CARACTERÍSTICAS DA OBRA Cecília Meireles estréia em 1919, com Espectros, livro de influências parnasianas; lança a seguir Nunca mais... e Poema dos poemas (1923) e Baladas para El-rei (1925), ambos de temática predominantemente mística e que refletem a sua ligação com o grupo espiritualista da revista Festa. Esses três primeiros livros seriam, mais tarde, postos de lado pela poetisa, que não os inclui na edição de sua Obra poética, coletânea de 1958. Cremos, portanto, que Cecília Meireles preferiu tomar como ponto de partida de sua trajetória poética o livro Viagem (1939), pelo qual recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras. Viagem, livro que demonstra uma maior maturidade poética, apesar de manter-se dentro dos padrões tradicionais, ultrapassa o primeiro momento do Modernismo brasileiro (anedótico e nacionalista). Ao gosto pela tradição, soma-se uma visão filosófica e universalizante. As indagações sobre a brevidade da vida, o sentido da existência, a solidão e a incompreensão humana, presentes em Viagem, permaneceriam em quase toda sua obra, perpassada por um sentimento de pessimismo e desencanto. 4o. Motivo da rosa Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzida, mortas, intactas pelo teu jardim. Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.