Call centers: precaridade laboral no século XXI Inês Rafael nº 37737 João Mingote nº 37782 Reportagem https://www.youtube.com/watch?v=3a6hZZ1Yv w0 Nascimento dos call centers e a sua desmistificação - ‘’Revolução das tecnologias’’, anos 90 - Transnacionalização e deslocalização da produção - Diminuição do valor do trabalho e aumento das margens de lucro (Louçã, 2014) - Contratações e subcontratações. “Outsourcing” Organização do trabalho - Hierarquias - Modelo taylorista -Duas tendências: i) divisão ‘’global’’ do trabalho, reorganizando a produção e fragmentando-a em circuitos transnacionais; ii) incorporação de elementos subjetivos das capacidades humanas - Materialidade e as condições laborais Prazos a cumprir e salários - ‘’el TMO [Tiempo Medio de Operación] es el tiempo que uno demora com el cliente en línea y ellos ponen un tempo […] geralmente ponen minuto y medio […] um minuto 70 segundos […] entonces el TMO es para fijar un tiempo, si te pasas del tiempo no te ganas el bono’’ (Salazar, 2013: 25) - “Si antes ganabas 350 mil pesos y agora ganas con surte 250… y más o menos esa e la relación… ellos te ofrecieron tanta plata y después fueron cambiando las regras del juego” (Salazar, 2013: 26) Instabilidade dos contratos - ‘’Me asignaron un supervisor, no habian passado ni cuatro meses y nos cambiaron el supervisor[…] en menos de un año tuve como cinco supervisores.’’ (Salazar, 2013: 28) - ‘’Quando entrei numa ETT, contratada pela empresa onde estou agora que por sua vez estava contratada pela outra. É um subcontrato. Contratos semanais. Isso acarreta uma sensação de instabilidade porque nunca sabemos o que nos vai acontecer. (…) Na altura que comecei a trabalhar em call centers tinhamos mais a face de quem de facto mandava em nós, quem mexia os cordelinhos. Hoje em dia é mais difícil de identificar quem está por trás do quê. É mais diluído.’’ (Louçã, 2014: 105) - Componente variável por vezes é inalcançável: ‘’Nunca ninguém consegue atingir, ou porque se atrasa 1 minuto de manhã ao chegar ao trabalho, ou porque aquela chamada não correu bem e foi auditada, ou porque as respostas escritas não são as melhores(…) às vezes basta qualquer coisa que não esteja bem para sermos penalizados. Ainda hoje um colega nosso perdeu bastante dinheiro no seu incentivo por causa de uma palavra simples como ‘’só’’. É muito complicado!’’ (Louçã, 2014: 72) “Se houver filas de espera [no atendimento] muitas vezes chegas a ficar sem intervalo o que é ilegal. Só temos um intervalo quando nos permitem ter. Para ir à casa de banho temos de pôr a mão no ar e consumir tempo de intervalo. Se ultrapassar o tempo de intervalo num mês descontam no vencimento. Agora se trabalhar mais não me pagam mais. E trabalhas sempre mais porque não consegues controlar as chamadas.” (Louçã, 2014: 83) Maus tratos e “cansaço do novo tipo” - “En atención al cliente donde estoy yo, nos dicen “sudaca no quiero nada com ustedes, son inoperantes…” imediatamente un choque frontal com el cliente, por ser nosotros extranjeros, el clientee español nos trata muy mal, depende del estado de ánimo, yo regularmente no estoi’ ni aí, no pesco ahora [no le da importancia] (Salazar, 2013: 30) - “Levas um dia inteiro a ouvir clientes aos gritos. Coitadinhas das nossas mães, são chingadas de cima a baixo. Depois há outros que nos dizem, “isso não é consigo, é com o monhé, ou com o Sócrates, ou com o Passos Coelho”… mas nós é que ouvimos. É um stress terrível.” (Louçã, 2014: 92) - “Fisicamente es lo más liviano que hay. Pero el tiempo que estuve en la parte comercial, mentalmente estaba agotado. Estresa bastante. En algunos momentos me sentía bastante cansado. Y la mayoría tenía la misma sensación. Quedaba cansao, quedaba agotado. Lidiar com los conflictos de otras personas o escuchar algo por obligación que no quieres escuchar, eso es lo que te agota” (Salazar, 2013: 31) Habilidades e capacidades humanas exploradas - A capacidade de compreender as necessidades do usuário dos serviços e de resolver os problemas identificados no menor tempo possível. - Nas plataformas de recepção das reclamações, os executivos sofrem constantemente maus tratos e agressões. Por isso, são exigidas capacidades de contenção da agressividade e de negociação na resolução de conflitos. - Nas plataformas orientadas a vendas são exigidas capacidades de convencimento e sedução. - Muitas das habilidades requeridas aos operadores, nomeadamente estas últimas em conjunto com simpatia, são conhecidas por serem características associadas ao género feminino nas sociedades ocidentais. A utilização massiva de força de trabalho feminina nos call centers pode-se prender com a exploração de habilidades reconhecidas socialmente como femininas. Identificação com as empresas - “O desânimo começa a vir ao de cima a toda a força. (…) A empresa começou a trabalhar contra ela própria porque os trabalhadores assim não querem saber da empresa para nada, se não oferecem o mínimo de condições, se não dão valor ao empregado/a este/a também não valoriza a empresa.” (Louçã, 2014: 87) - “Sinto que não tenho relação laboral com ninguém. Sinto que não há ninguém a quem eu possa reclamar o meu trabalho. Vou reclamar com quem? Uma ETT que apenas aluga o meu trabalho a outra empresa e depois diz que a responsabilidade de pagar é da outra empresa? Os trabalhadores ficam sem saber para onde se hão de virar. Têm direitos mas não sabem a quem os vão reclamar” (Louçã, 2014: 17) Questões para debater: - Os trabalhadores de call center são um exemplo de proletarização do séc. XXI? - Serão os call centers equivalentes das teorias de Ford e Taylor do início do século anterior? - Qual será o futuro reservado ao Direito do Trabalho? Bibliografia - Salazar, Areli Escobar (2013), “Las fábricas de la charla en Chile: apuntes preliminares sobre la materialidad y la subjetividade del trabajo en los call centers”, Horizontes Antropológicos, 39: 19-40. - Louçã, João Carlos (2014), Call Centers: trabalho, domesticação, resistências, Porto: Deriva Editores