EXPERIMENTOS E INFERÊNCIA CAUSAL Capítulo 1 – Shadish , Cook e Campbell (2002) Páginas: 1-32 Objetivos • Discutir a natureza do conceito de causa, subjacente a experimentos. • Explicar terminologia técnica especializada – Experimentos aleatorizados – Quase- experimentos • Analisar o conceito de generalização a partir de experimentos. Definições de Causa, Efeito e Relacionamento Causal Século XVII - Segundo Locke causa é: “ A cause is that which makes any other thing, either simple idea, substance , or mode, begin to be; effect is that, which had its beginning from some other thing”. Inus condition: Trata-se de uma porção insuficiente, mas não redundante de uma condição não necessária , mas suficiente para que um evento ocorra. Ex: Situação: fogo na floresta. O fósforo aceso é uma inus condition, pois é insuficiente para ocasionar fogo, é diferente (não redundante) de outras condições (folhas secas e oxigênio) que ocasionam o fogo. O fósforo é parte de um conjunto de condições suficientes causar o fogo, mas há outras condições similares (cigarro aceso) que possuem o mesmo tipo de contribuição na explicação do incêndio. Em suma, o fósforo aceso na floresta não é condição necessária, tampouco suficiente para ocasionar o incêndio. Definições de Causa, Efeito e Relacionamento Causal • A maior parte das causas podem ser chamadas de inus condition. • Geralmente são requeridos muito fatores para que um efeito ocorra, mas raramente sabemos quais são eles e como eles esses fatores relacionam-se entre si. • Relacionamentos causais não são compreendidos como condições que determinam consequências, mas como condições que aumentam as chances de que um efeito ocorra. • Por não um relacionamento determinístico, um dado relacionamento causal, que ocorre em algumas situações, pode não ocorrer em todas as outras, universalmente, para sempre, em todos os espaços, populações humanas, etc. • Em diferentes graus, todos os relacionamentos causais são dependentes do contexto, de modo que a generalização de um experimento é sempre uma questão problemática. Definições de Causa, Efeito e Relacionamento Causal • Modelo contrafactual de David Hume (sec. XVIII): Em um experimento, observamos o que aconteceu (did happen) com uma pessoa que recebeu um determinado tratamento. Na situação “contrafactual”, analisamos o que aconteceria (would have happened) com a mesma pessoa se ela não tivesse sido submetida ao tratamento. • Um efeito seria definido, neste contexto, como a diferença entre o que aconteceu e o que teria acontecido com a pessoa. • Nem sempre é possível observarmos o contrafactual!!! • A tarefa central do pesquisador é criar aproximações à busca de evidências contrafactuais. Geralmente essas aproximações são imperfeitas e são analisadas qualitativamente. Definições de Causa, Efeito e Relacionamento Causal • Para John Stuart Mill (sec. XIX), um relacionamento causal existe se: 1. a causa deve preceder o efeito; 2. a causa estiver relacionada com o efeito e 3. não forem encontradas explicações alternativas plausíveis para esse efeito. Definições de Causa, Efeito e Relacionamento Causal • Em experimentos são adotadas as seguintes estratégias: 1. Manipulamos uma causa presumida e observamos seus efeitos; 2. Verificamos se a variação na causa está relacionada à variação observada no efeito; 3. Utilizamos vários métodos durante o experimento para explorar a plausibilidade de outras explicações para o efeito. Causação X correlação • Correlações (negativas ou positivas) não provam relacionamento de causa e efeito. • Não se sabe quais são as variáveis antececentes e consequentes. • Não possibilita a identificação de explicações alternativas que confundem os resultados. – Ex: salários e inteligência estão correlacionados com nível de instrução. Se maior inteligência causa mais sucesso no trabalho e maior nível de instrução, então pessoas inteligentes teriam melhores salários e melhor nível de instrução. Entretanto, esse relacionamento pode não totalmente causal, já que está sujeito à influência de outra(s) variável (is), como status sócioeconômico da família. Causas Manipuladas e Não Manipuladas • Geralmente os experimentos manipulam variáveis para observar relacionamentos, como: doses de remédios; a quantidade e o tipo de um tratamento psicoterápico, número de estudantes em uma sala de aula. • Não são causas em experimentos variáveis não manipuláveis como: explosão de uma supernova, idade, gênero, sexo biológico, etc. • Em experimentos todas as causas devem ser manipuláveis. – Ex: A falha genética em casos de fenulcetonúria, após o nascimento, é variável não manipulável. Dieta sem amidos para os acometidos da doença é variável manipulável, sujeita e experimentação. • Causas não manipuláveis devem ser estudadas também. Uma das maneiras de fazer esse tipo de estudo é por meio de experimentos análogos, nos quais são manipulados agentes similares à causa de interesse. • Ex : pode-se pigmentar a pele das pessoas para observar efeitos da cor da pele nas interações sociais (valores, preconceitos, estereótipos) . Ex: experimento dos olhos azuis. Descrição e Explicação Causal Descrições causais exprimem análises descritivas de efeitos de tratamentos (causas) em experimentos. Explicações causais descrevem e explicam as condições e os mecanismos pelos quais um relacionamento causal ocorre. 1. Muitas explicações surgem de cadeias de relacionamentos entre eventos , de modo que cada evento é causa do seguinte. Os experimentos ajudam a testar cada link da cadeia. 2. Os experimentos possibilitam testar mediações e explicações alternativas, bem como moderação entre variáveis. Variável moderadora • Variável moderadora é aquela que afeta a direção e a magnitude do relacionamento entre uma variável independente e a variável dependente. • A moderadora pode ser não métrica (ex: sexo, nível de instrução, profissão) ou métrica (ex: peso corporal, nível de recompensa salarial, escores em testes de aprendizagem). • Sob a ótica da ANOVA, um efeito moderador básico pode ser representado por uma interação entre uma VI métrica e um fator que especifica as condições sob as quais esse fator afetará a VD. Exemplo de Análise de Moderação entre variáveis – Uso de Cinto de Segurança Velocidade do automóvel Uso de cinto de segurança X VI X Moderadora Gravidade dos Ferimentos Modelo esquemático de análise da Moderação entre variáveis. VI Moderadora VI X Moderadora VD Uso do cinto de segurança – exemplo de variável moderadora A velocidade do automóvel (VI – variável métrica) afeta o grau de prejuízo à saúde dos passageiros (VD – métrica) em caso de acidente. O uso de cinto de segurança (variável não métrica) afeta esse relacionamento, moderando o efeito da velocidade sobre a gravidade dos danos à saúde do passageiro. Na presença do cinto, observa-se um impacto menor de um acidente sobre a vítima. Mediação Mediadora b a Variável Independente c Variável Dependente Mediação A variável é mediadora quando altera para mais ou para menos a probabilidade de ocorrência de um efeito da VI sobre a VD. Outro aspecto importante da mediação é que ela explica a forma (ou uma das formas) pela qual a variável independente (antecedente) influencia a variável dependente (critério), estando, portanto, sempre relacionada a ela, segundo Parkes (1994) e Baron & Kenny (1986). A análise da mediação somente por ser realizada por meio de regressões das variáveis uma a uma. Para testar essas relações, cada variável independente e mediadora deve ser submetida a regressões individuais com a VD. Abbad e Neiva (2009) Uma variável é dita mediadora se estiverem presentes as seguintes condições: a) a mediadora é um preditor estatisticamente significativo da variável dependente; b) a variável independente é preditor estatisticamente significativo do mediador e c) quando a variável independente e a mediadora estiverem presentes na equação, a relação significativa anteriormente observada entre a variável independente e a variável dependente decresce em magnitude, sendo que a mais evidente demonstração de mediação ocorre, quando essa relação passa a ser zero (Baron e Kenny, 1986).