RELAÇÕES ECONÔMICAS: TRABALHO E MERCADO NA 3ª IDADE
Ocilma Barros de Quental. Faculdade de Medicina do ABC
[email protected]
Luiz Carlos de Abreu. Faculdade de Medicina do ABC.luiz.abreufmabc.br
Larissa Vieira Campos de Oliveira. Faculdade Santa
[email protected]
Sheyla Sousa Ribeiro. Faculdade Santa [email protected]
Sharles Feitosa Arrais. Faculdade Santa [email protected]
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um fenômeno que está relacionado à vida de todos os
seres vivos, e na espécie humana está atrelado às suas condições de vida e
trabalho. É um processo que ocorre de maneira singular para cada indivíduo e,
embora esteja vinculado a uma série de alterações biológicas que lhe impõem
alguma dificuldade, não necessariamente está vinculado apenas a perdas e
limitações; pelo contrário, pode se caracterizar como um período de intensa
funcionalidade cognitiva, afetiva e física, caso haja oportunidade para tal.1
Estudos demonstram o aumento acelerado da população idosa brasileira, nas
últimas décadas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil, que em 2000 chegava a
14.536029 poderá ultrapassar os 30 milhões, nos próximos 25 anos. 2,3
Hoje, o mercado de trabalho mudou muito em função dos avanços
tecnológicos e, dos aposentados que retornam ao trabalho, são requeridas novas
competências que os fazem procurar as classes escolares.³ De fato, a terceira idade
retorna à escolarização e ao mercado de trabalho num contexto bem diferente do
que havia no passado. A absorção das novas tecnologias pelo processo produtivo
faz com que o mercado de trabalho exija cada vez mais do trabalhador
novas qualificações. Sem essas qualificações, fica difícil o acesso desses sujeitos ao
mercado profissional e à participação ativa na sociedade contemporânea.³
Os preconceitos enfrentados pelos idosos são variados. Nas questões mais
básicas, como na utilização de caixas eletrônicos instalados em bancos, o idoso
percebe a sua dependência de outras pessoas no lidar com artefatos digitais. Até
mesmo as conversas informais, mediadas por um repertório que soa estranho para
os não versados em cibercultura, segundo a autora, giram em torno de aparelhos
recém lançados, o que gera, mais do que a exclusão digital, a exclusão social4.
Existe a crença de que a velhice está associada à ideia de passividade, de
doença e de morte, e, por isso, surge a visão de um sujeito incapacitado.
Podemos dizer que vivemos num momento histórico em que velhos são
rejeitados por não serem mais considerados produtores. Quando se vive o primado
da mercadoria sobre o homem e se tem na força de trabalho a valorização humana,
o aumento da idade é acompanhado por desvalorização. A ideia de que o idoso não
pode fazer nada e não participa mais de nenhuma produção é introjetada pelas
pessoas, de forma que elas próprias delineiem seu futuro passivo 5.
Muitos estudiosos argumentam que a velhice não se refere apenas a uma
questão cronológica. A definição de envelhecimento contempla várias dimensões: do
ponto de vista biológico, social e econômico1,4.
O envelhecimento populacional não se refere nem a indivíduos, nem a cada
geração, mas, sim, à mudança na estrutura etária da população, o que produz um
aumento do peso relativo das pessoas acima de determinada idade, considerada
como definidora do início da velhice. Este limite inferior varia de sociedade para
sociedade e depende não somente de fatores biológicos, mas, também,
econômicos, ambientais, científicos e culturais.2,6
Nas últimas décadas, o mercado de trabalho, em todos os setores, vem
recrutando mão-de-obra qualificada para atender às necessidades da chamada “Era
da informação”. A “Era do capital intelectual” pode ser uma grande oportunidade
para a mão-de-obra da terceira idade, pois, se baseia na capacidade humana de
gerar conhecimento e, não na força física. Os idosos economicamente ativos terão a
experiência como grande aliada em uma sociedade baseada na educação e que tem
a informação como matéria-prima, pois a partir da capacidade de transformar dados
em informação é que se pode gerar produtividade 7.
As potencialidades mentais dos indivíduos de terceira idade, hoje
comprovadas, merecem, portanto, ser entendidas como sinônimo da força produtiva
de que são detentores. Nas regiões Nordeste e Sul, o número de aposentados
trabalhando está acima da média nacional: 24,5% e 27,3%, respectivamente.
Somando os aposentados que voltaram à ativa aos idosos que ainda não se
aposentaram, a proporção dos que chegam aos 60 anos no mercado profissional
atinge ao percentual de 30,9%, assim os 5,9 milhões de idosos trabalhadores do
Brasil ocupam hoje 4,5% dos postos de trabalho do País (IBGE, 2007). No quesito
vínculo empregatício a maior parte dos trabalhadores idosos são autônomos (43,9%)
e assalariados (31,4%,) sendo que, 9,8% deste percentual são empregados
domésticos.
A permanência do idoso no trabalho pode ser discutida por dois ângulos: o
trabalho pode ser benéfico quando propicia auto-estima, satisfação, sensação de
produtividade, além da remuneração, e, por outro lado, pode ser prejudicial quando
a única razão para se manter trabalhando é a necessidade de renda, sem qualquer
outra motivação.
O trabalho tanto pode ser uma fonte de aumento da qualidade de vida (por
proporcionar ao idoso a atividade, tanto física quanto intelectual), como pode ser
agravante da qualidade de vida (porque quanto piores, mais dilapidadoras e
degradantes as condições de trabalho, pior a qualidade de vida do trabalhador na
terceira idade). O trabalho pode ser um elemento importante para gerar qualidade de
vida, desde que esteja associado ao prazer.
É comprovada a importância do trabalho na qualidade de vida dos idosos, já
que influencia no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional destes. Além disso,
quando o trabalho é atrelado à ideia de satisfação e realização pessoal, as
possibilidades de uma sobrevida mais digna e saudável são maiores, além de se
preservar o papel social do sujeito em seu próprio meio.
Estudo realizado por esses autores com 2886 idosos de 65 anos ou mais,
residentes em dez regiões metropolitanas brasileiras, constatou que a maioria deles
(68,46%) estava aposentada e não trabalhava, 26,9% trabalhavam (sendo estes
aposentados ou não) e 4,6% não trabalhavam e nem eram aposentados. Os inativos
que tinham alguma ocupação apresentaram melhores condições de saúde, menor
dificuldade para executar tarefas diárias, maior autonomia e mobilidade física e,
além disso, possuíam maior escolaridade e renda per capita1.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão de artigos na forma de síntese de dados. Foram
consultados bases de dados do Medical LiteratureAnalysisandRetrieval System
Online (Medline), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Literatura LatinoAmericna e do Caribe em ciências da saúde (Lilacs). A pesquisa foi realizada nos
meses de março e abril utilizando as seguintes palavras : idoso, economia, trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade em que vivemos, de forma geral, possui uma visão
preconceituosa sobre o processo de envelhecimento, principalmente no que se
refere ao mercado de trabalho, já que este se pauta em maior produção e lucro – e a
velhice é vista como estágio de incapacidade e improdutividade. Por isso, o idoso
internaliza essa ideologia, na medida em que assume uma postura passiva diante da
sua “substituição” pelos mais novos.
No entanto, é de suma importância retomar o papel ativo desse estágio da
vida, que deve ser entendido ainda como momento propício à continuidade de
aprendizagem e ao desenvolvimento humano. Idosos em boas condições de saúde
e com autonomia física e mental mantêm boas perspectivas de vida e podem
assumir papéis relevantes na sociedade. Cabe à sociedade levar em consideração a
capacidade de trabalho dos idosos e garantir o direito à manutenção ou reinserção
no mercado de trabalho daqueles que assim o desejarem.
A participação do idoso brasileiro no mercado de trabalho acaba ocorrendo
basicamente pelo fato de que, no Brasil, o aposentado ganha pouco e às vezes,
mesmo que não queira, precisa continuar trabalhando para se sustentar. O idoso
tem direito ao trabalho digno, mas, para que isto seja possível, é preciso que haja
políticas públicas que garantam condições objetivas para tal, assim como a
sociedade precisa aprender a valorizar a experiência dos idosos.
4 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
1.ARGIMON, I. I. L.; LOPES, R. M. F; NASCIMENTO, R. F. L. Atualidades sobre o
idoso
no
mercado
de
trabalho.
2006.
Disponível
em:
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0300.pdf. Acesso em: 26-03-2013
2.BASTOS, A. V. B.; BORGES-ANDRADE, J. E.; ZANELLI, J. C. (Org.). Psicologia,
organizações trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
3.BULLA, L. C.; KAEFER, C. O. Trabalho e aposentadoria: as repercussões sociais
na vida do idoso aposentado. Revista Virtual Textos & Contextos, nº 2, dez. 2003.
4.CAMARANO, M. T. O. Mecanismos de proteção social para a população idosa
brasileira.Texto para discussão, n.1.179. Rio de Janeiro: IPEA, 2006.
5.CARVALHO, J. A. M; GARCIA, R. A. O envelhecimento da população brasileira:
um enfoque demográfico. Caderno de Saúde Pública. 19(3):726 – 727, maiojunho/2003.
6.GIATTI, L.; BARRETO, S. M. Trabalho feminino e saúde na terceira idade. Ciência
& Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 825-839, 2002.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232002000400016&lng=pt&nrm=iso>.Acesso em: 26-03-2013
7.MOREIRA, M. M. S. Trabalho, qualidade de vida e envelhecimento. Fundação
Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2000.
8.ROCHA, T. M. V. Terceira idade e representações sociais: o retorno ao trabalho na
era da cibercultura. X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. Pontíficia
Universidade Católica do Paraná. Curitiba, nov/2011.
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