MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ANA CAROLINA RESENDE DE MELO BUSTAMANTE
GESTÃO DO CONHECIMENTO: ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS
TÁCITO E EXPLÍCITO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA
ENTRE 2000 A 2010
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CURITIBA
2011
ANA CAROLINA RESENDE DE MELO BUSTAMANTE
GESTÃO DO CONHECIMENTO: ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS
TÁCITO E EXPLÍCITO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA
ENTRE 2000 A 2010
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do grau de Mestre, do Programa de
Mestrado Acadêmico em Organizações e
Desenvolvimento, FAE Centro Universitário.
Orientador: Prof. Dr. José Henrique de Faria
CURITIBA
2011
Dedico este trabalho à minha amada
e maravilhosa filha Letícia, luz da minha
vida e ao meu amado esposo Hélio que
sempre apoiou minhas decisões.
Agradecimentos
Agradeço a todos o que conviveram comigo nesses últimos anos, porque de alguma
forma colaboraram para a realização deste trabalho, especialmente:
Ao meu maravilhoso esposo pela compreensão, amor, carinho e apoio. Obrigada por
me fazer feliz. Te amo demais paixãozinha!
À minha mãe pelo amor e incentivo.
Ao meu irmão Léo “Fiote” pelo carinho, apoio e palavras de motivação.
Aos meus familiares pelo afeto e torcida, em especial à gentil Tia Maria.
Ao meu orientador, Prof. Faria, pela sua compreensão, ensinamentos, competência,
profissionalismo e por me mostrar o caminho em diversas situações.
À minha querida amiga Gislaine pelo carinho e palavras de consolo e incentivo.
Aos professores do mestrado da FAE, pelos ensinamentos e convívio.
À Mariana e Mônica pela cordialidade e colaboração.
Às funcionárias da biblioteca pelo sempre pronto auxílio.
Aos colegas de turma pela boa convivência.
E principalmente a Deus por guiar e iluminar a minha vida.
“Somente a força do conhecimento pode permitir
ao homem realizar até as mais altas aspirações,
porque é ela o maior estímulo a que pode ele aspirar.
quanto mais conhecimento possua, mais força terá,
e mais famosos serão os frutos de sua realização.”
(Carlos Bernardo González Pecotche)
RESUMO
BUSTAMANTE, Ana Carolina Resende de Melo. Gestão do conhecimento: estudo sobre
os conhecimentos tácito e explícito na produção acadêmica brasileira entre 2000 a 2010.
75p. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) - FAE Centro
Universitário. Curitiba, 2011.
De acordo com os discursos na área da gestão do conhecimento, as organizações vêm
passando por diversas mudanças, enfrentando uma grande gama de desafios e para
sobreviverem precisam saber aproveitar melhor o conhecimento acumulado que possuem
seus empregados. Contudo a própria concepção de conhecimento não é problematizada, do
que resultam apropriações conceituais do tipo “efeito apud”. Neste sentido a presente
pesquisa tem como objetivo investigar como a gestão do conhecimento é concebida nos
estudos acadêmicos no Brasil, no que se refere ao conhecimento tácito e explícito. Para
essa pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica, utilizando-se de diversos autores que
discorrem sobre o tema, principalmente as obras de Michael Polanyi que tratam dos
conhecimentos tácito e explícito, os quais vêm sendo utilizados nos estudos em
organizações. Esta pesquisa possui um caráter qualitativo. A coleta de dados realizou-se
por meio de um levantamento sobre as produções acadêmicas publicadas nas principais
revistas (RAC, RAE e RAP) e congressos na área de administração (ANPAD) no período de
2000 a 2010, que abordaram o tema Gestão do Conhecimento. O objetivo deste
levantamento foi o de identificar e avaliar as expressões conceituais sobre o tema.
Palavras-chave: gestão do conhecimento; conhecimento tácito; conhecimento explícito;
organizações.
ABSTRACT
BUSTAMANTE, Ana Carolina Resende de Melo. Knowledge management: a study of the
tacit and explicit knowledge in the Brazilian academic production between 2000 to 2010. 75p.
Thesis (Master in Development Organizations) – FAE Centro Universitário. Curitiba, 2011.
According to the speeches in the area of knowledge management, organizations have
experienced several changes, facing a wide range of challenges and to know to make better
use of accumulated knowledge that their employees possess. But the concept of knowledge
is not problematic, resulting conceptual appropriations like "apud effect." In this sense, this
research aims to investigate how knowledge management is conceived in academic studies
in Brazil, with regard to the tacit and explicit knowledge. For this research was a literature
review, using the various authors that discuss the topic, especially the works of Michael
Polanyi dealing with the tacit and explicit knowledge, which have been used in organizations
studies. This research has a qualitative character. Data collection took place by means of a
survey on academic production published in major magazines (RAC, RAE and RAP) in the
congress and administration area (ANPAD) in the period 2000 to 2010, that focused on
Knowledge Management. The aim of this survey was to identify and evaluate the
expressions on the conceptual theme.
Keywords: knowledge management, tacit knowledge, explicit knowledge; organizations.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 - DADOS, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO ............................................................. 32
QUADRO 02 - ETAPA DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO ................................................................... 47
QUADRO 03 - ETAPA DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO .............................................................. 48
QUADRO 04 - REVISÃO DOS CONCEITOS DE GC PRESENTES NA LITERATURA ...................... 50
QUADRO 05 - QUANTIDADE DE ARTIGOS PUBLICADOS NOS EVENTOS E REVISTAS
DA ANPAD .................................................................................................................. 52
QUADRO 06 - AUTORES MAIS UTILIZADOS COMO REFERÊNCIAS NOS ARTIGOS .................... 53
QUADRO 07 - UTILIZAÇÃO DE AUTORES EM OBRAS .................................................................... 54
QUADRO 08 - AUTORES E ABORDAGENS DOS TEMAS ................................................................. 55
QUADRO 09 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE GC ......................................... 56
QUADRO 10 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE CONHECIMENTO ................. 57
QUADRO 11 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE CRIAÇÃO
DO CONHECIMENTO ................................................................................................. 57
QUADRO 12 - ANÁLISE DO CONHECIMENTO TÁCITO NA GC ....................................................... 58
QUADRO 13 - ANÁLISE DO CONHECIMENTO EXPLÍCITO NA GC .................................................. 58
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - ESPIRAL DO CONHECIMENTO .................................................................................... 39
FIGURA 02 - CONTEÚDO DO CONHECIMENTO CRIADO PELOS QUATRO MODOS ................... 40
FIGURA 03 - ESPIRAL DE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL ........................... 41
FIGURA 04 - PROPOSTA DE MAPEAMENTO CONCEITUAL INTEGRATIVA DA GC ...................... 49
LISTA DE SIGLAS
ANPAD
-
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
ENANPAD
-
Encontro da Associação dos Programas de PósGraduação Em Administração
CRM
-
Customer Relationship Management
ENADI
-
Encontro da Administração de Informação
ENGPR
-
Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de
Trabalho
GC
-
Gestão do Conhecimento
RAC
-
Revista de Administração Contemporânea
RAE
-
Revista de Administração Executiva
RAP
-
Revista de Administração Pública
TI
-
Tecnologia da Informação
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 14
2
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS ............................................................... 22
2.1
POLANYI E A TEORIA DO CONHECIMENTO .................................................................. 22
2.1.1
Conhecimento Tácito ........................................................................................................ 22
2.1.2
O Ato do Conhecer ............................................................................................................ 24
2.1.3
O Conhecimento Tácito no Processo de Articulação ................................................... 27
2.2
O CONHECIMENTO NOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS ............................................. 28
2.2.1
Conceito e Caracterização ............................................................................................... 28
2.2.2
Criação e Conversão do Conhecimento ......................................................................... 36
2.2.3
Condições Capacitadoras da Criação do Conhecimento ............................................. 41
2.3
A TEORIA DA GESTÃO DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES .......................... 44
2.3.1
Mudanças e Gestão do Conhecimento ........................................................................... 44
2.3.2
Conceitos de Gestão do Conhecimento ......................................................................... 47
3
A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM GESTÃO DO CONHECIMENTO NO BRASIL:
2000 a 2010 ......................................................................................................................... 52
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 62
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 65
APÊNDICE 01 ....................................................................................................................................... 70
14
1
INTRODUÇÃO
Três significativas transformações aconteceram na história da Administração.
No período de 1900 a 1950, viveu-se a chamada Era Industrial Clássica, na qual o
trabalho era considerado mecanicista, ou seja, não exigia um grande conhecimento
para a realização das atividades, as tarefas eram rotineiras e automáticas,
previsíveis, o funcionário era visto como mera mão-de-obra e existia pouca
mudança. Na era seguinte, a Industrial Neoclássica do período de 1950 a 1990,
considerou-se o trabalhador como um homem social, que necessitava de convívio
para realizar suas atividades. Neste período a previsibilidade se torna reduzida, pois
as mudanças começam a aflorar, verifica-se a necessidade de inovação, o
conhecimento começa a ser um assunto abordado nas organizações. A última era,
após 1990, conhecida como Era da Informação, é marcada pela globalização, pela
tecnologia da informação. As mudanças acontecem em um período de tempo nunca
antes presenciado, as pessoas passam a ser consideradas colaboradores,
detentores de conhecimento (ALVARENGA NETO, 2005).
A Era da Informação deu origem aos novos conhecimentos e à assim
chamada sociedade do conhecimento, que enfatiza a economia baseada na
capacidade de agregar conhecimento aos produtos e serviços e não mais na riqueza
ou na propriedade (STEWART, 2002). Esta concepção não é pacífica: Faria (2004),
por exemplo, considera que se trata de uma formação social que possa a se
apropriar mais intensivamente do saber dos trabalhadores e de sua subjetividade.
É a partir da década de 1990 que a Gestão do Conhecimento (GC), ganhou e
ainda vem ganhando espaço crescente tanto no meio acadêmico como nas
organizações. Uma das razões disso está ligada ao conjunto de desafios que a
gestão empresarial vem enfrentando. Observa-se a necessidade por parte das
organizações de encontrar ferramentas que as auxiliem na difícil tarefa de
sobreviverem a este ambiente mutável e dinâmico (TERRA, 1999).
De acordo com Silva (2002), o impacto causado pela acentuada evolução da
tecnologia da informação na sociedade, e as modificações resultantes de um modelo
econômico que aposta em uma competitividade intensa, tem causado mudanças na
15
forma com que as organizações devem estruturar e trabalhar o conhecimento para
desenvolver novos produtos, novos processos e novas formas organizacionais.
Conforme Ulrich (2000), diversos fatores tais como a globalização e o
desenvolvimento tecnológico, a exigibilidade da aceitação da inevitável mudança no
ambiente, levaram as organizações a questionarem seus valores e estratégias,
exigindo novas capacidades. Este processo levou a uma revisão desses valores,
modelos e comportamentos praticados nas organizações.
Desse modo, buscando vantagens competitivas, surgiram nas décadas de
1980 e 1990, novas abordagens conceituais que objetivaram entender qual o
posicionamento que as organizações deveriam adotar em relação aos desafios
desse novo ambiente mutável e competitivo. Essas abordagens baseadas em
recursos apresentaram a valorização dos ativos intangíveis como diferencial de
competitividade, conforme exposto por Vasconcelos e Cyrino (2000).
Essa abordagem vai de encontro ao pensamento de Prahalad e Hamel (2000)
que defendem que as organizações conseguirão ter sucesso nesse ambiente
competitivo e dinâmico, se focarem no desenvolvimento das competências, no
aprendizado coletivo da organização.
Conforme Fleury (2001), as competências essenciais da empresa são
compostas por conjunto de conhecimento e todo conhecimento é fruto de um
processo
de
aprendizagem.
Nonaka
e
Takeuchi
(1997) corroboram
este
pensamento, quando mencionam que se vive em uma época em que a única certeza
é a incerteza, que única fonte de vantagem competitiva é o conhecimento e que
novos conhecimentos têm que ser criados continuadamente para que a empresa
consiga sobreviver nesse ambiente mutável e competitivo.
Os países, as empresas e as pessoas que detêm maior grau de
conhecimento são mais bem sucedidos, produtivos e reconhecidos. Diante
de tal realidade, o papel estratégico do conhecimento difunde-se cada vez
mais (FLEURY, 2001, p.95).
Entretanto, o conhecimento não pode ser tratado como simples abstração
teórica. Afinal, de qual conhecimento se fala? Tomando por base Polanyi
(1962;1983), o conhecimento se apresenta em duas dimensões: explícito e tácito. O
conhecimento explícito pode ser expresso em números, palavras, é codificado e é
transmissível formalmente. Pode ser encontrado em procedimentos, documentos,
16
entre outros. O conhecimento tácito é altamente pessoal, refere-se a insights, às
experiências, crenças e valores do ser humano, e sendo de difícil transmissão.
Nesse contexto cresce a importância da questão da GC, as organizações
estão procurando descobrir como alcançar melhores resultados por meio da GC.
Para Fleury (2001), a empresa precisa descobrir como o conhecimento pode
ser disseminado e aplicado por todos os membros da organização como uma
ferramenta para o sucesso da empresa. Ainda para a autora, a GC está relacionada
a processos de aprendizagem e á conjugação dos processos de aquisição e
desenvolvimento de conhecimento.
Garvin (2000), afirma que a organização que aprende é a que dispõe de
habilidades para criar, adquirir e transferir conhecimentos, e que é capaz de
modificar seu comportamento de modo a refletir novas idéias e conhecimento. Para
Garvin (2000), o conhecimento deve disseminar-se com rapidez e eficiência por toda
a organização, pois as idéias causam maior impacto quando são compartilhadas
amplamente e quando não são mantidas em poucas mentes.
Para Stewart (2002), as empresas têm gastos excessivos em programas de
GC, porém falham em descobrir qual é o conhecimento de que realmente
necessitam e como administrá-lo.
Entendendo que o conhecimento tem pelo menos duas dimensões, conforme
Polanyi (1962;1983), ou seja, que não é uma abstração teórica universal (o
conhecimento em si mesmo), mas um fenômeno concreto (conhecimento para si),
evidencia-se um problema na área de estudos organizacionais: como os
pesquisadores que estudam a GC praticada nas organizações tratam as dimensões
tácitas e explícitas do conhecimento?
Muitos autores que discorrem sobre a GC nas organizações consideram em
maior proporção a dimensão explícita do mesmo, sem atentar muitas vezes para a
dimensão tácita e o seu valor para a organização.
Verifica-se que o conhecimento é em grande parte tácito, isto é, o
conhecimento pessoal, aquele que se encontra na mente dos indivíduos, que está
enraizado na suas experiências, bem como nas suas emoções, valores e ideais
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Assim, a organização que souber administrá-lo terá
um diferencial significativo frente ao mercado em que atua. A gestão desse
17
conhecimento pode ser considerada como uma ferramenta de competitividade para
as organizações.
Buscando responder à questão formulada, este estudo tem como objetivo
pesquisar como a GC é concebida nos estudos acadêmicos no Brasil, no que se
refere aos conhecimentos tácito e explícito.
A hipótese que orienta este trabalho é a de que as pesquisas sobre a GC no
âmbito dos estudos organizacionais estão voltadas predominantemente para o
conhecimento explícito.
A metodologia, como se sabe, contribui para a compreensão de todo o
processo de elaboração pesquisas, permitindo entender melhor quais as
abordagens e técnicas utilizadas para a realização de um estudo. A metodologia
define a maneira como a pesquisa será organizada. “É a etapa da adequação
metodológica conforme as características da pesquisa realizada” (FACHIN, 2005,
p.115). Esta etapa fornece informações importantes acerca das ferramentas
utilizadas para a coleta e análise dos dados observados.
O presente estudo é uma pesquisa qualitativa. Segundo Fachin (2005, p.81),
a variável qualitativa é caracterizada pelos seus atributos e relaciona aspectos não
somente mensuráveis, mas também definidos descritivamente. Neste sentido, todos
os dados observados na primeira etapa da pesquisa estão diretamente relacionados
com os aspectos qualitativos, porque não existem dados numéricos a serem
correlacionados, analisados e compreendidos. As informações numéricas tratam
apenas de quantidades absolutas ou relativas que não permitem inferências
estatísticas.
Para Triviños (1987), há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito.
A interpretação dos fenômenos e a atribuição dos significados são básicas na
pesquisa qualitativa e o pesquisador é o instrumento fundamental na coleta de
dados.
Para Malhotra (2002), a pesquisa qualitativa objetiva alcançar uma
compreensão qualitativa das razões e motivações subjacentes, utilizando diferentes
formas de coleta de dados.
18
Pesquisa qualitativa é um conceito “guarda-chuva”, que abrange várias
formas de pesquisa e nos ajuda a compreender e explicar o fenômeno
social com o menor afastamento possível do ambiente natural... todos os
tipos de pesquisa qualitativa se baseiam na visão de que a realidade é
construída pela interação de indivíduos com o seu mundo social.
(MERRIAN, 2002 apud GODOI; BANDEIRA-DE-MELLO; SILVA, 2006,
p.91)
Macias-Chapula (1998) citado por Leis e Zimmer (2007), afirmam que a
análise da produção científica constitui-se num levantamento qualitativo da produção
acadêmica em determinado período, de acordo com critérios estabelecidos pelos
autores.
Segundo Richardson (2010), a pesquisa social tem a finalidade de aquisição
do conhecimento e como ferramenta para tanto, a pesquisa pode ter como objetivos:
resolver problemas específicos, gerar teorias ou avaliar as teorias existentes. Estes
objetivos podem se complementar.
O presente estudo possui natureza analítica, pois de acordo com Collis e
Hussey (2005), o objetivo desse tipo de pesquisa é o de entender fenômenos,
descobrindo e mensurando relações causais entre eles. A pesquisa analítica é
considerada uma continuação da pesquisa descritiva, sendo que o pesquisador vai
além da descrição das características, analisando e explicando como os fatos estão
acontecendo.
De acordo com Stefanello (2007), Thomas e Nelson (1996), a pesquisa
analítica envolve o estudo e a avaliação aprofundados de informações disponíveis
na tentativa de explicar o contexto do fenômeno. Esse tipo de pesquisa pode ser
categorizado em:
a) Histórica: investiga eventos que já tenham ocorrido, utilizando métodos
descritivos e analíticos, utilizando também o método histórico-descritivo
para mapear a experiência passada, localizar no tempo e no espaço,
eventos e tendências a fim de providenciar respostas para questões
particulares.
b) Filosófica:
caracteriza-se
pela
investigação
crítica
na
qual
o
investigador estabelece hipóteses, examina e analisa fatos existentes e
sintetiza as evidências dentro de um modelo teórico estabelecido.
19
c) Revisão: avalia criticamente a produção recente em um tópico
particular. O investigador deve estar informado sobre a literatura
considerada, dominar os tópicos e procedimentos de pesquisa. Esse
tipo de pesquisa envolve análise, avaliação e integração da literatura
publicada, conduzindo a conclusões importantes a respeito dos
resultados de pesquisas realizadas.
d) Síntese (meta-análise): tipo de revisão de literatura que contém uma
metodologia e quantificação definida dos resultados de vários estudos
para estabelecer um padrão métrico, utilizando técnicas estatísticas
para realização da análise.
A categoria “Revisão” é aquela adotada aqui. Assim, como fonte de dados
utilizou-se artigos publicados nas principais revistas e congressos da área de
Administração no período de 2000 a 2010, bem como foram realizadas buscas no
site da ANPAD - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação, do qual
foram extraídos artigos publicados nos seguintes encontros: Encontro da Associação
dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD), e Encontro da
Administração de Informação (ENADI).
ANPAD é a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Administração e áreas afins. O encontro anual da ANPAD, ENANPAD,
congrega docentes, pesquisadores, alunos e outros profissionais de
administração e áreas correlatas. [...] Trata-se de um fórum nacional por
excelência para apresentação e debate de trabalhos acadêmicos de
diferentes áreas temáticas e de questões contemporâneas da
administração. Estas publicações possuem reconhecimento não apenas no
Brasil, mas na América Latina (ANTONELLO, 2002, p.7)
Os artigos consultados foram publicados nas principais revistas da área de
Administração, Revista de Administração Executiva (RAE), Revista de Administração
Contemporânea (RAC) e Revista de Administração Pública (RAP). A escolha dessas
revistas se deu, devido à sua representatividade no meio acadêmico e sua
classificação Qualis, sendo este um conjunto de procedimentos utilizados pela
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para
avaliar a qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Esses
periódicos
são
considerados de
grande
relevância,
são
norteadores
comunidades científica e acadêmica na área de Administração e Gestão.
A coleta de dados foi estruturada em fases:
das
20
- Fase 1: consulta ao site da ANPAD pelas palavras-chave “gestão do
conhecimento”, “gestão de conhecimento”, “conhecimento”, “conhecimento
explícito” e “conhecimento tácito”, primeiramente foi feita essa pesquisa na
seção de eventos (Enanpad, Enadi, etc.) e a posteriori na seção de
publicações (RAE, RAC e RAP);
- Fase 2: encontrados os artigos que somaram um total de 91 (noventa e
um) , fez-se uma leitura dos resumos e palavras-chave, buscando
identificar os temas do estudo;
- Fase 3: selecionados os artigos (sessenta e oito), passou-se a leitura
integral de todos para a realização de uma investigação, descrição e
análise de como os temas são abordados pelos diversos autores;
- Fase 4: após a leitura dos artigos apresentou-se os parâmetros para o
desenvolvimento da análise dos resultados.
- Os parâmetros utilizados para o desenvolvimento da análise dos
resultados foram:
a) Número de artigos publicados sobre os temas, classificados por ano
e por periódico;
b) Apresentação dos autores mais utilizados nas referências dos
artigos e em quantos artigos os mesmos são citados;
c) Análise dos temas gestão do conhecimento e conhecimento,
abordando o seu tratamento (conceitual, tipologia, etc.).
Essa dissertação encontra-se organizada em quatro partes. A primeira parte
refere-se a esta introdução, a qual descreve o problema, objetivo, hipótese e
metodologia utilizada para sua elaboração. A segunda refere-se ao capítulo sobre a
fundamentação teórica, que apresenta a concepção de Michael Polanyi sobre os
conhecimentos tácito e explícito. A explanação sobre este autor é de extrema
importância, devido à relevância de suas obras, que serviram de alicerce teórico
para a construção das obras de alguns autores que são citados no corpo deste
estudo. Este capítulo também discorre sobre o conhecimento, sua conceituação,
tipologia, processo de criação e o processo de GC nas organizações. A terceira
21
parte expõe as principais análises da pesquisa realizada nas produções acadêmicas
brasileiras. E a quarta e última parte é dedicada às considerações finais.
22
2
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS
Este capítulo apresenta a base teórica utilizada para elaboração deste estudo,
sendo dividido em três partes: na primeira será tratado o estudo de Michael Polanyi
sobre os conhecimentos tácito e explícito. Suas obras serviram de embasamento
teórico para diversos autores elaborarem suas abordagens sobre conhecimento e a
GC. A segunda parte apresenta o conhecimento, seu conceito, caracterização e as
teorias que convergem em sua criação e conversão. E a terceira e última parte
discorre sobre a teoria da GC, apresentando conceitos e abordagens de diversos
autores.
2.1
POLANYI E A TEORIA DO CONHECIMENTO
Esse tópico trata da teoria de Polanyi sobre os conhecimentos explícito e
tácito, focando principalmente o último, apresentando alguns aspectos que estão
relacionados com a aquisição e o uso do conhecimento. Para a sua elaboração
utilizou-se duas obras do autor: Personal Knowledge e The Tacit Dimension.
Ressalta-se que vários autores que serão citados nessa dissertação, tiveram
Michael Polanyi como alicerce para a construção de seus estudos. Suas obras
serviram de embasamento teórico, principalmente no que tange à explanação sobre
as dimensões do conhecimento por ele denominadas: tácita e explícita.
2.1.1 Conhecimento Tácito
Em sua obra The Tacit Dimension, Michael Polanyi afirma que não é possível
tratar o conhecimento humano sem partir do principio de que “sabemos mais do que
podemos dizer” (POLANYI, 1983, p.4). Esse princípio apresenta um dos pilares da
concepção do conhecimento, a do conhecimento tácito, que trata do reconhecimento
da existência de um conhecimento que não pode ser descrito em regras, palavras ou
ser totalmente exposto. E para esclarecer isso, o autor exemplifica com o fato da
nossa capacidade de conseguirmos distinguir o rosto de uma pessoa conhecida
entre tantas outras, mas não sermos capazes de explicitar os particulares que
compõem o todo. Aqui se encontram, os métodos usados pela polícia para fazer
23
retratos falados, utilizando uma vasta coleção de fotos de partes específicas do
rosto, como narizes, bocas e outros detalhes.
Em suas obras Polanyi (1962; 1983) cita dois tipos de conhecimentos. O
primeiro é o conhecimento explícito, que o autor considera como conhecimento
codificado, que é aquele que pode ser transmitido em linguagem formal, ligado às
rotinas e procedimentos. E o conhecimento tácito que é pessoal, constituído de
insights, conclusões que torna difícil sua expressão ou formalização por meio de
métodos sistemáticos.
Para o autor, a linguagem sozinha é insuficiente para tornar um conhecimento
explícito, resultando assim que todo conhecimento ou é tácito ou é construído por
meio de conhecimentos tácitos.
Frade (2003, p.12) menciona que ao analisar os exemplos apresentados por
Polanyi para ilustrar o conhecimento tácito, constata-se que este tipo de
conhecimento está vinculado a uma prática, na qual quando se realiza uma tarefa
que envolva tantos atos físicos quanto mentais (andar de bicicleta, ler ou escrever,
entre outros), é acionado um processo interno de funcionamento de nossas ações
cujo propósito é o de nos auxiliar na concretização dessa tarefa. E esse processo
quando acionado, mobiliza um conjunto específico de conhecimentos que
possuímos que funcionarão como instrumentos para que seja realizada a tarefa,
bem como o monitoramento dessa realização. Frade (2003), citando Fischbein,
(1989) e Stenberg (1995), mostra que cada um desses conhecimentos que são
mobilizados para tal finalidade, significa um conhecimento tácito.
E ainda complementa que para Polanyi tais conhecimentos são tácitos na
medida em que são usados de maneira instrumental e não explicitamente como
objetos. Desta forma, enquanto estão sendo mobilizados não são percebidos em si
mesmos, mas sim, em termos daquilo que eles contribuem para a realização da
tarefa. Portanto, analisar o que é tácito, vai depender do contexto. Mas por outro
lado, esse processo interno de funcionamento das nossas ações também é tácito,
no sentido de que se trata de uma habilidade pessoal, a qual não pode ser
disponibilizada para outras pessoas, pois não sabemos explicar claramente como
ocorre.
24
Além dos exemplos citados, em The Tacit Dimension, Polanyi (1983) indica
que alguns estudos em laboratório mostram a capacidade de reação intuitiva a
estímulos externos não compreendidos pela mente consciente. O autor cita os
exemplos de testes psicológicos envolvendo "shock syllables" e "shock words".
Nestes testes, verificou-se que as pessoas eram capazes de antecipar choques
elétricos ao verem palavras e sílabas que, de fato, como parte da lógica do
experimento, estavam associadas a choques, mesmo sem serem capazes,
posteriormente, de explicitar a lógica do experimento. Verificou-se, também, em
laboratório, através de câmaras escondidas de alta resolução, que muitos dos
movimentos dos músculos, ditos "involuntários", poderiam ser, na verdade,
estimulados externamente, mesmo sem a consciência humana.
Para Polanyi (1983), o conhecimento tácito envolve duas coisas que se
relacionam: um conhecimento específico, que recebe a nomenclatura de distal, que
ele exemplifica em como "tocar piano", utilizar uma ferramenta, etc., e um outro do
qual só se tem consciência à medida que ele serve ao anterior, que ele chama de
proximal.
Ainda para Polanyi (1983), a palavra conhecer significa uma combinação dos
conhecimentos prático e teórico. Polanyi ilustra essa citação com o exemplo de um
médico, sendo que sua habilidade consiste em combinar a arte de fazer com a arte
de conhecer. O conhecimento prático advém das experiências e do uso mesmo do
conhecimento acumulado, o que remete à identificação do conhecimento prático
como conhecimento tácito, pelo fato de ser complicado descrever como são
adquiridos os conhecimentos por meios de experiências.
2.1.2 O Ato do Conhecer
Na epistemologia tradicional, os seres humanos, considerados como sujeitos
da percepção adquirem conhecimento mediante a análise de objetos externos.
Porém, Polanyi (1983), alega que os seres humanos criam conhecimento a partir de
objetos, contudo o fazem por meio de envolvimento e compromisso pessoal. Grande
parte do conhecimento é fruto do esforço voluntário dos seres humanos de lidar com
o mundo. O ato de conhecer envolve um comprometimento pessoal, que se refere a
um comprometimento intelectual, formulando assim o conceito de objetividade. A
25
objetividade trata de uma busca por explicações, por resultados devidos a uma
superação de incapacidades através de um caminho para a realidade, para uma
perseguição do conhecimento que vai além do que se percebe, do que se
compreende. Isso significa que o homem ultrapassa a sua subjetividade para
satisfazer seus comprometimentos pessoais na busca por padrões universais.
Polanyi (1983, p. 10-11), afirma que o ato de conhecer envolve quatro
aspectos estruturais, a saber: funcional, fenomênico, semântico e ontológico. No
aspecto funcional, o conhecimento tácito envolve dois termos: o proximal e o distal.
Sendo que o primeiro termo é aquele que está “próximo de nós”, porque somos
cientes de sua existência, e somente depois da percepção desse primeiro termo é
que é voltada a atenção para o segundo termo que encontra-se “longe de nós”.
De acordo com Frade (2003), o conhecimento tácito pode ser identificado
como um conhecimento subsidiário (termo proximal) que é mobilizado para realizar
uma tarefa (termo distal). Exemplificando, a tarefa da primeira pessoa no processo
de comunicação é a de compreender e integrar os significados do conhecimento
tácito da segunda pessoa e a tarefa dessa segunda pessoa é a de comunicar um
conhecimento tácito à primeira pessoa, mobilizando, assim, o conhecimento tácito
dessas pessoas para a realização da tarefa.
Quanto ao aspecto fenomênico, Polanyi (1983, p.13) afirma que este refere à
relação parte-todo, isto é, reconhece o termo proximal (particular) do ato de
conhecer no seu termo distal (objeto de atenção). O conhecimento tácito não é
percebido em si mesmo quando o mesmo é utilizado como uma espécie de apoio,
quando ele não é o foco de nossa atenção. Entretanto toma-se consciência desse
conhecimento, quando a realização de uma tarefa se dá pela expectativa do que
suas particularidades provocam nas pessoas, visualizando-o projetado nessas
realizações.
De acordo com Faria (2011a),
Polanyi trata aqui da expectativa das relações, ou seja, o aspecto
fenomênico, busca uma relação entre a particularidade e a totalidade no
processo de conhecimento do objeto de tal forma que o conhecimento tácito
pode passar desapercebido ou ser identificado na relação com outros
indivíduos. No primeiro caso, o conhecimento tácito entra em ação sem que
seja percebido, quando o mesmo aparece como conhecimento de apoio
próprio do ato de conhecer. No segundo caso, a percepção do
conhecimento tácito ocorre quando o conteúdo de suas particularidades, as
26
quais se encontram na realização de um ato, intervém na expectativa do
outro.
Quanto ao aspecto semântico, Polanyi (1983, p.12-13) afirma que este
apresenta a diferença entre o significado e aquilo que produz o significado. Um
conhecimento tácito não possui significado em si mesmo, mas na sua projeção
naquilo que é o foco da atenção.
Segundo Faria (2011a),
este aspecto mostra que o objeto ou fato que produz o significado não é o
que ele significa. Tal concepção segue a mesma indicação clássica de
Spinoza quando este indica que “o conceito do cão não late”. Aquilo que dá
o significado, no caso o cão, difere do que ele significa, no caso o conceito
do cão. O real e o conceito do real constituem, respectivamente, o
significante e o significado, concepção esta oriunda da tradição
estruturalista.
Quanto ao quarto aspecto, Polanyi (1983, p.13) afirma que o aspecto
ontológico indica que o conhecimento tácito é um conhecimento de alguma coisa. O
que está sendo conhecido tomará uma posição, um status de algo que pertence a
uma entidade integrada construída pelos significados e particularidades do
conhecimento tácito. À medida que se conhece algo, dá-se uma realidade a este,
um status de entidade. É por meio dessas entidades que se enxerga o mundo, o que
significa que o desenvolvimento está vinculado à criação de uma ontologia pelo
sujeito.
Para Faria (2011a),
o aspecto do conhecimento em si mesmo ou o conhecimento sobre algo,
indica uma opção fenomenológica de Polanyi, na medida em que a coisa só
existe como coisa quando ela é construída pelos significados que produz e
pelas particularidades do conhecimento tácito. A significação dada pelo
objeto se relaciona com o conhecimento existente (tácito), permitindo a sua
interpretação. Contudo, o significado do objeto não se encontra nele
mesmo, mas na significação que o sujeito lhe atribui, seja pelo que é
explícito, seja pelo que está implícito.
Polanyi enfatiza que o conhecimento é socialmente construído, por meio da
experiência pessoal da realidade, ou seja, para ele se adquire conhecimento quando
existe o contato com situações que proporcionem novas experiências, que são
assimiladas aos particulares que as pessoas dispõem. Tal concepção, segundo
Faria (2011a), “é de natureza estruturacionista e se encontra na mesma direção da
27
de Berger e Luckmann (1987) acerca de uma sociedade sem história, construída
socialmente no plano das relações presentes que a estruturam.”
Além do ato de conhecer, Polanyi (1983) trata do ato de ocupação,
identificando-o como interiorização do conhecimento tácito, isto é, ocupa-se das
particularidades desse conhecimento de modo que o indivíduo incorpore em si
mesmo. Polanyi dá como exemplo o fato de que quando busca compreender algo, a
pessoa mobiliza um conjunto específico de conhecimentos que possui para alcançar
a compreensão deste, e a medida que esses conhecimentos são utilizados como
instrumentos, faz-se então, a interiorização. O ato de ocupação oferece condições
para que uma pessoa incorpore os significados particulares do conhecimento tácito
de outra pessoa.
2.1.3 O Conhecimento Tácito no Processo de Articulação
Para Polanyi (1962), o conhecimento tácito, embora seja algo não declarado
ou exposto por inteiro, pode ser compartilhado. Uma pessoa pode aprender o
conhecimento tácito de outra pessoa utilizando um esforço inteligente para
compreender algumas das particularidades, que podem ser identificadas por ações e
palavras, entre outras formas.
Mas a outra pessoa que está transmitindo o
conhecimento precisa ter meios adequados para comunicar as particularidades do
seu conhecimento tácito. Quando esse processo ocorre, realiza-se o que Polanyi
chama de modelagem ativa de experiências realizadas que tem por objetivo
perseguir o conhecimento. Todavia, Polanyi (1962) afirma que embora se possa
integrar algumas particularidades do conhecimento da pessoa, não se pode transpor
o que ela quer dizer. Assim, pode-se investigar a mente dessa pessoa com o intuito
de entendê-la melhor por meio de pistas, dicas.
Entretanto, essa pessoa cria
representações internas, que se articulam internamente, sem que a mesma consiga
concretizar em representação externa.
Para tanto, Polanyi (1962) insere o conhecimento tácito nesse processo de
articulação, examinando-o em três áreas, envolvendo os conhecimentos tácito e
explicito em forma de cooperação. Esses domínios estão a seguir relacionados:
28
a)
Domínio do inefável: a articulação é impossível de acontecer, pois o
tácito predomina, ou seja, quando as particularidades não são
expostas por completo, sua representação externa é vaga.
b)
Domínio intermediário: refere-se ao fato de se conseguir ler uma
mensagem ou ouvir uma fala e entender o que está sendo transmitido.
O que foi transmitido corresponde ao significado que lhe foi atribuído.
O conhecimento tácito da mensagem, além de se manifestar,
ultrapassa os limites da articulação interna, coincidindo com a
representação externa.
c)
Domínio da sofisticação: neste caso o tácito e o explicito são
independentes, isto é, não se consegue entender o que foi expresso
(explícito) pelo conhecimento tácito, ocasionado pela inconfiabilidade
que se tem dos pensamentos tácitos não coincidirem com as
expressões externas, que aqui, Polanyi denominou de operações
simbólicas.
A partir do estudo de dois dos seus principais trabalhos sobre conhecimento
tácito e explícito, pode-se concluir que Polanyi contribuiu expressivamente para uma
nova abordagem epistemológica, elucidando estes dois tipos de conhecimentos
(tácito e explícito) e a contínua interação entre ambos e enfatizando que a dimensão
tácita é indispensável a qualquer conhecimento.
2.2
O CONHECIMENTO NOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
Neste item serão apresentados os principais conceitos abordados por
diversos autores sobre o tema conhecimento na área de estudos organizacionais,
bem como o seu tratamento e conversão. Esta abordagem se faz importante para
servir de explicação à explanação sobre a GC.
2.2.1 Conceito e Caracterização
Diversos filósofos antigos tentaram conceituar o conhecimento, porém este
termo assume diversos significados, que variam de acordo com o contexto em que
está sendo empregado, podendo ser considerado um aprendizado, habilidade
29
experiência,
percepção,
competência
entre
outros.
Na
área
dos estudos
organizacionais, de acordo com Faria (2011a),
a discussão ontológica e epistemológica sobre o conhecimento e a
discussão sobre a Teoria do Conhecimento tem se mostrado superficial. Os
autores desta área que trabalham com o tema do conhecimento tende a
fazer menções genéricas sobre o assunto para, enfim, se fixarem em um
conceito não historicizado e pouco problematizado.
De fato, Nonaka e Takecuhi (1997), dois dos autores mais citados na área
dos estudos organizacionais, indicam que o estudo do conhecimento humano é tão
antigo quanto a própria história do homem e que no período grego esse tema já
fazia parte dos estudos de filosofia e epistemologia. Complementam afirmando que
foi Platão quem desenvolveu inicialmente a conceitualização do termo conhecimento
sob uma perspectiva racionalista. Para Nonaka e Takeuchi (1997), Platão
argumentou que o mundo físico é uma mera sombra do mundo perfeito das idéias,
isto é, as idéias são conhecidas apenas através da razão pura, de modo que tudo se
justifica por meio da matemática e através dela que se chega à verdadeira realidade.
Para este filósofo, ainda de acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), existem quatro
graus de conhecimento, sendo eles: crença, opinião, raciocínio e indução. Já para
Aristóteles, também na interpretação de Nonaka e Takeuchi (1997), sua perspectiva
empirista enfatizou a importância da observação e da nítida verificação da
percepção sensorial individual, sendo que as idéias para ele eram adquiridas pela
experiência. Aristóteles destaca a existência de seis graus de conhecimento:
sensação, raciocínio, intuição, percepção, imaginação e memória. Para ele não há
diferença entre conhecimento sensível e intelectual, pelo contrário, um é a
continuação do outro.
Nonaka e Takeuchi (1997, p.26) argumentam que para Aristóteles:
Da percepção sensorial surge o que chamamos de lembranças, e das
lembranças da mesma coisa, repetidas com freqüência, desenvolvemos a
experiência; pois diversas lembranças constituem uma única experiência.
Da experiência novamente – ou seja, de sua totalidade universal, e hoje
estabilizada, dentro da alma, um ao lado dos muitos que constituem uma
única identidade dentro de todos eles – origina-se a habilidade do artesão e
o conhecimento do cientista, a habilidade na espera do que virá a ser e a
ciência do ser. Concluímos que essas etapas do conhecimento não são
inatas de uma forma determinista nem se desenvolveram a partir de
estados superiores de conhecimento, mas sim a partir da percepção
sensorial.
30
E em Aristóteles se encerra a discussão de Nonaka e Takeuchi. Pode-se
admitir, como argumenta Faria (2011b), que
Platão e Aristóteles fundam as concepções epistemológica racionalista
(Platão) e empirista ou pragmatista (Aristóteles), mas toda a filosofia que se
segue até a contemporaneidade se apóia direta ou indiretamente, na
discussão acerca do conhecimento. Assim, tal discussão sobre este tema
na modernidade, desde Hobbes, Locke, Descartes, Nitsche, Hegel, Marx,
Husserl, Merleau-Ponty, Sartre, Levy-Strauss e Ricouer, apenas para citar
alguns do que se dedicaram ao mesmo, é complexo e profundo. Na área
de estudos organizacionais que trata da questão do conhecimento e de sua
gestão não se encontra nenhuma análise que se aprofunde nesta
discussão.
De Platão a Aristóteles passa-se a Polanyi, conforme se observa, por
exemplo, em Nonaka e Takeuchi (1997).
De fato, Zabot e Silva (2002, p.66), argumentam na mesma direção que
Nonaka e Takeuchi (1997) ao afirmarem que:
A importância do conhecimento não é uma descoberta nova. Desde os
tempos mais remotos, sabe-se que os homens que detinham muito
conhecimento eram os que destacavam dos demais. O grande problema foi
que durante muito tempo o acesso ao conhecimento era, na verdade,
restrito a alguns privilegiados, e o próprio conhecimento era, muitas vezes,
utilizado como meio de domínio e opressão.
O conceito de conhecimento para Zabot e Silva (2002), é uma abstração,
conforme Faria (2011a), ou seja, “o que de fato,
os homens detinham que os destacavam, o que era “restrito a alguns
privilegiados”, o que era “meio de domínio e opressão”? Todas essas
questões podem ser respondidas de várias maneiras: a) status; b) riqueza;
c) poder; d) propriedades; e) símbolos. Até mesmo conhecimento.
Assim, embora esse conhecimento tenha sido restrito a alguns privilegiados,
Zabot e Silva (2002) se dão conta de que em diversos momentos históricos houve
grandes pensadores e estudiosos que por apresentarem seus conhecimentos, suas
descobertas consideradas revolucionárias, foram severamente intitulados de loucos
e tiveram suas obras publicadas apenas após anos de sua elaboração. Essas obras
serviram de alicerce para novas teorias que a posteriori realizaram uma verdadeira
transformação nos meios acadêmico, literário, organizacional e até mesmo social.
Para Zabot e Silva (2002), o conhecimento considerado “ativo de produção” é
o
aspecto
central
da
nova
sociedade.
Sociedade
essa
globalizada
e
31
interdependente, na qual o valor central está nas ideias e informações
transformando-se em uma fonte de inovação e criatividade.
Já Angeloni (2002), sugere que para se compreender melhor o que é
conhecimento se faz necessário primeiramente distinguir dado, informação e
conhecimento. Dados referem-se a elementos descritivos de um evento e são
desprovidos de tratamento lógico ou de contextualização, informando um estado da
realidade pura. A informação pode ser entendida como um conjunto de dados
selecionados e agrupados logicamente para a consecução de um determinado
objetivo. O conhecimento é composto de um conjunto de informações pertinentes a
um sistema de relações críticas, significando a compreensão de todas as dimensões
da realidade, captando e expressando essa totalidade cada vez mais ampla. Para
Faria (2011a), a concepção de conhecimento para Angeloni (2002):
Decorre de um processo linear de procedimentos de sucessão qualitativa,
que vai do dado à informação (dado processado) e deste ao conhecimento
(informação processada). Esta é uma visão etapista formal e hierarquizada,
com um movimento unidirecional que desemboca em um momento mágico,
o do conhecer. O primeiro processamento do “dado bruto” não é
conhecimento e não produz conhecimento, pois é apenas informação. A
informação passa a ser, portanto, a chave mestra da magia do
conhecimento.
Angeloni (2002) ressalta, ainda, que embora o conhecimento contenha um
conjunto de informações articuladas, o mesmo não é sinônimo de acúmulo de
informações.
O
conhecimento
sem
processamento
seria,
então,
um
desconhecimento? Para Faria (2011a), Angeloni (2002) confunde realidade com
pensamento e este com conhecimento, pois pensar é conhecer, ou seja,
pensar é a mediação necessária entre a realidade e a consciência que se
tem da mesma. O conhecimento, portanto, é um processo que alcança sua
plenitude temporária e transitória na consciência elaborada sobre o real
pensado (FARIA, 2011a).
Nesta mesma linha, Davenport e Prusak (1998), afirmam que o conhecimento
pode ser entendido a partir de dados e da informação que são utilizados para sua
construção. Os dados são registros estruturados de transações organizadas que
criam a ilusão de exatidão cientifica e que não fornecem julgamento nem
interpretação para a tomada de decisão. A informação pode ser representada por
uma mensagem na forma de documento ou comunicação audível ou visível, trata-se
32
de um dado dotado de significado, relevância e propósito, que se movimenta na
organização por meio de redes hard (infraestrutura) e soft (pessoas).
Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores,
informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma
estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e
informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas
organizações, ele costuma ser embutido não só em documentos ou
repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas
organizacionais (DAVENPOR; PRUSAK, 1998, p.6).
Aqui, segundo Faria (2011a):
Ocorre um problema de ordem paradoxal, pois se o conhecimento pode ser
entendido “a partir” dos dados e informações utilizados em sua
“construção”, o mesmo não pode “ter origem” e “ser aplicado” na “mente do
conhecedor” como argumentam Davenport e Prusak (1998).
Este paradoxo não é superado pela classificação que Davenport e Prusak
(1998) apresentam. A proposta da composição de dados, informação e
conhecimento conforme descritos no quadro a seguir, é a representação desta visão,
agora adjetivada.
QUADRO 01 - DADOS, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
Dados
Informação
Conhecimento
Simples observação sobre
estado de alguma coisa
-
-
Facilmente estruturado
-
Requer unidade de análise
-
Facilmente obtido através do
uso de máquinas
-
Exige consenso em relação
ao significado
-
Frequentemente quantificado
-
-
Facilmente transferível
Exige necessariamente
mediação humana
-
Contextual
-
Dados dotados de relevância
e propósito
a
-
Intuitivo e
experiências
usuário
se refere a
e valores do
-
Informação valiosa da mente
humana
-
Inclui
reflexão,
contexto
-
De difícil estruturação
-
Difícil de
máquinas
-
Frequentemente tácito e de
difícil transferência
ser
síntese,
obtido
por
FONTE: Adaptado de Davenport e Prusak (1998)
Para Davenport e Prusak (1998, p.3) “o conhecimento deriva da informação
da mesma forma que a informação deriva dos dados”, concepção esta que segue a
mesma linha sequencial que é adotada por Angeloni (2002). Para tanto, Davenport e
Prusak (1998) apresentam os quatro Cs (ações) que se referem ao processo de
transformação da informação em conhecimento. Esse processo é composto dessas
ações denominadas pelos autores como criadoras de conhecimento pertencentes ao
ser humano. São elas:
33
- Comparação: de que forma as informações relativas a esta situação se
comparam a outras situações conhecidas?
- Conseqüências: que implicações estas informações trazem para as
decisões e tomada de decisão?
- Conexões: quais as relações deste novo conhecimento com o
conhecimento já acumulado?
- Conversação: o que as outras pessoas pensam desta informação?
(DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p.3)
O conceito de conhecimento de Davenport e Prusak, em certa medida, vai de
encontro aos de Fleury e Oliveira (2001) que entendem o conhecimento como
informação associada à experiência, intuição e valores e também aos de Nonaka e
Takeuchi (1997), que entendem estar o conhecimento ancorado nas crenças e
compromisso de quem o detém e diretamente relacionado à ação humana. Este
seria, portanto, o processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com
relação à verdade.
Para Neves (2004), o conhecimento vem das pessoas que estão imbuídas em
um constante processo de aprendizagem. O conhecimento é fruto da aprendizagem
em três níveis: individual, grupal e organizacional.
Crawford (1994) complementa que a informação é muitas vezes confundida
com conhecimento, porém, ele distingue que o conhecimento é encontrado somente
no ser humano e a informação pode ser encontrada em objetos. Para tanto o autor
destaca quatro características do conhecimento, a saber:
a)
o conhecimento é difundível e se auto-reproduz, o conhecimento
aumenta à medida que é utilizado;
b)
o conhecimento é substituível, pode substituir trabalho e capital;
c)
o
conhecimento
é
transportável,
com
a
tecnologia
o
conhecimento pode se mover em velocidades cada vez
menores;
d)
o conhecimento é compartilhável, o conhecimento pode ser
transferido para várias pessoas.
Para Faria (2011a)
a proposta de Crawford (1994) chega remeter a uma concepção préplatônica. O conhecimento seria inoculado no sujeito sem qualquer
elaboração, sem interação, por obra do espírito, em completa separação do
objeto que conteria, também inexplicavelmente, informação. O objeto deixa
34
de ter o primado na construção do conhecimento, de forma que ao
pensamento bastaria se apropriar de informações nele contidas, sem
confrontá-las. A simplificação conceitual de Crawford (1994) é primária
quando argumenta que o conhecimento pode substituir o capital e o
trabalho. Nesta concepção, o conhecimento é um objeto ou uma
mercadoria a ser trocado no mercado do saber. Deste modo, como algo
substituível e transportável através da tecnologia, o conhecimento
exterioriza-se do ser humano para deslocar-se em “velocidades cada vez
menores” de maneira a se alojar em outro “ser humano”, pois para
Crawford é só no “ser humano” que o conhecimento é “encontrado”. A
transmissão ou transferência procede como uma transfusão, na mais
adequada fórmula de Paulo Freire sobre a “educação bancária.
Nesse sentido, ou seja, como coisa, é que se encontra a tipologia de
conhecimento criada por Boisot (1985), citado por Choo (2003), que classifica o
conhecimento no fato dele ser ou não codificável e difuso, sendo que para ele o
conhecimento codificado é aquele que pode ser guardado ou colocado em forma
escrita sem a perda de informação.
Complementando, Choo (2003) sugere que o conhecimento de uma
organização pode ser diferenciado em conhecimento tácito, conhecimento explícito e
conhecimento cultural. Os dois primeiros são aqueles conceituados por Polanyi
(1962, 1983). Para Choo (2003), o conhecimento cultural consiste em estruturas
cognitivas e emocionais que são usadas pelos membros da organização para
perceber, explicar, avaliar e construir a realidade. As suposições e crenças também
são usadas para descrever e explicar a realidade. O conhecimento cultura é
compartilhado por diversos membros da organização a fim de dar sentido e valor à
informação, aos acontecimentos e às ações. Esse conhecimento não é codificado,
mas é amplamente divulgado pelos membros da organização por meio de vínculos e
relacionamentos que os ligam uns aos outros. Conforme Faria (2011a) “o conceito
de conhecimento cultural proposto por Choo esbarra em uma redundância, em uma
obviedade lógica, na medida em que “conhecimento é estrutura cognitiva.” O
conceito da coisa é a própria coisa ou, em contraposição a Spinoza, o conceito do
cão é a estrutura do cão. Não uma estrutura qualquer, mas compartilhada por todos
seus elaboradores para dar sentido e valor ao que antecede e ao que se encontra
fora da própria coisa (informações, acontecimentos, ações). E é isto, na estruturas
cognitiva e afetiva, que se encontram divulgados por meio de “vínculos e
relacionamentos”, sem resistências, contradições, enfrentamentos, etc.”
Em outra direção Ponchiroli (2005), argumenta no âmbito da Filosofia que
existem algumas possíveis formas para o processo do conhecimento, sendo:
35
-
Quanto à origem do
adquirido
pela
conhecimento: distingue
experiência
ou
pela
razão,
conhecimento
compreende
o
Racionalismo, Empirismo, Intelectualismo e Apriorismo;
-
Quanto à essência do conhecimento: considera a possibilidade ou
não da existência de um mundo independente da consciência
humana. Compreende o Realismo, Idealismo e Fenomenalismo;
-
Quanto à possibilidade do conhecimento: analise a possibilidade ou
não do conhecimento do mundo tal qual ele se apresenta.
Compreende o Dogmatismo, Ceticismo e Pragmatismo.
-
Quanto à forma do conhecimento: referencia o caminho que se faz
para chegar aos resultados do conhecido. Compreende a Intuição,
Analogia, Indução e Dedução.
Na área da educação, Kuenzer e Abreu (2007), realizaram uma pesquisa em
uma empresa do setor petroquímico buscando avaliar os impactos no processo de
trabalho advindos de mudanças tecnológicas e a relação dos conhecimentos tácitos
e científicos nesse âmbito, na qual verificaram que os trabalhadores mais antigos na
empresa (que eram a maioria) se ancoravam nas experiências para realização de
suas atividades, ou seja, nos seus conhecimentos e competências tácitas.
Conhecimentos e competências tácitas são as adquiridas pelas
experiências: pelo seu caráter prático, não são passíveis de sistematização
teórica e em função disso não podem ser ensinadas; seu desenvolvimento
depende da subjetividade, das oportunidades de acesso à informação, das
oportunidades de trabalho, da cultura, das relações sociais vividas por cada
trabalhador. São desenvolvidas e não adquiridas em processos
sistematizados de ensino (KUENZER; ABREU, 2007, p.464).
Para Kuenzer e Abreu (2007), o conhecimento tácito não se ancora na teoria,
ele é marcado por seu caráter prático, referindo nesse sentido às práticas rotineiras
que se desenvolvem sem apoio de teoria. O conhecimento tácito exerce forte
influência sobre a introdução de inovações tecnológicas, necessitando da integração
de conhecimento científico.
As autoras citam Jones e Wood, os quais afirmam que há três dimensões do
conhecimento tácito: a) a que diz respeito às práticas rotineiras, tanto mais eficientes
quanto mais automatizadas, com menor intervenção da ação consciente. Refere-se
ao campo da automatização pela memorização dos procedimentos físicos e mentais
36
pela repetição, que nos remete à educação taylorista; b) a que demanda diferentes
graus de tomada de consciência para tomar decisões em situação que foge à
normalidade, dependendo da complexidade da situação. Refere a diferentes níveis
de consciência que são necessárias mobilizar; c) a das competências tácitas de
natureza coletiva, derivadas da cooperação. Refere-se à tomada de consciência
sobre o seu trabalho no processo de produção considerando os trabalhos dos
demais da equipe.
A partir destas reflexões de Kuenzer e Abreu (2007) e de Jones e Wood
(1984) retoma-se a discussão inicial de Polanyi (1962, 1983), agora ampliada pela
qualificação do conhecimento tácito que se apresenta nas dimensões da
“memorização”, “níveis de consciência” e “consciência compartilhada”.
2.2.2 Criação e Conversão do Conhecimento
Nesta etapa utilizou-se principalmente do estudo de Nonaka e Takeuchi
(1997), devido a sua relevância nos meios acadêmicos, na área de estudos
organizacionais. Esse estudo serviu de alicerce para os pesquisadores que a
posteriori escreveram sobre este tema bem como sobre a GC. A teoria da criação do
conhecimento vem sendo trabalhada e citada em diversos trabalhos, pois acreditase que essa teoria que inclui os métodos de conversão (conforme será explanado a
seguir) é um diferencial e uma fonte de vantagem competitiva para as organizações
que o conseguirem realizar.
Para Faria (2011a), do ponto de vista de Nonaka e Takeuchi (1997), o
conhecimento adquire um caráter de valor de troca elaborado que cria vantagem
competitiva (que cria valor sobre o valor). Esta é a “deixa” para despertar o
entusiasmo dos gestores e de seus teóricos acadêmicos.
Para Nonaka e Takeuchi (1997) a criação do conhecimento é realizada pelo
ser humano. Sendo assim, as organizações dependem das pessoas, da sua
intuição, das suas experiências no processo de aprendizagem e disseminação do
conhecimento. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), as pessoas é que são
responsáveis pela criação e disseminação do conhecimento no ambiente
organizacional.
37
Para Faria (2011a),
não se pode deixar de observar a singeleza do argumento. Quem mais
poderia ser responsável pela criação e disseminação do conhecimento? Ao
mesmo tempo, não se pode deixar de observar a estreiteza do argumento.
A realidade social e histórica é simplesmente reduzida ao ambiente
organizacional, este oásis no deserto do saber, este lugar especial que
transforma a ignorância em criação do conhecimento.
A empresa que objetiva a criação do conhecimento, deve estar atenta aos
insights e intuições dos empregados, para obter contribuições para a mesma a partir
desses. Nada de novo no longo processo histórico de apropriação privada do
conhecimento coletivo.
Para Fleury e Oliveira Jr. (2001), o conhecimento organizacional é fruto das
interações ocorridas no ambiente organizacional, desenvolvidas por meio de
processos de aprendizagem. Este argumento segue o de Drucker (2000), que afirma
que as organizações devem aprender a criar novos conhecimentos por meio de
melhoria contínua, como, por exemplo, mantendo o processo de inovação com o
intuito de responder aos desafios atuais e aumentar a sua competitividade. A criação
do conhecimento engloba a capacidade de uma empresa criar um novo
conhecimento, conseguir difundi-lo e incorporá-lo a produtos sistemas e serviços.
Para Nonaka e Takeuchi (1997), a construção do conhecimento contém duas
dimensões: epistemológica e ontológica. Na ontológica a criação não consegue criar
conhecimento sem as pessoas, o conhecimento só é criado pelas pessoas. A
organização lhes proporciona contextos para a criação do conhecimento, sendo
esse
processo
realizado
dentro
de
uma
comunidade
de
interação.
Na
epistemológica a criação é conseguida quando a organização reconhece o
relacionamento entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito e quando
são elaborados processos sociais capazes de criar novos conhecimentos por meio
da conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito1.
Os autores consideram o conhecimento explicito como conhecimento formal,
que é fácil de transmitir entre indivíduos e que pode ser expresso formalmente com a
utilização de um sistema de símbolos, podendo também ser facilmente comunicado
ou difundido. Já o conhecimento tácito é o conhecimento implícito, pessoal, que é
difícil formalizar ou comunicar a outros, é usado pelos membros da organização para
1
Conversão é, assim, apropriação.
38
realizar seu trabalho, é difícil de ser verbalizado, de ser transmitido e compartilhado,
pois é expresso por habilidades baseada na ação, nas experiências de um individuo,
bem como suas emoções, valores e ideais, é o conhecimento que está embutido na
mente das pessoas: cada um é detentor do seu conhecimento tácito. Esta
concepção corresponde à de Polanyi (1962, 1983), que considera o conhecimento
explicito como conhecimento codificado, que pode ser transmitido em linguagem
formal, ligado às rotinas e procedimentos, e o conhecimento tácito que é na sua
totalidade pessoal, constituído de insights, conclusões que torna difícil sua
expressão ou formalização por meio de métodos sistemáticos.
Nonaka e Takeuchi (1997, p.7-8) indicam ainda que o conhecimento tácito
possui duas dimensões:
O conhecimento tácito pode ser segmentado em duas dimensões. A
primeira é a dimensão técnica, que abrange um tipo de capacidade informal
e difícil de definir ou habilidades capturadas no termo “Know-how”... ao
mesmo tempo o conhecimento tácito contém uma importante dimensão
cognitiva. Consiste em esquemas, modelos mentais, crenças e percepções
tão arraigadas que os tomamos como certos... a dimensão cognitiva reflete
nossa imagem da realidade (o que é) e nossa visão do futuro (o que deveria
ser).
Para Nonaka e Takeuchi (1997), a criação do conhecimento é uma interação
contínua e dinâmica entre os dois conhecimentos, tácito e explícito, e as
organizações
precisam
aprender
a
converter
o
conhecimento
tácito
em
conhecimento explícito, objetivando promover a inovação e o desenvolvimento na
organização. Para tanto, os autores apresentam quatro maneiras de conversão,
denominada de Técnica SECI (Socialização, Externalização, Combinação e
Internalização)2.
a)
Socialização – converte conhecimento tácito em tácito. Adquirese o conhecimento tácito partilhando experiências (treinamento);
b)
Exteriorização ou externalização – converte conhecimento tácito
em explícito. O conhecimento tácito é traduzido em conceitos
explícitos por meio da utilização de metáforas, analogias e
modelos;
2
Como afirma Faria (2004, vol.2), os teóricos da administração gerencialista parecem gostar de siglas que se
podem facilmente decorar (POSDCORB, 5S ou SECI) como palavras mágicas.
39
c)
Combinação – converte conhecimento explícito em explícito.
Constrói-se conhecimento explícito reunindo conhecimentos
explícitos.
Os
indivíduos
trocam
e
combinam
seus
conhecimentos em conversas;
d)
Internalização
–
converte
o
conhecimento
explícito
em
conhecimento tácito. Está relacionada ao aprender fazendo. As
experiências adquiridas são internalizadas pelos indivíduos na
forma de modelos mentais ou know-how técnico compartilhado.
As quatro maneiras de conversão do conhecimento se retroalimentam em
uma espiral contínua de construção do conhecimento organizacional conforme figura
a seguir:
FIGURA 01 - ESPIRAL DO CONHECIMENTO
FONTE: Nonaka e Takeuchi (1997, p.80)
Os autores explicam a espiral do conhecimento da seguinte maneira:
Em primeiro lugar, o modo da socialização normalmente começa
desenvolvendo um “campo” de interação. Esse campo facilita o
compartilhamento das experiências e modelos mentais dos membros.
Segundo, o modo de externalização é provocado pelo “diálogo ou pela
reflexão coletiva” significativos, nos quais o emprego de uma metáfora ou
analogia significativa ajuda os membros da equipe a articularem o
conhecimento tácito oculto que, de outra forma, é difícil de ser comunicado.
Terceiro, o modo de combinação é provocado pela colocação do
conhecimento recém-criado e do conhecimento já existente proveniente de
outras seções da organização em uma “rede”, cristalizando-os assim em um
40
novo produto, serviço ou sistema gerencial. Por fim, o “aprender fazendo”
provoca a internalização (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.80).
Ainda de acordo com os autores, essas quatro maneiras de conversão do
conhecimento geram conteúdos de conhecimentos diferentes e esses conteúdos do
conhecimento interagem entre si na espiral de criação do conhecimento:
a)
Socialização – conhecimento compartilhado, como modelos
mentais ou habilidades técnicas compartilhadas;
b)
Externalização – conhecimento conceitual, os novos conceitos;
c)
Combinação – conhecimento sistêmico, como por exemplo,
tecnologia de novos componentes;
d)
Internalização – conhecimento operacional, como uso de novos
produtos, gerenciamento de projeto.
FIGURA 02 - CONTEÚDO DO CONHECIMENTO CRIADO PELOS QUATRO MODOS
Conhecimento tácito em conhecimento explícito
Conhecimento
Tácito
(Socialização)
Conhecimento
Compartilhado
(Externalização)
Conhecimento
Conceitual
(Internalização)
Conhecimento
Operacional
(Combinação)
Conhecimento
Sistêmico
do
Conhecimento
Explícito
FONTE: Adaptado Nonaka e Takeuchi (1997, p.81)
Para Zabot e Silva (2002), é durante a conversão que o conhecimento
organizacional é criado. Para autores como Nonaka e Takeuchi (1997) e Choo
(2003), dentre as quatro maneiras de conversão do conhecimento, a externalização
ou exteriorização é a chave para a criação do conhecimento, pois cria conceitos
novos e explícitos a partir do conhecimento tácito.
Até o momento abordou-se a criação do conhecimento sob a ótica do que
Nonaka e Takeuchi (1997) chamam de dimensão epistemológica. Trata-se, agora,
de examinar a dimensão ontológica. Essa dimensão anuncia que a base da criação
é o conhecimento tácito dos indivíduos que a compõem, pois a organização não
pode criar conhecimento sozinha.
41
Para Nonaka e Takeuchi (1997), a organização tem de mobilizar o
conhecimento tácito que se encontra no nível individual. Esse conhecimento, quando
mobilizado, deve ser ampliado “organizacionalmente” através das quatro maneiras
de
conversão
e
cristalizado
em
níveis
ontológicos
superiores
(seções,
departamentos, divisões e organizações). Este processo também é apresentado em
forma de espiral.
FIGURA 03 - ESPIRAL DE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
FONTE: Nonaka e Takeuchi (1997, p.82)
2.2.3 Condições Capacitadoras da Criação do Conhecimento
Para que o conhecimento seja criado, a organização deve fornecer condições
capacitadoras para um contexto apropriado facilitador das atividades em grupo e
para a criação e acúmulo de conhecimento em nível individual. Nonaka e Takeuchi
(1997), apresentam cinco condições, a saber:
a)
Intenção: é definida como a aspiração da organização em
relação às suas metas, assumindo estratégias para alcançar a
intenção. Sendo o elemento mais crítico da estratégia a
conceitualização sobre o tipo de conhecimento que deve ser
desenvolvido e sua operacionalização em um sistema gerencial
de implementação. A intenção propicia o julgamento do
42
conhecimento percebido ou criado, bem como do valor da
informação, sendo expressa por padrões organizacionais ou
visões. Para criar conhecimento, as organizações precisam e
devem estimular o compromisso dos funcionários, formulando
uma intenção organizacional.
b)
Autonomia: cada funcionário age de forma autônoma conforme a
situação. A empresa permite essa autonomia e aumenta a
possibilidade da automotivação dos funcionários para criação de
novos conhecimentos.
c)
Flutuação e caos criativo: estimula a interação entre a
organização e o ambiente externo. A flutuação, quando inserida
na organização, provoca “colapsos” de rotinas, hábitos ou
estruturas cognitivas. Diante deste cenário os indivíduos têm a
oportunidade de refletir e questionar suas atitudes, estimulando
assim a criação de conhecimento.
d)
Redundância: refere-se à existência de informações que
transcendem as exigências operacionais dos membros da
organização. O compartilhamento de informações redundantes
promove o compartilhamento de conhecimento tácito, pois
consegue sentir o que os outros estão tentando expressar,
acelerando assim, o processo de criação do conhecimento.
Porém, a redundância também pode aumentar o volume de
informações a serem processadas, ocasionando sobrecarga ou
aumento do custo de criação de conhecimento. Diante disso, se
faz necessário manter um certo equilíbrio entre a criação do
conhecimento e o processamento de informações. Uma das
formas de lidar com esse problema é esclarecer onde as
informações podem ser localizadas e onde o conhecimento
encontra-se armazenado.
e)
Variedade de requisitos: a organização deve possuir uma
variedade de requisitos que pode ser aprimorada através da
combinação de informações de uma maneira flexível e rápida,
43
permitindo-a assim o enfrentamento dos desafios impostos pelo
ambiente dinâmico e mutável.
Além das condições capacitadoras, Nonaka e Takeuchi (1997) argumentam
que o processo de criação do conhecimento passa por um modelo de cinco fases,
começando com o compartilhamento do conhecimento tácito, semelhante à
socialização. A segunda fase refere-se à criação de conceitos, no qual após o
compartilhamento do conhecimento tácito, esse se converte em explícito,
semelhante à externalização. Na terceira fase, verifica-se a viabilidade e a
justificação do novo conceito. Na quarta fase, após analisada a viabilidade e aceita,
os conceitos são convertidos em um arquétipo (protótipo no caso de produto). E a
última fase refere-se à difusão interativa desse conhecimento criado às demais
áreas da organização ou até mesmo ao seu ambiente externo.
A teoria da criação do conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997), portanto,
está centrado nas espirais do conhecimento, sendo indicadas duas dimensões,
conforme já mencionado. A dimensão epistemológica que converte o conhecimento
tácito em explicito e novamente em tácito e a dimensão ontológica, que aborda o
conhecimento criado a partir do nível individual e transformado em conhecimento em
níveis superiores, para depois retornar ao nível individual em um novo ciclo.
De acordo com Faria (2011a)
convém observar o esforço de Nonaka e Takeuchi (1997) em transformar
um tema complexo como o do conhecimento em um conjunto de regras
operacionais manualizadas, em uma sequência de procedimentos
instrucionais ao alcance de qualquer gestor disposto a administrar o
conhecimento com se este fosse um estoque de ativos com possibilidades
de gerar maiores rendimentos.
Das abordagens gerencialistas pode-se extrair o óbvio: para a concretização
da criação do conhecimento o ser humano é a peça chave, pois dentro dos modos
de conversão, a externalização é considerada a de mais difícil alcance pelo fato de
converter o conhecimento tácito, o conhecimento que está na mente das pessoas
em conhecimento explícito, aquele que estará disponível a todos. Para se conseguir
todos os modos de conversão é necessário que a organização proporcione um
ambiente favorável para esse processo, o que Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001),
denominaram de “contexto capacitante”.
44
Porém de acordo com os artigos utilizados para elaboração desse estudo,
percebe-se que algumas empresas utilizadas como caso empírico de pesquisas não
proporcionam o “contexto capacitante” ou então este fato não é mencionado.
Portanto, o óbvio parece ser mais uma lógica formal do que uma prática empírica.
Isso poderá ser visto mais de perto no capítulo 3, no que se refere à análise dos
artigos.
2.3
A TEORIA DA GESTÃO DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Este tópico trata dos principais conceitos referentes à Gestão do
Conhecimento, apresentando definições, características, importância e suas
variáveis. Apresenta também as mudanças que estão ocorrendo na competição
intercapitais, obrigando as empresas adotarem uma postura diferenciada no que
tange ao “capital intelectual dos funcionários” e a importância da “administração do
conhecimento no contexto organizacional”, segundo seus ideólogos.
2.3.1 Mudanças e Gestão do Conhecimento
De acordo com Faria (2011a),
a sociedade encontra-se em um processo histórico de mudanças
permanentes, o que interfere relativamente no cotidiano das pessoas e das
organizações. São mudanças na economia, nas tecnologias, na política, na
cultura, nos campos jurídico e ideológico. Portanto, trata-se de um processo
contido no próprio desenvolvimento das forças produtivas e não, como
desejam os ideólogos do capital, no mercado. As mudanças organizacionais
entendidas como alterações efetuadas pela administração na situação,
processo ou ambiente de trabalho, são condicionadas pelas relações
sociais e de produção. Assim, a concepção dos teóricos gerencialistas
sobre esta relação dinâmica da sociedade tende a ser centrada na
capacidade de resposta da organização ao ambiente, em uma espécie de
ilha organizacional que coloca a empresa no centro do mundo cercada de
meio ambiente por todos os lados. A empresa lidaria com o mundo na forma
de uma adaptação semi-autônoma, graças aos gestores.
De fato, Choo (2003) afirma que a sobrevivência da empresa depende de sua
habilidade em processar informações sobre o meio ambiente e tornar essas
informações em conhecimento que permitam que a organização consiga se adaptar
às mudanças. As mudanças que acontecem no ambiente proporcionam informações
significativas e as empresas devem coletar, interpretar e disseminar essas
informações objetivando reduzir as incertezas.
45
Daft e Weick (1984), afirmam que algumas organizações assumem uma
“postura ativa”, ou seja, “monitoram o ambiente” constantemente em busca de
informações e respostas. Mas existem as organizações que assumem uma “postura
passiva” que “aceitam as informações” que o ambiente lhes fornece. Esse
monitoramento pode ser considerado uma maneira da empresa antever às
mudanças que podem surgir e utilizar uma das suas principais ferramentas
estratégicas, o conhecimento para sua sobrevivência. Vê-se assim, como o
conhecimento entra nesta relação, ou seja, como recurso.
Para Prahalad e Hamel (2000), nesta mesma linha do conhecimento como
recurso estratégico, as organizações devem monitorar seus ambientes para buscar
informações que possibilitem uma interpretação do que possa vir ser o portfólio de
conhecimento que a organização necessita. Esta concepção é explícita em autores
como Davenport e Prusak (1998), quando afirmam que as empresas que
conseguem sobreviver neste mercado em constante mudança, dinâmico, são as que
têm o conhecimento como principal recurso estratégico. O resumo desta ideologia é
que em uma economia onde a única certeza é a incerteza, ou seja, que sempre
haverá mudanças, apenas o conhecimento é considerado fonte segura de vantagem
competitiva. Daí seguem as argumentações. Para os gerencialistas e ideólogos, os
mercados mudam, novas tecnologias surgem a todo momento e proliferam
sistematicamente, a concorrência se multiplica e os produtos se tornam obsoletos de
um dia para outro. As empresas que conseguem sobreviver a todas essas
mudanças são aquelas que criam novos conhecimentos, os disseminam por toda a
organização e incorporam às novas tecnologias. Essas empresas são chamadas
pelos teóricos da gestão de “empresas criadoras de conhecimento” ou de
“organizações do conhecimento”. Daí deduz que épocas de incerteza obrigam as
empresas a buscar cada vez mais o conhecimento dos indivíduos na organização.
A teoria gerencialista reconhece que nas empresas de um século atrás, todo
o conhecimento se concentrava nas pessoas que ocupavam posições no topo da
hierarquia. Os demais membros eram apenas mão-de-obra, que na maioria das
vezes executavam as mesmas tarefas, conforme as instruções recebidas. Assim era
o modelo taylorista-fordista. Para tais teóricos do capital, nas organizações atuais,
inseridas nesse novo século e nesse novo contexto, o conhecimento se situa na
empresa como um todo, não simplesmente no topo, mas também na base. Todos os
46
membros têm sua responsabilidade na execução das atividades, pois são dotados
de conhecimentos. As empresas têm que reconhecer esses conhecimentos
existentes para saber aproveitá-los. A “descoberta” destes teóricos pode ser
atribuída à ignorância filosófica e científica de Taylor, Ford e demais representantes
da Organização Científica do Trabalho (FARIA, 2004).
Drucker (2000) afirma que na “nova economia”, o conhecimento não é apenas
mais um recurso, ao lado dos tradicionais fatores de produção como trabalho, capital
e terra, mas o único recurso de importância. É muito mais que apenas um recurso, é
o que o torna singular na nova sociedade.
Toffler (1990) concorda com Drucker quando afirma que o conhecimento é a
fonte de poder de mais alta qualidade e a chave para a futura mudança do poder.
Ele acredita que o conhecimento é o substituto de outros recursos.
Esses autores entendem que o futuro pertence às pessoas que detêm o
conhecimento. Para Drucker (2000), o mundo está vivendo uma era que ele intitulou
de “sociedade baseada no conhecimento”, tendo o trabalhador do conhecimento
como o maior ativo. O “trabalhador do conhecimento”3 é aquele que sabe alocar o
conhecimento para uso produtivo, da mesma forma que os capitalistas sabiam
alocar o capital para esse mesmo fim. O conhecimento é o único recurso econômico
da sociedade do conhecimento. A construção e a utilização do conhecimento são
desafios para as empresas. Conhecimentos e experiências se encontram dispersos
nas organizações, basta que elas sejam capazes de localizá-los.
Essa mudança, ou seja, a transição de sociedade industrial para uma
sociedade em que o conhecimento é o principal fator de riqueza, também foi
mencionada por Crawford (1994) aponta algumas características dessa mudança, a
saber:
a)
crescente automação do trabalho;
b)
aumento da “indústria de serviços”, incluindo saúde, educação e
tecnologia (softwares);
3
c)
maior quantidade de pequenas e medias empresas;
d)
o envelhecimento da população;
Faria (2009, p.53) chama o “trabalhador do conhecimento” de “cognitariado”.
47
e)
ênfase em pesquisa e educação.
É neste cenário que cresce em importância a questão da GC, antes restrita
aos grupos de ciência e tecnologia e profissionais de pesquisa e desenvolvimento.
(FLEURY; OLIVEIRA, 2001).
2.3.2 Conceitos de Gestão do Conhecimento
Muitos pesquisadores tentaram definir a GC. Alvarenga Neto e Souza (2003)
mencionam que talvez para melhor ilustrar a GC é preciso utilizar seus conceitos
complementares, como Capital Intelectual e Inteligência Competitiva. Além desses
conceitos,
A GC tem sido tradicionalmente associada aos conceitos de criatividade,
inovação e compartilhamento, e engloba conceitos oriundos de teorias da
gestão empresarial da chamada era neoclássica da administração como
endomarketing, qualidade total, reengenharia, downsizing e de estratégias
como comércio eletrônico e as Learning Organizations. (ALVARENGA
NETO; SOUZA, 2003, p.5).
A proposta dos autores para compreensão da GC é expressa por três pilares:
(i) o modelo proposto por Choo (1998), (ii) a ideia do contexto capacitante sugerida
por Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) e (iii) a metáfora do guarda-chuva. O modelo
de Choo (1998) sugere que as organizações do conhecimento atuam em três
arenas, construção de sentido, criação do conhecimento e tomada de decisão.
Para Choo (1998), na etapa de construção de sentido o objetivo a curto prazo
é o de permitir aos membros da organização construção do entendimento sobre a
empresa, isto é, o que ela é e o que faz. O objetivo de longo prazo é que a empresa
se adapte e se mantenha prosperando no ambiente dinâmico.
QUADRO 02 - ETAPA DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO
Necessidade de informação
Busca de informação
- Quais são as novas
- Análise ambiental
tendências?
- Sistema de informações
- Quais são as
- Pesquisas
competências dos
concorrentes?
- Os que os clientes
valorizam?
FONTE: Adaptado de Alvarenga Neto e Souza (2003)
-
Uso da informação
Redução de incerteza
Construção de
conhecimento compartilhado
Processo decisório
A segunda etapa, a da criação do conhecimento, refere-se à criação,
aquisição, organização e processamento da informação pelas organizações com o
48
intuito de gerar novo conhecimento por meio da aprendizagem organizacional. Esse
novo conhecimento auxilia a organização a desenvolver novas habilidades e
capacidades. Choo (1998) apresenta uma analogia entre os modelos de criação de
conhecimento.
QUADRO 03 - ETAPA DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO
Processo de conhecimento
Fases de conversão do
(Wikstrom & Normann)
conhecimento
(Nonaka e Takeuchi)
- Processos gerativos:
- Partilhar o conhecimento
geram novos
tácito
conhecimentos
- Criar conceitos
Processos produtivos:
operacionalizam novos
conhecimentos
- Processos representativos:
difundem e transferem
novos conhecimentos
FONTE: Choo (1998)
-
-
Justificar conceitos
Construir um arquétipo
-
Disseminar o conhecimento
Atividades de construção do
conhecimento
(Leonard-Barton)
- Solução compartilhada de
problemas
- Experimentação e
prototipagem
- Implementação e integração
de novos processos e
ferramentas
- Importação do
conhecimento
O pilar de Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), indica que “a gestão no
contexto capacitante significa a promoção de atividades criadoras de conhecimento
em nível organizacional.” E a metáfora do guarda-chuva apresenta vários temas que
se inter-relacionam, como gestão estratégica da informação, gestão do capital
intelectual, aprendizagem organizacional, inteligência competitiva, dentre outros.
Alvarenga Neto (2005) apresenta a proposta integrativa da GC, no qual estão
inseridos a metáfora do “guarda chuva conceitual da GC” e o modelo de Choo
(1998). A metáfora do guarda-chuva conceitual da GC pressupõe que debaixo do
mesmo,
vários
temas,
idéias,
abordagens
e
ferramentas
gerenciais
são
contemplados, destacando o capital intelectual, aprendizagem organizacional e
inteligência competitiva. Para os autores Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) qualquer
atividade desenvolvida em organizações da chamada “era da informação” se
relacionam à GC e necessitam de um contexto capacitante para sua inter-relação. A
inter-relação desses vários temas é que possibilita e efetiva GC. O feedback do
modelo se dá pela classificação dos temas inseridos no guarda-chuva de Choo
(1998), tendo o contexto capacitante a “ponte” entre a estratégia e a ação.
49
FIGURA 04 - PROPOSTA DE MAPEAMENTO CONCEITUAL INTEGRATIVA DA GC
FONTE: Alvarenga Neto (2007)
Angeloni (2002), afirma que a GC é um processo moderno e sistemático,
articulado e intencional, apoiado na geração, codificação, disseminação e
apropriação de conhecimentos e habilidades, com o propósito de atingir a excelência
organizacional.
Para Angeloni (2002), as empresas estão preocupadas em descobrir como
alcançar resultado por meio da GC contida na experiência, conhecimento e
habilidades de seus membros. Cabe à GC integrar esses conhecimentos em torno
dos objetivos organizacionais. Esse processo envolve criar novos conhecimentos,
mas também melhor utilizar os que já foram disseminados dentro da organização.
Segundo Leonard-Barton (1998), para a empresa gerir conhecimento é
necessário primeiramente entender as aptidões estratégicas da empresa, isto é,
deve identificar as competências que não podem ser facilmente imitadas,
constituindo sua vantagem competitiva.
Baseando-se nisso, Malhotra (1998) citado por Tomael (2005), propõe uma
definição da GC que move o pensamento dos executivos por meio de uma visão
estratégica sistemática, que provê aspectos de adaptação, sobrevivência e
competência organizacional, incluindo processos organizacionais que procuram
50
combinar sinergicamente a capacidade de processar dados e informações
empregando a tecnologia da informação aliada à aptidão criativa e inovadora dos
seres humanos.
A gestão do conhecimento está centrada no envolvimento das pessoas com
os processos organizacionais, na distribuição da informação e na troca de
experiências. É uma forma de se relacionar e incentivar a busca e a troca de
competências, gerindo pessoas para o compartilhamento, mediante a união
de esforços e a crença de que, com o compartilhamento, se ganha mais do
que se perde (TOMAEL, 2005, p.62).
Shin, Holden e Schimidt (2001) citado por Tomael (2005), entendem que a
tarefa da GC é identificar e facilitar a utilização do conhecimento tácito que é
profícuo quanto se torna explícito.
Moreira (2005), afirma que “o foco da GC é o conhecimento possuído pelos
indivíduos atuantes nas organizações e expresso pelas ações dos mesmos e pelos
resultados dessas ações.”
Moreira (2005) apresenta alguns conceitos de GC:
QUADRO 04 - REVISÃO DOS CONCEITOS DE GC PRESENTES NA LITERATURA
Autores
Conceitos
Processo de criação, organização e transferência do
conhecimento àqueles que dele necessitam para agir.
Maria das Graças Murici (2001)
Gerenciamento dos fluxos do conhecimento. Ferramenta
utilizada para auxiliar as organizações a atingirem seus
objetivos.
Thomas Davenport & Laurence Prusak
Processo de captura, distribuição e utilização do conhecimento.
(1998)
Gilbert Probst, Steffen Raub & Kai
Gerenciamento da identificação, aquisição, desenvolvimento,
Romhardt (2002)
partilha/distribuição, utilização e retenção do conhecimento.
Organização e sistematização dos processos de captação,
geração/criação, análise tradução, transformação, modelização,
E-Consulting Corp. (2004)
armazenagem, disseminação, implantação e gerência da
informação e sua transformação em conhecimento.
Processo de estímulo à conversão do conhecimento. A GC deve
Maria Antonieta Rosatto (2003)
estar alinhada à estratégia da organização. A GC deve ser
apoiada pela alta gerência e a ela prestar contas.
GC visa à geração de conhecimentos novos a partir da
explicitação daqueles tácitos já existentes, incorporados aos
Rosa Maria Quadros Nehmy (2001)
processos de trabalho dos indivíduos.
GC formada por sete dimensões: 1) definição dos
conhecimentos prioritários à organização; 2) busca da inovação,
experimentação e aprendizagem contínuos; 3) estrutura
José Claudio Cyrineu Terra (1999)
organizacional; 4)política de administração de recursos
humanos; 5) entendimento de como as novas tecnologias da
informação e comunicação afetam o conhecimento; 6)
mensuração de resultados e 7) aprendizagem com o ambiente.
Karl-Erik Sveiby (1998)
Arte de criar valor a partir dos ativos intangíveis.
FONTE: Adaptado de Moreira (2005)
Diante do exposto, verifica-se que o principal objetivo da GC é o de criar,
armazenar, disseminar e utilizar o conhecimento para atingir os objetivos da
51
organização. Segundo os diversos autores mencionados, a GC tem como principal
foco o indivíduo e o grupo, pois o conhecimento e sua produção pertencem aos
mesmos, ou seja, a GC pode ser entendida como gestão com foco no conhecimento,
sendo este considerado como um recurso estratégico e de fator de competitividade.
Verifica-se, ainda, que dentro do campo da GC, um dos grandes desafios das
organizações é o de fazer com que o conhecimento, principalmente o conhecimento
pertencente ao ser humano, denominado pelos autores conhecimento tácito, seja
compartilhado
conhecimentos.
dentro
da
organização
objetivando
a
criação
de
novos
52
3
A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM GESTÃO DO CONHECIMENTO NO
BRASIL: 2000 A 2010
Este capítulo apresenta os resultados obtidos na coleta e análise dos
resultados. A coleta de dados realizou-se por meio de um levantamento sobre as
produções acadêmica publicadas nas principais revistas (RAC, RAE e RAP) e
congressos na área de administração (ANPAD) no período de 2000 a 2010, que
abordaram o tema Gestão do Conhecimento. O objetivo deste levantamento foi o de
identificar e avaliar as expressões conceituais sobre o tema.
O quadro a seguir apresenta a quantidade de artigos que abordaram sobre os
temas GC, conhecimento e conhecimento tácito que foram publicados nos eventos e
em seus respectivos anos.
QUADRO 05 - QUANTIDADE DE ARTIGOS PUBLICADOS NOS EVENTOS E
REVISTAS DA ANPAD
Evento
Ano
Quantidade de artigos
ENADI
2007
11
ENADI
2009
4
ENANPAD
2001
2
ENANPAD
2002
3
ENANPAD
2006
7
ENANPAD
2007
12
ENANPAD
2008
9
ENAPAD
2009
7
ENAPAD
2010
3
ENPGR
2007
1
RAC
2003
1
RAC
2004
1
RAC
2006
1
RAC
2009
1
ERA
2002
1
ERA
2003
1
ERA
2004
1
ERA
2005
1
RAP
2008
1
TOTAL
68
FONTE: A autora (2011)
Conforme mencionado anteriormente, foi realizada uma pesquisa ao site da
ANPAD (www.anpad.org.br) com o intuito de verificar e extrair artigos, bem como
53
outros periódicos, visando fazer um levantamento de todos os tipos de publicações
que foram feitas no período de 2000 a 2010 que abordassem os temas objetos de
estudo desta dissertação. Em respostas a essa pesquisa foram encontrados 91
(noventa e um) artigos. Após a leitura dos resumos e palavras-chave, extraiu-se 68
que possuem embasamentos teórico e metodológico para darem suporte à
pesquisa. Todos os 68 artigos foram então, estudados detalhadamente.
Vale ressaltar que a partir de 2006 houve um aumento significativo de artigos
publicados nos encontros da ANPAD, o que não ocorre em relação aos artigos
publicados nas revistas.
O quadro a seguir apresenta os autores mais citados nos artigos
principalmente no que tange à GC e ao conhecimento como um todo.
QUADRO 06 - AUTORES MAIS UTILIZADOS COMO REFERÊNCIAS
NOS ARTIGOS
Autores
Quantidade de artigos
Nonaka e Takeuchi
46
Davenport e Prusak
34
Terra
19
Sveiby
11
Polanyi
10
Stewart
8
Peter Drucker
8
Choo
7
Leonard-Barton
6
Vonkrogh, Ichijo e Nonaka
6
Grant
6
Gold, Malhotra e Seagars
5
Santos et AL
5
Bucowitz e Williams
4
Alvarenga Neto
4
McCampbell et AL
4
Fleury e Oliveira Jr.
4
Argyris
FONTE: A autora (2011)
4
Para essa análise, utilizou-se como critério a apresentação dos autores mais
referenciados. Estão apresentados no quadro acima os autores que foram citados
em quatro ou mais artigos, pois por se tratar de temas que possuem várias
ramificações, foram utilizados diversos outros autores que embora tenham sido
54
utilizados pelos autores dos artigos, não têm “expressividade” para a análise deste
estudo.
Como pode ser verificado, os autores Nonaka e Takeuchi foram os mais
citados nos artigos, seguidos de Davenport e Prusak, Terra, Sveiby e Polanyi.
Porém, neste momento, evidenciou-se uma situação intrigante, pois como indicado
no inicio deste estudo, as obras do autor Polanyi serviram de alicerce teórico para os
demais autores, entretanto o mesmo foi citado em menor proporção que estes. Para
melhor entendimento, o quadro a seguir apresenta a utilização principalmente do
autor Michael Polanyi pelos autores mais citados.
QUADRO 07 - UTILIZAÇÃO DE AUTORES EM OBRAS
Obras
Autores
Polanyi
Nonaka e
Davenport
Takeuchi
e Prusak
Terra
Sveiby
Nonaka e Takeuchi
x
-
-
-
Davenport e Prusak
x
X
-
-
-
Terra
x
X
x
-
x
Sveiby
FONTE: A autora (2011)
x
X
-
-
-
Diante do exposto, confirma-se que os autores mais citados utilizaram o
trabalho de Polanyi para a construção de suas obras. Porém, se analisados os dois
quadros anteriores concomitantemente, verifica-se que os autores dos artigos
apropriaram do conhecimento de Polanyi por “intermediários”, ou seja, absteram-se
da origem dos conceitos (conhecimentos tácito e explícito) e os “enxergaram” pelas
lentes dos autores mais citados.
Conforme observa Faria (2011a) trata-se do “efeito apud”, ou seja, são
atribuídos a um autor idéias que na realidade pertencem a outro autor.
Todos os autores mencionados no quadro 7 abordaram a GC em si, bem
como o conhecimento, criação e disseminação do conhecimento. O quadro a seguir
apresenta uma melhor dimensão da abordagem dos temas de acordo com os
autores.
55
QUADRO 08 - AUTORES E ABORDAGENS DOS TEMAS
GC
Criação do
conhecimento
Alvarenga Neto
X
X
Argyris
X
Bucowitz e Williams
X
Choo
X
Davenport e Prusak
X
Fleury e Oliveira Jr.
X
Gold, Malhotra e Seagars
X
Grant
X
Leonard-Barton
X
McCampbell et AL
X
Nonaka e Takeuchi
X
Peter Drucker
X
Autores
Conhecimento
(tácito/explícito)
X
X
X
X
X
X
X
X
Polanyi
X
Santos et AL
X
Stewart
X
X
Sveiby
X
X
Terra
X
X
Vonkrogh, Ichijo e Nonaka
X
Wiig
FONTE: A autora (2011)
X
X
X
De acordo com o quadro anterior, verifica-se que três conjuntos de autores
abordaram todos os temas deste estudo. Considera-se então, que vale mencionar os
principais conceitos que os mesmos utilizam em seus trabalhos sobre os temas
abordados neste estudo, ressaltando que estes foram extraídos dos artigos
analisados.
56
QUADRO 09 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE GC
Gestão do Conhecimento
Autor
Artigo
(conceito)
A propriedade
“Modo ou sistema usado para capturar,
Peter
intelectual como
analisar, interpretar, organizar, mapear, e
Drucker
elemento da Gestão
difundir a informação, para que ela seja útil e
(1998)
do Conhecimento: o
esteja disponível como conhecimento.”
que compartilhar
A propriedade
“Processo sistemático de identificação,
intelectual como
Santos et al
criação, renovação e aplicação dos
elemento da Gestão
conhecimentos que são estratégicos na vida
(2005)
do Conhecimento: o
de uma organização.”
que compartilhar
“Capacidade das empresas em utilizarem e
combinarem as várias fontes e tipos de
A propriedade
conhecimento organizacional para
intelectual como
Terra
desenvolverem competências específicas e
elemento da Gestão
capacidade inovadora, que se traduzem
(2000)
do Conhecimento: o
permanentemente, em novos produtos,
que compartilhar
processos, sistemas gerenciais e liderança de
mercado.”
“É a arte de criar valor alavancando os ativos
Gestão do
intangíveis. Para conseguir isso, é preciso ser
conhecimento: o
Sveiby
capaz de visualizar a empresa apenas em
conhecimento como
(1998)
termos de conhecimento e fluxos de
fonte de vantagem
conhecimento.”
competitiva.
Portais corporativos:
Bukowitz e
“Processo pelo qual a organização gera
uma ferramenta para
Williams
gestão do
riqueza a partir de seu conhecimento ou
conhecimento sobre
capital intelectual.”
(2002)
clientes
“É o esforço para aumentar a eficiência dos
Uma avalição de
mercados do conhecimento. O conhecimento
Davenport e
soluções de software
não se torna um ativo corporativo valioso nas
Prusak
organizações enquanto este não estiver
de CRM sob a ótica
acessível e quanto maior o grau de sua
da gestão do
(1998)
conhecimento.
acessibilidade, maior o valor deste para as
organizações.”
“Constitui-se pela contínua redefinição da
Diferenças na gestão
proposta organizacional e de como fazer as
do conhecimento
coisas da organização, de forma a minimizar o
entre os níveis
McCampbell
tempo de resposta aos participantes da
gerencial e
corporação, com a utilização do conhecimento et al
operacional: aspectos
criado quando da execução da ação do
(1999)
de criação, conversão
negócio. [...] refere-se a uma ação estratégica
utilização e proteção
de criação de processos que identificam,
do conhecimento.
capturam e alavancam o conhecimento.”
“É algo metafórico, que faz alusão à promoção
de um ambiente rico em troca de saberes e de
atividades criadoras de conhecimento, este
ambiente é denominado de contexto
capacitante.
“Conjunto de atividades voltadas para a
promoção do conhecimento organizacional,
possibilitando que as organizações e seus
colaboradores possam sempre se utilizar das
melhores informações e dos melhores
conhecimentos disponíveis, com vistas ao
alcance dos objetivos organizacionais e
maximização da competitividade.
FONTE: A autora (2011)
Von Krogh,
Ichijo e
Nonaka
(2001)
O papel de um centro
de informações no
processo de gestão
do conhecimento de
uma escola de
negócios – um estudo
de caso.
Alvarenga
Neto
(2005)
O papel de um centro
de informações no
processo de gestão
do conhecimento de
uma escola de
negócios – um estudo
de caso.
Autores do
artigo
- Isamir Machado
de Carvalho
- Viviane Muniz
Veras
- Isamir Machado
de Carvalho
- Viviane Muniz
Veras
- Isamir Machado
de Carvalho
- Viviane Muniz
Veras
- Ricardo Lanna
Campos
- Francisco Vidal
Barbosa
- Iraja Noble
Junior Cristiane
Drebes Pedron
- Laura Aguiar
Ferreira
- Leonardo
Lemos S.
Santos.
- Marcia Zampieri
Grohmann
- Gilmar Luiz
Colombelli
- Maria B. A. S.
Alves
- Jorge T. R.
Neves
- Maria B. A. S.
Alves
- Jorge T. R.
Neves
57
QUADRO 10 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE CONHECIMENTO
Conhecimento
(conceito)
Autor
Artigo
-
Conhecimento tácito é aquele que está na mente
das pessoas, possuindo forte ligação com a
experiência de cada indivíduo, difícil de ser
compartilhado e dependente da história de vida de
cada um, de seus valores e modelos mentais.
Nonaka e
Takeuchi
(1997)
Gestão da criação de
conhecimento na
indústria criativa de
software.
-
Autores do
artigo
Marcos A.
Gaspar
Denis Donaire
Maria C. M.
Silva
Carolina F. M.
Maia
Eduardo Vilas
Boas.
“Conhecimento explícito é aquele que pode ser
codificado em algo formal, estruturado e
sistemático, sendo facilmente comunicado,
compartilhado e acessível a outras pessoas.
Conhecimento tácito, altamente pessoal e difícil de
formalizar, é baseado nas ações e experiências de
um indivíduo, ou seja, criado aqui e agora em um
contexto prático e específico.”
Nonaka e
Takeuchi
(1997)
Fatores relevantes à
transferência de
conhecimento tácito em
organizações: um estudo
exploratório.
- Luiz Antonio
Joia
- Bernardo
Noronha
Lemos.
“Todo conhecimento tem um componente tácito e
explícito, e de que este grau varia ao longo de
continuum. [...] Conhecimento tácito é algo
pessoal, uma habilidade ou destreza para se fazer
algo ou solucionar um problema, a qual é baseada,
em parte na própria experiência e aprendizado.
Polanyi
apud Grant
(2007)
Fatores relevantes à
transferência de
conhecimento tácito em
organizações: um estudo
exploratório.
- Luiz Antonio
Joia
- Bernardo
Noronha
Lemos.
“Conhecimento é uma mistura fluida de experiência
condensada, valores, informação contextual,
insight experimentado, o qual proporciona uma
estrutura para avaliação e incorporação de novas
experiências e informações. Ele tem origem e é
aplicado na mente dos conhecedores. Nas
organizações, o conhecimento costuma estar
embutido não só em documentos ou repositórios,
mas também em rotinas, processos, práticas e
normas organizacionais.”
Davenport
e Prusak
(1996)
A gestão do
conhecimento sob uma
perspectiva teórica e de
aplicação: o caso da
Andrade Gutierrez
- João Francisco
de Toledo
- Sérgio
Feliciano
Crispim
Stewart
(1998)
Avaliação da gestão do
conhecimento em
entidades filantrópicas:
proposta para uma
organização hospitalar.
- Romualdo
Douglas
Colauto
- Ilse Maria
Beuren
“O conhecimento é mais valioso e poderoso do que
os recursos naturais, grandes indústrias ou
polpudas contas bancárias.”
FONTE: A autora (2011)
QUADRO 11 - PRINCIPAIS ABORDAGENS E CONCEITOS SOBRE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO
Criação do conhecimento
Autor
Artigo
Autores do
artigo
- Rodrigo A. S.
dos Santos
- Roberto Carlos
S. Pacheco
- Neri dos
Santos
- Rudimar A.
Rocha
- Cristiano J. C.
A. Cunha.
- Rivadávia C.
D. Alvarenga
Neto
“O processo de formação do conhecimento é uma
espiral de intenções entre o conhecimento explícito
e tácito. [...] A interação entre dois tipos de
conhecimento resulta na formação de novo
conhecimento.”
Nonaka e
Takeuchi
(1995)
Aproximando a
engenharia do
conhecimento e a gestão
do conhecimento: a
utilização de novos
conceitos no
desenvolvimento de
sistemas.
“Ampliação do conhecimento criado pelos
indivíduos, se satisfeitas as condições contextuais
que devem ser propiciadas pela organização.
Von Krogh,
Ichijo e
Nonaka
(2001)
Da gênese à revelação –
a gestão do
conhecimento no
contexto organizacional
brasileiro: um estudo de
caso no centro de
tecnologia de
Canavieira.
FONTE: A autora (2011)
58
Como se pode facilmente deduzir dos quadros 9, 10 e 11, embora a matriz
conceitual tenha origem em Polanyi, este foi citado apenas uma única vez e ainda
na forma de “apud”. Poder-se-ia especular que o fato de Polanyi não ser citado
deve-se ao fato de que seus trabalhos não estão disponíveis em português. Contudo
este fato não justifica a ausência de citação. Esta situação confirma a indicação de
Faria (2011a) de que se trata de um procedimento chamado de “efeito apud”. Dos
trabalhos citados pelos autores dos artigos, listados nos quadros 9,10 e 11, todo
“beberam na fonte” de Polanyi, mas acabaram levando o mérito da produção do
conceito como se eles fossem seus proponentes originais. A falta de reconhecimento
da proposição original é um problema grave na área acadêmica.
Nota-se, também, que os autores dos artigos abordaram os temas
relacionando-os
aprendizagem
a
outros,
tais
organizacional,
como
proteção
do
conhecimento,
intercâmbio
de
conhecimento,
cluster,
competências,
dinâmicas industriais, inovação, desenvolvimento de novos produtos, propriedade
intelectual, capital intelectual, mapa do conhecimento, TI, frameworks, gestão de
pessoas, internacionalização entre outros.
Outro aspecto de elevada importância para este estudo é verificar se os
conhecimentos tácito e explícito foram reconhecidos e trabalhados nas teorias sobre
GC abordadas nos artigos. Os quadros a seguir apresentam o resultado do
levantamento.
QUADRO 12 - ANÁLISE DO CONHECIMENTO TÁCITO NA GC
Conhecimento
Reconhece e
Reconhece e não
Não reconhece e
Tácito na
trabalha
trabalha
trabalha
GC
20
31
Não reconhece e
não trabalha
17
FONTE: A autora (2011)
QUADRO 13 - ANÁLISE DO CONHECIMENTO EXPLÍCITO NA GC
Conhecimento
Reconhece e
Reconhece e não
Não reconhece e
Explícito na
trabalha
trabalha
trabalha
GC
28
31
Não reconhece e
não trabalha
9
FONTE: A autora (2011)
Diante destes quadros, verifica-se que os conceitos das dimensões tácitas e
explícitas do conhecimento são reconhecidas na maior parte das obras. Porém,
quando se analisa as duas dimensões separadamente (quadros 12 e 13), nota-se
que o conceito de conhecimento tácito é trabalhado em 27% e o de conhecimento
explícito em 42% dos artigos analisados. Os dados indicam que entre os artigos de
autores que estudam o tema da GC, 73% não trabalham com a dimensão do
59
conhecimento tácito, sendo que dentre estes 35% sequer a reconhecem. Isto
permite sugerir que o tema da GC é estudado fundamentalmente de forma
unidimensional, especialmente no aspecto do conhecimento disponível. Portanto,
ainda que a proposta da GC seja a de transformar o conhecimento em recurso
estratégico para a competitividade através de seu controle e apropriação, os estudos
sobre o mesmo, ao valorizarem a dimensão explícita, indicam que ainda se está
longe desta meta. Há, portanto um bom espaço de autonomia para os empregados
das empresas. Essa análise confirma a hipótese formulada para este estudo, as
pesquisas sobre GC estão voltadas predominantemente para o conhecimento
explícito, e ainda que o tácito seja mencionado em diversas obras, o mesmo não é
trabalhado.
Dentre os autores apresentados verifica-se que Nonaka e Takeuchi são os
mais referenciados na literatura, seus estudos foram alicerçados em Polanyi para a
classificação da tipologia do conhecimento: conhecimento tácito e conhecimento
explícito. O explícito que pode ser expresso em palavras, números, é formal e por
isso mais fácil de ser comunicado ou compartilhado; o tácito, que é difícil de ser
comunicado, transmitido e compartilhado, é altamente pessoal. Nonaka e Takeuchi,
a partir da tipologia do conhecimento, elaboraram o que entitulam “conversão do
conhecimento” e “criação do conhecimento”. Eles mencionam que as possíveis
interações do conhecimento tácito com o explícito podem ser realizadas por meio
dos quatro modos de conversão: socialização, externalização, internalização e
combinação.
Davenport e Prusak também tiveram uma quantidade significativa de citações
na literatura. Eles mencionam que o tema conhecimento não é novidade, pois este já
possuía sua valorização antes mesmo das primeiras menções à terminologia GC.
Porém, para eles a temática do gerenciamento do conhecimento é algo inovador e
necessário para as organizações, tendo a GC, a geração, codificação e transferência
do conhecimento como um conjunto de atividades vinculadas. Davenport e Prusak
afirmam que a noção da importância do conhecimento nas organizações, que
corresponde a um ativo intangível, irá propiciar a elaboração de metas estratégicas
mais amplas, tendo como exemplo o resultado das organizações que utilizaram do
conhecimento no seu processo de aprendizagem organizacional.
60
Outro autor que teve sua importância destacada foi Sveiby que direciona seu
estudo da GC para o conhecimento do ser humano, que ele chama de ativo
intangível. Seu objetivo é a valorização desse ativo na organização. Já Terra vincula
a GC com competência e capacidade inovadora. Os demais autores analisados
agregam algumas abordagens e informações sobre o tema, mas nada que
acrescente ao essencial da análise que se encontra em Polanyi, Nonaka e Takeuchi,
Davenport e Prusak, Sveiby e Terra.
Embora se fale muito em GC, alguns autores como Von Krogh, Ichijo e
Nonaka (2001), afirmam que não se gerencia o conhecimento, apenas capacita-se
para o conhecimento. Como observa Faria (2011a),
o gerenciamento da capacitação do conhecimento é a forma mais aguda de
controle e seleção do que deve ser conhecido pelos trabalhadores em
benefício da organização. Esta observação aparentemente singela de Von
Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) é bastante reveladora da prática da
dominação nas organizações.
Essa abordagem da gestão da capacitação é também mencionada por
Alvarenga Neto (2005, 152), que conclui
que não se gerencia o conhecimento, apenas se promove ou se estimula o
conhecimento através da criação de um contexto organizacional favorável”.
E complementa que “a gestão do conhecimento assume o significado de
uma gestão de e para o conhecimento.
Em ambos os casos, como se pode notar, o projeto da organização é o que
prevalece.
Na leitura da literatura acadêmica, três autores chamaram atenção devido à
critica que fazem à GC. Os primeiros, Ajamal e Koskinen (2008) 4 apud Macau,
Muranot e Nakagawa (2009, p. 2) entendem que:
Na transferência de conhecimento sobre uma perspectiva de cultura
organizacional, onde a gestão do conhecimento é freqüentemente
insuficiente. [...] O conhecimento criado num projeto é posteriormente
omitido ou perdido, fruto muito mais de fatores culturais do que de
negligências tecnológicas.
Outra crítica à GC foi feita por Stacey (2001) citado por CASTRO; OLIVEIRA
JR. (2008, p.4), que afirma que a GC é “inconcebível”. No seu ponto de vista:
4
AJMAL, M. M.; KOSKINEN, K. U. Knowledge transfer in project based organizations: an organizational culture
perspective. Project Managemente Journal, March, 2008.
61
O conhecimento emerge numa conversação entre humanos, não é uma
coisa em si. É um processo contínuo de entendimento, em que este só
surge se houver interação. Não é possível, por isto, controlar o saber, nem
geri-lo. [...] É impossível transformar conhecimento tácito em conhecimento
explícito. [...] A discussão sobre gestão do conhecimento é um modismo.
Já Vasconcelos (2001), observa que para se gerir conhecimento seria
imprescindível antes a gestão da ignorância, ou seja, antes de gerenciar o
conhecimento seria salutar a gestão do que não se sabe (ignorância). Ainda que
esta observação pareça interessante, o mesmo decorre ou de um sofismo ou de
uma concepção equivocada, segundo o qual há uma certeza de que se sabe o que
se acredita que se sabe e que, portanto, a ignorância (não saber) é um vazio a ser
preenchido de forma bancária, como criticava Paulo Freire, por um saber
gerenciável.
62
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo principal estudar como a Gestão do
Conhecimento é concebida nos estudos acadêmicos brasileiros, no que se refere ao
conhecimento tácito e explícito.
De acordo com as obras consultadas, entende-se que o conhecimento é
criado por indivíduos de maneira coletiva5.
A organização não consegue criar
conhecimento sem indivíduos. Para tanto, deve motivá-los, apoiá-los e proporcionar
condições para a criação do conhecimento. E nesse contexto surge a GC.
A GC pode ser considerada, nestas obras, como uma busca de equilíbrio
entre a utilização das experiências adquiridas e a exploração de novos
conhecimentos.
Essa busca pode ser proporcionada através criação de uma
ambiente que favoreça a comunicação e as condições necessárias à criação,
transferência e compartilhamento do conhecimento.
Segundo os diversos autores aqui estudados, pode-se afirmar que a GC
permeia as relações dentro da organização (interligando a GC a outros temas como
TI, cluster, aprendizagem organizacional, etc.), corroborando a certeza de que o
conhecimento é o principal recurso da organização e também um expressivo
potencializador de outros recursos (novos conhecimentos, novos produtos).
Para Faria (2011 a) “estas concepções gerencialistas dos ideólogos do capital
conseguem transformar algo que é da condição humana em um simples recurso
estratégico para a competitividade empresarial. A reificação desumanizadora, com
anos de ciência, não é senão a reafirmação do poder e do controle do capital sobre
os processos e a organização do trabalho.”
Esta pesquisa também indicou que ainda existem muitas lacunas a serem
discutidas no que ser refere à GC do ponto de vista da própria GC. Verifica-se que
são diversos os autores que abordam o assunto, porém nota-se que a GC encontrase ainda em processo de construção. Isso pode ser confirmado pela quantidade
ainda incipiente de obras publicadas sobre o tema, tendo acontecido uma maior
5
A rigor, a criação é coletiva, social e histórica. Contudo, esta não é a interpretação dos autores da área de
estudos organizacionais, especialmente os de concepção gerencialista.
63
frequência a partir de 2006 nas publicações do ENANPAD, seguida de certa redução
em 2010 no mesmo encontro. Outro dado que permite essa afirmação encontra-se
nas referências utilizadas nas publicações, isto é, em quase todos os artigos verificase o predomínio dos mesmos autores, salvo os que abordaram um estudo de caso
de alguma empresa de ramo de atuação definido em que foram inseridos alguns
outros autores com abordagens específicas. Alguns dos artigos pesquisados não
tratam do tema GC propriamente dito, mas correlacionam-no com outras áreas de
pesquisa.
Verificou-se que em um universo de 68 (sessenta e oito artigos) apenas 7
(sete) tratavam do tema de maneira teórica. Os demais trataram do tema por meio
de pesquisas empíricas, principalmente utilizando-se de estudo de caso.
Um fato importante e necessário de ser mencionado, é que durante o período
de estudo dos artigos constatou-se que muito se fala que compartilhamento,
conversão, transferência e criação do conhecimento podem ser conseguidos por
meio de um ambiente favorável. Porém não se explicita como alcançar efetivamente
tal ambiente, especialmente quando se afirma que o conhecimento principal de uma
organização é o tácito, ou seja, o que pertence ao ser humano, que está alojada na
mente das pessoas. Se esse conhecimento está na mente das pessoas, seria
apenas um contexto capacitante suficiente para torná-lo explícito?
Entende-se aqui, como sugere Faria (2011a), que “a explicitação do
conhecimento tácito requer muito mais do que um contexto capacitante, pois este
processo é bem mais complexo e profundo do que está contido na lógica da
capacitação”. Os argumentos que subsidiam os trabalhos estudados possuem, de
fato, uma fonte componente operacional.
Torna-se necessário mencionar que em muitas obras, tanto o conhecimento
tácito como o conhecimento explícito foram citados, mas não explorados, ou mesmo
trabalhados. Ainda que tenham sido citados na fundamentação teórica, não foram
explorados no estudo de caso.
Para a elaboração desta pesquisa, foi determinado qual seria o objetivo
principal, mediante o qual, foram traçados os instrumentos teóricos e metodológicos
para sua construção. Porém, no decorrer do trabalho, um fato se tornou de extrema
relevância. Como citado anteriormente, as obras do autor Michael Polanyi são de
64
significativa importância, pois serviram de embasamento teórico para diversos
autores que foram citados no corpo deste trabalho, bem como nos artigos
pesquisados. Porém, durante a leitura e análise desses artigos verificou-se que
Polanyi não foi utilizado para a elaboração dos mesmos na proporção da
importância de suas obras, ou seja, os autores dos artigos utilizaram-se de outros
autores que tiverem a construção de suas obras embasadas pelas obras de Polanyi,
sem se preocuparem em recorrer à origem. Assim sendo, apropriaram-se do
conhecimento de Polanyi por meio de “intermediários”.
De acordo com Faria (2011a),
este processo pode ser chamado de “efeito apud”, em que a transcrição de
conceitos atribuídos a um autor, de fato pertence a outro autor no qual
aquele se baseou. O “efeito apud” decorre da superficialidade no trato dos
conceitos de leituras através de “intermediários” sem que se vá à fonte
original e de consultas apressadas a “textos populares”, enfim decorre de
uma absoluta ausência da historicização e da problematização conceitual.
Este estudo, portanto, buscou apresentar o estado da arte sobre os estudos
de GC principalmente no que tange ao conhecimento tácito e conhecimento explícito
nos artigos acadêmicos brasileiras nos últimos dez anos. Acredita-se que esta
pesquisa contribuirá de alguma forma para a compreensão sobre com vêm sendo
realizados esses estudos no Brasil. Se esta pesquisa conseguiu mostrar como se
encontra a produção acadêmica sobre GC levando-se em conta as dimensões tácita
e explícita e quais as limitações que a mesma apresenta, então o objetivo proposto
foi atingido.
65
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70
APÊNDICE 01
71
LISTA DE ARTIGOS
- Gestão do Conhecimento: o conhecimento como fonte de vantagem competitiva
sustentável.
Autoria: Ricardo Lanna Campos e Francisco Vidal Barbosa
- Gestão do conhecimento: um estudo comparativo Brasil x Estados Unidos
Autoria: Wagner Bronze Damiani
- Gestão do conhecimento para o processo de inovação: o caso de uma empresa
brasileira
Autoria: Adelaide Maria Coelho Baêta, Angela Melo Martins, Flavia Maria Coelho
Baêta
- Avaliação da gestão do conhecimento em entidades filantrópicas: proposta para uma
organização hospitalar.
Autoria: Romualdo Douglas Colauto, Ilse Maria Beuren
- Estudo dos métodos e posicionamento epistemológico na pesquisa de aprendizagem
organizacional, competência e gestão do conhecimento.
Autoria: Claudia Simone Antonello
- Indicadores para o processo de gestão do conhecimento: a visão de especialistas.
Autoria: Vanessa Goldoni, Mirian Oliveira
- O conhecimento organizacional em equipes virtuais: um estudo de caso na equipe de
Help Desk da Copel.
Autoria: Sergio Augusto Mota, Joazir Nunes Fonseca
- Avaliando o processo de gestão do conhecimento em uma empresa do setor
bancário.
Autoria: Rodrigo Pinto Leis, Marco V. Zimmer, Lilia Maria Vargas
- Gestão do conhecimento na administração pública: estagio de implantação, nível de
formalização e resultados das iniciativas do governo federal brasileiro.
Autoria: Carlos Olavo Quandt, José Claudio Cyrineu Terra, Fábio Ferreira Batista
72
- Intersecções necessárias entre a gestão estratégica, a gestão do conhecimento e o
desenvolvimento organizacional.
Autoria: Isabel Cristina dos Santos, Marcio da Silveira Luz
- As práticas e ferramentas da gestão do conhecimento auxiliam na gestão da
interação universidade-empresa? Fundamentando e apresentando a hipótese.
Autoria: Reinaldo Cherumbi Neto
- Existe gestão do conhecimento no planejamento de demanda? Um estudo
multicasos.
Autoria: Andre Eduardo Miranda dos Santos, Silvio Popadiuk
- Mapeamento da produção acadêmica em gestão do conhecimento no âmbito do
Enanpad: uma análise de 2000 a 2006
Autoria: Jane Lucia Silva Santos, Leonardo Leocadio Coelho de Souza, Gergorio
Jean Varvakis Rados, Francisco Antonio Pereira Fialho
- Gestão do conhecimento e da informação: revisão da produção cientifica do período
de 2000-2005
Autoria: Daniela Giareta Durante, Silvia Augusta Shissi Maurer
- A gestão do conhecimento sob uma perspectiva teórica e de aplicação: o caso da
Andrade Gutierrez
Autoria: João Francisco de Toledo, Sergio Feliciano Crispim
- Análise do processo de gestão do conhecimento em uma indústria metal-mecânica:
diferenças entre os níveis tático e operacional
Autoria: Marcia Zampieri Grohmann, Gilmar Luiz Colombelli
- Análise da participação da intranet na criação de conhecimento à luz do modelo 4I;
Autoria: Elano Dantas Rodrigues, Érico Veras Marques
- O papel de um centro de informações no processo de gestão do conhecimento de
uma escola de negócios – um estudo de caso
Autoria: Maria Bernadette Amancio de Sá Alves, Jorge Tadeu de Ramos Neves
73
- Da gênese à revelação – a gestão do conhecimento no contexto organizacional
brasileiro: em estudo de caso no centro de tecnologia canavieira (CTC)
Autoria: Rivadavia Correa Drummond de Alvarenga Neto
- Compartilhamento do conhecimento: um estudo sobre os fatores facilitadores
Autoria: Gustavo Buoro, Fabio Lotti Oliva, Silvio Aparecido dos Santos
- Reflexões teórico-metodológicas para a proposição de um modelo de mapeamento
do conhecimento
Autoria: Paulo Sergio Altman Ferreira
- Gestão do conhecimento organizacional no nível técnico-gerencial de uma empresa:
um estudo do Serpro-Recife
Autoria: Rezilda Rodrigues Oliveira, Bartolomeu de Figueiredo Alves Filho
- Fatores
estratégicos para
a gestão
do conhecimento
em
uma
empresa
desenvolvedora de software
Autoria: Antonio Furlanetto, Mirian Oliveira
- A gestão por competências como precursora da gestão do conhecimento: survey em
médias e grandes organizações
Autoria: Rodrigo Baroni de Carvalho, Marta Araujo Tavares Ferreira, Zelia Kilimnik
- Resultado do levantamento de tendências em gestão do conhecimento no Brasil
Autoria: Jaqueline Santos Barradas, Luiz Alberto Nascimento Campos Filho
- Criação e difusão do conhecimento no cluster de elastômeros do Vale dos Sinos no
Rio Grande do Sul
Autoria: Janine Pohlmann Strauch, Luis Carlos Zucatto
- A propriedade intelectual como elemento da gestão do conhecimento: o que
compartilhar?
Autoria: Isamir Machado de Carvalho, Viviane Muniz Veras
74
- Mapas de conhecimento: em busca de um instrumento de aplicação nas
organizações para operacionalização da gestão do conhecimento
Autoria: Paulo Sergio Altman Ferreira, Fátima Bayma de Oliveira
- Gestão do conhecimento em arranjos produtivos locais estudo de caso do pólo
brasileiro de cosméticos de Diadema
Autoria: Zacarias Gonçalves de Oliveira Junior, Dagmar Silva Pinto de Castro
- Gestão da criação do conhecimento na indústria criativa de software
Autoria: Marcos Antonio Gaspar, Denis Donaire, Maria Conceição Melo Silva,
Carolina de Fátima Marques Maia, Eduardo Vilas Boas
- Contribuição da gestão do conhecimento para a aprendizagem organizacional sob
uma abordagem institucional: apontamentos de um estudo de caso em uma indústria
vinícola do Rio Grande do Sul
Autoria: Samir Adamoglu de Oliveira, Sandra Leandro Pereira
- Práticas gerenciais como instrumento de gestão do conhecimento: um estudo de
caso comparativo entre empresas certificadas e empresas não certificadas do
segmento de rochas ornamentais no Estado do Espírito Santo
Autoria: Ivana Emerick de Barros Soares, Ricardo Daher Oliveira, Idália Antunes
Cangussu Rezende
- Transmissão de conhecimento numa firma de consultoria
Autoria: Renata Mitiko Muramoto, Thomas Kiyoshi Longo Nakagawa, Flavio Romero
Macau
- Análise da criação de conhecimento em clusters industriais: um estudo de caso no
setor de biotecnologia
Autoria: Dalton Chaves Vilela Junior, Lilia Maria Vargas
- A criação de conhecimento em diferentes dimensões no contexto de um cluster
industrial: um estudo de caso
Autoria: Dalton Chaves Vilela Junior, Corinne Grenier, Lilia Maria Vargas
75
- Análise de modelos de estágios de gestão do conhecimento: o caso de organizações
em Portugal e no Brasil
Autoria: Mirian Oliveira
- Fatores relevantes à transferência de conhecimento tácito em organizações: um
estudo exploratório
Autoria: Luiz Antonio Joia, Bernardo Noronha Lemos
- Espiral do conhecimento em frameworks de gestão do conhecimento: o caso de duas
organizações em Portugal
Autoria: Mirian Oliveira, Grace Vieira Beeker, Cristiane Drebes Pedron, Felipe
Silveira Dalligna
- Gestão do conhecimento em multinacionais: o ambiente organizacional como
instrumento disseminador
Autoria: Julio Araujo Carneiro da Cunha, César Akira Yokomizo, Gustavo de Almeida
Capellini
- Gestão do conhecimento: orientação para o mercado, inovatividade e resultados
organizacionais: um estudo em empresas instaladas no Brasil
Autoria: Alex Antonio Ferraresi, Silvio Aparecido dos Santos, José Roberto Frega,
Heitor José Pereira
- O processo de gestão do conhecimento em redes interorganizacionais: um estudo
com empresas juniores de Minas Gerais
Autoria: Fernanda Tavares Silva, Moisés Habib Bechelane Maia, Wellington Tavares,
Nathália de Fátima Joaquim
- Gestão do conhecimento nas escolas técnicas profissionalizantes: as escolas
ensinam, mas como será que aprendem?
Autoria: Gilmar Luiz Colombelli, Adriana Porto, Graziela Dias de Oliveira
- Estado-da-arte sobre a produção cientifica brasileira em gestão do conhecimento: um
estudo em periódicos nacionais e nos anais do Enanpad no período de 1997 a 2006
Autoria: Marcos V. Zimmer, Rodrigo Pinto Leis
76
- Investigação sobre gestão do conhecimento, aprendizagem e tecnologia da
informação na base Scielo
Autoria: Wagner Igarashi, Deisy Cristina Correa Igarashi, Jose Leomar Todesco
- Portais corporativos: uma ferramenta para a gestão do conhecimento sobre clientes
Autoria: Iraja Noble Junior, Cristiane Drebes Pedron
- Aproximando a engenharia do conhecimento e a gestão do conhecimento: a
utilização de novos conceitos no desenvolvimento de sistemas
Autoria: Rodrigo Antonio Silveira dos Santos, Roberto Carlos dos Santos Pacheco,
Neri dos Santos, Rudimar Antunes da Rocha, Cristiano José Castro de Almeida
Cunha
- Uma avaliação de soluções de software de CRM sob a ótica da gestão do
conhecimento
Autoria: Laura Aguiar Ferreira, Leonardo Lemos da Silveira Santos
- Aspectos críticos ao processo de gestão do conhecimento a partir da decomposição
e análise de competências individuais e organizacionais
Autoria: Jose Osvaldo de Sordi, Marcia Carvalho de Azevedo
- Indicadores para a avaliação da gestão do conhecimento em empresas de
desenvolvimento de software
Autoria: Vanessa Goldoni, Mirian Oliveira
- Diferenças na gestão do conhecimento entre os níveis gerencial e operacional:
aspectos de criação, conversão, utilização e proteção do conhecimento
Autoria: Marcia Zampieri Grohmann, Gilmar Luiz Colombelli
- Percepção dos gerentes acerca do modelo de gestão do conhecimento adotado pelo
Serpro
Autoria: Maria de Lourdes Fatima Peregrino Maia Alves, Rezilda Rodrigues Oliveira
- Avaliação do nexo causal entre a gestão do conhecimento e a certificação ISSO
9001:2000, o porte a localização das empresas
77
Autoria: Juselli de Castro Nazaré, Nadir Salvador, Ricardo Daher Oliveira, Antonio
Paula Nascimento, Tania Eliete Alves Oliveira Telles
- Atributos para avaliação da qualidade da informação em sistemas de gestão do
conhecimento
Autoria: Ana Lucia Batista Trindade, Mirian Oliveira
- Aspectos críticos da gestão do conhecimento (das pessoas) para a gestão de
pessoas
Autoria: Adriadne Scalfoni Rigo, Nelson Alves de Souza Filho, Denise Clementino de
Souza
- Criação de conhecimento nas redes de cooperação interorganizacional
Autoria: Alsones Balestrin, Lilia Maria Vargas, Pierre Fayard
- Gestão do conhecimento e formação capacidade em bancos
Autoria: Ricardo Uhry, Sergio Bulgacov
- Gestão do conhecimento e das competências gerenciais: um estudo de caso na
indústria automobilística
Autoria: Adriane Vieira, Fernando Coutinho Garcia
- Gestão do conhecimento usando data mining: estudo de caso na Universidade
Federal de Lavras
Autoria: Olinda Nogueira Paes Cardoso, Rosa Teresa Moreira Machado
- Valores organizacionais e criação do conhecimento organizacional inovador
Autoria: Lilian Aparecida Pasquini Miguel, Maria Luisa Mendes Teixeira
- Um modelo para o compartilhamento de conhecimento no trabalho
Autoria: Helena Correa Tonet, Maria das Graças Torres da Paz
- Proposta para avaliação da gestão do conhecimento em entidade filantrópica: o caso
de uma organização hospitalar
Autoria: Romualdo Douglas Colauto, Ilse Maria Beuren
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- Conhecimento, inovação e competência em organizações financeiras: uma análise
sob o ponto de vista de gestores de bancos
Autoria: Marcel Ginotti Pires, Reynaldo Cavalheiro Marcondes
- Evidências empíricas do impacto das capacidades organizacionais de conhecimento
no desempenho organizacional das redes interorganizacionais
Autoria: Rodrigo Pinto Leis, Lilia Maria Vargas, Walter Baets
- A gestão do conhecimento: conectando estratégia e valor para a empresa
Autoria: William Sampaio Francini
- Proposta de uma perspectiva baseada na gestão do conhecimento para avaliação da
ferramenta de business process management system (BPMS)
Autoria: Alessandro Marcus Afonso de Oliveira, Rodrigo Baroni de Carvalho, George
Leal Jamil, Juliana Amaral Baroni de Carvalho
- Sociedade da informação e gestão do conhecimento: o caso Serpro
Autoria: Claudio Bezerra Leopoldino, Julio Cesar Andrade de Abreu, Daniel Reis
Armond de Melo
- A gestão do conhecimento nos programas de logística reversa da USP e UFSCAR
Autoria: Leandro Martines Piassi, Edson Martins de Aguiar, Liliane de Queiroz
Antonio
- Gestão do conhecimento em instituições de ensino superior privado: um estudo no
curso de Psicologia do Unipê
Autoria: Tereza Evâny de Lima Renor Ferreira, Marcio Reinaldo de Lucena Ferreira
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ANA CAROLINA RESENDE DE MELO BUSTAMANTE