A Filosofia surgiu na Grécia antiga por volta dos séculos VII e VI a.C., conhecida como pré-socrática, representou um esforço de racionalização para desvincular-se do pensamento mítico. Questões cosmológicas. Naquele período filosofia e ciência ainda estavam vinculadas. No Egito, os funcionários do faraó sabiam redividir as terras após o refluxo das cheias do Nilo, o que supõe conhecimento de geometria. Hindus e chineses também distinguiam diversas propriedades geométricas, mas sempre visando aplicação prática. Foram os filósofos pré-socráticos os primeiros a transformarem o conhecimento empírico por meio de de demonstrações racionais, desenvolvendo assim a geometria de forma abstrata. Com a medicina ocorreu semelhante processo de racionalização da prática, ao desvincular-se das superstições e da magia, a partir da atuação de Hipócrates (séc. V a.C.), conhecido como o “pai da medicina”. Ainda hoje ele é lembrado no tradicional “juramento hipocrático”, o comprometimento ético dos profissionais da saúde no exercício de sua atividade. A concepção científica de Platão (427-347 a.C.) baseia-se na sua teoria das ideias. Para que o processo do conhecimento seja alcançado, é necessário o estudo da matemática. “Não entre aqui quem não souber geometria”. A matemática descreve as realidades não sensíveis e é capaz de se dissociar dos sentidos e da prática. Conciliou as teorias de Heráclito (tudo está em constante movimento) e a de Parmênides (o ser é imóvel). Para os gregos antigos a matéria é eterna, não criada, e Platão atribui a um Demiurgo, princípio divino que organiza a matéria preexistente, a função de pôr ordem no caos inicial. Para transformar o caos em cosmo, o Demiurgo contempla os modelos do mundo das ideias para criar a Alma do Mundo. Isso significa que, para Platão, o mundo sensível é cópia do mundo inteligível. Platão descreve o Universo como um ser vivo, esférico, uno e indivisível. No centro encontra-se a Terra, imóvel, em torno da qual giram o Sol, a Lua e os planetas, em movimentos circulares e uniformes. Platão enfatiza a ligação do microcosmo com o macrocosmo. Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, foi suficientemente crítico para ir além do mestre. Recusou o mundo separado das ideias platônicas, voltando-se para a realidade concreta. Para ele, a matemática só nos diz sobre a quantidade, mas não explica a natureza das coisas. Recorre à observação, habilidade que desenvolveu nos seus estudos de física, astronomia e biologia e a um instrumento que ele próprio aperfeiçoou para garantir o rigor de sua argumentação: a lógica. A física grega abrange todos os seres da natureza. Segundo Aristóteles, o movimento é a transição do corpo que busca o estado de repouso, no seu lugar natural. Utiliza-se da teoria dos quatro elementos para explicar como os corpos se encontram em constante movimento retilíneo em direção ao centro da Terra ou em sentido contrário a ele. Ou seja: Os corpos pesados (graves), como a terra e a água, tendem para baixo, pois esse é o lugar natural; Os corpos leves, como o ar e o fogo, tendem para cima. A partir dessa teoria, Aristóteles explica a queda dos corpos: um corpo cai porque sua essência é tender para baixo e seu movimento só é interrompido se algo impedir seu deslocamento. Enquanto o movimento natural é o da pedra que cai, do fogo que sobe, o movimento violento é o da pedra lançada para cima, da flecha arremessada pelo arco. Esse movimento necessita, durante toda sua duração, de um motor unido ao móvel, já que, suprimido o motor, o movimento cessará. Ao lançar a pedra, a mão comunica o seu próprio poder ao ar próximo a ela, provocando um turbilhão que mantém a pedra em movimento. Esse poder, comunica-se por contiguidade e, como a intensidade diminui a cada transmissão, o movimento acaba cessando. Assim, pelo movimento natural, o corpo retorna ao lugar natural. A ciência grega é, portanto, qualitativa – não faz uso da matemática, como ocorrerá na modernidade - , porque sua argumentação baseia-se na análise das propriedades intrínsecas dos corpos, nas suas essências. Diante do fenômeno da queda dos corpos, Aristóteles pergunta “por que um corpo cai?” e não “como cai?”. Se fizesse essa última pergunta, procederia à descrição do fenômeno, processo que só foi iniciado por Galileu, no século XVII. Explique por que essa diferença é fundamental para distinguir a ciência antiga da contemporânea. Criado em uma família de médicos, herdou o gosto pelo assunto e em suas viagens observou atentamente uma infinidade de animais. Um dos grandes estudiosos da filosofia grega, o escocês William D. Ross, diz que Aristóteles estava muito adiantado para a época devido ao seu poder de observação, e lembra o testemunho elogioso de Charles Darwin sobre o talento daquele filósofo. É notável o trabalho pelo qual classificou cerca de 540 espécies de animais, estabeleceu relação entre eles, embora reconhecesse as dificuldades representadas por essa tarefa. A partir de dois grandes grupos, dos animais sanguíneos e não sanguíneos – que correspondem ao que chamamos de vertebrados e invertebrados -, Aristóteles identificou os diversos gêneros e, nestes, as diversas espécies. Devemos a Aristóteles a descrição da evolução embrionária do pinto, os costumes das abelhas, o acasalamento dos insetos. Realizou inúmeras observações sobre a vida marinha e descobriu que a baleia é um mamífero. Não obteve tanto sucesso na fisiologia humana, porque na época não se faziam dissecações em cadáveres. Do mesmo modo que todo corpo pesado tende para baixo, que é seu lugar natural, para Aristóteles também os seres vivos tendem a atingir a forma que lhes é própria e o fim a que se destinam. Assim, a semente tem em potência a árvore que virá a ser, as raízes adentram no solo com o fim de nutrir a planta, os patos têm pés com membranas porque têm como fim nadar. O fim explica o meio – essa teoria marca a ciência grega como sendo teleológica. A observação do movimento dos astros é muito antiga. Povos como os babilônios já manifestavam esse interesse dois ou três mil anos antes de Cristo. Com frequência esses conhecimentos eram usados na astrologia para prever o destino, fundamentados na relação entre os astros e o comportamento humano. Os gregos privilegiam o círculo como forma perfeita, diferente do movimento retilíneo dos corpos terrestres. O movimento circular não tem início nem fim, porque volta sobre si mesmo e continua sempre, é movimento sem mudança. Acrescente-se a isso a concepção do Universo finito, limitado pela esfera do Céu, fora do qual não há lugar, nem vácuo, nem tempo. Contudo, de onde vem o movimento inicial? Só pode ser de Deus, o Primeiro Motor Imóvel e Ato Puro e que determina o movimento da última esfera, a esfera das estrelas fixas, transmitido por atrito às esferas contíguas, até a Lua, na última esfera interna. No centro acha-se a Terra, também esférica, mas imóvel. Essa tradição começou com Eudoxo (séc. IV a.C.), um dos discípulos de Platão. Foi confirmada por Aristóteles e mais tarde por Cláudio Ptolomeu (séc. II). Além do geocentrismo, outra característica importante na cosmologia aristotélica é a hierarquização do cosmo: o Céu tem uma natureza superior à da Terra. Sob essa perspectiva, o Universo está dividido em: Mundo supralunar - constituído pelos Céus, que incluem, na ordem, a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e, finalmente, a esfera das estrelas fixas: esses corpos são formados por uma substância desconhecida por nós, o éter cristalino, inalterável, imperecível, transparente e imponderável (que não se confunde com a substância química hoje conhecida); O éter é também chamado de quintaessência, em contraposição aos quatro elementos. Os corpos celestes são incorruptíveis, perfeitos, não sujeitos a transformações. O movimento das esferas é circular, o movimento perfeito. Mundo sublunar – corresponde à região da Terra que, embora imóvel, é o local dos corpos em constante mudança, portanto perecíveis, corruptíveis, sujeitos a movimentos imperfeitos, como o retilíneo para baixo e para cima; os elementos constitutivos são os quatro elementos (terra, água, ar e fogo). Ao hierarquizar Céu e Terra os antigos tornavam a astronomia e a física duas ciências distintas. Na Idade Moderna, Galileu, Descartes e Newton “igualam Céu e Terra” e explicam as duas ciências pelas mesmas leis. Embora tenha feito observações pertinentes, Aristóteles não recorreu à experimentação. Metafísica aristotélica. A partir de 338 a. C. Alexandre Magno, ao expandir as fronteiros do império, levou a cultura grega para pontos distantes. Após sua morte e a divisão do império, foi fundado em Alexandria, na foz do Nilo, um avançado centro de estudos formado por escolas de diversas ciências, um museu e a famosa biblioteca, que por muitos séculos atraiu intelectuais de vários locais do mundo. Euclides (320-260 a.C.) fundou e dirigiu a escola de matemática. Sistematizou o conhecimento teórico, dando-lhe os fundamentos ao estabelecer os princípios da geometria. Conceitos primitivos são o ponto, a reta e o plano, que não se definem, enquanto os postulados são enunciados que devem ser aceitos sem demonstração. Exemplo: “uma linha reta pode ser traçada de um para outro ponto qualquer”. A mecânica de Arquimedes Foi outra ciência que se desenvolveu no centro cultural de Alexandria. Suas bases foram estabelecidas por Arquimedes (287-212 a.C.). Construção engenhos mecânicos (catapultas) e incendiando navios por meio de um sistema de lentes de grande alcance. Ao descobrir o princípio da hidrostática, (lei do empuxo), Arquimedes passou da dimensão puramente técnica ou prática para a especulação teórica e científica, que lhe permitiu descobrir princípios fundamentais da mecânica. Redigiu um tratado de estática, formulou a lei de equilíbrio das alavancas e fez estudos sobre o centro de gravidade dos corpos. O matemático, geômetra e astrônomo, Cláudio Ptolomeu representa o mais importante referencial da astronomia geocêntrica da Antiguidade, que exerceria influência durante toda a Idade Média até ser contestada por Copérnico e Galileu. Após o século II d.C. o centro de Alexandria sofreu inevitável estagnação, sendo sua destruição total no século V. Com a queda do Império Romano no Ocidente (séc. V), a religião cristã impôs-se como elemento agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após sucessivas invasões. Seus chefes pouco a pouco converteram-se ao cristianismo e a Igreja tornou-se soberana absoluta da vida espiritual do mundo ocidental. A cultura greco-romana quase desapareceu durante a implantação do modo feudal de produção. Os monges, os únicos letrados guardaram nos mosteiros essa herança cultural. O período medieval estende-se do século V ao XV, no entanto, nem toda a Idade Média é de obscuridade intelectual, uma época de “Trevas”, como se costumou chamar. A expansão árabe teve início no séc. VII, com o movimento islâmico iniciado por Maomé. Do séc. XI ao XV, os reis cristãos do norte expulsaram pouco a pouco os invasores até findar em 1492. Médico, astrônomo e filósofo, respeitado comentarista de Aristóteles, promoveu a retomada do pensamento aristotélico no Ocidente cristão. A cultura árabe exerceu indiscutível influência no desenvolvimento da ciência, inclusive no ocidente, no período do séc. VIII ao XII. Nota-se uma constante no pensamento medieval: a conciliação entre razão e fé. A máxima predominante é “Crer para compreender e compreender para crer” A especulação filosófica, embora distinta da fé, é instrumento dela, é “serva da teologia”. Valorizava o conhecimento teórico em detrimento das atividades práticas. Os instrumentos disponíveis eram rudimentares: não havia dispositivos rigorosos para medir o tempo, os quais se restringiam a ampulhetas, clepsidras (relógios-d’água) e relógios de sol. Nada havia sido inventado para medir a temperatura ou para ampliar a visibilidade. Por isso, a ciência medieval recusou a experimentação e permaneceu qualitativa, como na Antiguidade, mesmo porque os recursos disponíveis da matemática ainda eram incipientes para que se procedesse à matematização. Exemplo: a divisão de MDCXXXII (1.632) por IV é impossível de ser resolvida sem o auxílio do ábaco. Já os algarismos arábicos, apesar de conhecidos desde o séc. X, só tiveram seu uso generalizado no Renascimento. A atividade prática de alquimia surgiu de especulações de artesãos metalúrgicos e constituiu o prelúdio da ciência química. Havia intolerância religiosa para com suas práticas. Muito em voga no séc. XIII, a alquimia foi responsável pela descoberta de novas substâncias químicas, do processo para a extração de mercúrio e das fórmulas para preparar vidro e esmalte, bem como noções sobre ácidos e seus derivados. As técnicas descobertas eram guardadas em segredo e os documentos de difícil leitura, envoltos em uma áurea mística. Teorias antropomórficas (características de seres vivos às substâncias inorgânicas). Por aceitarem que as características e as propriedades de uma substância são determinadas por seu espírito, os alquimistas acreditavam na transmutação, a transferência do espírito de um metal para a matéria de metais comuns. Surgiu daí a busca da “pedra filosofal”, que permitiria transformar qualquer substância em ouro. Outro projeto da alquimia medieval foi a procura do “elixir da longa vida”. Para a Igreja, essas práticas tinham caráter herético e foram proibidos por bula papal em 1317. A Inquisição perseguia os infratores com rigor e muitas vezes condenava-os à fogueira sob acusação de bruxaria. Representou a renovação da filosofia e das ciências medievais. Grosseteste (1175-1253) viveu na Inglaterra e estimulou a mentalidade científica experimental na primeira metade do séc. XIII. Foi professor em diversas universidades, e em Oxford deu aulas a frades franciscanos. Ensinou matemática e ciência natural e escreveu textos sobre astronomia, som e óptica, campo em que desenvolveu original teoria sobre a luz. Estimulou a pesquisa, fez uma classificação das ciências e esboçou os passos da pesquisa científica. Utilizou lentes de aumento e de diminuição para ajudar a vista fraca e talvez até para telescópio. No final da Idade Média a escolástica padecia com o autoritarismo de seus principais seguidores. Posturas dogmáticas, contrárias à reflexão, obstruíam as pesquisas e a livre investigação. O princípio da autoridade impedia qualquer inovação (proibição leitura dos livros de Aristóteles). O rigor do controle da Igreja era exercido nos julgamentos do Santo Ofício (Inquisição), órgão que examinava se as doutrinas eram heréticas ou não. Conforme o caso, os livros eram colocados no Index (Índice), lista de obras proibidas ou, quando aprovadas, eram Nihil obstat (nada obsta, nada contra). Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI).