Alterações na expressão de receptores de células natural
killer (NK) na evolução de síndrome mielodisplásica (SMD)
para leucemia mielóide aguda (LMA) após transplante de
células tronco hematopoéticas (TCTH).
1,2
1
1
1
1
Aline Almeida-Oliveira , Monique Smith , Karen Wagner-Souza , Teresa de Souza Fernandez , Fernanda Nahoum Carestiato , Maria Kadma
3
1
4
5
1
da Silva Carriço , Eliana Abdelhay , Luis Fernando Bouzas , Maria Helena Ornellas , Hilda Rachel Diamond
1
2
Divisão Laboratorial – Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO) – Instituto Nacional de Câncer (INCA). Programa de Biofármacos - Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
3
4
Serviço de Hematologia – INCA Direção do CEMO – INCA
5
Patologia Geral – Faculdade de Ciências Médicas – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
A síndrome mielodisplásica (SMD) é caracterizada por uma falha progressiva da medula óssea
(MO) e a transformação para leucemia mielóide aguda (LMA) ocorre em cerca de 30% dos casos.
Evidências sugerem que células do sistema imune possam estar envolvidas na patogenia da SMD.
As células natural killer (NK) fazem parte da imunidade inata e têm papel crítico na defesa contra a
dim
transformação maligna. Elas são divididas nos subtipos CD56 responsável pela citotoxicidade
bright
natural (>90% das células NK do sangue) e CD56 responsável pela produção de citocinas.
Estas células reconhecem seus alvos através de receptores inibidores e ativadores,
principalmente das famílias: killer immunoglobulin-like receptor (KIR), citotoxicidade natural
(NCR) e da lectina tipo C. Foi demonstrada na literatura a redução da atividade NK em pacientes
com SMD, mas os mecanismos envolvidos ainda não estão elucidados. Uma possível explicação
seria alterações nos receptores de células NK que reconhecem as células alvo, já que a atividade
citotóxica é controlada por sinais ativadores e inibidores gerados por estes receptores. O objetivo
foi estudar a expressão destes receptores em células NK e seus subtipos na evolução de SMD
para LMA.
dim
Tabela 1 - Comparação de percentual de células CD56, NK e subpopulações CD56 e CD56
entre grupo de adultos saudáveis e com a paciente do estudo de caso nas fases de SMD e LMA
HISTÓRIA CLÍNICA:
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Não houve alteração no percentual de células NK em nenhuma fase da doença, mas houve
dim
bright
redução do subtipo CD56 e aumento do CD56 na fase de LMA (tabela 1). Foram observadas
alterações complexas na expressão de receptores de células NK (tabela 2). Na fase de SMD, as
dim
células NK e o subtipo CD56 apresentaram redução da expressão de CD335 e CD337 da
família NCR e de CD94 da lectina tipo C. Estes receptores têm papel crucial na atividade antitumoral. Diferente do esperado, na fase de leucemia houve recuperação parcial na expressão de
dim
CD335, mas não de CD94 e CD337 nas células NK e no subtipo CD56 . Houve também uma
perda da diversidade de receptores KIR na fase de LMA nestas populações, sugerindo uma
expansão clonal de células NK. Estes resultados sugerem uma tentativa da recuperação das
células NK para impedir a evolução da doença. No entanto ocorreu uma recuperação parcial, o
que pode estar associado ao mau prognóstico devido a monossomia do cromossomo 7. Diferente
das células NK e o subtipo CD56dim, as células CD56bright apresentaram redução de todos os
Paciente na fase de
LMA**
Células NK
9,06
(2,59-20,94)
8,35
8,16
Células CD56dim
94,72
(86,83-98,45)
98,08
85,86
Células CD56bright
5,29
(1,55-13,17)
1,92
14,14
*Os valores estão apresentados como medianas seguidas do mínimo e máximo.
** valores percentuais observados na técnica de citometria de fluxo
Estão destacados em negrito os valores encontrados para a paciente que estão fora dos limites considerados saudáveis
determinados pelo mínimo e máximo dos controles da mesma faixa etária.
Tabela 2 - Comparação de percentual de expressão de receptores de células NK em células NK
dim
bright
e subpopulações CD56 e CD56 entre grupo de adultos saudáveis e com a paciente do estudo
de caso nas fases de SMD e LMA
Células
NK
Foi analisada por citometria de fluxo a expressão de receptores KIR (CD158a, CD158b, CD158e
e CD158i), NCR (NKp30, NKp44 e NKp46) e lectina tipo C (CD94 e NKG2D) nas células NK e
seus subtipos em dois momentos: pré TCTH com diagnóstico de SMD e pós TCTH com
diagnóstico de LMA.
Paciente na fase de
SMD**
Doadores saudáveis
(adultos)*
Fase de SMD**
Fase de LMA**
CD158a
20,21
(3,14-61,97)
3,59
32,63
CD158b
25,35
(10,87-60,16)
32,35
69,37
KIR
CD158e
7,41
(0,26-25,88)
15,49
1,24
Células
CD56dim
METODOLOGIA:
Doadores saudáveis
(adultos)*
Doadores saudáveis
(adultos)*
Fase de SMD**
Fase de LMA**
21,29
(3,18-64,38)
3,37
38,21
26,16
(11,34-60,51)
33,05
80,92
7,58
(0,29-26,55)
15,42
0,68
53,83
(24,69-79,12)
50,46
83,76
14,81
(0,38-58,37)
15,04
0,94
77,82
(41,30-94,11)
9,78
38,10
0,67
(0,04-2,08)
1,65
0,38
65,33
(10,13-99,11)
9,14
7,45
55,99
(25,19-96,91)
14,65
7,17
91,74
(64,76-99,73)
95,69
94,38
Células
CD56bright
A paciente recebeu diagnóstico de anemia aplástica em 1993. A partir de 2003, foram detectados
clones de hemoglobinúria paroxítica noturna (HPN) por citometria de fluxo. Até 2004 a paciente
apresentava cariótipo normal. Em 2005 ela evoluiu para SMD (29 anos), adquirindo uma
aberração citogenética, a monossomia do cromossomo 7. Três anos depois, ainda com
diagnóstico de SMD, foi submetida a um TCTH não aparentado, atingindo 100% de quimerismo
do doador no sangue periférico. Oito meses após o TCTH ela desenvolveu LMA, passando a
apresentar um percentual maior de células com monossomia do cromossomo 7 e 10% de
quimerismo do doador na medula óssea. A paciente foi encaminhada para tratamento com
quimioterapia e o óbito ocorreu apenas 1 mês depois do diagnóstico de LMA
bright
Doadores saudáveis
(adultos)*
Fase de SMD**
Fase de LMA**
4,20
(0,00-13,03)
10,47
1,18
4,80
(0,00-20,50)
6,98
0,53
2,20
(0,00-10,09)
19,72
2,23
9,95
(3,19-28,10)
35,24
15,60
6,18
(0,00-16,36)
6,90
3,23
97,63
(78,81-100,00)
80,65
99,04
0,00
(0,00-5,71)
21,84
2,62
98,02
(19,79-100,00)
53,58
27,22
96,77
(74,07-100,00)
67,95
92,72
98,91
(85,47-100,00)
98,20
98,98
KIR (a,b,e)
52,59
(22,68-77,08)
50,92
73,14
CD158i
14,55
(0,73-57,35)
14,50
1,68
CD335
79,25
(41,46-94,10)
14,42
47,75
NCR
CD336
0,48
(0,04-4,32)
1,88
0,68
CD337
64,55
(11,04-99,15)
5,09
9,94
Lectina C
CD94
CD314
57,26
91,84
(25,38-97,23)
(65,41-99,75)
96,02
16,02
95,53
20,65
*Os valores estão apresentados como medianas seguidas do mínimo e máximo.
** valores percentuais observados na técnica de citometria de fluxo.
Estão destacados em negrito os valores encontrados para a paciente que estão fora dos limites considerados saudáveis
determinados pelo mínimo e máximo dos controles da mesma faixa etária
CONCLUSÃO:
Este estudo de caso foi importante por se tratar do primeiro relato da literatura de alterações na
expressão de receptores células NK, em diversas populações de células, na evolução de SMD para
LMA, o que pode estar relacionado com o papel fisiopatológico destas células nesta doença.
Endereço para correspondência: [email protected] e [email protected]
Projeto Gráfico: Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica / CEDC / INCA
INTRODUÇÃO:
receptores KIR na fase de leucemia em comparação com a fase de SMD, embora dentro dos
limites considerados normais. Com relação à família NCR, na fase de SMD foi encontrada uma alta
expressão de CD336, marcador exclusivo de células NK ativadas, sugerindo um aumento na
bright
ativação das células CD56 nesta fase da doença. Outra alteração encontrada na fase de SMD foi
à redução do CD94 da família da lectina tipo C. No entanto, estas alterações de CD336 e CD94
não foram encontradas no subtipo na fase de LMA. .
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Aline Oliveira