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A DESCOBERTA
DOS
6 SONETOS INÉDITOS
Depois de muitos méritos desenvolvidos por aqueles que conformavam, em meados do século XX, na sua ânsia de apresentar e reiterar Florbela Espanca como expoente da cultura nacional, na então
designada Escola Florbeliana, à época liderada por Aurélia Borges a
par de outras figuras de valor reconhecido da cultura portuguesa, hoje podemos prosseguir com determinação e orgulho enquanto herdeiros de parte desse legado comum, neste caso em forma poética. De
mãos dadas com a Escola Florbeliana, com o apoio, esclarecimentos
e carinho da Prof.ª Aurélia Borges, hoje reacendemos os trabalhos,
unindo-nos a esta vocação pela Arte.
Que período esse, impressionante de mudanças e busca de idealismo, ou seja, de entrega a uma ideia que por ora cultural podia mudar
a vida de tantos homens e mulheres, intelectuais à época, no sentido
clássico e profundo do termo. Eram Homens vivos, sedentos de algo
novo, do vindouro. Hoje, quando nos levantamos pela manhã, o que
pensamos? Quantos de nós nos sentimos escravos? Nos sentidos explorados ou até mesmo violentados? Mas houve, em todas as épocas,
de mais ou menos luz, aqueles que nos fizeram sonhar e amar de corpo
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inteiro. Quando usamos esta expressão referimo-nos ao sentir de entrega total, de pensamento e vivência, de se assumir protagonista de
um estilo de vida de algo real a comunicar. Algo útil. Algo que é a
verdadeira arca de ouro que podemos deixar… e que assim vários escritores, poetas, pintores, bailarinos… nos legaram ao longo do tempo. Foi o que fez Florbela. Bela, como apreciava ser tratada até pelas
suas alunas, era verdadeira amante de um ideal universalista, uma forma de estar, ser e viver que vencesse a mediocridade do quotidiano,
que fosse livre. O que é isto de ser livre?
Livre para mim e outros pensadores da epistemologia da arte e do
belo é ser protagonista. Lembra-nos a célebre frase “Se não podes
mudar o mundo muda-te a ti próprio e assim aos poucos começarás
a mudar o mundo começando pelo teu!”. Bom, Florbela é um convite, sem possibilidade de negação à entrada nesse estado de espírito.
Por isso é tão apreciada particularmente no Brasil e Espanha, além de
no nosso país é claro. No nosso Portugal sobrevive, em rodapé, no
que respeita a estudos mais aprofundados. Queremos ressuscitá-la, ou
melhor recordar, re-animar a sua essência, a Ideia que vinculou, que
concretizou em si mesma como vitória, além das dores, das limitações, além das circunstâncias: Foi. Hoje custa-nos Ser. Por isso, Bela
é um convite a Ser autêntico, belo, justo, equilibrado.
Toda a sua vida parece ter sido o contrário. Será mesmo assim?!
Penso que não. Nela, como em muitos de nós, convivia a Bela
do quotidiano e a Bela transcendente. Com os Poetas é mais fácil
que seja assim. Que de repente tenham raptos, inspirações e, nesses
momentos, já não actuam na corrente do dia-a-dia mas na Obra. O
que é a Obra?
Não mais do que a descoberta de si mesmo, do que enfrentar os
medos e ser Maior perante eles. Portanto, Florbela é uma luz de inspiração. É-o para muitos adolescentes, que no feminino se identifi18
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cam com ela e, no masculino, a cantam ao luar perante as suas amadas. Ela é também um convite ao retorno das origens simples, pagãs, de contacto íntimo e inteiro com a Natureza. Isto encontramos
bem no seu conto “O Resto é perfume…”.
No seu Diário, chamado do último ano, porque retrata essa época,
encontramos algo à resposta sob a pergunta quem é.
Em Florbela não vemos uma vitoriosa mas a Vitória imanente.
Em Florbela não residiu a concretização mas a forja sempre quente, sempre a arder. A Espada não se fez, o caminho de realização não
se encontrou. Todavia abriu silvedo, abriu caminho, afastou monstros. Contudo por algum motivo a dor venceu, a dor venceu uma
vez mais como costumam encerrar os terríveis versos finais de quase
todos os seus poemas: não há saída. Não haverá?
Creio que hoje, passadas décadas, mudada muita a realidade, há
saída, há oportunidades de saída que se abrem, que estavam expostas nas suas metáforas sempre convocatórias ao transcendente, à
Luz!
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