Envelhecimento populacional
e o mercado de trabalho para o idoso
Karen Valadares Trippo1
Milena Alves Medrado2
Resumo: O presente ensaio teórico objetiva abordar os
impactos do envelhecimento populacional sobre mercado
de trabalho, com base em algumas publicações do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicada (IPEA), em autores que
discutem os aspectos do trabalho como Ricardo Antunes
e em autores na área de Geriatria e Gerontologia Social.
Será, portanto, realizada uma análise do contexto do idoso
na atualidade brasileira, incluindo aspectos demográficos e
conceitos de envelhecimento e velhice, aspectos políticos,
bem como algumas teorias sociais do envelhecimento que
apresentam formulações sobre o trabalho, de forma a realizar
aproximações com as discussões sobre as metamorfoses do
trabalho e a capacidade de absorção deste contingente
populacional no mercado brasileiro, onde a área de serviços
é apontada como uma das mais promissoras.
Palavras-chave: Envelhecimento da População. Mercado de
Trabalho. Idosos.
Abstract: This theoretical paper aims to discuss the impacts
of population aging on the labor market, based on some
publications of the Institute of Applied Economic Research
(IPEA), in which the authors discuss aspects of the labor as
Ricardo Antunes and authors in the area of Social Gerontology
and Geriatrics. It will therefore be an analysis of the context
of the elderly in Brazilian, including demographic and
concepts of aging and old age, political, and social theories of
1
Fisioterapeuta, Mestre em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (UNEB), Especialista
em Gerontologia (UFBA), Professora Adjunta dos Cursos de Fisioterapia da UNIJORGE e da FACSAL.
E-mail: [email protected].
2
Fisioterapeuta, Mestre em engenharia e gestão do Conhecimento (UFSC), Especialista em
Ergonomia Aplicada à Saúde do trabalhador (PUC-M.G), docente do Centro Universitário UNIJORGE.
E-mail: [email protected].
24
aging that present formulations on the job, in order to make
approaches to the discussions on the metamorphosis of the
labor and the absorption capacity of the population living in
the brazilian market, where the service area is considered
one of the most promising.
Keywords: Aging Population. Labor Market. Elderly.
O Idoso no Contexto Atual: dos Aspectos
Demográficos ao Mercado de Trabalho
Entre o final de século passado e início deste, o Brasil vem
assistindo a um verdadeiro “boom” de idosos, saindo da situação
de um país essencialmente de jovens. Segundo World Health
Statistics Annuals (1997) em 1950 o Brasil ocupava o 16o lugar
em população com idade igual ou superior a 60 anos, com 2,1
milhões de idosos. As projeções para o ano 2025 demonstram
que o Brasil deverá possuir a 6a maior população idosa do
mundo, com cerca de 32 milhões de pessoas acima de 60 anos
(PAPALEO, 2000). Além disso, as projeções para o início do século
XXI indicam que 82% dos idosos no Brasil residem nas cidades,
o que caracteriza um fenômeno urbano com implicação no
mercado de trabalho contemporâneo.
Ao se analisar o crescimento demográfico nacional por
grupos etários, o grupo que apresenta proporcionalmente maior
crescimento é o de 60 anos e mais (CANÇADO, 1994). Somente a
partir de 1960 começou a ocorrer aumento proporcionalmente
maior do grupo com 60 ou mais anos, enquanto que a população
jovem já se encontrava em processo de desaceleração no país.
Isso devido ao Brasil passar de uma situação de alta fecundidade
e alta mortalidade, para a de baixa fecundidade e cada vez mais
baixa mortalidade. (VERAS et al, 1996)
Além disso, a esperança de vida ao nascer, no Brasil, também
vem demonstrando aumento. Em 1900 encontrava-se em torno de
33,7 anos; passou para 50,99 em 1950/55; e 66,25 em 1990/95
(CANÇADO, 1994; LEPARGNEUR, 1999). Atualmente a expectativa
de vida no Brasil segundo o IBGE é de 73,17 anos, sendo de 69,4
25
anos para os homens e de 77 anos para as mulheres. Já a Bahia
tem expectativa de vida de 72,2 anos, a maior do Nordeste.
Todos esses dados, associados a uma expectativa de
crescimento mundial de idosos no período de 1975-2025 em
torno de 224% (onde a população mundial crescerá nesse
período cerca de 102%) (BOECHAT, 1999), além de que em 2025
2/3 da população mundial de idosos residirão nos países em
desenvolvimento, dentre eles o Brasil; justifica-se a necessidade
de se conhecer melhor esse processo não apenas no contexto da
saúde física, mas especialmente na perspectiva do mercado de
trabalho para o idoso, já que o envelhecimento populacional leva
a um envelhecimento da População Economicamente Ativa (PEA).
Os estudos atuais definem o envelhecimento como um
processo amplo, multifatorial, multidimensional, dinâmico e
progressivo, onde há modificações tanto morfológicas como
funcionais, bioquímicas, psicológicas e sociais que determinam
progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao
meio ambiente e ao próprio processo de envelhecer, ocasionando
maior vulnerabilidade e maior incidência de processos
patológicos, que termina por levá-lo à morte. (CARVALHO FILHO;
ALENCAR Apud PAPALÉO, 2000, p.01)
Segundo Beauvoir (1970):
“O envelhecimento tem, sobretudo, uma dimensão
existencial e, como todas as situações humanas, modifica a
relação do homem com o tempo, com o mundo e com sua
própria história, revestindo-se não só de características
biopsíquicas, como também sociais e culturais”.
Já a palavra velhice, segundo Pickles et al (2000), é de difícil
definição. Está muitas vezes relacionada à presença de espírito e às
idades cronológica (tempo de vida desde o nascimento), psicológica
(relacionada às condições mentais e cognitivas do indivíduo) e
biológica (referente ao ritmo das manifestações biológicas).
Conforme definição da Organização Mundial de Saúde (O.M.S.),
a velhice é “uma etapa da vida, nem melhor, nem pior que as
demais, porém tendo seus caracteres próprios, seus sistemas
26
de valores e suas possibilidades particulares de afirmação da
personalidade”. (QUEIROZ, 1999)
As palavras velhice e envelhecimento, quando pensadas
de maneira abstrata, são, muitas vezes, repletas de mitos,
preconceitos e estereótipos que podem ser explicados reportandose às concepções históricas desses termos, apesar dessa análise ser
quase sempre difícil, indefinida e às vezes contraditória. Primeiro
porque, segundo Beauvoir (1970), “é impossível se escrever uma
história da velhice, [...] até o séc. XIX nunca se fez referência
aos velhos pobres; [...] pois a longevidade só era possível entre
as classes privilegiadas[...]. Tanto a história como a literatura
os ignoravam por completo”. Segundo porque as reflexões sobre
esse assunto sofreram adequações aos valores de cada época
e de cada cultura em particular, reservando aos idosos uma
função privilegiada ou marginal. E terceiro devido às informações
esparsas e deformadas pela época ou lugar, transmitidas desde
os primórdios das civilizações pela mitologia, iconografia (arte
de representar por meio da imagem) e literatura.
Entretanto, existe a necessidade de estabelecer limites
cronológicos para o início da velhice, muito mais para fins
burocráticos, para constar como fator de lei. Assim, a variável
cronológica é um dado determinante no conceito de velhice.
Dessa forma, delimita-se o início do envelhecimento em
países desenvolvidos a partir dos 65 anos e, para os países em
desenvolvimento, a partir dos 60 anos, como é o caso do Brasil.
No Brasil, os idosos dispõem da Lei Nº 10.741, instituída em
1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso, destinado a regular
os direitos assegurados às pessoas com 60 anos ou mais; além da
Lei nº8.842, de 4 de janeiro de 1994, homologada em 1996, a
qual trata da Política Nacional do Idoso. Apesar destas leis serem
consideradas como uma das mais avançadas do mundo, os direitos
dos idosos carecem de maior atenção e investimentos públicos,
inclusive no que se refere ao direito fundamental do trabalho.
Segundo os artigos 26, 27 e 28 do Estatuto do Idoso, que
tratam dos Direitos Fundamentais da Profissionalização e do
Trabalho, é direito do idoso o exercício de atividade profissional,
sendo proibidas a discriminação e a fixação de limite máximo de
27
idade para concursos, exceto nos casos em que a natureza do
cargo exigir, onde o critério de desempate deverá ser a idade,
privilegiando os mais velhos. Institui-se, ainda, que o Poder
Público criará e estimulará programas de profissionalização
especializada para os idosos, de forma a aproveitar suas
potencialidades e habilidades para atividades regulares e
remuneradas, bem como criará e estimulará programas para
admissão de idosos ao trabalho em empresas privadas e para
a preparação dos trabalhadores para a aposentadoria (com
antecedência mínima de 1 ano). Entretanto, nem sempre estes
direitos são respeitados ou conhecidos, até mesmo pelos idosos.
Propondo explicar o fenômeno do envelhecimento, pesquisas
foram intensificadas e teorias gerontológicas foram configuradas,
não existindo, na atualidade, um estudo único que explique todas
nuanças do envelhecimento humano. Sob esse aspecto, têm-se
as teorias biológicas, psicológicas e sociais sobre o processo de
envelhecimento, as quais representam generalizações integradas
da Geriatria, Psicogeriatria e da Gerontologia. Entretanto, cabe
aqui citar algumas teorias sociais que se referem ao trabalho
no contexto do envelhecimento: a teoria dos papéis, teoria do
desengajamento, teoria da continuidade e teoria dos eventos e
estresse da vida.
A Teoria dos Papéis defende que a manutenção da atividade
e interesse em eventos externos é um componente essencial
de uma velhice saudável (como a teoria da atividade defendida
desde a antiga Grécia com Platão, o qual afirmava que um bom
envelhecimento era consequente da manutenção da atividade até
o final da vida). Essa teoria procura descrever o comportamento
de indivíduos idosos em um contexto social, ressaltando que
“as pessoas se comportam de acordo com as expectativas dos
outros e que tais expectativas são função tanto do processo
de envelhecimento quanto da perspectiva histórica da qual
provém”. (NAHEMOW; POUSADA, 1987)
Além disso, certo número de papéis é definido segundo as
idades ao longo de toda a vida (ciclo vital), e o envelhecimento
seria a passagem de uma sucessão de papéis a outra sucessão de
papéis. Assim, a pessoa adulta inadaptada é aquela que durante
28
sua juventude não assimilou adequadas funções para a velhice.
A Teoria do Desengajamento (Elaine Cumming e Henry –
1960), que faz uma interpretação psicossocial do processo de
envelhecimento, afirma que neste se dá três tipos inevitáveis de
separação: física (declínio de energia física); psicológica (desvio
de preocupação para outrem) e social (diminuição da interação
social com a família, amigos, atividades, etc). Propõe que este
seja um momento de afastamento social gradativo, sendo iniciado
pelo próprio indivíduo ou pelo sistema (aposentadoria). Segundo
os autores, a morte de um indivíduo desengajado causa menor
dano ao sistema que a perda de alguém engajado. Opõem-se
à teoria da atividade justificando ser um sacrifício para um
indivíduo idoso manter-se ativo e participante por toda a sua vida.
Chegam a afirmar que este afastamento é desejável, levando a
um bem-estar psicológico na velhice.
Na verdade, não se pode afirmar que o desengajamento seja
moral e eticamente correto. Além disso, a ausência de trabalho
pode levar o homem à depressão e esta à morte, confirmando
que um baixo nível de engajamento está relacionado com um
baixo nível de satisfação.
Vale, porém, ressaltar a existência de uma teoria intermediária
entre essas duas anteriores, a da continuidade, onde Busse (1992)
considera:
“A abordagem da continuidade é um tipo de posição de
compromisso entre as teorias de separação e atividade. Esta
sustenta que as pessoas mais velhas tendem a comportar-se
em um padrão que foi estabelecido antes da velhice. Às vezes
as pessoas podem separar-se e outras vezes permanecerem
ativas...É também evidente que algumas pessoas idosas
abandonarão um tipo de atividade apenas para substituí-la
por algo que seja mais adequado à sua condição de saúde e
ao seu ambiente”.
A Teoria dos Eventos e Stress da Vida está relacionada à
distribuição etária e influências econômicas. Explicam o status
do idoso em diferentes contextos, os quais não podem ser
aplicados a todas as pessoas no processo de envelhecimento: nas
29
sociedades estáticas, o idoso tem alto status, com tendência à
diminuí-lo com o advento de mudanças sociais (teoria de Ogburn
e Nimkoff); nas sociedades agrícolas, os idosos têm mais status e
respeito que em sociedades urbanas (teoria da modernização de
Cowgill e Holmes); e no processo de modernização, o status do
idoso tende a desaparecer proporcionalmente ao atravessar as
diferentes fases de aceleração deste processo (teoria de Gilleard
e Gurkan). Nesse contexto, a aposentadoria para o idoso pode
representar, além de diminuição de renda, perda de status.
Todas essas teorias, então, somadas às características
históricas e conceituais do processo de envelhecimento,
influenciam no pensamento coletivo, criando mitos e atitudes
diante da velhice, muitas vezes preconceituosos, altamente
aceitos pela sociedade, até mesmo pelos próprios idosos, nas
diversas áreas, inclusive do trabalho.
Nas sociedades pré-industriais, por exemplo, os camponeses e
artesãos viviam e trabalhavam em seus domicílios, confundindo
tarefas laborais com domésticas. Ao se tornarem inteiramente
incapazes, mantinham-se no seio da família. Entre os artesãos, a
capacidade e a qualidade do trabalho crescia com a experiência
e avançar da idade.
Magalhães (1978) afirma que, nas sociedades tradicionais, a
importância dada à figura patriarcal era uma forma de manter
o mito de uma velhice reverenciada de uma maneira geral. Já
nas sociedades modernas urbano-industriais a família patriarcal é
substituída pela família nuclear e o trabalhador tem sua atividade
produtiva muitas vezes longe do seu domicílio, afastando sua
atividade produtiva da família. Por isso, o desengajamento do
mundo do trabalho e a perda da capacidade produtiva é um marco
significativo na vida de qualquer cidadão, podendo significar uma
futuro incógnito. Dessa forma, a velhice na sociedade moderna
é cada vez mais marginalizada, o que pode repercutir numa
fase da vida com raros projetos pessoais e com um declínio
importante da participação e convívio social, os quais podem
ser intensificados pelas mutações no campo do trabalho que não
foram gerados pelo envelhecimento da população, mas pelos
próprios interesses do capital.
30
De acordo Pedrão (2010) o sistema de produção baseado no
trabalho assalariado foi sendo substituído por uma combinação
de novos modos de divisão do trabalho a partir da segunda
metade do século XX, associada à precarização dos contratos
e das qualificações, ou seja, as conformações no mundo do
trabalho foram sofrendo adaptações. Tal fato gera impactos
sobre toda a classe de trabalhadores, inclusive dos idosos, já
que promove redução das opções no mercado de trabalho com
consequente favorecimento da favelização e emigração forçada,
principalmente dos jovens (PEDRÃO, 2010). Essa alteração na
capacidade de absorção dos trabalhadores não deixa de ser
uma forma de ação do capital, impondo “novas formas de
subordinação dos trabalhadores pela necessidade de emprego”.
Tal fato leva a “[...] uma situação em que a informalidade
localmente percebida é parte de um sistema de exploração que
combina condições locais com formas regionais e internacionais”.
(PEDRÃO, 2010)
Com relação às atividades informais o mais comum é serem
encontradas pessoas com mais idade, tanto aquelas que nunca
foram formalmente empregadas em virtude de sua qualificação
educacional, quanto aquelas que já estão aposentadas. Na
agricultura, espaço de economia primária, as pessoas envelhecem
trabalhando, independente do gênero. Fora o setor agrícola,
um dos que mais absorve o idoso aposentado, outra área que
merece destaque e atenção é o comércio por conta própria, ou
setor de serviços, onde a presença o idoso vem apresentando
crescimento, principalmente ao se considerar o fenômeno da
urbanização. (D´ALENCAR; CAMPOS, 2006)
Entretanto, o fenômeno da urbanização, os avanços científicos
e a dinâmica/velocidade das informações também podem
impactar negativamente na absorção dos idosos no mercado de
trabalho brasileiro, incluindo o setor de serviços. Isso porque a
atualidade brasileira é caracterizada por contrastes científicosociais, tanto no que se refere à acessibilidade aos avanços
tecnológicos quanto ao manuseio e utilização dos instrumentais/
equipamentos, notadamente pela população idosa.
Para Pavarini; Neri Apud Duarte; Diogo (2000):
31
“Preconceitos científicos com relação à velhice e ao idoso
são evidenciados pela aceitação e a difusão da idéia de que a
velhice é uma fase que comporta, apenas e necessariamente,
perdas, doenças, degeneração e dependência. A negação
da velhice e a crença irrestrita no poder da ciência e da
técnica em prolongar ou restaurar a juventude são outros
exemplos que pertencem à mesma classe. Embora de modo
algum possam ser apontados como os únicos determinantes
dos conceitos e práticas sociais em relação aos idosos, os
preconceitos científicos podem contribuir para a instauração
de políticas discriminatórias no âmbito do trabalho, da
educação e dos serviços de saúde”.
Pode-se concluir, então, que durante séculos as discussões
sobre os fenômenos do envelhecimento e velhice criaram
divergências tanto científicas como históricas, sociais, políticas,
biopsicossociais, culturais e, atualmente, da mídia, meios de
comunicação e na vida laboral destes indivíduos, permitindo
ordenar diferentes formas de concepção sobre esses temas.
Segundo Marcelo Antônio Salgado, em sua conferência sobre
“Políticas Sociais na Perspectiva da Sociedade Civil” (1995),
a velhice é um tempo de “vazio social, pois são poucos os
espaços nas comunidades que oportunizam uma existência
socialmente produtiva para os velhos”. Isso porque existe uma
atitude diante do velho engendrada na cultura em que este está
inserido, a qual tende a isolar o indivíduo idoso, afastando-o
não só do trabalho, mas também da vida social. Mas a questão
da inatividade atribuída à aposentadoria é um mito, já que
esse tempo pode ser utilizado para outras atividades, tanto
remuneradas como voluntárias. Mito também pode ser atribuído
ao fato de atribuírem improdutividade á pessoa idosa, bem como
total incapacidade de adaptação ao novo ou considerar o idoso
um peso para a sociedade.
No que refere ao mercado de trabalho brasileiro para o idoso,
evidencia-se, nas publicações do IPEA, que os aposentados muitos
vezes retornam ao mesmo, ou até, em alguns casos, permanecem
exercendo suas atividades laborais após a aposentadoria, ou
ingressam no setor de serviços e de trabalho por conta-própria
32
(CAMARANO, 2004). Isso porque a perda do status social que a
aposentadoria traz vem acompanhada de uma perda do poder
aquisitivo e padrão de vida anteriormente mantido. Assim, a
despeito da universalização da seguridade social, mesmo com
a aposentadoria, há a necessidade de complementação da
renda para os idosos. Dessa maneira, trabalhar, para o idoso
aposentado, pode significar além de uma renda mais elevada,
autonomia física e mental e maior integração social, fato que
se aproxima à teoria social da atividade e da continuidade
anteriormente descritas.
Para Antunes (2003):
“Se, entretanto, inicialmente deu-se uma forte absorção
pelo setor de serviços daqueles/as que se desempregavam do
mundo industrial, é necessário acrescentar que as mutações
organizacionais, tecnológicas e de gestão também afetaram
o mundo do trabalho nos serviços, que cada vez mais se
submete à racionalidade do capital e à lógica dos mercados”.
Merece destaque, atualmente, com a crise do desemprego,
o chamado desemprego estrutural (ANTUNES, 1999), onde há,
paralelamente à exclusão de jovens, a exclusão de indivíduos
em torno dos 40 anos de idade, considerados “velhos” pelo
capital, o que torna difícil a inserção destes novamente no
mercado de trabalho, de maneira que acabam por fazer parte
do trabalho informal, dos desempregados e dos trabalhos
voluntários (ANTUNES, 2003). Vale ressaltar que, em virtude
disto, algumas famílias com idosos aposentados, têm nestes os
recursos financeiros para manterem sua sobrevivência, muitas
vezes até limitando os gerontes do uso de suas aposentadorias.
Em contrapartida, de acordo Camarano (2004) é incontestável
a inserção dos idosos na população em idade ativa (PIA), fato
que, associado aos aspectos demográficos, com o crescimento da
população idosa brasileira, resulta no crescimento da participação
dos trabalhadores com idade igual ou superior a 60 anos na força
de trabalho no Brasil e de forma heterogênea, o que difere
de algumas publicações internacionais que apontam para um
decréscimo dos níveis da atividade econômica dos idosos nestes
33
países. Com este crescimento da população idosa brasileira, Attali
Apud Lepargneur (1998) prevê que “cada um poderá trabalhar
mais tempo e valorizar sua experiência enquanto a quantidade
de trabalho disponível para a humanidade será mais reduzida” o
que levará a um adiamento da idade da aposentadoria, ao invés
de sua antecipação.
Entretanto, à medida que os trabalhadores envelhecem, as
melhores chances de permanecer ativos pertencem aos mais bem
qualificados, aos de melhor escolaridade e, sobretudo, aos que
não estão envolvidos em atividades manuais, além de também
serem identificados diferenciais significativos entre a atividade
dos idosos nos meios urbano e rural. (CAMARANO, 2004)
Segundo dados do IPEA, em aproximadamente duas décadas,
as projeções são que a proporção de homens idosos na PEA
masculina estará perto de 10% e a de mulheres idosas em torno de
6%. Assim, em termos de perspectivas de necessidades de geração
de empregos, o grupo dos indivíduos idosos será importante a
pressionar o mercado de trabalho, com um incremento de
aproximadamente 300 mil idosos somados cada ano à PEA de
60 anos e mais. Do total de idosos ativos atualmente, 49% estão
alocados no setor serviços, pelo fato da maior parte da população
idosa residir em ambiente urbano, sendo que, com relação ao
caráter da ocupação, maior parte destes idosos trabalha por
conta própria, com características mais empreendedoras. Já as
atividades agrícolas, vêm em segundo lugar, representando 39%
da atividade dos idosos. (CAMARANO, 2004)
Diante destes dados e com base no contexto atual de saúde,
onde é crescente o número de indivíduos que envelhecem de forma
eugérica (envelhecimento normal e bem sucedido, senescência),
pode-se supor que será cada vez maior a quantidade de idosos que
se aposentam e continuam no mercado de trabalho, principalmente
em atividades que envolvem gestões mais participativas e não
apenas a realização de tarefas. De maneira análoga, ter um
trabalho, expressão genuinamente humana, mesmo que informal,
oportuniza aos indivíduos melhores condições de saúde e qualidade
de vida, já que o trabalho apresenta um papel regulador na
organização da vida humana.
34
Apesar dos estudos apontarem para a importância de se manter
ativo após a aposentadoria, há de se considerar que apesar do
idoso já ter vivenciado a exploração no mundo do trabalho,
continua vivenciando os reflexos da desigualdade social que gera
mais desigualdades. Segundo Vargas (1994) “o homem aposentado
contemporâneo sofre a contradição entre o avanço da ciência
médica, que lhe proporciona maior longevidade, e o desequilíbrio
sócio-econômico que muitas vezes a aposentadoria lhe acarreta”.
Considerações Finais
Estar velho, apesar de para alguns corresponder um acúmulo de
experiências, pode significar que aquele profissional está apegado
a atitudes e tecnologias ultrapassadas, podendo ser discriminado
e desacreditado no local de trabalho, levando-o a perder seu
lugar para os mais jovens aos quais se atribui mais viço, ideias
mais avançadas e mais atuais. Entretanto, as novas concepções
de “aposentadoria ativa”, “corpo e mente saudáveis” e a grande
expansão de participação social da população idosa abrirão
espaço para atitudes mais positivas frente ao envelhecimento
nos círculos familiares, sociais e, principalmente, profissionais,
possibilitando novas perspectivas para o mercado de trabalho
para este contingente populacional, principalmente em virtude
do crescimento do número de indivíduos acima dos 60 anos.
Entretanto, é importante considerar o mecanismo de
exploração já vivenciado por estes idosos no decorrer de toda
sua vida laboral e a influência impactante das transformações
do mundo do trabalho para o idoso. Em certa medida, ainda se
mantém o sistema de exploração, com precárias condições de
trabalho, violência e discriminação social, associada aos baixos
recursos da aposentadoria na velhice para muitos desprivilegiados.
Observada a tendência de crescimento da oferta de
trabalhadores idosos apontada pelo IPEA, associada à possibilidade
de cada vez mais ampliação da idade mínima para a aposentadoria
e de mudanças no sistema previdenciário, é imperioso planejar
cuidadosamente políticas específicas para esse segmento de
potenciais trabalhadores, com a necessidade de um novo
35
paradigma de gestão social. Contudo, o sucesso no desenho dessas
políticas depende, em grande medida, de se fazer valer o Estatuto
do Idoso, bem como as demais leis que vigoram em favor deste, e
do conhecimento prévio das especificidades da atividade do idoso o
que, neste caso, se configura uma lacuna timidamente preenchida
e para a qual é atribuída pouca visibilidade.
Vale ressaltar, inclusive, que vários segmentos do setor
empresarial ainda desconhecem o efetivo significado do processo
de envelhecimento populacional e as mais diversas oportunidades
de desenvolvimento que daí decorrem, fazendo com que ainda
seja bastante tímida a oferta de bens e serviços direcionados para
o grupo populacional com 60 anos ou mais de idade. Por outro
lado, importa também considerar as oportunidades de trabalho
para esta população, principalmente no setor de serviços, o
qual apresenta capacidade de absorção deste contingente
populacional no mercado de trabalho brasileiro.
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