituições, afinal foram levantadas questões chaves para priorização de ações nas duas unidades de manufatura. Ação. Sendo conhecidos os pontos fracos de cada empresa, o passo seguinte consistiu na definição de ações emergenciais para melhoria, ações estas traduzidas em investimentos, manutenção, controle mais refinado do processo etc. Amadurecimento. O Benchmarking mostrou-se uma excelente ferramenta de aprendizado corporativo, configurando como um item indispensável para trabalhos de desenvolvimento de novos produtos. Pelo fato de ainda ser um processo em andamento, considera-se que o grau máximo de amadurecimento não foi atingido. 3.4 Resultados obtidos e discussão Algumas características de qualidade foram investigadas e já puderam ter sua comparação concretizada. Muitas informações são tidas como estratégicas e sigilosas, não sendo, portanto, passíveis de divulgação. Seguem, abaixo, algumas características avaliadas. Tolerância de espessura. Os produtos welded apresentam uma faixa de tolerância mais restrita, da ordem de +/-5% (faixa total de 10%), contra uma tolerância de +15%/12,5% para o seamless (faixa total de 27,5%). Esta variação significativa implica num ganho de produtividade quando estivermos efetuando a solda circunferencial (girth ENEGEP 2002 ABEPRO 6 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 welding), no campo, pois teremos um menor consumo de material de soldagem e também uma probabilidade de ocorrência de defeitos menor. Ponto positivo para o produto welded. Comprimento de fornecimento. Consegue-se fornecer produtos welded exatamente no comprimento solicitado (por exemplo, no comprimento de 12,2m), ao passo que o fornecimento de seamless ocorrerá numa faixa de comprimento (por exemplo, de 9 a 13m); é possível fornecer o produto seamless no comprimento solicitado, porém isto acarretará incremento no preço. Ponto positivo para o welded. Composição química. Pelo próprio processo de fabricação da matéria prima, o produto welded apresenta um projeto de composição química mais descarregado do que o produto seamless. O fato do produto seamless apresentar uma composição química mais carregada dificulta bastante o processo de soldagem de campo. Ponto positivo para o welded. Superfície externa. O produto welded apresenta uma qualidade superficial muito melhor tendo em vista o processo de fabricação da matéria prima (chapa ou bobina), quando comparado ao seamless. Uma melhor condição de superfície facilita a aplicação do revestimento. Ponto positivo para o welded. 5. Comentários finais Utilizando-se da abordagem de Benchmarking descrita por Pulat (1994) e aplicandose a metodologia proposta por Silva et al (1997), foi possível delinear um plano de investigação para efetuar um estudo comparativo entre os dois tipos de produtos: welded e seamless. O processo de Benchmarking, dentro da concepção proposta, compreendeu um ciclo contínuo, que segue a metodologia “P-D-C-A” (Plan; Do; Chek; Action) (Campos, 1999). Através da aplicação desta ferramenta, pode-se evidenciar que um processo de desenvolvimento de novos produtos passa, necessariamente, por um estudo detalhado, através da realização da comparação do produto objeto de desenvolvimento e um similar usualmente empregado. Mesmo não tendo-se concluído na íntegra este estudo de caso, percebeu-se que os produtos welded apresentam características de qualidade superiores aos produtos seamless. Uma excelente lição pode ser tirada deste trabalho, e que acaba vindo de encontro à interpretação de Campos (1999) quanto à competitividade: a necessidade do conhecimento irá, inevitavelmente, conduzir as empresas a uma elevação do nível de qualificação da mão-de-obra como meio de aumentar a sua competitividade. Através deste conhecimento, consegue-se captar as necessidades dos clientes, torna-se possível desenvolver novos produtos e processos e possibilita o perfeito gerenciamento de sistemas. Em suma, o Benchmarking conduz ao conhecimento necessário para a sobrevivência das empresas. 6. Bibliografia DEMING, W.E. Quality, Productivity, and Competitive Position. Massachusetts Institute of Technology, 1982, 373p. CAMPOS, V.F. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). Editora de Desenvolvimento Gerencial. Belo Horizonte, MG. 8a Edição, 1999. ENEGEP 2002 ABEPRO 7 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 PULAT, B.M. Process Improvements through Benchmarking. The TQM Magazine. vol.6, No 2, 1994, pp37-40. SILVA, C.T.; FRIZZO, M.; GODOY, L.P. O Benchmarking e a Gestão Comparativa do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Maria - RS, 1997. MELO, A.M. Benchmarking. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção – Escola de Engenharia de São Carlos, USP, 1996. AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. Specificatioin for Casing and Tubing. API Specification 5CT. Escola de Engenharia de São Carlos, USP; Sixth Edition, ocober 1998. PETROLEUM ECONOMIST. Offshore Technology – Deeper and Deeper. April,2002. Escola de Engenharia de São Carlos, USP; Sixth Edition, october 1998. DOUGLAS-WESTWOOD & INFIELD SYSTENS. The World Deepwater Report III, UK, 1998. ENEGEP 2002 ABEPRO 8