UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica 2008 – UFU 30 anos CONDUTA ALTERNATIVA PARA REABILITAÇÃO ORAL EM PORTADOR DE HIPERPLASIA FIBROSA INFLAMATÓRIA: RELATO DE UM CASO CLÍNICO Lara Maria Alencar Ramos 1 Faculdade de Odontologia – FOUFU, Av. Pará n.1720, Cep: 38900-405 Uberlândia - MG. [email protected] Flaviana Soares Rocha 1 [email protected] Jonas Dantas Batista 2 Andrea Gomes de Oliveira 3 Vanderlei Luis Gomes 3 Resumo: Procedimentos cirúrgicos nem sempre podem oferecer um tratamento de sucesso quando usado em momentos inapropriados. Uma alternativa de tratamento das lesões hiperplásicas inflamatórias induzidas por próteses totais está no reembasamento destas com Coe-Soft@. Clinicamente isto é considerável por que reduz a morbidade do paciente idoso, o qual normalmente já possui alguns problemas sistêmicos. Palavras-chave: prótese total, hiperplasia, tecidos moles. 1. INTRODUÇÃO Por todo o mundo, uma revolução demográfica está em andamento. A proporção de pessoas idosas esta crescendo mais rápido do que qualquer outro grupo etário. Devido a esse fato, há um crescente interesse na saúde bucal da população idosa. A mucosa bucal atua de forma essencial na função de proteção da saúde do paciente. Com o avanço da idade, a mucosa bucal torna-se mais susceptível e vulnerável a agressões externas. Uma perda de função de proteção fisiológica da mucosa bucal pode expor indivíduos idosos a uma variedade de doenças. Associado a essa predisposição, as próteses odontológicas podem promover e, em alguns casos, modificar a aparência das lesões bucais em pessoas idosas. Neste sentido, a hiperplasia fibrosa que corresponde a uma lesão proliferativa nãoneoplasica de origem reacional, geralmente associada a um trauma, é particularmente freqüente em pessoas portadoras de próteses. A cavidade bucal constitui um ecossistema microbiológico que, em princípio, mantém-se em harmonia e aonde as formas de vida que o habitam se encontram em equilíbrio saprofítico (JORGE, 1997). Condições, entretanto podem se estabelecer, as quais tornam necessárias as instalações de elementos artificiais na cavidade bucal. As próteses dentárias podem, por mecanismos interativos, interferir ou colaborar para a evidenciação clínica de processos patológicos. 1 1 Mestranda FOUFU Doutorando PUCRS 3 Orientadores – Área de Prótese Removível FOUFU 2 Ao contrário do que muitos pensam, não é só a presença de dentes que torna o indivíduo um paciente de interesse para a odontologia. Mesmo que não haja mais dentes, as visitas ao dentista devem continuar, visto que a manutenção da integridade dos tecidos moles é bastante importante, pois é nele que muitas patologias, inclusive as neoplasias, podem a vir se desenvolver. Verificar o estado de asseio e a conservação das próteses é muito importante bem como confeccioná-las somente com profissionais capacitados para tanto. 2. RELATO DE CASO Paciente branca, do gênero feminino, 66 anos, com uso de próteses totais bimaxilares há trinta anos, compareceu a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) queixando da presença do crescimento de “uma massa na boca” , há uns três meses, e que a prótese inferior estava folgada na boca e ficava machucando mais a lesão. No exame clínico, foi observado que em região interna da mucosa do lábio inferior havia um crescimento de tecido fibrótico, aparentemente provocado pela má retenção da prótese, levando a um trauma na região(Fig 1). Nos achados clínicos havia presença de cândida em região central do dorso da língua, queilite angular e hiperplasia papilomatosa. A paciente já havia procurado o serviço odontológico, e estava sob o regime de tratamento de adequação do meio bucal, evitando o uso das próteses para dormir, deixando-as em solução de água com hipoclorito de sódio, e fazendo bochechos de água morna com água oxigenada. Contudo as próteses superior e inferior estavam reembasadas em sua zona de retenção com coe-soft® (material resiliente usado no reembasamento protético). Figura 1: Região da hiperplasia relacionada a trauma da prótese. Na FOUFU foi realizado o seguinte procedimento, a paciente continuaria com o protocolo de adequação do meio bucal e a remoção dos estímulos traumáticos das próteses. E o tratamento foi complementado com o reembasamento em região vestibular da base da prótese inferior para obterse uma ação de afastamento e compressão da lesão hiperplásica. Dessa forma após uma semana observou-se que a lesão apresentava uma regressão dos sinais de inflamação, com redução do edema e do alo eritematoso que a circundava. 2 A paciente continuou com o uso das próteses reembasadas enquanto confeccionavam-se as novas próteses, e após três meses a lesão apresentou uma redução significável (Fig. 2). Com a redução da lesão a excisão cirúrgica da mesma foi realizada. O fragmento biopsiado foi levado para o exame histopatológico e apresentou-se compatível com hiperplasia fibrosa inflamatória. Figura 2: Aspecto de regressão da lesão. 3. DISCUSSÃO No caso clínico apresentado foi dado enfoque na seguinte seqüência clínica, tratamento protético (reembasamento, reabilitação), tratamento cirúrgico (biópisia) e a conclusão do caso no exame histopatológico. Nas hiperplasias fibrosas inflamatórias as lesões pequenas podem regredir quando a prótese é ajustada e a massa for predominantemente hemangiomatosas. Lesões maiores requerem além do ajustamento da prótese, a ressecção cirúrgica e exame histopatológico, embora raramente haja evolução para forma tumoral, isso pode ocorrer devido principalmente a persistência do fator etiológico. Em relação à hiperplasia fibrosa inflamatória, (SHAFER, HINE & TOMICH, 1987; ISHIKAWA'S & WALDRON, 1989; TOMMASI, 1989) observaram uma clara relação do aparecimento da lesão com o uso de próteses. Birman et al (1981) revisaram todas as lesões de localização gengival enviadas para exame histopatológico no Serviço de Patologia cirúrgica da FOUSP. Observaram que, entre estas, destacam-se pelo seu número as chamadas hiperplasias fibrosas inflamatórias. Dos 5821 casos analisados, 2359 (40,6%) eram de localização gengival, sendo que destes, 11,9% corresponderam aos casos de hiperplasia fibrosa inflamatória. As hiperplasias fibrosas inflamatórias afetaram predominantemente a gengiva maxilar numa relação de 1,9:1, sendo a região anterior a mais prevalente. O sexo feminino foi afetado numa proporção de 2,9:1. A faixa etária mais atingida foi de 41 a 60 anos, seguida de 21 a 40. Das lesões hiperplásicas gengivais 53,5% dos casos apresentaram-se assintomáticas, sendo apenas 15,3% sintomáticas e o restante não foi relatado. 3 A maior prevalência da lesão no sexo feminino poderia ser indicativa, talvez, da maior utilização dos serviços odontológicos. A observação de que a faixa etária mais afetada está ao redor dos 40 anos se contrapõe às demais lesões proliferativas que ocorrem mais precocemente, tendo em vista, provavelmente, a presença de menor potencial irritativo, devido à pouca utilização de aparelhos protéticos e outros tipos de restaurações em faixas etárias mais jovens. A Hiperplasia fibro-epitelial inflamatória (HFI) ocorre ao redor das margens ou bordas de próteses totais ou parciais removíveis (CUTRIGHT, 1974; BUCHNER & HELFT, 1979; KENG & LOH, 1989). Sua etiologia é relacionada com a irritação crônica causada por bordas de próteses mal adaptadas e por forças oblíquas resultantes de desajustes oclusais (KENG & LOH, 1989; WRIGHT & SCOTT, 1992). A literatura mostra que pacientes portadores de próteses há muitos anos, estão predispostos a hiperplasias consideráveis nos rebordos alveolares ou nos sulcos, que impedem e impossibilitam a colocação de uma nova prótese, podendo provocar, inclusive, o aparecimento de alterações malignas. Por esse motivo devem ser sempre eliminadas cirurgicamente, não antes de deixá-las desinflamar completamente (MARZOLA, 2002). O caso clínico apresentado buscou além da regressão do processo inflamatório, a regressão do tecido fibrosado presente na lesão com o tratamento protético prévio por compressão. No caso relatado, o resultado agradou o paciente tanto no fator estético quanto no funcional. 4. CONCLUSÃO O profissional de saúde bucal deve sempre estar atento perante as condutas a serem tomadas em pacientes geriátricos. A hiperplasia inflamatória se enquadra nas lesões de aparecimento freqüente, e seu tratamento deve ser conduzido de forma conservadora em um primeiro momento, o que oferece menor morbidade a pacientes que por muitas vezes já possuem saúde sistêmica debilitada. Uma questão relevante dentro do tratamento de lesões reativas ao trauma provocado por próteses totais mal adaptadas ou mal higienizadas, é como serão tratadas em um primeiro momento clínico. O cirurgião-dentista deve estar atento a morbidade que uma conduta cirúrgica em hiperplasias inflamatórias grandes e inflamadas pode provocar em um paciente de meia idade. 5. REFERÊNCIAS ISHIKAWA'S, G.; WALDRON, C.A. Atlas colorido de Patologia oral. 1º ed. São Paulo, editora Santos, 1989, p.193. JORGE, A. O. C. et al. Presença de levedura do gênero cândidas na saliva de pacientes de diferentes fatores predisponentes e de indivíduos controle. Revista Odontológica da USP, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 279-285, Out-Dez, 1997. TOMMASI, A.F. Diagnóstico em patologia bucal. 2º ed. Pancast editorial, 1989. 664p. SHAFER, W.G.; HINE, M.K.; TOMICH, C.E. Tratado de Patologia bucal. 4º ed., Rio de Janeiro, guanabara Koogan, 1987, p.837. Cirurgia pré-protética/ Pancast editora; 3ª edição revista e ampliada. BIRMAN, E.G. et al. Patologia gengival - Hiperplasia fibrosa inflamatória localizada. ARS CVRANDI em Odontologia, maio-junho, p. 77-84, 1981. CUTRIGHT, D. E. The histopathologic findings in 583 cases of epulis fissuratum. Oral Surg, v. 37, p. 401-11, 1974. KENG, S. B. Denture induced inflamacions. J Singapore Dent, Singapore, v. 4, n. 1, p. 29-34, May, 1979. WRIGHT, S.M.; SCOTT, B.J.J. Prosthetic assessment in the treatment of denture hyperplasia. Br Dent J, v. 172, p. 313-315, 1992. 4 ALTERNATIVE APPROACHES FOR ORAL REHABILITATION IN PATIENCE WITH FIBROUS INFLAMATORY HYPERPLASIA: CLINICAL REPORT Lara Maria Alencar Ramos 1 Dentistry School – FOUFU, Av. Pará n.1720, Cep: 38900-405 Uberlândia - MG. [email protected] Flaviana Soares Rocha 1 [email protected] Jonas Dantas Batista 2 Andrea Gomes de Oliveira 3 Vanderlei Luis Gomes 3 Abstract: Surgical procedures may not always offer a predictable level of success when used in inappropriate moment of the treatment. One approach is described for the management of traumatic proliferation of soft tissue induced by denture, reembasing these dentures with CoeSoft@. Clinically it considers a reduction in the morbidity of the aged patient, which usually already possesses some systemic problems. Keywords: complete denture, hyperplasia, soft tissue. 5