Impressão 3D na área médica: desafios e oportunidades Teresa Duarte, Rui J. Neto, Jorge Lino Alves, Margarida Machado INEGI, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto Hoje em dia, a engenharia inversa e o crescente desenvolvimento das tecnologias de modelação a partir de imagens médicas obtidas pelas técnicas de Tomografia Axial Computorizada (TAC) e Ressonância Magnética (RM), entre outras, permitem a construção de modelos de estruturas anatómicas tridimensionais (CAD 3D). Com base nestes modelos tridimensionais, as tecnologias de Fabrico Aditivo (FA) têm sido usadas para construir modelos físicos cujas principais aplicações na área médica são [1-3]: • Treino cirúrgico (simulação); • Planeamento pré-operatório; • Fornecimento de orientações durante a cirurgia (guias cirúrgicas); • Melhoramento da qualidade do diagnóstico; • Projeto de dispositivos de fixação osteo-integráveis; • Fabricação de próteses à medida do paciente; • Clarificação e esclarecimento do paciente/família e obtenção do consentimento para a intervenção. Uma das áreas relacionadas com a medicina onde a impressão 3D tem tido sido alvo de inúmeros estudos é no fabrico de próteses à medida do paciente, dado que apresenta inúmeras vantagens, designadamente: • Redução do tempo necessário para a execução do procedimento cirúrgico; • Redução do risco e sofrimento para o paciente; • Montagem mais eficaz, sendo aplicada diretamente na zona danificada sem necessidade de remoção de grande quantidade de osso saudável; • Reparação de grandes áreas afetadas (grandes vazios); • Fabricação de formas complexas; • Redução do número de revisões cirúrgicas. As imagens médicas obtidas a partir das técnicas de TAC ou RM são disponibilizadas em formato DICOM. O processamento destas imagens e a reconstrução das zonas afetadas pelas mais diversas causas (acidentes, tumores, etc.) são realizadas através de software tal como o Mimics da Materialise, que conjuntamente com os softwares de biomodelação tais como o 3matic ou outros produzem ficheiros CAD 3D em formato STL para utilizar nos equipamentos de FA [1]. Na área médica as técnicas de FA que utilizam metais são bastante comuns, no entanto têm custos muito elevados. Assim, em muitos casos não se justifica a utilização de metais, e por isso no fabrico de protótipos, como por exemplo de crânios para preparação de cirurgias, estes são feitos em materiais poliméricos por estereolitografia ou outros processos [4]. Os protótipos obtidos por FA podem ser a materialização da zona anatómica afetada de modo a promover uma validação da geometria da prótese à medida e/ou das próteses a colocar no paciente. A utilização conjunta destes dois tipos de protótipos é o ideal para verificação de dimensões, sistemas de fixação, espessuras a aplicar, etc. Após a realização de todo este processo com as devidas iterações, as próteses a colocar nos pacientes podem ser produzidas por diversas técnicas envolvendo por exemplo a fundição de precisão ou a conformação plástica. A escolha de um ou outro processo depende sobretudo da complexidade da prótese, da sua espessura, função (articular, de suporte ou estética), etc. É de realçar que como se trata de próteses à medida do paciente as técnicas de FA podem elas mesmas ser utilizadas para produzir por exemplo ferramentas a usar em conformação plástica de chapa ou modelos das próteses em cera para utilizar como modelos perdidos em fundição de precisão. De uma forma geral as próteses finais são obtidas em titânio e suas ligas ou ligas de cobalto-crómio, dadas as características de biocompatibilidade e relação resistência/peso destes materiais [5-9]. É de salientar que o sucesso da utilização destas tecnologias inovadoras só é possível através da criação de equipas multidisciplinares dado que são necessários conhecimentos tanto da área médica, como de biomodelação, projeto, materiais e processos de fabrico. Genericamente, o processo pode ser descrito pelo fluxograma da figura 1. TAC/RM Processamento de imagens médicas Ficheiros IGES Utilização de software para produção de ficheiros CAD 3 D Ficheiros STL Fabrico Aditivo (FA) Modelo da prótese Modelo da área com defeito onde vai ser aplicada a prótese Avaliação funcional Ficheiros STL Alterações? Sim Não Produção de moldes e/ou modelos por FA Produção da prótese em Ti ou ligas de Ti Cirurgia Figura 1 – Fluxograma das etapas de fabrico e intervenção cirúrgica de próteses à medida do paciente. As figuras seguintes (figuras 2 e 3) apresentam dois exemplos de produção de próteses à medida do paciente utilizando o FA e os processos de fabrico de próteses por fundição de precisão e conformação plástica. Modelo do crânio com defeito obtido por TAC Biomodelação da prótese adaptada ao defeito Biomodelação da prótese Prótese em SL Ferramenta de conformação plástica - Matriz Ferramenta de conformação plástica - Punção Prótese obtida por conformação plástica de malha metálica Prótese colocada no crânio obtido por FA para validação dimensional e funcional Figura 2 – Caso de estudo: Defeito crânio facial. Prótese à medida obtida por conformação metálica de malha de Ti Cp. DICOM Processamento de imagem Biomodelação Modelo do crânio com defeito e modelo da prótese a fabricar já com sistemas de alimentação para fundição Fabrico por fundição de precisão e prótese metálica final Figura 3 – Caso de estudo: Defeito crânio facial. Prótese à medida em liga de titânio, obtida por fundição de precisão. Conclusões A utilização das técnicas de FA e mais especificamente de impressão 3D revelam-se muito promissoras para facilitar a obtenção de próteses à medida dos pacientes. Estas técnicas em conjunto com processos de fabrico mais tradicionais de fundição e de conformação plástica permitem a obtenção num curto espaço de tempo de próteses personalizadas. Podem ser utilizadas diversas técnicas de fabrico aditivo na área médica de acordo com o tipo de modelo que se pretende produzir (em plástico, cera, metal, etc.). Agradecimentos Projeto SAESCTN-PII & DT/1/2011 co- -financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte (ON.2 - O Novo Norte), sob Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), através do Fundo de Desenvolvimento EUROPEU Regional (FEDER). Referências Bibliográficas [1] Richard Bibb, “Medical Modelling: The Application of Advanced Design and Development Techniques in Medicine”, Woodhead Publishing Ltd, 2006. [2] John Winder, Richard Bibb, “Medical Rapid Prototyping Technologies: State of the Art and Current Limitations for Application in Oral and Maxillofacial Surgery”, J. Oral and Maxillofacial Surgery, vol. 63[7], pp. 1006-15, 2005. [3] Ian Gibson, “Advanced Manufacturing Technology for Medical Applications - Reverse Engineering, Software Conversion and Rapid Prototyping”, John Wiley & Sons, Ltd., 2005. [4] Wohlers T.T., “Wohlers Report 2013”, Wohlers Associates, CO, USA, 2013. [5] Singare, Sekou; Yaxiong, Liu; Dichen, Li; Bingheng, Lu; Sanhu, He; Gang, Li, "Fabrication of Customised Maxillo-facial Prosthesis Using Computer-Aided Design and Rapid Prototyping Techniques", Rapid Prototyping Journal, vol. 12[4], pp. 206-213, 2006. [6] F. Jorge Lino, Henrique Barbado, Teresa Duarte, Rui Neto, Ricardo Paiva, “Aplicação da Prototipagem Rápida na Área Médica”, Revista Saúde Oral, Revista Profissional de Estomatologia e Medicina Dentária, n º50, pp.66-74, 2006. [7] R. Neto, T. Marques, M. Marta, N. Leal, M. Couto, M. Machado, “Digital-Based Engineering Tools for Tailored Design of Medical Implants”, in New Trends in Mechanism and Machine Science, Vol. 24, pp.733-741, 2015). [8] V. Csaky, R.J. Neto, T.P. Duarte, J. Lino Alves, “A Framework for Custom Design and Fabrication of Cranio-Maxillofacial Prostheses Using Investment Casting”, Eng Opt 2014, 4th Int. Conf. on Engineering Optimization, IST, Lisbon, Portugal, 8-11 September 2014, Eng. Optimization 2014, Ed. By Aurélio Araújo, CRC Press 2014, ISBN: 98-1-138-027251, ebook ISBN: 978-1-315-73210-7, Taylor & Francis Group, London, pp. 941-945, 2015. [9] N. Song, S. Wu, R. Neto, M. Machado, “Optimization of Investment Casting of Ti6Al4V Hip Prostheses by Numerical and Experimental Methods”, 2015 IEEE 4th Portuguese BioEngineering Meeting Porto, Portugal, 26-28 February 2015