Do Surgimento do Novo Sindicalismo aos desafios da era da Reestruturação Produtiva O final da década de 70 marca o surgimento do novo sindicalismo, que irá influenciar de forma definitiva todo o sindicalismo brasileiro nos próximos 20 anos. A marca incontestável dessa nova era são as greves do ABC paulista acontecidas nos anos de 78 a 80. O crescimento da indústria no centro sul do país possibilitou o surgimento de uma classe operária numerosa e qualificada, que se concentrou naquilo que ficou conhecido como a grande São Paulo. No interior dessa classe emergente a Pastoral Operária e as Comunidades Eclesiais de Base, organismos da Igreja Católica, conseguiram terreno fértil para construir uma nova concepção sindical fundamentada nas organizações pôr local de trabalho, numa estrutura horizontal, alternativa a estrutural vertical existente no sindicalismo pelego e oficial. Essa nova concepção sindical, que ficou conhecida como novo sindicalismo, propiciou o surgimento de uma vanguarda sindical combativa e independente dos pelegos e partidos comunistas tradicionais, que liderou as greves no ABC paulista e outras manifestações de massa, como a comemoração do 1° de maio de 1980, que reuniu mais de 100 mil trabalhadores em São Paulo. A propagação dessa nova concepção sindical tomou o Brasil, com a criação de oposições sindicais pôr todos os Estados, realização de Encontros das Classes Trabalhadores Estaduais (ENCLATs) e da 1a CONCLAT (Conferência Nacional das Classes Trabalhadores) em 1981. É preciso registrar que os sindicalistas ligados ao PcdoB, PCB, MR 8 e os chamados pelegos participaram desses fóruns, tentando manter o controle dos mesmos. Contando com a contribuição das organizações de esquerda que lutaram contra a Ditadura Militar na Clandestinidade e com o surgimento do PT, a linha sindical surgida no ABC paulista toma corpo e lança em 82 as bases para criação de uma central sindical de massas, classista, representativa dos trabalhadores, organizada na base, que defenderia um sindicalismo autônomo e independente, que tivesse um projeto estratégico socialista, apontado dessa forma para o rompimento com o sindicalismo oficial. Embalados pôr essas bandeiras e pela luta contra a ditadura militar e sua política econômica inflacionária, os sindicalistas ligados a essa concepção racham com a CONCLAT em 83, convocando o Congresso de fundação da Central Única dos Trabalhadores, que aconteceu em agosto do mesmo ano, na Cidade de São Bernardo do Campo, nos antigos estúdios da companhia de Cinema Vera Cruz. Já em 84 a CUT lidera os trabalhadores na campanha pelas Diretas Já e articula diversas campanhas salariais de categorias importantes, como bancários, petroleiros e metalúrgicos, que começam a dearticular suas entidades sindicais. Seguindo essa corrente de mobilização diversas categorias iniciam seu processo de organização, como pôr exemplo os professores e servidores públicos federais que lançam as bases de entidades nacionais que surgiram nos anos seguintes. Por outro lado os sindicalistas ligados ao PCB , PcdoB, MR 8 e pelegos criam a CGT em 1985, na tentativa de se contrapor ao crescimento da CUT. Porém, essa entidade teve uma vida curta enquanto Central Nacional, devido sua falta de inserção nas principais categorias e na aproximação do PcdoB e do PCB à CUT no final da década de 80. As divergências de concepções sindicais entre a CUT e a CGT estavam centradas nas questões relativas ao sindicalismo corporativista, a manutenção da estrutura vertical oficial dos sindicatos, federações e confederações e a unidade sindical imposta legalmente defendidas pela CGT. Já a CUT defendia as organizações pôr local de trabalho, como as comissões de fábricas, a organização horizontal das CUTs estaduais e nacional, a organização pôr ramos de serviços e produção (departamentos e federações), a unicidade sindical e a mobilização e a luta como instrumentos principais da prática do sindicalismo. O final da ditadura militar em 85, as eleições diretas para Prefeitos na Capitais no mesmo ano e o processo do Congresso Constituinte fortaleceram a CUT, colocando essa entidade como a legítima representante dos trabalhadores brasileiros. A partir de 87 entram em cena outras categorias, como os servidores públicos federais e os químicos, no campo da CUT, fortalecendo essa tendência hegemônica desse sindicalismo combativo. Porém, essa linha ascendente do novo sindicalismo começa a ser solapada na sua base no final da década de 80 e início dos anos 90. Fatores internacionais, como a queda do Muro de Berlim e o crescimento da idéias neoliberais nos Estados Unidos e Inglaterra, e a derrota de Lula nas primeiras eleições diretas para Presidente do Brasil para Collor de Mello, abalam todos os movimentos sociais independentes e classistas no país, inclusive a CUT. Mal os trabalhadores experimentam este novo sindicalismo, profundas transformações começam a se operar no mundo do trabalho.A queda do Muro de Berlim, acompanhada pela derrocada dos países do Bloco Soviético, foi entendida pôr alguns como o fim do Socialismo. A hegemonia do capital internacional provoca a crise das utopias para a esquerda mundial, especialmente para a brasileira. Porém, o grande golpe vem com a vitória de Fernando Henrique em 94, quando todo o receituário neoliberal é aplicado contra os trabalhadores e suas entidades nos anos seguintes. Nesse novo período que se abre à luta pôr eternas reposições salariais é abafada com o Plano Real, com a estabilidade monetária, tirando dos sindicalistas uma das suas principais bandeiras. Na esteira Neoliberal vem as terceirizações e privatizações, a reestruturação do setor público, a reengenharia do setor privado, com o aumento de produção com a redução de custos, fundamentada na robótica e em novas concepções produtivas que substituíram o Fordismo. Em meio a essa nova ordem econômica neoliberal, a desregulamentação do trabalho e o desemprego são conseqüências diretas sentidas pelos trabalhadores, que passam a procurar meios para manter seus empregos, abandonando as trincheiras de luta por melhores condições de trabalho e melhores salários. A nova ordem produtiva, baseada na informação, na robótica e na transmissão de dados via as redes de informática, que apregoa a colocação do trabalho em plano inferior, é outro elemento que promove uma nova realidade negativa no movimento sindical combativo, que é sentido de forma clara na greve dos petroleiros em 95 e em outras mobilizações que foram derrotadas no início governo FHC. Habituado as lutas reivindicatórias e ecomicista de cunho imediato, o sindicalismo cutista não conseguiu apresentar repostas para essa nova realidade, abrindo assim um ciclo de refluxo do movimento sindical combativo, até 98, quando metalúrgicos e servidores públicos federais, empreenderam algumas lutas nacionais importantes. Em meio à crise, a cresce uma Central chamada Força Sindical, criada em 1991, que tem como principal fundamento, o sindicalismo de resultado. “Esta nova realidade arrefeceu e acuou o novo sindicalismo no Brasil, que se encontrava, de um lado, frente à emergência do sindicalismo neoliberal, expressão da nova direita, sintonizada com a onda mundial conservadora, de que a Força Sindical é o melhor exemplo e, de outro, frente às próprias lacunas teóricas, políticas e ideológicas no interior da CUT, que lhe dificultavam enormemente o avanço qualitativo, capaz de transitar de um período de resistência, como nos anos iniciais do novo sindicalismo, para um momento superior, de elaboração de propostas econômicas alternativas, contrárias ao padrão de desenvolvimento capitalista aqui existente, que pudessem contemplar prioritariamente o conjunto que compreende nossa classe trabalhadora”.(Ricardo Antunes) Inspirada no modelo europeu que desenvolveu um processo de fusão de ramos e categorias econômicas afins em grandes entidades sindicais, a CUT propõe a constituição de poderosas organizações por local de trabalho e implantação dos sindicatos por ramos de atividade como forma de combate à ofensiva neoliberal. A CUT avalia que a organização por categoria profissional não responde mais aos desafios colocados pela nova configuração do mundo do trabalho. Entretanto, diante da reestruturação produtiva, do desemprego estrutural e do crescimento da terceirização os sindicatos são forçados a assumir uma ação cada vez mais defensiva e imediatista, lutando para manter o mais elementar dos direitos – o direito ao trabalho, ao emprego. Instala-se assim uma tendência neocorporativa que impede a união das categorias profissionais e dificulta o desenvolvimento de uma consciência de classe dos trabalhadores e a construção de um modelo plural que aglutine os trabalhadores estáveis e terceirizados por ramo de atividade. Ricardo Antunes aponta uma tendência crescente de burocratização e institucionalização das entidades sindicais, que se distanciam cada vez mais de ações anticapitalistas e conseqüentemente perdem a radicalidade social. Por outro lado o super desenvolvimento das tecnologias da informática, da robótica e conseqüente automação da produção, aliado ao crescimento acelerado do setor de serviços têm desnorteado as lideranças sindicais e minado toda e qualquer convicção que se podia ter sobre o confronto dos trabalhadores e os detentores dos meios de produção. As novas configurações do mundo do trabalho impõem a necessidade da construção de um sindicalismo de base, horizontal e local, onde as decisões sejam tomadas por quem vivencia os problemas, pois o modelo verticalizado, onde a cúpula do movimento planeja e decide, mostrou-se ineficaz e ultrapassado. O desafio colocado para o sindicalismo é sua capacidade de participar e auxiliar na elaboração de um modelo econômico alternativo, que não seja regido por uma lógica excludente, voltando a ser um instrumento eficaz de lutas e conquistas da classe trabalhadora. Autora: Assistente Social Ana Tojal/ Alagoas Ex Diretora da FENAS –Mandatos 2000 / 2006