A Química Somando Forças: Ensino e Pesquisa com Empreendedorismo e Inovação Obtenção e estudo de compósito de nanocristais de celulose para uso em processos de restauração de documentos e obras de arte em papel C. H. M. Camargos, J. C. D. Figueiredo Junior, F. V. Pereira UFMG, Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627, 31270-901, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil *e-mail: [email protected] Palavras chave: interfaces entre química e preservação de bens culturais; restauração de papel; reintegração de lacunas; nanocristais de celulose; nanocompósitos; exames espectroscópicos; ensaios mecânicos; exames visuais. INTRODUÇÃO Sabe-se que as cadeias poliméricas da celulose podem apresentar uma organização estrutural regular (regiões cristalinas), ou um arranjo irregular (regiões amorfas). Documentos e obras de arte em papel estão sujeitos à deterioração por reações de despolimerização e fotooxidação que se processam, prioritariamente, nos sítios amorfos da celulose, nos quais a existência de espaçamentos intersticiais favorece a entrada de agentes químicos como água, gases e ácidos1. Um dano que pode advir da fragilização estrutural da celulose é o surgimento de lacunas no papel. Para restaurar o objeto danificado, preenchendo as áreas de perda de suporte, tradicionalmente, emprega-se polpa de papel, em cuja estrutura celulósica há zonas amorfas susceptíveis a deteriorações futuras. Considerando-se que nanocristais de celulose (NCC) são precipuamente constituídos por domínios cristalinos2 obtidos através da hidrólise de fibrilas de celulose, pode-se inferir que um nanocompósito cuja formulação os contemple possuirá significativa estabilidade química, aperfeiçoadas propriedades mecânicas e poderá ser viavelmente aplicado na restauração de bens culturais sobre papel. Suas atribuições garantirão eficiente manutenção da intervenção e sua interface com o objeto restaurado. Dessa forma, este projeto tem como objetivo obter compósitos de nanocristais de celulose aplicáveis em processos de reintegração de lacunas em papel. NCC (fig. 1) e o papel de celulose se comportam como misturas. Também foi possível mensurar o índice de cristalinidade das amostras através da razão entre as -1 transmitâncias em 1430 e 897 cm . Com grau médio igual a 6,43, o papel de NCC é mais cristalino do que o papel de fibra celulósica, cujo índice médio é 1,87. Figura 1. Espectro de Absorção no IV para a amostra de papel de NCC. Por meio dos resultados obtidos através de ensaio mecânico de tração, considerando parâmetros como limite de resistência à tração, tenacidade e tipologia de ruptura (tabela 1), pode-se aferir a existência de satisfatória similaridade entre os compósitos estudados, no que diz respeito ao seu comportamento mecânico. Tal verificação é favorável, pois evidencia a compatibilidade entre os mesmos materiais. Tabela 1. Cristalinidade para duas amostras estudadas Tenacidade -6 3 x 10 (J/m ) 5,680 Ruptura NCC Limite de resistência à tração (MPa) 5,48 Celulose 4,11 3,517 Frágil Amostra Frágil RESULTADOS E DISCUSSÕES O papel é composto, basicamente, por celulose, encolagem, plastificante e carga. Atentando-se a essa formulação universal, a polpa de papel de nanocristais de celulose foi preparada com: NCC em dispersão aquosa, metilcelulose (encolagem), propilenoglicol (plastificante) e CaCO3 (carga). O teor de cada componentes foi variado até a obtenção de um núcleo de resultados, no qual o papel desenvolvido possuísse características satisfatórias, como resistência à tração e a dobras, opacidade e 3 flexibilidade . As propriedades químicas e mecânicas do nanocompósito obtido foram estudadas em contraponto às do papel de fibras de celulose. Através da espectroscopia de absorção no infravermelho (IV), verificou-se que o compósito de CONCLUSÕES As análises e exames indicam que o compósito de NCC é viavelmente aplicável em rotinas de restauração de papel, por possuir elevada estabilidade química e apresentar propriedades mecânicas similares às do papel de fibra celulósica. AGRADECIMENTOS FAPEMIG. LACICOR/CECOR – EBA,UFMG. REFERÊNCIAS 1 Figueiredo Junior, J. C. D. Química aplicada à conservação e restauração de bens culturais móveis: uma introdução. Belo Horizonte: São Jerônimo, 2012. 2 Mesquita, J. P. Nanocristais de celulose para preparação de bionanocompósitos com quitosana e carbonos nanoestruturados para aplicações tecnológicas e ambientais [tese]. Belo Horizonte: Departamento de Química, UFMG, 2012. 3 Kuan, G. S. S. et al. Celulose e Papel. Volume II. Tecnologia de fabricação do papel. São Paulo: SENAI, 1982. XXVIII Encontro Regional da Sociedade Brasileira de Química – MG, 10 a 12 de Novembro de 2014, Poços de Caldas - MG