Cecília Meireles & Florbela Espanca Cecília Meireles – Vida Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasce em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro O pai falece três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos Conclui seus primeiros estudos — curso primário — em 1910 Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário Casa-se, em 1922, com Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda Fernando Correia Dias suicida-se em 1935 Cecília casa-se, em 1940, com Heitor Vinícius da Silveira Grilo Em 1940, leciona Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas (USA) Aposenta-se em 1951 como diretora de escola, porém continua a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, no Rio de Janeiro Realiza numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou Falece devido a um câncer, aos 63 anos, no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas, seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura Cecília Meireles recebe diversos prêmios como o de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1962; prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas de Israel", concedido pela Câmara Brasileira do Livro; prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro em 1964; prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras em 1965 Seu nome é dado a uma biblioteca no Chile, a uma escola municipal de primeiro grau em São Paulo, a um grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, no Rio de Janeiro, a uma rua no Jardim Japão, em São Paulo, a uma escola municipal de educação infantil, em São Paulo, a uma biblioteca infanto-juvenil em São Paulo, a uma rua em São Domingos de Benfica, em Lisboa e na cidade de Ponta Delgada, capital do arquipélago dos Açores, há uma avenida com o nome da escritora Uma cédula de cem cruzados novos, com a efígie de Cecília Meireles, é lançada pelo Banco Central do Brasil, em 1989 O governo federal, por decreto, instituiu o ano de 2001 como "O Ano da Literatura Brasileira", em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do escritor Silvio Romero e ao centenário de nascimento de Cecília Meireles, Murilo Mendes e José Lins do Rego Cecília Meireles - Obras Espectro (1919) Criança, meu amor (1923) Nunca mais... (1923) Poema dos Poemas (1923) Baladas para El-Rei (1925) O Espírito Vitorioso (1935) Viagem (1939) Vaga Música (1942) Poetas Novos de Portugal (1944) Mar Absoluto (1945) Rute e Alberto (1945) Rui — Pequena História de uma Grande Vida (1948) Retrato Natural (1949) Amor em Leonoreta (1952) 12 Noturnos de Holanda e o Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953) Poemas Escritos na Índia (1953) Batuque (1953) Pequeno Oratório de Santa Clara (1955) Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro (1955) Panorama Folclórico de Açores (1955) Canções (1956) Giroflê, Giroflá (1956) Romance de Santa Cecília (1957) A Rosa (1957) Obra Poética (1958) Metal Rosicler (1960) Solombra (1963) Ou Isto ou Aquilo (1964) Escolha o Seu Sonho (1964) Florbela Espanca - Vida Nasce em Vila Viçosa, Portugal, em 8 de Dezembro de 1894 Em 1903, aos nove anos, faz seu primeiro poema, “A Vida e a Morte”. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece Casa-se em 1913, no dia em que completara 19 anos, com Alberto Moutinho, colega de estudos Conclui um curso de Letras em 1917 e é a primeira mulher a cursar Direito na Universidade de Lisboa Após um aborto involuntário, muda-se para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose, divorciando-se em 1921 Casa-se com Antônio Guimarães em 1921, porém, após mais um aborto, separa-se pela segunda vez No dia 29 de dezembro de 1923, Florbela escreve uma carta ao irmão Apeles, informando-o sobre seu terceiro casamento Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage Morre, em 1927, Apeles Espanca, seu único irmão, em um acidente com o avião que pilotava Tenta se matar duas vezes, em outubro e novembro de 1930 Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu livro “Diário do Último Ano” com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas” Após o diagnóstico de um edema pulmonar, Florbela D’Alma da Conceição Espanca, às duas horas do dia 8 de dezembro de 1930, dia em que completara 36 anos, suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal (sedativo) Florbela Espanca - Obras Livro de magoas (1919) Livro de soror saudade (1919) Charneca em Flor (1931) Diário do Último Ano (1981) Dominó Preto ou Dominó Negro (1982) Carta de Florbela Espanca ao irmão Apeles com o carimbo do correio de 29 de dezembro de 1923 Meu querido irmão Certamente te irá surpreender e penalizar a minha carta, mas entendo que é melhor dizer-te eu própria tudo o que há de novidade, em vez de deixar que aos teus ouvidos cheguem malevolências que te podem dar de mim uma ideia errada e injusta. Eu deixei que tivesses da minha vida uma certeza de felicidade que ela de forma alguma possuía, nunca me ouviste uma queixa, nunca ninguém me viu uma lágrima, e no entanto a minha vida de há 2 anos foi um calvário que me dá direito a ter razão e a não me envergonhar de mim. Sofri todas as humilhações, suportei todas as brutalidades e grosserias, resignei-me a viver no maior dos abandonos morais, na mais fria das indiferenças, mas um dia chegou em que eu me lembrei da vida que passava, que a minha bela e ardente mocidade se apagava, que eu estava a transformar-me na mais vulgar das mulheres, e por orgulho, e mais ainda por dignidade, olhei de frente, sem cobardias nem fraquezas, o que aquele homem estava a fazer da minha vida, e resolvi liquidar tudo simplesmente, sem um remorso, sem a mais pequena mágoa. Estou a divorciar-me e para me casar novamente, se a lei mo permitir, ou para viver assim, se a moralidade do Código o exigir. Dois anos lutei em vão para fugir a um amor que estava a encherme toda, e este que encontrei agora orgulho-me dele pois é um ser único, como eu esperava encontrar, enfim, na vida. Tudo quanto me digas não é a décima parte do que eu me tenho dito. Pensei na sociedade, pensei na família, nos amigos, e principalmente em ti, mas que queres? Eu não podia sacrificar-me a isso tudo que é muito, mas que nada é comparado a isto que eu sinto e que eu antes queria morrer do que perder. Por isso não me digas nada, para quê? Pensa de mim o que quiseres, que eu estou disposta a aceitar tudo contanto que uns olhos me vejam sempre a melhor, a única entre todas as outras. Que importa o resto? Para ti serei sempre a mesma, a irmã muito amiga de quem podes dispor em toda a minha vida; para os outros morri; que me enterrem em paz, que não pensem mais em mim e é tudo o que eu desejo. Gostava de saber de ti, mas se tu não quiseres mais lembrar-te que eu existo, adeus até um dia que tu queiras, pois serei sempre a mesma, a tua. Bela O Amor... Cecília Meireles É difícil para os indecisos. É assustador para os medrosos. Avassalador para os apaixonados! Mas, os vencedores no amor são os fortes. Os que sabem o que querem e querem o que têm! Sonhar um sonho a dois, e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos!! Amar! – Florbela Espanca Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada, Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... O amor O amor é visto como uma conquista Pensa na conquista do amor e na busca da felicidade como algo a dois, que poucos são capazes Representação de uma mulher sensível e romântica, que retrata exatamente a personalidade da autora Amar! O amor é visto necessidade vital como algo extasiante, tornando-se uma Necessidade de se amar alguém, mas ao mesmo tempo não se prender a ninguém Representação de uma mulher sensual, erótica, que exterioriza através do poema suas inquietações no que diz respeito às limitações dadas a mulher em sua época Lamento do oficial por seu cavalo morto Cecília Meireles “Nós merecemos a morte, porque somos humanos e a guerra é feita pelas nossas mãos, pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.(...) (...)E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada, recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno, ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração. Animal encantado - melhor que nós todos! - que tinhas tu com este mundo dos homens?(...)” À morte – Florbela Espanca Morte, minha Senhora Dona Morte, Tão bom que deve ser o teu abraço! Lânguido e doce como um doce laço E, como uma raiz, sereno e forte. Não há mal que não sare ou não conforte Tua mão que nos guia passo a passo, Em ti, dentro de ti, no teu regaço Não há triste destino nem má sorte. Dona Morte dos dedos de veludo, Fecha-me os olhos que já viram tudo! Prende-me as asas que voaram tanto! Vim da Moirama, sou filha de rei, Má fada me encantou e aqui fiquei À tua espera…quebra-me o encanto! Lamento do oficial por seu cavalo morto "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.” (Cecília Meireles) Vê a morte como uma consequência, o homem merece a morte, pois é humano e causador de guerras, se engloba no poema À morte Vê a morte como algo lânguido e doce Acredita que tudo se resolva com a morte Motivo – Cecília Meireles Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Ser Poeta – Florbela Espanca Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É E É É ter de mil desejos o esplendor não saber sequer que se deseja! ter cá dentro um astro que flameja, ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e cetim… É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente… É seres alma e sangue e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! Motivo Metáfora que representa a fugacidade da vida A importância é dada ao presente, pois somos finitos, um dia ficaremos mudos e não seremos mais nada Ser poeta Auto afirmação Necessidade de ser poeta Cecília Meireles “ Morro do que há no mundo: do que vi, do que ouvi. Morro do que vivi. Morro comigo, apenas: com lembranças amadas, porém desesperadas. Morro cheia de assombro por não sentir em mim nem princípio nem fim. Morro: e a circunferência fica, em redor, fechada. Dentro sou tudo e nada. ” Florbela Espanca “ Nunca fui como todos Nunca tive muitos amigos Nunca fui favorita Nunca fui o que meus pais queriam Nunca tive alguém que amasse Mas tive somente a mim A minha absoluta verdade Meu verdadeiro pensamento O meu conforto nas horas de sofrimento não vivo sozinha porque gosto e sim porque aprendi a ser só... ” Eu – Florbela Espanca Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino, amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou. Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou! Cecília Meireles “(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.” (Cecília Meireles) Conflito existencial expresso por meio de angústias e tristezas Florbela Espanca e Eu Os poemas representam as tristezas e angústias que a autora viveu durante sua vida No poema a autora apresenta-se como uma mulher desnorteada e rumo na vida Denomina-se crucificada e dolorida sem Semelhanças Fatos ocorridos na vida pessoal profundamente suas vidas e obras de ambas marcaram Modo como foram obrigadas a conviver com a morte Formação na área da educação Intensidade lírica em suas poesias Uma das maiores escritoras brasileiras / Grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX Vocabulário simples Presença da subjetividade em suas poesias Preocupação com a musicalidade Contradição de ideias em um mesmo poema Uso de antônimos em seus poemas Uso de temas como: amor, tristeza, sofrimento, solidão e desejo, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade Diferenças Rio de Janeiro – Brasil / Vila Viçosa - Portugal Século 19 / Século 20 Câncer aos 63 anos / Suicida-se aos 36 anos Não se preocupa com a estrutura de suas poesias / Suas poesias são, quase sempre, escritas em forma de soneto Ritmo dos poemas é lento e suave / Ritmo suave, porém a autora utiliza-se de suas poesias para revelar seus sentimentos Não utiliza-se de rimas em todos seus poemas / Suas poesias contam sempre com rimas ricas Poesias repletas de romantismo e delicadeza / Sensibilidade fortemente marcada pelo erotismo, pela exaltação dos sentimentos e dos prazeres Considerações Finais Diante da análise feita sobre as autoras Cecília Meireles e Florbela Espanca, é possível concluir que Cecília escrevia por prazer, notase em suas poesias suavidade e romantismo, próprios da autora, expressos claramente em seus escritos. Já Florbela, utilizava-se de poesias para expor suas mágoas e revoltas que tanto reprimiam sua alma, sendo possível sentir a intensidade do sofrimento que a impulsionava escrever. Bibliografia BIBLIOTECA NACIONAL. Colecção Florbela Espanca. Disponível <http://purl.pt/272/2/index.html>. Acesso em: 09 de Out de 2011. em: JÚNIOR, Arnaldo. Cecília Meireles. Disponível em: <http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp>. Acesso em: 06 de Out de 2011. MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. Rio de Janeiro: Nova fronteira. 2003. MULTIPLY. Carta de Florbela Espanca ao irmão Apeles Espanca com o carimbo do correio de 29 de dezembro de 1923. Disponível em: <http://poesiaflorbela.multiply.com/reviewa/item/8>. Acesso em: 09 de Out de 2011. TUFANO, Douglas. De Camões a Pessoa: Antologia escolar da poesia portuguesa. São Paulo: Moderna. 2002.