Hidratação em Pediatria Thais Pereira Cardoso Universidade Estadual de Londrina 17 de março de 2009 • Homeostase • Fisiopatologia • Clínica – Diagnóstico – Classificações • Terapêutica – TRO – Gavagem – Tratamento endovenoso Homeostase da Água 80% 70% 60% 50% DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NOS COMPARTIMENTOS 80 70 ÁGUA TOTAL 60 50 % ÁGUA ÁGUA INTRACELULAR 40 30 ÁGUA EXTRACELULAR 20 10 0 3 6 IDADE EM MESES 9 1 3 5 ANOS 7 9 11 13 15 ADULTO Homeostase da Água Transcelular (1 a 3%) Distribuição da água no organismo Intravascular Extra celular (20%) (LEC) Intra celular(40%) (plasma = 5%) Extravascular (interstício e linfa=15%) Homeostase da Água LÍQUIDO VASCULAR LÍQUIDO INTERSTICIAL LÍQUIDO INTRACELULAR (TRANSPORTE ELETROLÍTICO) PRESSÃO COLOIDOSMÓTICA proteinas plasmáticas PRESSÃO HIDROSTÁTICA ion sódio e bomba cardíaca MOVIMENTAÇÃO E FIXAÇÃO DA ÁGUA NOS COMPARTIMENTOS COMPOSIÇÃO ELETROLÍTICA DOS VÁRIOS COMPARTIMENTOS CATIONS ANIONS MEQ\L NA K CA MG HCO3 CL HPO4 PNT INTRAV. 142 5 5 3 27 103 2 16 INTERS. 138 5 5 3 27 103 2 2 157 - 26 10 - 110 74 INTRAC. 14 Homeostase da Água Regulação da osmolalidade Regulação de volume O que é percebido Osmalidade plasmática Volume circulante efetivo Sensores Osmoreceptores hipotalâmicos Seio caortídeo, arco aórtico Arteríola aferente glomerular átrio Efetores Hormônio antidiurético Sistema nervoso simpático Renina-angiotensina-aldosterona Peptídeos natriuréticos Natriurese pressórica Hormônio antidiurético O que é afetado Excreção de água (via ADH) Ingestão de água (via sede) Excreção de sódio Controle água e eletrólitos Osmolaridade Hipófise oferta de H2O Carga de Na Volume EC HAD Angiotensina Renina Aldosterona Excreção de H2O Excreção de Na AVALIAÇÃO 1. 2. 3. 4. Qual a magnitude do déficit de volume? Existe distúrbio de osmolaridade? Existe distúrbio ácido -básico? Existe distúrbio do metabolismo de potássio? 5. Como está a função renal? 1) Qual a magnitude da perda volumétrica? Dados Hidratado Desidratado de algum grau Desidratado grave Aspecto Alerta Irritado/com sede Deprimido,comatoso, alteração do nível de consciência Fluxo periférico < 3 seg 3 a 5seg >5seg Pulso Cheio Fino Não palpável Elasticidade da pele Normal Diminuída Diminuída Olhos Normais Fundos Muito fundos Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida Mucosas Úmidas Seca, saliva espessa seca 1) Qual a magnitude da perda volumétrica? Quadro clínico Leve Moderada Grave Pulso Cheio, FC normal Rápido Rápido,fraco impalpável PA (sistólica) Normal Normal, baixa Choque Diurese Diminuída Muito diminuída Anúrico Mucosa oral Levemente seca Seca Ressequida Fontanela anterior Normal Deprimida Muito deprimida Olhos Normal Fundos Muito fundos Turgor cutâneo Normal Diminuída Pastoso Pele Normal Fria Fria, livedo, acrocianose Perda de peso estimado < 5% 5 a 10% >10% Déficit volume Até 50ml/ kg 50 a 100ml/kg >100ml/kg (Picture Source: www.niaid.nih.gov/.../graphics/ dehydrated.jpg) Pergunta 2 AVALIAÇÃO 1. 2. 3. 4. Qual a magnitude do déficit de volume? Existe distúrbio de osmolaridade? Existe distúrbio ácido -básico? Existe distúrbio do metabolismo de potássio? 5. Como está a função renal? 2) Existe distúrbios de Osmolaridade? • Osmolaridade Plasmática Valor da Osmolaridade normal= 280 a295 mOsm/l, variação até de 2% • Osm= 2 X{Na }+ Uréia pl(mg/dL) + Glicose pl(mg/dl) + 6 18 Tipos de balanço negativo • • • • • Diarréia:isotônica ou hipertônica Seqüestro: isotônica Perda Cutânea: hipotônica Perda Renal: iso, hipo ou hipertônica Redução na ingesta Classificação das desidratações em relação a osmolaridade: – Isonatremia ou Isotônica 80% – Hiponatremia ou Hipotônica – Hipernatremia ou Hipertônica 15% 5% ISOTÔNICA HIPOTÔNICA CONC. SÉRICA DE Na 130-150 m Eq /l < 130 OSMOLARIDADE 300 m Osm / l < 280 VOLUME E.C. DIMINUIDO MUITO DIM. (+++) VOLUME I.C. MANTIDO AUMENTADO FAT.PREDISPONENTES DESNUTRIDOS GRAVES PERDEDORES DE SAL TEMP.DE PELE TURGOR MUCOSAS SEDE DIURESE CHOQUE PSIQUISMO FRIA DIMINUIDO SECAS MODERADA DIMINUIDA CASOS GRAVES APATIA FRIA POUCO DIMINUIDO LIGEIRAM. ÚMIDAS DISCRETA PRESENTE PRECOCE COMA HIPERTÔNICA >150 >320 POUCO DIM. (+) DIMINUIDO BAIXA IDADE TAQUIPNÉIA VÔMITOS QUENTE MUITO DIM. MUITO SECAS INTENSA MUITO DIM. / AUS TARDIO HIPERIRRITABIL 2)Existe distúrbios de Osmolaridade? • Desidratação isotônica ou isonatrêmica – Mais freqüente, 80% dos episódios diarréicos, perda equivalente de água e eletrólitos. 2)Existe distúrbios de Osmolaridade? • Desidratação Hipotônica ou Hiponatrêmica Na+< 130mEq/l – Ocorre nas diarréias secretoras ou no uso abusivo (iatrogênico) de soluções repositoras hipotônicas (ex.: água livre e chás) – Sinais clínicos de desidratação acompanhados de repercussão hemodinâmica desproporcionais a perda volumétrica. Em geral a criança se mostra hipotônica, sonolenta, letárgica. – Fluxo de água do LEC para o intracelular, colapso vascular 2)Existe distúrbios de Osmolaridade? • Desidratação Hipernatrêmica ou Hipertônica • Na+> 150mEq/l – Ocorre em geral devido a procedimentos de reidratação equivocados, com uso de soluções polietrolíticas endovenosa ou abuso e uso inadequado da solução de reidratação oral (TRO) – Sinais desidratação com repercussão hemodinâmica inferior ao esperado as manifestações clínicas de perda volumétrica. Sintomas de comprometimento do SNC é freqüente devido ao engurgitamento vascular e desidratação neuronal – Em geral a criança se mostra muito irritada, chorosa (choro estridente), hipertônica; risco iminente de convulsão. – Fluxo de água do intra celular para o LEC, “preservando” intravascular • Desidratação Hipernatrêmica ou Hipertônica perdas insensíveis Pergunta 3 AVALIAÇÃO 1. 2. 3. 4. Qual a magnitude do déficit de volume? Existe distúrbio de osmolaridade? Existe distúrbio ácido -básico? Existe distúrbio do metabolismo de potássio? 5. Como está a função renal? 4) Existe algum distúrbio ácido-básico? Acidose metabólica – A desidratação promove mecanismo acidogênico devido a, jejum, produção de radicais ácidos na periferias mal perfundidas, cetogênese, perda entérica de bicarbonato. – Quadro clínico: lentificação da perfusão periférica, livedo reticular, respiração ampla, taquipnéia, Kusmaull 4) Existe algum distúrbio ácido-básico? Acidose metabólica – A desidratação promove mecanismo acidogênico devido a, jejum, produção de radicais ácidos na periferias mal perfundidas, cetogênese, perda entérica de bicarbonato. – Quadro clínico: lentificação da perfusão periférica, livedo reticular, respiração ampla, taquipnéia, Kusmaull Pergunta 4 AVALIAÇÃO 1. 2. 3. 4. Qual a magnitude do déficit de volume? Existe distúrbio de osmolaridade? Existe distúrbio ácido -básico? Existe distúrbio do metabolismo de potássio? 5. Como está a função renal? 4) Existe algum distúrbio associado ao K+?? • Hipocalemia K<3,0 mEq/l – Na criança desidratada por DDA há um déficit de 8 a 10mEq/kg de K a partir do segundo dia de doença • Hipercalemia K>6,0mEq/l 4) Existe algum distúrbio associado ao K+? • Potássio cátion predominantemente intracelular: • Desidratação leva a mecanismo de perda de potássio: perda entérica, jejum, acidose metabólica. • Quadro clínico: Hipotonia de musculatura, lisa e estriada, distensão abdominal, perda do tônus de cintura pélvica e escapular, hipoatividade – Postura de batráquio • K<2,5 me/l: risco de parada cardíaca em assistolia (ECG: ondas T achatadas, segmento S_T deprimidos, Q-T prolongado) Pergunta 5 AVALIAÇÃO 1. 2. 3. 4. Qual a magnitude do déficit de volume? Existe distúrbio de osmolaridade? Existe distúrbio ácido -básico? Existe distúrbio do metabolismo de potássio? 5. Como está a função renal? 5) AVALIAÇÃO FUNÇÃO RENAL Excreção urinária DU Sedimento urinário Indice FE (Na) Oligúria fisiológica (pré renal Insuficiência renal aguda Diminuída Diminuída >1020 1010 a 1012 ndn Cel. Tubulares renais (simples ou cilindros) <1 a 2% > 2 a 3% AVALIAÇÃO DO GRAU DE HIDRATAÇÃO Função Renal • Importante reavaliar estado de função renal após reparação da volemia • Criança clinicamente hidratada após 2 micções claras TERAPÊUTICA TERAPÊUTICA AVALIAÇÃO DO GRAU DE DESIDRATAÇÃO x TERAPÊUTICA Perda de volume Classificação Terapêutica 0-5% DAG TRO 5-10% DAG TRO >10% GRAVE EV Dist. Metabólico PRESENTE INDEPENDENTE PERDA VOLUME = EV GRAVE Diarréia Aguda Avaliação do Grau de Hidratação HIDRATADO PROFILAXIA DE TRO DESIDRATADO de ALGUM GRAU DESIDRATADO GRAVE HIDRATAÇÃO EV REPARAÇÃO TRO SRO ad libitum Cálculo do Índice de Retenção > 20% sucesso da TRO < 20% otimizar TRO Clinicamente Hidratada após até 6 horas GAVAGEM > 20% segue TRO Clinicamente HIDRATADA FASE DE MANUTENÇÃO < 20% falha da TRO HIDRATAÇÃO EV TERAPÊUTICA TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Definição: Terapêutica que promove a reidratação por via enteral através de solução hidropolieletrolítica TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Histórico: • empírico desde os primórdios • 1950 epidemia mundial de cólera • 1960 teoria de transporte de membranas • Década de 60: Guerra do Vietnã George Gobet 29.jun.2003/France Presse Vítimas de cólera em hospital de Monróvia (Libéria) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Bases Fisiológicas: superfície do intestino capacidade absortiva do intestino, mesmo diante de quadro de agressões TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Objetivo: Restabelecer a hidratação, e prevenir a desidratação secundária a diarréia aguda TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Composição (soro preconizado pela OMS) • • • • • SÓDIO...................................90mEq/l POTÁSSIO.............................20mEq/l CLORO..................................80mEq/l BICARBONATO.....................30mEq/l GLICOSE.............................111mEq/l TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Vantagens do uso de TRO: • • Fisiológica Tratamento ambulatorial ( não hospitalização) • Sem necessidade de acesso venoso • Custo baixo • Reposição precoce de todos os eletrólitos e bases (K, Na, bicarbonato,cloro) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Indicações Profilaxia contra desidratação Tratamento da desidratação secundária a DDA Manutenção da hidratação após reidratação TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Altamente eficaz quando indicada corretamente EFICÁCIA >90% TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL A TRO está indicada para as desidratações de algum grau secundária a diarréia aguda desidratação leve: ambulatorial desidratação moderada: hospitalar TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Profilática: • Reposição das perdas na vigência do quadro diarréico. Diarréia Aguda Avaliação do Grau de Hidratação HIDRATADO PROFILAXIA DE TRO DESIDRATADO de ALGUM GRAU DESIDRATADO GRAVE HIDRATAÇÃO EV REPARAÇÃO TRO SRO ad libitum Cálculo do Índice de Retenção > 20% sucesso da TRO < 20% otimizar TRO Clinicamente Hidratada após até 6 horas GAVAGEM > 20% segue TRO Clinicamente HIDRATADA FASE DE MANUTENÇÃO < 20% falha da TRO HIDRATAÇÃO EV Hidratada X Desidratada CRIANÇA CLINICAMENTE HIDRATADA • Alimentação NORMAL para idade • • • • Aumentar a oferta de líquidos em geral Manter o aleitamento materno Soro Oral Orientações gerais 3 fases Reposição Manutenção Reparação Fase de Reparação (expansão) • Visa restabelece a hidratação • Duração: 4 a 6 horas • Anti-eméticos Fase de Reparação Criança desidratada de algum grau: • • • • Peso Oferecer soro oral “ad libitum” Manter aleitamento materno Suspender outros alimentos neste período Fase de Reparação: • Reavaliação clínica periódica • Cálculo do índice de retenção (IR) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Índice de Retenção = Variação de Peso X 100 Volume ingerido • indicador favorável quando maior que 20% • parâmetro objetivo X clínico TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Índice de Retenção < 20% após 2 horas de TRO Gavagem Hidratação EV TERAPÊUTICA Gavagem Indicações: • • • • Perda de peso ou IR<20% após 2 hs de TRO Vômitos persistentes: > 4x após início TRO Distensão abdominal com SRO Recusa persistente do SRO Gavagem Volume • Velocidade de Infusão • iniciar com 30ml/kg/h • aumentar até 60ml/kg/h • não exceder 4 horas TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Término da Fase de Reparação • Paciente clinicamente hidratado • 2 micções claras • ou DU < 1020 TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Término da Fase de Reparação • • • • Oferecer dieta adequada para idade Orientar fase de manutenção Orientações gerais Retorno em 24 a 48 hs. TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Fase de Manutenção: Após reversão do quadro de desidratação: • Manter dieta adequada para idade • Aumentar oferta de líquidos em geral • Oferecer soro oral após evacuações diarréicas TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Contra-indicação: • • • • • • • • Choque Desidratação grave Acidose grave Íleo paralítico Peritonite Suspeita de processo infeccioso grave Alteração do nível de consciência Situações que impeçam a ingestão VO TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Limitações do uso de TRO: • • • • Desidratação grave Intolerância a glicose (<1%) Vômitos (<5%) Perdas importantes (>15ml/kg/h em 80% evoluem para hidratação parenteral) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL Atenção!!! • Algumas formulações comerciais incluem em seus componentes anti-eméticos, antiespasmódicos, e outros sintomáticos Interrupção da TRO • Crise convulsiva • Vômito persistente : mais de 3 episódios após a introdução de gavagem (SNG) • Persistência de dor abdominal, após SNG • Perda de peso ou índice de retenção menor que 20% após a introdução de SNG TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL • Perspectivas: • Supersoluções: acréscimo de polímeros de glicose e outros substratos • Alta absortibilidade • Diminuição do volume fecal Diarréia Aguda Avaliação do Grau de Hidratação HIDRATADO PROFILAXIA DE TRO DESIDRATADO de ALGUM GRAU DESIDRATADO GRAVE HIDRATAÇÃO EV REPARAÇÃO TRO SRO ad libitum Cálculo do Índice de Retenção > 20% sucesso da TRO < 20% otimizar TRO Clinicamente Hidratada após até 6 horas GAVAGEM > 20% segue TRO Clinicamente HIDRATADA FASE DE MANUTENÇÃO < 20% falha da TRO HIDRATAÇÃO EV TERAPÊUTICA To be continued